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1 SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 2 UNIDADE 2 – AS TUTELAS GENÉRICAS E ESPECÍFICAS .................................... 4 UNIDADE 3 – TUTELA CIVIL ..................................................................................... 9 3.1 NOÇÕES GERAIS DE RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................ 9 3.2 DEFEITOS E VÍCIOS ................................................................................................. 23 3.3 GARANTIA LEGAL E CONTRATUAL ............................................................................. 25 3.4 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA .................................................... 26 UNIDADE 4 – TUTELA ADMINISTRATIVA ............................................................. 31 4.1 LEGISLAÇÃO PROTETIVA ......................................................................................... 33 4.2 ENTIDADES CIVIS .................................................................................................... 34 4.3 ENTIDADES PRIVADAS ............................................................................................. 35 4.4 NOTIFICAÇÕES E SANÇÕES ADMINISTRATIVAS........................................................... 37 UNIDADE 5 – TUTELA PENAL ................................................................................ 44 5.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES DE CONSUMO – ARTS. 61 A 80 DO CDC ........................ 48 5.3 CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES ............................................................................... 62 UNIDADE 6 – TUTELA JURISDICIONAL ................................................................ 65 6.1 TUTELA INDIVIDUAL ................................................................................................ 66 6.2 TUTELA COLETIVA .................................................................................................. 67 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 73 Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 2 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Tutela, por definição no dicionário Aurélio, é o encargo ou autoridade que se confere a alguém, por lei ou por testamento, para administrar os bens e dirigir e proteger a pessoa de um menor que se acha fora do pátrio poder, bem como para representá-lo ou assistir-lhe nos atos da vida civil. É ainda assistência e representação; dar amparo, proteção e auxílio; tutoria. A partir do momento que os direitos fundamentais deixam de se resumir aos direitos de defesa contra a interferência estatal na esfera jurídica particular e que passam também a conferir aos particulares direitos de proteção, direitos à organização e ao procedimento e direitos a prestações sociais, enfim, a partir do momento que vimos o reconhecimento do Estado em dever a proteção integral do cidadão, isto quer dizer que ele deve proteger normativa, administrativa e jurisdicionalmente. No tocante ao cidadão enquanto consumidor, o Estado deve garantir sua segurança, impondo proibições ou condutas positivas, como por exemplo, a proibição da venda de produtos com alto grau de nocividade ou periculosidade (art. 10 do CDC) ou o dever de informar de forma ostensiva (art. 9º do CDC). Essas regras, destinadas a proteger o consumidor contra os produtos e os serviços nocivos e perigosos, têm natureza preventiva, pois proíbem ou impõem condutas para evitar danos. Outras normas, objetivando garantir as relações obrigacionais, tratam da chamada responsabilidade in re ipsa, dando ao consumidor várias opções no caso de adimplemento imperfeito; fala-se, aqui, em responsabilidade por vício do produto e do serviço (art.18 e ss, CDC). Existem, ainda, normas que objetivam dar a devida proteção ao consumidor em caso de dano, quando importa a chamada responsabilidade pelo fato do produto e do serviço (art. 12 e ss, CDC). É claro que as normas materiais de proteção do consumidor não se limitam apenas a essas. Basta lembrar dos ditos direitos básicos do consumidor (art. 6º, CDC) e, especialmente, dos Capítulos que tratam das práticas comerciais e da proteção contratual (Capítulos V e V do Título I) (MARINONI, 2004). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 3 Pois bem, veremos neste momento as diversas tutelas específicas ao consumidor, cada uma em sua máxima amplitude. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se inúmeras outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 4 UNIDADE 2 – AS TUTELAS GENÉRICAS E ESPECÍFICAS Segundo LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMARAL (2010), a tutela geral do consumidor encontra justificativa, sem qualquer dúvida, no reconhecimento de sua vulnerabilidade geral, aliada à crescente consciência individual e coletiva dos seres humanos acerca do novo patamar evolutivo da eticidade que vem caracterizando o mundo dito civilizado e moderno, mais precisamente, desde o final dos anos 1800 e cujos marcos podem ser: o Sherman Act – EUA, de 1890 e a Rerum Renovarum, de 1891, do papa Leão XIII. Esses acontecimentos dão a tônica para o surgimento das legislações sociais, bem como a nossa Consolidação das Leis do Trabalho, as Constituições com regras econômico-sociais e as leis de proteção ao consumidor. Da tutela genérica da ONU à tutela constitucional e legal, da qual decorrem as tutelas específicas (civil, administrativa, penal e jurisdicional) o caminho foi longo. A ONU cuidou específica e expressamente da tutela do consumidor, ao baixar a Resolução nº 39/248, de 10 de abril de 1985, reconhecendo a vulnerabilidade daquele a quem são endereçadas as normas protetivas, enunciando- lhe os direitos básicos e propondo medidas que deveriam ser adotadas pelos países-membros no intuito de que todos, principalmente os do chamado Terceiro Mundo, viessem a instituir legislação e mecanismos protetivos do consumidor. Não se trata, como se vê, de uma tutela impositiva, e sim de uma manifestação de cunho político, abrangente, que procura despertar os Estados e suas populações para tema de grande significado para a promoção humana,como a defesa do consumidor. A tutela supranacional tem o grande mérito de induzir os países-membros a adotarem medidas protetivas, objetivo plenamente alcançado na quase totalidade de participantes, inclusive no Brasil, à constatação de que as legislações já positivadas e aquelas em fase de elaboração derivam do posicionamento do organismo supranacional. Aliás, pelo simples fato de a ONU se preocupar com a defesa do consumidor, resulta evidenciada a importância que dá ao assunto, em ordem a que idêntico tratamento lhe seja dado também pelos Estados-membros. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 5 Trata-se de tutela genérica, política e não coercitiva, porém de alta relevância, pelo efeito de despertar consciências e induzir à adoção de normas e mecanismos de proteção ao consumidor. Esse, sem dúvida, é o grande mérito da tutela da ONU (ALMEIDA, 2010). No caso do Brasil, a CF/88 mostrou a que veio no tocante à proteção ao consumidor. Na nossa história jurídica nunca se havia dado tamanho tratamento constitucional ao consumidor. São vários os dispositivos da CF/88 que tratam o assunto como no art. 5º, XXXII, no art. 24, VIII, no art. 129, II e III, no art. 170, V, e ainda no art. 48 do ADCT. Mas, segundo ponderações de JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2010), apesar de seu conteúdo programático, a tutela constitucional do consumidor apresenta facetas interessantes, a saber: � em primeiro lugar, a tutela do consumidor foi alçada a direito básico fundamental (individual ou coletivo), em virtude de sua inclusão num dos incisos do art. 5º, atinente ao Capítulo I – Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Referida tutela passou a ser, de forma expressa, um direito de cidadania, informado pelo direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, assumindo o Estado a postura de tutor legal. Em suma, a defesa ao consumidor, à luz do inciso XXXII do art. 5º do texto constitucional, passou a ser direito do cidadão e dever do Estado; � pretendeu-se, em segundo lugar, dar a essa mesma tutela um caráter nacional. Assim, por ela devem ser responsáveis os Poderes Públicos, ou seja, a União, os Estados-Membros, o Distrito Federal e os Municípios, em todas as suas manifestações. Delimitados pela competência legislativa (CF, art. 24, VIII), cada ente público terá explicitada sua área e forma de atuação; � em terceiro lugar, houve deliberada intenção do legislador constituinte de dar ao tema um caráter de permanência, em virtude do tratamento constitucional, pois, como é sabido, os dispositivos da Constituição só podem ser alterados por emendas, que requerem processo legislativo diferenciado e quorum de três quintos de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, para aprovação (CF, art. 60, I, II e III, §§ 1º e 2º), sendo certo que não será objeto Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 6 de deliberação proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais (CF, art. 60, § 4º, IV). Dessa forma, a defesa do consumidor passou a ser uma preocupação permanente e duradoura do Estado, já não estando sujeita aos caprichos dos governantes da ocasião, que, até então, poderiam caminhar no sentido da revogação da legislação protetiva, ordinariamente instituída, inclusive pelo atalho escancarado das medidas provisórias. Não resta dúvida de que o tratamento constitucional e a exigência de emenda para alterar a defesa do consumidor em termos de Carta Magna traduzem uma garantia de maior durabilidade da tutela. Não se exclui, por óbvio, a possibilidade de alterações, mas tal ocorrerá somente se essa for a vontade da sociedade brasileira, expressa por seus representantes no Congresso Nacional. A partir disso, com a vigência da nova CF/88, iniciou-se o trabalho de complementação legislativa, ou seja, da edição de legislação que vinha a completar e tornar exequível o texto constitucional. Nessa trilha, surgiu a Lei nº 8.078/90 ou Código de Defesa do Consumidor. Pelo fenômeno da recepção estão ab-rogadas as leis anteriores à vigência do texto constitucional que conflitavam com a nova ordem; quanto às demais, em que tal conflito não se apresenta, foram recepcionadas pela ordem constitucional instaurada em outubro de 1988. Nessa última hipótese, incluem-se a Lei nº 1.521/51 (Lei dos Crimes de Economia Popular), a Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e a Lei nº 7.492/86 (Repressão aos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional), dentre outras, além de diplomas de natureza infralegal, como decretos, resoluções e portarias. Verifica-se, nesse passo, que da tutela constitucional do consumidor decorre a sua tutela legal, a exprimir o intrincado emaranhado de produção legislativa posto à sua disposição, e da qual são espécies a tutela administrativa, a tutela jurisdicional, a tutela penal e a tutela civil, contempladas no CDC e na legislação infraconstitucional pretérita e superveniente. Pode-se afirmar que hoje, com a nova CF, com a promulgação do CDC e com a recepção da legislação pretérita, o consumidor brasileiro está satisfatoriamente tutelado em termos legislativos, recomendando-se, por ora, Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 7 apenas pequenas alterações em temas como repressão ao abuso do poder econômico, concorrência desleal e efetividade dos aparelhos preventivo e fiscalizatório. O CDC constitui um microssistema jurídico multidisciplinar na medida em que possui normas que regulam todos os aspectos da proteção do consumidor, coordenadas entre si, permitindo uma visão de conjunto das relações de consumo. Preferiu o legislador tratar num único diploma legislativo, o CDC, do aspecto civil das relações de consumo, sem deixar o seu disciplinamento para uma futura alteração do Código Civil. Da mesma forma, em relação aos aspectos penal, administrativo e jurisdicional. Tais normas, como se sabe, são coordenadas entre si, interpenetram- se, complementam o sentido de outras disposições ou lhes dão maior efetividade. A título de exemplo, a proteção contra a publicidade enganosa constitui direito básico do consumidor (CDC, art. 6º, IV), recebe tratamento cível (CDC, arts. 36 a 38), é sancionada na via administrativa (arts. 55 a 60), além de propiciar o uso das vias judiciais para a suspensão ou sua veiculação (arts. 81 e ss.). O microssistema codificado, como se vê, por força de seu caráter interdisciplinar, outorgou tutelas específicas ao consumidor nos campos civil (arts. 8º a 54), administrativo (arts. 55 a 60 e 1051106), penal (arts. 61 a 80) e jurisdicional (arts. 81 a 104), que serão estudadas detalhadamente. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escritodo Instituto Prominas. 8 Esquema resumo das tutelas do consumidor, previstas no CDC: Tutela Internacional /externa: ONU Res. 39/284/85 Tutelas do consumidor Constitucional (art. 5º, XXXII, 170, V) Tutela nacional/interna Legal (CDC e outras leis) Tutela administrativa Tutela penal Tutela civil Tutela jurisdicional Infraconstitucional Decretos Portaria Não podemos esquecer que a tutela do consumidor no microssistema previsto no CDC brasileiro perpassa pelos direitos privado (civil e mercantil/empresarial), processual, administrativos, econômico e penal/criminal (AMARAL, 2010). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 9 UNIDADE 3 – TUTELA CIVIL Para efetivar a prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos que são direitos básicos do consumidor, temos três importantes capítulos do CDC que são: Cap. IV – Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos; Cap. V – Das práticas comerciais e Cap. VI – Da proteção contratual (arts. 8º a 54). O que se busca com a tutela civil nada mais é do que garantir o ressarcimento ou a reparação de danos por ele (consumidor) sofridos ou o impedimento de que venham a ser concretizados, por meio de mecanismos que a própria lei prevê. 3.1 Noções gerais de responsabilidade civil A responsabilidade civil é tida como a obrigação de reparar, mediante indenização, geralmente pecuniária, o dano causado a outrem. É uma garantia, uma correspondência, uma equivalência de contraprestação, uma repercussão obrigacional da atividade humana danosa à outra pessoa (PETROUCIC; FUNES, 2007). Para MARIA HELENA DINIZ (2003, p. 35), a responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. O CDC cuida do instituto da responsabilidade civil porque, como em qualquer relação obrigacional decorrente da lei ou de um simples contrato, a quebra dos deveres impostos aos devedores, em favor dos credores, pode importar em prejuízos; prejuízos de ordem material e moral, que deverão ser reparados (KHOURI, 2006; VITAL, 2010). De acordo com SÉRGIO CAVALIERI FILHO (1999, p. 20), o dever, em si, é originário, sendo a obrigação de reparar o dano um dever jurídico sucessivo ou secundário. Se o dever originário não for violado não nasce o dever jurídico Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 10 sucessivo, qual seja, a obrigação de reparar o dano. Nunca é demais lembrar que a simples quebra de um dever jurídico, em si, por mais relevante que seja, não acionará o dever sucessivo, na órbita cível, se não for provada a existência de um dano. À prova do dano, deve somar-se a demonstração do nexo causal, ou seja, de que a causa do dano é a quebra do dever jurídico originário. No CDC, o descumprimento de uma relação obrigacional ou contrato, seja por parte do fornecedor ou do consumidor, sujeitará o devedor à obrigação de reparar o dano, tal como determina o art. 389 do novo Código Civil. Entretanto a reparação de danos a que o Código se refere nesse dispositivo é a ordinária, fundada na conduta subjetiva do devedor, ou seja, na culpa. No CDC, há tantos casos de responsabilidade fundada na culpa ou subjetiva, como casos e responsabilidade objetiva ou sem culpa. É desta última que se ocupa o Capítulo IV do Código, particularmente os arts. 12 e 14 (KHOURI, 2006). O CDC promete ao consumidor brasileiro, seguindo a pré-ordenação constitucional, além do atendimento de suas necessidades, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos e ainda a melhoria da sua qualidade de vida (art. 4º), a efetividade na prevenção e na reparação de todos os danos patrimoniais/materiais e morais, individuais, coletivos e difusos (art. 6º, VII). Assim, como dito no primeiro parágrafo desta unidade, para cumprir essas promessas, o Código abre três capítulos de instrumentos de efetivação dessas promessas: Capítulo IV - “Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos”; Capítulo V - “Das Práticas Comerciais”; Capítulo VI - “Da Proteção Contratual”, cada capítulo desses está dividido em várias seções. Nesse plano de tutela, a civil, percebe-se que há um intrassistema de regras, bem ordenado, que busca alcançar, no plano civil, aquelas promessas da Constituição Federal (valores, princípios e regras máximas que, como farol, iluminam os que navegam pelo mundo jurídico, pelo menos os que seguem a carta náutica da justiça concreta como fim e da técnica como meio), do próprio CDC e até mesmo e mais difusamente da evolução ético-jurídica do gênero humano (AMARAL, 2010). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 11 Contudo, essa proteção/tutela civil do consumidor não está restrita ao CDC. Há, pois, muitas outras legislações, nesse setor que, paralela e harmonicamente, tutelam o consumidor brasileiro. Nesse campo da tutela civil do consumidor brasileiro destaca-se a responsabilidade civil do fornecedor (antítese do consumidor). A locução responsabilidade civil costuma ser utilizada num sentido amplo e em outro mais restrito/específico. Na acepção ampla é a situação jurídica em que alguém tem a obrigação de indenizar outrem, mas significa, também, a própria obrigação derivada dessa situação. Ainda nesse sentido pode significar o instituto jurídico constituído pelo conjunto de normas e princípios jurídicos que regem o surgimento, o conteúdo e cumprimento daquela obrigação. Já no sentido mais estreito ou restrito, responsabilidade civil, é o dever (a obrigação) de indenizar, de reparar (reparar = parar/voltar antes do dano) que o fato lesivo (logo ilícito) gera quando imputável dada pessoa. Enquanto RENÉ SAVATIER (s.d apud RODRIGUES, 2002) define responsabilidade civil, a obrigação que pode incumbir a uma pessoa de reparar o prejuízo causado a outrem por fato seu, ou pelo fato das pessoas ou das coisas dela dependentes, LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMARAL (2010) resume em dever de responder pelo dano que se causou a outrem. Em geral, a responsabilidade civil é constituída pelos seguintes elementos: ação ou omissão voluntária, nexo de causalidade, dano e culpa. Esse dano (pessoal/material/patrimonial ou moral/extrapatrimonial) que é uma lesão, uma perda ilícita (violação do direito) para outrem, precisa estar vinculado à ação ou omissão (quando há o dever de agir), enquanto efeito dessa conduta (dolosa ou culposa: negligência, imperícia e imprudência) do agente a quem se imputa a responsabilidade (responder pelo efeito danoso de sua conduta). A responsabilização civil tem por finalidade precípua o restabelecimento do equilíbrio violado pelo dano. Por isso, há em nosso ordenamento jurídicoa responsabilidade civil não só abrangida pela ideia do ato ilícito, mas também há o ressarcimento de prejuízos em que não se cogita da ilicitude da ação do agente ou até da ocorrência de ato ilícito, o que se garante pela teoria do risco, haja vista a Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 12 ideia de reparação ser mais ampla do que meramente o ato ilícito. O princípio que sustenta a responsabilidade civil contemporânea é o da restitutio in integrum, isto é, da reposição do prejudicado ao status quo ante. Nesse diapasão, a responsabilidade civil possui dupla função na esfera jurídica do prejudicado: (a) mantenedora da segurança jurídica em relação ao lesado; (b) sanção civil de natureza compensatória (AMARAL, 2010). Em termos de CDC, reza o art. 7º, parágrafo único, que no caso de acidente de consumo, o consumidor-vítima deverá ser ressarcido a partir da expressa solidariedade da cadeia de fornecimento. Tal responsabilidade solidária encontra fundamento na teoria da confiança. Releva notar que a formação do polo passivo plúrimo é prerrogativa exclusiva do consumidor, jamais do fornecedor, cuja possibilidade de denunciação da lide está vedada a todos os réus, nos termos do art. 88. Contudo resta aos fornecedores a via da ação regressiva com base na equitativa divisão dos ônus pelos riscos no (e do) mercado. O gênero conceitual responsabilidade civil pode se apresentar sob muitos tipos ou espécies, conforme a perspectiva da análise. Assim podemos ter: 1. Quanto ao seu fato gerador: a) responsabilidade contratual – proveniente de conduta violadora de norma contratual, logo conduta ilícita; b) responsabilidade extracontratual ou aquiliana – resultante da ilícita violação de um dever geral de diligência (cuidado mediano) na vida social, dever geral de abstenção, dever geral (de todos) de respeito aos direitos alheios; é o velho princípio romano do neminem laedere (a ninguém ofender). 2. Quanto ao agente: a) responsabilidade direta – proveniente (o dano e logo o dever de reparar) de ato do próprio responsável; b) responsabilidade indireta – provém de ato de terceiro, vinculado ao agente ou de fato de animal ou coisa inanimada sob sua guarda; 3. Quanto ao seu fundamento: Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 13 a) responsabilidade subjetiva – presente sempre o pressuposto culpa ou dolo. Portanto, para sua caracterização devem coexistir os seguintes elementos: a conduta/ato, o dano, a culpa lato sensu e o nexo de causalidade entre a conduta e o dano; b) responsabilidade objetiva – não há a necessidade da prova da culpa, bastando a existência do dano, da conduta e do nexo causal entre o prejuízo sofrido e a ação do agente. A responsabilidade está calcada no risco assumido pelo lesante, em razão de sua atividade. Como se percebe, a responsabilidade civil decorre, em regra geral e originariamente, de um elemento subjetivo (psíquico), ou seja, da culpa lato sensu – que envolve o dolo e a culpa stricto sensu (cujas modalidades são: negligência, imperícia e imprudência). Com a evolução da cultura ético-jurídica e da crescente complexidade do mundo, torna-se insuficiente essa estreita responsabilização (AMARAL, 2010). Desenvolve-se, então, uma teoria da responsabilidade civil que independe daquele elemento subjetivo (a culpabilidade), ou seja, já seria possível, assim, a responsabilização tão só a partir da simples presunção de culpa. Vale notar que hoje temos a responsabilidade civil em duas vertentes: a subjetiva e a objetiva (com ou sem culpa, ou por presunção dessa). Só a complexidade industrial do mundo nestes últimos tempos já seria bastante para demonstrar que a comprovação da culpa, em muitas hipóteses concretas, seria injusta e até reforçaria a irresponsabilidade geradora de danos irreparáveis. Ora, se isso já constituiria injusta inadequação do direito para todos, muito mais injusto seria para o consumidor, frágil já por definição. Assim o CDC adotou, como não poderia deixar de ser, a responsabilidade civil objetiva, isto é, o consumidor precisa apenas provar que o resultado danoso foi causado (nexo de causalidade) pela ação ou omissão do fornecedor, estabelecido esse vínculo a responsabilidade estará firmada e com ela a consequente reparação. Exceção a essa regra desse microssistema jurídico (o direito do consumidor) só Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 14 mesmo nos casos de responsabilização civil de profissionais liberais (art. 14, par. 4º) (AMARAL, 2010). Para PAULO R. ROQUE A. KHOURI (2006), é evidente que, se a violação de um direito pode constituir-se em um prejuízo econômico, a sanção penal, por si, já não será suficiente, posto que, embora esta seja uma resposta da sociedade como um todo, que repele a conduta tipificada, na perspectiva da vítima ou do titular do direito violado é preciso que ela seja reconduzida à situação patrimonial anterior ao momento da violação. Esta função só pode ser desempenhada pela responsabilidade civil, ou seja, a função de reparar danos. Discute-se se a responsabilidade civil teria uma função meramente reparadora ou se ela exerce uma função punitiva. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA (1991, P. 534), sem deixar de atribuir à responsabilidade civil uma função essencialmente reparadora, admite para o instituto também uma função secundária, que seria justamente a punitiva. Esta função estaria presente na perda de patrimônio que é imposta ao lesante, em favor do lesado. Ao perder patrimônio para satisfazer à reparação do dano injustamente causado ao lesado, evidente que o lesante se empobrece. Este empobrecimento parece constituir-se claramente numa sanção, uma pena mesmo. FERNANDO SÂNDIS PESSOA JORGE (1995, p. 49), na mesma linha de argumentação acima, também sustenta para a responsabilidade civil função precipuamente reparadora e, secundariamente, punitiva. Entretanto, quando se tratar de ato ilícito, que também constitua crime, defende que, neste caso, sobressai a função punitiva. É que, aqui, o julgador, conforme o Código Civil Português, está autorizado a impor uma indenização de acordo com a gravidade da conduta do lesante. O Código Civil Brasileiro também admite a pesquisa em torno da conduta do lesante para fixar a indenização, mas não restringe tal possibilidade ao fato de o ilícito ser também ilícito penal. Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço Os produtos e serviços ofertados no mercado destinam-se a satisfazer as necessidades dos consumidores, nos aspectos de indispensabilidade, utilidade e Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 15 comodidade,sendo conatural a expectativa de que funcionem conveniente e adequadamente ou se prestem à finalidade que deles legitimamente se esperam. Não fosse assim, não estaria justificada a razão de sua existência (ALMEIDA, 2010). É certo, por outro lado, que os fornecedores procuram produzir bens e serviços adequados ao consumo, seguros, eficientes e livres de defeitos, utilizando- se, para tanto, de testes e controles de produção e qualidade, com o objetivo de eliminar ou pelo menos reduzir a colocação no mercado de produtos defeituosos. Ocorre, porém, que, mesmo com o emprego de diligência na produção ou prestação e de rigoroso controle, ainda assim alguns produtos e serviços acabam entrando no circuito comercial com defeitos que culminam por causar lesão à saúde, à segurança e ao patrimônio dos consumidores e usuários. Tais danos, anônimos e inevitáveis, não são produzidos por pessoas e sim por coisas (produtos ou serviços) e se repetem com relativa frequência, estatisticamente mensurável. O simples fato de colocação, no mercado, do produto ou serviço já se cria a responsabilidade pelo risco criado pelo fornecedor, uma vez que quem lucra com dada atividade deve suportar os riscos e os danos decorrentes (AMARAL, 2010). Para LUIZ GASTÃO PAES DE BARROS LEÃES (1987), a superveniência de alguns fatores, tais como o desenvolvimento dos mecanismos de produção, a multiplicação dos veículos e a intensificação dos sistemas de transporte, a difusão de materiais inflamáveis, e mesmo o enorme crescimento da população conjugado com o fenômeno da urbanização crescente, trouxe notável aumento de riscos e danos. Grande parte dessas hipóteses de risco não se ajusta ao esquema tradicional de culpa e de ato ilícito. Para atender ao anseio, que sempre existe, de ressarcimento, mister se fazia encontrar meios de alforriar a vítima da prova de culpa, não só porque essa prova via de regra constituía obstáculo intransponível, mas também porque existem hipóteses de dano que não permitem a imputação de culpa a uma pessoa, visto que são conexas a determinadas atividades, aparecendo como estatisticamente inevitáveis. A inevitabilidade dessas falhas no sistema de produção seriada e a impossibilidade prática de sua completa eliminação conduziram à ideia de criação de mecanismos legais de ressarcimento de danos pelo simples fato de colocação no Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 16 mercado de produtos e serviços potencialmente danosos, atribuindo ao fornecedor a responsabilidade pelos danos nessa condição causados à vítima e a terceiros, dentro do princípio de que aquele que lucra com uma atividade deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela decorrentes. Daí o surgimento da teoria do risco criado, que tem o sentido de atribuir ao fornecedor o dever de reparar danos causados aos consumidores pelo fato de desenvolver determinada atividade potencialmente danosa. Ou seja, faz com que o agente fornecedor assuma todos os riscos de sua atividade (ALMEIDA, 2010). Imbuído desse espírito, o legislador acolheu integralmente a teoria do risco criado como apta e suficiente para garantir o consumidor em relação aos danos que viesse a sofrer pelo fato da colocação no mercado de produtos e serviços. Subjacente ao tema, cumpre verificar que ao dever geral de não causar prejuízo a outrem (CC de 1916, art. 159), correspondeu o dever especial de não colocar no mercado produtos e serviços que possam acarretar riscos à saúde e segurança dos consumidores (CDC, art. 8º). Esse último dispositivo, aliás, impõe ao fornecedor, em correspondência simétrica com os direitos básicos dos consumidores, os seguintes deveres: a) não colocar no mercado produtos e serviços que impliquem riscos à saúde e segurança, exceto os havidos normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição; e, b) dar ao consumidor informações necessárias e adequadas a respeito do funcionamento e da potencialidade danosa. Em consequência da não observância desses deveres surge a responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto e do serviço (CDC, arts. 12 e 14). Da infringência desses deveres surge a responsabilidade civil do fornecedor, com a consequente obrigação de indenizar consumidores e vítimas em face dos defeitos apresentados por produtos e serviços. Assim, como regra, é o fornecedor o responsável pelo fato do produto ou do serviço (CDC, art. 12), pelo simples fato de que o fabricante, o produtor, o construtor e o importador são os autores da colocação no mercado do produto defeituoso, sendo natural, portanto, que assumam os riscos dessa conduta e arquem com os encargos decorrentes da reparação de danos das atividades que lhes são próprias, Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 17 como projeto, fabricação, construção, montagem, manipulação ou acondicionamento, além daquelas decorrentes de insuficiência ou inadequação de informações sobre utilização e riscos dos produtos e serviços. Em todos os casos a responsabilidade se mostra clara e evidente, tendo em vista o elo entre o fornecedor e o produto ou serviço. Responsabilidade objetiva A regra basilar da responsabilidade civil, no direito privado, é a responsabilidade com culpa, derivada de ilícito extracontratual, também chamada aquiliana, já citada. Por ela, todo aquele que causar dano a outrem, por dolo ou culpa, está obrigado a repará-lo (CC de 1916, art. 159, e Novo CC, art. 927, caput). Tal regra, conquanto aplicada eficazmente no campo das relações civis, mostrou-se inadequada no trato das relações de consumo, quer pela dificuldade intransponível da demonstração da culpa do fornecedor, titular do controle dos meios de produção e do acesso aos elementos de prova, quer pela inviabilidade de acionar o vendedor ou prestador de serviço, que, só em infindável cadeia de regresso, poderia responsabilizar o fornecedor originário, quer pelo fato de que terceiros, vítimas do mesmo evento, não se beneficiariam de reparação. Atento a essas circunstâncias, à tendência da legislação e da jurisprudência de países como Estados Unidos, França, Itália e Alemanha, bem como à orientação dos doutrinadores e dos tribunais do País, é que o legislador optou pela adoção da responsabilização objetiva, independente de culpa, para a reparação dos danos pelo fato do produto ou do serviço. Consagrou o novo Código, de forma incisiva e clara, que o fornecedor responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados por defeitos ou insuficiência e inadequação de informações, em relação aos produtos serviços que colocou no mercado (CDC, arts. 12 e 14). Consagrada a responsabilidade objetiva do fornecedor, não se perquire a existência de culpa; sua ocorrência é irrelevante e sua responsabilização. Para a reparação de danos, no particular, basta a demonstração do evento danoso, do nexo causal e do dano ressarcível e sua extensão. Tal não significará, no entanto, o Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados– sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 18 aniquilamento da responsabilidade com culpa, que continuará regulando a extensa gama de reparações na esfera civil, mas não terá aplicação nas reparações decorrentes das relações de consumo, igualmente numerosas, para as quais a responsabilização objetiva mostrou-se mais eficiente e adequada (ALMEIDA, 2010). Para a defesa do consumidor, individual, difusa ou coletivamente considerado, a responsabilidade do réu é objetiva, ou seja, independe de demonstração de culpa (CDC, arts. 12 e 14), exceto no que tange a alguns profissionais liberais, em que se exige a verificação da culpa (art. 14, § 4º). E terá por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (Lei nº 7.347/85, art. 3º), podendo o juiz determinar “o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se essa for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor” (Lei nº 7.347/85, art. 11). Assim, será inútil ao réu alegar em sua defesa a inexistência de culpa ou dolo, porque sua responsabilidade é objetiva e decorre da lei. A defesa do réu, no caso, é restrita à demonstração de que: a) não é responsável pelo ato ou fato lesivo ao consumidor, ou seja, não colocou o produto no mercado, nem prestou o serviço (CDC, art. 12, § 3º, I); b) não houve a ocorrência impugnada, isto é, mesmo tendo colocado o produto no mercado ou prestado o serviço, o defeito inexiste (CDC, arts. 12, § 3º, II, e 14, § 3º, I); c) houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (CDC, arts. 12, § 3º, III,e 14, § 3º, II). Responsabilidade do profissional liberal A regra geral da responsabilidade objetiva do fornecedor pelo fato do produto ou serviço contém uma exceção quanto à responsabilidade dos profissionais liberais, que se estabelece somente mediante verificação de culpa (art. 14, § 4º). Concordam doutrina e jurisprudência que a grande maioria dos profissionais liberais, como advogado, médico (exceto cirurgião plástico), só respondem se Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 19 agirem com culpa, porque assumiram obrigação de meio. Já os que assumem obrigação de resultado como o cirurgião plástico, o engenheiro e o arquiteto, respondem objetivamente, ou seja, independentemente de culpa. A razão desse tratamento diferenciado está justificada, de forma exemplar, por TUPINAMBÁ MIGUEL CASTRO DO NASCIMENTO (1991, p. 80), nestes termos: o médico, o advogado, o dentista, o enfermeiro, etc. compõem uma espécie de profissionais liberais. Nas relações de consumo, ao contratarem com seus clientes, não se comprometem a um resultado. Inobstante a cura da doença, a vitória na causa, a solução do problema dentário, etc., sejam as pretensões finais, referidos profissionais liberais não se comprometem, na área contratual, por alcançar tais resultados porque estes, por maior talento que possuam, normalmente fogem ao seu controle. O compromisso deles é quanto às técnicas usadas na prestação do serviço e às diligências regulares exercidas. Em outras palavras, tais profissionais se comprometem pela obrigação de meio. O mesmo autor sustenta que não pode haver inversão do ônus da prova no que tange à culpa de profissional liberal, embora tal possa ocorrer em relação à ocorrência do fato objetivo e o relacionamento causal entre este e o dano ocorrente, vinculados à autoria, pois, caso contrário, a garantia da responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais poderia ser revogada por ato judicial. Responsabilidade do comerciante Estando perfeitamente individualizada a responsabilidade do fornecedor pela colocação do produto no circuito comercial, não há que se falar em responsabilidade do comerciante, a pessoa ou empresa que vendeu ou fez a entrega do produto ao consumidor, porque ela, no quadro atual, nenhuma interferência tem em relação aos aspectos intrínsecos de produtos que comercializa, já que os recebe embalados e sem possibilidade de testá-los ou de detectar eventuais defeitos ocultos. Só por essa razão está justificada a exclusão do comerciante da cadeia de responsabilidade (ALMEIDA, 2010). Tal exclusão, no entanto, não é absoluta, porquanto, em determinadas situações, previstas legislativamente, o comerciante é igualmente responsável e passa a integrar a cadeia de responsabilidade. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 20 Isso ocorre quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados (art. 13, I), quando o produto for fornecido sem identificação clara de seu fabricante, produtor, construtor ou importador (inc. lI) e, por fim, quando não conservar adequadamente os produtos perecíveis (inc. III), hipóteses em que assume solidariamente a responsabilidade pela colocação do produto no mercado e deverá arcar com as consequências jurídicas correspondentes. Superada a questão da verificação da culpa, já que o Código adotou expressamente a responsabilidade objetiva, JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2010) lança mão de três pressupostos os quais informam a responsabilização pelo fato do produto e do serviço: a) colocação do produto no mercado – é o ato humano, comissivo, de lançar ou fazer ingressar em circulação comercial produto potencialmente danoso que possa causar lesões aos interesses dos consumidores. Se, de um lado, há o dever de não acarretar riscos à segurança ou ao patrimônio de outrem, o que se denomina dever de diligente fabricação e advertência (CDC, art. 8º), resulta, de outro lado, da inobservância dessa conduta a responsabilidade pelo fato da colocação no mercado de produto defeituoso ou potencialmente danoso (CDC, arts. 12 e 14). A fabricação de um produto defeituoso não constitui, por si mesma, um fato antijurídico; é a colocação no mercado do produto defeituosamente fabricado o ato voluntário do fabricante a que se deve ligar, num nexo causal, o resultado danoso (LEÃES, 1987) b) relação de causalidade – para que emerja a obrigação de reparar danos é necessário que exista uma relação de causa e efeito entre a ação do fornecedor de colocação no mercado de produto potencialmente danoso e o dano verificado, ou seja, entre este e um defeito que possa ser atribuído ao fabricante. Acentua CARLOS ROBERTO GONÇALVES (1986, p. 25) que, sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 21 c) dano ressarcível – é o prejuízo causado ao consumidor. Abrange o dano emergente, considerando-se tal os prejuízos efetivos, diretos e imediatos e os lucros cessantes, assim entendidos os que podiam ser previsíveis na data de infração (CC de 1916, arts. 1.059, parágrafo único, e 1.060 eNovo CC, arts. 402 e 403). Inclui, assim, tanto a indenização do produto danificado, como despesas médico- hospitalares, lucros não auferidos no período em razão de afastamento das atividades normais, indenização de objetos e imóveis danificados, indenização por redução da capacidade laborativa ou lesão incapacitante, etc. LUIZ GASTÃO PAES DE BARROS LEÃES (1987, p. 161) inclui, como quarto pressuposto, o dever de diligente fabricação. Mas JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2010, p. 89) entende, no entanto, que esse dever preexiste e já está implícito no pressuposto de colocação do produto no mercado, pois, ao fazê-lo, pressupõe-se que tenha sido diligente na fabricação para evitar riscos e danos aos consumidores, observando estritamente as normas e determinações emanadas dos Poderes Públicos, sendo certo, por outro lado, que a responsabilização só começa a partir da colocação no mercado. Assim, a mera fabricação – momento anterior à circulação comercial – não atuaria como pressuposto da responsabilidade. Exclusão da responsabilidade A regra, como visto, é a responsabilização do fornecedor – fabricante, produtor, construtor ou importador e eventualmente o comerciante – pelos danos causados ao consumidor por defeitos dos produtos e serviços, desde que demonstrada a relação de causalidade entre aqueles. Algumas situações, no entanto, excluem a responsabilidade do fornecedor quando (CDC, art. 12, § 3º): a) o fornecedor prova que não colocou o produto no mercado (inc. I). Nesse caso, será terceiro estranho à obrigação de indenizar, porque a responsabilidade decorre exatamente da colocação no mercado. A responsabilização deverá incidir, nessa hipótese, sobre o real fornecedor ou sobre quem verdadeiramente tenha colocado o produto ou serviço no mercado; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 22 b) o defeito inexiste (inc. lI). Aqui o fornecedor é o responsável pela colocação do produto ou serviço no mercado; o dano também existe, mas não existe o defeito apontado. Logo, se os danos não decorrem do defeito, não há obrigação de indenizar, pois podem ter origem em causas diversas, mas não em defeito que se lhe atribuiu; c) ocorre culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (inc. III). Deixa de existir a relação de causa e efeito entre o defeito do produto (que não causaria, de per si, o dano por má utilização da vítima ou de terceiro) e o dano experimentado. LUIZ GASTÃO PAES DE BARROS LEÃES (1987, p. 167), com suporte na experiência norte-americana, cuida de exprimir o entendimento do que seja culpa da vítima, nestes termos seguintes. Na espécie, cuida-se do uso negligente ou anormal do produto, que causou ou concorreu para causar o evento danoso. Ocorre uso negligente (contributory negligence) do produto nas seguintes hipóteses: i) inobstante às instruções ou advertências, o consumidor ou usuário emprega o produto de maneira inadequada, ou dele faz uso pessoa a quem a mercadoria é contra indicada; ii) à revelia do prazo de validade, o produto é utilizado ou consumido; iii) quando não se atenda a um vício ou defeito manifesto. Ocorre uso anormal (unusual use) quando o produto é utilizado ou consumido de modo diverso do objetivamente previsto (abnormal purpose). Atente-se, no entanto, que só a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro exclui a responsabilidade do fornecedor. A culpa concorrente não a exclui e conduz a uma redução do quantum indenizatório, como admitido pela jurisprudência pátria. d) em caso fortuito ou força maior (CC de 1916, art. 1.058, e Novo CC, art. 393, parágrafo único). Apesar de não previstas expressamente na lei de proteção, ambas as hipóteses possuem força liberatória e excluem a responsabilidade, segundo entendimento majoritário da doutrina, porque também quebram a relação de causalidade entre o defeito do produto e o dano causado ao consumidor. Nesse sentido, mesmo antes da edição da lei de proteção, já se posicionavam os doutrinadores. Não teria sentido, por exemplo, responsabilizar-se o fornecedor de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 23 um eletrodoméstico, se um raio faz explodir o aparelho e, em consequência, causa incêndio e danos aos moradores, inexistiria nexo de causalidade a ligar eventual defeito do aparelho ao evento danoso (ALMEIDA, 2010). Também em relação à prestação de serviços ocorre a exclusão de responsabilidade quando restar provado que o fornecedor não executou o serviço (hipótese não prevista no CDC), que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste (CDC, art. 14, § 3º, I), que ocorreu culpa exclusiva da vítima ou de terceiro (inc. Il), ou, ainda, nas hipóteses de caso fortuito ou força maior (CC de 1916, art. 1.058, e Novo CC, art. 393, parágrafo único). Para reforçar e tornar efetiva a tutela do consumidor, nessa área de ressarcimento civil, o legislador ainda proibiu as chamadas cláusulas de irresponsabilidade ou de não indenizar, ao vedar taxativa e expressamente a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar (art. 25). Com a mesma finalidade, impede a exoneração do fornecedor nos casos de ignorância sobre vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços (art. 23) e proclama a dispensa de termo expresso para que a garantia se efetive (art. 24) (ALMEIDA, 2010). 3.2 Defeitos e vícios Os conceitos de defeito (arts. 12 a 14) e vício (arts. 18 a 20) são basilares quando se trata de responsabilização civil. O vício é inadequação intrínseca, já o defeito é inadequação extrínseca ao produto e ao serviço. O defeito atinge a integridade física ou psíquica, a segurança; já o vício atinge mais diretamente o patrimônio, o interesse econômico direto do consumidor. O vício leva ao incidente de consumo, já o defeito conduz ao acidente de consumo. Vício e defeito são inadequações, imperfeições no produto/bem e/ou no serviço. Embora ambos sejam danos, o vício é dano de natureza patrimonial, na economicidade do ato de consumo, já defeito é dano também, mas à integridade/incolumidade (física ou psíquica) do consumidor decorrente o seu ato de consumo (AMARAL, 2010). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 24 O defeito pode ser: a) de fabricação; b) de concepção (de projeto ou fórmula); c) de comercialização. Já o vício, tanto do produto quanto do serviço, pode ser: a) de qualidade; b) de quantidade; c) oculto (redibitório); d) aparente; e) de desconformidade com as qualidades anunciadas. Enfim, defeito é a anomalia que compromete a segurança que se espera de um produto ou serviço. Já o vício é a anomalia que compromete a qualidade ou a quantidade de um produto ou de serviço, tornando-o impróprio, inadequado ou diminuindo-lhe o valor, mas que não apresenta risco à saúde ou segurança do consumidor. Há quem entenda não haver necessidade de distinção entre os conceitos de vícios e de defeito. Como ZELMO DENARI et al (1991) paraquem “Vício ou defeito é qualquer qualificação de desvalor atribuída a um produto ou serviço por não atender a legítima expectativa do consumidor”. Contudo, há distinções sim a serem feitas. Assim, vício é a característica do produto ou serviço desfavorável ao interesse do consumidor. LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES (2000) define com precisão, que vícios são as características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam e também que lhe diminuam o valor. Da mesma forma são considerados vícios os decorrentes da disparidade havida em relação às indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, oferta ou mensagem publicitária. Na sistemática do CDC os vícios podem ser ocultos (só conhecidos algum tempo depois do ato de consumo) ou aparentes (de fácil/ordinária verificação no Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 25 ato), ao contrário do que ocorre nas relações civis (não de consumo) regidas pelo Código Civil (e não pelo CDC), em que vícios (anomalias que viciam e logo nulificam os negócios jurídicos civis) são só os ocultos. Já defeito, que, é claro, pressupõe o vício, é uma inadequação que expõe o consumidor a risco de dano a sua saúde ou segurança. Defeito é “toda anomalia que, comprometendo a segurança que legitimamente se espera da fruição do produto ou serviço, termina por causar danos físicos ou patrimoniais ao consumidor” (ALMEIDA, 2002, p. 90). Pode-se dizer que vício é um defeito, porém nem todo defeito será vício (AMARAL, 2010). 3.3 Garantia legal e contratual A qualidade dos objetos da relação de consumo, ou seja, dos produtos e serviços no contexto do CDC, como não poderia deixar de ser, decorre necessariamente do princípio da harmonia das relações de consumo (art. 4º). Assim, é direito subjetivo (poder de exigir) do consumidor a garantia dessa qualidade, ou a garantia/proteção contra defeitos/vícios nesses objetos. Qualidade, aqui, pode ser razoavelmente “definida como aquilo que o consumidor entende como tal” (RIZZATTO NUNES, 1991). Garantia em geral é a promessa de reparação de danos (vícios ou defeitos ocultos ou não e pós-venda) em face de um bem, produto ou serviço, objeto de relação de consumo num prazo prefixado; é uma obrigação de adequação com prazo de validade preestabelecido. Vale dizer que a garantia, cada vez mais, se constitui, para além dessa promessa de adequação, numa afirmação de inexistência de defeitos ou vícios, sendo em certas situações extensão positiva da marca, ou seja, um marketing efetivo: um fornecedor que anuncia longa garantia é porque seu produto/serviço é confiável a tal ponto, porque há certeza daquela adequação (AMARAL, 2010). A garantia – a certificação do que se anuncia/promete ou da respectiva reparação – existe na razão direta da eticidade das relações contratuais, é que os produtos e serviços, objeto dos contratos, máxime os onerosos (os que têm preço, por exemplo) precisam se adequar às promessas pré-contratuais e contratuais ao Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 26 longo de dado período, no início do “pós-venda”. Isso já seria uma equidade natural e, com mais razão, ético-jurídica. Com o avanço da qualidade, sobretudo industrial, essa garantia natural do que se promete tornou-se cada vez mais instrumento de marketing das boas marcas do mercado de consumo. É nessa interseção da garantia de adequação, da qualidade e do marketing que surge uma bifurcação no instituto jurídico da garantia. Com efeito, ela é, hoje, aquela mesma proteção contra inadequações (defeitos e/ou vícios) do produto ou serviço contratado, imposta pela equidade dos negócios e pela força jurígena da vontade, eis a garantia dita legal (legal porque imposição de lei). Ao lado, mas posterior a essa, temos a garantia dita contratual (obrigação de adequação complementar aqueloutra, art. 50) (AMARAL, 2010). A garantia legal independe de termo/certificado que a expresse ou a formalize (art. 24), sendo vedada a cláusula contratual que exonere, que libere o fornecedor desse dever jurídico de garantia. Já a garantia contratual, concedida sempre mediante termo escrito, é na origem uma liberalidade (que demonstra ao mercado a confiabilidade do produto/serviço) que, ao depois, torna-se uma obrigação contratual que complementa a garantia imposta pela lei. A contratual é, assim, um acréscimo à garantia legal. Essa garantia contratual dever trazer em seu respectivo termo/certificado esclarecimento em que consiste, eventuais ônus para o consumidor-garantido, o prazo e o lugar em que ela pode ser exercida. Tal termo de garantia deve ser entregue, preenchido, no ato do fornecimento juntamente com manual de instrução instalação/uso, tudo em linguagem acessível e didática. Registre-se, por fim, que há uma regência básica na harmonização de ambas as garantias: não pode haver sobreposição/superposição dos prazos e dos conteúdos dessas garantias, consoante o que determina o art. 50 (AMARAL, 2010). 3.4 Desconsideração da personalidade jurídica Segundo PAULO R. ROQUE A. KHOURI (2006), a desconsideração da personalidade jurídica, antes do advento do CDC, era instituto decorrente de uma Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 27 construção doutrinária e jurisprudencial, porque não havia no nosso ordenamento nenhuma norma específica a seu respeito. Segundo RUBENS REQUIÃO (1996, p. 283), a desconsideração consiste em uma técnica para tornar ineficaz, no caso concreto, a personalidade jurídica, atribuindo à pessoa dos sócios, obrigações que, em princípio, são da pessoa jurídica. À constatação de que, muitas vezes, o consumidor se vê prejudicado por não conseguir alcançar patrimonialmente o verdadeiro devedor encoberto sob o manto de empresas as mais diversas, o CDC optou por adotar integralmente a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, ampliando-a (art. 28, §§ 2º a 5º). A teoria, originária dos Estados Unidos, denominada disregard of legal entity, tem por objetivo o desvendamento da pessoa jurídica, permitindo ingressar nela para alcançar a responsabilidade do sócio por suas obrigações particulares, nos casos de desvio de finalidade, fraude à lei ou abuso de direito, que tornam injustificáveis a manutenção da ficção legal de autonomia de que gozam as pessoas jurídicas em relação a seus componentes (ALMEIDA, 2010). No Brasil, à falta de previsão legal, a teoria vinha sendo, em matéria civil, timidamente aplicada pela jurisprudência. O efeito prático da adoção dessa teoria é que, ocorrendo os pressupostos do art. 28 – abuso de direito, excesso de poder, infração da lei fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, em detrimento do consumidor –, o juiz pode desconsiderar a pessoa jurídica e responsabilizar civilmente o sócio-gerente, o administrador, o sócio-majoritário, o acionista, controlador, etc., alcançando-lhesos respectivos patrimônios, adotando o mesmo procedimento em caso de falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade de pessoa jurídica provocados por má administração e até genericamente quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (art. 28, caput e § 5º). A ampliação, assim verificada, também ocorreu em função da sofisticação e da complexidade da estrutura empresarial atual, em que se verifica a multiplicidade Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 28 de tipos de empresa: com características próprias, mas com interesses interligados. Por isso, fixou o CDC as seguintes regras: 1ª) art. 28, § 3º – são solidariamente responsáveis as empresas consorciadas, a dizer aquelas que, sob idêntico controle ou não, sem perda da personalidade jurídica de cada uma delas, se reúnem, por força de contrato, para execução de determinado empreendimento empresarial, na mesma etapa (consórcio horizontal) ou em diferentes etapas (consórcio vertical) de produção (Lei nº 6.404, art. 278, § 1º). Constitui-se, pois, em exceção à regra de responsabilidade limitada. Todos os responsáveis respondem indistintamente pela obrigação; 2ª) são subsidiariamente responsáveis as sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas (art. 28, § 2º). Grupo societário é aquele constituído por convenção aprovada pelas sociedades que o compõem, cada sociedade conservando sua personalidade jurídica e patrimônio e tendo por finalidade a combinação de recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetivos, ou participar de atividades ou empreendimentos comuns (Lei nº 6.404, art. 265). Sociedades controladas são aquelas que formam o grupo societário e também aquelas em que a controladora é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores (Lei nº 6.404, art. 269, lI, c/c o art. 243, § 2º; Novo CC, art. 1.098, I e lI). A consequência da responsabilidade subsidiária é que a escolha do credor é ilimitada, ou seja, demandado o devedor principal e verificado que este não pode ou não tem condições de cumprir a obrigação, o consumidor pode voltar-se contra os demais, escolhendo livremente entre um ou todos desses devedores; 3ª) as sociedades coligadas – quando há participação de uma sociedade, com dez por cento ou mais, do capital da outra, sem controlá-la (novo CC, art. 1.099 e Lei nº 6.404, art. 243, § 1º) – só respondem por culpa nas relações de consumo. Assim, se uma infringiu relações de consumo, responderá independentemente de verificação de culpa, enquanto as demais coligadas só responderão se demonstrada culpa (ALMEIDA, 2010). Embora a pessoa física também possa atuar no mercado como fornecedor, os bens e serviços no mercado são fornecidos maciçamente por intermédio de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 29 pessoas jurídicas. Como se sabe, vigem no direito brasileiro, acerca da pessoa jurídica, os princípios da autonomia e da separação. O princípio da autonomia atribui personalidade própria à pessoa jurídica, distinta da dos seus membros, sendo ela, e não seus sócios, que pratica condutas, podendo ser sujeito passivo ou ativo em qualquer relação obrigado. De acordo com o princípio da separação, há uma perfeita distinção entre o patrimônio da pessoa jurídica e o patrimônio dos sócios, que não se confundem. Atribuir a personalidade jurídica a uma pessoa, diferente do ser humano, dando-lhe a capacidade de ser sujeito ativo ou passivo de qualquer relação obrigacional, como uma pessoa comum, interessa não apenas às próprias pessoas que se associam, mas também à coletividade (KHOURI, 2006). A respeito da desconsideração da personalidade jurídica no CDC, é importante registrar que tal instituto se encontra regulamentado justamente no Capítulo IV, que cuida da qualidade dos produtos e serviços e reparação de danos ao consumidor. Isto demonstra a intenção clara do legislador em dar efetividade aos direitos do consumidor, quando tenha seus direitos violados por conta de um acidente de consumo ou de um vício do produto. Não basta dar-lhe uma sentença de mérito favorável, reconhecendo seus direitos: o importante é que o consumidor tenha seu eventual crédito totalmente recebido seja da pessoa jurídica ou da pessoa física do sócio. O art. 28 fala expressamente em desconsideração da pessoa jurídica. Entretanto, das hipóteses enumeradas pelo legislador para a aplicação do instituto, pode-se dizer que foram criadas outras situações permissivas da desconsideração, além da fraude e do abuso de direito, que não eram tratadas pela doutrina, anteriormente: o Juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade, quando em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocada por má administração. A doutrina critica a inclusão de outras hipóteses de desconsideração no art. 28. Para a doutrina de direito comercial, o legislador desvirtuou a finalidade da Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 30 aplicação da teoria da desconsideração da personalidade, já no caput da norma, pois não há que se falar em utilização da Disregard Doctrine em dispositivos que visem a punir atos de má gestão de administradores de sociedade comerciais, nem tampouco nos casos em que se busca responsabilizar sócios que exerçam suas atividades com excesso de poderes, infração à lei, violação de estatutos ou do contrato social, bem como por qualquer outra modalidade de ato ilícito (KHOURI,2006). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 31 UNIDADE 4 – TUTELA ADMINISTRATIVA A tutela administrativa do consumidor representa a linha de frente da atuação protetiva, envolvendo a mais extensa e complexa rede de mecanismos e órgãos. Cuida-se de dotar o consumidor de instrumentos legais e administrativos que possam propiciar a sua defesa em qualquer canto do território nacional. É, às vezes, o primeiro e único contato do consumidor com os órgãos e entidades encarregados de sua defesa, principalmente nos municípios distantes das capitais dos Estados (ALMEIDA, 2010). LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMARAL (2010) explica que o CDC concedeu, em caráter concorrente e limitado aos respectivos âmbito de atuação, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aosmunicípios, o poder de fiscalização e de controle do mercado de consumo (produção, industrialização, distribuição, consumo de serviços e produtos) e as respectivas normas de fiscalização e controle, elaboradas, revisadas e atualizadas por comissões com participação obrigatória de consumidores e fornecedores. Mas para edição de normas regulamentares da produção, (industrialização, distribuição) e consumo de produtos e serviços, falece tal competência aos municípios a teor do art. 24, V, da CF. A proteção e a defesa do consumidor se dá (ou deve se dar) no plano individual (individual puro, não homogêneo) enquanto exercício da consciência da cidadania ativa; ou se dá, no plano coletivo (coletivo estrito, difuso e individual homogêneo) a partir da consciência comunitária, mas essa defesa/proteção se dá, também, no plano administrativo, ou seja, no plano do poder de polícia, do poder fiscalizatório que compete ao Estado, ao Poder Público/Administração Pública. Trata-se do poder-dever do Estado em geral, mas no segmento executivo, na gestão da coisa/interesse público. A tutela administrativa do consumidor manifesta-se de três formas: a) mediante instituição de legislação protetiva, desde leis ordinárias, federais e estaduais, até decretos, resoluções e portarias; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 32 b) pela instituição e implementação do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), bem como pela atuação dos órgãos administrativos de defesa do consumidor, em âmbito federal, estadual e municipal; e, c) por meio da fiscalização, do controle e da aplicação de sanções administrativas aos infratores (ALMEIDA, 2010). Vale enfatizar que o poder de polícia no âmbito da defesa do consumidor é exercido em três modalidades: 1. preventiva (praevenire = vir antes) – ação da Administração Pública que se antecipa ao desvalor/malefício, enfim à infração, como, por exemplo, na informação e formação (educação formal e informal) do consumidor e do fornecedor (privado ou público/estatal), ou na celebração do compromisso de ajustamento de conduta; 2. fiscalizatória/vigilatória – vigiar para que a ação preventiva se mostre eficaz. Contudo, se isso não ocorre a sanção/penalidade se impõe como medida repressiva ao desvalor/malefício; 3. regulamentar – discricionariedade estatal para explicitar, pormenorizar (= regulamentar/regulamento: decretos, portarias etc.) o disciplinamento previsto nos genéricos/amplos termos da lei (= regular/regrar/regra: lei ordinária etc.). Voltando às considerações já feitas por AMARAL (2010), com efeito, a CF/88 (art. 24, V) estabelece que a União dispõe de competência concorrente com os Estados-membros e o Distrito Federal para legislar sobre produção e consumo, sendo certo que cada entidade federativa exercerá essa competência no âmbito de sua atuação. O critério norteador dessa distribuição de competência é, por excelência, o do interesse público geral, regional e local, ou seja, União, Estados e Municípios. Vale dizer que, enquanto a União não editar normas gerais, essa competência poderá ser exercida pelos Estados, todavia sobrevindo tais normas gerais originárias da União, suspender-se-á, para logo, a eficácia das normas estaduais no que contrariarem aquelas. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 33 4.1 Legislação protetiva Voltemos a enfatizar que a União, os Estados e o Distrito Federal possuem, como é sabido, legislação que se destina a garantir a livre circulação e distribuição de mercadorias, o abastecimento da população e a prestação de serviços essenciais ao consumidor. Mais de uma centena de outras leis, decretos, regulamentos, resoluções e portarias, cuidando de vários assuntos, direta ou indiretamente protegem o consumidor. Atuam, pois, na defesa do consumidor, direta ou indiretamente, desde o Decreto nº 22.262, de 1933, que reprime a usura, até a Lei nº 1.521/51, que reprime os crimes contra a Economia Popular. A esse imenso aparato legislativo vieram juntar-se novas leis e diplomas infralegais, dentre os quais o CDC – Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, que procurou preencher um vazio legislativo, sistematizando, de forma específica, as normas de defesa do consumidor e criando novos mecanismos e instrumentos para sua tutela, no entanto, a produção legislativa não se esgota na esfera federal. Os Estados e o Distrito Federal também possuem leis que definem a atuação do poder de polícia na área de produção, distribuição e comercialização de produtos e serviços, principalmente abastecimento de gêneros de primeira necessidade e condições sanitárias das mercadorias ofertadas ao consumo da população. O cumprimento de tais normas é fiscalizado, em geral, por funcionários das Secretarias de Saúde, Abastecimento e da Agricultura dos Estados, das Capitais e dos Municípios maiores, contentando-se os pequenos, via de regra, com o que está estabelecido nas normas federais e estaduais. Diz o CDC em seu art. 55 que a União, os Estados e o Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação administrativa, baixarão normas relativas à produção, industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços. Os municípios, portanto, não têm competência para editar normas relativas à produção, industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços, mas poderão fiscalizar e controlar tais atividades, baixando as normas que se fizerem necessárias ao cumprimento dessa finalidade (§ 1º), inclusive por meio Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 34 de comissões permanentes, com participação obrigatória das partes envolvidas, ou seja, consumidores e fornecedores (§ 3º). 4.2 Entidades civis Além dos órgãos oficiais, são também instrumentos importantes na defesa do consumidor as associações civis de defesa do consumidor. As entidades civis de defesa do consumidor integram, por lei, o SNDC desde a edição do CDC, por força do caput do art. 105. Desde 1993, com o Decreto nº 861, já revogado, e agora, com o Decreto nº 2.181/97, passaram a ter definida sua forma de atuação no Sistema (art. 8º). Além da participação nos colegiados e da parceria com órgãos públicos em projetos e atividades, tais entidades poderão: I – encaminhar denúncias aos órgãos públicos de proteção e defesa do consumidor, para as providências legais cabíveis; II – representar o consumidor em juízo, observando o disposto no inciso IV do art. 82 do CDC; III – exercer outras atividades correlatas, como a prestação de assistência técnica aos consumidores. Vale lembrar que a Lei nº 9.790/99, deu novo tratamento à matéria, regulamentando a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP (ALMEIDA, 2010). Segundo o PROCON – GDF, as entidades civis são estruturadas sob as mais variadas formas (Organizações Não Governamentais
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