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Cubismo foi uma das vanguardas artísticas do início do século XX, com expoentes nas artes visuais e na literatura. Trata-se de um movimento artístico revolucionário, cuja principal característica é a observação da realidade sobre diferentes perspectivas, envolvendo a geometrização das formas e a ruptura com a representação verossímil dos objetos. Contexto histórico As mudanças provocadas pela Segunda Revolução Industrial, em meados do século XIX, transformaram a entrada do século XX. Grandes centros urbanos consolidavam-se, a luz elétrica popularizava-se, bem como os automóveis e a fotografia. No decorrer de poucas décadas, a Europa, até então predominantemente rural, via a explosão demográfica urbana erigir enormes metrópoles. udo isso deu origem a um novo modo de vida, instigando os artistas a propor também uma nova maneira de representação da realidade. O Cubismo surge em 1907, inicialmente como um movimento estético parisiense, que acabou popularizando-se por toda Europa e Américas, inaugurando nova maneira de fazer arte, em resposta ao novo modo de viver estabelecido no início do século XX. Características Precursor, revolucionário, inovador, o Cubismo rompeu com uma das características mais tradicionais da pintura: o uso da perspectiva plana. Em prol de uma verdadeira libertação na arte, os cubistas aboliram a cópia. O artista deve criar, não copiar — é o fim da arte mimética. Desse modo, não há na arte mais nenhum compromisso em representar a aparência real das coisas. Várias faces de um mesmo objeto são retratadas em um mesmo plano, o objeto pode ser fragmentado, justaposto, refeito em colagens ou reduzido apenas a figuras geométricas. É esse novo uso da geometria, por sinal, que batiza o movimento: “Ele despreza tudo, reduz tudo, sítios, figuras e casas a esquemas geométricos, a cubos.” O horizonte de criar uma arte que rompesse com o academicismo propiciava uma grande interação entre artistas de várias áreas: pintores, escultores, músicos e escritores uniam-se em estreito diálogo e integração constante. Assim, as rupturas do Cubismo tiveram seu lugar também na literatura. O movimento cubista é dividido em duas fases: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/vanguardas-europeias.htm https://brasilescola.uol.com.br/literatura/ https://brasilescola.uol.com.br/historiag/segunda-revolucao-industrial.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/europa.htm • Cubismo analítico (1909): cuja característica é a total decomposição dos objetos representados. Para romper com a representação visual, apresentavam-se vários ângulos sobrepostos e fragmentados de um mesmo objeto, em prol de uma representação conceitual. Muitas vezes essa ênfase na destruição das formas aparentes tornou praticamente impossível reconhecer qualquer figura nos quadros desse período. • Cubismo sintético (1911): momento em que há certa redução na fragmentação dos objetos, tornando as figuras novamente reconhecíveis. Insere-se então a técnica da colagem: outros materiais, como pedaços de jornal, de madeira, de vidro e até mesmo objetos inteiros, passam a fazer parte da pintura. A proposta do Cubismo sintético é levar a pintura a novos estímulos além do visual, incorporando também elementos táteis. Principais artistas • Georges Braque (1882-1963) Pintor de origem francesa considerado o precursor do Cubismo, em conjunto com Pablo Picasso. Produziu pinturas, gravuras, desenhos e esculturas. Representava paisagens, natureza morta e objetos do cotidiano, como copos e garrafas, de fácil decomposição, além de instrumentos musicais, aludindo à temporalidade da música, relacionada à unidade espaço-temporal que a técnica cubista buscava com a representação de sobreposições de um mesmo objeto em um mesmo tempo. • Pablo Picasso (1881-1973) Também fundador do Cubismo, nasceu em Málaga, na Espanha. Além de pintor, foi também ceramista, escultor, cenógrafo, dramaturgo e poeta. Foi autor de uma produção imensa, dividida em várias fases, deixando um legado de mais de 10 mil itens. A preferência por linhas geométricas, pela sobreposição dos planos, pela moderação no uso das cores e pela influência direta da arte africana é marcante em sua fase cubista. Picasso é o autor da obra considerada como inaugural do Cubismo, Les demoiselles d’Avignon (1907). • Juan Gris (1887-1927) Pseudônimo do pintor e escultor espanhol Juan José Victoriano Gonzalez, é famoso por suas obras enquadradas na fase do Cubismo sintético. De suas principais características, destaca-se o jogo de ambiguidades entre aquilo que é pintura e o que é realidade, proporcionado pelo uso da técnica da colagem. Cubismo no Brasil A influência das vanguardas europeias foi importada ao Brasil durante os anos de 1912 e 1917, culminando, em 1922, na Semana de Arte Moderna de São Paulo. É sobretudo a partir desse evento que começam a existir obras que fazem uso da plástica cubista no Brasil. https://brasilescola.uol.com.br/artes/pablo-picasso.htm https://brasilescola.uol.com.br/literatura/semana-arte-moderna-1922.htm https://brasilescola.uol.com.br/literatura/semana-arte-moderna-1922.htm Tarsila do Amaral (1886-1973), célebre artista da Primeira Fase do Modernismo brasileiro, denomina-se cubista em 1923, em entrevista ao jornal Correio da Manhã: “Estou ligada a esse movimento que tem produzido efeitos nas indústrias, no mobiliário, na moda, nos brinquedos, nos 4 mil expositores do Salão de Outono e dos Independentes”. Lasar Segall, Di Cavalcanti e Cândido Portinari foram também influenciados pela plástica cubista, expressa na bidimensionalidade das obras, no banimento da perspectiva plana e na preferência pela representação dos objetos fazendo uso de formas geométricas. Cubismo na literatura Os escritores cubistas buscaram procedimentos semelhantes aos dos artistas plásticos para também reformular a prática literária. Levaram para o texto a fragmentação, a colagem e a recriação dos objetos representados por meio de metáforas e analogias. Na poesia, a expressão do verso livre, de métrica irregular e muitas vezes sem pontuação, estrutura-se de modo geral em recortes, em fragmentos de cenas e frases que formam o todo. As múltiplas perspectivas encontram-se também no plano textual, de modo que o escritor não deve descrever pormenorizadamente a realidade, mas captar e validar os diversos pontos de vista a respeito das coisas. Poetas e prosadores cubistas fazem uso da técnica da colagem por meio da combinação de palavras: cada uma trazendo uma imagem, uma ideia, diversas associações. Guillaume Apollinaire (1880-1918), poeta francês, foi um dos primeiros escritores a propor uma estética literária do Cubismo. Seus caligramas representam a ruptura máxima da forma do texto: é o surgimento de uma poesia visual, em que a estrutura dos versos remete a uma imagem que, por sua vez, remete ao conteúdo do próprio poema. Foi um grande influenciador do Concretismo. Na literatura brasileira, o Cubismo encontra seu maior expoente em Oswald de Andrade, poeta, romancista e dramaturgo, grande nome da Primeira Geração do Modernismo brasileiro. Veja exemplos da influência direta dos procedimentos cubistas na obra do autor: muitos poemas constituem-se de colagens, como o poema “Hípica”: Percebemos que não há uma descrição pormenorizada, mas diversos fragmentos que representam, cada um, uma perspectiva diferente, formando um quadro de sobreposições, traços tipicamente cubistas. A ausência de pontuação permite também que a leitura seja feita de um só fôlego, o que esteticamente aproxima o poema da própria corrida de cavalos. https://brasilescola.uol.com.br/biografia/tarsila-amaral.htm https://brasilescola.uol.com.br/literatura/oswald-andrade.htm https://brasilescola.uol.com.br/literatura/oswald-andrade.htm