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Raphaela Carvalho - 2024.2 Disbiose 99% das bactérias do intestino grosso são anaeróbias estritas. Elas recebem as fibras solúveis fermentáveis provenientes da alimentação e as metabolizam formando os ácidos graxos de cadeia curta: butirato, propionato, acetato. Esses ácidos mantém os enterócitos sendo a fonte de energia para produzir o muco que os recobre, caracterizando a primeira barreira natural intestinal contra agentes patogênicos. Em uma situação em que não há a ingestão adequada dessas fibras, os enterócitos começam a se “alimentar” do próprio muco, diminuindo progressivamente a barreira e aumentando a incidência de processos inflamatórios locais e a chance de desenvolvimento de doenças como câncer colorretal e colite ulcerativa. Disbiose é toda doença que causa desequilíbrio da microbiota intestinal relacionada ao aumento da permeabilidade intestinal, ou seja, ao afastamento dos enterócitos permitindo a passagem de patógenos através deles, podendo inclusive disseminar sistemicamente a inflamação local que estava ocorrendo. As principais causas são: má digestão, uso de laxantes, tipo dieta, transmissão materna, genética, hábitos de vida, alteração do relógio biológico (como o trabalho noturno), estresse e toxinas ambientais (chumbo, mercúrio, cromo, pesticidas, atb, etc) relacionados com o estado imunológico do hospedeiro. Se manifesta primeiramente como uma constipação. A disbiose pode ser de 3 tipos: 1. Pelo aumento dos patobiontes (enterobacteriaceae) 2. Pela diminuição das bactérias comensais 3. Pela perda da diversidade A dieta ocidental baseada em alimentos industrializados, grandes quantidades de gorduras, ptns de origem animal e açúcar refinado, com excesso de frutose presente em suco de caixinha, bala, biscoito, etc. levam a doenças como: ● Leaky gut: acontece quando os enterócitos perdem a adesão das suas junções, abrindo espaços entre eles que aumentam a permeabilidade de patógenos que conseguem chegar aos capilares e ganham a corrente sanguínea. Sintomas: Diagnóstico: teste de lactulose/manitol: o manitol é absorvido no intestino delgado enquanto a lactulose é minimamente absorvida. A avaliação vai ser feita pela quantidade de lactulose liberada na urina. A maioria dos diagnósticos são feitos pela prova-terapêutica que consiste nas mudanças no estilo de vida necessários para tratar essa doença, porém sem o exame laboratorial comprobatório. ● Diarréia associada a atb: ocorre principalmente em pessoas hospitalizadas por muito tempo ou em uso de atb de amplo espectro (↑espectro ↑probabilidade, sendo a ampicilina, amoxicilina, cefalosporinas, clindamicina e quinolonas os mais prováveis causadores), sendo o Clostridium difficile (bacilo gram positivo anaeróbio esporulado) o principal microrganismo associado a infecção gastrointestinal, que varia de formas assintomáticas até diarréia severa, colite pseudomembranosa, megacólon tóxico, perfuração intestinal evoluindo para sepse grave e óbito. O uso de inibidores de bombas de prótons, bloqueadores dos receptores histamínicos, agentes inibidores da motilidade do TGI, bem como pessoas maiores de 65 anos, em uso de cateter nasogástrico ou orogástrico e cirurgia gastrointestinal podem predispor a essa infecção. ● Sd. do intestino irritável: caracterizada por dor, mudança de hábitos intestinais, distensão abdominal, constipação ou diarréia. A maioria dos pacientes tem entre 30 e 50 anos, com maior prevalência entre as mulheres. Os fatores de risco incluem ansiedade, estresse, alterações da motilidade, hipersensibilidade visceral e o estilo de vida. O tto consiste em redução da ingesta de FODMEPs (fermentável, oligossacarídeo, dissacarídeo, monossacarídeo e polióis) que são pequenas moléculas osmoticamente ativas que apresentam má absorção intestinal e rápida fermentação pela microbiota. A ingestão desses alimentos provoca distensão luminal pela maior produção de hidrogênio e metano e pelo maior fornecimento de água ao cólon. ● Constipação funcional (causa primária): é mais comum entre mulheres e idosos e pode ser referida como fezes endurecidas, esforço excessivo no ato evacuatório, evacuações infrequentes ou sensação de evacuação incompleta. Os fatores que podem desencadear são: baixa atividade física, alimentação inadequada, história de abuso sexual e estado depressivo. Também é importante lembrar que musculatura intestinal em estase atrofia, sendo mais um fator determinante. O tto não medicamentoso consiste em dieta rica em fibras (em especial com vegetais variados) e hidratação adequada (30 a 50mL/kg/dia a depender do seu nível de atividade e o clima durante o dia). Se o paciente não conseguir naturalmente atingir os níveis adequados de ingestão de fibras devem ser utilizados suplementos. É importante, ainda, a reeducação dos hábitos de evacuação, estimulando-se a disciplina de horário e a obediência ao reflexo evacuatório. O tto medicamentoso pode ser por incrementadores do bolo fecal (fibras sintéticas, metil celulose, psyllium, agar-agar), agentes amaciantes (docusato de sódio, óleo mineral), laxativos osmóticos (polietilenoglicol - grávidas podem utilizar, lactulose, sais de sódio e magnésio) e laxantes estimulantes de peristalse (antraquinonas e difenilmetanos). ● Constipação secundária a doenças endócrinas (como hipotireoidismo), metabólicas (como DM), neurológicas (ex Parkinson) e medicamentosa (pelo uso de analgésicos, antihipertensivos, neurolépticos, etc). ● Diarréia do viajante: pode ser causada tanto por uma infecção quanto pela alteração da microbiota transitória. ● Esteatose hepática não alcoólica ● SIBO: consiste no supercrescimento bacteriano no intestino delgado com a presença de bactérias que não deveriam estar naquele local do intestino, ex: bactérias aeróbicas gram positivas e aeróbicos facultativos que deveriam estar em maiores quantidades no cólon e estão no duodeno (parte proximal que é um pouco mais ácida que o restante do intestino devido a sua proximidade com o estômago). Sintomas: dor e distensão abdominal intensas, náuseas, gases, fadiga, perda de peso, etc. A válvula ileocecal é considerada um importante determinante do “refluxo” de bactérias do cólon para o intestino delgado. Isso pode acontecer caso essa válvula seja incompetente, por exemplo. As causas primárias são: padrões motores coordenados do intestino delgado tanto no estado de jejum quanto no estado de alimentação, inibindo a fixação de bactérias na parede luminal. As causas secundárias são: dismotilidade intestinal (laxantes), doenças sistêmicas, alterações cirúrgicas de grande porte e fatores anatômicos. O diagnóstico é feito pela respiração de hidrogênio ou testes de cultura de aspirados de intestino delgado (endoscopia). Mas a maioria dos diagnósticos é feito pelo teste terapêutico com atb: bactrim 800 mg 12/12h + metronidazol 500 mg 8/8h por 14 dias. Também são utilizados probióticos - lactobacillus e bifidobacterium - para regular o crescimento seletivo de outras bactérias pela competição no ambiente, principalmente de patobiontes. ➔ A glutamina é o aminoácido não essencial mais abundante no tecido muscular e realiza funções como proliferação e desenvolvimento celular, auxilia no balanço ácido-básico, no transporte de amônia entre os tecidos, na doação de esqueletos de carbono p/ a gliconeogênese e participa no sistema antioxidante. Além disso, a glutamina restaura a integridade dos enterócitos, auxiliando na melhora do processo de disbiose podendo ser feito até 100g/dia. Sua concentração torna-se reduzida em situações de catabolismo muscular, como após a prática de exercícios físicos intensos e prolongados ou por uma doença sistêmica grave. ● Sd. metabólica