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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO II UNIDADE CONFLITOS DE LEI NO ESPAÇO E A NORMA DE DIP: O ESTUDO DA LINDB 1. INTRODUÇÃO No assunto referente ao conflito de leis no espaço, deve-se questionar: qual lei devo aplicar? Em regra, este surge diante de situações em que mais de um ordenamento nacional pode incidir sobre uma relação privada que transcende as fronteiras de um ente estatal. A REGRA GERAL É A APLICAÇÃO DO DIREITO PÁTRIO (LEX FORI), empregando-se o direito estrangeiro apenas excepcionalmente, quando for expressamente determinado pela legislação interna de um país. A Escola Estatutária Italiana (glosadores) faz distinção entre estatuto pessoal (aplicação da norma do local de origem da pessoa) e estatuto real (aplicação da norma do local onde se encontrava a coisa). Posteriormente, as Escolas Estatutárias alemã, francesa e holandesa promoveram uma releitura da teoria dos glosadores, fixando a noção de que os estatutos pessoal e real só se aplicariam, em princípio, no território do Estado. Entretanto, o estatuto pessoal poderia acompanhar a pessoa inclusive fora de seu Estado, desde que os demais entes estatais, em razão da cortesia internacional (comitas gentium) o aceitassem. JOSEPH STORY Noção de TERRITORIALIDADE DO DIP e seu caráter de DIREITO NACIONAL: as normas que admitirão a aplicação do direito estrangeiro são estabelecidas pelo próprio legislador estatal. Principal elemento de conexão DOMICÍLIO. SAVIGNY Caráter UNIVERSAL DO DIP, que deveria buscar a harmonia internacional das decisões. Propunha uma maior aproximação das ordens jurídicas nacionais, que os Estados convergissem para a formulação de soluções uniformes para o conflito de leis no espaço. Principal elemento de conexão DOMICÍLIO. (As ideias de Story e Savigny tiveram grande influência no Brasil, que adotou o domicílio como principal elemento de conexão). MANCINI Desenvolveu a noção de AUTONOMIA DA VONTADE e enfatizou que o direito estrangeiro só poderia ser aplicado quando não ofendesse a ORDEM PÚBLICA no Estado. - Principal elemento de conexão NACIONALIDADE (era o EC adotado antes no Brasil). As normas de DIP não resolvem a questão jurídica propriamente dita, mas indicam qual direito deverá ser aplicado pelo juiz ao caso concreto (NORMAS DE SOBREDIREITO, INDICATIVAS OU INDIRETAS). É o próprio ordenamento interno que indicará o preceito, nacional ou estrangeiro, que regulará um vínculo desse tipo. Por isso que a LINDB é considerada o Estatuto de Direito Internacional Privado brasileiro. O Brasil adota o princípio da territorialidade moderada, ou seja, é lei brasileira adotada, mas admite-se a aplicação, em certos casos, de lei estrangeira. - A norma de DIP divide-se em duas partes: 1) Objeto de conexão (OC) Refere-se à matéria. Ex.: personalidade, capacidade, direitos de família etc. 2) Elemento de conexão (EC) Refere-se ao critério que indica a lei a ser aplicada. Ex.: a lei do país em que domiciliada a pessoa (EC) determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família (OC). Pode haver mais de um EC para o mesmo objeto. Ex.: quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. Existe também a possibilidade de as partes elegerem o EC (autonomia da vontade), desde que a lex fori o permita (é ela que define quais são os EC). O DIP também tem NORMAS CONCEITUAIS OU QUALIFICADORAS, que informam como uma regra indicativa deve ser interpretada e aplicada ou que podem proibir sua execução, como os preceitos referentes à ordem pública. Bem como, o DIP possui, ainda, NORMAS DIRETAS, referentes à nacionalidade e à condição jurídica do estrangeiro. Normas de sobredireito, de sobreordenamento, indicativa ou indireta Norma conceitual ou qualificadora Norma direta 2. ELEMENTOS DE CONEXÃO ELEMENTOS DE CONEXÃO São fixados pela lex fori. Com base nessas premissas, pode-se afirmar que o direito brasileiro estabeleceu, como regra, de conexão principal o ESTATUTO PESSOAL – lei do domicílio do interessado. Assim, a regra é a de que ao direito brasileiro se aplica a lei brasileira. No entanto, há 07 exceções previstas em lei em que se aplica a lei estrangeira, pela regra do estatuto pessoal: 1) Nome; 2) Personalidade; 3) Capacidade; 4) Direito de família; 5) Bens móveis que a pessoa traz consigo; 6) Penhor; 7) Capacidade para suceder. #ATENÇÃO: A aplicação dessas 07 exceções, contudo, depende da compatibilidade constitucional e com a ordem jurídica interna, sob pena de afronta à soberania nacional. Logo, se for incompatível com o nosso sistema, não se aplica o estatuto pessoal. Exceções das exceções: casos em que se aplica a lei estrangeira, mas não submetidas ao estatuto pessoal e sim a uma regra própria. São eles: 1) Bens imóveis: aplica-se a lei do lugar em que estiverem situados; 2) Lugar da obrigação (internacional): aplica-se a lei do domicílio do proponente; 3) Regra sucessória mais benéfica: quando se tratar de bens de estrangeiros situados no Brasil, aplica-se a regra sucessória mais benéfica. Vejamos cada um do objeto de conexão (matéria) com o respectivo elemento aplicado (critério): 1) DOMICÍLIO (lex domicilii) PRINCIPAL EC NO BRASIL. No Brasil, apenas a lei interna civil fixa o conceito de domicílio. O Brasil ainda não ratificou a Convenção Interamericana sobre o Domicílio das Pessoas Físicas. Veremos agora a consagração do domicílio como EC na LINDB: - A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da PERSONALIDADE, o NOME, a CAPACIDADE e os DIREITOS DE FAMÍLIA (art. 7º). - Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração (art. 7º, §1º). - Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de INVALIDADE DO MATRIMÔNIO a lei do primeiro domicílio conjugal (art. 7º, §3º). - O REGIME DE BENS, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal (art. 7º, §4º). - A SUCESSÃO por morte ou por ausência obedece à lei do país em que Domiciliado, o Defunto ou o Desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens (art. 10). (#LEMBRAR: “DDD”). - A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a CAPACIDADE PARA SUCEDER (art. 10, §2º). - Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos BENS MÓVEIS que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares (art. 8º, §1º). - É COMPETENTE A AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA, QUANDO FOR O RÉU DOMICILIADO NO BRASIL OU AQUI TIVER DE SER CUMPRIDA A OBRIGAÇÃO (art. 12). - Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre (art. 7º, §8º). - Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda (art. 7º, §7º). - O PENHOR regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada (art. 8º, §2º). 2) NACIONALIDADE (lex patriae) no passado, era o critério predominante no mundo. Perdeu importância com a polipatridia. - Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado (art. 18). - O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes (art. 7º, §2º). - Duas exceções à regra de que as formalidades do casamento se regem pela norma do local de celebração: em se tratando de apátrida ou refugiado no Brasil, aplica-se a lei de seu domicílio ou, em sua falta, a de sua residência (art. 12, par.1º da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas e também da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados). 3) LEX FORI fora dos critérios vinculados ao estatuto pessoal, o EC mais comum é o da lex fori, pelo qual é aplicável a lei do lugar do foro, ou seja, a norma do lugar onde se desenvolve a relação jurídica. - É regra referente à própria aplicação do DIP, cujas normas são exatamente aquelas em vigor na legislação interna. 4) LEX REI SITAE norma do lugar onde está situada a coisa. Tem por objeto o regime dos bens, imóveis e móveis de situação permanente. Com isso, os conflitos de leis relativos aos direitos reais regem-se pelo princípio da territorialidade. - Esse critério é aplicável apenas aos bens corpóreos. - Para qualificar os BENS e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do PAÍS EM QUE ESTIVEREM SITUADOS (art. 8º). - A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus (art. 10, §1º). - Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil (art. 12, §1º). Essa regra comporta exceções, como a relativas a conflitos de leis envolvendo aeronaves e embarcações, regidos pela norma do Estado onde se encontram matriculados ou registrados tais equipamentos, nos termos do Direito Aeronáutico e do Direito do Mar. - Na LINDB, vislumbram-se algumas exceções: arts. 7º, 8º §1º, 8º §2º, 10. 5) LEX LOCI DELICTI COMISSI é aplicável a norma do lugar onde o ato ilícito foi cometido. 6) LEX LOCI EXECUTIONIS é aplicável a norma do local de execução de um contrato ou de uma obrigação. - Até 2012, a regra era aplicável aos contratos de trabalho, de acordo com a extinta súmula 207 do TST (a relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por quelas do local da contratação). Na atualidade, o próprio art. 3º da Lei 7.064/82, que regula a situação dos trabalhadores contratados no Brasil e enviados para prestar serviços no exterior, define que é aplicável a situação desses empregados a LEI DO LOCAL DE EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS, SALVO QUANDO MAIS FAVORÁVEL A LEI BRASILEIRA. - O art. 12 da LINDB acrescenta que é competente a autoridade judiciária brasileira quando aqui tiver de ser cumprida a obrigação. 7) LOCUS REGIT ACTUM o Brasil usa esse critério como regra geral para os contratos e obrigações: para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem (art. 9º). - A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o PROPONENTE (art. 9º, §2º). - Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato (art. 9º, §1º). - As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem (art. 11). #ATENÇÃO #JACAIU - Questão de concurso: Arnaldo Butti, cidadão brasileiro, falece em Roma, local onde residia e tinha domicílio. Em seu testamento, firmado em sua residência, Butti, que não tinha herdeiros naturais, deixou um imóvel localizado no Rio de Janeiro para Júlia, sua enfermeira, que vive no Brasil. Inconformada com a partilha, Fernanda, brasileira, sobrinha-neta do falecido, que há 2 anos vivia de favor no imóvel, questiona no Judiciário brasileiro a validade do testamento. Alega que, embora obedecesse a todas as formalidades previstas na lei italiana, o ato não seguiu todas as formalidades preconizadas pela lei brasileira. Nesse caso, Fernanda tem razão? NÃO tem razão em questionar a validade do testamento, pois o testamento se rege, quanto à forma, pela lei do local onde foi celebrado (“locus regit actum”). A sucessão testamentária rege-se pela lei do país em que era domiciliado o falecido (DDD), qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. Assim, a feitura do testamento é regulada pela lei da Itália. Ademais, a LINDB não veda a partilha de bens imóveis situados no Brasil por ato praticado no exterior, exceto quando ofenderem a ordem pública. 8) AUTONOMIA DA VONTADE em regra, é limitada pela ordem jurídica estatal. As partes só poderão escolher o direito aplicável a uma relação jurídica se o Estado permitir e dentro das condições que o respectivo ordenamento estabelecer. - No Brasil, AINDA NÃO É EXPRESSAMENTE RECONHECIDA COMO EC JURIDICAMENTE VÁLIDO. A regra geral para as obrigações é a do art. 9º: para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. - A Lei da Arbitragem (Lei 9.307/96) admite que as partes têm a opção de escolher livremente as normas aplicáveis ao processo arbitral, determinando que “poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública”. - A jurisprudência pátria já reconhece a autonomia da vontade, embora limitando-a diante da ordem pública. Exemplo disso é o julgado do STJ que destaca que “a eleição de foro estrangeiro é válida, exceto quando a lide envolver interesses públicos”. #ATENÇÃO: A lex damni, como espécie de elemento de conexão, indica que a lei aplicável deve ser a do lugar em que se tenham manifestado as consequências de um ato ilícito, para reger a obrigação de indenizar aquele que tenha sido atingido por conduta delitiva de outra parte em relação jurídica internacional. O Brasil efetivamente adotou a regra da lex damni, ou seja, aplica-se a lei do local onde se manifestaram as consequências do ato ilícito para reger a obrigação de indenizar. #SELIGANATABELA: Começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família Domicílio Impedimentos dirimentes e formalidades de celebração do casamento realizado no Brasil Lei brasileira (domicílio) Celebração do casamento de estrangeiros Perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes (nacionalidade) Invalidade do casamento, quando os nubentes tiverem domicílio diverso Primeiro domicílio conjugal (domicílio) Regime de bens matrimonial, legal ou convencional Domicílio dos nubentes (se for diverso, primeiro domicílio conjugal) Domicílio do cônjuge e dos filhos não emancipados Domicílio do chefe da família (salvo caso de abandono) Pessoa sem domicílio Residência ou onde se encontrar Bens (para qualificá-los e reger as relações a ele concernentes) Onde estão situados (lex rei sitae) Bens móveis trazidos ou destinados a transporte para outros lugares Domicílio do proprietário Penhor Domicílio do possuidor da coisa apenhada Obrigações (para qualificá-las e regê-las) Onde se constituírem (locus regit actum) Obs.: a obrigação contratual reputa-se constituída no local de residência do PROPONENTE Sucessão por morte ou por ausência Domicílio do defunto ou desaparecido (DDD), qualquer que seja a natureza e a situação dos bens Sucessão de bens estrangeiros situados nos Brasil Lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus Capacidade para suceder Domicílio do herdeiro ou legatário Organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações Onde se constituírem (locus regit actum) Réu domiciliado no Brasil ou quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil Autoridade judiciária brasileira (domicílio ou lex loci executionis) Ações relativas a imóveis situados no Brasil Autoridade judiciária brasileira (lex rei sitae) Celebração do casamento de brasileiros e atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado Autoridadesconsulares brasileiras (nacionalidade) #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Aplica-se a lei brasileira para reger a sucessão de bem imóvel situado no exterior? A Justiça brasileira é competente para julgar inventário e partilha de bem imóvel localizado em outro país? NÃO. Ainda que o domicílio do autor da herança seja o Brasil, aplica-se a lei estrangeira da situação da coisa (e não a lei brasileira) na sucessão de bem imóvel situado no exterior. O art. 10 da LINDB afirma que a lei do domicílio do autor da herança regulará a sucessão por morte. Ocorre que essa regra não é absoluta e deverá ser interpretada sistematicamente, ou seja, em conjunto com os demais dispositivos que regulam o tema, em especial o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o art. 89 do CPC 1973 (art. 23 do CPC 2015). Desse modo, esses dispositivos revelam que a lei brasileira só se aplica para os bens situados no Brasil e autoridade judiciária brasileira somente poderá fazer o inventário dos bens imóveis aqui localizados. Mas no caso em que há um bem imóvel no Brasil e outro no exterior, como fazer? Deverão ser abertos dois inventários: um aqui no Brasil para reger o bem situado em nosso território e outro no exterior para partilhar o imóvel de lá. STJ. 3ª Turma. REsp 1.362.400-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 28/4/2015 (Info 563). * É possível, em processo de dissolução de casamento em curso no país, que se disponha sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de bens da sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha reflexos sobre bens situados no exterior para efeitos da referida partilha. STJ. 4ª Turma. REsp 1.552.913-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 8/11/2016 (Info 597) São admitidos como recursos de integração ao direito, de acordo com a LINDB, o costume, a analogia e os princípios gerais de direito. Além do estudo desses elementos e objetos de conexão, faz-se imprescindível analisar outros institutos básico do Direito Internacional Privado: 1) QUALIFICAÇÃO é o ato pelo qual é delimitado o objeto de conexão. É a operação pela qual o juiz, antes de decidir, verifica, mediante a prova feita, a qual instituição jurídica correspondem os fatos realmente provados. Ocorre antes da escolha da norma aplicável, pois requer a conceituação e a classificação de um instituto jurídico. - Uma vez realizada, o juiz examinará a instituição qualificada à luz dos EC para determinar a norma aplicável a um caso concreto. JUIZ DEVE, EM PRIMEIRO LUGAR, QUALIFICAR O INSTITUTO PARA, DEPOIS, APLICAR A LEI! QUALIFICAÇÃO PELA LEX FORI QUALIFICAÇÃO PELA LEX CAUSAE O juiz deve qualificar o instituto nos termos do seu próprio ordenamento. Predomina no Brasil. O instituto deve ser qualificado à luz da lei estrangeira. - Para qualificar os BENS e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados (art. 8º). - Para qualificar e reger as OBRIGAÇÕES, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem (art. 9º). Instituto Informações Relevantes Qualificação Delimitação do objeto de conexão; É uma ação anterior à escolha da norma aplicável; Teoria: qualificação pela lex fori, pela lex causae e por referência a conceito: autônomos e universais; Regra geral: qualificação pela lex fori; Tipos de qualificação: qualificação de primeiro grau e de segundo grau 2) ORDEM PÚBLICA as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a ORDEM PÚBLICA, a SOBERANIA NACIONAL e os BONS COSTUMES (art. 17). - Ordem pública princípios fundamentais da ordem jurídica interna ou noções basilares da própria estrutura do Estado. - Soberania nacional autoridade suprema do Estado em seu território e a sua independência. - Bons costumes são aqueles que se extraem dos preceitos de ordem moral. - Rechsteiner divide a “reserva de ordem pública” em gerais e especiais. As reservas gerais abrangem todas as possibilidades de aplicação da norma estrangeiro e estão consagradas, no Brasil, por preceitos como o do art. 17 da LINDB. As reservas especiais referem-se apenas a uma determinada matéria, do que é exemplo o art. 7º, §6º da LINDB. #VOCÊSABIA? A ordem pública tem aplicação em 3 níveis 1º nível DIREITO INTERNO. Garante o império de determinadas regras jurídicas, impedindo que sua observância seja derrogada pela vontade das partes, como as leis de proteção aos menores. 2º nível PLANO INTERNACIONAL. Impede a aplicação de leis estrangeiras indicadas pelo elemento de conexão, caso essas atentem contra tal princípio. 3º nível RECONHECIMENTO DE DIREITOS ADQUIRIDOS NO EXTERIOR. Apesar do Judiciário não reconhecer certos direitos adquiridos do exterior, por atentarem contra a ordem pública, é possível que reconheça as conseqüências jurídicas de tais atos. Ordem Pública Aspectos fundamentais de um ordenamento jurídico e da própria estrutura do Estado e da sociedade; O choque com a ordem pública impede a aplicação da norma estrangeira. 3) REENVIO é o instituto pelo qual o DIP de um Estado remete às normas jurídicas de outro Estado, e as regras de DIP deste indicam que uma situação deve ser regulada ou pelas normas de um terceiro Estado ou pelo próprio ordenamento do primeiro Estado. - Reenvio de primeiro grau: O ordenamento do Estado A indica a ordem jurídica de um Estado B como aplicável a um caso, e o direito deste Estado B determina como incidente na situação a ordem jurídica do Estado A. Fica assim: A B A. - Reenvio de segundo grau: O ordenamento do Estado A determina a aplicação do ordenamento do Estado B, o qual manda aplicar o direito de um Estado C. Fica assim: A B C. #IMPORTANTE: O Brasil não permite o reenvio: quando se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, SEM CONSIDERAR QUALQUER REMISSÃO POR ELA FEITA A OUTRA LEI (art. 16). - Assertiva de concurso: há reenvio de 1º grau quando o DIP do país A indica o direito do país B como o aplicável, e o DIP do país B, sob o seu ponto de vista, indica o direito do país A como o aplicável. Reenvio Ocorre quando o direito Internacional Privado de um Estado remete às normas de Direito Internacional Privado de outro estado e estas remetem a questão às normas indicativas de um terceiro Estado ou às do primeiro Estado; Em geral, o Brasil não permito o reenvio; #ATENÇÃO: Portela ressalta que há entendimento no sentido de que é possível um caso de reenvio: A Constituição determina que seja aplicada favor do cônjuge ou filhos brasileiros a lei pessoal do de cujos, se mais favorável. Argumenta-se, assim, que se a lei pessoal do de cujos tiver reenvio de segundo grau e se a lei do terceiro estado for mais benéfica, é possível admitir o reenvio. 4) DIREITO ADQUIRIDO o direito adquirido sob a égide de um ordenamento jurídico estatal acompanha a pessoa em outro Estado e é neste reconhecido (reconhecimento da soberania estatal), salvo se ofender a ordem pública. Ex.: os direitos adquiridos relacionados a um casamento poligâmico não podem ser reconhecidos no Brasil, já que existe impedimento legal para este reconhecimento. Direito adquirido O direito em um Estado pode ser reconhecido em outro se não se chocar com a ordem pública deste último. #QUADRO-RESUMO (livro Portela): Elemento de conexão Informações relevantes Domicílio Aplica-se aos conflitos de leis a norma do domicílio de uma das partes; Principal elemento de conexão adotado no Brasil; Artigos da LINDB: 7, pars. 1º, 3º e 4º; 8, pars. 1º e 2º; 10 caput e par. 2º; 12. Nacionalidade Aplica-se aos conflitos de leis e normas do Estado de nacionalidade de uma das partes; Artigos da LINDB: 7, par. 2º; 18 Lex fori Aplica-se a lei do lugar onde se desenvolve a relação jurídica; Regra referente à própria aplicação do Direito Internacional Privado; Lex rei sitae Aplica-se a norma do lugar onde está situadaa coisa; Artigos da LINDB: 8; 10, par. 2º; 12, par. 1º; Artigo da CF: 5º, XXXI; Arigos da LINDB com exceções a esse critério: 7, caput; 8, pars. 1º, e 2º; 10, caput. Lex loci delicti comissi Aplica-se a norma do lugar onde o ilícito foi cometido. Lex loci execucionis/lex loci solutionis Aplica-se a norma do local de execução de um contrato ou de uma obrigação; Artigo da LINDB: 12; Artigo 3 da Lei 7.064/82 (salvo norma mais favorável). Locus regit actum/lex loci contractus/lugar de constituição da obrigação Aplica-se a norma do lugar em que a obrigaçõa foi contraída; Artigo da LINDB: 9º, caput, e par. 2º; Artigo do CPC: 585, par. 2º. Autonomia da vontade As próprias partes escolham o direito aplicável a uma relação privada com conexão internacional; Pode ou não ser admitida e é normalmente limitada pelo ordenamento que a permite; No Brasil: sem previsão expressa na lei, salvo na LINDB (art. 7º, par. 5º) e na Lei 9.307/96 (Lei de arbitragem – art. 2º, par. 1º) 3. DISPOSITIVOS LEGISLAÇÃO DIPLOMA DISPOSITIVOS LINDB Art. 7º ao art. 19
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