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HISTÓRIA DA ASTRONOMIA Cronologia Gilberto Henrique Buchmann Introdução Esta cronologia apresenta os principais fatos que, desde antes da invenção da escrita até nossos dias, fazem a história da astronomia (e, mais recentemente, também da astronáutica). A partir da presente versão, este trabalho passa a se chamar “História da Astronomia” (antes era “Seis Mil Anos de História do Céu”). A mudança de nome justifica-se por um duplo motivo. Inicialmente, a “História da Astronomia” tem agora dimensões que permitem compará-la com livros de história respeitáveis. Com a contínua inserção de fatos, tanto atuais quanto passados, cada versão tem sido ampliada em dezenas de páginas, o que ocorre de novo em 2013. Este ano, os fatos “novos” incluídos referem-se sobretudo a: disco de Nebra (c. 1600 a.C., Galileu Galilei (1590, 1623, 1632, 1633, 1638), Operação paperclip (1945), Guerra Fria (1947), corrida espacial (1957-1975) e diversos acontecimentos de 2011 e 2012. Ademais, com as referências ao círculo de Goseck (c. 4900 a.C.) agora incluídas, este trabalho passa a abranger sete mil anos de história do céu. Apesar de não ser um livro no sentido estrito, pois não foi formalmente editado e não está à venda, “História da Astronomia” é um trabalho em nível profissional. O autor, autodidata em astronomia há mais de três décadas, realizou uma pesquisa extremamente cuidadosa, escreveu com atenção cada palavra, a fim de atingir a precisão de linguagem exigida nos textos científicos sérios. Não obstante ser uma cronologia, não se trata de uma simples enumeração de fatos: eles são explicados, embora sumariamente. Considerações detalhadas acerca de determinados tópicos extrapolariam os objetivos deste trabalho, mas ele é um guia seguro e confiável para quem pretender conhecer a história da astronomia. As bases estão aqui, podendo servir de pontos de partida para pesquisas mais aprofundadas. Além disso, termos técnicos ou próprios do jargão astronômico são explicados sempre que necessário, a fim de que também leigos possam ler e, muito mais importante, compreender este trabalho. Afinal, se o objetivo é divulgar a astronomia, não se pode, sob nenhuma hipótese, utilizar linguagem restrita ao nível acadêmico. A solução adotada é, portanto, utilizar, sim, termos técnicos, mas torná-los compreensíveis a todos. No que concerne ao conteúdo, esta versão não apresenta alterações. Com o intuito de evitar repetições enfadonhas e tendo em vista manter esta exposição dentro de limites razoáveis, observa-se sempre o critério do interesse histórico ou científico, incluindo-se somente os acontecimentos que trazem novidades e contribuem, efetivamente, para a evolução do pensamento humano e da tecnologia no que concerne à ciência dos astros. Ficam de fora, por esse critério, os inúmeros objetos celestes (galáxias, estrelas, cometas, asteroides, exoplanetas...) descobertos todos os anos, a não ser que a descoberta signifique algo novo ou, por alguma razão, esteja revestida de importância especial. Estão excluídos, pelo mesmo motivo, os milhares de satélites (de telecomunicações, militares, de estudo do clima, etc.) lançados nas últimas décadas, exceção feita àqueles cujo papel é relevante. Ademais, considerando-se que a intenção aqui é ressaltar os fatos, não os cientistas, estão ausentes desta cronologia referências diretas às datas de nascimento ou de morte dos pesquisadores. Contudo, sendo essas informações importantes para uma melhor compreensão e contextualização dos acontecimentos apresentados, elas são colocadas, sempre que possível, entre parênteses. Embora o tema tratado aqui seja astronomia, descobertas muito relevantes em outros campos científicos (física e química, por exemplo) podem ser abordadas, desde que contribuam para aprimorar o conhecimento astronômico humano. Um exemplo é a antimatéria, essencial para compreender a estrutura e a dinâmica do Universo. E registre-se que a astronomia e a física estão tão ligadas que denomina-se astrofísica ao estudo do Universo em todos os seus aspectos. Informamos que esta cronologia continuará sendo constantemente atualizada: uma nova versão estará disponível no final de cada ano. Seu único objetivo é divulgar a astronomia entre aqueles que apreciam essa ciência. Assim sendo, a distribuição é totalmente livre, desde que gratuita e desde que sejam mantidos o nome do autor e as fontes de pesquisa colocadas no final. Considerando que o autor não tem site pessoal nem o menor desejo de criar um, solicita-se a quem puder ou quiser colaborar que coloque este trabalho na internet. E tanto melhor se forem vários os sites, pois assim “História da Astronomia” poderá chegar a mais e mais pessoas, o que é, em essência, a intenção do autor. Agradecimentos a quem divulgar. Gilberto Henrique Buchmann História da Astronomia Cronologia Gilberto Henrique Buchmann c. 4900 a.C. - Construção do círculo de Goseck, uma estrutura megalítica situada na localidade de Goseck, distrito de Burgenlandkreis, Estado da Alta Saxônia (Sachsen- Anhalt), Alemanha. Trata-se de um conjunto de fossos concêntricos com 75m de extensão e dois anéis de paliçadas com portões colocados em lugares alinhados com o nascer e o pôr do sol nos dias de solstício. É a mais antiga estrutura conhecida com alinhamentos astronômicos desse tipo. Pensa-se que tenha sido utilizado por aproximadamente dois séculos e abandonado depois, embora não se conheçam os motivos desse abandono. Supõe- se que servia para acompanhar o curso do sol ao longo do ano, com o objetivo de elaborar calendários lunares simples. Escavações revelam a existência de fogueiras rituais, ossos de animais e humanos, bem como um esqueleto sem cabeça nas proximidades de um dos portões, o que costuma ser interpretado como traços de sacrifícios humanos ou de ritos fúnebres. Ao longo dos séculos posteriores, são construídas outras estruturas com alinhamentos semelhantes na Europa Central, em regiões adjacentes aos rios Elba e Danúbio. Descoberto em 1991 a partir de fotografias aéreas, o Círculo de Goseck é aberto ao público em 21 de dezembro (solstício de inverno) de 2005. Quinto milênio a.C. – Os círculos de pedra de Nabta Playa (localizados no deserto da Núbia, 800km ao sul do atual Cairo) demonstram a importância da astronomia na vida religiosa da antiga civilização egípcia. Pesquisas modernas sugerem que podem ter constituído um calendário pré-histórico, marcando o solstício de verão. Outros estudiosos acreditam ter existido neles um alinhamento com estrelas da constelação de Órion conforme apareciam na configuração celeste da época. 3761 a.C. (7 de outubro) – Esta é, para os judeus, a data da criação do mundo, sendo o calendário judaico (ou hebraico) contado a partir de então, embora tenha sido criado e adotado muito tempo depois, tendo a versão definitiva sido estabelecida no século IV d.C. O ano civil judaico tem de 353 a 355 dias, divididos em 12 meses lunares (os meses começam sempre na Lua nova). Para ajustar esse calendário ao ano solar, intercala-se um mês suplementar nos anos 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º ao longo de 19 anos. Há, assim, um total de 383 a 385 dias no ano da intercalação. Os meses são tishrei, jeshván, kislev, tevet, shevat, adar, nisán, iyar, siván, tamuz, av e elul. C. 3500 a.C. – Surgem no Egito os relógios de sol, primeiros instrumentos humanos capazes de dividir o dia em partes. Um tipo de relógio de sol encontrado consiste de uma longa haste vertical marcada e uma barra horizontal no topo, a qual projeta sombra sobre as marcas da haste. É orientado para leste pela manhã e voltado para oeste ao meio-dia. Por esta mesma época são construídos os primeiros obeliscos, monumentos alongados de pedra em forma de pilar, quadrados na base e afunilados no topo, que também indicam a passagem do tempo projetando sombra sobre marcas especialmente colocadas; permitem também saber se é manhã ou tarde, bem como determinar os solstícios de inverno e de verão. 3114a.C.(11 de agosto) – Data mítica a partir da qual é computado o calendário maia. Trata-se, na verdade, de um calendário sagrado (tzolkin ou Tzolk'in) de 260 dias (dia = k'in), divididos em 13 ciclos (um ciclo = winal ou uinal) de 20 dias, e um calendário civil (haab) de 365 dias, divididos em 18 meses de 20 dias mais cinco dias adicionais (wayeb ou uayeb). O calendário sagrado é utilizado para celebrar cerimônias religiosas, prever a chegada e a duração dos períodos de chuva, determinar os períodos de caça e pesca, prognosticar o destino das pessoas. A cada 18.980 dias (aproximadamente 52 anos solares), ambos os calendários coincidem (18.980 é o mínimo múltiplo comum de 260 e 365), fechando um ciclo denominado ciclo calendárico ou roda calendárica. Para períodos de tempo superiores a 52 anos, alguns povos da América Central (maias incluídos) usam a contagem longa, um calendário vigesimal não repetitivo cujas datas são escritas com números de 1 a 20 (ou 1 a 18) separados por pontos. Esses números correspondem aos períodos da contagem longa: 20 k'ins (dias) = 1 winal; 18 winals = 1 tun; 20 tuns = 1 k'atun; 20 k'atuns = 1 b'ak'tun; 20 b'ak'tuns = 1 piktun. Em 21 de dezembro de 2012, tem início um novo b'ak'tun (13.0.0.0.0), o que leva algumas seitas e muitos indivíduos a prognosticar o fim do mundo, com significativa cobertura da mídia. O próximo ciclo completo da contagem longa, com mudança de piktun (1.0.0.0.0.0), terá início em 13 de outubro de 4722. 3000 a.C. – Está em vigor no Egito um calendário com 365 dias. Mas o ano propriamente tem apenas 12 meses de 30 dias (360 dias) divididos em três quadrimestres correspondentes às três estações regidas pelo Nilo: Cheia, Plantio e Colheita. No fim do 12º mês, são acrescentados cinco dias suplementares que não entram no cômputo oficial dos dias. Esse é um calendário solar (o primeiro de que se tem notícia), e o mês nele não mantém sincronia com as fases da Lua. A necessidade de elaborar calendários deve-se à descoberta da agricultura: é preciso ser capaz de estabelecer o tempo certo para o plantio e a colheita. Terceiro milênio a.C. – Na Mesopotâmia, os sumérios inventam o sistema numérico de base sexagesimal (usado, por exemplo, para dividir uma hora em 60 minutos e umminuto em 60 segundos) e a divisão do círculo em 360 graus, cada um deles dividido, por sua vez, em 60 minutos. Terceiro milênio a.C. – O alinhamento preciso das pirâmides com a estrela polar, que então era Thuban, estrela de brilho fraco da constelação do Dragão distante da Terra 305 anos- luz, demonstra a elevada habilidade dos egípcios para observar o céu. (Para mais informações sobre a estrela polar, ver 2008, 4 de fevereiro.) Alguns templos também têm alinhamentos especiais, como o de Amon-Rá em Karnak, alinhado com o nascer do sol no meio do inverno: nessa época do ano, os primeiros raios solares do dia seguem precisamente ao longo de um corredor. 2636 a.C. (15 de fevereiro) – Data a partir da qual começa a contagem do tempo no calendário chinês. Trata-se de um calendário lunissolar. Cada ano tem doze lunações, num total de 354 dias. Para que não se perca a sincronia com o ciclo solar (de 365,25 dias), a cada oito anos são acrescentados noventa dias (aproximadamente três lunações). Os anos começam sempre em uma lua nova, entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro. Considerando um ciclo de doze anos, cada ano é dedicado a um animal: "shu" ? (rato), "neo" (boi), "hu" (tigre), "tu" (coelho), "long" (dragão), "she" (serpente), "ma" (cavalo), "yang" (carneiro), "rou" (macaco), "di" (galo), "gou" (cão), "zhu" (porco). 2317 a.C. – Primeiro registro conhecido da passagem de um cometa, que se encontra nos anais astronômicos chineses. c. 2000 a.C. – Os chineses descobrem que Júpiter leva cerca de 12 anos para completar uma órbita ao redor do Sol (valor correto: 11,86 anos). Segundo milênio a.C. – A ideia de um Sistema Solar heliocêntrico é possivelmente sugerida pela primeira vez na literatura védica da antiga Índia, que com frequência faz referência ao Sol como o “centro das esferas”. Segundo milênio a.C. – Astrônomos babilônios identificam os planetas interiores Mercúrio e Vênus, e os planetas exteriores Marte, Júpiter e Saturno, que permanecem os únicos planetas conhecidos até a descoberta de Urano, no final do século XVIII. Segundo milênio a.C. – Alguns rituais de bruxarias e encantamentos praticados pelos sumérios fazem referência à crença daquele povo na existência de vários céus e várias Terras. c. 1930 a.C. – Termina a construção de Stonehenge (cuja última fase de edificação tem início por volta de 2280 a.C.), possível observatório astronômico megalítico, localizado no condado de Wiltshire, 13km ao norte de Salisbury, na Inglaterra, onde supõe-se terem sido feitas observações do Sol e da Lua. Stonehenge, formado por grandes blocos distribuídos em quatro circunferências concêntricas, é um local envolto em mistério, não tendo ainda sido definida a sua finalidade principal. As três teorias mais aceitas apontam-no como observatório astronômico, templo ou monumento funerário. Século XVII a.C. – Período provável da elaboração, pelos babilônios, da Tábua de Vênus de Ammisaduqa, o primeiro registro disponível do reconhecimento de que os fenômenos astronômicos são periódicos e podem ser previstos matematicamente. Trata-se de um retângulo de argila com 17,14 x 9,2cm e espessura de 2,22cm, em que estão registradas as observações, ao longo de 21 anos, dos últimos momentos de visibilidade de Vênus no horizonte antes ou depois do nascer ou do pôr do sol (nascer e pôr helíaco de Vênus). O nome deve-se ao fato de ter sido compilada no governo de Ammisaduqa ou Ammizaduga), quarto rei depois de Hamurábi. c. 1600 a.C. - É fabricado o disco de Nebra (ou disco celeste de Nebra), a mais antiga representação do firmamento (abóbada celeste) que se conhece. Trata-se de uma placa de bronze com aplicações em ouro, quase esférica (32 x 31cm), espessura que aumenta da borda (1,5mm) para o centro (4,5mm), arqueada e ligeiramente côncava, com peso de 2,050kg. O disco representa o Sol, a Lua e estrelas, entre as quais estão, segundo alguns astrônomos, as Plêiades. Os ângulos entre o nascer e o pôr do sol são compatíveis com aqueles observados entre os solstícios de verão e de inverno na latitude em que foi confeccionado, o que pressupõe conhecimentos astronômicos avançados. De acordo com o astrônomo alemão Wolfhard Schlosser, da Universidade Ruhr de Bochum, os europeus da Idade do Bronze já sabiam o que os babilônios descreveriam mil anos mais tarde. Encontrado em 1999 durante uma escavação ilegal e vendido no mercado negro (o que rendeu uma condenação judicial aos descobridores, Henry Westphal and Mario Renner), o disco está atualmente no Landesmuseum für Vorgeschichte (Museu do Estado para a Pré- História), em Halle, Alemanha. O nome pelo qual é conhecido deve-se ao local do descobrimento: Monte Mittelberg, , perto de Nebra, no Estado alemão da Alta Saxônia (Sachsen-Anhalt). Em junho de 2013, o disco de Nebra é incluído pela UNESCO no programa Memória do Mundo. Século XVI a.C. – Descrição mais antiga conhecida de um relógio de água, encontrada no túmulo do oficial egípcio Amenemhet, indicado como inventor do instrumento. O relógio de água, que os gregos mais tarde chamarão de clepsidra, funciona por meio do escoamento de água de um recipiente com pequenos orifícios no fundo. Marcas nas laterais do recipiente permitem saber o tempo transcorrido quando a superfície da água está nivelada com elas. Os relógios de água são um grande avanço em relação aos relógios de sol, porque marcam o tempo também durante a noite e os dias nublados. Há ainda as ampulhetas, que usam areia em vez de água. 1361 a.C. – Os anais astronômicos chineses registram a observação de um eclipse solar, o primeiro a ser documentado por qualquer povo de que se tem notícia. Ocorre um eclipse solar quando a Lua passa entre o Sol e a Terra e bloqueia a luz solar,total ou parcialmente. Isso só pode acontecer na lua nova, quando o Sol e a Lua estão em conjunção conforme vistos da Terra. Um eclipse solar pode ser total, parcial ou anular. Um eclipse lunar, por outro lado, ocorre quando a Terra passa entre o Sol e a Lua, impedindo que a luz da estrela chegue ao satélite. Isso pode acontecer apenas quando Sol, terra e Lua estão alinhados, com a Terra no meio. Um eclipse lunar pode ocorrer apenas em noites de lua cheia. Contrariamente ao eclipse solar, que é visível apenas ao longo de uma área relativamente pequena do globo terrestre, um eclipse lunar pode ser visto de qualquer lugar do mundo onde seja noite. Um eclipse lunar dura algumas horas, enquanto um eclipse solar dura apenas alguns minutos, devido ao pequeno tamanho da sombra da Lua. Um eclipse lunar pode, diferentemente de um eclipse solar, ser observado sem proteção para os olhos ou qualquer outra precaução. Século VIII a.C. – Na Babilônia, durante o reinado de Nabonassar (747-734 a.C.), o registro sistemático de fenômenos considerados como mau agouro em diários astronômicos permite que seja descoberto o Saros, intervalo de 323 meses sinódicos, ou 6.585,321 dias (18 anos, 11 dias e 8 horas), após o qual a Terra, o Sol e a Lua retornam, aproximadamente, às mesmas posições relativas. Isso permite prever eclipses do Sol e da Lua: um saro depois de um eclipse, outro eclipse idêntico, ou quase idêntico, ocorre, configurando uma espécie de ciclo de eclipses. Século VIII a.C. – Na Ilíada e na Odisseia, de Homero (os mais antigos exemplos da literatura grega que se conhecem), são mencionadas as constelações do Cocheiro, de Órion e da Ursa Maior, os aglomerados estelares das Plêiades e das Híades e a estrela Sirius. 753 a.C. – Segundo a lenda, Rômulo e Remo (filhos de Rhea Silvia, filha de Numitor, rei de Alba Longa) fundam a cidade de Roma, iniciando-se, então, o calendário Romano. Conforme esse calendário, o ano civil consta de 304 dias divididos em 10 meses, dos quais seis têm 30 dias e quatro, 31. Março é o primeiro mês do ano, seguindo-se Abril, Maio, Junho, quintilis, sextilis, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Possivelmente 713 a.C. – Numa Pompílio, o segundo rei de Roma (717-673 a.C.), introduz os meses de Janeiro e Fevereiro no calendário Romano e, desse modo, o ano civil passa a ter 355 dias, começando em Março e terminando em Fevereiro. 700 a.C. – Os chineses já têm registros com anotações precisas sobre meteoritos e cometas. Século VII a.C. – Época provável em que os babilônios dividem o zodíaco (Kyklos zokiakos, do grego, que significa círculo de animais) em um círculo com doze divisões de trinta graus cada uma, ao longo da eclíptica, que é a trajetória aparente do Sol entre as estrelas conforme vista da Terra. Ao longo de um ano, o Sol (visto da Terra) passa pelas constelações que, na esfera celeste, correspondem ao zodíaco. Na época do estabelecimento do zodíaco pelos babilônios, as constelações zodiacais são doze (correspondentes, na astrologia, aos doze signos); atualmente, com o rearranjo dos limites das constelações, este número sobe para treze (entre Escorpião e Sagitário, o Sol passa também pelo Serpentário). É importante observar, portanto, que as datas dos signos astrológicos do zodíaco não correspondem exatamente às datas em que o Sol passa pelas constelações zodiacais. 613 a.C. (julho) – A passagem de um cometa, possivelmente o Halley, é registrada pelos anais astronômicos chineses. Século VI a.C. – O filósofo grego Tales de Mileto (624-546 a.C.) introduz na Grécia os fundamentos da geometria e da astronomia, trazidos do Egito. Pensa que a Terra é um disco plano em uma vasta extensão de água que, para ele, é considerada como substância primordial do Universo. Século VI a.C. – O filósofo grego Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.) concebe os astros (planetas, Sol, Lua, estrelas fixas) como sendo rodas de fogo girando em torno da Terra, considerada como um cilindro que flutua no ar, sem nada a suportá-la, e cuja altura corresponde a um terço de seu diâmetro. Embora rudimentar, este é o primeiro modelo mecânico do Universo que se conhece. Anaximandro também é o primeiro a considerar o Universo eterno (sem começo ou fim) e infinito em extensão. Século VI a.C. – O filósofo grego Anaxímenes de Mileto (585-528 a.C.), discípulo de Anaximandro, concebe a Terra e todos os corpos celestes como sendo feitos de ar. Acredita que, à medida que a densidade do ar muda, outros elementos vão sendo formados: ar mais rarefeito produz fogo, enquanto ar mais denso gera vento e depois, sucessivamente, água, terra e pedra. Anaxímenes é o primeiro a apresentar a ideia de que as estrelas são fixas, presas a esferas cristalinas que giram em torno da Terra. Século VI a.C. – O filósofo e matemático grego Pitágoras de Samos (c. 570-c. 495 a.C.) acredita na esfericidade da Terra, da Lua e de outros corpos celestes. Estuda os movimentos dos planetas. Ensina que o número é a essência de todas as coisas e postula que os movimentos dos corpos celestes obedecem a escalas harmônicas, como as notas musicais. Parece haver sido o primeiro a reconhecer que a estrela matutina (Hesperus) e a estrela vespertina (Phosphorus) são o mesmo planeta: Vênus. Alguns estudiosos atribuem a ele uma constatação análoga ao determinar que Apolo (corpo celeste visível pela manhã) e Hermes (visível à tarde) são o mesmo astro: Mercúrio. Os seguidores de Pitágoras exercem grande influência no desenvolvimento da astronomia grega clássica. Século VI a.C. – O filósofo grego Xenófanes (570-475 a.C.) acredita que a Terra é plana, que o Sol é novo a cada dia e que os corpos celestes (exceto a Lua) são constituídos de aglomerados de fogo. 585 a.C. (28 de maio) – Eclipse do Sol previsto, segundo a tradição, por Tales de Mileto. Trata-se da primeira referência conhecida à previsão de um eclipse solar. Século V a.C. – O filósofo grego Anaxágoras (c. 500-428 a.C.) ensina que “O Sol é pelo menos tão grande quanto o Peloponeso”. Postula que a Lua é parecida com a Terra e tem montanhas, planícies e vales. Explica os eclipses lunares como sendo causados pela sombra da Terra. Por suas ideias, é acusado de impiedade (ateísmo) e condenado à morte. Contudo, por influência de Péricles, a condenação é convertida em exílio em Lâmpsaco, colônia de Mileto, onde permanece até o fim da vida. Século V a.C. – O filósofo grego Filolau de Tarento – ou de Crotona – (470-385 a.C.) é o primeiro a sugerir que a Terra não é o centro do universo. Ele elabora a hipótese da existência de um fogo central representando o centro de seu Universo esférico. Esse fogo de Héstia (Héstia era a Deusa da lareira sagrada, nas casas e nos edifícios públicos) é invisível, pois está sempre encoberto pelo Sol. Além do mais, ele é envolvido por dez esferas concêntricas representando, respectivamente: Terra, Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, antiTerra (antichthon – planeta sempre oculto para os terráqueos e situado do outro lado do Sol) e estrelas. Para Filolau, o Sol (visível) é um reflexo do fogo central (invisível), e cada uma dessas esferas gira de oeste para leste, completando uma revolução no período correspondente ao do astro que ela representa. Século V a.C. – O filósofo grego Demócrito (460-370 a.C.) postula que a Terra é redonda e que a Via Láctea é composta de estrelas distantes. acredita também haver montanhas elevadas e vales profundos na Lua. Atomista, concebe a matéria como sendo formada por pequenas partículas indivisíveis e indestrutíveis (os átomos) que podem se unir para formar corpos maiores. Século V a.C. – É compilado o “Gan Shi Xing Jing”, o mais antigo catálogo estelar chinês que se conhece. 432 a.C. – O astrônomo e matemático grego Meton de Atenas propõe um ciclo (ciclo de Meton, ciclo metônico) segundo o qual 19 anos solares (6.240 dias) correspondem a 235 meses lunares. Isso significa que, aproximadamente a cada 19 anos, as fases da Lua se repetem.413 A.C. (27 de agosto) – Um eclipse lunar causa pânico em uma frota de Atenas e assim afeta o resultado de uma batalha na Guerra do Peloponeso. Os atenienses estão prontos a mover suas forças de Siracusa quando a Lua é eclipsada. Os soldados e marinheiros ficam assustados por este presságio celeste e relutam em partir. O comandante Nícias consulta o oráculo e adia a partida por 27 dias. Esta demora dá uma vantagem a seus inimigos de Siracusa, que então derrotam toda a frota e o exército ateniense e matam Nícias. Século IV a.C. – O filósofo grego Platão (427-347 a.C.) assenta as bases conceituais sobre as quais se fundamentam os estudos astronômicos durante muitos séculos, sendo as principais: 1. A Terra, que é esférica, é imóvel e está no centro do Universo (geoestatismo e geocentrismo). 2. Todos os movimentos dos astros devem ser circulares e uniformes. 3. Os astros não podem ter outro movimento ou mudança fora desse movimento circular (imutabilidade do céu). Em seus diálogos “Timaeus”, “Phaedo”, “República” e “Epinomis”, argumenta que a Terra, em sua imobilidade absoluta, é envolvida por quatro capas esféricas, sendo a primeira, de espessura igual a dois raios terrestres, composta do elemento água, e a segunda, composta do elemento ar, com a espessura de cinco raios terrestres e constituindo a atmosfera. Em seguida, há uma camada do elemento fogo, de dez raios terrestres, tendo em sua parte superior a quarta capa esférica, na qual se encontram as estrelas. Os sete astros então considerados planetas (Lua, Sol, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) evoluem entre a atmosfera e as estrelas. Século IV a.C. – O astrônomo e matemático grego Eudóxio de Cnido (408-355 a.C.), discípulo de Platão, formula um modelo planetário segundo o qual, basicamente, o movimento dos astros no Universo é consequência de um conjunto de 27 esferas homocêntricas à Terra, seguindo o esquema: quatro para cada um dos planetas (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), três para o Sol, três para a Lua e uma para as estrelas fixas. Essas esferas são assim distribuídas: o planeta se encontra fixo no equador de uma esfera que gira em torno da Terra. Por sua vez, os polos dessa esfera são deslocados por uma segunda esfera que gira em torno de um eixo normal ao plano da eclíptica. Uma terceira esfera, exterior às duas antecedentes, dá o movimento do planeta em relação ao céu das estrelas fixas. Por fim, uma quarta esfera é necessária (no caso dos planetas propriamente ditos, para explicar o seu movimento retrógrado, isto é, o movimento no qual o planeta, no céu das estrelas fixas, se move num determinado sentido até um “ponto estacionário”; depois, volta no sentido oposto até outro “ponto estacionário”, retornando então ao primeiro sentido, e assim por diante, formando laços (cúspides). É oportuno registrar que Eudóxio inventa a curva hipópede (resultante da intersecção de uma esfera com um cilindro) com o objetivo de explicar esse modelo planetário. Esta é a primeira teoria geocêntrica de que se tem registro. Eudóxio é o primeiro a fixar a duração do ano em 365 dias e 6 horas. Ele também compila (386 a.C.) um elenco das 47 estrelas mais brilhantes do céu, denominando-as conforme a posição que assumem na respectiva constelação. Por exemplo, Eudóxio escreve: “A estrela pequena do lado esquerdo da Águia”, “O joelho esquerdo de Ofiúco”, “A estrela no meio da cintura de Órion” e assim por diante.) um elenco das 47 estrelas mais brilhantes do céu, denominando-as conforme a posição que assumem na respectiva constelação. Por exemplo, ele escreve: “A estrela pequena do lado esquerdo da Águia”, “O joelho esquerdo de Ofiúco”, “A estrela no meio da cintura de Órion” e assim por diante. Século IV a.C. – O filósofo grego Hicetas de Siracusa (c. 400-335 a.C.) modifica o sistema de Filolau, postulando um movimento de rotação diurna da Terra em torno de seu eixo. Século IV a.C. – O astrônomo babilônio Kidinnu (morto c. 330 a.C.) talvez tenha descoberto a precessão dos equinócios, decorrente de uma ligeira rotação do eixo da Terra. O equinócio representa o ponto de intersecção da eclíptica (trajetória aparente do Sol entre as estrelas) com o equador celeste (círculo na esfera celeste que coincide com o equador terrestre), no qual os dias e as noites têm a mesma duração. Século IV a.C. – O grego Heráclides do Ponto (c. 390-c. 310 a.C.) propõe que a Terra gira em 24 horas, de oeste para leste, sobre seu próprio eixo, e que Vênus e Mercúrio orbitam o Sol, e não a Terra. Este é um modelo geo-heliocêntrico que será retomado, no século XVI, por Tycho Brahe. Século IV a.C. – O filósofo grego Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.) apresenta a mais influente de todas as teorias astronômicas gregas, que seria considerada verdadeira por quase dois mil anos. Segundo essa teoria, o Universo está dividido em dois estratos, um sublunar (ou infralunar) e outro extralunar (ou supralunar, ou ainda translunar). Na região abaixo da Lua ocorrem mudanças, estando as coisas e os seres vivos sujeitos à morte e à degeneração. Aí se encontram os cometas, que não passam de fenômenos atmosféricos, visíveis em forma de estrelas cadentes. A outra região estende-se para além da Lua, e nela nada jamais se transforma ou perece. Disso decorre que os planetas e as estrelas fixas pertencentes à região extralunar são regidos por leis distintas das que se aplicam à Terra e aos cometas. Essa região está permeada pelo éter, substãncia de caráter leve que não está sujeita a nenhum tipo de mudança (de temperatura ou de umidade, por exemplo) e para a qual o único movimento natural possível é o circular, porque o círculo representa a perfeição. A imutabilidade do éter se contrapõe à instabilidade dos quatro elementos existentes no mundo sublunar (terra, água, ar e fogo), e Aristóteles o considera, por isso, o quinto elemento, ou quintessência (diz-se também quinta-essência). Aristóteles formula ainda outros conceitos em astronomia. Sustenta que as fases lunares dependem de quanto da parte da face da Lua iluminada pelo Sol está voltada para a Terra. Explica também os eclipses: um eclipse solar ocorre quando a Lua passa entre a Terra e o Sol; um eclipse lunar ocorre quando a Lua entra na sombra da Terra. Aristóteles argumenta a favor da esfericidade terrestre, já que a sombra da Terra na Lua durante um eclipse lunar é sempre arredondada. Aperfeiçoa a teoria das esferas concêntricas de Eudóxio de Cnido, acrescentando-lhe outras esferas homocêntricas, perfazendo um total de 56. Ele admite ainda que além da esfera das estrelas fixas existe o Primum Mobile (Primeiro Móvel), acionado por Deus, o motor primordial e imóvel, e que além dele não há nem movimento, nem tempo e nem lugar. No tomo II do seu livro “De Caelo” (Dos Céus), propõe que “o Universo é finito e esférico, ou não terá centro e não pode se mover”. Século IV a.C. – O astrônomo grego Calipo de Cízico (c. 370-c. 300 a.C.), aluno de Eudóxio, aperfeiçoa o modelo de seu mestre, adicionando mais sete esferas (duas para o Sol, duas para a Lua, uma para Mercúrio, uma para Vênus e uma para Marte), com o objetivo de explicar os complicados movimentos de Mercúrio e de Vênus, já que estes têm um afastamento limitado em relação ao Sol. Ele também propõe uma pequena alteração no ciclo de Meton: segundo este modelo (ciclo de Calipo), a repetição das fases lunares ocorre a cada 76 anos (quatro ciclos de Meton) menos um dia. Contudo, cálculos modernos permitem afirmar que, enquanto o ciclo de Meton tem um erro de cinco minutos para mais na duração de um ano solar, o erro do ciclo de calipo é de onze minutos para menos, sendo, portanto, menos acurado. Século IV a.C. – O chinês Shi Shen faz o primeiro registro conhecido de manchas solares, que ele interpreta como sendo eclipses que se originam no centro do Sol e se deslocam para as regiões periféricas. Embora esteja errado, Shi reconhece as manchas pelo que são: fenômenos solares. Mancha solar é umaregião do Sol com temperatura mais baixa que a das áreas circunvizinhas e com intensa atividade magnética. Uma mancha solar típica consiste em uma região central escura (umbra) rodeada por uma área mais clara (penumbra). Uma única mancha pode medir 12.000km (quase o diâmetro da Terra), mas um grupo de manchas chega a alcançar 120.000km ou mais. Século IV a.C. – O grego Píteas (c. 350-c. 280 a.C.) é o primeiro a observar que as marés são causadas pela Lua. 365 a.C. – O astrônomo chinês Gan De parece haver observado o satélite Ganimedes do planeta Júpiter. Acredita-se ter sido ele também o primeiro astrônomo cujo nome se conhece a compilar um catálogo estelar. 365 a.C. – Aristóteles observa uma ocultação de Marte pela Lua e deduz que o Planeta Vermelho está mais distante da Terra que nosso satélite. Ocorre uma ocultação quando um corpo celeste é temporariamente escondido por outro, que se interpõe entre o primeiro e oobservador. Numa ocultação, o objeto maior (conforme visto da Terra) passa na frente do menor, ocultando-o completamente. É o contrário do trânsito, fenômeno em que um objeto menor passa na frente do maior e causa neste uma diminuição de brilho transitória. Século III a.C. – Os gregos Aristilo (morto c. 260 a.C.) e Timocáris (c. 320-c. 260 a.C.) elaboram um dos primeiros catálogos estelares que se conhecem, utilizado posteriormente por Hiparco para estabelecer a precessão dos equinócios. Século III a.C. – O astrônomo grego Aristarco de Samos (310-230 a.C.) é o primeiro a propor (c. 260 a.C.) que a Terra se move em volta do Sol (heliocentrismo), antecipando Copérnico em mais de 1.700 anos. No entanto, para defender seu modelo, tem de fazer duas suposições. A primeira delas é no sentido de justificar por que as estrelas parecem fixas, isto é, por que suas posições aparentes não mudam em consequência do movimento da Terra em torno do Sol. Essa imobilidade, afirma Aristarco, decorre da imensa distância em que se encontram as estrelas em relação à Terra. A sua segunda suposição não é original, já que havia sido considerada por Heráclides do Ponto, qual seja, a rotação da Terra em torno de seu eixo. Ademais, desenvolve um método para determinar as distâncias do Sol e da Lua à Terra e mede os tamanhos relativos da Terra, do Sol e da Lua. Chega à conclusão de que a distância Terra-Sol é de 8 milhões de km (valor correto: 149,6 milhões de km) e que a relação entre os diâmetros da Lua e do Sol é de 1/20 (valor correto: 1/400). Aristarco conclui ainda que as relações entre os diâmetros Lua-Terra e Terra-Sol valem, respectivamente, 1/3 e 1/7 (valores corretos: 1/3,67 e 1/109). Século III a.C. – Astrônomos babilônios desenvolvem modelos matemáticos que lhes permitem prever o movimento dos planetas diretamente, sem recorrer ao registro de observações passadas. A astronomia babilônia exerce influência direta sobre as posteriores realizações astronômicas grega e helenística, da Índia clássica, da Síria, de Bizâncio, islâmica, da Ásia Central e da Europa Ocidental. Século III a.C. – O grego Eratóstenes de Cirene (276-194 a.C.), diretor da Biblioteca de Alexandria de 236 a.C. até sua morte, é o primeiro a tentar medir (c. 240 a.C.) o diâmetro da Terra, determinando que a distância entre Alexandria e Siena (hoje Assuã, Egito) é pouco superior a 7° e que, levando em conta que um círculo completo mede 360°, a distância entre essas duas cidades corresponde a aproximadamente 1/50 da circunferência total da Terra, redutível depois ao diâmetro mediante a divisão pelo valor numérico de “pi” (3,141592653...). A circunferência terrestre calculada por Eratóstenes é de 39.690km (valor correto: 40.075km). Ademais, Eratóstenes provavelmente é o primeiro a construir (c. 255 a.C.) uma esfera armilar, modelo da esfera celeste concebido para mostrar o movimento aparente das estrelas ao redor da Terra (muitos séculos mais tarde, também ao redor do Sol). O nome vem do latim armilla (círculo, bracelete), uma vez que o instrumento é composto por diversos círculos graduados que mostram a eclíptica, o equador, os meridianos e os paralelos astronômicos. As esferas armilares são empregadas sobretudo no ensino de astronomia. Século III a.C. – O matemático grego Apolônio de Perga (262-190 a.C.) explica o movimento dos planetas no céu das estrelas fixas, usando para isso o sistema epiciclo- deferente, sistema em que o centro de um círculo menor (epiciclo) se desloca ao longo de um círculo maior (deferente). O epiciclo representa o movimento circular do planeta, e o deferente é um círculo em cujo centro situa-se o astro em torno do qual orbita o planeta. c. 275 a.C. – O grego Arato (310-240 a.C.), nascido na Cilícia, conclui “Fenômenos”, um dos poemas didáticos mais importantes do período helenístico. Em 1.154 versos hexâmetros, “Fenômenos” descreve o firmamento e as constelações então conhecidas. Séculos mais tarde, diversas traduções são feitas para o latim, destacando-se as de Cícero, Varrão e Ovídio. 240 a.C. – Anais chineses fornecem detalhada descrição da passagem de um cometa. Não é certo que as observações se refiram ao cometa Halley, mas, segundo cálculos modernos, ele passa pela Terra em maio. 238 a.C. – Ptolomeu III (faraó de 246 a 222 a.C.) tenta adicionar ao calendário egípcio um dia a cada quatro anos, mas essa medida não chega a ser implementada. Século II a.C. – O filósofo e astrônomo babilônio Seleuco da Selêucia (c. 190-c. 150 a.C.) ensina a teoria heliocêntrica de Aristarco de Samos e estuda os movimentos dos planetas de acordo com esse modelo. Segundo o geógrafo grego Estrabão (c. 63 a.C.-c. 24 d.C.), Seleuco é o primeiro a afirmar que o universo é infinito, que as marés se devem à atração exercida pela Lua e que a altura das marés depende da posição da Lua relativamente ao Sol. Século II a.C. – O grego Hiparco de Niceia (c. 190-c. 120 a.C.), considerado o maior astrônomo da era pré-cristã, constrói um observatório na ilha de Rodes, onde faz observações durante o período compreendido entre 162 e 127 a.C. Suas observações lhe permitem compilar (c. 135 a.C.) um catálogo com a posição no céu e a “grandeza” (hoje magnitude) de 850 estrelas, especificando, dessa forma, o seu brilho aparente. As estrelas estão classificadas em seis “grandezas”, correspondendo a 1ª às mais brilhantes e a 6ª àquelas que estão no limite da visibilidade do olho humano. Constrói também um globo celeste, representando as constelações conforme observadas por ele. Além disso, é atribuída a Hiparco (embora essa atribuição seja controversa) a descoberta (147-127 a.C.) da precessão dos equinócios, mudança lenta e gradual na orientação do eixo de rotação da Terra que faz com que a posição que indica o eixo da Terra na esfera celeste se desloque ao redor do polo da eclíptica, traçando um cone e percorrendo uma circunferência completa a cada 25.772 anos. Calcula que a Lua está à distância de 59 raios terrestres (o valor correto é 60,3). Determina a duração do ano com uma margem de erro de 6 minutos. Desenvolve os cálculos mais acurados até então para prever eclipses solares e lunares. Inventa o astrolábio (c. 150 a.C.), instrumento astronômico que mede a posição de um astro em relação ao horizonte. Com isso, é o primeiro a medir latitudes geográficas e a passagem do tempo (hora local) por meio da observação de estrelas. É também o primeiro a determinar com rigor matemático latitudes e longitudes de lugares na Terra. Século II a.C. – Aglaonike, citada como a primeira astrônoma da Grécia, é tida como feiticeira por sua “habilidade em fazer a Lua desaparecer do céu”, o que sugere ser ela capaz de prever eclipses lunares. 163 a.C. – O cometa Halley deve ter passado pelo periélio (ponto de maior aproximação ao Sol) em 5 de outubro, e os astrônomos chineses assinalam um cometa nesse período. Século I a.C. – O filósofo romano Lucrécio (c. 99-c. 55 a.C.), em sua obra “De Rerum Natura” (“Sobre a Natureza das Coisas”), postula que o Universo não foi criado porum ser supremo, mas pela mistura de partículas elementares existentes desde sempre, governadas por algumas leis simples. O Universo de Lucrécio é infinito, preenchido por um número infinito de átomos. 87 a.C. – Observa-se na China um cometa, que parece ser o mesmo a que o naturalista e escritor romano Plínio, o Velho (23-79), faz alusão neste texto: “O cometa é um astro terrível e um sinal de derramamento de sangue. Já tivemos exemplo disso nas desordens civis sob o consulado de Otávio”. Provavelmente, trata-se do cometa Halley, cujo periélio, segundo cálculos modernos, ocorre em agosto. 87 a.C. – Data provável da construção do mecanismo de Anticitera, uma espécie de calculadora mecânica concebida para determinar a posição do Sol, da Lua, de Mercúrio, de Vênus e talvez dos três outros planetas então conhecidos (Marte, Júpiter e Saturno). Mostra as fases lunares e permite até mesmo prever eclipses. É tão complexo que apenas na Idade Média é possível reproduzir instrumentos tecnologicamente comparáveis. O nome deriva da ilha grega de Citera, nas proximidades da qual é descoberto (1901) em meio aos restos de um naufrágio. 46 a.C. – Júlio César (100-44 a.C.) adota um novo calendário, que fica conhecido como calendário juliano, para cuja elaboração consulta o astrônomo Sosígenes de Alexandria. O ano passa a ter 365 dias e 6 horas, iniciando-se em 1º de janeiro (antes começava em 1º de março). Embora o ano civil continue com 365 dias, o novo calendário institui, a cada 4 anos, o ano bissexto, de 366 dias, para recuperar as 6 horas perdidas todos os anos. Os meses, como os atuais, têm 30 ou 31 dias, menos o mês de fevereiro, com apenas 28 ou 29 dias, quando o ano é bissexto. Para corrigir o atraso acumulado ao longo dos séculos, Sosígenes acrescenta 90 dias ao ano 46 a.C., que teve 15 meses e 445 dias. Em 44 a.C., por ordem do General e Cônsul romano Marco Antônio(81-30 a.C.), o mês Quintilis passa a ser chamado de Julius (Julho) em homenagem a Júlio César. Em 8 a.C., por ordem do Senado romano, o mês Sextilis passa a ser chamado de Augustus (Agosto) em homenagem a Otávio Augusto (63 a.C.-14 d.C.), o primeiro imperador de Roma. 44 a.C. (julho) – Um cometa muito brilhante (formalmente, C/43 K1) aparece nos céus de Roma por uma semana e se torna um dos cometas mais famosos de toda a Antiguidade. Os romanos interpretam-no como sinal da deificação de Júlio César, cuja morte ocorrera quatro meses antes. Atinge a magnitude -4 e chega a ser visível durante o dia. É também conhecido como Cometa César ou Grande Cometa de 44 a.C. 28 a.C. – Primeiros registros detalhados conhecidos de observações de manchas solares, feitas por astrônomos chineses, que provavelmente puderam ver os maiores grupos de manchas quando a luz do sol foi filtrada pela poeira deslocada pelo vento nos desertos da Ásia Central. 12 a.C. – Passagem do cometa Halley (periélio em 10 de outubro). A “História de Roma”, de Dion Cássio (c. 155-c. 235), registra: “Antes da morte de Agripa, viu-se um cometa pairando durante muitos dias sobre a cidade de Roma; ele apareceu em seguida transformado em muitas pequenas tochas”. O mesmo cometa é observado na China, de agosto a outubro, e as observações, bem detalhadas, não deixam dúvidas quanto a ser o cometa Halley. A proximidade desta passagem com a época atribuída pela Bíblia ao nascimento de Cristo faz com que o cometa Halley seja identificado, por vezes, com a Estrela de Belém, a qual, segundo o evangelista Mateus (capítulo 2, versículos 1 e 2), guiou os reis magos até Jesus. “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar- lhe homenagem.”” 4 a.C. (12 de março) – Ocorre um eclipse da Lua e, alguns dias depois, de acordo com o historiador judeu Flávio Josefo (37-c. 100), morre Herodes, o Grande (nascido por volta de 73 a.C. e rei da Judeia desde 37 a.C.). O fato de Herodes estar, segundo a Bíblia, ainda vivo quando Jesus nasceu é um dos principais argumentos utilizados para apontar erros na contagem dos anos da era cristã. Investigadores modernos situam o nascimento de Cristo entre os anos 7 e 4 a.C. Século I d.C. – O filósofo romano Sêneca (c. 4 a.C.-65 d.C.), rejeitando a explicação “atmosférica” dada por Aristóteles acerca dos cometas, propõe uma atitude realmente científica frente ao problema das “estrelas de cabeleira”. Ele salienta a necessidade de se compilar todos os aparecimentos de cometas e chega a levantar a hipótese de que estes possam retornar periodicamente. Século I – O historiador e biógrafo grego Plutarco (46-120) sugere que na Lua existem reentrâncias onde a luz do Sol jamais chega e que as manchas visíveis em sua superfície são resultantes de sombras de rios ou de abismos profundos. Também cogita a possibilidade de o satélite ser habitado. 66 – Em “A Guerra dos Hebreus contra os Romanos”, o historiador judeu Flávio Josefo escreve: “Aquele povo infeliz... fechou os olhos e cobriu os ouvidos para não ver nem ouvir os sinais seguros pelos quais Deus havia predito sua ruína. Citarei alguns desses sinais e dessas predições: um cometa, do tipo chamado Xiphias, porque sua cauda parece representar a lâmina de uma espada, foi visto sobre Jerusalém durante um ano inteiro...” Os judeus se rebelam contra os romanos em 66 e Jerusalém é destruída em 70. Os chineses também observam um cometa entre os meses de fevereiro e março. Segundo cálculos atuais, o Halley passa pelo periélio em 25 de janeiro. Século II – O grego Cláudio Ptolomeu (c. 90- c. 168), último grande astrônomo da Antiguidade, compila (127-151) um volume sobre astronomia, dividido em treze seções ou livros (152 páginas numa edição impressa de 1515), conhecido como o “Almagesto” (“grande Tratado”, em árabe), que é a maior fonte de conhecimento astronômico na Grécia e um dos textos científicos mais influentes de todos os tempos. Nessa obra, Ptolomeu inclui um catálogo de estrelas baseado nos trabalhos de Hiparco; lista 48 constelações, cujos nomes prevalecem até hoje; descreve e aperfeiçoa os instrumentos usados pelos astrônomos, tendo, inclusive, no livro quinto do “Almagesto”, demonstrado como se constrói e usa um astrolábio; faz também uma descrição matemática detalhada dos movimentos do Sol e da Lua, o que lhe permite calcular com maior precisão as datas dos futuros eclipses solares e lunares. O conteúdo principal dos treze livros do “Almagesto” é o seguinte: I – sumário da teoria cosmológica de Aristóteles, com um firmamento de forma esférica, no centro do qual está a Terra, esférica e imóvel, em torno do qual orbitam os planetas e as estrelas fixas; II – nascer e pôr de objetos celestes, duração da luz do dia, determinação da latitude, pontos onde o sol está a pino, sombras projetadas pelo sol durante os equinócios e os solstícios; III – duração do ano e movimento do Sol; Ptolomeu explica a descoberta da precessão dos equinócios por Hiparco e introduz a teoria dos epiciclos; IV e V – movimento da Lua, paralaxe lunar, tamanho e distância do Sol e da Lua em relação à Terra; VI – eclipses solares e lunares; VII e VIII – movimentos das estrelas fixas (são fixas apenas em relação à Terra), incluindo precessão dos equinócios; catálogo com 1.022 estrelas, nos moldes do catálogo de Hiparco; IX – modelos para os cinco planetas visíveis a olho nu e movimento de Mercúrio; X – movimentos de Vênus e de Marte; XI – movimentos de Júpiter e de Saturno; XII – estações do ano e movimentos retrógrados dos planetas; XIII – movimentos de latitude, ou seja, desvio dos planetas em relação à eclíptica. A cosmologia do “Almagesto” compreende cinco pontos principais: a região celeste é esférica e se move como uma esfera; a Terra é uma esfera; a Terra está no centro do universo; a Terra, em relação à distância das estrelas fixas, não tem dimensões significativas e deve serconsiderada como um ponto matemático; a Terra não se move. A contribuição mais importante de Ptolomeu é uma representação geométrica do Sistema Solar, geocêntrica, com círculos e epiciclos, que permite predizer o movimento dos planetas com considerável precisão e que é usada até o Renascimento, no século XVI. 141 – O único registro desta passagem do cometa Halley está nos anais astronômicos chineses. Data do periélio, segundo cálculos modernos: 22 de março. 185 (7 de dezembro) – Primeiro registro conhecido de uma supernova (SN 185), feito nos Anais Astrológicos chineses do Houhanshu. Localizada na constelação do Compasso, a aproximadamente 9.100 anos-luz da Terra, permanece visível por oito meses e atinge a magnitude aparente -7. Em astronomia, magnitude aparente é uma escala para representar numericamente o brilho de um astro conforme é visto da Terra, enquanto magnitude absoluta refere-se ao brilho que teria um astro à distância-padrão de 10 parcecs (32,6 anos-luz). Um ano-luz é a distância percorrida pela luz no vácuo, durante um ano juliano, à velocidade de 299.792,458km/s, ou seja, 9.460.730.472.580,8km (em geral, arredondado para 9,461 trilhões de km). 218 – Os chineses observam a passagem do cometa Halley a partir de 14 de abril (periélio provável: 17 de maio). Dion Cássio escreve: “Pouco antes da morte do imperador Macrinus, uma estrela, que por muitas noites estendeu sua cauda do Ocidente ao Oriente, causou grande medo”. Macrinus morreu em junho de 218. 295 – O cometa Halley é observado em maio pelos chineses. Data provável do periélio: 20 de abril. 325 – O primeiro Concílio de Niceia (atual Iznik, província de Bursa, Turquia) estabelece que a Páscoa deve ser celebrada por todos os cristãos no mesmo domingo, mas não determina uma fórmula precisa para calcular a data. Após vários séculos de controvérsias e disputas, a data para a celebração da Páscoa é finalmente determinada como sendo o primeiro domingo depois do início da primeira lua cheia do equinócio da primavera para o hemisfério norte (outono para o hemisfério sul), que a Igreja considera ocorrer em 21 de março (embora muitas vezes ocorra em 20 de março). Dessa forma, a data da Páscoa varia entre 22 de março e 25 de abril. Essa questão tem dupla importância. Primeiramente, a partir da data da Páscoa são determinadas as datas de diversas festas ou feriados móveis: carnaval (sete semanas antes), Pentecostes (sete domingos depois), Corpus Christi (sessenta dias depois). Ademais, é o fato de o calendário juliano então em vigor apresentar uma discrepância (para mais) de aproximadamente três dias a cada quatro séculos, o que provoca desajustes na data da Páscoa, que vai determinar, no século XVI, a reforma que resultará no calendário gregoriano. 363 (27 de junho) – Ocorre o mais longo eclipse solar já observado, com duração de sete minutos e 24 segundos. 374 – Os chineses registram a presença de um cometa, visível de março a maio. A passagem do Halley pelo periélio, conforme cálculos modernos, ocorre em 16 de fevereiro. 393 – Os chineses registram uma supernova (SN 393), visível por cerca de oito meses na constelação de Escorpião. A magnitude mínima é -1, e a distância à Terra é estimada em 3.000 anos-luz. Século V – O romano Macrobius Ambrosius Theodosius (395-423) atribui aos egípcios a teoria planetária segundo a qual a Terra gira em torno do próprio eixo e os planetas internos (Mercúrio e Vênus) giram em torno do Sol, o qual, por sua vez, orbita a Terra. Tycho Brahe apresentará um sistema muito semelhante no século XVI. 451 – Um cometa é observado na China, nas constelações de Leão e de Virgem. No Ocidente, é visto de junho a agosto (periélio: 27 de junho), e muitos autores relacionam seu aparecimento com a vitória do general romano Aécio sobre Átila, ocorrida na Batalha dos Campos Catalaúnicos (20 de junho de 451). Este cometa deve ter sido o Halley. 499 – O matemático e astrônomo indiano Aryabhata (476-550) usa um modelo geocêntrico para afirmar que o período orbital de Júpiter em torno da Terra é de 4.332,272 dias. Na verdade, o período orbital de Júpiter em torno do Sol é de 4.332,59 dias. Ele também afirma que "A esfera das estrelas fixas é estacionária e a Terra, realizando uma revolução, produz o nascimento e o ocaso diário das estrelas e dos planetas". Século VI – O bispo francês Gregório de Tours (c. 538-593) utiliza os escritos do romano Marciano Capella (século V) para desenvolver um método que permite aos monges determinar o tempo das orações noturnas por meio da observação das estrelas. c. 525 – O monge Dionísio Exíguo (c. 470-c. 544) reorganiza a contagem dos anos, cujo marco inicial deixa de ser a fundação de Roma. Ele estabelece que o ano 1 é o do nascimento de Jesus Cristo (não existe ano 0), mas comete erros nos cálculos, pois os historiadores modernos acreditam que Jesus nasceu entre os anos 7 e 4 a.C. Ele também introduz, para assinalar o período posterior ao nascimento de Cristo, a expressão A.D., “Anno Domini” (Ano do Senhor). 530 – Esta passagem do cometa Halley é observada na China e em Constantinopla, onde, segundo o astrônomo francês Alexandre Guy Pingré (1711-1796), “viu-se do lado do Ocidente, durante 20 dias, um cometa muito grande e assustador estendendo seus raios em direção à parte mais elevada do céu”. Data provável do periélio: 27 de setembro. 607 – Dois cometas aparecem e são observados na China, um em fevereiro e outro em abril. Á época em que surge o segundo coincide com a de uma passagem calculada do cometa Halley (periélio em 7 de março). 622 (16 de julho) – A fuga de Maomé de Medina (Hégira) constitui o ponto de partida do calendário islâmico, ou muçulmano. É um calendário lunar, com ciclos de trinta anos (360 lunações) divididos em dezenove anos de 354 dias e onze anos de 355 dias. Em média, 33 anos do calendário islâmico equivalem a 32 anos do calendário gregoriano. Os meses são nuharram, safar, rabi al-awwal, raby al-thaany, jumaada al-awal, jumaada al- thaany, rajab, sha'aban, ramadan, shawwal, dhu al-qidah e dhu al-hija. 628 – o astrônomo e matemático hindu Brahmagupta (598-668) publica “Brahmasphutasiddhanta”, livro em versos sobre Astronomia, com dois capítulos dedicados à matemática. Nessa obra, há a afirmação de que a Terra e as regiões celestes são esféricas e que a Terra se move. Brahmagupta também apresenta métodos para calcular conjunções e eclipses. Ocorre uma conjunção quando dois astros, observados a partir da Terra, estão na mesma longitude celeste, o que faz com que pareçam próximos um do outro no céu. Convém assinalar que conjunção tripla não é uma conjunção de três astros, mas três conjunções sucessivas de dois astros num curto espaço de tempo. 684 – O historiador chinês Ma-Toan-Lin menciona um cometa observado em setembro e outubro. Anotações japonesas confirmam tais aparecimentos. Passagem do Halley pelo periélio, conforme cálculos modernos: 2 de outubro. 687 – Os chineses fazem o primeiro registro conhecido de uma "chuva de meteoros", fenômeno que consiste na entrada de um grupo de partículas na atmosfera terrestre, observadas numa mesma região do céu. Essas partículas são constituídas de materiais perdidos por cometas (e, em menor escala) asteroides, quando passam perto do Sol. A Terra cruza anualmente regiões onde tais partículas existem em número considerável, resultando em chuvas regulares de meteoros, cujos nomes são derivados das constelações em que são visíveis. As principais chuvas de meteoros são Perseidas (agosto), Oriônidas (outubro), Leônidas (novembro) e Gemínidas (dezembro). Convém fazer aqui uma distinção: - meteoroide – corpo menor do Sistema Solar (fragmento de cometa ou asteroide, rocha ejetada por planeta ou satélite) cujo tamanho varia de milímetros a dezenas de metros; - meteorito – meteoroide que não se desintegra completamente ao entrar na atmosfera de um planeta e alcança a superfície. Os meteoritos que caem na Terra variam de partículas milimétricasa objetos com algumas toneladas; - meteoro – fenômeno luminoso que ocorre quando um meteoroide atravessa a atmosfera da Terra. Na cultura popular, os meteoros são chamados de “estrelas cadentes”. Século VIII – O monge e erudito inglês Alcuíno de York (c. 735-804), ao dirigir em Paris a reforma educacional proposta pelo imperador franco-alemão Carlos Magno (742-814), defende a ideia de um modelo geo-heliocêntrico para o Sistema Solar, nos moldes do que havia sido proposto por Heráclides do Ponto. 723 – O monge inglês Beda, o Venerável (c. 673-735), termina “De temporum ratione” (Sobre o cálculo do tempo”), um texto influente que fornece aos religiosos os conhecimentos astronômicos práticos necessários para calcular a data da Páscoa. Essa obra constitui parte importante da educação dos clérigos até bem depois do surgimento das primeiras universidades, no século XII. 760 – “No vigésimo ano do reinado de Constantino”, escreve Alexandre Guy Pingré, “um cometa muito brilhante, semelhante a uma barra de ferro incandescente, apareceu durante três dias do lado do Oriente, e em seguida durante 21 dias no Ocidente”. Os registros dos chineses não deixam dúvidas: trata-se do cometa Halley. Periélio provável: 20 de maio. Século IX – Sob o patrocínio do califa al-Mamun (786-833), tem início a observação astronômica sistemática entre os árabes. Em vários observatórios, de Bagdá a Damasco, são realizadas observações detalhadas do Sol, da Lua e dos planetas. Século IX – Técnicas rudimentares para determinar as posições dos planetas circulam na Europa ocidental. Estudiosos da época reconhecem que elas contêm falhas, mas textos descrevendo essas técnicas continuam sendo copiados, o que reflete interesse nos movimentos dos planetas e no seu significado astrológico. 807 (17 de março) – O monge beneditino Adelmus observa uma grande mancha solar, visível durante oito dias. Ele pensa estar vendo um trânsito de Mercúrio. 809 - Astrônomos reunidos por Carlos Magno (742-814) na sua corte em Aachen (Alemanha) dão início à elaboração de um compêndio astronômico conhecido como “Compilação de Aachen de 809-812” ou “Manual de 809”. Os astrônomos são encarregados de fazer uma revisão dos conhecimentos contemporâneos sobre o céu, mas o verdadeiro objetivo do rei é cristianizar o que considera uma tradição científica “pagã”. Para isso, a estratégia utilizada é manter tanto quanto possível os textos dos autores clássicos, mas com o cuidado de alterar alguns detalhes que causam preocupação à doutrina cristã do início da Idade Média. Um dos principais autores do compêndio é (Santo) Adelardo de Corbie (751-827), primo de Carlos Magno, que contribui com dois textos: “De ordine ac positione stellarum in signis”, um catálogo com 42 das 48 constelações listadas por Ptolomeu, e “Excerptum de astrologia”, um resumo do poema “Fenômenos”, de Arato. c. 820 – O persa al-Khwarizmi (c. 780-c. 850) escreve “Zij al-Sindh”, primeira obra significativa da astronomia islâmica. Contém tabelas dos movimentos do Sol, da lua e dos cinco planetas então conhecidos. O livro é importante porque introduz conceitos ptolomaicos na ciência islâmica e assinala um ponto decisivo na astronomia daquele povo. Até aqui, os astrônomos muçulmanos se limitam a conhecimentos superficiais, traduzindo obras e aprendendo o que já havia sido descoberto por outros. O trabalho de Al-Khwarizmi marca o começo da utilização de métodos próprios de estudo e de cálculo. c. 833 – O persa al-Farghani, conhecido no Ocidente como Alfraganus, escreve “Kitab fi Jawani”, (“Um compêndio da Ciência das Estrelas”), que fornece um resumo do “Almagesto” e faz correções nos valores obtidos por Ptolomeu com base em descobertas de astrônomos árabes anteriores. O livro circula amplamente no Islão e é traduzido para latim no século XII. É popular na Europa até a metade do século XV. 837 – A passagem do Halley desse ano é bem próxima do Sol (periélio em 28 de fevereiro) e dela encontramos vários registros (devidos, provavelmente, a seu grande esplendor), tanto nos anais chineses como em numerosos textos ocidentais, que o assinalam entre 11 de abril e 7 de maio. Cálculos modernos indicam que o Halley passa a 5,1 milhões de km da Terra, a menor distância entre todas as passagens observadas. A cauda pode ter-se estendido ao longo de 90° no céu, mas não há registro astronômico desse fato. 871 – Mercúrio chega a 77,3 milhões de km da Terra, a menor distância em aproximadamente 41.000 anos. Final do século IX e início do século X – O astrônomo árabe Abu-Abdullah Muhammad ibn Jabir al-Battani, conhecido como Albatênio (c. 858-929), constrói novos instrumentos astronômicos e melhora os existentes, tais como relógio de sol, esfera armilar e quadrante mural (quarto de círculo graduado utilizado para medir a altura dos astros em relação ao horizonte). Com eles, obtém melhores resultados que os de Ptolomeu, estabelecendo a posição correta do afélio terrestre (ponto mais distante do Sol) e obtendo valores mais precisos para o ano solar (erro de 2min22s para menos), para as estações e para a inclinação da eclíptica. Algumas medições que realiza são superiores às obtidas por Copérnico seis séculos mais tarde. Século X – O francês Gerbert de Aurillac (c. 946-1003), papa Silvestre II a partir de 999, é um dos estudiosos europeus que viajam para a espanha e a Sicília (ambas sob dominação islâmica) à procura dos conhecimentos astronômicos dos povos de língua árabe de que ouvem falar. Lá os estudiosos encontram métodos práticos para contagem de tempo, cálculo de calendários e utilização do astrolábio. Jerbert reintroduz na Europa a esfera armilar, desaparecida do velho continente desde o final da era greco-romana. Além disso, divulga a astronomia e escreve diversos livros sobre o tema voltados para estudantes. 912 – Pingré escreve: “Sob o reinado do imperador Alexandre de Constantinopla, que durou de 11 de maio de 911 a 7 de junho de 912, viu-se por quinze dias um cometa no Ocidente. Chamaram-no de Xiphias, pois tinha a forma de uma espada”. Nesse caso, as observações chinesas e japonesas são contraditórias e por isso é difícil uma clara identificação com o cometa Halley, embora o periélio desta passagem seja calculado como tendo ocorrido em 18 de julho. 964 – O astrônomo persa Abd Al-Rahman Al-Sufi (903-986) estabelece o “livro das estrelas fixas”, que permite à astronomia moderna úteis comparações para a pesquisa das variações de brilho das estrelas. Os nomes árabes de algumas delas, dados por ele, ainda hoje permanecem: Aldebaran, Altair, Betelgeuse, Rigel... Neste livro, Al-Sufi faz o primeiro registro conhecido da Grande Nuvem de Magalhães e da galáxia de Andrômeda. São as primeiras galáxias (excluída a Via Láctea) observadas a partir da Terra. 989 – A passagem do Halley é relatada tanto na Europa quanto na China. Os textos chineses falam de dois cometas. O periélio do Halley, segundo cálculos modernos, ocorre em 5 de setembro. Século XI – O astrônomo árabe Abu Ali al-Hasan Ibn Al-Haytham (965-1040), conhecido no Ocidente como Alhazen ou Alhacen, publica "Sobre A Luz da Lua", obra em que faz estudos sistemáticos do satélite da Terra, aplicando pela primeira vez matemática astronômica ao estudo da física. No livro “Al-Shuku ala Batlamyus” ("Dúvidas sobre Ptolomeu"), publicado em algum momento entre 1025 e 1028, critica vários aspectos da cosmologia do autor do Almagesto. Considera absurdo o fato de Ptolomeu ter tentado explicar movimentos reais dos corpos celestes com pontos, linhas e círculos matemáticos imaginários. Contudo, mantém o modelo geocêntrico da cosmologia ptolomaica. Em "Sobre a Via Láctea, postula que, contrariamente ao que Afirma Aristóteles, a Via Láctea não é um fenômeno atmosférico, mas está distante da Terra. Alhazen é um dos primeiros a desenvolver o método científico experimental em que se baseia a ciência moderna. Distingue a astrologia da astronomia e condena a utilização de teorias exclusivamenteempíricas para explicar descobertas científicas. Século XI – O médico e filósofo persa Abu-Ali al-Husain ibn Abdullah Ibn Sina, conhecido como Avicena (980-1037), critica o conceito aristotélico de que a luz das estrelas provém do Sol e defende a hipótese de que todos os corpos celestes têm luz própria. Século XI - Hermann de Reichenau (1013-1054) escreve em latim sobre fabrico e usos do astrolábio, e Walcher de Malvern utiliza o astrolábio para observar o tempo dos eclipses, a fim de verificar a precisão dos cálculos da data da Páscoa. 1006 (30 de abril) – Terceiro registro de supernova (SN 1006)observada na Via Láctea, na constelação do Lobo (as anteriores foram as supernovas de 185 e de 393). Os chineses afirmam tê-la avistado durante mais de dois anos. Distante 7.200 anos-luz, chega a atingir a magnitude aparente -7,5, sendo a estrela mais brilhante já observada a olho nu. 1032 (24 de maio) – O astrônomo, médico e filósofo Avicena (c. 980-1037) faz o primeiro registro conhecido de um trânsito de Vênus. Ele conclui que Vênus está mais perto da Terra que o Sol e estabelece que, pelo menos às vezes, a órbita de Vênus é interna à da Terra relativamente ao Sol. Alguns estudiosos modernos põem em dúvida o fato de Avicena ter tido condições de visibilidade para observar este trânsito. Trânsito de Vênus é a passagem deste planeta entre a Terra e o Sol, ocultando uma pequena parte do disco solar. O efeito é semelhante ao de um eclipse do Sol pela Lua, mas em menor escala, devido à distância muito maior do planeta em relação à Terra, comparada com a do nosso satélite. Para que um trânsito desse tipo ocorra, é necessário que Vênus, O Sol e a Terra estejam alinhados. Os trânsitos de Vênus se repetem em ciclos de 243 anos. Ocorrem aos pares, com intervalo de oito anos, e cada par separado do seguinte por 121,5 ou 129,5 anos. Atualmente, ocorrem em junho ou em dezembro (essa configuração muda ao longo de uma escala de milhares de anos). 1054 (4 de julho) - Os anais astronômicos chineses registram o aparecimento, na constelação do Touro, de uma supernova tão brilhante (magnitude aparente -6) que é visível de dia (durante 23 dias) e pode ser vista no céu noturno por 653 dias (até abril de 1056). Essa supernova dá origem à nebulosa do Caranguejo, que tem 11 anos-luz (104 trilhões de km) de diâmetro e está distante de nós 6.500 anos-luz. Também é observada por astrônomos árabes, coreanos e japoneses. 1066 – Em abril, um grande cometa aparece na Europa e é considerado o anúncio e a causa da morte do rei anglo-saxão Haroldo II (ocorrida em 14 de outubro, na Batalha de Hastings), conforme foi perpetuado na célebre tapeçaria de Bayeux. Nesse trabalho, encontra-se a primeira representação gráfica de um cometa, observado com terror por um grupo de pessoas. A passagem do Halley é seguida e registrada com precisão na China, com periélio em 20 de março. Registros da época afirmam ter o cometa atingido magnitude aparente quatro vezes superior à de Vênus. 1074 – O poeta, matemático e astrônomo persa Omar Khayyam (1048-1131) monta um observatório e conduz trabalhos visando a compilar tabelas astronômicas, tendo também contribuído para a reforma do calendário Persa. Ademais, ele calcula a duração do ano como sendo de 365,24219858156 dias, valor preciso até a sexta casa decimal. Século XII – Estudiosos continuam viajando para a Espanha e a Sicília à procura de textos astronômicos e astrológicos mais completos, que eles traduzem do árabe e do grego para o latim, aumentando assim o conhecimento sobre astronomia na Europa ocidental. A chegada desses “novos” textos coincide com o desenvolvimento das universidades na Europa medieval, onde encontram ambiente propício para divulgação. 1106 (2 de fevereiro) – Um grande cometa (formalmente denominado X/1106 C1) torna-se visível, sendo a passagem registrada na Europa (País de Gales e Inglaterra) e na Ásia (Coreia, Japão e China). É observado até a metade de março. 1129 – O monge e cronista inglês John de Worcester (morto c. 1140) descreve observações de manchas solares. 1145 – As observações chinesas assinalam um cometa visível de abril a junho. Na Europa, o astro é observado por um longo período a partir de maio. Uma passagem do Halley ocorre nesse ano, com periélio em 18 de abril. c. 1150 – O italiano Geraldo de Cremona (c. 1114-1187) traduz o “Almagesto”, de Ptolomeu, do árabe para o latim, o que leva a Igreja Católica a adotar o livro como um "texto aprovado". Praticamente desconhecido no Ocidente nesta época, O “Almagesto” havia sido traduzido para o árabe a partir do século IX, sendo Sahl ibn Bishr (c. 786-c. 845) considerado o primeiro tradutor. A tradução de Cremona possibilita a “redescoberta” do “Almagesto” na Europa. 1178 (18 de junho) – Monges ingleses afirmam ter visto uma explosão na Lua, descrita em uma crônica por Gervase de Canterbury (1141-1210). 1181 (agosto) – Os chineses e os japoneses registram uma supernova na constelação de Cassiopeia, que permanece visível durante 185 dias. A magnitude mínima é -1, e a distância à Terra é estimada em 25.000 anos-luz. 1222 – A passagem de um cometa é registrada na China e na Europa entre setembro e outubro. As interpretações ocidentais associam-no à morte, em 1223, do rei francês Filipe II (n. 1165). Esse cometa é, possivelmente, o Halley, cujo periélio ocorre em 28 de setembro. c. 1230 – O monge (provavelmente inglês, talvez escocês ou irlandês) Johannes de Sacrobosco (c. 1195-c. 1256) publica “Tractatus de Sphaera” (Tratado sobre a Esfera”), livro em quatro capítulos que apresenta elementos básicos de astronomia: conceito de esfera, aplicado inclusive à Terra, movimentos planetários, causas dos eclipses... Inspirado em grande parte no “Almagesto”, de Ptolomeu, e acrescentando ideias da astronomia árabe, torna-se uma das obras mais influentes na Europa antes de Nicolau Copérnico e livro de leitura de todas as universidades importantes da Europa ocidental pelos quatro séculos seguintes. 1235 – No livro “De Anni Ratione”, Johannes de Sacrobosco faz críticas ao calendário juliano, afirmando que há nele um erro de dez dias em relação ao tempo solar real e que algum tipo de correção precisa ser feito. Embora não faça sugestões para corrigir esse erro de dez dias já acumulado, propõe que, no futuro, um dia passe a ser eliminado do calendário a cada 288 anos. Neste livro, Sacrobosco divulga a informação falsa de que o imperador romano Augusto tirou um dia de fevereiro e o incorporou ao mês que leva seu nome (Augustus) para que este mês não tivesse menos dias que aquele que homenageia Júlio César (Iulius). 1252 – São publicadas, com o patrocínio do rei de Castela e Leão Afonso X (1221-1284), as chamadas "Tabuas Afonsinas”, que apresentam cálculos para as posições do Sol, da Lua e dos planetas em relação às estrelas fixas a partir de 1º de janeiro desse ano. Constituem uma revisão e uma melhoria das tabelas Ptolomaicas, tendo sido as melhores tabelas afins disponíveis durante a Idade Média e não são substituídas durante mais de três séculos. Os dados astronômicos acerca da posição e do movimento dos planetas contidos nessas tábuas são compilados em Toledo por aproximadamente cinquenta astrônomos, reunidos pelo rei para esse fim. 1259 – O filósofo, matemático e astrônomo persa Nasir ad-Din at-Tusi (1201-1274) termina, com a ajuda de astrônomos chineses, um observatório construído em Maragheh (Irã). O observatório conta com vários instrumentos, destacando-se um quadrante mural de 4m feito de cobre e um quadrante de azimute inventado por ele mesmo. Usando com precisão os movimentos planetários, ele modifica o modelo do sistema planetário de Ptolomeu, baseado em princípios mecânicos. O observatório e sua biblioteca se tornam um centro para um largo alcance de trabalho em ciência, matemática e filosofia. Nasir ad-Din at-Tusi afirma que a Via Láctea é formada por um grande número de estrelas bastante próximas entre si e a distância emrelação à Terra confere o aspecto leitoso com que é vista. Isso será confirmado em 1610 por Galileu Galilei, no livro “Sidereus Nuncius”. 1264 (julho) – Um cometa muito brilhante (formalmente, C/1264 N1) aparece na Europa e permanece visível até o começo de outubro. Durante o período de maior esplendor (final de agosto e início de setembro), pode ser visto durante o dia (pela manhã). Cronistas da época relatam vários eventos significativos ocorridos na Europa nesse tempo e relacionam o surgimento do cometa especialmente à morte do papa Urbano IV (n. c. 1195), que teria se sentido doente no mesmo dia em que o astro foi visto pela primeira vez e morrrido no dia em que ele desapareceu: 2 de outubro. Há registros dizendo que “o prodígio de uma estrela cabeluda” trouxe a doença do papa e saiu sorrateiramente depois da conclusão do trabalho. 1301 – Vários historiadores relatam a passagem, entre setembro e outubro, de um cometa muito luminoso, que é visto por seis semanas. Provavelmente, essa passagem do cometa Halley (com periélio em 25 de outubro) inspira o pintor Giotto di Bondone (1267-1337) quando retrata o astro em seu afresco Adoração dos Reis Magos, de 1304. 1330 – O matemático e astrônomo judeu francês Levi Ben Gerson (1288-1344) constrói o instrumento denominado balestilha ou "bastão de Jacob", com o objetivo de determinar ângulos para utilização em navegação. O ângulo entre o horizonte e o Sol permite calcular a latitude em que determinado navio está; o ângulo entre o horizonte e a Estrela Polar possibilita aos marinheiros orientar-se durante a noite. O ângulo entre o topo e a base de um objeto fornece uma referência para calcular a distância do objeto em questão. Alguns estudiosos atribuem a invenção da balestilha ao também judeu francês Jacob ben Machir ibn Tibbon (c. 1236-c. 1304). Posteriormente, a balestilha é substituída pelo sextante, cujos resultados são mais precisos. 1377 – No “Livre du ciel et du monde” (Livro do Céu E do Mundo), o francês Nicole d’Oresme (c. 1320-1385), bispo de Liseux, afirma que nem as Escrituras Sagradas nem os argumentos físicos contra o movimento da Terra são conclusivos e invoca a simplicidade a favor da teoria de que é a Terra que se move, e não o céu. Contudo, ele conclui: “Todo mundo sustenta, e eu mesmo acredito, que o céu se move, não a Terra; porque Deus criou o mundo, que não deve se mover”. 1378 – Embora seguida tanto na Europa quanto na China por seis semanas, essa passagem do cometa Halley não é tão brilhante quanto a anterior. O periélio ocorre em 10 de novembro. 1424 – O astrônomo e matemático mongol Ulugh Beg (1394-1449) inicia a construção (terminada cinco anos depois) de um observatório em Samarcanda (no atual Uzbequistão). Em suas observações, ele descobre vários erros nos cômputos de Ptolomeu, cujas figuras ainda estavam sendo usadas, e também nos cálculos dos árabes. Seu catálogo estelar de 994 estrelas (1437) é considerado o melhor em todo o período que vai de Ptolomeu (século II) a Brahe (século XVI). Ulugh Beg é decapitado por seu filho mais velho, 'Abd al-Latif, e depois disso o observatório cai em ruínas. Escrito em árabe, seu trabalho não é lido pela geração subsequente de astrônomos do mundo. Quando suas tabelas são traduzidas para o latim com o título "Tabulae longitudinis et latitudinis stellarum fixarum ex observatione Ulugbeighi" e editadas em Oxford por Thomas Hyde, em 1665, suas observações pré-telescópicas estão ultrapassadas. 1440 – o astrônomo, matemático e filósofo alemão, Cardeal Nicolau de Cusa (1401-1464), publica o livro "De Docta Ignorantia" (Sobre A Douta Ignorância), no qual afirma que a Terra gira em torno de seu eixo e em torno do Sol, que o Universo é infinito e que as estrelas são outros sóis com planetas habitados. Há ainda nesse livro uma ideia revolucionária: o princípio cosmológico segundo o qual o observador verá o Universo girar em torno de si em qualquer parte dele em que esteja, isto é, no Sol, na Terra, na Lua, em qualquer planeta ou mesmo estrela. Ou seja, o Universo não tem um centro propriamente dito, estando o centro do Universo em qualquer lugar. 1456 – O aparecimento do cometa Halley desse ano ocorre em junho (periélio no dia 9), e o cometa se encontra em posição tal que seu esplendor é extraordinário. As observações são numerosas. Alguns afirmam que o papa Calisto III (1378-1458) pediu a todos os cristãos que orassem para afastar o cometa. 1471 – É inaugurado, em Nuremberg, o primeiro observatório astronômico da Europa. O astrônomo e matemático alemão Johannes Müller von Königsberg, mais conhecido como Regiomontano (1436-1476), responde não apenas por sua construção, mas também pela equipagem do edifício com instrumentos desenhados por ele próprio. 1475 – O papa Sixto IV (1414-1484) pede a Regiomontano para efetuar estudos sobre a reforma do calendário, mas o astrônomo alemão morre no ano seguinte, sem realizar a tarefa. 1478 – O judeu espanhol Abraham Zacuto (1452-c. 1515) conclui “O Grande Livro”, tratado astronômico escrito em hebraico, composto de 65 tabelas detalhadas (efemérides), computadas a partir de 1473. Em 1496, uma tradução em latim é publicada em Portugal com o título “Tabulae tabularum Celestium motuum sive Almanach perpetuum”. Zacuto também inventa um novo tipo de astrolábio, apropriado para medir latitudes em alto-mar, por ser de operação mais simples. Tanto o livro como o astrolábio contribuem para melhorar significativamente a precisão das medições feitas pelos navegantes durante as viagens oceânicas. Em 1497, Vasco da Gama (1469-1524) leva ambos em sua primeira viagem às Índias. Em astronomia, efemérides são tabelas de valores que fornecem a posição de determinados astros no céu durante um tempo dado. Podem ser usadas na previsão de eclipses, conjunções, fases da Lua, etc. Contemporaneamente, as efemérides para o Sistema Solar são essenciais no cálculo das rotas que as naves espaciais devem seguir. 1492 (16 de novembro) – Um meteorito de 140kg cai em Ensisheim, na Alsácia, e é colocado na igreja local, onde é conservado até hoje. Trata-se do primeiro registro “oficial” da queda de um meteorito. 1499 - O navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón (c. 1462-c. 1514) observa a Nebulosa do Saco de Carvão, a mais proeminente nebulosa escura de todo o céu, facilmente visível a olho nu, situada na constelação do Cruzeiro do Sul, a aproximadamente 600 anos-luz da Terra. Com diâmetro compreendido entre 30 e 35 anos-luz (280 e 330 trilhões de km), é conhecida desde a pré-história no hemisfério sul e tem papel importante em várias culturas aborígenes australianas. Os incas chamavam esta nebulosa de Yutu, em alusão a um pássaro característico da região andina. 1500 (28 de abril) – Um integrante da esquadra de Pedro Álvares Cabral, João Meneslau, conhecido como "Mestre João" e que acompanha a frota na condição de "cirurgião e físico", envia ao rei Português D. Manuel I (1469-1521), por intermédio de Gaspar de Lemos, uma carta na qual faz referência a suas atividades astronômicas no novo mundo. Refere-se, na mencionada missiva, à "Cruz", nome pelo qual era conhecido o Cruzeiro do Sul, já observado por Hiparco e por Ptolomeu, que o consideravam parte da constelação do Centauro. Na "Cruz", Mestre João assinala o fato de que suas "Guardas", as estrelas alfa e gama, apontam na direção do polo sul celeste, tal qual as "Guardas" ou "Ponteiros" da Grande Ursa em relação ao polo norte celeste. Talvez por querer comparar em excesso é que Mestre João escreve ter visto uma estrela "pequena" e "muito clara", réplica austral da "Polaris" boreal. Mestre João observa ainda as principais estrelas da constelação do Centauro, do Triângulo (alfa, beta e delta) e do Pavão (beta, gama e delta). Bastante curioso é que, em sua carta, não tenha Mestre João feito qualquer menção a objetos já conhecidos de observadores dos céus austrais e que não têm equivalente no hemisfério norte, como as Nuvens de Magalhães, e que nenhuma
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