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Teoria Geral do Processo – Aula 4 AULA 4: TEORIA DA JURISDIÇÃO – CONCEITO E NOÇÕES GERAIS Ideia-chave: A jurisdição é um poder fundamental no Estado Democrático de Direito. O direito fundamental à organização e ao procedimento inclui o direito à estrutura jurisdicional adequada, aos serviços públicos e aos meios adequados de justiça. O CONCEITO DE JURISDIÇÃO A jurisdição constitui a forma estatal de composição de litígios. Para solucionar os conflitos, o Estado, que veda a autotutela, manifesta-se por meio da jurisdição, cuja regência se operará por meio dos ritos estabelecidos pelo legislador. Tem como fim a pacificação social e corresponde a um dever que o Estado assume de dirimir os conflitos que lhes venha a ser apresentados. Assim, a função do Poder Judiciário é resolver o conflito, dando a cada um que é seu e decidindo a quem pertence o direito. Observe alguns conceitos dados por alguns doutrinadores: A jurisdição ganhou mais importância a partir do início da fase instrumentalista, devido à centralidade dela nos processos dessa fase. Mas, recentemente, foi colocada num contexto de democratização “A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo imperativo e criativo (reconstrutivo), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível” - Fredie Didier Jr. “A jurisdição é o poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo os conflitos de interesses e dessa forma resguardando a ordem pública e a autoridade da lei” - Moacyr Amaral dos Santos “A jurisdição é a função do Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida” - Humberto Theodoro Jr. Teoria Geral do Processo – Aula 4 e constitucionalização a tutela e direitos como um todo. CONCEITOS CLÁSSICOS DE JURISDIÇÃO CHIOVENDA Para Chiovenda, a jurisdição é a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade dos órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar da conta de da lei, já no torna-lo praticamente efetiva. Segundo ele, a jurisdição consiste na substituição definitiva e obrigatória da atividade intelectual não só das partes, mas de todos os cidadãos, pela atividade intelectual do juiz, ao afirmar existente ou não existente uma vontade concreta da lei em relação às partes. Para Chiovenda, a função da jurisdição é meramente declatória, o juiz declara ou atua à vontade da lei. Assim, a sentença não completa o ordenamento jurídico: a sentença é externa à ordem normativa. Essa teoria supunha que o juiz podia solucionar qualquer caso mediante a aplicação das normas gerais, uma vez que o ordenamento jurídico seria completo e coerente. “A jurisdição encarna fins sociais, políticos e propriamente jurídicos, conforme a essência de Estado cujo poder deva manifestar. Assim, a jurisdição, ao aplicar uma norma ou fazê-la produzir efeitos concretos, afirma a norma de direito material, a qual deve traduzir as normas constitucionais que revelam suas preocupações básicas” - Marinoni, Arenhart, Mitidiero “Exercendo a jurisdição, o Estado substitui, com uma atividade sua, as atividades daqueles que estão envolvidos no conflito trazido à apreciação. Não cumpre a nenhuma das partes interessadas dizer definitivamente se a razão está com ela própria ou com a outra; nem pode, senão excepcionalmente, quem tem uma pretensão invadir a esfera jurídica alheia para satisfazer- se.” - Chiovenda Teoria Geral do Processo – Aula 4 CARNELUTTI Havendo lide, a atividade do juiz é jurisdicional, mas não há jurisdição quando não existe um conflito de interesses para ser resolvido ou uma lide para ser composta pelo juiz. A jurisdição é a justacomposição da lide. A lide é o centro da atividade jurisdicional, sem ela, não há jurisdição. Carnelutti entende que a sentença torna concreta a norma abstrata e genérica, fazendo particular a lei para os litigantes. A sentença cria uma regra ou norma individual, particular para caso concreto, que passa a integrar o ordenamento jurídico, enquanto, na teoria de Chiovenda, a sentença é externa à ordem normativa, tendo a função de simplesmente declarar a lei, e não de completar o ordenamento jurídico. CARACTERÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS DA JURISDIÇÃO ❖ Atribuída à terceiro imparcial ❖ Reconstrutiva ❖ Protege, reconhece e efetiva situações jurídicas ❖ Concretamente formuladas ❖ Decisão insuscetível de controle externo ❖ Aptidão para a coisa julgada Leia sobre cada uma dessas características: A jurisdição é técnica de solução de conflitos por heterocomposição. Um terceiro imparcial e alheio àquilo que é discutido substitui a vontade das partes e determina a solução do problema apresentado (substitutividade). O juiz deve, portanto, tratar as partes com igualdade, zelando pelo contraditório em paridade de armas, além de não ter interesse no litígio. A imperatividade e a inevitabilidade da jurisdição: A jurisdição é manifestação de um poder e, portanto, impõe-se imperativamente, reconstruindo e aplicando o Direito a situações concretas que são submetidas ao órgão jurisdicional. As partes, por sua vez, hão e submeter-se ao quanto decidido pelo órgão jurisdicional. Tratando-se de emanação do próprio poder estatal, impõe-se a jurisdição por si mesma. Teoria Geral do Processo – Aula 4 A jurisdição como atividade criativa: A jurisdição é função criativa limitada. Através da jurisdição, se cria a norma jurídica do caso concreto. Na verdade, mais se assemelha a uma atividade de reconstrução, recria-se a norma jurídica do caso concreto, bem como se recria, muita vez, a própria regra abstrata que deve regular o caso concreto. A produção normativa aqui diz respeito à norma jurídica entendida como resultado da interpretação do texto da lei e do controle de constitucionalidade exercido pelo magistrado. Ao se deparar com os fatos da causa, o juiz deve compreender o seu sentido, a fim de poder observar qual a norma geral que se lhes aplica. Identificada a norma geral aplicável, ela deve ser conforme à Constituição através das técnicas de interpretação conforme, de controle de constitucionalidade em sentido estrito e de balanceamento dos direitos fundamentais. Esse é o processo criativo. A jurisdição é uma técnica de tutela de direitos mediante um processo: A jurisdição é uma das mais importantes técnicas de tutela de direitos. Todas as situações jurídicas ativas merecem proteção jurisdicional. A tutela dos direitos dá-se ou pelo seu reconhecimento judicial, ou pela sua efetivação ou pela sua proteção. Ainda pode ocorrer pela integração da vontade para a obtenção de certos efeitos jurídicos, como ocorre na jurisdição voluntária. A jurisdição sempre atua em uma situação jurídica concreta: É preciso perceber que a jurisdição sempre atua sobre uma situação concreta, um determinado problema que é levado à apreciação do órgão jurisdicional. A atuação é sempre tópica. O raciocínio do órgão jurisdicional é sempre problemático: ele é chamado a resolver um problema concreto. Insuscetibilidade de controle externo: a função jurisdicional tem por característica marcante produzir a última decisão sobre a situação concreta deduzida em juízo: aplica-se o Direito a essa situação, sem que se possa submeter essa decisão ao controle de nenhum outro poder. A jurisdição somente é controlada pela própria jurisdição. Aptidão para a coisa julgada: A coisajulgada é situação jurídica que diz respeito Teoria Geral do Processo – Aula 4 exclusivamente às decisões jurisdicionais. Somente uma decisão judicial pode tornar- se indiscutível e imutável pela coisa julgada. PODERES INERENTES À JURISDIÇÃO ❖ Poder de decisão (art. 203, CPC) ❖ Poder de coerção (art. 139, CPC) ❖ Poder de documentação (arts. 209 e 367, CPC) ❖ Poder de conciliação (art. 139, V, CPC) ❖ Poder de impulso (art. 2o) MUDANÇAS NO CONCEITO DE JURISDIÇÃO ❖ Permitir meios alternativos à jurisdição estatal como a arbitragem, a mediação e a conciliação. ❖ Espaço para a jurisdição internacional, transnacional e transfronteiriça, com estabelecimento de limites à jurisdição nacional. ❖ Possibilidade de permitir às patês a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos e calendarização processual, descaracterizando a norma processual como norma cogente, inderrogável e de caráter. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO ❖ Princípio da investidura ❖ Princípio do juiz natural ❖ Princípios da aderência ao território ❖ Princípio da inafastabilidade ❖ Princípio da indelegabilidade ❖ Princípio da inevitabilidade ❖ Princípio da unidade da jurisdição ❖ Princípio da inércia CLASSIFICAÇÃO DA JURISDIÇÃO A jurisdição pode ser classificada conforme: A natureza dos interesses tutelados: em civil ou penal O tipo de movimento pleiteado: em cautelar, de conhecimento ou de execução O tipo de atividade desempenhada pelo juiz: em contenciosa ou voluntária Teoria Geral do Processo – Aula 4 Ao Estado, no exercício da atividade jurisdicional, cabe promover a prestação jurisdicional e a tutela jurisdicional. A primeira consiste na atuação estatal efetiva para solucionar a lide, enquanto a última se refere ao provimento da pretensão de uma das partes. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS São as formas não jurisdicionais de solução de conflito. São chamados de equivalentes exatamente porque, não sendo jurisdição, funcionam como técnica de tutela dos direitos, resolvendo conflitos ou certificando situações jurídicas. Os principais exemplos são a autotutela, a autocomposição e o julgamento de conflito por tribunais administrativos. Há, também, a avaliação imparcial de terceiro e os dispute boards. JUSTIÇA MULTIPORTAS A tutela dos direitos pode ser alcançada por diversos meios, sendo a justiça estatal apenas mais um deles. Atualmente, deve-se falar em meios adequados de solução de conflitos, designação que engloba todos os meios, jurisdicional ou não, estatais ou não, e não mais em meios alternativos de solução de conflitos, que exclui a jurisdição estatal comum e parte da premissa de que ela é prioritária. AUTOTUTELA Trata-se de solução do conflito de interesses que se dá pela imposição da vontade de um deles, com o sacrifício do interesse de outro. Trata-se de solução vedada. AUTOCOMPOSIÇÃO É a forma de solução do conflito pelo consentimento espontâneo de um dos contentores em sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em favor do interesse alheio. É a solução altruísta no litígio. Considerada, atualmente, como prioritária forma de pacificação social. Avança-se no sentido de acabar com o dogma da exclusividade estatal para a solução dos conflitos de interesses. Pode ocorrer fora ou dentro do processo jurisdicional. Teoria Geral do Processo – Aula 4 O PODER JUDICIÁRIO De acordo com a Constituição Federal, os três Poderes são independentes e harmônicos entre si. Em nosso ordenamento jurídico, o Judiciário é relativamente autônomo. Tem competência para julgar e tornar sem efeito atos da Administração e até para julgar e declarar inconstitucionais as próprias leis que é chamado a aplicar. Como órgão normativo, o Poder Judiciário produz normas especialmente concretas, mas com a virtualidade de se tornarem gerais a partir da jurisprudência. O Judiciário é um Poder. Exerce atividade de governo. Incumbe-lhe dizer, em cada caso, o que é direito, exercendo a atividade jurisdicional. Cabe-lhe exercer uma atividade imunológica, rejeitando as leis inconstitucionais, bem como declarando a rejeição social de algumas normas. Produz a jurisprudência, que, como a lei, é fonte do direito. Tudo isso é verdade, contudo, deve obediência ao direito objetivo. ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA O Poder Judiciário necessita ser devidamente aparelhado para a prestação de tutela jurisdicional efetiva, célere e adequada. No Brasil, a organização desse Poder é feita pela Constituição Federal. De acordo com o art. 92 da CF, são órgãos do Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal ❖ Órgão de cúpula ❖ Corte Constitucional ❖ Órgão máximo do Poder Judiciário ❖ 11 Ministros ❖ Recurso Extraordinário Conselho Nacional de Justiça ❖ Presidido pelo presidente do STF ❖ Controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário ❖ Controle interno ❖ Não exerce jurisdição Superior Tribunal de Justiça ❖ Controle de legalidade ❖ Uniformização da jurisprudência ❖ Recurso Especial Teoria Geral do Processo – Aula 4 Tribunais da Justiça Especializada ❖ Tribunais e Juízes do Trabalho ❖ Tribunais e Juízes Eleitorais ❖ Tribunais e Juízes Militares Tribunais Regionais Federais ❖ Processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica, ou empresa pública federal forem partes. Hermes Zaneti Jr. Teoria Geral do Processo – Aula 4 O STF e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. Isso quer dizer que suas decisões alcançam pessoas e bens em qualquer ponto do território brasileiro. São, em razão disso, chamados de órgãos de convergência. Cabe destacar que o STF e o STJ são denominados órgãos de superposição. Isso porque, embora eles não pertençam a nenhuma Justiça, suas decisões se sobrepõem às proferidas pelos órgãos inferiores das Justiças Comum e Especial. Destaca-se, ainda, que embora cada Justiça tenha seu espaço próprio de atuação, a estrutura do Poder Judiciário é considerada unitária, nacional. ADVOCACIA E MINISTÉRIO PÚBLICO A advocacia, privada e pública, e o Ministério Público exercem papel sui generis na mobilização e preservação dos direitos humanos e fundamentais. O art. 133 da Constituição estabelece que o “advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. A Defensoria Pública, diz o art. 134 da Constituição Federal, é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5o. Ainda segundo a Constituição Federal, o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público tem tido seu desempenho destacado pela propositura de ações visando à proteção de interesses difusos. TEORIAS DA INTERPRETAÇÃO Teoria Realista: Direcionada para identificar o problema/conflito. Teoria Moderada: Direcionada para identificar o Direito aplicável. Teoria Responsável: Formação de precedente para o futuro. Teoria Geral do Processo – Aula 4 REFERÊNCIAS Teoria Geral do Processo – Rennan Thamay, José Maria Rosa https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.f gv.br/files/u1882/teoria_geral_do_proce sso_2017-2.pdf Curso de Direito Processual Civil – Fredie Didier Novo Curso de Processo Civil – Marinoni Arenhart, Mitidiero O Valor Vinculante dos Precedentes – Hermes Zaneti Jr. Instituições de Direito Processual Civil – Cândido Rangel Dinamarcohttps://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u1882/teoria_geral_do_processo_2017-2.pdf https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u1882/teoria_geral_do_processo_2017-2.pdf https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u1882/teoria_geral_do_processo_2017-2.pdf
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