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Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distância QUÍMICA ORGÂNICA II Davi da Silva Antônia Maria das Graças Lopes Citó Ministério da Educação - MEC Universidade Aberta do Brasil - UAB Universidade Federal do Piauí - UFPI Universidade Aberta do Piauí - UAPI Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Davi da Silva Antônia Maria das Graças Lopes Citó Química Orgânica II Ubirajara Santana Assunção Zilda Vieira Chaves Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira Roberto Denes Quaresma Rêgo Samuel Falcão Silva Francinaldo da Silva Soares Lígia Carvalho de Figueiredo Lis Cardoso Marinho Medeiros PRESIDENTE DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO GOVERNADOR DO ESTADO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC PRESIDENTE DA CAPES COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA DA UFPI Dilma Vana Rousseff Linhares Fernando Haddad Wilson Nunes Martins Luiz de Sousa Santos Júnior Carlos Eduardo Bielshowsky Jorge Almeida Guimarães João Carlos Teatini de S. Clímaco Gildásio Guedes Fernandes CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro (Presidente) Des. Tomaz Gomes Campelo Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Profª. Francisca Maria Soares Mendes Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho TÉCNICOS EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS COLABORADORA EDIÇÃO PROJETO GRÁFICO DIAGRAMAÇÃO REVISÃO ORTOGRÁFICA REVISÃO GRÁFICA © 2012. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é dos autores. O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar oconteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no Código Penal. É proibida a venda ou distribuição deste material. EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO COORDENADORES DE CURSOS ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FILOSOFIA FÍSICA MATEMÁTICA PEDAGOGIA QUÍMICA SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Antonella Maria das Chagas Sousa Maria da Conceição Prado de Oliveira Zoraida Maria Lopes Feitosa Miguel Arcanjo Costa João Benício de Melo Neto Vera Lúcia Costa Oliveira Rosa Lina Gomes do Nascimento Pereira da Silva Luiz Cláudio Demes da Mata Sousa S586q Silva, Davi da. Química orgânica II / Davi da Silva, Antônia Maria das Graças Lopes Citó. – Teresina: EDUFPI, 2012. 316 p. 1. Química Orgânica. 2. Química Analítica. 3. Educação a Distância. I. Citó, Antônia Maria das Graças Lopes. II. Título CDD 547 Neste texto serão abordados os temas relacionados ao Programa de Educação à Distância da Universidade Aberta do Piauí (UAPI) vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), com apoio do Governo do estado do Piauí, através da Secretaria de Educação. O texto abordará o conteúdo de química orgânica voltado para os alunos do curso de Química em 11 unidades com as suas subunidades correspondentes. Enfatiza-se que esta não é, de fato, uma obra completa, fazendo-se necessário, buscar informações em outras fontes para um melhor aprendizado. Unidade 1 – Serão abordados assuntos que induzem o aluno a refletir sobre a necessidade desta disciplina para sua formação profissional plena na área de Química. Conceitos fundamentais, comumente utilizados em química orgânica, como: Estrutura, reatividade e mecanismos: ligações em compostos de carbono, formação e a quebra de ligações, fatores eletrônicos e efeito estérico, tipos de reagentes. Unidade 2 – Nesta unidade será apresentada a investigação de mecanismo: energética e cinética de reação, natureza do produto, o uso de isótopos, estudo de intermediários, critérios de estereoquímica; capacitando o aluno a compreender melhor os mecanismos em reações orgânicas. Unidade 3 – Esta unidade destacará a importância das forças de ácidos e bases orgânicos, origem da acidez em compostos orgânicos, ácidos e bases alifáticas e aromáticas, bases heterocíclicas e definição de ácido e bases duros e moles. Estas propriedades das moléculas orgânicas são o foco desta unidade, o qual será discutido os termos fundamentais a ela relacionados, além de aplicar os conhecimentos dessa área da Química Orgânica para o melhor entendimento da estrutura dos compostos orgânicos. Unidade 4 – Nesta unidade será estudada a reação de substituição nucleofílica em átomo de carbono saturado: o mecanismo, a estereoquímica e o efeito de grupos que entram e que saem das moléculas em questão. Reações com ênfase e derivados mais importantes, bem como os processos industriais de obtenção destes serão também abordados. Unidade 5 – Nesta unidade tratarar-se-á da reação de substituição eletrofílica e nucleofílica em sistemas aromáticos como: nitração, diazoacoplamento, halogenação, sulfonação, alquilação, acilação, ataque nucleofílico em espécies aromáticas, efeito de substituintes, equação de Hammet. Buscando sempre uma interação entre esta importante classe de reações orgânicas que são fundamentais para os processos industriais e as principais reações envolvidas. Unidade 6 – Esta unidade tratará do estudo dos mecanismos de reações orgânicas pertencentes à Química Orgânica II, envolvendo íons carbônio, átomos de nitrogênio e oxigênio deficientes de elétrons. Será dada uma atenção especial para os: métodos de formação, estabilidade, estrutura e reações. Unidade 7 – Nesta unidade, o aluno terá a oportunidade de conhecer e aprender algumas reações de adição como: adição eletrofílica e nucleofílica à ligação dupla carbono-carbono, adição nucleofílica à ligação dupla carbono- oxigênio, adição à dienos conjugados. Essas reações quando feitas em laboratório, pela primeira vez, devem ser tomadas algumas precauções a respeito dos reagentes e produtos envolvidos na reação. Unidade 8 – Nesta unidade serão apresentadas as reações de eliminação e os mecanismos E1, E1cB e E2, eliminação versus substituição, em compostos orgânicos. Unidade 9 – Esta unidade tratará do estudo dos mecanismos de reações orgânicas pertencentes à classe que envolve íons carbânios. A formação, estabilidade, estereoquímica e as reações mais importantes desta classe são os íons negativos. Unidade 10 – Nesta unidade será estudada a reação dos compostos orgânicos com radicais. O mecanismo, a estereoquímica, o processo de formação, detecção e as reações envolvendo radicais. Unidade 11 – Nesta unidade tratar-se-á das reações controladas por simetria de orbitais. As reações eletrocíclicas, cicloadição e rearranjos sigmatrópicos de carbono e hidrogênio buscam de fato entender como as reações orgânicas ocorrem e quais são permitidas ou proibidas por simetria, viabilizando melhor entendimento dos mecanismos e o porquê de alguns produtos serem formados com maior prioridade nas reações orgânicas. UNIDADE 01 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMOS Estrutura e reatividade ........................................................................... 17 Orbitais atômicos ................................................................................... 17 Hibridização ............................................................................................ 19 Teoria do orbital molecular (OM) ........................................................... 20 Energias dos orbitais moleculares .......................................................... 26 Preenchimento dos orbitaismoleculares ............................................... 29 Ligações simples carbono-carbono ........................................................ 31 Ligações duplas carbono-carbono .......................................................... 32 Ligações triplas carbono-carbono .......................................................... 33 Ligações carbono-oxigênio e carbono-nitrogênio .................................. 34 Conjugação ............................................................................................. 35 Benzeno e aromaticidade ....................................................................... 37 Condições necessárias para a deslocalização ......................................... 42 Quebra e formação de ligações .............................................................. 43 Fatores que influenciam a disponibilidade eletrônica ............................ 44 Efeitos indutivos ..................................................................................... 44 Efeitos mesoméricos .............................................................................. 45 Efeitos variáveis com o tempo ................................................................ 47 Hiperconjugação ..................................................................................... 47 Efeitos estereoquímicos ......................................................................... 48 Tipos de reagentes ................................................................................. 51 Tipos de reações ..................................................................................... 53 17 UNIDADE 02 ENERGÉTICA, CINÉTICA E INVESTIGAÇÃO DE MECANISMOS Energética de reações ............................................................................59 Cinética de reações ................................................................................62 Velocidade de reação e energia livre de ativação ..................................63 Cinética e etapa determinante da velocidade ........................................64 Controle cinético versus controle termodinâmico .................................68 Investigação de mecanismos de reações ................................................68 A natureza dos produtos ........................................................................69 Dados Cinéticos ......................................................................................70 A utilização de isótopos ..........................................................................71 O estudo de intermediários ....................................................................73 Critérios estereoquímicos.......................................................................73 59 UNIDADE 03 ÁCIDOS E BASES Ácidos ..................................................................................................... 79 Força ácida - pKa ..................................................................................... 79 A origem da acidez em compostos orgânicos ........................................ 80 A influência do solvente ......................................................................... 81 Ácidos alifáticos simples ......................................................................... 82 Ácidos alifáticos substituídos.................................................................. 84 Substituintes doadores ou retiradores de elétrons - fenóis ................... 86 Ácidos carboxílicos aromáticos ............................................................... 87 Ácidos dicarboxílicos .............................................................................. 89 Bases ...................................................................................................... 90 Bases alifáticas........................................................................................ 91 Bases aromáticas .................................................................................... 94 Bases heterocíclicas ................................................................................ 98 Conceito de ácidos/ bases duros e moles ............................................ 100 Classificação de alguns ácidos e bases de Lewis .................................. 101 79 UNIDADE 04 SUBSTITUIÇÃO NUCLEÓFILA NUM ÁTOMO DE CARBONO SATURADO Relação entre cinética e mecanismo .................................................... 107 Efeito do solvente ................................................................................. 109 Efeito da estrutura ................................................................................ 110 Implicações estereoquímicas do mecanismo ....................................... 116 Mecanismo SN2, inversão de configuração ........................................... 116 Determinação da configuração relativa ................................................ 117 Mecanismo SN1: racemização ............................................................... 118 Mecanismo SN1: retenção de configuração .......................................... 119 Participação de grupos vizinhos: “retenção de configuração” ............. 120 Efeito de nucleófilos e grupos abandonadores .................................... 121 O grupo abandonador .......................................................................... 123 107 UNIDADE 05 SUBSTITUIÇÃO ELETRÓFILICA E NUCLEÓFILICA EM SISTEMAS AROMÁTICOS Ataque eletrofilíco ao benzeno ............................................................ 133 Nitração ................................................................................................ 135 Halogenação ......................................................................................... 137 Sulfonação ............................................................................................ 139 Reações de friedel-crafts ...................................................................... 141 Alquilação de Friedel-Crafts ................................................................. 141 Acilação de Friedel-Crafts ..................................................................... 144 Acoplamentos diazo ............................................................................. 146 Ataque eletrofílico a C6H5Y ................................................................... 148 Efeitos eletrônicos do grupo substituinte (y) ........................................ 149 Efeitos eletrônicos de grupos substituintes ativantes .......................... 150 Fatores de velocidade parciais e seletividade ...................................... 153 Efeitos esteroquímicos e razões orto/para ........................................... 155 Controle cinético versus termodinâmico .............................................. 157 Substituição nucleofílica aromática ...................................................... 159 Substituição de átomos diferentes de hidrogêno ................................. 161 Mecanismo adição-eliminação SN2 ativado .......................................... 162 Substituição via intermediários arino ou eliminação-adição ................ 163 133 UNIDADE 06 REARRANJOS MOLECULARES ENVOLVENDO ÁTOMOS DE CARBONO, NITROGÊNIO E OXIGÊNIO DEFICIENTES DE ELÉTRONS Métodos de formação de íons carbônio .............................................. 169 Adição de cátions a espécies neutras ................................................... 170 Obtenção de íons carbônios a partir de outros cátions ........................ 172 Estabilidade e estrutura de íons carbônios .......................................... 172 Reações de íons carbônio ..................................................................... 175 Rearranjo de íons carbônios ................................................................. 177 Sem alteração da cadeia carbônica ...................................................... 177 Rearranjos alílicos ................................................................................. 177 Com alteraçãona cadeia carbônica ...................................................... 178 Rearranjo de hidrocarbonetos.............................................................. 180 Rearranjos pinacol/pinacolona ............................................................. 180 Aspectos estereoquímico ..................................................................... 181 Rearranjo de Wolff ............................................................................... 183 Cátions diazônios .................................................................................. 184 Migração para nitrogênio deficiente de elétron ................................... 186 Reações de Hofmann, Curtius, Lossen e Schmidt ................................. 186 Rearranjos de Beckman ........................................................................ 188 Migração para oxigênio elétron deficiente ........................................... 190 Oxidação Baeyer-Villiger ....................................................................... 190 Rearranjos de hidroperóxido ................................................................ 191 169 UNIDADE 07 ADIÇÃO ELETRÓFILA E NUCLEÓFILA A C=C E C=O Adição de halogênios ........................................................................... 197 Efeito de substituintes na velocidade de adição .................................. 200 Orientação da adição............................................................................ 200 Outras reações de adição ..................................................................... 202 Hidratação ............................................................................................ 203 Íons carbônios ...................................................................................... 204 Hidroxilação .......................................................................................... 205 Hidrogenação ....................................................................................... 207 Adição nucleófila .................................................................................. 207 Cianoetilação ........................................................................................ 208 197 Reações de Michael .............................................................................. 209 Adição nucleofílica a carbonila (C=O) ................................................... 209 Estrutura e reatividade ......................................................................... 211 Reações de adição simples a aldeídos e cetonas ................................. 212 Adição de álcoois – formação de acetal e hemiacetal .......................... 214 Adição de tióis ...................................................................................... 216 Adição de cianeto de hidrogênio .......................................................... 217 Adição de bissulfito .............................................................................. 217 Adição de íons hidreto.......................................................................... 218 Adição de complexos de íons hidreto com metais ............................... 218 Reação de Meerwein-Ponndorf ........................................................... 219 Reações de Cannizzaro ......................................................................... 219 Adição de elétrons ................................................................................ 220 Reações de adição/eliminação ............................................................. 220 Derivados de NH3 ................................................................................. 221 Adição de carbono nucleofílico ............................................................ 222 Reagentes de Gringnard ....................................................................... 222 Íons acetilênicos ................................................................................... 223 Reações aldólicos ................................................................................. 223 Reação de Perkin .................................................................................. 225 Reações de Knoevenagel e de Stobbe .................................................. 225 Condensação de Claisen de ésteres ..................................................... 226 Reação de Wittig .................................................................................. 227 Estereosseletividade em reações de adição a carbonilos..................... 228 Reações catalisadas por ácido .............................................................. 230 Adição a C≡N ........................................................................................ 230 UNIDADE 08 REAÇÃO DE ELIMINAÇÃO Reações de eliminação 1,2, eliminação-β ............................................ 237 Outros eleminações β........................................................................... 237 Mecanismo E1 ...................................................................................... 238 Mecanismo E1cB .................................................................................. 239 Mecanismo E2 ...................................................................................... 241 Estereosseletividade em E2 .................................................................. 242 Orientação em E2: Saytzev versus Hofmann ........................................ 244 Eliminação versus substituição ............................................................. 245 237 UNIDADE 09 CARBÂNIONS Formação de carbânions ...................................................................... 251 Estabilidade de carbânions ................................................................... 252 Estereoquímica de carbânions ............................................................. 255 Reações dos carbânions ....................................................................... 257 Reação de adição .................................................................................. 257 Reação de adição - carbonação ............................................................ 257 Reação de eliminação ........................................................................... 258 Reação de eliminação - descarboxilação .............................................. 258 Reação de substituição ......................................................................... 259 Reações de Reimer-Tiemann ................................................................ 259 Reações de Kolbe-Schmidt ................................................................... 260 Rearranjo .............................................................................................. 260 Oxidação ............................................................................................... 262 Halogenação de cetonas ...................................................................... 263 251 UNIDADE 10 RADICAIS Formação de radicais ............................................................................ 268 Fotólise ................................................................................................. 268 Termólise .............................................................................................. 269 Reações redoxi ..................................................................................... 270 Detecção de radicais ............................................................................. 271 Forma e estabilização de radicais ......................................................... 271 Reações de radicais .............................................................................. 273 Adição ................................................................................................... 274 Adição de Halogênios ........................................................................... 274 Adição de Ácido bromídrico .................................................................276 Outras adições ...................................................................................... 278 Polimerização vinílica ........................................................................... 279 Substituição .......................................................................................... 280 Halogenação ......................................................................................... 280 Auto-oxidação ...................................................................................... 283 Substituição aromática ......................................................................... 284 Rearranjo .............................................................................................. 286 Bi-radicais ............................................................................................. 287 267 UNIDADE 11 REAÇÕES CONTROLADAS POR SIMETRIA DE ORBITAIS Teoria dos orbitais moleculares ............................................................ 295 Equação de onda - fase ........................................................................ 295 Reações eletrocíclicas ........................................................................... 298 Reação térmica ..................................................................................... 299 Reação fotoquímica .............................................................................. 301 Regras de Woodward-Hofmann ........................................................... 302 Reações de cicloadições ....................................................................... 303 Rearranjos sigmatrópicos ..................................................................... 306 Migração de hidrogênio ....................................................................... 308 Migração de carbono ........................................................................... 309 295 UNIDADE 1 Estrutura, Reatividade e Mecanismos A maneira pela qual uma reação ocorre é denominada mecanismo. Algumas vezes, os mesmos reagentes podem fornecer produtos diferentes por vias de mecanismos diversos. Uma reação pode ocorrer em uma única etapa ou em uma sequência de várias etapas. Uma reação química é um processo que transforma uma estrutura em outra, o qual para se entender uma reação é necessário o conhecimento da estrutura dos reagentes e dos produtos obtidos e finalmente o que acontece entre os dois estágios, daí a necessidade do estudo da estrutura e reatividade. Resumindo Química Orgânica II 17 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMOS Estrutura e reatividade Orbitais atômicos O átomo de carbono tem seis elétrons que segundo a teoria da estrutura atômica de Bohr estão dispostos em órbitas à distância crescente do núcleo. Estas órbitas correspondem a níveis de energia gradualmente crescentes. A de energia mais baixa, 1s, acomodando 2 elétrons, a seguinte, 2s, acomodando também dois elétrons e os 2 elétrons restantes do átomo de carbono ocupando o nível 2p, que é capaz de acomodar um total de 6 elétrons. O principio da incerteza de Heisenberg, e a visão da mecânica- ondulatória do elétron, tornaram necessário eliminar algo definido com tanta precisão como descritos por funções de onda ψ e as órbitas de Bohr, clássicas e exatas, foram substituídas por orbitais atômicos tridimensionais com diferentes níveis de energia. O tamanho, forma e orientação destas orbitais atômicos, regiões em que há máxima probabilidade de se encontrar um elétron corresponde a um nível de energia quantificado, são delineados por uma função de onda, ψA, ψB, ψC, etc. Na verdade, os orbitais são bastante semelhantes a mapas de contorno eletrônico tridimensional em que ψ2 determina a probabilidade relativa de encontrar um elétron num dado ponto do orbital. A teoria dos orbitais moleculares (OM) constitui uma alternativa para obter uma visão da ligação. De acordo com este enfoque, todos os elétrons de valência têm uma influência na estabilidade da molécula (Elétrons dos níveis inferiores também podem contribuir para a ligação, mas para muitas moléculas simples o efeito é demasiado pequeno). A teoria do OM considera unidade 0118 que os orbitais atômicos (OAs) do nível de valência deixam de existir quando a molécula se forma, sendo substituídos por um novo conjunto de níveis energéticos que correspondem a novas distribuições da nuvem eletrônica (densidade de probabilidade). Esses novos níveis energéticos constituem uma propriedade da molécula como um todo e são chamados, consequentemente, de orbitais moleculares. O cálculo das propriedades dos orbitais moleculares é feito comumente assumindo que os OAs se combinam para formar OM. As funções de onda dos OAs são combinadas matematicamente para produzir as funções de onda dos OM resultantes. O processo é remanescente da mistura de orbitais atômicos puros para formar orbitais híbridos, exceto na formação de OM, OA de mais de um átomo são combinados ou misturados. No entanto, como no caso da hibridização, o número de orbitais novos formados é igual ao número de OA originários da combinação. Da mesma maneira que nos orbitais atômicos, interessa-se em dois aspectos moleculares: 1) As formas de suas distribuições espaciais da nuvem eletrônica; 2) Suas energias relativas. O diagrama usual de ψ versus r para o orbital 1s de um átomo A (Figura 1a) deve ser modificado para levar em conta a variação de r entre -∞ e +∞, resultando no diagrama mostrado na figura 1b. Figura 1. Diagramas de ψ versus r para o orbital 1s. Os seis elétrons do átomo de carbono estão acomodados em orbitais atômicos de níveis de energia crescente até que todos estejam classificados (principio de Auf bau). Dois elétrons com spins emparelhados irão para o orbital 1s, dois para o orbital 2s, no nível 2p os dois elétrons restantes poderão acomodar-se no mesmo orbital 2px ou em orbitais diferentes, 2px e 2py. A regra de Hund é que determina que dois elétrons não possa ocupar o mesmo orbital desde que haja outro energeticamente equivalente desocupado. Assim, a configuração eletrônica do átomo de carbono no Química Orgânica II 19 estado fundamental com dois elétrons desemparelhado é 1s22s22px 12py 1, com o orbital 2pz desocupado. O átomo de carbono no estado excitado (mais alta energia) possui configuração eletrônica 1s22s12px 12py 12pz 1, agora com quatro elétrons desemparelhados e pode por isso formar quatro ligações com outros átomos ou grupos de átomos. A grande quantidade de energia produzida pela formação destas duas novas ligações contrabalança consideravelmente a energia necessária para o desacoplamento inicial 2s2 e promoção de 2s ➔2p (≈ 406 kJ). Hibridização O átomo de carbono se combina com outros quatro átomos formando entre as ligações ângulos de 1090 28’ entre si, o qual pode ser explicado com base na mistura do orbital 2s e dos três orbitais atômicos 2p de modo a produzir quatro novos orbitais idênticos capazes de formar quatro ligações mais fortes. Estes novos OA híbridos sp3 obtidos pelo processo chamado de hibridização. A força da ligação depende do grau de superposição dos orbitais. O grau de superposição entre os OA calculado e seu valor é: Orbital Grau de superposição s 1,00 p 1,72 sp 1,93 sp2 1,99 sp3 2,00 Fonte: Petter Sykes, 1991. unidade 0120 Teoria do orbital molecular (OM) A teoria do OM constitui uma alternativa para obter uma visão da ligação. De acordo com este enfoque, todos os elétrons de valência têm uma influência na estabilidade da molécula (elétrons dos níveis inferiores também podem contribuir para a ligação, mas para muitas moléculas simples o efeito é pequeno). Além disso, a teoria OM considera que os OA do nível de valência, deixam de existir quando a molécula se forma, sendo substituído por um novo conjunto de níveis energéticos que correspondem a novas distribuições da nuvem eletrônica. Esses novos níveis energéticos constituem uma propriedade da molécula como umtodo e são chamados, consequentemente de orbitais moleculares. Observando os OM que são formados quando dois átomos idênticos se ligam numa molécula diatômica. Usando um enfoque simples e consideremos que um OA de um átomo se combina com um OA de um segundo átomo para formar dois OM. Para que esse processo seja efetivo, duas condições devem ser favorecidas: 1) Os OA devem ter energias comparáveis; 2) Eles devem se sobrepor de maneira significativa. Os cálculos da mecânica quântica para a combinação dos OA originais consistem em: 1) Uma adição das funções de onda do OA; 2) Uma subtração das funções de onda do OA. Quando os dois átomos são diferentes é incluído um fator que leva em conta o fato de que os dois OAs não contribuem igualmente para a formação dos OM. Os resultados, então, são duas novas funções de onda, uma de adição e outra de subtração. O quadrado da função de onda para um elétron nos dá informações acerca da probabilidade de encontrar este elétron em várias regiões do espaço. Quando isto é feito para um OM, resultam informações sobre a densidade da probabilidade para um elétron ocupando aquele OM e, a partir dessas informações, as superfícies limites correspondentes (e também os níveis energéticos) podem ser encontradas. Este método é conhecido como a combinação linear de orbitais atômicos ou método LCAO (Linear Combinations Atomic Orbitals) (Figuras 2 e 3). Química Orgânica II 21 Figura 2. Formação de orbitais moleculares ligantes e antiligantes pela adição e subtração de orbitais atômicos. Figura 3. Gráfico da densidade eletrônica para orbitais ψ1 e ψ2 (linhas descontínuas), ψB (linha superior sólida) e ψA (linha inferior sólida) ao longo do eixo para H2. Quando duas funções 1s são adicionadas, elas se reforçam entre si por toda parte e, principalmente, na região entre os dois núcleos. Esta redistribuição de densidade eletrônica entre os núcleos ajuda a abaixar a energia potencial coulômbica. (Figura 3 - linha cheia superior). Como resultado, este orbital tem características ligantes e denomina-se 1s. Quando um orbital atômico é subtraído do outro, eles se cancelam exatamente entre si em um plano que está situado a meio caminho entre os núcleos, produzindo, portanto, um plano nodal. A função de onda molecular é de sinal oposto em cada lado deste plano nodal (Figura 2b). Quando se eleva a função de onda ao quadrado (Figura 3 - linha cheia inferior), a densidade de probabilidade unidade 0122 resultante é obviamente positiva em todos os lugares, exceto no plano nodal, onde é zero. Esta deficiência de densidade eletrônica na região internuclear ajuda a aumentar a energia potencial coulômbica do sistema e o nó na função de onda produz um aumento na energia cinética do elétron. A energia total é consequentemente, alta, e os átomos não estão ligados e o orbital é descrito como antiligante. Deve-se ter em mente que as representações dos OM são análogas às representações dos OA e podem ser interpretadas de duas maneiras equivalentes, as quais mostram: 1) a(s) região(ões) na(s) qual(is) o(s) elétron(s) passa(m) a maior parte do tempo, isto é, a(s) região(ões) de maior probabilidade de se encontrar o elétron ou alternativamente, 2) a(s) região(ões) na(s) qual(is) a densidade da carga eletrônica é alta. Na figura 4 são mostradas as superfícies limites de dois orbitais moleculares que são formados pela combinação de dois orbitais atômicos 1s. Vemos à esquerda a sobreposição dos OAs 1s e, à direita, os OM resultantes. O OM formado pela subtração de funções de onda OA é representado por σs* (leia: “sigma asterisco”), enquanto o formado pela adição é representado por σs. O contraste entre esses dois OM é grande. Há um aumento da densidade eletrônica de carga entre os núcleos no orbital σs, mas um decréscimo na mesma região no orbital σs*. Por essa razão, o orbital, σs é chamado orbital ligante, e o σs*, de orbital antiligante. O primeiro tende a estabilizar a ligação, enquanto o último tende a desestabilizá-la. Ambos são chamados orbitais σ porque estão centrados e são simétricos ao redor do eixo de ligação. Uma secção de cada orbital feita perpendicularmente ao eixo de ligação apresenta um formato circular. Figura 4. Combinação de AO 1s para formar OM σ. Química Orgânica II 23 Pela combinação linear de um orbital 2s de um átomo A com um orbital 2s do átomo B, obtemos aproximações dos orbitais moleculares σ2s, ligante e antiligante. O processo é completamente análogo aquele empregado para σ1s e σ1s*. As quantidades N e N* são fatores de normalização. O orbital σ2s* possui um plano nodal entre os dois núcleos, é antiligante e tem energia maior do que o orbital σ2s que não possui este plano nodal e é ligante (Figura 5). Figura 5. Formação de orbitais σ2s e σ2s* pela adição e subtração de OA 2s. Os sinais de mais e menos se referem ao sinal das funções de onda e não às cargas nucleares ou eletrônicas. Observa-se que há uma superfície nodal rodeando os núcleos tanto no orbital σ2s como no orbital σ2s*, o que os distingue dos orbitais σ1s e σ1s*. Na Figura 6, estão indicados os sinais das funções de onda de acordo com a convenção usual. Pode ser observado que os lóbulos positivos dos orbitais estão orientados na direção positiva dos eixos, dando-se preferência para o eixo x. Para os orbitais s, o lóbulo externo é sempre considerado positivo (Figura 5). Se dois orbitais estão a uma distância infinita um do outro, a sua superposição é nula. Quando se aproximam, eles se superpõem e formam um OM ligante (superposição positiva) e um OM antiligante (superposição negativa). unidade 0124 Figura 6. Representação convencional dos orbitais, três p e cinco d. Os eixos são marcados diferentemente para os orbitais dxy, dxz e dyz. Figura 7. Superposição negativa e positiva de orbitais atômicos. A figura 7 mostra que a superposição é positiva se corresponder à combinação de funções de onda de mesmo sinal e será negativa se os sinais forem opostos. Nota-se que na figura 7a o orbital 2pz da direita tem seu lóbulo negativo orientado segundo a direção positiva do eixo z, o que significa que ele foi multiplicado por menos um. Isso equivale a dizer que, em vez de soma, foi feita uma subtração dos OA, enquanto que a figura 7b mostra uma soma dos OA, pois ambos os OA estão orientados na mesma direção do eixo z. Química Orgânica II 25 A combinação de dois orbitais p pode produzir resultados diferentes dependendo de quais orbitais p são usados. Se o eixo x é o eixo de ligação, então dois orbitais 2px podem se sobrepuser quando eles se aproximarem segundo um único eixo, como é mostrado na Figura 8. Os OM resultantes constituem um orbital ligante (σx) com carga eletrônica acumulada entre os núcleos e um OM antiligante (σx*) com decréscimo de carga entre os núcleos. Esses orbitais são também classificados como σ, porque são simétricos ao redor do eixo de ligação e são designados σx e σx* para indicar que derivaram de OA px. Figura 8. Combinação de OA 2px para formar OM σ. Quando orbitais 2py e 2pz se sobrepõem para formar OM, eles o fazem lado a lado, como é apresentado na Figura 9. Em cada caso, o resultado é um orbital antiligante com quatro lóbulos e um orbital ligante com dois lóbulos. Esses orbitais não são simétricos em relação ao eixo de ligação, em vez disso, existem duas regiões em lados opostos ao eixo da ligação, nas quais a densidade da nuvem de carga é alta. Isto é característico de um orbital π. Observa-se que o orbital ligante permite uma alta concentração da carga eletrônica na região entre os núcleos, enquanto o orbital antiligante mostra uma diminuição da densidade de carga nessa região. (Na realidade, cada orbital antiligante tem um plano nodal entre os dois núcleos). unidade 0126 y y y y y y y yy x x x x x x x - - + + y y y z z 2py E ne rg ia E ne rg ia 2py 2pz 2pz z z z z z z z z πy πy * πz πz * NóNó (a) (b) Figura 9. Combinaçãode OA 2p na formação de OM π. Quando OA se combinam, eles passam a compartilhar uma região do espaço. Se a superposição entre os orbitais é positiva, os lóbulos envolvidos se fundem e formam um lóbulo único no orbital molecular resultante. Se a superposição entre os orbitais é negativa, não ocorre a fusão dos lóbulos, aparecendo um plano nodal entre eles e a densidade eletrônica na região internuclear diminui. Energias dos orbitais moleculares Um exemplo clássico em estudos é a formação da molécula H2 a partir dos dois átomos a uma distância infinita um do outro. Inicialmente, seus orbitais não se superpõem e a energia potencial do sistema é considerada igual a zero. À medida que eles se aproximam, começa a haver interações entre seus orbitais, formando-se um OM ligante e um OM antiligante. Os elétrons ocupam o OM ligante, em que é maior a densidade eletrônica na região internuclear. Dessa foram, será favorecida a atração núcleo-elétron e minimizada a repulsão núcleo-núcleo, com a consequente diminuição da energia potencial do sistema (Figura 11). Quanto mais próximos os núcleos dos átomos de hidrogênio ficam um do outro, tanto mais se superpõem os orbitais e menor torna-se a energia. Há, todavia, um limite para a aproximação, a partir do qual passa a dominar a repulsão entre os núcleos. Existe, pois, uma separação de equilíbrio, que Química Orgânica II 27 é denominada comprimento de ligação, ao qual corresponde uma energia mínima, a energia de ligação. r 0 en er gi a energia do moléculo energia eletrônica energia de repulsão entre os núcleos Figura 11. Variação com a separação internuclear, da energia potencial de dois átomos de hidrogênio. Quando dois OA se combinam para formar dois OM, a energia do OM ligante é sempre menor do que a dos OA, enquanto a energia do OM antiligante é maior. Nas Figuras 12 e 13 aparecem as relações de energias entre os OA 1s e os resultantes OM σs e σs* para o caso de uma molécula diatômica homonuclear, na qual os dois átomos são iguais. Na Figura 13, à esquerda e à direita estão os níveis de energia 1s de dois átomos do elemento A (identificados com A e A’). No centro encontram-se os níveis de energia σs e σs* da molécula A – A’. As linhas tracejadas diagonais mostram que os OM se formaram dos OA indicados. A Figura 13 poder ser usada para mostrar a formação dos OM de um par de qualquer orbital s (2s, 3s, 4s, etc.). Em cada caso, um orbital antiligante e um orbital ligante são formados. unidade 0128 Figura 12. A ideia do orbital molecular. Figura 13. Energias relativas dos orbitais σs em moléculas diatômicas homonucleares. Considera-se a seguir a formação dos OM de um par de orbitais 2px cujos lóbulos estão dirigidos para o eixo de ligação, Figura 14, a formação de um par de OM, um ligante (σx) e um antiligante (σx*). Figura 14. Energias relativas dos orbitais σx em moléculas diatômicas homonucleares. Química Orgânica II 29 Observa-se os OA 2py e 2pz, que se sobrepõem lado a lado. Os OM formados a partir deles são mostrados na figura 15. A sobreposição py – py é exatamente igual à sobreposição pz – pz (exceto pela orientação) e assim os OM formam dois conjuntos de orbitais de mesma energia, os orbitais πy e πz (ligantes) e os orbitais πy* e πz* (antiligantes). Figura 15. Energias relativas dos orbitais πy e πz em moléculas diatômicas homonucleares. Preenchimento dos orbitais moleculares O procedimento de Aufbau, pelo qual os elétrons são adicionados um a um ao diagrama de energia dos OA com o objetivo de construir a configuração eletrônica dos átomos, usará agora uma técnica semelhante para preencher os níveis energéticos do diagrama de OM para construir a configuração eletrônica de moléculas diatômicas homonucleares no estado fundamental. Os elétrons são adicionados a partir da base do diagrama para cima e para os orbitais de maior energia. A molécula mais simples é a de hidrogênio (H2). A Figura 16 mostra, à esquerda e à direita, elétrons colocados em dois átomos de H não ligados e, no meio do diagrama, a molécula de H2 no estado fundamental. Os dois elétrons 1s vão constituir um par (spins opostos) no orbital σs (ligante) da molécula. Este par constitui uma ligação simples. A configuração eletrônica da molécula de hidrogênio pode ser escrita como: H2 (σs)2 unidade 0130 Figura 16. Preenchimento do diagrama OM para H2. Considerando a molécula Hélio (He2) que poderia ser formada por dois átomos de hélio, cada um é capaz de fornecer dois elétrons para a molécula. O total é de quatro elétrons, dois a mais que no H2, de maneira que a distribuição no OM será a da Figura 17. A configuração eletrônica no estado fundamental da molécula de He2 deverá ser: He2: (σs)2 (σs*)2 Figura 17. Preenchimento do diagrama OM para a molécula hipotética He2. Devido ao fato de que o σs* (antiligante) está agora preenchido e seu efeito desestabilizador cancela o efeito estabilizador do orbital σs, o resultado é que não há uma força de atração entre os átomos de hélio devido ao número igual de elétrons ligantes e antiligantes e, assim, He2 não existe. Na teoria dos OM, a ordem de ligação é definida como: Ordem.de.ligação = número.de.elétrons.ligantes-número.de.elétrons.antiligantes 2 Química Orgânica II 31 Assim, a ordem de ligação na molécula de H2 é: Enquanto na molécula hipotética de He2 é: Para a molécula de lítio (Li2) e de berílio (Be2), o preenchimento de dois OM σ formados de orbitais 1s está completo, passando para os dois OM σ formados a partir dos orbitais 2s. Estes OM são similares àqueles que já foram preenchidos. Ligações simples carbono-carbono A combinação de dois átomos de carbono, no etano, resulta da sobreposição axial de dois orbiatais sp3, um de cada átomo de carbono, para formar uma ligação sigma forte entre eles. O comprimento da ligação carbono- carbono é de 0,154 nm. Uma ligação simples semelhante entre dois átomos de carbonos hibridizados sp2, =CH – CH=, tem em média um comprimento de ligação cerca de 0,147 nm e entre átomos de carbono hibridizados sp1, ≡C– C≡, cerca de 0,138 nm. Este fato é porque um orbital s e qualquer elétron que nele se encontre são mantidos mais próximos e, fortemente, pelo núcleo do que um orbital p e qualquer elétron que nele se encontre. O mesmo efeito será observado com orbitais híbridos à medida que aumenta a sua componente s, e para dois átomos de carbonos ligados entre si, os núcleos são aproximados à medida que vai de sp3 – sp3 ➔ sp2 – sp2 ➔ sp1 – sp1. Entretanto, não é definida uma estrutura única para o etano, a ligação sigma entre os átomos de carbono é simétrica em torno de uma linha que une os dois núcleos. Teoricamente, é possível uma variedade infinita de estruturas diferentes definidas pela posição dos hidrogênios num átomo de carbono, relativamente à posição dos átomos de hidrogênios no outro átomo de carbono. De todas as estruturas possíveis, os dois extremos são as formas eclipsadas e em estrela, conhecidas como projeções em perspectiva de Newman. Ordem.de.ligação = = 12 - 0 2 Ordem.de.ligação = = 02 - 2 2 unidade 0132 As formas eclipsadas e em estrela são infinitas variedades de estruturas possíveis entre esses extremos, os quais são designadas por conformações da molécula do etano. Conformações são definidas como diferentes arranjos do mesmo grupo de átomos que podem ser convertidos uns nos outros sem quebra de quaisquer ligações. A conformação em estrela é a mais estável, os átomos de hidrogênios nos átomos de carbonos adjacentes estão tão afastados quanto possível uns dos outros (0,310 nm) e qualquer interação chamada não ligante entre eles está, portanto num mínimo, enquanto que na conformação eclipsada estão num máximo de sobreposição (0,230 nm), ligeiramente menos do que a soma dos seus raios de van der Waals. Ligações duplas carbono-carbono No eteno, cada átomo de carbono esta ligado a três outros átomos, dois hidrogênios e um carbono. Formam-seligações sigma fortes com estes três átomos pela utilização de três orbitais derivados por hibridização do orbital 2s e dois orbitais atômicos 2p do átomo de carbono, um átomo normalmente só mobiliza tantos orbitais híbridos quantos os átomos ou grupos com os quais pode formar ligações sigma fortes. Os orbitais híbridos sp2 resultantes encontram-se todos no mesmo plano e com ângulos de ligação de 120º um em relação aos outros (orbitais trigonais planos). Na formação da molécula do eteno, dois orbitais sp2 de cada átomo de carbono são visualizados sobrepondo-se aos orbitais 1s de dois átomos de hidrogênios para formar duas ligações C–H sigma fortes, enquanto que o terceiro orbital sp2 de cada átomo de carbono se sobrepõe axialmente para formar uma ligação C–C sigma forte entre eles. Verifica-se experimentalmente que os ângulos das ligações H–C–H e H–C–C são de fato 11607’ e 12106’, respectivamente. O afastamento de 1200 não é visto porque estão envolvidos diferentes trios de átomos. Isto deixa em cada átomo de carbono um orbital atômico não hibridizado 2p com ângulos retos com o plano contendo os átomos de Química Orgânica II 33 carbono e de hidrogênio. Estes dois orbitais 2p paralelos um ao outro, podem sobrepor-se resultando na formação de um orbital molecular ligante que se estende sobre ambos os átomos de carbonos, situando-se acima e abaixo do plano que contém os dois átomos de carbonos e os quatro átomos de hidrogênios. Este novo orbital molecular ligante (também forma um orbital molecular antiligante) é conhecido como um orbital π, e os elétrons que ocupam estes são elétrons π. A nova ligação π que se forma aproxima mais os átomos de carbonos C=C, cuja distância no eteno é de 0,133 nm, comparada com uma distância C–C de 0,154 nm no etano. A sobreposição lateral dos orbitais atômicos p axial que ocorre na formação de uma ligação π, a primeira é mais fraca que a última. Isto se reflete no fato de a energia de uma ligação dupla carbono-carbono, embora superior a de uma ligação simples, ser inferior ao dobro desta última. Assim, a energia da ligação C–C no etano e de 347 kJ/ mol, enquanto que a de C=C no eteno é de apenas 598 kJ/mol. A sobreposição lateral dos dois orbitais atômicos 2p, a força da ligação π, será claramente máxima quando os dois átomos de carbonos e os quatros átomos de hidrogênios forem exatamente coplanares, pois só nesta posição é que os orbitais p são exatamente paralelos entre si, capazes de um máximo de sobreposição. Qualquer deste estado coplanar, por torção em torno da ligação π que une os dois átomos de carbonos, conduz a redução da sobreposição π e a um decréscimo na força da ligação π. Ligações triplas carbono-carbono No etino, cada átomo de carbono está ligado a dois outros átomos, um de hidrogênio e um carbono. Formam ligações sigma fortes com estes dois átomos pela utilização de dois orbitais híbridos derivados por hibridização do orbital 2s e um orbital atômico 2p do átomo de carbono. Os orbitais híbridos unidade 0134 resultantes sp1 diagonais são colineares. Assim, na formação da molécula do etino, estes orbitais são utilizados para formar ligações sigma fortes entre o átomo de carbono e um átomo de hidrogênio, e entre dois átomos de carbonos resultando uma molécula linear com dois orbitais atômicos 2p não híbridos com ângulos retos entre si em cada um dos átomos de carbonos. Os orbitais atômicos num átomo de carbono são paralelos aos do outro, e podem sobrepor-se com formação de duas ligações π em planos a ângulos retos entre si. A molécula de etino está efetivamente envolta num cilindro de carga negativa. A energia da ligação C≡C é de 812 kJ/mol, de modo que o incremento devido a terceira ligação é inferior ao que ocorre quando se passa de uma ligação simples para uma dupla. A distância da ligação C≡C é de 0,120 nm de modo que os átomos de carbonos se aproximam mais ainda, observando que o decréscimo ao passar de C=C ➔ C≡C é inferior ao que ocorre quando se passa de C–C ➔ C=C. Ligações carbono-oxigênio e carbono-nitrogênio. Um átomo de oxigênio tem configuração eletrônica 1s22s22px22py12pz1, e também ele, ao combinar-se com outros átomos, pode utilizar orbital híbrido de modo a formar ligações mais fortes. Ao combinar-se com os átomos de carbono de dois grupos metila para formar metoximetano, CH3–O–CH3, o átomo de oxigênio pode utilizar quatro orbitais híbridos sp3 de cada um dos dois átomos de carbonos e as outras duas para acomodar os seus dois pares de elétrons desemparelhados. Verifica-se que o comprimento da ligação C–O é 0,142 nm, e a energia da ligação de 360 kJ/mol. O átomo de oxigênio também pode formar uma ligação dupla com um carbono, assim, na propanona, (CH3)2C=O, o átomo de oxigênio poderia utilizar três orbitais híbridos sp2, um para formar uma ligação sigma por sobreposição com o orbital sp2 do átomo de carbono, e os outros dois para Química Orgânica II 35 acomodar os dois pares de elétrons desemparelhados. Isto deixa um orbital não hibridizado p quer no oxigênio quer no carbono, e estes podem sobrepor- se entre si lateralmente para formar uma ligação π. O ângulo da ligação C–C=O é de ≈ 120º, o comprimento da ligação C=O de 0,122 nm e a energia da ligação 750 kJ/mol. O fato de esta ser superior ao dobro da energia da ligação C–O, enquanto que a energia da ligação C=C é inferior ao dobro da ligação de C–C, em parte, devido ao fato de os pares de elétrons desemparelhados no oxigênio se encontrarem mais afastados, e por isso mais estáveis em C=O do que em C–O não havendo circunstância equivalente com o carbono. O fato das ligações carbono- oxigênio, ao contrário das ligações carbono-carbono, serem polares também desempenha seu papel. Um átomo de nitrogênio com a configuração eletrônica 1s2 2s2 2px1 2py1 2pz1 também utiliza orbitais híbridos na formação de ligações simples, C–N, ligações duplas, C=N e nas ligações triplas C≡N. Em cada caso, uma ligação desses orbitais é utilizada para acomodar o par de elétrons desemparelhado do nitrogênio, na formação de ligações duplas e triplas, são utilizados orbitais p, não híbridos, do nitrogênio e do carbono. Os comprimentos e energias médias das ligações são: simples 0,147 nm e 305 kJ/mol, dupla 0,129 nm e 616 kJ/mol e tripla 0,116 nm e 893 kJ/mol. Conjugação Quando se considera moléculas que contém mais de uma ligação múltipla, dienos com duas ligações C=C, o qual se verifica que compostos em que as ligações são conjugadas (ligações múltiplas e simples alternadas) são ligeiramente mais estáveis que aquelas em que são isoladas. Esta estabilidade termodinâmica superior de moléculas conjugadas é comprovada pelo fato de apresentar um calor de combustão e um calor de hidrogenação inferior ao de duplas isoladas, e também na observação geral de que ligações duplas isoladas podem ser induzidas a migrar rapidamente de modo a se tornar conjugadas. unidade 0136 A conjugação não está limitada, é claro, apenas a ligação múltipla carbono-carbono. Quer com duplas conjugadas ou duplas isoladas, a sobreposição lateral dos OA p em átomos de carbonos adjacentes pode conduzir a formação de duas ligações π localizadas, e esperar-se-ia que os compostos se assemelhassem ao eteno, o qual se verifica com duplas isoladas, mas com duplas conjugadas apresentam um comportamento diferente devido sua maior estabilidade, diferenças de comportamento espectroscópico, e pelo fato de sofrer reações de adição mais rápida que um dieno isolado. No entanto, uma observação mais detalhada mostra que com duplas conjugadas, mas não com duplas isoladas, a sobreposição lateral pode ocorrer entre todos os quatro orbitais atômicos p em átomos de carbonos adjacentes. Tal sobreposição resultará na formação de quatro orbitais moleculares, dois ligantes (ψ1 e ψ2) e dois antiligantes (ψ3 e ψ4) – a sobreposição de n orbitais atômicos dá origem a n orbitais moleculares. Observa-se, a partir da figura acima, que acomodando osquatro elétrons do dieno conjugado em dois orbitais ligantes, conduzirá a uma energia total para o composto mais baixa do que – por analogia com o eteno – acomodando-os em duas ligações π localizadas. Os elétrons por estarem deslocalizados, estão mantidos pelo conjunto do sistema conjugado em vez de serem localizados sobre dois átomos de carbonos em ligações π, como no eteno ou em duplas isoladas. A acomodação dos quatro elétrons nos orbitais moleculares ψ1 e ψ2 resulta na distribuição eletrônica numa nuvem de carga numa dada região da molécula ou nela como um todo. A deslocalização é muito envolvida na estabilização de estados excitados de dienos, polienos em geral e no abaixamento do nível de energia dos seus estados excitados. O seu efeito é reduzir a diferença de energia entre os estados fundamental e excitado de moléculas conjugadas em comparação com aquelas que contêm duplas ligações isoladas, e esta diferença de energia diminui progressivamente à medida que aumenta a extensão da conjugação. Os dienos simples absorvem na região do ultravioleta, mas à medida que aumenta a extensão da conjugação, a absorção gradualmente desloca-se para a região do visível e o composto torna-se mais colorido. Ilustrado pela série de α, ω-difenilpolienos (C6H5–(CH=CH)n–C6H5). Química Orgânica II 37 Benzeno e aromaticidade No início da química orgânica, a palavra aromática foi utilizada para descrever algumas substâncias que possuíam fragrâncias, como o Benzaldeído (responsável pelo aroma das cerejas, pêssegos e amêndoas), o tolueno (bálsamo) e o benzeno (do carvão destilado). Entretanto, logo observou-se que essas substâncias denominadas aromáticas eram diferentes da maioria dos compostos orgânicos em relação ao comportamento químico. Hoje em dia, usa-se a palavra aromática para referir ao benzeno e seus derivados estruturais. Assim, os químicos do século XIX estavam corretos em relação à diferença entre os compostos aromáticos e os outro, porém a associação de aromaticidade com fragrância havia se perdido. Muitos compostos isolados de fontes naturais são, em parte, aromáticos. Além do benzeno, benzaldeído e tolueno, a substância hormonal estrona e o bastante conhecido analgésico morfina têm anéis aromáticos. Muitas drogas sintéticas também são aromáticas, o tranquilizante diazepam é um exemplo. Série de difenilpolienos Cor (C6H5 – (CH = CH)n – C6H5) n = 1 Incolor n = 2-4 Amarelo n = 5 Laranja n = 8 Vermelho Fonte: Petter Sykes, 1991. unidade 0138 Foi comprovado que a exposição prolongada ao benzeno causa depressão da medula óssea e consequentemente leucopenia (diminuição dos glóbulos brancos). Dessa forma, o benzeno deve ser manuseado cuidadosamente se utilizado como solvente em laboratório. Um dos principais problemas da química orgânica elementar é a estrutura pormenorizada do benzeno. A conhecida estrutura planar da molécula implica hibridação sp2 com orbitais atômicos p, ângulos retos em relação ao plano do núcleo, em cada um dos seis átomos de carbono. A sobreposição poderia ser nas posições 1,2; 3,4; 5,6 ou 1,6; 5,4; 3,2, conduzindo às formulações correspondentes as estruturas de Kekulé, mas como alternativa todos os orbitais p adjacentes poderiam sobrepor-se como com dienos conjugados, resultando na formação de seis orbitais moleculares, três ligantes (ψ1 ➔ ψ3) e três antiligantes (ψ4 ➔ ψ6) com níveis de energia. O OM ligante de menor energia (ψ1) é cíclico e englobam todos os seis átomos de carbono deslocalizado. Tem um plano nodal no plano do anel, de modo que há dois lobos anelares, um acima e outro abaixo do plano do anel, o de cima está ilustrado na figura abaixo, onde dois elétrons estão, portanto acomodados. Os dois OM ligantes seguintes (ψ2 e ψ3), de igual energia, também engloba todos os seis átomos de carbono, mas cada um tem ainda outro plano nodal a ângulos retos com o plano do anel, para além do plano Química Orgânica II 39 do anel. Cada OM tem quatro lobos como ilustrado na figura abaixo, cada um destes OM acomoda mais dois elétrons, perfazendo um total de seis. O resultado global é uma nuvem eletrônica anelar, acima e abaixo do plano do anel. A influência desta nuvem de carga negativa com o reagente que atacará o benzeno, onde na primeira fase da reação envolve a interação entre o eletrófilo que se aproxima e os orbitais π deslocalizados, chama-se complexo π. O comprimento de todas as ligações carbono-carbono no benzeno é 0,140 nm, fazendo com que o benzeno seja um hexágono regular, comprimento intermediário entre os valores normais para uma ligação simples de 0,154 nm e uma ligação dupla de 0,133 nm. Esta regularidade pode ser evidenciada se evitar escrever estruturas de Kekulé para o benzeno, uma vez que são claramente representações inadequadas, e usando em vez disso a representação abaixo. Permanece a questão da estabilidade termodinâmica do benzeno que resulta sem dúvida da disposição das três ligações σ trigonais planas em torno de cada átomo de carbono no seu ângulo de 1200, mas grande parte resulta do uso de OM cíclicas deslocalizados para acomodar os seis elétrons residuais, sendo um arranjo mais estável (energia mais baixa) para acomodar os elétrons em três orbitais moleculares π localizados. A maior estabilização do benzeno resulta do fato do benzeno ser um sistema simétrico cíclico. unidade 0140 Uma estimativa aproximada da estabilização do benzeno (cilcohexa- 1,3,5-trieno), comparada com estruturas cíclicas insaturadas simples, pode ser obtida comparando o seu calor de hidrogenação com os do ciclohexeno, do ciclohexa-1,3-dieno. Em acentuado contraste com o caso do benzeno acima descrito, o calor de hidrogenação do cicloctatetraeno a cicloctano é de -410 kJ/mol, enquanto que o do ciclocteno é de -96 kJ/mol. O cicloctatetraeno, ao contrário do benzeno, não existe estabilidade característica quando comparado com o polieno cíclico hipotético relevante, isto é, não é aromático. Esta ausência de caráter aromático é realmente de surpreender porque a sobreposição de orbital p cíclica, tal como no benzeno, requereria que fosse plano com um consequente ângulo da ligação C–C–C de 1350, resultando numa considerável distensão do anel para um conjunto de carbonos hibridizados sp2 (ângulo preferencial 1200). Essa distensão pode ser aliviada por flexão do anel, mas só à custa da possibilidade de sobreposição global de orbitais p, (por cristalografia de raios-X, o cicloctatetraeno tem uma estrutura na forma de banheira com ligações C–C alternadamente duplas de 0,133 nm e simples de 0,146 nm). Química Orgânica II 41 Os requisitos necessários para a ocorrência de estabilização e caráter aromático em polienos cíclicos são: a) molécula tem que ser plana; b) todos os orbitais ligantes completamente preenchidos. Esta condição se verifica em sistemas cíclicos com 4n + 2 elétrons π (regra de Hückel), e o arranjo que ocorre de longe mais vulgarmente em compostos aromáticos, por exemplo, quando n = 1, isto é, o composto tem 6 elétrons π, 10 elétrons π (n = 2) estão presentes no naftaleno, e 14 elétrons π (n = 3) no antraceno e fenantraceno. Embora estas substâncias não sejam monocíclicas como o benzeno e a regra de Hückel não deva aplicar-se a elas, a introdução da ligação transanelar as torna bi e tricíclicas, o qual parece causar uma perturbação relativamente pequena, no que se refere à deslocalização dos elétrons π sobre o grupo ciclico de dez ou quatorze átomos de carbono. As estruturas quase aromáticas são as que a espécie cíclica estabilizada é um íon, o cátion cicloheptatrienilo (tropílio), o ânion ciclopentadienilo, ambos têm 6 elétrons π (n = 1), e ainda mais surpreendente, o cátion ciclopropenilo que tem 2 elétrons π (n = 0). Além disso, a estrutura anelar não precisa ser puramente carbocíclica, e a piridina, por exemplo, com um átomo de nitrogênio noanel e 6 elétrons π (n = 1), encontra-se tão estabilizada quanto o benzeno. unidade 0142 Condições necessárias para a deslocalização A dificuldade em encontrar uma representação satisfatória para a ligação carbono-carbono no benzeno leva-nos a constatar que a maneira segundo a qual normalmente escreve-se as ligações entre átomos com simples, duplas ou triplas, envolvendo dois, quatro e seis elétrons, respectivamente, é inadequada. Algumas ligações envolvem outros números, mesmo fracionários de elétrons. É o que se pode ver muito claramente no ânion etanoato (acetato), em que a distância das duas ligações carbono- oxigênio é a mesma, envolvendo o mesmo número de elétrons. Estas dificuldades conduziram à convenção de representar moléculas que não podem ser escritas adequadamente como uma estrutura clássica simples por uma combinação de duas ou mais estruturas clássicas, as chamadas estruturas canônicas, ligadas por uma seta com duas pontas. O modo pelo qual uma destas estruturas pode ser relacionada com outra é geralmente indicado por meio de setas encurvadas, indicando a cauda da seta encurvada de onde é que se move um par de elétrons e a ponta da seta o local para onde esse par de elétrons se move. Nunca é demais acentuar que o ânion etanoato não tem duas estruturas possíveis e alternativas, que são rapidamente interconvertidas, mas uma só estrutura real, por vezes designada como um híbrido para as estruturas canônicas menos exatas. De um modo geral, quanto mais estruturas canônicas puderem ser escritas para um dado composto, maior será a deslocalização dos elétrons, e mais estável será o composto. Estas estruturas não devem diferir muito umas das outras em conteúdo energético, ou então as de energia mais elevada contribuirão tão pouco para o híbrido que a sua contribuição se torna praticamente irrelevante. Química Orgânica II 43 Todas as estruturas escritas devem conter o mesmo número de elétrons emparelhados e todos os átomos constituintes e devem ocupar essencialmente as mesmas posições relativamente uns aos outros em cada estrutura canônica. Se a deslocalização for significativa, todos os átomos ligados a centros insaturados devem situar-se no mesmo plano ou aproximadamente no mesmo plano. Quebra e formação de ligações Uma ligação covalente entre dois átomos pode sofrer quebra essencialmente dos seguintes modos: No primeiro caso cada átomo se separa com um elétron, conduzindo a formação de entidades altamente reativas chamadas de radicais, que devem sua reatividade ao elétron desemparelhado e esta quebra de ligação dá-se o nome de fissão homolítica da ligação. No segundo caso, um átomo pode ficar com os dois elétrons, não deixando nenhum para o outro átomo da ligação, resultando neste caso um íon negativo e um íon positivo. Quando R e X não são idênticos, a fissão pode ocorrer de um ou outro modo, dependendo se é R ou X que retém o par de elétrons. Ambos estes processos são designados como fissão heterolítica, sendo o resultado a formação de um par iônico. A formação de uma ligação covalente pode ocorrer pelo processo inverso de qualquer destes processos, e também, pelo ataque dos radicais ou íons primeiramente formados a outras espécies. Esses radicais ou pares iônicos formam intermediários reativos numa grande variedade de reações orgânicas, como se mostrará mais adiante. As reações envolvendo radicais tendem a ocorrer na fase gasosa e em solução como os solventes não polares, catalisadas pela luz ou pela adição de outros radicais. As reações que envolvem pares iônicos ocorrem mais rapidamente em solução em solventes, devido a maior facilidade de separação de carga nessas condições, e frequentemente devido a estabilização dos pares iônicos resultantes através da solvatação. Muitos destes intermediários iônicos unidade 0144 podem ser considerados como transportador da carga no átomo de carbono, embora o íon seja muitas vezes estabilizado por deslocalização da carga, em maior ou menor extensão, sobre outros átomos e carbono, ou átomos de elementos diferentes. Quando o átomo de carbono tem uma carga positiva é designado como íon carbônion (carbocátion), e quando é carregado com uma carga negativa é um carbânion. Embora tais íons possam se formar e estar presente apenas em concentração pequena é de máxima importância no controle das reações em que participam. Estes três tipos: radicais, íons carbônion e carbânions, de modo algum esgotam as possibilidades de intermediários transientes em que o carbono é o centro ativo, outros incluem as espécies elétron deficientes carbenos, R2C: e benzinos. Fatores que influenciam a disponibilidade eletrônica Prever quaisquer fatores que influenciem a disponibilidade relativa de elétrons (densidade eletrônica) em ligações ou em átomos num composto deve ser considerado a sua reatividade em relação a um reagente particular. Uma posição de alta densidade eletrônica será atacada com dificuldade, por exemplo, por OH-, enquanto que uma posição de baixa densidade eletrônica é provável que seja atacada com facilidade e vice-versa por um reagente positivamente carregado. Efeitos indutivos Numa ligação covalente simples entre átomos diferentes, o par eletrônico que forma a ligação sigma nunca é partilhado de modo absolutamente igual entre os dois átomos, ele tende a ser atraído para o mais eletronegativo dos dois átomos. Assim no cloreto de alquila, a densidade eletrônica é mais próximo do cloro que do carbono. Química Orgânica II 45 Se o átomo de carbono ligado ao cloro estiver ele próprio ligado a outros átomos de carbono, o efeito pode ser transmitido mais longe. O efeito da apropriação parcial de elétrons pelo átomo de cloro da ligação carbono-cloro deixa o C1 ligeiramente elétron-deficiente, o qual ele tenta retificar esta situação, apropriando-se, por sua vez, de um pouco mais que a sua parte dos elétrons da ligação sigma que o liga a C2, e assim por diante ao longo da cadeia. O efeito de C1 em C2 é inferior ao de Cl sobre C1, no entanto, a transmissão rapidamente se desvanece numa cadeia saturada, sendo geralmente muito reduzida para se notar além do C2. A maior parte dos átomos e grupos ligados ao carbono exerce estes efeitos indutivos na mesma direção que o cloro, isto é, são retiradores de elétrons, por serem mais eletronegativos que o carbono, sendo a principal exceção os grupos alquila elétrons doadores. Embora o efeito seja quantitativamente pequeno, é responsável pelo aumento de basicidade que resulta quando um dos átomos de hidrogênio do amoníaco é substituído por um grupo alquila pela rápida substituição do anel aromático no metilbenzeno que no benzeno propriamente dito. Todos os efeitos indutivos são polarizações permanentes no estado fundamental da molécula e se manifestam nas suas propriedades físicas, por exemplo, momento de dipolo. Efeitos mesoméricos Estes são essencialmente redistribuições de elétrons que podem ocorrer em sistemas insaturados, especialmente em sistemas conjugados, via seus orbitais π. Um exemplo é o grupo carbonila, cujas propriedades não são explicadas de modo totalmente satisfatório pela formulação clássica, nem pelo dipolo extremo obtido pela deslocalizaçao dos elétrons π. unidade 0146 A estrutura real situa-se entre aquelas, um híbrido resultante das formas canônicas. Haverá também um efeito indutivo muito menor que o efeito mesomérico, visto que os elétrons sigmas são menos rapidamente deslocados que os elétrons π. Se o grupo C=O estiver conjugado com C=C, a polarização acima pode ser transmitida mais além, via elétrons π. A deslocalização ocorre de tal modo que resulta num átomo elétron deficiente em C3, bem como em C1 tal como num composto carbonílico. A diferença entre esta transmissão via sistema conjugado e o efeito indutivo em sistema saturado é que o efeito sofre muito menos atenuação após transmissão e a polaridade alterna. A estabilização que pode resultar por deslocalizaçãode uma carga positiva ou negativa num ânion, via seus orbitais π, pode ser um fator importante para tornar possível a formação do íon, em primeiro lugar. A estabilização do ânion fenóxido por deslocalização da sua carga via orbitais π deslocalizados do anel é responsável pela acidez do fenol. Uma deslocalização aparentemente semelhante pode ocorrer no próprio fenol não dissociado, envolvendo um par de elétrons não compartilhado no átomo de oxigênio, mas isso envolve separação de cargas, e será menos eficaz que a estabilização do íon fenóxido que não envolve separação de cargas. Química Orgânica II 47 Os efeitos mesoméricos, tal como os indutivos, são polarizações permanentes no estado fundamental de uma molécula, e manifestam- se nas propriedades físicas dos compostos em que ocorrem. A diferença essencial entre efeitos indutivos e mesoméricos é que os primeiros ocorrem essencialmente em grupos ou compostos saturados, e os segundos em compostos insaturados e especialmente em compostos conjugados. Os primeiros envolvem elétrons de ligações sigma e os segundos envolvem elétrons de ligações π. Os efeitos indutivos são transmitidos apenas a curta distância em cadeias saturadas antes de desvanecerem, enquanto que os efeitos mesoméricos podem ser transmitidos de uma extremidade a outra da molécula bastante grande desde que esteja presente a conjugação, através da qual podem ser transmitidos. Efeitos variáveis com o tempo Os fatores variáveis com o tempo, por analogia com os efeitos permanentes descritos anteriormente, foram designados por efeitos indutoméricos e efeitos eletroméricos. Quaisquer destes efeitos podem ser considerados como polarizabilidades em vez de polaridades porque a distribuição dos elétrons reverte a do estado fundamental da molécula atacada se o reagente for removido sem que a reação possa ocorrer. Ou se o estado de transição, uma vez atingido, se decompor para dar de novo os materiais de partida. Estes efeitos variáveis com o tempo, sendo apenas temporários, não se refletirão nas propriedades físicas dos compostos. Muitas vezes, é impossível distinguir experimentalmente entre efeitos permanentes e efeitos variáveis com o tempo, porém nunca é demais acentuar que apesar das dificuldades em distinguir que proporções de um dado efeito são devidas a fatores permanentes e a fatores variáveis com o tempo. De fato, a aproximação de um reagente pode ter um efeito no aumento de reatividade numa molécula reagente e assim promover a reação. Hiperconjugação A grandeza relativa do efeito indutivo de grupos alquila verifica-se seguir normalmente a ordem seguinte: unidade 0148 (CH3)3 – C– < (CH3)2 – CH– < CH3 – CH2 – < CH3– Quando os grupos alquilos estão ligados a um sistema insaturado, uma ligação dupla ou um grupo benzênico verifica-se que aquela ordem é perturbada e, no caso de alguns sistemas conjugados, é de fato invertida. Parece assim que os grupos alquilas são capazes, nessas circunstâncias, de dar origem a um aumento de densidade eletrônica por um mecanismo diferente do efeito indutivo. Este foi explicado através de uma extensão do efeito mesomérico ou de conjugação, ocorrendo a deslocalização, como segue. Este efeito foi designado por hiperconjugação e tem sido utilizado com sucesso para explicar vários fenômenos de outros modos não relacionáveis. Deve acentuar-se que não se está de fato a sugerir que um próton fica livre como mostrado na figura acima, se deslocasse da sua posição original uma das condições necessárias para a deslocalização ocorrer seria contrariada. A inversão da ordem esperada (indutiva) de elétron com doação para CH3 > CH3CH2 > (CH3)2CH > (CH3)3C pode ser explicada com base na hiperconjugação ser dependente da presença de hidrogênio nos átomos de carbono alfa em relação ao sistema insaturado. Está claramente num máximo com CH3 e não existente com (CH3)C, e daí a maior capacidade elétron doadora dos grupos CH3 nestas condições. Química Orgânica II 49 A hiperconjugação poderia envolver ligações C–C, bem como ligações C–H, e as diferenças em reatividade relativas observadas numa série de compostos pode de fato resultar da atuação de efeitos do solvente, bem como de efeitos hiperconjugativos. A hiperconjugação também tem sido usada para explicar a maior estabilidade termodinâmica de alcenos em que a ligação dupla não é terminal, comparada com compostos isoméricos em que a dupla é terminal e os nove átomos de hidrogênio alfa hiperconjugáveis, comparados com apenas cinco átomos no isômero. Isto resulta na formação preferencial de alcenos não terminais em reações que poderiam conduzir a ambos ou aos seus isômeros terminais por introdução da ligação dupla, e a isomerização bastante rápida do composto menos estável em mais estável. Efeitos estereoquímicos Até aqui discutiu-se fatores que podem influenciar a disponibilidade relativa de elétrons em ligações ou em átomos particulares num composto e assim afetar a reatividade desse composto. A atuação destes fatores pode, no entanto, ser modificada ou até mesmo anulada pela influência de fatores esteroquímicos. Assim, a deslocalização efetiva via orbital π só pode ter lugar se os orbitais p ou π nos átomos envolvidos na deslocalizaçao, puderem tornar-se paralelos ou praticamente paralelos. Se houver impedimento, não pode ter uma sobreposição significativa e a deslocalização pode ser inibida. Um exemplo é dado pela comparação entre o comportamento da N,N- dimetilanilina e os seus derivados 2,6-dialquilados. O grupo N,N-Me2 sendo elétron doador (devido ao par de elétrons não compartilhado no nitrogênio interage com os orbitais π deslocalizados no núcleo), ativa o núcleo em relação ao ataque pelo cátion diazônio PhN2 +, em relação ao acoplamento azóico, conduzindo a substituição na posição para. unidade 0150 O derivado 2,6-dimetilico não sofre acoplamento nessas condições, apesar do fato de os grupos metila que foram introduzidos estarem afastado um do outro para que o seu volume interfira diretamente com o ataque para a posição para. O não acoplamento nesta posição é devido aos dois grupos metilas, nas posições orto a NMe2, interferindo estereoquimicamente com os dois grupos metilas ligados ao nitrogênio, impedindo assim que estes se situem no mesmo plano do anel benzênico. Isto significa que os orbitais p no nitrogênio e no átomo de carbono do anel ao qual se encontra ligado são impedidos de se tornar paralelos entre si e a sobreposição é assim inibida. A interação eletrônica com o anel é impedida, e não ocorre transferência de carga. O efeito estereoquímico mais comum é a obstrução estereoquímica clássica em que é o volume dos grupos que influencia a reatividade diretamente num local em um composto, impedindo a aproximação de um reagente do centro reacional, introduzindo uma obstrução no estado de transição, não promovendo ou inibindo a disponibilidade eletrônica. Deve acentuar-se que tal inibição estereoquímica é só um caso extremo e quaisquer fatores que perturbem ou inibam uma orientação particular do reagente relativamente um ao outro, não permitindo a sua aproximação suficientemente, podem também afetar profundamente a velocidade de reações, é o que se verifica frequentemente em reações em sistemas biológicos. Química Orgânica II 51 Tipos de reagentes Os grupos elétrons doadores e elétrons retiradores têm como efeito tornar um local de uma molécula rico ou deficiente em elétrons. Isto vai claramente influenciar o tipo de reagente com o qual o composto reagirá mais facilmente. Uma espécie rica em elétrons como o ânion fenóxido tenderá ser mais facilmente atacada por cátions positivamente carregados como C6H5N2 +, um cátion diazônio, ou por outras espécies que, embora não sendo de fato cátions, possuem um átomo ou centro que é elétron deficiente, por exemplo, o átomo de enxofre do trióxido de enxofre na sulfonação. Tais reagentes porque tendem a atacar o substrato numa posição de
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