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Ir· ·. ": OUTRAS OBRAS DO NOSSO.FUNDO EDITORIAL --,- AMERICAN WATER_ WoRKS ASSOCIATION - Agua - Tratamento e Qualidade· - ANDRBIWS, Donald H. e K<>KES, Richard J. ,- Q�mica Geral - CRFJ>ER, Hélio - Instalações Elétricas .....:.. CoIMBRA, Al�rto Luiz _..: Mecdnica dos Meios Oontinuos --· DANTAS, Edmundo Menezes - Elementos de Cálculo Vectorial - DELLA NINA, Eduardo - Const�ões de Rédes Urbanas ·de.Esgotos - . FAmEl;I, Virgil Moring - · Elementos Orgdnioos M Máquinas . - FONSECA, Adhemar· :- Vibrações - GILES, · Ranald V. - Mecdnica dos Fluidos ·e Hidráulica - Teoria e Pr,oblemas _:__ GRAY, Alexander e WALLACE, G. A. - Eletrotécnica - HUDSON, Ralph G. - Manual- .do Engenheiro - LoURENÇO FILHO, Ruy de e. B. - Contrôle Estatf.stico de Qualidade - · MAsIE; 'Hamilton H. e OcvmK, Fred W. - Mecanismo e Dindmica . d<U Máquinas - MAGALDI,. Miguel - Nações de Eletrotécnica - MOORE, Walter J. -- Ffsico,Qmmica __;_ NASH, William A. - Resist�ncia do� Materiais - Princ{pios - _PAcrrTI, Tércio - Fortran-Monitor - Prinoipiqs ,- -PAULINO, Linus. - Qu(micà Geral - SILVA· JúNIOR, Jayme Ferreira da - Res-i:8ttncià dos Materiais ·_ STANGER, Luiz Bernfeld -- PERT·CPM - Técnica M Planejamento e Oontrôle - STEEL, Ernesf w. - Abastecimento à' Agua - Sistema_ de Esgotos - STRASSER, Vítor E. - A Soldagem Moderna dos Metais Ferrosôs pelo Arco Elétrico - TlMOSRENKO, Stephen - Resist�ncia dos Materiais - Tomos I e II - Tl'MOSHENKO, Stel)hen e YOUNG, D. H. ·- Mec4nica Técnica - Tomo I: Estática - Tomo II: Dindmica --:-- WALLACE, Gray - Elet?'otécnica - LEE, John_ .F'. e SEA,itS, Francis.·weston � Termoàindmica r ! l Obra publicada com a colaboraçio da UNIVERSIOADE DE SÃO PAULO bltor: Prof. Dr. Lufs Ant&nlo da Gama • Slh,a Vlc.-Reltor em Ex.rc:lclo: Prof. Dr. Alfredo Buxald Edlt&ra · da Unlveraldade de Sio Paulo COml11io Edltorlal: P1'11ldente -::- Prof. Dr. Mário Guimarães Ferri (Faculdade de Filosofia, Ciências e Lotraa ). Membros: Prof. Dr. A. Brit.o da Cunha (Fa.cu!dade de Filosofia, ,<.:iênclas & Letra$), Prof. Dr. Carlos da SIiva Lacaz ( Faculdade de Medicina),. Pror. Dr. Miguel Reale (Faculdade de Direito) e Prof. Dr. Pérsio de Souza San�. {Escola Pollt_écnfca). i l 1 li 1 1 1 :'PREFÁCIO ,1 t, t ! Os últimos vinte e cinco anos presenciaram crescimento enorme do nosso conheci '.rnento a respeito das reações dos compostos orgânicos e, em particular, dos caml�hos · ou mecanism<>s, pormenorizados e reais, pelos quais estas · reações se processam. ;,Esta compreensão proveio, em grande parte, da aplicação dos teprias eletrônicas ·· - tão bem sucedidas em outros campos -· à Qulmlca Org8nlca; e resultou, não ,ômente em sistematização e explicação extremamente valiosas da vasta multidão çle fatos experimentais dispares, como também na possibilidade de �specificor, de �a�temão, as condições necessárias para a execução bem sucedida de muitos processos novos e úteis. Êste nôvo método de abordagem evita a aprendizagem de extensos conjuntos. : de fatos, aparentemente desconexos - que tem sido, no passado, a caracterlstlca ,·de Qvlmica Orgânica -, bem como ajuda e encoraja o químico a pensar indepen dentemente; longe de requerer que •êle saiba _mais, capacita-o a fazer uso infini_tamente melhor daquilo que já sabe. O método acentua a maior eficiência de compreender realmente os princípios básicos, em contraposição b mera habilidade de seguir roteiros. Ao mesmo tempo, COí)Vém ressaltar' que a complexidade dos compostos _ 1 orgânicos é, em geral, de tal ordem que é impossível aplicar-lhes, rigoroHmente, .,;, os pri,,cípios da Mecânica Qu§ntlca, Torna-se necessário fazer aproximações e aventar ·; hípóteses sirnpllficadoriis; a�tes que seja possível construir generalizações úteis; 'é neste ponto que a habilidade e visão, estritamente químicas, se revel'am particularmente necessárias; o tempo em que se podará fazer Química Orgânica sentado em poltrona ainda está longe de ter chegado[ Esta nova e eficiente maneira de pensar sõbre a Química Org3nlca constitui o assunto de várias monografias extensas; entretanto, ainda existe a necessidade de _\ um livro menor e mais compacto que introduza a es�êncla, e até mesmo o ; \local;,ulário, do assunto ao candidato a uma bôlsa, ao principiante de um curso \ d� graduação, ao estudante de uma escola técnica e ao químico cuja instrução profissional tenha seguido linhas estritamente clássicas. Tal é a finalidade d3ste /Jlvro, que nasceu dos cursos ministrados pelo autor na Universidade de Cambridge ), !! de muitos anos de supervisão de estudantes dos cursos de graduação. l 1 ! .. 11 . \ ,., Propositadamente, apenas um mlnlmo de espaço foi dedicado à Teoria de Valência como tal, pois ela não somente é adequadamente expost_a em outras fontes como também porque as necessidades reais do estudante consistem em adquirir tanta 'experiência quanto -�ossfvel sõbre o funcionamento prático. das idéias teóricas, ou seja, sõbre a explitaçiio dos rumos tomados pelas reações observadas_. ·Assim, o primeiro capítulo pretende expor, suclntamente, os princípios básicos empregados, e o resto do livro ilustra o seu funcionamento na explicação da varlaçiio da reatividade com a estrutura, da ocorrência das três principais desses de reagentes - eletrófllos, n,ucleófilos e radicais - e do seu comportamento nas reações .. fundamentais da Química Orgânica - as de substituiçiio, adição, eliminação e _rearranjo. Em· todos os casos,_ os exemplos escolhidos para Ilustrar o assunto foram tão simples quanto; possível, de modo que os aspectos essenciais do processo niio fõssem confundidos 1 com minúcias insignificantes e não essenciais. Referências detalhadas à literatura original não foram lncluldas, pois a experl&ncia do autor leva-o a acreditar que, num_· livro de extensão e objetivos dêste, o limitado . espaço disponível pode ser melhor. empregac ,. Entretanto, foi inclu/da .uma bibliografia selecionada, que chama à atenção do. estud, ,te as fontes mais extensas de. informação e que êle poderá então recorre'r fazendo ,e referências às virtudes peculiares de várias das fontes citadàs. Sou extremamente grato ao meu mentor de muitos anos, Prof. Slre Alexander · Todd, pelo seu proêmio, e aos meus colegas Dr. J. B. Bigg� (agora na Universidade · de Hull ), Dr. V. M. Clark, Dr. A. R. Katrltzky, Dr. D. ·H. Marrian e à minha espôsa, que leram o manuscrito, no todo-ou em part_es, fazendo numerosas sugestões úteis. Gostaria também de exprimir a minha gratidão à Fundação Rockefeller, por uma bôlsa que me permitiu visitar os Estados Unidos, em 1959, e permanecer na Universidade de Harvard na "Northwestern . University", na Univ�rsidade de Illinois em "Oberlin College", e no Instituto de Tecnologia da Georgia, a fim de_ aprender a ensinar a Química Orgânica Mecan/stica a estudantes de cursos de graduação e pós -graduação. Muitas discussões interessantes, em particular aquelas q·ue mantive com os Profs. F. G .. Bordwell, Nelson J. Leonard e Jack Hine, influenciaram muitas idéias expostas neste livro. A divida por mim contra/da em relação à literatura original e a outras publicações, particularmente Structure and Mechani,m /" Organic Chemistry de I ngold, Mechanism and Structure in Organic Chemlstry de Gould, . lonlc Org■nlc _Reaction, de Alexander e Physical Organlc Chemlstry de Hine, ficará aparente a muitos que lerão êste trabalho. Finaln,ente, gostaria de exprimir a minha profunda apreciação à Edit6ra Longmans e aos impressores, pela sua inesgotável paciência. e pelas extremas dificuldades que tiveram em produzir êste fenômeno raro: fórmulas estruturais que seíam, simultâneamente, claras e esteticamente satisfatórias. Cambridge, abr!I de 1961 PETER SYKES L ·.t• ÍNDICE Pr.olmio Pelo · Professor Lorde Todd, F. R. S. • .......... _ ..... , . .. .. .. . . . . .. VII Prefácio à Segunda Edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX 1 . Estruture, Reatividade e Mecanismo. 2. As Fôrças de Ácidos e Bases . .. .. . • . . • . .. • . . . . . .. .. .. . . • • • . .. . • 44 3. Substitoiçiio Nucleofílica num Átomo de Carbono ·saturado . . . . . . . . . • . 67 4. fons Carbõnlo, Átomos dé Nitrog6nio e Oxigênio �icientes. em E141trons e· suas Reações . ,· •.• :• ..•..••.•.. · ........••......•.• ;.· .... • ...•. · .. 5. Substituição Eletroff/ica e Nucleoffl ice em_ Sistemas Aromáticos ..•... 6. 7. Adição a Ligações Duplas Carbono-Carbono Adição a Ligações Duplas Ce'rbono-Oxigenlo . . . . . . . . . . . .. , . . . . . . . . ' . . . . < /. 8. Reações de Eliminação ..•...........••.....••...........•• : ... . 9 . Carb4nios e suas Reações • : .• , ..•••• .- ........................... . 10. Radicais e suas Reações · ..................................... · .... . Bibliografia · · Selecionada • o • • • O o o o O O 0 0 t O O , , O O t O O O O O 0 0 O • • • • \ O O t O O 0 4 Índice Alfabético .....•.••.....•.... , •••••• .: .•••••..•. , • , •••• , , , •• 92 116 156 179 214 237 259 293 295 1 l 1 1 1; 1 l ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO j· ., A principal vantagem do método mecanístico de abordagem do vasto conjuntó de informações díspares que constitui a Qu.ímica -0):gânica consiste na �naneira pela qual é possível usar número itélativamente pequeno de princípios fundamentais� não sõmente para explicar e correlacionar os fatos existentes, como também para prever o resultado da mudança de condições, sob as quais se p:i:o� cessam reações já conhecidas, e predizer que produtos podem sel' e�perados de reações novas. O objetivo dêste capítulo consiste em êipor alguns dêstes princípios orientadores e ilustrar o seu fun <1'.iônamento. Uma vez que estaremos lidando com compostos de . Qa.rbono, devemos, em primeiro lugar, dizer algo sôbre a maneira \,��la �ual átomos de c�rbono podem ligar-se a outros átomos e, 'fspecialmente, a outros atomos de carbono. );/ !,�··�- . ' 1:: -� O átomo de carbono tem seis elétrons ao redor. do seu núcleo; '.l'' i:irnnh.a-se, de acôrdo com a .Teoria de Bohr, que êles estivessem , \�postos em órbitas, a distâncias crescentes do .núcleo. Estas 6rbi S representavam níveis de energia gradativamente crescentes, a , � energia mais baixa, a 1s, acomodando dois elétrons, a seguinte, · .> também acomodando dois, indo os dois elétrons restantes do ' ' orno de carbono ao nível 2p que, na realidade, é capaz de acomodar ' total de seis elétrons. . . O princípio de indeterminação de Heisenberg e a descrição :ecânico-oudulatória do elétron fizeram-nos abandonar algo tão , : :ecisamente definido como órbitas reais; atualmente, em seu lugar, -;<l�mos apenas falar de probabilidades relativas de ene'ontrar um ·ron a distâncias diversas do núcleo. Desta forma, as órbitae \' .. ' �icas foram substituídas por orbitais tridimensionais, que podem :O: ·considerados corno representativos da forma e do volume do � <t 1 r 1 j • 1 2 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. l espaço em tôrno do núcleo, no qual é maior a probabilidade de encontrar um dado elétron; na realidade, os orbitais são uma espécie de contôrno eletrônico tridimensional. Uma limitação, que a teoria impõe a tais orbitais, é qúe qualquer um dêles não pode acomodar mais do que dois elétrons, que podem ser distinguidos, um do outro, por terem spin.s opostos ("emparelhados"). É possível demonstrar, por meio de cálculos de Mecânica Ondulat6:ria, que o orbital ls ( correspondente à camada K clás sica) é esfêricamente simétrico em tôrno do núcleo e que o orbital 2s também o é, mas à distância maior do núcleo; entre êstes dois .. orbitais existe uma região em que a probabilidade de encontrar um elétron se aproxima de zero. (uma superfície ,esfénoo nodal): Superfície esférica nodal ', �,,�, 38 __ 3P_---}CamadaM ifi: · f ® ,, 2s 2P-. --}Camada L 18 -� ls---Camada K z., Isto ainda não assinala desvio radical da imagein clássica das 6rbitas, mas ao tratar-se do nível 2p (a continuação da camada L) a diferença torna-se aparent� . .Agora, a teoria requer a existência de três orbitais 2p, todos de mesma forma e energia, dispostos perpendicularmente entre si, ao longo dos eixos de direção x, y, z e, por conseguinte, designados como 2p.,, 2p11 e 2pz, respectivamente. Ademais, verifica-se que êstes três orbitais 2p não são esfericamente simétricos, como os 1s e 2s, mas têm a forma de "haltere", que apresenta um plano (plano Mdal) que passa pelo p.úcleo (perpen dicularmente aos eixos x, y e z, respectivamente) e separa as duas· X--+ ' 2p� Plano nodal . 2p",,, 2py e 2p• combinadas HÍBRIDAÇÃO 3 metades do haltere; neste plano, a probabilidade de encontrar um elétron 6 nula. Assim, podemos designar a distribuição dos seis elétrons do átomo de· carbono nos orbitais como 1s2 2.s2 2p.;1 2pi/; orbitais de energia igual (p. ex., 2Pv, 2p.,, 2p.) devem acomodar um elétron cada, antes que qualquer um dêles possa acolher um segundo - desta forma, o orbital 2p. permanece vazio. O orbital 2s perfaz o seu complemento completo de dois elétrons antes que os orbitais 2p comecem a ser ocupados, pois está num nível de energia ligeira mente mais baixo. Entretanto, esta configuração representa o estado f ttrHUliinental do átomo de carbono, em que apenas dois elétrons desemparelhados (que ocupam os orbitais 2p., e 2pv) estão disponíveis para a formação de vínculos com outros átomos, isto é, · ,à primeira vista o átomo de carbono pode ser apenas bivalente. :fl, entretanto, energeticamente compensador que o átomo de carbono passe a um est<J.<U> excit<J.<U>, desacoplando os elétrons 2s2 e promovendo um dêles ao orbital 2p0 vago; assim fazendo, êle adquire quatro elétrons de semparelhados, passando a ser capaz de formar quatro ligações. com outros átomos em lugar de somente duas; a grande quantidade de energia produzida na formação destas duas ligações extras supera consideràvelmente a necessária ( � 97 kcal/mol) para o desacopla mento inicial dos elétrons 2s2 e para a promoção de 2s ➔ 2p. A fim de exibir a sua tetravalência normal característica, o carbono assume a distribuição eletrônica: ls2 2s1 2p�1. 2p/ 2pz1. HIBRIDAÇÃO Entretanto, o carbono não exerce a sua tetravalência pelo uso direto dêstes quatro orbitais para formar três ligações de um tipo, por meio dos três orbitais 2p, e uma de natureza dife1•ente, com o orbital 2s. Cálculos mostram que misturando êstes quatro orbitais de modo a 'formar quatro outros, idênticos e simetricamente dispos• tos e inclinados, um relativamente a outro, de 109° 28' ( o ã.ngulo tetraédrico normal), torna-se possível fonnar quatro vínculos mais fortes e mais estáveis. O comportamento observado do átomo de carbono pode ser desta forma explicado em base energética. �stes quatro orbitais novos são designados como híbridos spª, e o processo pelo qual são obtidos chama-se hibridação. i' i·· ' ·i i ' 1.,: i: 1; ! _! •· . . •. ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - C/..P. 1 28 �+ 2p.,. \l;r\ -- + �--� � 2pa Híbridos sp3 LIGAÇÕES EM COMPOSTOS DE CARBONO o· estabelecimento de vínculos entre dois átomos é encarado como interpenetração progressiva de orbitais atômicos dos dois átomos participantes; quanto maior a interpenetração, mais forte a ligação assim estabelecida. É possível demonstrar que, quando os átomos se aproximam suficientemente entre si, seus dois orbitais atômicos são· substituídos por dois orbitais nwleculalres; um dêles tem menor e o outro maior energia do que a soma das energias dos · dois orbitàis atômicos separados. �tes dois novos orbitais molecula res distribuem-se sôbre ambos os átomos, e qualquer dê_les pode conter os dois elétrons. O orbital molecular de energia reduzida é chamado orbital ligante e constitui ligação estável entre os dois átomos; o de energia aumentada é chamado orbitál antiligante e, no tratamento de ligações estáveis entre átom:os, não precisa ser levado em consideração. No vínculo estávelassim formado, os dois elétrons de ligação tendem a concentrar-se ao longo da linha que une os núcleos dos dois átomos participantes; neste caso, diz-se que o orbital mole cular é loca-lizado. Freqüentemente, refere-se a tais elétrons locali zados como elétrons 11, e à ligação covalente assim formada como liga ção 11. Assim, ao combinarem-se com o hidrogênio, os quatro orbitais atômicos híbridos sp-� do carbono interpenetram-se com os orbitais atômicos 1s de quatro átomos de hidrogênio para form'ar quatro ligações híbridas spª ou 11, idênticas e fortes, que, no metano, fazem entre si ângulos de 109° 28' ( o ângulo tetraédrico regular) . Uma estrutura tetraédrica exatamente regular semelhante encontrar-se-á, por exemplo, no CCl,; entretanto, no caso de, digamos, CH2Cl2, embora o arranjo permaneça tetraédrico, vai desviar-se muito ligei ramente da simetria exata; os dois grande� átomos de cloro ocuparão LIGAÇÕES EM COMPOSTOS DE CARBONO 5 mais espaço do que os de hidrogênio, de modo que os ângulos das ligàções .H-C-H e Ol-C-Cl diferirão ligeiramente de 109° 28' e uns dos_ outros. ( i) Ligações Simples Carbono-Carbono A combinação de dois átomos de carbono, no etano por exemplo, resulta da interpenetração de dois orbitais atômicos sp8, um de cada átomo de carbono, formando entre êles uma forte ligação u. V<lrifi ca-se que o comprimento de ligação carbono-carbono, em compostos saturados, é razoàvelmente constante - 1,54 Ã. Entretanto, ainda não definimos uma estrutura única para o etano; a ligação t:T. que une os dois átomos de carbono é simétrica em tôrno da reta que passa pelos dois nucleos e, teoricamente, é ainda possível variedade infinita de estruturas diferentes, definidas pela disposição dos hidrogênios num átomo de carbono relativamente à posição dos hidrogênios em outro. Os dois extremos das espécies possíveis são conhecidos como as formas eclipsada e escalonada; elas. e a infinita variedade das estruturas intermediárias são conhecidas como oonf ormações da molécula de etano. As conforma'ÇÕes são definidas como arranjos diferentes de um mesmo grupo de átomos, que podem ser conver tidos uns em outros, sem rompimento de quaisquer ligações. Eclipsada ),-" H Escalonada t provável que a conformação escalonada seja a mais estável das duas, pois os átomos de hidrogênio estão tão afastados entre si quanto possível e a sua interação é mínima, ao passo que na con formação eclipsada êles estão aglomerados ao máximo. O longa mente honrado princípio da rotação livre das ligações simples carbono-carbono não é, entretanto, violado, pois foi demonstrado que o conteúdo energético das duas conformações difere apenas : 1 1 i l : ' '·, 1 : ! ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 por ::::: 3 kcal/mol, o que é suficientemente pouco para permitir sua fácil interconversão, por efeito de agitação térmica �rdinária, à temperatura ambiente. Que tal compacidade vode acarretar restri ção real da rotação, em tôrno das ligações simples carbono-carbono, confim10u-se pelo isolamento de duas formas de CHBr3 • CHBrz; entretanto, isto s6 foi possível a temperaturas baixas, quando as colisões entre moléculas não podem fornecer energia suficiente para efetuar a interconversão. ( ii} Ligações Duplas Carbono-Carbono No etileno, cada átomo de carbono está ligado a somente três outl'Os átomos, dois hidrogênios e um carbono. Fortes ligações a são estabeiecidas com· êstes três átomos pelo uso de três orbitais híbri dos, formados, desta vez, pela hibridação da 2s com apenas (1,Qis dos orbitais atômicos 2p do átomo d� carbono - normalmente, um átomo vai mobilizar apenas tantos orbitais híbridos quantos átomos ou grupos encontre disponíveis para ó estabelecimento das fortes ligações a. Os orbitais híbridos sp2 resultantes jazem todos no mesmo plano, e formam entre si ângulos de 120° (orbita!Í,s planos trigoniais). Observa-se que, na formação da molécula de etileno, dois dos orbitais sv2 de cada átomo de carbono interpenetram-se com os orbitais ls de dois átomos de hidrogênio produwido duas 1·esistentes liga-ções a G-H, enquanto que o terceiro orbital sp2 de cada átomo de carbono é utilizado para formar, entre ambos, uma forte ligação " C-C. Isto deixa, portanto, sôbre cada átomo de carbono, um orbital atômico 2p níio hibridizado, situado perpendicularmente ao plano que contém os átomos de hidrogênio e carbono. :E}stes dois orbitais atômicos 2p são paralelos entre si e podem interpenetrar-se para a formação de um orbital molecular, distribuido sôbre ambos os· átomos de carbono, e situado acima e abaixo do plano que contém os quatro átomos de hidrogênio e o s dois de carbono (linhas inter rompidas indicam ligações com átomos situados atrás do plano do papel e, o símbolo, ligações com átomos na frente dêste plano): LIGAÇÕES EM COMPOSTOS OE CARBONO 7 -- Os elétrons que ocupam êste nôvo orbital molecular são conhe cidos como elétrons 1r e, o. próprio orbit!ll, como orbital 11-. A nova ligação 1r, assim estabelecida, tem o efeito de aproximar os átomos de carbono entre si, de modo que a distância C = C no etileno é de • 1,33 à comparada com a distância C-.--C de 1,54 Ã. no etano. A ínter• penetração lateral dos orbitais p, que ocorre na formação de uma ligação 1r, é menos eficiente do que a interpenetração linear que ocorre na formação de uma ligação u; assim sendo, a primeira é mais fraca do que a segunda. Isto se reflete no fato que a energia da ligação dupla carbono-carbono, embora maior do que a de uma ligação simples é, entretanto, menor do que o dôbro dela. A energia da ligação C-C no etano é de 83 kcal/mol, ao passo que a de C=.C no etileno é apenas 143 kcal/mol. A interpenetração dos dois orbitais atômicos 2p e, conseqüen• temente, a fôrça da ligação 1r serão evidentemente máximas quando os dois átomos de carbono e os quatro de hidrogênio :forem exa tamente coplanares, pois é. somente nesta posiçãp que os orbitais atômicos p são exat�mente paralelos entre si e capazes de interpe netração máxima. Qualquer perturbação dêste estado coplanar, pela torção em tôrno da ligação u 'que une os dois átomos de carbono, resultaria em redução do grau de interpenetração 71' e; conseqüente mente, em redução da intensidade da ligação . 1r: por isso ela en• contrará resistência. Fornece-se assim, uma justificação teórica para a resistência, há muito observada, ,à rotação em tôrno da ligação dupla carbono-carbono. A distribuição dos elétrons 1r em duas camadas, acima e abaixo do plano da molécula, e que se estende além do eixo de ligação carbono-carbono, implica a existência de uma região de carga negativa: que está à espera para acolher quais quer reagentes que procuram elétrons (p. ex. agentes oxidantes); assim, não é surpreendente observar que as reações características de uma ligação dupla carbono--0arbono se dão, predominantemente, .,. j. ! 8 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. t com tais reagentes (e/. Pág. 156). Neste contexto, a imagem clás- \�· sica da ligação dupla foi suplantada por um ponto de vista segundo 1) o qual as dua·s ligações que unem os átomos de carbono, longe de serem idênticas, são consideradas como diversas em natureza, :] fôrça e posição. / ( iii) Ligações Triplas Carbono-Carbono No acetileno cada átomo de carbono é ligado somente a dois outros átomos, um hidrogênio e um carbono. Fortes ligações u são estabelecidas com êstes _dois átomos pelo uso de dois orbitais híbri dos, desta vez formados pela hibridação dos orbitais 2s com apenas um dos orbitais 2p do átomo de carbono. Os orbitais híbridos sp1 resultantes são colineares. Assim, na formação da molécula do ace tileno, êstes orbitais hibridos são usados para o estabelecimento de · fortes ligações u entre cada um dos átomos de · c-arbono e um de hidrogênio .e entre os próprios dois átomos de carbono, resultando em molécula linear que possui dois orbitais atômicos 2p não hibri dizados, perpendiculares entre si, sôbre cada umdós dois átomos de carbono. Os orbitais atômicos sôbre um átomo de carbono são para lelos àqueles sôbre o outro e podem interpenetrar-se, o que resulta na formação de duas ligações n-, situadas em planos perpendiculares entre si: Desta forma, a molécula de acetileno está efetivamente encer rada dentro. de um cilindro de carga negativa. A energia da ligação C=C é de 194 kca]/mol, de modo que o incremento devido à terceira ligação é menor do que o que ocorre na passagem da ligação simples à dupla. O comprimento da ligação 0=0 é de 1,20 A; verifieo.-se que os átomos de carbono foram ainda mais aproximados; entretanto, tambêm neste caso, o decremento ao passar de C = C pQ.ra 0=0 é menor do que o que se verifica na passagem de C-C para C=C. j il \ (" LIGAÇÕES EM •COMPOSTOS DE CARBONO 9 ( iv). Dienos Conjugados etc. A diferença de comportamento entre os dfonos { e também em compostos que contêm mais do que duas ligações duplas) em que as ligações duplas são wnjugadas (1) e aquêles em que elas estão isoladas (II) pode ser explicada em têrmos análogos: O O O G Me-CH-CH-CH-CH2 --. · O O 9 o. O O · O ·O CHrCH-CHrCH-CHz-+ G Q O O � �;J;;t� Me-��i;:;$H-�,;;� H2 (I) 6$�� � CH-CH-CHrCH-CH2 � � (II) Em ambos os casos, a interpenetração dos orbitais atômicos p, sôbre átomos de carbono adjacentes, pode resultar na :formação. de duas ligações localizadas 71', conforme foi mostrado; esperar-se-ia que o comportamento dos compostos resultantes fôsse semelhante ao do etileno, ou melhor, ao de um duplo etileno! Isto representa adequadamente o comportá�ento ob�ervado de (II), mas não o do . composto conjugado (I). Contudo, examinando (I) mais de perto, percebe-se que a interação também é possível entre os orbitais atômicos p dos dois átomos de carbono centrais do sistema conju gado, bem como entre cada um dêstes e os orbitais p dos átomos de carbono situados nas extremidades do sistema. Assim, uma formu lação alternativa da estrutura consiste num orbital 7r que envolve todos os quatro átomos de carbono (III); �JtVNWt@,?Ç(í!� Me- CH-CH-CH-CH2 "1WWAM:tft;,;,,)��:t4�� (III) CHa=CH..:..CH=CH, (IV) . ' ! ;r,:."''·-' - 10 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO � .CAP. 1 i i neste caso, diz-se que os elétrons estão deswooUoodos, pois se encon- 'f tram distribuídos sôbre a totalidade do sistema conjugado e assim • mantidos em comum. Evidentemente, haverá necessidade de dois dêstes orbitais deslocalizados, pois nenhum orbital pode conter mais do que dois elétrons, e há quatro envolvidos no processo. O resul tado consiste numa região de carga negativa,. acima e abaixo do · plano que contém todos os átomos da molécula. l\{ais adiante (Pág. 170) discutiremos a descríç.ão ·.�Úlhor das · propriedades dos dienos conjugados que êste ponto de vista permite incluindo, por exemplo, a possibilidade de adicionar bromo às ex tremidades do sistema (adição 1 :'.i), em lugar de adiéioná�lo apenas a um dos membros de um par de ligações duplas (adição 1 :2). Talvez seja necessário mencionar que tal deslocalização somente poderá ocorrer quando todos os átomos do dieno estiverem essen cialmente no mesmo plano. No caso de outras posições [p. ex. (XIV); Pág. Ui], possivelmente devido à rotação em tôrno da ligação central C-C, os orbita:is atômicos 7l' sôbre os átomos de carbono 2 . e 3 deixariam de ser paralelos e não• poderiam interpe� netrar-se eficientemente. O ef<�ito da qeslocalização, que realmente se verifica, consiste, pois, em impor restrição considerável à rotação em tôrno do vínculo central C-C observada pela existência de orientação preferencial do composto. ( v) Benzeno e Aromaticidade Situação um tanto semelhante ocorre com o benzeno. A bem conhecida estrutura plana da molécula implica · a hibridação sp2, , , com os orbitais atômicos :P, orientados perpendicularmente em rela- ção ao plano do núcleo, em cada um dos seis átomos de car bono (VI): o . ' ' (VIII) (VI) (VII) LIGAÇÕES EM COMPOSTOS DE CARBONO 11 Evidentemente, poderiam ocorrer interpenetrações 1 :2, 3 :4, 5 :6 ou 1: 6, 5:4, 3 :2, levando a formula<JÕcs correspondentes às estruturas de Kekulé (p. ex.. VII) mas, na· realidade, ocorre deslocalização; como no caso do butadieno, embora em grau · muito maior, cau sando. o aparecimento de um orbital cíclico 1r que abarca todos os seis átomos de carbono do anel. Além dêste, são necessários outros orbitais para acomodar o total de seis elétrons (cf. Pág. 1), mas o resultado final consiste em anéis de carga negativa, acima e abaixo do plano do núcleo (VIII). :1llste ponto de vista é confirmado pelo fato de que, no benzeno, os comprimentos de todos os vínculos carbono-carbono são idênticos · entre si, ou seja, tôdas as ligações têm exatamente o mesmo caráter que, conforme indica seu comprimento de 1,39 Ã, é intermediário entre as ligações simples e dupla. O grau ele "multiplicidade" de uma ligação é comumente expresso como a ordem da liga.;,ão, sendo um para uma ligação simples, dois para uma dupla e três para uma tripla. A relação entre a ordem e o comprimento de um vínculo é exemplificada por uma curva do tipo: o3 'C ·.: l,33 ÜI '--___ _,_2 ----"'--3 l,2i) Ordem da lignçíi.o Veremos, todavia, que a relação não é linear e que o r:omprimento das ligações do benzeno não é intermediário entre os das ligações simples e dúpla. A influência da camada de carga n�gativa, sôbre o tipo de reagentes que atacarão o benzeno, será discutida mais adiante (Pág. 116). A relativamente baixa reatividade do benzeno, em comparação com a do sistema altamente insaturado subentendido na represen tação comum dêste composto e realmente observada num trieno acíclico conjugado, provém da estabilidade conferida pela deslo- 1 ; 1 il ! 1: 12 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 calização dos elétrons 7r . sôbre os seis átomos de carbono, aliadà ao fato de que o ângulo entre as ligações u, planas e trigonaís assume o seu valor 6timo de 120°. A estabilidade conferida por . desJocalização cíclica dêste tipo também explica por qu-0 as reações características dos sistemas aromáticos são as de substituição, em lugar das reações de adição, que poderiam ser espel'adas de estrn turas clássicas de Ke.kulé, e que de fato se verificam no caso de trienos acíclicos conjugados; isto porque a adição conduziria a Um, produto em que a deslocalização, embora ainda possível, poderia envolver somente quatro átomos de carbono e perderia o seu caráter cíclico característico (IX; cf. butadieno), enquanto que da substi tuição resulta a retenção da deslocalização, essencialmente similar: à do benzeno, com tôdas as suas conseqüências (X): H Br ',/1" Br 0,::..1-1 - Adição (IX) Br, - º�� ' ' , (XI) Br, - Ónr +HBr , Substituiçlto (X) Em outras palavras, a substituição podé ocorrer acompanhada da retenção global de aromaticidade e a adição não pode ( cf. Pág. 118). Pode-se . obter uma estimativa aproximada da estabiliza,;ão conferida ao benzeno pela deslocalização de · seus elétrons 7r com parando seu calor de hidrogenação com o do ciclo-hexeno: o o ' ' ' , ·i + 28,8 kcal/mol +3H2 ➔ .o + 49,8· k cal/moi * bte simbolo foi uso.do, em lugares apropriados, paro representar o núeleo do benzeno, poia transmito, de modo excelente, 11 imprllsaiJ.o de orbitais :fechados e deslocoJizados, dos quais :provém a sua aromaticidade caractoristica. l ', r_· ·' ,. '' _ . . LIGAÇÕES EM COMPOSTOS DE CARBONO 13 O ca_lor de hidrogena:ção de três ligações duplas isoladas (isto é, li gações entre as quais não há interação), num tal sistema cíclico, deve ria ser de 28,8 X 3 = 86,4 kcaljmol; entretanto, apenas 49,8 kcal/mol · são envoividos na hidrogenação do benzeno. Pode-se, pois, afirmar que a interação dos elétrons- 1r na molécula do benzeno :tesulta em torná-la m.ais estável, no valor equivalente a 36,6 kcal/mol, do que seria caso não tivesse ocorrido tal interação (a. estabilizaçãoproveniente de in t-0ração semelhante em dienos conjugados é de apenas �. 6 kcaljmol, de onde a preferência do benzeno pelas reações de substituição em detrimento das de adição, cf. Pág. 117). A quantidade de energia de estabilização · do benzeno é designada como energia de deslooa lização ou, mais comtimente, · energia de ressonância. A segunda denominação, embora de uso mais .generalizado, é um têrmo alta mente insatisfatório, pois a palavra ressonância evoca imediatamente visões de oscilações rápidas entre uma estrutura e outra, por exem plo as estruturas de Kekulé para o benzeno, sugerindo assim uma interpretação inteiramente falsa do verdadeiro estado de coisas. {vi) Condições Necessárias Para Deslocalização Embora esta confusão especial não resulte· da hipótese da deslocalização, esta última pode levar à perda de facilidade em escrever as fórm.ulas. Assim, embora o benzeno possa ser represen tado como (XI), com a mesma facilidade que uma das estruturas de Kekulé, a escrit_a repetida do butadieno, como em (V), torna-se cansativa. Isto resultou na convenção de representar as moléculas, que não podem ser adequadamente escritas como uma única estru tura clássica [p. ex. (IV)], por uma combinação de duas ou mais . estruturas clássicas ligadas por füichas de ponta .dupla; a maneira pela qual uma deriva da outra, pelo movimento de pares de elétrons, é :freqüentemente indicada por :flechas encurvadas [p. ex. (IV) ➔ 1 i '1 14 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 ➔ (XII) ou (XIII)], a wuda da flecha curva indica de onde provém o paT de elétrons e a ponta indica aonde êle vai. E.�ta é a base do conceito de ressonância. As estruturas clás sicas individuais, que podem ser· fàcilmente escritas, são chamadas de estrutura..� caMnicas, e à estrutura veroodeira e única do com posto, "intermediária" de tôdas elas, dá-se o nome de lvíbrido de · ressonância .. Ao fenômeno aplica-se também o têrmo rnesom,e1-i$mo, embora menos amplamente, a fim de evitar a difümldado semâ:h tica anteriormente mencionada, ressaltando que o C0JnJ)0StO não possui várias estruturas possíveis qne se interconvertem ràpidamente ('fstq é, não se trata de uma espécie de tauto:merismo ultra-rápido e f�-. versível!), mas tem uma estrutura únie<i "intel'mediário." d�.�· estruturas clássicas, mais fáceis de escrever ( o p:t·efüco "mes6'; sign.ifica "intermediário"). ·· .. , Todavia, ao considerar a deslocalizaçã.o e !l. · sua l'opresentaç�o por meio de duas ou mais estruturas clássicas, deve-se te1· sempre em mente .certo número de limitações. Falando em d1mos gerais, quanto maior fôr o número de estruturas canônioas que pude rem ser escritas para um dado comp-0sto, tlinto · maio11 será a deslocalização dos elétrons e mais estável o composM. No e11tanto, estas estruturas não devem variar demais entre si em oonte'1do energético, pois as de· energia mais altt1 contribuirit1m tão poucJ' para o híbrido a ponto de tornar esta contribui�i1o vh:tualmenfo· irrelevante. É possível escrever estruturas que onvolvem: sepal'açífo de carga [p. ex. (XII) e (XIII)] mas, permaneoenclo iguais todos os outros fatôres, elas têm geralmente conteüdo energético mais alto do que aquelas (lffi que tal separação 1,1üo se verl:fica [p. ex. (IV)], e portanto contribuem correspondentomente menos ao híbrido .. Tôdas as estruturas escritas devem conter o 1nesmo �úmero· de elétrons empare lhados e os átomos constituintes de·vem ocupar essencialmente as mesmas posições, uns relativamente· aos outros, em cada estrutura canônica. Para que a deslocalização seja significante, todos os átomos, ligados a centros insa.turados, devem situar-se no mosmo plano ou aproximadamente no mesmo plano. Já nos referimos a êste x·equi- · sito ao tratar do butadieno (Pág. 11), pois se a molécula assume uma posição como em (XIV) : . t i ! :1 •,;, ?,.� /. ·1 i .1 ,J. " \ \ ROMPIMENTO E FORMAÇ,"'O DE LIGAÇÕES 15 os orbi�ais atômicos p sôbre C2 e 03 não são mais paralelos a, portanto, não podem interpenetrar-se, impedindo, desta forma, a deslocaliza�ão. Continuará existindo uma certa interP.enetração, mesmo quando os orbitais não :forem exatamente paralelos; mas a interpenetração e a conseqüente estabilização decrescem muito de pressa, à medida que se verificam desvios do paralelismo. Exemplos em que a· deslocalização e a estabilização resultántes são realmente impedidas por fatôres estéricos serão discutidos subseqüentemente (Pág. 26). A deslocalização, tão eficiente na promoção <la estabilidade dos compostos aromáticos, verifica-se quando não existem orbitais de mesma energia parciàlmente ocupados. 1lJ possível demonstrar que o preenchimento completo de tais orbitais ocorre quando existem <b-1.+ 2 elétrons 71', sendo que 6 elétrons 71' (n = 1) é o arranjo que ocorre com mais :freqüência em compostos aromáticos. Dez elétrons 1r (n = 2) estão presentes no naftaleno (energia de deslocalização, 61 kc.il/mol), quatc,rze elétrons 1r (1� = 3) no antraceno e fenan treno I imergias de 'deslocalização, 84 e 91 kcal/mol, respectiva mente); embora estas substâncias não sejam monocíclicas, como o benzeno, a introdução de ligações transanulares, que as torna, respectivatlh'nte, bi e tricíclicas, parece causar relativamente pouca perturbação; no que se refere à deslocalização dos elétrons 71' sôbre grupos cíclicos de dez ou quatorze átomos. ROMPIMENTO. E FORMAÇÃO DE LIGAÇÕES Uma· ligação covalente entre dois átomos pode, essencialmente, .ser rompida das seguintes maneiras: i[ l 1 ' , ' � V .. 16 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. t R·+·X / R:X-+R:9 +XG> \i. R61 + :X9 ': 1 No primeiro caso, cada átomo se separa acompanhado de um elétron, levando à formação de entidades altamente reativas, cha madas radicais livres, e que devem sua reatividade ao elétron desemparelhado; êste processo é designado como cisão homolítica da ligação. Alternativamente, um dos átomos pode apossar-se de ambos os elétrons, sem deLxar nenhum ao outro, resultando, neste caso, um íon negativo e outro positivo, rcsp,ectivamente. Quando R e X não são idênticos a cisão poderá, evidentemente, processar-se· de qualquer uma das duas maneiras, conforme foi mostrado acima, dependendo se é o R ou o X que retém o par eletrônico. Ambos êstes processos são designados como cisão het'er<Jlitioa,. É óbvio que a formação de uma ligação covalente pode rcstüta1· da inversão de qualquer um dêstes processos . .11Jstes radicais livres ou paros de íons silo formados transito riamente, como intennediúrios reutivos, em. grande variedade de 1·ea1,Jões orgânicas, conforme se ver(1 11'diante. ��a�osqllo envolvem radi�is..tendem a .ocorrer na fase gasosa e em solugões de solvenres apolares, sendo catalisadas pela luz e pela adi9i10 de outros radi cais (Pág. 260). Reações que envolvem intermediários i8nicos pro cessam-se com maior facilidade em solução om solventes polares. Pode-_se considerar que muitos dêstes inte1·mcdlários iônicos trans portam sua carga sôbre um átomo de c1nbono, ainda que o íon seja ?21 �. � 1 1 \, DISPONIBILIDADE DE ELttRONS-ÉM LIGAÇõES 0 17 ·.\,- com :freqüência estabilizado 1)€la deslocalização çla carga, em maior ou menor extensão, sôbre outros ãtomos de carbono ou átomos de elem�mtos . di:ferente.s. Quando o · carbono transporta uma carga positiva, a entidade é conhecida como wn oa-rbô-nw; no caso de transportar uma carga negativa, recebe o nome de carbâww. Embora tais íons sejam for mados apenas transitoriamente e estejagi. presentes em concentrações diminutas, são freqüentemente de importância capital para o con trôle das reações das quais p�rticipam. FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE ELl!TRONS EM LIGAÇÕES E EM ÃTOMOS INDIVIDUAIS A luz do que :foi dito anteriormente, quaisquer fatôres que in:fluenciem a disponibilidade relativa de elétrons ( a densidade eletrônica), em determinadas ligações ou átomos de um composto, vão afetarmuito a sua reatividade frente a certos reagentes; pois uma posiçãQ de alta densidade eletrônica dificilmente será atacada, se é que o será, por 00H por exemplo; ao passo que uma posição de baixa den.sidade eletrônica é suscetível de ser atacada com faci lidade, e vice-versa, quando se trata de um reagente carregado positivam.ente. Foi reconhecida tôda uma série de tais fatôres. ; { 1) Efeito Indutivo Numa ligação covalente simples entre átomos díversos, o par eletrônico que forma a ligação u nunca é repartido de maneira absolutamente igual entre os dois átomos; êle tende a ser atraído um pouco ma'is pelo átomo mais eletronegativo do par. Desta forma, num haleto de alquila, "' "7"C�l / (XV) "-,.s+ s- /c-c1 (XVIa) " -c--ct / (XVIb) a densidade eletrônica tende a ser maior perto do cloro do que perto do· carbono (XV), pois o primeiro é mais eletronegativo; nas IS ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 fórmulas clássicas, isto é geralmente representado por (XVfo) ou (XVIb). Se o átomo de carbono ligado ao cloro estiver, por sua vez, ligado a outros átomos de carbono, o efeito poderá ser trans mitido mais adiante : C-C-C-+-C-+-+-CI 4 3 2 1 O efeito da apropriação parcial, pelo átomo de cloro, dos elétrons pertencentes à ligação carbono-cloro consiste em deixar C1 ligeiramente deficiente em elétrons; esta deficiência êle procura _ corrigir apropriando-se, por sua vez, de um pouco mais do que o seu quinhão de elétrons da· ligação cr que o une a C2, e assim_ por diante ao longo da cadeia. Contudo, o efeito de 01 sôbre C2 'é menor do que o do Cl sôbre C1 e, numa cadeia saturada, - a trans missão se atenua ràpidamente, sendo via de regra pequena demais para ser notada além de C2, Átomos e gTUpos ligados ao carbono, em sua maioria, exercem tais efeitos indutiv,0s no mesmo sentiqo que o cloro, isto é, êles retiram elétrons, por serem mais eletronegativos do que ·o carbono: a exceção mais importante é constituída por gl'llpos alquila, que são doadores d� elétrons•. Embora &ste efeito seja quantitativamente reduzido é responsável pelo aumento de basicidade que se verifica quando um dos átomos de hidrogênio da amônia é substituído por · um grupo alquila ( Pág. 57) ; e, pelo menos parcialmente, pela maior facilidade de substituição do núcleo àromático no tolueno do que no benzeno. Várias sugestões foram feitas para explicar a capacidade de OH.a, CH2R, OHR2 e C� de doax elétrons, entre tanto nenhuma delas é inteiramente convincente e a questão não está resolvida. Todos os e-feitos indutivos são polarizações permanentes da molécula no estado fundamental e, _portanto, manifesü�m-se através de suas propriedades físicas como, por exemplo, o momento dipolar. • üs átomos ele metais pc1'tcncentes, por exemplo, a alquilas cl,i lítio e a reagentes de Grignind, ambos compostos altamente covalentes, t11mbém sil,o doa dores de elétrons, produzindo, em cada easo, átomos de carbono negativamente polarizados: R__+-Li e R-+-M.g.Hrd (cf. Pág. 193). ·( }. DISPONIBILIDADE DE EL�TRONS EM LIGAÇÕES ( ii) Efeito Mesomérico ou Conjugativo 19 nste é, essencialmente, uma especificação ulterior da redistri buição de elétrons que se pode verificar em sistemas insaturados, especialmente nos conjugados, via seus orbitais 1r. Um exemplo é o grupo carbonila (Pág. 179), cujas propriedades não são satisfato riamente representadas pela formulação clássica (XVII), nem pela estrutura polar extrema (XVIII), que pode ser dela derivada por um deslocamento de elétrons, como se mostra em seguida: )c:Í& (XVII) @ e )e-o (XVIII) >� � (XIX) A estrutura verdadeira é intermediária entre aquelas duas, vale dizer, o grupo carhonila é um híbrido de ressonância cujas formas canônicas são as estruturas acima; sendo, talvez, melhor represen tado por (XIX), onde os elétrons 1r são preferencialmente atraídos pelo oxigênio e não pelo carbono. Se o grupo carbonila estiver conjugado com uma ligação > C = C <, a polarização acima poderá ser transmitida mais adiante via os elétrons 1r: -► (XX) © e Me-CH---:--QI=CH:---O- A deslocalização (XX) processa-se de maneira tal que resulta um átomo deficiente em elétrons em Os hem como em O., como se estivesse em jôgo um simples composto carbonílico. A diferença entre esta transmissão via um sistema conjugado e o efeito indutivo num sistema saturado consiste em que, no primeiro caso, ao ser transmitido, o efeito so:fre muito menor atenuação; 03 é quase tão positivo como o era -c1 em (XIX). A estabilização, que pode resultar da deslocalização da cargit positiva ou negativa num íon via seus· orbitais 1r, pode constituir a -1 20 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP, 1 influência predominante que possibilita a formação original do íon (cf. Pág. 46) .. Por exem,plo, é a estabilização do fon fen6xido .(XXI), pela deslocalização de sua carga via os orbitais deslocali zados -ir do núcLeo, a grande responsável pela acidez do fenol, isto é, pela facilidade· com que êste perde prótons ( cf. Pág. 48). / H o ó' ' ' - [º). º º l � H•+ a - Q-90 •� (XXI) Uma deslocalização aparentemente semelhante pode ocorrer no próprio fenol não dissociado, envolvendo um par de elétrons não compartilhado, sôbre o átomo de oxigênio; etc. isto, porém, implica na separação de carga, sendo portanto menos eficiente do que a estabilização do íon fenóxido, que não a requer. Uma estabilização similar do anion, em relação à molécula neutra, não se verifica no álcool benzílico que, pot isto, não é mais ácido do que os álcoois alifáticos, porque o átomo saturado de carbono que intervém impede a interação com os orbitais -ir do núcleo: CH20° 1 H@+ O·,-',: ' ' . " (XXII) . [, 'DISPONIBILIDADE DE EL�TRONS EM LIGAÇÕES 21 Em outros têrmos, o io� fenóxido (XXI) é estabilizado com relação à molécula de fenol, enquanto que íon 6xido de benzila (XXII) não o é, relativamente à molécula do ãlcool benzílico. Situação um tanto análoga ocorre na dissociação de ácidr,:; i:arboxílicos: / R-C "- 0-'-H . . [ r'n 00] [ º10 . y- / / -= HO> + R--C ..... R-C i.e. R-C: �"' ' ,. o0 o o . (XXIIl) Quanto mais estabilizado fôr o (XXIII), com relação .à molécula de ácido não dissociada, tanto mais fàcilmente esta última perderá um próton e tanto mais forte será o áoido. Aqui, novamente, a deslocalização · pode ocorrer na molécula não dissociada oe / R-C 'ºª $ / contribuindo para a sua estabilidade, mas requer· a separação de carga, e, portanto, será menos eficiente do que no caso do aníon carboxilato, que não a requer. Observa-se que a estabilização efe tuada no íon carboxilato será muito mais pronunciada quando as duas estruturas canônicas, pelas quais pode ser representado, forem de mesma energia. Os exemplos mais comuns dos efeitos mesoméricos são encon trados em ·sistemas aromáticos substituídos: os elétrons 71' de subs -tituintêii adequados interagem com ·os orbitais deslocalizados 71' do ·núcleo, -ínfluenciando profundamente a sua reatividade, ou seja, a :fma aromaticidade. Os orbitais 71' deslocalizados do núcleo benzênico :são particularmente eficientes na transmissão da influência dos -efeitos elétricos de um substituinte. de uma parte da molécula a -outra: -�. 22 ESTRUTURA, REATIVIDADI! 1! MECANISMO - CAP. 1 etc. Assim, � grupo nitro do nitrobenzeno diminui a densidade de carga negativa sôbre o núcleo, em comparação com a do próprio benzeno; trata-se de grup.o aceptor de elétrons, em contraposição ao átomo d-i oxigênio negativamente carregado, pertencente ao fon fen6xido (XXI), que é grupo doa,dcr de elétrons. Devido à presença , do grupo aceptor de elétrons, o nitrobenzeno será menos fàcilmente atacado, por fons positivos ou reagentes deficientes cm elétrons (agentes oxidantes, como o KMnO�), do que o próprio benzeno; tais reagentes, conforme veremos mais adiante (Pág. 116), são exata mente do tipo que é envolvido nas reações normais desubstituição aromática. \ Os efeitos mesoméricos, como os indutivos, produzem polari- �. zkções permanentes no estado fundamental da moléculn o manifes- tam-se, portanto, através das propriedades :físicas dos compostos em que ocorrem. A diferença fundamental entre os efeitos indutivos e mesoméricos reside em que os primeiros ocorrem csseneialm<inte em grupos ou compostos saturados e envolvem elétrons de ligações a, ao passo que os segundos se .. verificam nos compostos insaturados e, ·especialmente, nos conjugados; e compreendem elétrons perten- centes a liga�ões e orbitais 'li'. Os efeitos indutivos somente se trans- mitem a distâncias curtas ao longo de cadeias saturadas e logo se dissipam, enquanto que os efeitos mesoméricos podem ser transmitidos de um a outro extremo de moléculas bastante longas desde que esteja presente a conjugação ( ou seja, orbitais desloeàlizados 1r) através da qual possam propagar-se. Ambos os efeitos influenciam o comportamento dos compostos, tanto em situações essencialmente estáticas como nas dinâmicas : no que se refere às posições de equilíbrio e velocidades de reação, à fôrça de ácidos e bases, - bem como à reatividade dos haletos de alquila ou à facilidade relativa na substituição de diversas espécies aromáticas. ' \ DISPONIBILIDADE DE EtíTRONS EM llGAÇ.OES (Ili) Efeitos Dependentes do Tempo 231 Alguns pesquisadores procural'am distinguir entre os efeitos como os dois descritos na página anterior, que são polarizações permanentes manifestadas no estado fundamental da molécula e nas distribuições alteradas dos elétrons que podem resultar ou na aproximação es- -1 · treita de um reagente ou, mais especialmente, no estado de transição (que se situa entre os reagentes e os produtos), que podem resultar de seu ataque inicial.'- 1,<';stes fatôres variáveis com o tempo, correspondentes aos efeitos permanentes, discutidos na seção anterior, foram denominados, respectivamente, efeitos indut,,miérico e eletromérwo: Tais efeitos podem ser encarados como pow.rizabilidades e não como polarizações, pois a distribuição eletrônica reverte à do estado fundamental da molécula atacada caso ou qualquer dos reagentes sejá retirado antes · que a reação se tenha processado, ou, quando o estado de transição se decompõe (caso tenha chegado realmente a formar-se), reprodu zindo as substâncias de partida. 11l óbvio que os efeitos dependentes do tempo, por serem apenas temporários, não serão refletidos nas propriedades iísicatf dos com postos em pauta. Em numerosos casos, revelou-se impossivel distin guir experimentalmente entre ·oa efeitos permanentes e os variáveis com o tempo; mas, a despeito das düiculdades pa.ra distinguir em qne proporções um dado efeito é devido a fatôres permanentes e aos variáveis com o tempo, nunca poderá ser demasiadamente ressaltado o fato de que a estreita aproximação de um reagente pode ter efeito profundo, aumentando a reatividade de uma molécula reagente e promovendo, assim, a reação. ( iv) Hlperconjugação Observa-se, normalmente, que o efeito indutivo dos grupos alquila, se processa, conforme seria de esperar, na seguinte seqüência: . í i 24 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. ✓ Me \.i., CHa-+- < Me➔-CH 1 ➔- < CH---+- < / / Me Me "", Mc➔-C-+ ,, / Me No entanto, quando os grupos alquila estão ligados a um. sistema insaturado, por exemplo unia: ligação dupl11 ou um núcleo benzênico, verifica-se que esta ordem é perturbada e, no caso de alguns siste• mas conjugados, até mesmo invertida. Parece que, nestas eircuns• tâncias, os - grupos alquila sã-0 capazes de acarretar libertação de elétrons via um mecanismo diferente do efeito indutivo, e do qual a metila é o expoente mais bem sucedido. Explicou-se isso como se ocorresse devido a uma extensão do deito mesomérico, ou conju gativo, realizando-se a deslocalização da seguinte maneira: H l H-�H a - }l<D e ....,. H-C=CH-CH2 (XXIV) H 1 H-C Hill 1 H H H-� li Hill li Q-V etc; (XXV) A êste efeito se deu o nome de hiperoonjugaçã,o, e foi êfo usado com êxito na explicação de numerosos · fenômenos, de outra forma desconexos. Convém ressaltar que não · estamos sugerindo que o próton se torne realmente livre em (XXIV) ou (XXV), pois caso êle se deslocasse da sua posição primitiva, seria violada uma das condições necessárias para ocorrer deslocalização (Pág. 14). A causa da inversão da capacidade de doar elétrons, ao 'ir de :Me ➔ Et ➔ isoPr ➔ t-Bu, reside no fato de a hiperconjuga1ão ' '' '·' DISPONIBILIDADE DE El.lTRONS EM LIGAÇÕES 25 depender, para o Reu funcionamento, do hidrogênio ligado aos átomos �e carbono que estão na posição a relativamente ao sistema insatura�o. Ela é claramente máxima no Me (XXIV) e inexistente no t-Bu (XXVIII), desde que se admita que efeitos similares e de. · magnitude comparável não ocorram nas ligações C-C, H 1 H--C-CH=CH2 1 (XXIV) H Me-t-CH=CH1 (XXVI) Me 1 Me---C-CH=CH1 Me (XXVIII) ., Me Me-t.:._CH-CH1 1 (XXVII) .µonde o aumento da capacidade doadora de elétrons por parte dos grupos metila sob aquelas condições. Acredita-se que seja esta a causa; da estabilização ma1or das olefinas em que a ligação dupla não é terminal, em comparação com compostos isoméricos nos quais ela o é; isto é, compostos como o (XXIX), no qual existem nove átomos de. hidrogênio a, comparado com o (XXX), que tem somente cinco : CHa CH8-C=CH-CH3 CH8 1 Me---CH2-C=CH1 (XXIX) (XXX) Isto conduz à formação preferencial dos primeiros, em rea'QÕes que poderiam resultar em qualquer um dos dois compostos pela introduç.ão da ligação dupla, e até mesmo na relativamente fácil isomerização do composto· menos estável no mais estável. Embora a hiperconjugação se tenha revelado útil em n:umerosas ocasiões, a sua. validez não é universalmente aceita e, muito trabalho ainda resta .a ser feito para justificá-la teoricamente. . \ r.•j 1. 26 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 EFEITOS ESTtRICOS Até agora estivemos discutindo os fatôres que podem influir na disponibilidade relativa de elétrons nas ligações ou em certos átomos de um composto, e desta forma influir em sua r-0atividade. No entanto, a operação ou influência dêstes fatôres pode ser modifi cada, ou até mesmo anulada, em conseqüência de fatôres estéricos; assim, a deslocalização via orbital 1r somente poderá processar-se efetivamente quando os orbitais p ou ,r, sôbre os átomos envolvidos na deslocalização, puderem tornar-se paralelos ou quase. Caso isto seja. :impedido, não poderá ocorrer nenhuma :interpenetração. con �iderável e não se verifica a deslocalização. Um bom exemplo disto . é dado pela dimetilanil:inà (XXXI) e por seus derivados 2,6-dial quílicos, como o (XXXII). O grupo NMe2 em (XXXI), sendo doador de elétrons ( devido ao par eletrônico não compartilhado pertencente ao nitrogênio, que interagem via os orbitais 1r desloca lizados do núcleo) , ativa o núcleo para o ataque por parte do catíon diazônio PhN/9, isto é, o predispõe à copulação azóica, con duzindo preferencialmente a substituição nas posições orto e, mais especialmente, na para ( cf. Pág. 137) : (XXXI) Entretanto, o derivado· 2, 6-dimetila não copula sob estas condi ções, apesar do fato de os grupos metila, que foram introduzidos, estarem demasiadamente afastados para que o seu volume, não muito consíderável, interfira diretamente com o ataque ba posição pana. Na :i;ealidade, o malôgro em copular nesta posição deve-se aos dois grupos rnetila, em posições orto relativamente ao NMe2, que interferem estericamente com os dois · grupos metila ligados ao nitrogênio, imp.edindo-os de situar-se no plano do nucleo benzênico. Isto significa que os orbitais p do nitrogênio e os do átomo de carbono pertencente ao anel, ao qual êle se liga, são impedidos de 1) 27 ficar paralelos entre si e a sua interpenetração é, assim, inibida. Desta forma, fica grandemente impedida a interaçãoeletrônica com o n.úcleo e a transferência de carga à. posição l)MO(, com ativa ção conseqüente para O at11que por parte de PhN:/9 , como em (XXXI), não se realiza : (XXXII) O efeito estérico mais comum é, todavia, o "impedimento esté rico" clássico, no qual, aparentemente, os grupos influem direta mente na reatividade num determinado local do composto pelo seu volume puro e simples e não pela promoção ou inibi�ão da dis ponibilidade eletrônica. Isto foi detal:1adamente investigado em conexão com a estabilidade dos complexos formados pelo trimetilboro com grande variedade de aminas. Assim, o complexo (XXXIII), formado com trietilamina, dissocia-se com grande facilidade, en quanto que o complexo (XXXIV), contendo quinuclidina, que pode ser considerada como possuindo três grupos etila ·liga:dos ao nitrogênio e "impedidos" de interferir estericamente com o ataque ao átomo de nitrogênio, é muito estável: Me CH11 Me "-.© e/ Me-CH1-N : B-Me / " CH1 Me " Me (XXXÍII) (XXXIV) Que esta diferença não se deve à disponibilidade diferente de elé trons no átomo de nitrogênio naqueles dois casos é confirmado pelo fato de que as duas aminas diferem muito pouco em suas :fôrças como bases ( cf. Pág. 65) : a apreensão de um próton constitui obstáculo est�rico muito menor do que a do relativamente volu moso B:Mes. 28 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 No entanto, os exemplos mais comuns de inibição estérica são provàvelmente constituídos pelas dificuldades encontradas na _este rificação de ácidos terciários (XXXV) e na de ácidos. benz6icos 2,6-dissubstituídos ( XXXVIa), (XXXV) C01H Me ó Me ',,--,, / ' . ' . ' . .............. .. . �[a) C02H 1 (;"Ha Me ó Me ' ,", / .,., ... ' . ' ' ', .. , (XXXVJb) bem como na hidrólise dos ésteres ou outros derivados, tais como aminas, uma vez formados. A natureza estérica dêste efeito é suge rida pelá sua magnitude, muito maior do que poderia ser explicada por · qualquer influênda que os substituintes alquila pudessem exercer sôbre a disponibilidade eletrônica, e . também pela sua não ocorrência nas espécies aromáticas, quando êstes substituintes estão nas posições meta ou para. Mais ainda, se o grupo carboxila fôr afastado do núcleo, pela introdução de um grupo CH2, o nôvo ácido (XXXVIb) · tornar-se-á tão suscetível à esterificàção coono a espécie não substituída : o grupo :funcional está agora fora do alcance dos efoitos espaciais dos substituintes metila. Impôrta salientar que tal inibição estérica constitui somente caso extremo, e quaisquer outros fatôres que perturbem ou inibam uma determinada orientação mútua dos r€agentes, mas sem impedir sua estreita aproximação, também podem afetar pro:fundamente a velocidade das reações: estado de coisas freqüentemente encontrado nas reações em sistemas biol6gicos. CLASSIFICAÇÃO DOS REAGENTES Já nos referimos aos grupos aceptores e doadores de elétrons e aos seus efeitos de tornar um local da molécula rico ou deficiente • em elétrons, respectivamente. ôbviamente, isto vai influir no tipo de reagentes com os quais o composto reagirá com mais facilidade. Um composto rico em elétrons, tal como o íon fen6xido (XXXVII), - CWSIFICAÇAO DOS REAGENTES 29 êr-Q-� (XXXVII) etc. tenderá a ser mais fàcilmente atacado por íons carregados positi vamente, com,o o catíon diazônio PhN2 e , ou por outras espécies que, embora não sejam na realidade ions propriamente ditos, possuem um átomo ou centro deficiente em elétrons; por exemplo, o átomo de eniôfre no trióxido de enxôfre: oe 0=�$. óe A copulação azóica (Pág. 128) ou sulfonação (Pág. 123) realiza-se, de preferência, · no átomo de carbono do núcleo e não no oxigênio, devido à transferência de carga do oxigênio para' o carbono, que pode verificar-se conforme mostrado acima e em virtude da maior estabilidade dos produtos em que a substituição é no carbono e não no oxigênio, . Em contraposição, um centro deficiente em elétrons, como o átomo_ de carbono no cloreto de metila (XXXVIII), H "-.n+ n H-C-+-CI (XXXVIII) tenderá a 'ser atacado com .maior facilidade por íons carregados negativamente, tais como 0OH, 80N etc., ou por outras espécies que, embora não sejam propriamente íons, possuem um átomo · ou centro rico em elétrons; :por exemplo, o átomo de nitrogênio na amônia: ou nas aminas, HsN: ou R8N:. Cumpre l'{,>ssaltar que, para se dominar o curso de uma· reação, é necessária uma distribuição eletrônica apenas ligeirarmente assimétrica: a presença real de carga ./ __ ...., 30 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 sôbre um reagente certamente facilita as coisas mas está longe de ser essencial. De fato, a 'indispensável distribuição -assimétrica de carga pode ser induzida pela polarização mútua entre reagente e substrato, ao se aproximarem entre si, conforme acontece ·na adição do bromo ao etileno (Pág. 156). Nas reações do primeiro tipo, o reagente p_rocura, no substrato · a ser atacado, uma posição onde os elétrons estejam disponíveis com especial facilidade; tais reagentes são, por isso, designados como reag.entes .el.etrofílioos ou el.etr6filos. Nas reações do segundo tipo, o reagente busca uma posição na qual o núcleo atômico esteja com falta no seu complemento normal de elétrons de orbitais e esteja ansioso por completá-lo; os reagentes empregados em tais re39ões são chamados r�es 11,'UCU,Qfítioos ou 11,�filos. Esta diferénciação pode ser considerada como caso especial do conceito ácido-base. A definição clássica de ácidos e bases afirma que os primeiros são doadores e, as segundas, aceptores de prótons. Isto foi generalizado por Lewis, que definiu os ácidos como sendo compostos dispostos a a."ceitar pares de elétrons, e ao bases como com po!ji;os capazes de fornecer tais pares: Isto incluiria numerosos compostos previamente não considerados como ácidos ou bases; _por exemplo, o trifluoreto de boro (X.XXIX), F Me " / F-B + :N-Me / " F Me (XXXIX) F Me '-e 111/ � F-B:N-Me / " F Me (XL) que age como ácido ao aceitar o par eletrônico do nitrogênio da trimetilamina para formar o complexo (XL), sendo, portanto, con- '1 ! ! ' siderado como ácido de Lewis. Os eletr6filos e nucleófilos nas rea- r1 ções orgânicas podem ser considerados essencialmente como aceptores e doadores, respectivamente, de pares eletrônicos de ou a outros átomos, mais freqüentemente o de oorb()1'l;O. � óbvio que os eletró:filos e os nucleófilos estão relacionados com os agentes oxidantes e redu- tores, pois os primeiros podem ser considerados como aceptores, e os segundos como doadores de elétrons. Vários dos eletrófilos e nucfo6filos mais comuns estão arrolados a seguir: 1 ; 1 : k' CLASSIFICAÇÃO DOS REAGENTES 31 Eletrófik>s H«l ; H�oe, HN03, H2S0,, HN02 (i.e. «lN02, S08 e «lNO respec tivamente), PhN2111 • • • 8F3, AICl3, ZnClz, FeCl3, Br2, 1-CI, NO-CI, CN-CI o o o . li li li )c--O, R-C-CI, R-C-0-C-R, C02 • * * . • H0° , R0°, RS9 , Bale, HS039, 9 CN, R·C--C0, 9CH(C02Eth (XLI) "-o· -N· "-s• / ., ., / ./ • R·MgBr, RLI, LiAIH4, • • oe • Nos reagentes assinalados com asterisco, êste indica o átomo qu-0 aceita elétrons do substrato· ou doa elétrons ao substrato, con forme o caso. Percebe-se ràpidamente que não é possível fazer distinção nítida entre o que constitui um reagente e o que constitui um substrato pois, embora o HNO3, 0OH etc. sejam norma:lmente considerados como,,. :reagentes, o carbânio dietilmnlonato (:XLI) poderia ser tanto reagente como substi;ato, ao reagir, por e:,ç,emplo, com haleto de alquila. A a<_;ão do primeiro sôbre o segundo comi.iate de ataque nucleofílico, enquanto que a do segundo sôbre o prime-iro é ataque eletrofílico; mas, seja qual fôr o· ponto de vista adotado - ou de um reagente ou de outro - a natureza essencial da reação não . é posta em dúvida, nem momentâneamente. Não devemos esquecer, contudo, que também se conhecem reações que compreendem radicaislivres como entidades reativas. Estas são muito menos suscetíveis a variações da densidade eletrô nica no substrato que as reações que envolvem intermediários polares, mas são fortemente afetadas pela adição de leves traços de substâncias que ou libertam ou retiram radicais. Elas são con sideradas pormenorizadamente mais adiante (Pág. 270). l S2 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 TIPOS DE REAÇÃO Neste esquema de classificação há, essencialmente, quatro tipos de reação que os compostos orgânicos podem sofrer: (a) Reações de deslocamento ( ou de substituição). ( b) Reações de adição. · (e) Reações de eliminação. (d) Rearranjos. Em (a) referimo-nos, normalmente, ao deslocamento a partir <lo átomo de carbono, mas o átomo deslocado pode ser hidrogênio ou · outro átomo ou grupo. Em reações de substituição eletrofílica, fre qüentemente é o hidrogênio o átomo deslocado; a substituição aromática clássica (Pág. 116) é um bom exemplo disto: Ó H ó-��• ' 1 + •No. -+ , , + tt• • ' 1 . .. .......... .. Em reações de substituição nucleofilica, freqüentemente é deslo cado outro átomo _que não o hidrogênio (Págs. 67 e 150) : NC0 + R-Br -+ NC-R + Br0 H06 + CJ OH Ó N01 1 N01 / ➔ o.------(+ c10' ' . --- -- \ 1 1 N01 ·N01 mas também se conhece o deslocamento nucleofílico do hidrogênio (Pág. 149), Ó H N02 Ó HO N01 / ,-",,/ - 1 1 -+ o 1 + ue •.. } ........ , TIPOS DE REAÇÃO 33 embora o íon hidreto não seja na realidade libertado como tal, conforme- veremos subseqüentemente (Pág. 150). Conhecem-se, também, reações de deslocamento induzidas por radicais; por exem plo a halogenação de alcanos (cf. 'Pág. 279). Também as reações de adição podem ser eletrofHicas, núcleo :filicas ou induzidas por radicais, conforme o processo seja iniciado por um eletrófilo, um nucleófilo ou um radical. Adição a ligações duplas carbono-carbono simples, normalmente ou é reação eletro filica ou induzida por radicais; um exemplo é a adição do HBr HBr -- que pode ser iniciada pelo ataque ou do Hkll (Pág. 161) ou do Br· _ (Pág. 275) à ligação dupla. Em contraste, as reações de adição exibidas pelo grupo carbonila, em aldeídos e cetonas simples, têm gerahnente caráter nucleofílico (Pág. 179). Um exemplo é a for mação catalisada por bases, de cianidrinas em HCN líquido: 00 >6+{'1/�- >" / C±O � C Lenta. '\_ �CN CN OH HCN > / � e + 0cN náplda " CN As �ações de eliminação são, claro está, essencialmente as in versas -das de adição; a mais comum é a perda d� átomos ou grupos ligados a átomos de carbono adjacentes, resultando na :formação de olefinas: >r�t< ""-Hllr ·Br �)e ' ·=C/ H ./4 " l - -)e-e( -"·º . 1 OJ-1 ,· ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 Os rearranjos também podem processar-se via intermediários eletrofílicos, nudeofílicos ou radicais e ptdem compreender quer mera migração de um grupo funcional (Pág. 99), como no sistema · alilico, quer verdadeiro rearranjo do esqueleto carbônico de um composto, como na transformação do pinàcol (XLII) em pinacolona (XLIII) (Pág. 103):. H6l Me2C-CMe2 - �esC · CO · Me JHÓH (XLII) (XLIII) À fase de rearranjo propriamente dita segue-se freqüentemente uma reação de deslocamento, adição ou eliminação, antes que se obtenha o produto final estável. A ENERGll!TICA DA REAÇÃO i\ O caminho geral seguido pelos reagentes numa reação orgânica .até que sejam convertidos em produtos é normalmente por demais complexo para que possa ser acompanhado. em todos os pormenores, mas é possível tecer comentários úteis sôbre a seqüência das alte rações envolvidas e, particularmente, sôbre a sua energética:. Falando em têrmos gtirais, as reações processam-se mais fàcilmente quando os produtos constituem um estado mais estável do que os reagentes originais; a diferença é a en.ergia Uvre d/J 1'oo,ÇÍÍ,<>, ãF; não obstante, é muito raro, se é que alguma vez acontece, que a 7 A ENERGlllTICA DA REAÇÃO H mudança compreenda u�a simples degradação energética (XLIV); a situação mais comum é aquela em que no caminho se precisa transpor uma barreira energética (XLV): .lk-w- X t llF 1 : 1 e! j_ '61, Reagentes ... .. 1':l 1 l'.il 1 í"1 :t1F 1 1 :llf .1. ProdutoB Pro:l,ut-08 ...!.. (XLIV) (XLV) Nos diagramas acima, a coordenada horizontal, freqüentemente denominada ooo'rdenaà,a da re,açiú), não precisa ter um· signi:ficádo quantitativo preciso: representa apenas a seqüência da reação. Veremos que, paTa que a reação se processe como em (XLV), aos reagentes deverá ser fornecida energia, a :fim de impeli-los através . da barreira. Esta energia é requerida essencialmente para alongar e finalmente romper· quaisquer ligações nos reagentes cuja cisão seja necessária; Isto se processa mais fàcilmente em moléculas que, por terem absorvido energia, ficaram ativadas; o conhecido au mento das velocidades de reação com o aumento da temperatura deve-se, de fato, à existência de proporção maior· de moléculas no estado ativado, ao passo que a temperatura se _ elevá. Também está envolvido um fator probabilístico, pois as moléculas, embora ati vadas, freqüentemente só reagirão entre si quando estiverem numa determinada. orientação ou configuração e sõmenté uma certa parte das molécuias ativadas satisfará a esta condição. Alénr do têrmo ener gético ·direto, também comparece um fator de etitropia, que exprime a desordem e, portanto, a probabilidade relativa dos estados inicial · e final da reação, ou seja, dos reagentes e produtos. A quantidade de trabalho necessário para conduzir os reagentes ao tôpo da bar reira, incluindo os fatôres energético e probabilístico, recebe o nome de energu.,, livre de ativação, 6.Ft. O tôpo da barreira energética, x, corresponde à configuração menos estável que os reagentes devem atravessar no seu caminho 36 ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO ---: CAP. 1 de conversão em produtos; êle é geralmente designado como e�ailo de transição ou· comp'texo ativado. Cumpre ressaltai' que se trata apenas de um estado à ser atravessado no decorrer de um processo dinâmico; o estado de transição nJio constitui um intermediário que possa ser realmente· isolado. Um estado de transição típico ó (XLVI) encontrado na hidrólise alcalina do iodeto de metila, H,, [ ô- H� ·/!i a-1 .,...,... H l·IOe+H�C-1 ➔ HO·--·C----I -+ HO-C◄H+l8 . / 1 ' H H H (XLVI) . no qual a ligação C-OH está sendo formada antes que à C-1 seja completamente rompida, e os três átomos de hidrogênio passam por uma configuração na qual jazem todos num só plano, perpen dicular ao do papel. Esta reação é discutida com maiores detalhes mais adiante (Pág. 77). É possível perceber, a partir do que já foi dito ao discutir· a influência dos fatôres estruturais, tanto eletrônicos como esté ricos, sôbre a reatividade dos composto�, que é mais pertinente levar em consideração os efeitos dêstes fatôres sôbre o esta<J.o de transi,ção de uma reação · do que sôbre o estado fundamental da molécula reagente. Pois qualquer fator que sirva para estabilizar ó estado de transição, isto é, diminuir o seu conteúdo energético, diminui .ô.FI (a altura da barreira a ser transpos_ta), oferecendo à reação um caminho mais fácil e menos exigente. É neste ponto que os fatôres dependentes do tempo, ou seja, a polarizabilidade resul •tante da estreita aproximação �ntre o reagente e ô substrato, podem exercer, sôbre o curso da reação, seu eieito mais potente e, possl velmente, até determinante.· Também os efe!tos estéricos têm, a esta altura, importância capital, pois um estado de_ transição em que os grupos estejam altamente aglomerados será muito difícil de se formar e, portanto, a reação será muito dificultada e terá · menor probabilidade de ocorrer. E�tretanto, nem sempre se conhece com certeza a natureza exata do estado de transição; neste caso, a influência dos fatôres estruturais sôbre a reatividade só poderá ser levada em consideração, de maneira menos satisfatória,com referência à �olécula teagente · original. A ENERGtTICA DA REAÇÃO 17 Contudo, muitas das reações comum! são menos simples do que esta, não ,. se. processando através de um estado de transição único como em (XLV), mas compreendem a formação de um· ou mab1 intermediários verdadeiros,. como no. processo bifásico- (XLVII): . OI · Si Reagernel! � � 1 ,âF 1 1 _'t_ X Interme diário (XLVII) Produtos A9te consiste, essencialmente, de duas reações separadas: rea gentes ➔ intermediário, com energia livre de ativação AF l, é intermediário ➔ produtos, com AF1 t ; a energia livre da reação global é AF. A fase de energia livre de ativação mais alta --- a primeira, com AF1t no ca·so ac�a - será geralmente mais lenta e, portanto, será a etapa determimante <lo, vek>oidi<u:Le da reação global, pois é claro que esta não poderá processar-se mais ràpidamente do que a sua fase mais lenta, e será esta última a medida num estudo cinético da reação global. O grau da diferença realmente existente entre um complexo ativadc e um intermediário verdadeiro depende da profundidade da depressão ou mínimo de energia que caracteriza. êste último. Se êste minimo fôr suficientemente pronunciado, o. intermediário poderá ser de fato isolado, como na reação de Hofmann, em que os sais de aníon (XLVIII) podem ser recupe rados durante a conversão de uma N-bromoamida num isocianato (cf. Pág. 107) : , ., l ., ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 � eou [ -tf ? ª ] R-C-NHBr -- R-C�Br ..-,. R-C NBr - O=C N-R (XLVlll) À medida que o mínimo se tom.a menos a"Centuado, () interme diário fica paulatinamente menos estável ( b) e, conseqüentemente, o seu isolamento se faz menos provável, até que, finalmente, não se consegue distinguir o mínimo (e) , quando o estado de transição o o · intermediário passam a ser sinônimos ( XLIX) : Intermediário metMtávol Int.ermediário --..\--- estável Pr0<lutos (XLIX) Entretanto importa ressaltar que não somos forçados a depender do isolamentô efetivo - que é ocorrência relativamente rara � para a identificação de um intermediário. Métódo91 fisicos, particular mente os espectrosc6picos, suprem-nos de uma alternativa, muito eficiente e precisa, que se revelou imensamente útil na; investi�o dos mecanismos de reac;ão. · INVESTIGAÇÃO DOS MECANISMOS DE REAÇÃO Raramente, ou nunca, é possível adquirir informac;ões completas sôbre o caminho seguido por uma reac;ão química: são demasiado, os fatôres envolvidos. Não obstante, é }>Ossível reunir dados sufi• cientes para mostrar que um mecanismo teoricamente possível nen INVESTIGAÇÃO DOS MECANISMOS DE REAÇÃO 39 sempre é compatível com os dados experimentais, ou comprovar que um mecanismo é muito mais provável do que outro. A maior parte dêstes trabalhos certamente proveio do estudo da cinética das reações, D}aB a interpretação dos dados cinéticos· em têrmos meeanístieos nem sempre é tão simples como à primeira vista seria de esperar . .Assim; num caso muito simples, ao verificar-se que a hidrólise do haleto de alquila R :Hal segue a cinética: velocidade de reação oc [ R · Hal] não é. seguro concluir que a fase determinante da velocidade não compreende a participação da água porque [ HaO] não comparece na equação da velocidade, pois se a água está sendo usada como solvente sua concentração permanece virtuahnente inalterada, quer participe da reação quer não. Esta participação pode ser revelada fazendo-se a hidrólise com baixa concentra_ção de água noutro solvente; verifica-se, então, que a hidrólise segue a cinética: 6ntretanto, o mecanismo real pelo qual a reação se processa poderá ter mudado com a alteração do meio ambiente, de modo que não catamos, necessàriamente, melhor informados sôbre aquilo que real me1tte ocorreu na solução aquosa! As reações orgânicas, em sua grande maioria, processam-se em solução e variações muito pequenas no solvente': usado podem ter os mais profundos efeitos sôbre as velocidades e mecanismos das reações. Em particular, isto acontece quando estão envolvidos intermediários iônicos, como por exemplo íons carbônio e carbânios, pois tais íons normalmente transportam consigo um invólucro de moléculas de solvente que afeta muito sua estabilidade· (e, por tanto, a facilidade de sua :formação) e que é fortemente influen ciada J>ela composição e natureza do solvente empregado. Os mecanismos de reação podem ser esclarecidos também por outras fontes que não as experiências cinéticas. Assim, um estudo dos subprodutos ou produtos alternativos de uma reação pode ser freqüentemente valioso. Um dos casos em pauta é a reação de eli minação (Pág. 214), que acompanha com freqüência uma de su�stituição (Pág. 228), resultante da ação de álcalis sôbre haletos 40 . ESTRUTURA, REATIVIDADE E MECANISMO - CAP. 1 de alquila e que, em alguns casos, pode ser interpretada como · se compreendesse um íon carbônio (L) como intermediário comum: R·CH2·CH2·0H+HED . l:Y Substituição R·CH2·CH2·Hal -► Ha1°+R·CH2·CH2e (L) "' -n@ � R·CH=CH2 · .Eliminação Em alguns c880IJ, por exemplo no da reação de Hofmann acima mencionada, os intermediários podem ser realmente isolados e, onda tal não é possível, podem ser. introduzidos na reação vários inter• mediá.rios potenciais, a fim de verificar. se algum dêles a aceleral'á, conforme deveria acontecer com um intermediário verdadeiro. · :.Alternativamente, é possível introduzir no sistema outra espécie de molécula, na tentativa de fixar ou aprisionar um intermediário transit6rio. Fornece-se um exemplo disto nas reações que se pro cessam via radicais intermediários, onde o radical intermediário induz a polimerização de uma olefina jntroduzida no sistema, sendo assim fixado na extremidade da cadeia polimérica (cf. Pág'. 277): O emprêgo de is6topos também serviu pata lançar muita luz sôbre uma série de . diffoeis problemas mecanísticos. Assim, em teoria, a hidrólise aquosa dos ésteres poderia processar-se tanto por uma cisão alquila-Qx'igênio (a.) como por uma cisão 11cila�oxigê- · nio (b): o li IR R--I.:-OH+HO-R' O a ta)/ 111 1 / , 1 18 R-C70+R' HiO t : � o \O)"" li 18 R-C-OH + H-OR' INVESTIGAÇÃO DOS MECANISMOS DE REAÇÃO 41 Caso a reação se processe em. água enriquecida pelo is6topo 180, (a) conduzirá a um álcool rico em 180 e a um ácido que não o é; ao passo que (b) resultará em ácido rico em -1so mas álcool normal. Verifica-se que_ os ésteres, em sua maioria, produzem ácidos ricos em lrllO, indicando que, nestas condições, a hidrólise se processa via cisão aeila-oxigênio. Evidentemente, cuml)re ressaltar que êstes resultados somente podem ser válidos quando nem o ácido nem o álcool, depois de formados, podem permutar oxigênio com a água enriquecida lso, conforme se verificou que acontecia na prática. Tem-se-· empregado muito a água pesada, D20, de maneira utn tanto semelhante, especialmente para verificar se certos átomos de hidrogênio participam ou não de uma dada reação. Assim, na reação de Cannizzaro com o benzaldeído. (Pág. 189) O O O H li li 00H li· 1 Ph-C-H + Ph-C-H -- Ph-C-08 + Ph-C-OH H,O I H surge a questão se o segundo átomo de hidrogênio, que se· liga ao carbono do álcool benzilico formado, provém do solvente (água) ou de uma segunda molécula de �nzaldeido. A reação realizada em D20 não leva à formação de ne,n.hum.a quantidade de Ph>CHD·0H, o que indica que o segundo hidrogênio nâc poderia ser oriundo do solvente e, portanto, deve prQvir da transferência direta, a partir de uma segunda molécula de aldeído. Compostos convenientemente "marcados" com deutério ou com o isótopo radiativo do hidrogênio, o tritio, também têm sido usados para verificar se uma determinada ligMão C-H é rompida du rante a :fase determinante da velocidade de uma reação: Assim, nff nitração do nítrobenzeno (Pág. 121) rompe-se uma ligação C-H e forma-se uma ligação 0-NOa; surge a questão de determinar qual dos dois processos está envolvido na etapa determinante
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