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1 Revisão de semiologia Etapas do exame clínico: 1. Inspeção: ‣ Não tocar no animal apenas observar como interage com o meio; ‣ Local iluminado; ‣ Postura, comportamento, locomoção, condição corpórea, forma abdominal; ‣ Descreva somente o que se vê. 2. Identificação do animal 3. Anamnese 4. Exame Físico: ‣ Geral: atitude, comportamento, nutrição, hidratação, parâmetros ‣ Específico: exame do(s) sistema(s) envolvido(s)... 5. Exames complementares 6. Diagnóstico 7. Prognóstico 8. Tratamento Identificação do animal: • Espécie • Raça • Sexo • Idade • Pelagem • Peso • Origem • Informações do proprietário Anamnese: • Principal recurso para o diagnóstico • Depende do tipo de informante • Semelhante à do pediatra humano • Não é um processo passivo • Proprietário omite informações • Não colocar o entrevistado em situação delicada • Não usar terminologia médica • Pergunte “Quando ? Como ? Onde ?” • Obtenha os verdadeiros fatos ! • Fonte e confiabilidade • Queixa principal • História da doença atual (HDA) • Comportamento dos órgãos • História médica pregressa • História ambiental e de manejo • História familiar ou de rebanho Material básico do exame clínico: • Papel e caneta • Estetoscópio • Termômetro 2 • Martelo para percussão • Pleximetro • Luvas • Lanterna • Frascos para amostras • Material para contenção Exame físico geral: • Atividade planejada (cronograma de exame) • Avalia atitudes diárias e as exceções • Diagnósticos não são simples e organizados • Postura analítica e racionalizada • Queixa não apresenta relação com o sistema envolvido • Avalia rotineiramente o estado de saúde Inspeção: • Nível de Consciência: ‣ Reação à estímulos. • Parâmetro subjetivo: ‣ Ausente (coma) ‣ Diminuída ‣ Normal ‣ Aumentada • Contorno abdominal: ‣ Enfermidades digestivas! • Aumento de volume em membros: ‣ Enfermidades locomotoras! • Postura : ‣ Diferente entre espécies ‣ Indicação de enfermidade • Estado Nutricional: ‣ Escala de score corporal ‣ Evitar termos bom e ruim Palpação: • Estruturas superficiais e profundas • Palpação por tato • Palpação por pressão • Textura, espessura, consistência, sensibilidade, temperatura, volume, elasticidade • Palpação indireta 3 Consistências: • Mole: tecido adiposo • Firme: fígado, músculo • Dura: ossos • Pastosa: edema • Flutuante: ascite • Crepitante: gás, ar Exame da pele: • A pele é o espelho da saúde • Estado de hidratação • Características do Proprietário • Animais gordos ou obesos e animais magros podem apresentar alterações condizentes com sua condição, sem indicar uma doença Exame das mucosas: • Grande Vascularização – Saúde • Características das mucosas • Doenças • Mucosas visíveis: ‣ Óculo-palpebral ‣ Vulvar ‣ Oral ‣ Nasal (equinos) ‣ Prepucial ‣ Anal (rara) • Óculo-palpebrais: ‣ Membrana nictitante (3º pálpebra) ‣ Bovinos porruem vasos espisclerais • Nasal: ‣ Mucosa pigmentada ‣ Ductos naso-lacrimais • Oral: ‣ TPC (status circulatório) Denominação Coloração Significado Causas Pálida Esbranquiçada Anemia Ecto/endoparasitas Desidratação Hemorragia Congesta/hiperemica Vermelho escuro Aumento da permeabilidade vascular Inflamação Infecção Febre Cianótica Azul Hipóxia ICC Edema pulmonar Choque Desidratação Ictérica Amarela Hemólise Lesão hepática Obstrução biliar Babesiose Anaplasmose Hepatite 4 Sistema linfático: • Compreende o baço, linfonodo e vasos linfáticos • Linfonodos: ‣ Inspeção e palpação ‣ Participa dos processos patológicos ‣ Alterações características ‣ Compromete a função de órgãos (disfagia, dispnéia, timpanismo...) • Raramente são sede de doenças primárias • Sempre deve ser feita avaliação bilateral • Palpáveis em ruminantes: ‣ Mandibular ‣ Parotídeo ‣ Retrofaríngeo ‣ Pré-escapular ‣ Pré-crural • Palpáveis em equinos: ‣ Mandibular ‣ Retrofaríngeo ‣ Pré-escapular ‣ Pré-crural Termometria clínica: • Homeotérmico (Endotérmico) • Fonte de calor : processos oxidativos • Perda: pulmões e pele • Centro termoregulador • Frio: ‣ ⇡ Metabolismo ‣ Vasoconstricção ‣ Piloereção ‣ ⇣ Respiração • Calor : ‣ Vasodilatação ‣ ⇡ Respiração • Erros ao aferir temperatura: ‣ Defecação e enema recente ‣ Introdução superficial ‣ Penetração de ar (cauda erguida) ‣ Processos patológicos locais 5 Movimentos ruminais: • 1 a 2 movimentos por minuto • Depende do tipo de alimento e do intervalo entre a última refeição • Ruídos de crepitação e rolamento Diagnóstico: • 50% anamnese • 35% exame físico • 15% exames complementares Fluidoterapia em grandes animais Os desequilíbrios hidroeletrolíticos apresentam-se associados a inúmeras situações clínicas que acometem as grandes espécies domésticas. Considerando que a água e os eletrólitos orgânicos desempenham um papel essencial na manutenção das mais diversas funções do organismo animal, a correção desses desequilfbrios toma-se de vital importância para o sucesso do tratamento específico. Nas grandes espécies cerca de 60% do peso corpóreo no adulto e 80% no neonato consiste de água, que se apresenta amplamente distribuída e em constante movimento entre os compartimentos intracelular (LI) e extracelular (LE). O compartimento intracelular possui a maior quantidade da água corpórea e corresponde a 40% ou 2/3 do peso total, ao passo que os 20% (1/3) restantes constituem o compartimento extracelular. Esse, por sua vez, é subdividido em compartimento plasmático (Lp) (5%), intersticial (Li)(14%) e transcelular (LI) (1-6%) • Líquido transcelular : ‣ Representado pela água nas vias digestiva e urinária, no líquor, no humor aquoso, na cavidade peritoneaJ e no líquido sinovial. Em herbívoros, especialmente em grandes ruminantes, a água contida no sistema digestório pode corresponder a até 10 a 15% do peso corpóreo O constante movimento da água entre os com- partimentos é decorrente de um gradiente osmótico estabelecido entre os dois lados da membrana celular. Em outras palavras, esse movimento é determinado pelo número de partículas osmoticamente ativas entre um lado e outro da membrana. Os principais íons responsáveis pela osmolaridade no LE e LI são o Na+ e o CI-, no LI, são o K+ e o P04- Desequilíbrios no balanço hídrico entre os compartimentos podem resultar de uma diminuição da ingestão, aumento das perdas de fluidos e eletrólitos ou, ainda, de uma combinação desses fatores. Quando instituir a terapia hídrica? • A reposição de fluidos tem como objetivos a restauração da volemia, a hidratação dos tecidos, a correção de desequilíbrios eletrolíticos e ácido-básicos, a estimulação de órgãos internos como, por exemplo, os rins, a administração de substâncias nutritivas (alimentação parenteral) e, além disso, o próprio fluido reposto também serve como meio para a administração de drogas. • Em grandes animais, as condições clínicas mais comuns que requerem fluidoterapia são representadas por diarréias, choque, síndrome cólica, desidratação após exercícios físicos extenuantes sob condições climáticas adversas (como por exemplo, no enduro equestre), ruptura de bexiga em potros, desequilíbrios metabólicos, obstruções ou rupturas esofágicas e doenças renais. • A maneira mais adequada de se determinar a necessidade e, ao mesmo tempo, elaborar o plano de reposição hidroeletrolítica, baseia-se na análise de informações precisas obtidas mediante a anamnese, o exame físico e, quando disponível, a realização de provas laboratoriais. • É importante pesquisar sobre o tempo de evolução na doença, os tratamentos efetuados anteriormente, drogas, doses, intervalos de aplicação, sobre a ingestão de alimentos, a disponibilidade, qualidade e ingestão 6 de água oferecida, a quantidade e a frequência de micção e dos episódios de perdas eletrolíticas (diarréias, refluxo gastrointestinal colhido por sonda nasogástrica, entre outros) permitem uma noção preliminar acerca da gravidade de possíveis desequilíbrios • Sinais clínicos: ‣ Perda de peso, o aumentoda frequência cardíaca e do tempo de preenchimento capilar (TPC), a perda da elasticidade cutânea, o ressecamento das mucosas, a diminuição da temperatura em regiões de extremidades e a diminuição da produção de urina É importante que o VG e a PPT sejam analisados conjuntamente, pois, em algumas situações, a interpretação isolada desses valores pode resultar em erro. A estimulação simpática causada por condições de estresse ou excitação pode provocar a contração esplênica com liberação na circulação de mais hemácias. Nessas circunstâncias, há aumento do VG, não por perda fluida, mas, sim, pelo aumento do número hemácias não indicando, portanto, desidratação. Em situações clínicas em que há perda de proteínas associada a doenças gastrointestinais como nas colites e peritonites ou em que há diminuição da produção decorrente de problemas hepáticos, as proteínas plasmáticas podem apresentar-se diminuídas. Nessas situações, a PPT perde seu valor como indicador de desidratação. * Em potros e bezerros neonato ,os valores de VG e PPT podem variar em razão de diversos fatores, não sendo, portanto, indicadores fidedignos de desidratação. Qual fluido deve ser utilizado? • Colóides: ‣ substâncias de alto peso molecular que, ao serem administradas, aumentam a pressão coloidosmótica (oncótica) intravascular e, com isso, estimulam a passagem de fluido do Li para o Lp. ‣ O dextran 70 e o plasma são os exemplos mais comuns de colóides sintéticos e naturais, respectivamente. ‣ Por questões de custo e pela possibilidade da ocorrência de efeitos colaterais associados à administração de colóides sintéticos, o uso dessas substâncias é extremamente restrito. ‣ O uso de plasma tem sua principal indicação em potros ou bezerros que não ingeriram de forma adequada o colostro e por isso apresentam falha na transferência da imunidade passiva. ‣ Outra indicação refere-se a situações clínicas em que a PPT encontra-se abaixo de 4g/dl em razão de perdas contínuas existentes (como nas colites) ou de extensa hemodiluição decorrente de prolongada fluidoterapia com cristalóides • Cristalóides: ‣ Soluções mais amplamente empregadas em Medicina Veterinária. De maneira geral, são utilizadas quando se objetiva a correção de alterações de volume, de eletrólitos, dos níveis de energia e do equilíbrio ácido básico. ‣ Ringer com Lactato: - Apresenta composição mais próxima à do plasma. - Deve ser utilizada em situações envolvendo perdas de fluidos e eletrólitos acompanhadas de acidose metabólica moderada. O lactato presente na solução funciona como fonte de base pela sua transformação em bicarbonato após metabolização hepática. Desidratação (%) Classificação Turgor cutâneo TPC VG PPT 5 - 7 Leve 2 - 3 1 - 2 40 - 50 6,5 - 7,5 8 - 10 Moderada 3 - 5 2 - 4 50 - 65 7,5 - 8,5 >10 Severa > 5 > 4 > 65 > 8,5 7 - É importante, contudo, ressaltar que distúrbios hepáticos intrínsecos, acidose metabólica severa (pH < 7,1) ou estados de deficiência circulatória portal podem reduzir a biotransformação do lactato em bicarbonato e, com isso, reduzir o caráter alcalinizante da solução. ‣ Solução de NaCl a 0,9%: - Deve ser empregada em situações envolvendo estados de hipercalemia, hiponatremia, hipocloremia e alcalose metabólica. - As situações clínicas mais comuns que requerem o uso de NaCI 0,9% são o uroperitônio em potros e a desidratação após exercícios físicos extenuantes com grandes perdas hidroeletrolíticas pelo suor. - A hipercalemia observada em potros portadores de uroperitônio contra-indica o uso de soluções contendo potássio, como, por exemplo, a solução de Ringer ou Ringer com Lactato. - A sudorese intensa observada em equinos submetidos a provas equestres de longas distâncias, com predomínio de metabolismo aeróbio como nos enduros, e promovidas notadamente em dias de altas temperaturas, determina uma grande depleção das reservas hidroeletrolíticas. Grandes quantidades de sódio, cloreto, potássio, cálcio e magnésio são perdidas pelo suor; entretanto, os íons sódio e cloreto são aqueles perdidos em maior quantidade. A perda excessiva de cloreto determina a mobilização de grandes quantidades de bicarbonato pelo organismo, resultando, dessa forma, num quadro de alcalose metabólica hipoclorêmica. ‣ Solução de Ringer: - Deve ser utilizada em situações envolvendo déficits de fluido e eletrólitos acompanhados de alcalose metabólica. ‣ Solução de glicose a 5%: - Deve ser empregada em situações caracterizadas por diminuição das reservas energéticas (hipoglicemia) e desequilíbrios primariamente hídricos e não eletrolíticos, ou seja, nos casos em que a desidratação é hipertônica. - Na prática isso pode ser encontrado em animais que não estejam se alimentando e nem ingerindo água. Seu uso também é indicado em potros ou bezerros neonatos que não estejam ingerindo leite e consequentemente necessitem suporte energético. ‣ Soluções de bicarbonato de sódio: - Têm como indicação a correção de estados de acidose metabólica severa caracterizados por pH inferior a 7,2 ou déficit de base superior a 10 mEqll. - Essa recomendação baseia-se no fato de que quadros de acidose metabólica de menor gravidade podem ser frequentemente solucionados pela correção da perfusão tecidual por meio de soluções eletrolíticas como a de Ringer com Lactato e pela correção da causa primária desencadeante do desequilíbrio ácido- básico. - Soluções de bicarbonato de sódio não devem ser misturadas a outras soluções contendo cálcio, uma vez que a formação de um precipitado insolúvel de carbonato de cálcio inviabiliza seu uso. Sua administração deve ser cuidadosa e com base nos valores da hemogasometria, pois a administração em excesso pode provocar alcalose metabólica de difícil reversibilidade e depressão respiratória. ‣ Solução hipertônica NaCl a 7,5%: - Utilizada em situações emergenciais na recuperação volêmica de pacientes em choque hipovolêmico, hemorrágico e séptico além de pacientes com trauma crânio encefálico, pois ajudam na redução do edema. - Por se tratar de uma solução hipertônica, seu mecanismo de ação envolve a passagem de fluidos do líquido intracelular para o líquido plasmático, aumentando, dessa forma o volume circulante. - Deve ser utilizada somente em situações emergenciais nas quais se requer uma rápida expansão de volume circulatório. A rápida expansão volêmica permite a manutenção temporária das funções orgânicas até que medidas ou ações definitivas sejam tomadas para interromper a causa primária do choque. 8 Equilíbrio hidroeletrolítico e ácido básico Água • Manutenção da vida • Relações químicas e físicas com íons e moléculas • ~60 a 65% do peso é água • Idade ‣ Jovens 70 a 80% • Quantidade de gordura ‣ Gordo 40% ‣ Magro 70% • Distribuição da água e eletrólitos: ‣ A água encontra-se em constante movimento entre os compartimentos: - Compartimento intracelular → corresponde a 70% do total de água no organismo. - Compartimento extracelular → corresponde a 30% do total de água no organismo. • Distribuição da água e eletrólitos: ‣ Compartimento extracelular ou líquido extracelular : - Compartimento plasmático, também chamado de vascular ; - Compartimento intersticial (14%): ✓Adjacentes as células; ✓Corresponde a maior quantidade de líquido extracelular. - Compartimento transcelular (1%): ✓Representado pela água nas vias digestivas, urinárias, liquor, humor aquoso, cavidade peritoneal e líquido sinovial. ✓Em herbívoros, pode corresponder a até 10 a 15% do peso. Função: • Facilitam o transporte de nutrientes, hormônios, proteínas e outras moléculas • Ajudam na remoção de produtos de degradação metabólica • Regulação da temperatura corporal • Lubrificação das articulações • Componente em todas as cavidades corporais Equilíbrio hídrico: • Quantidade de água mantém-se constante diariamente (equilíbrio hídrico ou homeostasia) • Homeostasia entre LEC e LIC 9 Desidratação • Conceito de desidratação: ‣ É o equilíbrio hídrico negativo,quando as perdas hídricas superam o ganho; ‣ Pode ocorrer por dois motivos principais: - Hipodipsia → diminuição do acesso a água, alterações neurológicas ou doenças sistêmicas que impeçam o animal de ingerir água. Com isso não há reposição das perdas fisiológicas que ocorrem no animal. - Aumento das perdas → causa mais comum (vômito, diarreia, poliúria, queimaduras extensas e perdas para o terceiro espaço). Neste caso a perda patológica supera a ingestão de água, que o animal ainda pode realizar. * O equilíbrio hídrico deve permanecer zerado, pois quando se encontra positivo indica um excesso de solvente no organismo podendo levar ao desenvolvimento de edema; enquanto um equilíbrio negativo indica a falta do solvente e com isso ocorre a desidratação. • Perdas fisiológicas de água: ‣ Durante os processos fisiológicos os animal perdem água para o ambiente, entretanto não ocorre desidratação pois essa perda é constantemente suprida pelo estímulo a ingestão de água; ‣ As perdas fisiológicas podem ser classificadas em sensíveis e insensíveis em relação a capacidade de mensuração das mesmas: - Sensíveis: ✓Urina; ✓Leite; - Insensíveis: ✓Fezes; ✓Respiração; ✓Transpiração. • Manutenção da homeostasia: ‣ 16 a 25 °C, 55 a 75% umidade relativa do ar ‣ 50 mL/kg adultos ‣ 80 mL/kg jovens Patogenia da desidratação: • Diminuição dos níveis de líquido tecidual • Redução do conteúdo líquido do sangue • Leva a acidose/alcalose metabólica * Animais com desidratação severa desenvolvem hipovolemia e essa alteração é visualizada através das mucosas pálidas e secas. A hipovolemia resulta em menor aporte de oxigênio para as células, as deixando em hipóxia. Na tentativa de manter a produção de ATP a célula inicia metabolismo anaeróbico, que tem o ácido lático como produto final, a maior deposição de ácido lático no tecido leva à acidose metabólica. Rotatividade de água: • A desidratação é decorrente da diminuição da ingestão de água ou aumento das perdas • Existem diferentes mecanismos que são ativados na tentativa de reestabelecer ou poupar a água corporal, em casos de desidratação, como: ‣ Neuronal com estimulação do hipotálamo diretamente no centro da sede ⇢ aumenta a ingestão de água. ‣ Aumento da osmolaridade ⇢ ativação de osmorreceptores ⇢ liberação ADH ⇢ retenção de água no rim através da deposição de aquaporinas nos ductos renais 10 ‣ Diminuição da PA ⇢ sensibilização das células justaglomerulares ⇢ ativação do SNAA ⇢ aldosterona diminui a eliminação do sódio pela urina, aumentando a osmolaridade plasmático e estimulando a passagem de água para dentro do vaso ⇢ aumenta a volemia e consequentemente a PA. * Os rins são os principais órgãos envolvidos na resposta compensatória sistêmica. O débito cardíaco inadequado resulta em menor fluxo sanguíneo para os rins e, consequentemente, menor filtração glomerular. Essa menor filtração glomerular ocasiona diminuição na concentração de sódio e aumento da concentração de potássio plasmático, que leva à ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. * A renina é liberada pelos rins, promovendo a conversão de angiotensinogênio em angiotensina I, que, posteriormente, é convertida em angiotensina II pela enzima ECA. A angiotensina II é um vasoconstritor potente que promove a vasoconstrição periférica e a redistribuição do fluxo sanguíneo. Além disso, angiotensina II promove a vasoconstrição das arteríolas renais aferentes, preservando o volume da filtração glomerular, e ativa a liberação de aldosterona, responsável pela reabsorção de sódio e água nos túbulos renais, favorecendo o aumento da volemia. • Movimentação da água entre os compartimentos: ‣ Ocorre devido ao gradiente osmótico existente entre a membrana celular ; ‣ Depende do número de partículas osmoticamente ativas entre um lado da membrana e outro; ‣ Principais íons do LEC → Na⁺, HCO₃⁻ Cl⁻; ‣ Principais íons do LIC → K⁺, Mg⁺⁺ e íons de fósforo; ‣ Alterações de volume nos compartimentos podem alterar a pressão e osmolaridade levando a redistribuição de água entre os compartimentos. ‣ O rim é o órgão responsável pela manutenção diária do balanço líquido, osmolaridade e composição eletrolítica * Ao avaliar a desidratação de um animal está sendo analisado a quantidade de água perdida pelo interstício já que este corresponde a maior porção de água do meio extracelular. Além disso, a perda de água intracelular, apesar de extrema importância, não é detectável. Sinais da desidratação: • Diminuição do turgor da pele ‣ Pele seca e enrugada ‣ Preguemento de pele • Retração globo ocular (enoftalmia) • Muflo seco • Mucosas ressecadas • TPC aumentado • Oligúria • Aumento da densidade urinária Alterações clínicas: • Aumento no hematócrito e na PTN plasmática total 11 • Hematócrito: ‣ Varia de acordo com idade e espécie ‣ Anemia ‣ Contração esplênica • Anorexia: ‣ Aumenta desidratação em 2 a 3% ‣ Aumenta o Ht em 5% equinos ‣ Aumenta o Ht em 2 a 3% em bovinos * É importante que o VG e a PPT sejam analisados conjuntamente, pois, em algumas situações, a interpretação isolada desses valores pode resultar em erro. A estimulação simpática causada por condições de estresse ou excitação pode provocar a contração esplênica com liberação na circulação de mais hemácias, o que pode mascarar possível anemia. Nessas circunstâncias, há aumento do VG, não por perda fluida, mas, sim, pelo aumento do número hemácias não indicando, portanto, desidratação. Equilíbrio ácido básico Conceitos elementares: • Ácido: ‣ Composto doador de próton; ‣ Forma não ionizada; Grau de desidratação % Turgor cutâneo TPC e mucosas Hematócrito % PPT (g/dL) Outros Leve - 4 a 6% <2 TPC < 2’ Mucosas normais ou levemente ressecadas Moderada - 6 a 8% 2 a 3 TPC de 3’ Mucosas congestas e secas 40 – 45 6,5 – 7,5 Enoftalmia ↑ Densidade urinária Grave - 8 a 10% 3 a 5 TPC 3 a 4’ Mucosas pálidas e secas 50 – 65 7,5 – 8,5 ↑ FC Pulso fraco Extremidades frias Choque 10 a 12% > 5 TPC > 4’ Mucosas pálidas, secas ou cianóticas > 60 > 8,5 Morte iminente 12 • Base: ‣ Composto receptor de próton; ‣ Forma ionizada. • Ácido-base conjugada: ‣ Equilíbrio fisiológico entre a forma não ionizada (ácido) e a forma ionizada (base). ‣ No organismo a tendência é sempre o equilíbrio, a neutralidade, por este motivo ocorre a conjugação dos ácidos e bases neutralizando seus possíveis efeitos negativos quando livres no organismo. Processos metabólicos orgânicos resultam na produção de ácidos: • Ácidos fixos (H⁺): ‣ Catabolismo de proteínas (remoção do grupo amina antes de entrar no ciclo do ácido aracdônico). ‣ Classificados como fixo por estar diluído no principal sistema carreador de substâncias no organismo, o sangue. • Ácidos voláteis (CO₂): ‣ Catabolismo de de carboidratos e ácidos graxos (fosforilação oxidativa → CO₂ + ATP + H₂O). Manutenção do pH: • O pH deve ser mantido dentro de valores fisiológicos para otimizar as atividades enzimáticas celulares; • Caso os valores de pH caiam de forma drástica ocorre dano intenso na estrutura tridimensional de proteínas, levando a sua desnaturação e consequente perda de função; • Os ácidos fixos e voláteis devem ser neutralizados/eliminados para que não ocorram alterações de pH incompatíveis com a vida: ‣ Ácidos fixos são excretados em solução aquosa proveniente da filtração sanguínea realizada pelos rins; ‣ Ácidos voláteis são eliminados pelos pulmões. ‣ Substâncias amortecedoras também auxiliam na manutenção do pH. * O controle ácido-básico renal é demorado, podendo levar de 3 a 4 horas para ser realizado, em contrapartida o controle pulmonar acontece de forma rápida e em alguns minutos consegue regular um desbalanço. * Com isso o sistema respiratório vai ser essencial no controle de um desequilíbrio ácido básico. Substâncias amortecedoras: • Extracelulares: ‣ Tampões - Sistema ácido carbônico ⇢ bicarbonato de sódio - Sistema fosfato monossódico ⇢ fosfato bissódico ‣ Anfóteras ⇢ substância que podeatuar como um ácido ou como uma base - Proteínas - Hemoglobina • Intracelulares ‣ Proteínas ‣ Complexo orgânico de fósforo pH e função orgânica: • pH 7,4 → função celular ótima • pH 7,35 a 7,45 → considerado normal • < 7,0 e >7,8 → limite vital 13 • pH altera: ‣ Estado de ionização de grupos químicos ‣ Atividade enzimática ‣ Integridade das membranas celulares Acidose metabólica: • Resultante do excesso relativo ou absoluto de ácidos fixos no organismo; • Caracterizada por uma queda primária na concentração de bicarbonato, excesso relativo de ácidos fixos ou redução secundária da PCO₂; • É o distúrbio ácido-base mais frequente no equino. • Resposta compensatória → alcalose respiratória. • É classificado como acidemia quando o pH sanguíneo é < 7,35 * A acidose metabólica pode ocorrer pelo aumento absoluto dos ácidos fixos, H⁺ ou ainda pela diminuição relativa da base HCO₃⁻. Porém, na análise da hemogasometria não há o valor do H⁺, então deve-se avaliar o bicarbonato, mesmo sem conseguir definir se é um distúrbio absoluto ou relativo. Além disso é possível visualizar a queda compensatória da PCO₂. * Os quimiorreceptores presentes no seio carotídeo e arco aórtico percebem a alteração que da início a acidose metabólica. Com isso, enviam um estímulo aferente para o centro do bulbo, que interpreta o estímulo e ativa resposta por via eferente para os pulmões, que aumentam a ventilação alveolar. O aumento da ventilação alveolar faz com que um volume maior de ar seja trocado com o ambiente. Como consequência mais CO₂ é eliminado, gerando diminuição da PCO₂ e consequentemente uma alcalose respiratória. CO₂ + H₂O ⇄ H₂CO₃ ⇄ H⁺ + HCO₃⁻ A enzima anidrase carbônica é a responsável por realizar ambas as reações. Tipo de distúrbio Alteração primária Resposta compensatória pH Acidose metabólica ↓ HCO₃⁻ ↓ PCO₂ Alcalose respiratória 2ª Diminuído ou normal Alcalose metabólica ↑ HCO₃⁻ ↑ PCO₂ Acidose respiratória 2ª Aumentado ou normal Acidose respiratória ↑ PCO₂ ↑ HCO₃⁻ Alcalose metabólica 2ª Diminuído ou normal Alcalose respiratória ↓ PCO₂ ↓ HCO₃⁻ Acidose metabólica 2ª Aumentado ou normal 14 • Etiologia: ‣ Excessiva perda de base: - Diarreia - Insuficiência renal ‣ Acúmulos de ácidos endógenos ou exógenos: - Choque (hipóxia) - Endotoxemia - Exercício intenso (transitória) ‣ Aumento da absorção de ácidos fixos no sangue: - Acidose diabética, desnutrição, jejum prolongado, anorexia, exercício intenso, convulsões e outros. ‣ Aumento da produção de ácidos (acidose lática por hipóxia); * Relembrando a fisiologia do organismo, é importante saber que para neutralizar os ácidos vindo do estômago o pâncreas exócrino libera, no intestino, bicarbonato. Esse bicarbonato neutraliza o pH ácido do bolo alimentar e eventualmente é reabsorvido pelo intestino. * Caso o animal esteja com diarréia a motilidade intestinal fica aumentada levando a maior perda de líquidos e outras substâncias, entre elas o bicarbonato que não consegue ser reabsorvido pelos enterócitos, graças ao fluxo acelerado do bolo fecal. O animal eventualmente apresentará diminuição do bicarbonato sérico, já que só há perda e não há reabsorção. * Dessa forma, é possível dizer que animais com diarréia podem desenvolver acidose metabólica relativa, pela perda da base, não havendo alteração direta na concentração de ácidos do organismo, porém o resultado é o mesmo. • Sinais clínicos: ‣ Depressão mental, fraqueza muscular, depressão, decúbito, coma ‣ Aumento da FR e profundidade da respiração • Patologia clínica (hemogasometria): ‣ Diminui HCO₃⁻ ‣ Diminui pCO₂ ‣ Pode diminuir o pH Alcalose metabólica: • Resultante de um déficit relativo ou absoluto de ácidos fixos no organismo; • Caracteriza-se por uma elevação primária da concentração de bicarbonato, déficit de ácidos fixos e/ou elevação secundária da PCO₂; • Resposta compensatória → acidose respiratória. * Para criar a resposta compensatória à alcalose metabólica o organismo deve alterar a ventilação alveolar, diminuindo esta ventilação e com isso retendo mais CO₂ no pulmão. Esse processo leva a uma acidose respiratória compensatória pelo aumento da PCO₂, que balanceia o aumento da base (ou diminuição do ácido) do distúrbio primário; 15 * Quando o animal vomita acaba perdendo H⁺ e Cl⁻, podendo desenvolver um quadro de alcalose metabólica, pois com a deficiência de H⁺ ocorre o aumento do bicarbonato disponível. CO₂ + H₂O ⇄ H₂CO₃ ⇄ H⁺ + HCO₃⁻ A enzima anidrase carbônica é a responsável por realizar ambas as reações. • Etiologia: ‣ Aumento na absorção de bases; ‣ Excesso na perda de ácidos: - Duodeno-jejunite proximal - Refluxo gástrico - Dilatação ou torção abomasal ‣ Administração de substâncias básicas (NaHCO₃⁻, por exemplo); ‣ Alterações duodenais → retenção do bicarbonato. * Uma alcalose metabólica leve com hipocloremia e hipocalemia são comuns devido, provavelmente, à atonia abomasal e contínua secreção de ácido hipoclorídrico e prejuízo no fluxo para o duodeno. Úlceras abomasais podem ocorrer em casos prolongados. • Sinais clínicos: ‣ Não característicos ‣ Respiração lenta e superficial ‣ Tremores musculares e tetania • Patologia clínica (hemogasometria): ‣ Aumento da pCO₂ ‣ Aumento do bicarbonato (reserva alcalina) Fluidoterapia em grandes animais • Conceito de fluidoterapia: ‣ Consiste na reposição e na restauração da normalidade do volume e componentes dos líquidos corporais; ‣ Também pode ser utilizada para manutenção de um acesso vascular e administração de medicamentos em pacientes internados ou sob cuidados pré, trans e pós-operatórios. • Objetivos: ‣ Restaurar e manter a hidratação, mantendo a pressão de perfusão ‣ Restaurar e manter a osmolaridade ‣ Corrigir desequilíbrios eletrolíticos/ácido-básicos Indicações de fluidoterapia: • Desidratação/ingestão diminuída • Incapacidade de ingestão ‣ Disfagia ‣ Obstrução esofágica ‣ Privação hídrica • Doenças gastrointestinais com impossibilidade de hidratação oral: ‣ Obstrução intestinal proximal 16 ‣ Refluxo gástrico (equinos) ‣ Obstrução pré-estômagos • Doenças gastrointestinais que necessitam de hidratação aumentada: ‣ Cólica ‣ Compactação ⇢ hiper-hidratação diminui pressão oncótica intravascular ⇢ perda para interstício ⇢ lúmen ⇢ amolecimento ingesta ‣ Ileus • Doenças que resultem em perdas de fluídos/eletrólitos: ‣ Colite ‣ Obstrução do fluxo abomasal ‣ Hemorragia ‣ Insuficiencia renal ‣ Uroperitônio ‣ Acidose metabólica ‣ Exaustão ‣ Peritonite/pleurite ‣ Hipocalcemia e outros ‣ Choque endotoxico, hipovolemico ou séptico • Doenças que requerem glicose: ‣ Neonatos ‣ Insuficiência hepática ‣ Cetose Parâmetros usados na fluidoterapia: • Quantidade: ‣ Planos de fluidoterapia ‣ Repor perdas imediatas ‣ Fluidoterapia de 24 horas ‣ Reposição (perdas): - Desidratação, perda de água corporal - Avaliação clínica - Avaliação laboratorial - Limitações Volume (L) = (% desidratação / 100) x peso (kg) 8 horas ‣ Manutenção (rotatividade): - Respiração + evaporação: 25mL/kg/dia - Urina: 23ml/kg/dia - Fezes: 17mL/kg/dia Média: 50mL/kg/dia Neonato: 60 - 80 mL/kg/dia 16 horas ‣ Perdas contínuas: - Quando após o início da hidratação o animal continua apresentando perdas Diarreia = 50 ml / kg Refluxo = 40 ml / kg Diarreia + refluxo = 60 ml / kg 16 horas 17 Tipos de fluido I. Cristalóide: • São soluções que contêm solutos eletrolíticos e não eletrolíticos capazes de penetrar em todos os compartimentos corporais • Exemplos: ‣ Solução NaCl 0,9%; ‣ Solução de Ringer lactado; ‣ Solução de glicose a 5%. • São baratos e correspondem a primeira linha de escolha para fluidoterapia (na maioria dos casos); • São divididos em: ‣ Isotônicas: - Possui a mesma concentração osmolar do plasma - Distribui-se igualmente através do LEC e do LIC - Glicose 5%, ringer com lactato, fisiológico ‣ Hipotônicas: - Possui menor concentração osmolar que a concentração plasmática - Leva a desvio do LEC para o LIC, pode levara intoxicação hídrica - NaCl 0,45% ‣ Hipertônicas: - Possui maior concentração osmolar que o plasma - Leva a desvio do LIC para o LEC → pode levar a desidratação - NaCl 7,5% II. Colóides: • São soluções que contêm substâncias com alto peso molecular que se mantêm exclusivamente no plasma • A substância de alto peso molecular aumenta a pressão oncótica do local em que é aplicada. • Podem levar a insuficiência cardíaca congestiva e edema pulmonar • Exemplos: ‣ Plasma ‣ Dextram ‣ Hetamido (hespan) • Indicação: ‣ Expansão do volume plasmático ‣ Correção da hipotensão * Aumentam a volemia de forma rápida, sendo muito utilizada (antigamente) em pacientes em choque. * Fazer essa substâncias em animais desidratados leva a piora do quadro de desidratação pelo estímulo da passagem de água do interstício e células para dentro do vaso. * Além disso, as substâncias colóides podem causar alterações na coagulação. A escolha do fluido depende: • Condição eletrolítica do sangue • Conhecimento das perdas potenciais prováveis • Custo e cooperação do proprietário 18 Glicose 5%: • Nenhum eletrólito • 50 g de glicose • Fornece 170 cal/L e água livre para auxiliar na excreção renal de solutos • Adequada para hipoglicemia e hipercalemia Solução salina (NaCl) 0,9%: • Fornece Na⁺ e Cl⁻ (154 mEq/L cada) em quantidade maior que o plasma • Ligeiramente acidificante para grandes animais • Indicado para hipercalemia, hiponatremia e hipocloremia Solução salina (NaCl) 7,5%: • Hipertônica • Expansão plasmática rápida • 4 mL/kg • Fluidoterapia simultânea • Efeitos temporários → duração entre 90 a 120 min • Indicado em choque hipovolêmico e TCE Ringer com lactato de sódio: • Necessita de fígado funcional • Transformado em glicose no fígado • Na⁺ promove ressíntese do tampão bicarbonato • Fornece outros íons • Ringer com acetato de sódio ‣ Metabolizado no músculo Bicarbonato de sódio: • Utilizar em déficits acima de 10 mEq/L • HCO₃⁻ < 15 mEq • pH < 7,2 • Repor metade do déficit imediatamente, a outra metade nas próximas 12 a 24 horas • Utilização: ‣ Critérios usados para administrar bicarbonato: - Valores de HCO₃⁻ (< 15 mmol/L); - Déficit de bases ( > 10 mmol/L). ‣ Cuidados na administração do bicarbonato: - Deve-se repor apenas metade de valor calculado em um primeiro momento a fim de minimizar o risco de uma alcalose metabólica iatrogênica; - A dose é administrada em 15 a 30 minutos. ‣ Dose: - HCO₃⁻ (mmol) = 0,3 (porcentagem de LEC) x peso do animal (kg) x (bicarbonato desejado - bicarbonato encontrado) - Considerar → 1 mL de bicarbonato a 3% = 0,36 mmol. • Déficit de bases: ‣ É a quantidade de HCO₃⁻ (mmol/L) que falta para que o valor de HCO₃⁻ do animal atinja um valor padrão (25 mmol/L); ‣ Pode-se empregar o valor dado pelo aparelho de hemogasometria; 19 - Ex: foi feito o exame de hemogasometria em um animal e a concentração de HCO₃⁻ foi de 8 mmol/L, neste caso o déficit de base é de 17 mmol/L. * O animal do caso acima estaria apto a receber bicarbonato exógeno para controlar a acidose metabólica pois apresenta nível sérico de bicarbonato < 15 mmol/L (apresentou valor de 8 mmol/L) além do déficit de base ser > 10 mmol/L (apresentou valor de 17 mmol/L). Vias de fluidoterapia Os fluidos podem ser administrados pelas vias: • Venosa; • Oral (reservada para pacientes estáveis que não apresentam qualquer tipo de perda anormal de líquidos); • Subcutânea; • Intra-óssea; • Intraperitoneal. • Escolha da via depende de: ‣ Volume a ser administrado ‣ Tipo de fluído ‣ Doença a ser tratada ‣ Custo disponibilidade da via • Venosa: ‣ É a mais comum, via de eleição para pacientes emergenciais, pacientes muito doentes, com desidratação séria ou perda aguda de fluidos. ‣ Características: - Veija jugular ; - Requer tricotomia e assepsia; - O cateter deve ser trocado a cada 48-72 horas; ‣ Principal vantagem: - Administração de fluido diretamente no espaço vascular fornecendo rápida expansão do volume circulante (principalmente nos pacientes emergenciais). ‣ Principais complicações: - Trombose, flebite, embolia e superidratação. • Subcutânea: ‣ Principal indicação: - Evitar soluções glicosadas - Absorção lenta - Neonatos - Usada quando a desidratação é tão severa que os vasos estão colabados; - Técnica mais fácil e barata; ‣ Desvantagens: - Causa desconforto; - Pode ocorrer redução da temperatura corpórea; 20 - Não se deve usar fluidos sem eletrólitos: ✓Subcutâneo ficará hipotônico em relação ao LEC. - Não deve ser utilizada em paciente com vasoconstrição periférica: ✓Limitação da absorção do fluido no espaço subcutâneo. • Oral: ‣ Baixo custo, fluido não estéril ‣ Animais devem ser capazes de absorver ‣ Limitação de volume ‣ Dilatação gástrica causa desconforto ‣ Utilização: - Anorexia, disfagia, diarreia, após exercícios, complementação da via parenteral ‣ Absorção depende osmolaridade: - Preparações comerciais ou caseiras - Soluções isotônicas (230 a 360 mOsm/L) - Soluções hipertônicas estimulam a passagem de água para o lúmen ⇢ efeito reversível - Sulfato de Mg (3758 mOsm/L) ‣ Bicarbonato: - Pode interferir com a formação do coagulo de renina no abomaso - Pode alcalinizar o abomaso favorecendo colonização bacteriana - Fornecer 30-60 minutos após o leite Taxa de administração • Severidade do desequilíbrio • Tipo de fluido • Doença • Via • Intra-venosa: ‣ 20 a 40 mL/kg ⇢ 1ª hora, restabelecimento do fluxo renal ‣ 10 a 20 mL/kg ⇢ demais horas ‣ Choque, múltiplos cateteres sob pressão ⇢ 40 a 80 mL/kg/hora • Subcutânea: ‣ 1 a 5 mL/kg a cada 4 -6 h • Oral: ‣ Bovinos 20 L ⇢ 1 a 2 h ‣ Equinos 6 a 8 L ⇢ 30 a 60 min 21 Monitoração • Avaliação clínica • Desidratação • Perdas contínuas • Edema/fluxo urinário • TPC • Estado geral • Peso corporal • Avaliação laboratorial: ‣ Ht/PT/creatinina ‣ Eletrólitos/ácido-básico ‣ Glicose ‣ Urina Atenções: • A fluidoterapia é um tratamento de suporte • A doença primária que provoca distúrbios de fluidos, eletrólitos e do equilíbrio ácido base deve ser diagnosticada e tratada adequadamente • O objetivo da terapia hídrica e eletrolítica é corrigir desidratação ou hidratação excessiva e/ou desequilíbrio eletrolítico. Transfusão sanguínea Transfusão sanguínea e seus derivados: • É uma terapia intravenosa exclusiva, com sangue total ou produtos sanguíneos. • É a forma mais simples de transplante. • Indicação: ‣ Necessidade do restabelecimento da capacidade de transporte de oxigênio; ‣ Deficiências na hemostasia; ‣ Transferência da imunidade passiva (plasma); ‣ Hipoproteinemia (plasma); ‣ Reposição de volume. • Pode-se utilizar o sangue total ou seus derivados: ‣ O ideal é usar os derivados: - Conserva os estoques; - Permite que sejam transfundidas grandes quantidades de um componente; - Diminui o risco de sobrecarga circulatória. Tipos sanguíneos: ‣ Equinos: - Antígenos agrupados em sete sistemas: A, C, D, K, P, Q e U (cada um possui vários subgrupos ⇢ mais de 400.000 possibilidades); - Praticamente impossível uma transfusão sanguínea totalmente compatível; - Apenas os antígenos Aa e Qa são imunogênicos e existe uniformidade dentro das raças. ‣ Ruminantes: - Bovinos ⇢ pelo menos 13 grupos; 22 - Ovinos ⇢ de 7 a 8 grupos; - Caprinos ⇢ pelo menos 5 grupos; - Os ruminantes não possuem ou possuem poucas hemolisinas à primeira transfusão é segura. Seleção do animal: • Escolha do doador geral: ‣ Volume ~ 1 a 2 % do peso em sangue ‣ 10 a 20 % da volemia (~8% do peso) ‣ Adulto, boa condição corporal, sadio ‣ VG e PT normais ‣ Parentes do receptor: maior compatibilidade sanguínea ‣ Animais calmos, sem excesso de gordura ‣ Facilita a colheita de sangue • Equinos: ‣ Peso: no mínimo 450 kg; ‣ O ideal é que seja da mesma linhagem ou raça do receptor; ‣ Fêmeas nulíparas; ‣ Hematócrito e proteínas plasmáticas em valores normais; ‣ Sorologia negativa para anemia infecciosa equina; ‣ Não seja dos grupos sanguíneos Aa e Qa; ‣ Um equino de 500 kg podedoar de 6 a 8 litros de sangue a cada 30 dias. * Fêmeas gestantes apresentam risco de desenvolver isoeritrólise neonatal em que a mãe monta reação imunológica contra os epítopos da hemácia do filhote. Dessa forma pode ser que também haja reação com o sangue do receptor. • Ruminantes: ‣ Não devem possuir doenças bacterianas, virais e hemoparasitárias; ‣ Podem doar de 10 a 15 mL/kg de sangue a cada duas a quatro semanas; ‣ Animais gestantes não podem doar sangue. Tipos de preparados transfusionais: • Sangue fresco total: ‣ Sangue colhido em até, no máximo, 4 horas pós coleta; ‣ Contém hemácias, leucócitos, plaquetas, todos os fatores de coagulação e proteínas plasmáticas; ‣ Pode ser utilizado diretamente ou feita a separação de seus componentes. ‣ Indicação: - Recuperação da capacidade de transporte de oxigênio e volemia; - Anemias graves por perda aguda de sangue: ✓Quando 30% do volume for perdido. ✓Hematócrito abaixo de 20% no equino. ✓Anemias decorrentes da não produção ou perda de hemácias ⇢ hematócrito entre 10 e 17% devem receber transfusão. ‣ Limitações: - É um procedimento emergencial com objetivo de aumentar a sobrevida e a qualidade de vida; - Fornece tempo para que a causa da anemia seja tratada; - Não promove cura, a causa da anemia deve ser tratada; - As hemácias transfundidas tem vida curta: 23 ✓Equinos ⇢ 2 a 6 dias; ✓Ruminantes ⇢ 2 a 3 dias (bovinos) e 2 a 4 dias (caprinos). • Sangue total estocado: ‣ É o sangue fresco total colhido com CPDA-1 ou ACD e armazenado a temperatura de 1 a 6ºC (pode ser estocado por 28 a 35 dias se utilizado o CPDA-1); ‣ Contém hemácias, proteínas plasmáticas e fatores de coagulação estáveis; ‣ Após 8 horas de coleta o sangue perde os leucócitos e as plaquetas; • Papa de hemácias: ‣ É o sangue fresco total centrifugado e separado do plasma; ‣ Deve ser armazenada a temperatura de 1 a 6ºC (pode ser estocado por 14 dias); ‣ Contém apenas hemácias. ‣ Diluir com solução salina 0,9% (solução fisiológica) ‣ 10 mL de solução morna para cada 30-40 mL de papa ‣ Volume pode ser ajustado ‣ Pequeno volume para cardiopatas ‣ Volume maior para casos de hipovolemia ‣ Não se recomenda: - Ringer lactato: cálcio (coagulante) - Glicose 5%: osmolaridade (hemólise) • Plasma fresco congelado: ‣ É o sangue fresco total centrifugado e separado da papa de hemácias; ‣ Deve ser armazenado a temperatura de -18ºC em até 8 horas após a coleta; ‣ Contém todos os fatores de coagulação, além de todas as proteínas plasmáticas e imunoglobulinas. • Plasma congelado: ‣ É o sangue fresco total centrifugado e separado da papa de hemácias, porém que não foi congelado dentro do período de oito horas; ‣ Contém os fatores de coagulação dependentes de vitamina K (II, VII, IX e X) e imunoglobulinas. Transfusão de sangue total: • Objetivos: 24 ‣ Reexpandir o volume sanguíneo circulante ‣ Recuperar a oxigenação dos tecidos • Indicações: ‣ Hemorragia aguda intensa, VG < 20% ‣ Perda menos aguda, VG 10-12% ‣ Perdas crônicas, VG 7-8% • Avaliação clínica: ‣ ↑FC, ↑ FR, ↓ TR (extremidades frias), fraqueza, apatia, mucosas pálidas • Efeito transitório: ‣ Destruição de 60-70% das hemácias em no máximo 7 dias ‣ Suporte ao paciente → repouso para medula óssea ‣ Uso em anemias crônicas questionável, caso o animal esteja compensando o processo Transfusão de papa de hemácias: • Objetivos: ‣ Fornecer eritrócitos ‣ Melhorar déficit de oxigênio aos tecidos • Indicações: ‣ Anemia decorrente de perda/destruição de hemácias ‣ Hemoparasitoses Transfusão de plasma: • Objetivos: ‣ Expandir o volume circulatório ‣ Fornecer os constituintes do plasma • Indicações: ‣ Hipoproteinemia - <4g/dL equinos - <3g/dL em bovinos ‣ Expansão da volemia ‣ Falha na transferência de imunidade passiva ‣ Fornecer imunidade especifica ‣ Distúrbios de hemostasia (fatores de coagulação) Coleta do sangue: • Realizar tricotomia e antissepsia cirúrgica para evitar contaminação; • Usar bolsas próprias contendo anticoagulantes adicionados fatores nutricionais ou preservativo para hemácias: ‣ Bolsa com substâncias nutritivas as hemácias ⇢ ideal para estocagem: - Citrato fosfato dextrose adenina 1 (CPDA-1); - Ácido citrato dextrose (ACD); ‣ Bolsa sem substâncias nutritivas as hemácias ⇢ deve ser transfundido logo após a coleta: - Citrato de sódio; - Heparina. • Local de coleta: ‣ Equinos e bovinos: - Usar a jugular. 25 Durante a coleta: • Após a punção do vaso e o estabelecimento do fluxo, a bolsa deve sempre ser movimentada suavemente com objetivo de homogeneizar sem causar hemólise; • A bolsa deve ser mantida em local mais baixo que o doador, para estimular que o sangue flua com mais facilidade estimulado pela gravidade; • O tempo de coleta não deve ser maior que 15 minutos para diminuir o risco de infecção. Cuidado pós-colheita: • Comprimir o vaso por 2 a 4 minutos para evitar sangramento e formação de hematoma; • Evitar a contaminação do equipo com ar após a retirada da agulha; • O sangue e seus derivados devem ser armazenados em geladeira e freezer exclusivos. Teste de compatibilidade • Detecta presença de anticorpos do receptor conta as hemácias do doador; • Não substitui a tipagem sanguínea, pois nessa prova não se busca determinar a qual tipo sanguíneo o animal pertence; • Auxilia na diminuição de reação transfusional, porém ainda pode acontecer dependendo de outros fatores; • A presença de reação faz com que haja aglutinação e hemólise, devido a ligação entre antígeno e anticorpo; O teste de compatibilidade é dividido em duas provas: • Prova maior : ‣ A prova maior é mais importante pois mostra se há reação entre o plasma do receptor contra as hemácias do doador, considerando que existem maior volume sanguíneo no receptor, mesmo quando este está desidratado. Dessa forma existem mais anticorpos capazes de realizar uma reação que é exarcebada; ‣ Caso o animal seja positivo para aglutinação na prova maior, o indicado é que não se faça a transfusão, pois o risco de reação é muito alto; ‣ Dessa forma, analisa-se o plasma do receptor contra as hemácias do doador; • Prova menor: ‣ Mesmo que a prova maior seja mais importante, deve-se fazer a prova menor para diminuir ainda mais os riscos da transfusão; ‣ Caso o animal seja negativo para a prova maior e positivo para a prova menor pode-se fazer a transfusão, quando não há outro doador disponível, mas é necessário observar o animal constantemente, e em qualquer sinal de reação tomar as medidas necessárias para diminuir o processo inflamatório; ‣ Caso o animal seja positivo na prova maior e negativo na prova menor, não é possível fazer a transfusão devendo procurar outro doador; ‣ A prova menor analisa o plasma do doador contra as hemácias do receptor; ‣ Mesmo que o animal receba uma transfusão grande, não vai suplantar a quantidade de sangue que este possui, desta forma mesmo que haja anticorpos presentes no plasma do doador, a reação tem maiores chances de ser controlada; 26 Volume para transfusão Cálculo do volume a ser transfundido: • Sangue total: ‣ Volume (L) = (Peso do receptor x 0,08) x (VG desejado – VG do receptor) / VG do doador ‣ Grandes animais volumes muito altos na prática, transfusão de 6 a 8 litros de sangue (10 a 15 mL/kg) elevação do hematócrito em 3 a 4%. ——————————————————————————————————————————— • Papa de hemácias: ‣ Volume (L) = [ (peso do receptor 0,08) x (VG desejada – VG do paciente) / VG do doador ] / 2 ——————————————————————————————————————————— • Plasma: ‣ Volume (L) = (0,05 x peso receptor) x (PPT desejada - PPT receptor) / PPT doador ‣ 0,05 (5%) x PV (kg) = volume plasmático ‣ Velocidade de infusão: 5 a 10 mL/min ‣ Distúrbios hemostáticos: - 15 a 30 mL/kg de plasma fresco ou fresco congelado Cuidados com a transfusão: • Usar equipos próprios (macro), com filtros, para evitar que micro-coágulos entrem na circulação e causem trombose; • Aquecer a 37ºC antes do uso; • Nunca usar o mesmo cateter para administraçãode soluções que contém cálcio (Ringer-lactado ou Ringer simples). Velocidade transfusional: • Deve ser feito em no máximo 4 horas: ‣ Se ultrapassar este tempo aumento do risco de contaminação em 70%; ‣ Início da perda funcional dos componentes sanguíneos; • Grandes animais: ‣ Lenta nos primeiros 10 a 15 minutos ⇢ 0,1 mL/kg; ‣ Caso não apresente reações ⇢ 10 mL/kg/h; Reações adversas não imunológicas: • Sobrecarga vascular : ‣ Sinais clínicos: tosse, dispneia (edema pulmonar) ‣ Tratamento: - Interromper a transfusão - Administrar diurético: furosemida • Agentes infecciosos (contaminação bacteriana): ‣ Sinalclinico: febre ‣ Tratamento: antibiótico de amplo espectro 27 Reação adversa imunológica: • Hemólise: ‣ Incompatibilidade sanguínea ‣ Anticorpos contra os eritrócitos ‣ Medidas terapêuticas: - Interromper imediatamente a transfusão - Reações leves: - Flunixinmeglumine: 0,25 a 1,1 mg/kg, IV - Fluidoterapia: promover a diurese - Reações graves: - Corticosteroides (dexametasona): 0,1 a 0,2 mg/kg, IV - Epinefrina: 0,2-0,5 mL, IV - Constante monitoramento • Liberação de substancias vasoativas e catecolaminas • Em casos graves: choque anafilático e morte • Sinais clínicos: inquietação, ansiedade, tremores musculares, náuseas, vômitos, taquicardia, apneia ou taquipneia, incontinência urinaria ou fecal, convulsões, edema facial, ptialismo Antibiótico Atividades bacteriostática e bactericida: • Bacteriostática: ‣ Inibe a multiplicação, mas não a destrói. Com a suspensão do uso do antimicrobiano, a bactéria volta a se reproduzir. ‣ Com a diminuição da multiplicação da bactéria o organismo deve fazer o resto do trabalho em destrui-las, dessa forma é indicado fazer esta modalidade de antibiótico apenas em animais imunocompetentes ou associar com um bactericida; ‣ Pode ser usado para tratamento de traumas pequenos, como arranhão ou algo superficial. • Bactericida: ‣ Exerce efeito letal sobre a bactéria, sendo esse efeito irreversível. As atividades bactericidas e bacteriostáticas dependem do: • CIM: ‣ Concentração inibitória mínima; ‣ É a concentração mínima para que se tenha efeito bacteriostático. • CBM: ‣ Concentração bactericida mínima; ‣ É a concentração mínima para que se tenha efeito bactericida. * Um antibiótico bactericida pode ter efeito bacteriostático quando é administrado uma dose terapêutica menor do que o indicado. Entretanto um antibiótico bacteriostático nunca terá função bactericida não importa o quanto se aumente a dose terapêutica. 28 • CIM vs. CBM: ‣ Quanto mais próximo for o CIM do CBM ⇢ efeito bactericida; ‣ Quanto mais distante for o CIM do CBM ⇢ efeito bacteriostático. Situação Ideal de utilização • Localização do sítio da infecção e identificação do organismo por cultura • Determinar a CIM de cada ATB para o organismo infectante • Seleção inicial baseada na: ‣ Sensibilidade do organismo ‣ Capacidade do ATB penetrar no sítio de infecção atingindo e excedendo a CIM em doses não tóxicas • Idade • Absorção + biodisponibilidade + biotransformação + excreção • Espectro de ação • Resistência • Associações • Custo * A má utilização de antibióticos pode deixar resíduos em leite e carne além de auxiliar no desenvolvimento de resistência. Duração do tratamento: • Depende do agente e localização • Preconizado é de cinco a sete dias • Um a dois dias após melhora clínica (febre) • Processos crônicos (piogênicos) 2 a 4 semanas Associação de antibióticos O uso isolado é o método mais recomendado na maioria dos casos, porém, existem situações em que a associação é necessária: • Infecções graves; • Infecções mistas; • Para obter sinergismo e aumentar a eficiência; • Pacientes imunossuprimidos. Tipos de efeito: • Antagonismo: ‣ Quando a atividade antimicrobiana da associação é inferior àquela obtida quando cada um deles é usado isoladamente; ‣ Um fármaco interfere com a ação do outro, como por exemplo quando ocupam os mesmos receptores; • Sinergismo de potencialização: ‣ Quando a atividade antimicrobiana da associação é maior do que aquela obtida quando cada um deles é usado isoladamente. ‣ Mecanismos de ação / receptores distintos. ‣ Nesse caso os efeitos não apenas se somam, mas se multiplicam pois os fármacos possuem o mesmo efeito porém agem por vias distintas para alcança-lo; 29 ‣ Ao usar metade da dose de um fármaco e metade da dose de outro o efeito é maior do que se usasse a dose cheia de um só; • Efeito aditivo: ‣ Quando a atividade antimicrobiana da associação é indiferente, ou seja, é igual a soma das atividades isoladas; ‣ Uso de fármacos com a mesma classe e/ou mecanismo de ação, ocorrendo duplicação; ‣ Ao oferecer metade da dose de fármacos diferentes o efeito é o mesmo do que se usasse a dose cheia de um dos fármacos, o que é preferível; ‣ Devem ser evitadas, mas podem ser úteis e intencionais, com ajustes de dose. A associação leva em consideração a ação biológica do fármaco e seu mecanismo de ação: • Bactericida + bactericida ⇢ sinergismo ou aditivo; • Bacteriostático + bacterióstatico ⇢ aditivo; ‣ Exceção: sulfa + trimetropina. • Bactericida + bacteriostático ⇢ antagonismo. ‣ Exceção: - Clorafenicol + polimixinas; - Sulfas + polimixinas. Segurança na escolha: • Para o animal • Para o usuário • Para o consumidor • Para o ambiente * Utilização em animais de consumo pode levar a resistência em humanos. Dar preferência a drogas específicas para veterinária. 30 Betalactâmicos Agentes que inibem a síntese da parede celular • Parede celular bacteriana: ‣ Estrutura que recobre a membrana citoplasmática; ‣ Responsável pelas funções de proteção, sustentação e manutenção da forma bacteriana; ‣ Antimicrobianos que inibem a síntese da parede celular são bactericidas. * Caso haja alteração na parece celular, como a bactéria é hiperosmolar em relação ao meio, ocorre a entrada de água com posterior turgidez e rompimento da célula. * Os agentes de inibição da síntese não atuam caso a parede celular já esteja formada, ou seja não agem destruindo a parece celular. * Os ß-lactamicos atuam tanto em bactérias Gram + quanto Gram - • Agentes betalactâmicos: ‣ Penicilinas e Cefalosporinas: ‣ Não atuam quando a parede celular já está formada, mas sim quando ainda está acontecendo a sua formação (fase de multiplicação bacteriana); ‣ São tempo-dependentes: o tempo é o fator de maior importância para determinar a sua eficácia, ou seja, o tempo que a bactéria fica exposta ao agente é mais importante que a concentração necessária para destruí-la. Penicilinas naturais: • Penicilina G-cristalina, penicilina G-benzatina e penicilina G-procaína; • Geralmente são vendidos de forma associada; • Apresentam baixo custo; • São ativas contra bactérias gram-positivas aeróbias e anaeróbias, cocos gram-negativos, espiroquetas e actinomicetos (amplo espectro); • Os bacilos gram-negativos aeróbios ou anaeróbios são resistentes; • Farmacocinética: ‣ Instáveis e inativadas em ambientes ácidos extremos, não sendo uma boa opção da administração oral; ‣ São ativas em ambientes ligeiramente ácidos (processos inflamatórios); 31 ‣ A maior parte das penicilinas é de via IM, mas também pode ser feito IV; ‣ Se difundem bem em quase todos os tecidos, em especial quando há processo inflamatório; ‣ Fármaco hidrossolúvel; ‣ Excretadas por filtração glomerular e secreção tubular sem biotransformação • Distribuição baixa, muito baixa ou ausente: ‣ Cérebro; ‣ Coração; ‣ Osso; ‣ Meio intracelular. * Na inflamação ocorre passagem pela barreira hematoencefálica podendo a penicilina ser utilizada. • Uso terapêutico: ‣ Clostridioses em bovinos e ovinos; ‣ Tétano para todas as espécies; ‣ Pneumonias bacterianas em todas as espécies; ‣ Infecções do gênero Streptococcus (em especial S. equi). • Efeitos adversos / resistência: ‣ Inativadas por enzimas beta-lactamases (penicilinases) ‣ A maioria dos bacilos Gram - são resistentes ‣ Efeitos tóxicos mínimos ‣ Reaçõesde hipersensibilidade ‣ Resíduos - Carne 10 dias - Leite 72 horas ——————————————————————————————————————————— Penicilinas semi-sintéticas: • Aminopenicilinas ⇢ ampicilina e seus análogos (amoxicilina); • Pode ser associada ⇢ amoxicilina com clavulanato; • São ativas contra bactérias gram-positivas como Staphylococcus, Streptococcus beta-hemolítico e a maioria dos clostrídeos; • São ativas contra bactérias gram-negativas como Samonella, E. coli e Pasteurella; • Não tem ação contra Klebsiella, Proteus e Pseudomonas. • Farmacocinética: ‣ São ácido estáveis, podendo administrar pela via oral; ‣ A amoxicilina é absorvida pelo intestino; ‣ A ampicilina sofre interferência na presença de alimentos; ‣ Animais jovens e paciente com doença renal devem receber doses em intervalos maiores. * Pode causar intoxicação em pacientes que apresentam problema renal, devendo ajustar a dose nesses casos; • Efeitos adversos e limitações: ‣ Não podem ser administradas em associação a penicilinas naturais; ‣ Podem causar desequilíbrio da microbiota ruminal e cecal; ‣ São eliminadas pelo leite; 32 ‣ Não devem ser associadas as tetraciclinas, pois competem pelo mecanismo de entrada na célula bacteriana. • Uso terapêutico: ‣ Úteis em infecções renais de cães (leptospirose); ‣ Úteis em gastroenterites de diversas espécies; ‣ A amoxicilina é particularmente útil para o tratamento de otite, piodermites e pneumonias. ——————————————————————————————————————————— Cefalosporina: • São divididas em 4 gerações: ‣ Primeira geração: - Absorção parenteral ⇢ cefalotina, cefazolina e outras. - Absorção oral ⇢ cefalexina e outras. * A cefazolina é muito utilizada como medida profilática na medicina veterinária; * A cefalexina é muito usada em diferentes situações como dermatite, gastroenterite, pneumonia; ‣ Segunda geração: ‣ Maior espectro de ação contra bacilos gram-negativos; ‣ Absorção parenteral ⇢ cefuroxima e cefoxitina. ‣ Absorção oral ⇢ cefaclor e cefprozila. * São pouco utilizadas devido a gravidade dos efeitos colaterais, principalmente nos rins; ‣ Terceira geração: - Espectro de ação ainda maior sobre bacilos gram-negativos, porém menor atividade contra gram- positivos; - Absorção parenteral ⇢ ceftiofur, ceftriaxona e outros. - Absorção oral ⇢ cefixima e cefetamete pivoxila. * Os fármacos de absorção oral de terceira geração são pouco utilizados devido a alta toxicidade; * São os únicos capazes de atravessar a barreira hematoencefálica; ‣ Quarta geração: - Potência ainda maior contra bacilos gram-negativos, porém potência ainda menor contra gram-positivos; - Absorção parenteral ⇢ cefepina, cefquinoma e cefpirona. * Fármacos de uso hospitalar obrigatório, não são utilizadas na medicina veterinária, sendo usados apenas em humanos. Já foram associadas à necrose hepática em humanos. • Farmacocinética: ‣ Alguns podem ser absorvidos por via oral enquanto outros apenas pela via parenteral; ‣ As de 1ª e 2ª gerações atingem boas concentrações na pele e tecido subcutâneo; ‣ A ceftriaxona, cefotaxima e ceftazidima atravessam a barreia hematoencefálica (são exceções). ‣ Distribuição baixa ou muito baixa ou ausente: - Cérebro; - Coração; - Osso; 33 - Meio intracelular. * Se difundem bem pela pele e subcutâneo devido a alta hidrossolubilidade. • Efeitos adversos e limitações: ‣ Causam nefrotoxicidade quando usadas por períodos prolongados; ‣ O custo pode ser um fator limitante; ‣ Sofrem acúmulo em pacientes com insuficiência renal; ‣ Doses elevadas podem causar desequilíbrios na microbiota digestiva. * O uso por tempo prolongado pode causar diarréia. Aminoglicosídeos Agentes que interferem na síntese proteica, se ligam irreversivelmente à porção 30S dos ribossomos bacterianos, classificados como bactericidas * Normalmente fármacos que inibem a síntese proteica são classificados como bacteriostáticos, no entanto os aminoglicosídeos são excessão. * Na dose terapêutica tem ação bactericida, quando administrada dose reduzida pode ter ação bacteriostática. • Seu transporte intracelular depende de oxigênio ⇢ ineficaz contra bactérias anaeróbias; • São exemplos ⇢ estreptomicina, gentamicina, tobramicina e amicacina. Ligam-se irreversivelmente a fração 30S do ribossomo bacteriano, bloqueando o RNA mensageiro e transportador ⇢ translação errônea ⇢ produção de proteínas defeituosas ⇢ efeito bactericida * A ação bactericida depende exclusivamente da dose administrada do fármaco, pois a bactéria tem mecanismos próprios para competir por estes receptores desfazendo a ligação do aminoglicosídeo, dessa forma é importante que os receptores fiquem saturados pela presença do fármaco, que age da forma esperada. • Farmacocinética: ‣ Não são absorvidos por via oral, sendo utilizadas as vias intramuscular e subcutânea; ‣ São pouco lipossolúveis ⇢ não atravessam eficientemente as barreiras fisiológicas; ‣ Apresentam boa hidrossolubilidade ⇢ boa distribuição no espaço extracelular ; ‣ São eliminados de forma ativa na urina e acumulam-se no córtex renal e perilinfa da orelha interna (efeitos tóxicos). 34 Tetraciclina Inibem a síntese proteica ligando-se reversivelmente a subunidade 30S do ribossomo bacteriano ⇢ impede a síntese proteica ⇢ efeito é reversível ⇢ atividade bacteriostática • São antibióticos produzidos por diversas espécies de Streptomyces e recebem essa denominação devido a sua estrutura química formada por quatro anéis; • São úteis contra gram-positivas e gram-negativas, além de atuarem sobre Erlichia sp. e Anaplasma sp, Toxoplasma gondii, Giardia lamblia e outras; • A resistência contra tetraciclinas é comum, a exceção de patógenos intracelulares como a Erlichia sp. • Em mamíferos pode-se ligar a subunidade 40S do ribossomo causando efeitos adversos. • Fármacos: ‣ Doxiciclina; ‣ Minociclina; • Farmacocinética: ‣ Podem ser administradas tanto pela via oral quanto pela via parenteral; ‣ A distribuição varia de acordo com a lipossolubilidade, a doxiciclina é um dos antibióticos mais lipossolúveis; ‣ São tempo-dependentes; ‣ Todas são eliminadas na forma ativa na urina (exceto a doxicilina e minociclina). • Efeitos adversos e limitações: ‣ São nefrotóxicos (com exceção da doxiciclina); ‣ Causa diarreia severa quando usado por via oral em ruminantes (decorrente da destruição da microflora bacteriana) e em equinos (decorrente da destruição da microflora bacteriana); ‣ Causa necrose tecidual, quando administrada pela via parenteral. • Usos terapêuticos: ‣ São utilizados para tratamento de doenças nos sistemas respiratório, urinário, gastrointestinal; ‣ Brucelose canina; ‣ Erliquiose canina; ‣ Ceratoconjuntivite infecciosa bovina ⇢ Moraxella bovis. 1 Anatomia e fisiologia do digestório • Cavidade oral: ‣ Lábios, língua, dentes, palato e faringe ‣ Glândulas salivares • Esôfago • Compartimentos gástricos ‣ Rumen, retículo, omaso e abomaso • Intestinos Desenvolvimento: • No neonato ruminante os pré estômagos são pouco desenvolvidos e o animal nasce como um monogástrico. • O estímulo para o desenvolvimento depende de fatores mecânicos, químicos e biológicos através da povoação do rúmen pela microbiota. • O rúmen de um bezerro recém nascido não tem capacidade de digerir alimentos sólidos ou absorver nutrientes. Esta capacidade é adquirida ao longo das primeiras semanas de vida e é estimulada pelo consumo de dietas sólidas. • A digestão no rúmen é feita por bactérias, que precisam "colonizar" o rúmen do recém nascido. Para isto elas precisam de alimento. Além disso, a capacidade de absorção de nutrientes depende do desenvolvimento de papilas no rúmen. • O desenvolvimento das papilas é afetado pelo tipo de dieta oferecida aos bezerros. É possível, portanto, manipular a intensidade com que as papilas se desenvolvem através da dieta. ‣ De maneira geral, os animais recebendo as dietas com proteína vegetal apresentaram papilas mais longas (o que é interessante) que aqueles que receberam o concentrado com proteínaanimal e resíduo de óleo de soja. * As papilas são "projeções" da parede ruminal, como se fossem minúsculos dedos, que aumentam a área de absorção e portanto a capacidade de absorver os nutrientes originados na fermentação ruminal. Este aumento de área é de fundamental importância. * O tamanho dos pré-estômagos dos bovinos recém nascidos é quase igual ao do abomaso; enquanto adultos, o volume gástrico total corresponde a mais de 90%. Características do compartimento ruminal: • Anaeróbico • Bactérias, protozoários e leveduras • Vilosidades chamadas papilas 2 • Umidade elevada (85-90%) • pH variável (5,5 - 7,0) • Temperatura (38 - 42º C) • Ausência de secreção glandular • 80% do volume dos reservatórios Microbiota ruminal: • A colonização do sistema digestório no recém-nascido por microrganismo tem como origem o contato da cria com a vagina da mãe, saliva da mãe, bolo alimentar, cama e microbiota ambiental, outros animais, úbere, leite, saliva, urina, fezes e outras fontes alimentícias sendo o mais importante o contato com saliva, bolo ruminal e fezes. • O ruminante provê um ambiente adequado com elevada disponibilidade de alimentos para os microrganismos crescerem e reproduzirem. Por outro lado, os microrganismos permitem ao ruminante a habilidade de utilizar carboidratos complexos, tais como celulose e compostos de nitrogênio não proteico . • Bactérias anaeróbicas e facultativas. • 10 bilhões de bactérias e um milhão de protozoários/mL • Digerem grande parte da fibra; • Sintetizam vitaminas do complexo B; • São mortas e utilizadas • Processos fermentativos são semelhantes ao do ceco equino • Bactérias: ‣ As bactérias são os seres mais diversos no conteúdo ruminal, tanto em número quanto em atividade metabólica. São de suma importância no processo de fermentação e na degradação da lignina, celulose, hemicelulose, como também a proteína, o amido e o óleo contido nos alimentos. ‣ A simbiose entre as bactérias e entre outros microrganismos promove a formação de ácidos graxos voláteis e a proteína microbiana ruminal. ‣ Sintetizam vitaminas do complexo B posteriormente absorvidas pelo animal. • Protozoários: ‣ Os protozoários desempenham funções interligadas entre microrganismos, sendo estas, bioquímicas e fisiológicas de grande importância para os ruminantes, sobretudo no metabolismo de nutrientes. ‣ Os protozoários realizam o engolfamento das bactérias a fim de utilizar os aminoácidos e ácidos nucleicos presentes. * Tiamina é uma importante vitamina do complexo B, produzida pelas bactérias da microbiota ruminal e absorvidas no abomaso e intestino. A deficiência de tiamina pode levar ao desenvolvimento de poliencefalomalácia. * Os ruminantes utilizam as proteínas microbianas como fonte proteica. Durante o trajeto da ingesta bactérias são transportadas junto com o bolo alimentar, ao chegar no abomaso são digeridas pelo suco gástrico e suas estruturas proteicas posteriormente absorvidas no duodeno. Principais funções dos reservatórios gástricos: • Rúmen ⇢ fermentação microbiana e maceração • Retículo ⇢ separação dos alimentos • Omaso ⇢ absorção de água, minerais e maceração dos alimentos • Abomaso ⇢ digestão química * O rúmen e retículo de um bovino adulto tem capacidade reservatória de até 100 L. Enervação: • Estratificação e motilidade • SNS 3 • SNP: ‣ Nervo vago (motilidade) Motilidade ruminal: • Contrações primárias (mistura): ‣ Contração fraca e forte do retículo ‣ Deslocamento da ingesta para o saco dorsal ‣ Contração do saco dorsal e deslocamento da ingesta para o saco ventral ‣ Contração do saco ventral no sentido caudal ‣ Contrações do saco cego dorsal e ventral ‣ Ingesta movida no sentido dorsal e cranial de volta para o retículo * As contrações primárias misturam o alimento ingerido e separa partículas grandes e pequenas. O resultado são as estratificações ruminais, em que a ingesta fica disposta uniformemente. ‣ Estratificação ruminal: - Zona gasosa - Zona sólida (mate ruminal) - Zona pastosa - Zona líquida • Contrações secundárias (eructação): ‣ Contrações que envolvem somente o rúmen ‣ Inicia-se no saco cego dorsal ‣ Força o gás na direção da porção cranial do rúmen ‣ Menos frequente: 1 vez/ 2 min 4 ‣ Eructação: - Capaz de eliminar muito mais gás do que é produzido - A contração das pregas ruminoreticulares retém o movimento de líquido em direção ao retículo, impedindo que o líquido cubra o cárdia - Receptores no cárdia detectam a presença de gás e estimulam sua abertura, o gás passa e é eliminado no ambiente • Ruminação: ‣ Regurgitação ‣ Remastigação ‣ Insalivação ‣ Deglutição • Fechamento da goteira esofágica * É possível distinguir os movimento primários dos secundários? * O ciclo secundário não é precedido do movimento reticular. Sente-se o movimento ruminal à palpação do flanco esquerdo, sem que haja movimento reticular simultâneo. * Por que animais em decúbito lateral ficam timpânicos? * Pois perdem a capacidade de controlar o tipo de conteúdo que chega ao cárdia, no movimento secundário normal, a contração das pregas ruminoreticulares impede que líquido chegue ao cárdia. Quando o animal está em decúbito lateral perdem esse controle e o cárdia fica em contato direto com líquido, não recebendo estímulo para sua abertura. * Enquanto isso a fermentação ainda está ocorrendo, aumentando a concentração de gases no rúmen do animal, culminando no timpanismo gasoso dependendo do tempo em que o animal fica sem conseguir eructar. Semiologia Exame clínico Identificação: • Raça, idade, sexo, procedência Anamnese: • Emagrecimento, tempo de evolução, tipo de alimentação, características macroscópicas das fezes Exame físico geral: • Condição nutricional • Comportamento e postura 5 • Estados dos pelos e pele • Tipo de respiração • Assimetria abdominal, gemidos • Corrimentos • Coloração das mucosas • Parâmetros vitais Exame físico específico: • Inspeção do abdome: ‣ Inspeção à distância ⇢ causas de distensão abdominal ‣ Unilateral, bilateral, simétrica e assimétrica ‣ Dividir o abdômen em quadrantes: - Dorsal direito e esquerdo - Ventral direito e esquerdo • Cavidade oral: ‣ Dentes ‣ Língua ‣ Palato ‣ Faringe • Esôfago • Rúmen: ‣ Palpação (baloteamento), na região da fossa paralombar esquerda ‣ Achados semelhantes aos encontrados no exame visual 6 ‣ Intensidade e frequência das contrações ruminais ‣ Avaliação do tipo de conteúdo ruminal e presença de sensibilidade ‣ Principal estímulo dos ruídos no rúmen é a alimentação: - Alimentos ricos em fibra (feno e capim) aumentam a intensidade de ruídos - Alimentos com alto valor energético (soja e milho) produzem menor intensidade de ruídos ‣ Auscultação: - Presença de ruídos não é indicativo de motilidade ruminal normal - Auscultação do rúmen fornece informações sobre os outros reservatórios gástricos - Ritmo: em 2 minutos de 2-4 movimentos - Natureza: ✓ Crepitação ⇢ massa gasosa, eructação ✓ Rolamento/deslizamento ⇢ choque material sólido contra parede ruminal - Duração (Intensidade): ✓ Ausente (-) ✓ Diminuída (+) ✓ Normal (++) ✓ Aumentada (+++) ‣ Pings: - Atonia ruminal: ✓ Excessiva quantidade de líquido no rúmen ✓ Ingesta grosseira não está flutuando na camada líquida ruminal - Prolongada anorexia - Sobrecarga de grãos - Deslocamento de abomaso - Pneumoperitôneo • Palpação retal: ‣ Alças intestinais caudais, órgãos genitais, partes do peritônio parietal, rúmen, rim esquerdo, bifurcação aórtica, pelve óssea, sacro, linfonodos iliofemorais internos, linfonodos na bifurcação aórtica e a bexiga. ‣ Atenção para a prova do braço positiva, quando após a palpação a luva sai limpa indicando ausência de conteúdo fecal no reto. Isso implica que em algum local do TGI há obstrução que está impedindo a progressão da ingesta. Exames complementares: • Suco ruminal: ‣ Cor: - Pasto ⇢ verde oliva a acastanhado - Ração ⇢ marrom amarelado - Acidose ⇢ amarelo leitoso - Putrefação ⇢ preto esverdeado ‣ Odor: - Repugnante,azedo ou ácido ⇢ acidose - Pútrido ⇢ putrefação com decomposição de proteínas - Amoniacal ⇢ intoxicação por amônia - Inodoro ⇢ inatividade 7 ‣ pH: - Variações Fisiológicas ⇢ 5,5 a 7,2 - pH < 5,5 ⇢ rápida fermentação de carboidratos de fácil digestão podendo levar a acidose - pH > 7 ⇢ baixa fermentação de alimentos podendo decorrer do timpanismo, jejum prolongado, ingestão de ureia ou outras fontes nitrogenadas ‣ Azul de metileno: - Grãos ⇢ + 1 min - Grão e capim ⇢ + 3 min - Capim ⇢ 3 e 5 min - Putrefação, alcalose, acidose > 8 min - Deve-se adicionar azul de metileno na amostra de líquido ruminal coletada, a amostra ficará com a coloração azul - Após esse processo deve-se observar o tempo que leva para que a amostra retorne a sua coloração inicial indicando o consumo do azul de metileno pela microbiota ruminal - Se em 8 minutos não for observada alteração de coloração, torna-se evidente a inatividade microbiana; ‣ Cloretos: - < 30 mEq / L - Indigestão secundária por obstrução - Estenose anterior x Estenose posterior ‣ Protozoários: - A avaliação da densidade e da atividade dos protozoários no líquido ruminal é um indicador sensível da normalidade da amostra e da capacidade digestiva - A importância da avaliação dos protozoários decorre da sua grande sensibilidade às eventuais anormalidades de pH que venham a ocorrer no líquido ruminal - Um animal saudável apresenta em seu líquido ruminal grande variedade de tamanhos de protozoários, com atividade bastante exarcebada - Animais com distúrbios digestivos apresentam grande redução no número de protozoários e de sua atividade Detector de metais: • Indicado para diagnosticar reticulopericardite ou peritonite. • É comum a ingestão de corpos estranhos metálicos por bovinos, já que estes tem pouca seletividade do alimento e por isso são mais susceptíveis a ingerir objetos pontiagudos. • O detector deve ser passado tanto do lado direito quanto do esquerdo. Laparotomia e ruminotomia exploratória: • Quantidade, composição e trituração • Estado da mucosa ruminal, cárdia, orifício retículo omasal • Ectopias, aderências, corpos estranhos • Procedimentos terapêuticos Actinobacilose Actinobacilose é uma doença infecciosa, não contagiosa, crônica que frequentemente apresenta-se como estomatite profunda. Ocorre principalmente em bovinos, mas outros ruminantes e suínos também podem ser acometidos. O agente etiológico, Actinobacillus lignieresii, está presente na microbiota normal da cavidade oral de animais saudáveis. Quando há lesão da mucosa oral, esse organismo tem acesso a estruturas mais profundas, nas quais pode provocar reação inflamatória crônica. 8 * O Actinobacillus lignieresii é classificado como gram-negativo. A língua é a estrutura da cavidade oral mais comumente afetada. Casos mais graves costumam ser acompanhados de intensa fibroplasia, com substituição de fibras musculares da língua por tecido conjuntivo fibroso denso, levando o nome comum da doença, “língua de pau”. O sulco da língua é o local em que as lesões se desenvolvem preferencialmente, talvez por ser onde fibras de plantas se alojam naturalmente, causando trauma. Macroscopicamente, as lesões presentes na submucosa variam em tamanho e, normalmente, são centralizadas por pequenos grânulos amarelos, chamados de “grânulos de enxofre”. Microscopicamente, as lesões aparecem como piogranulomas, com cordões de cocobacilos no centro, de onde irradiam estruturas eosinofílicas. Essas, por sua vez, são circundadas por numerosos neutrófilos e, mais externamente, por macrófagos epitelioides, células gigantes e, finalmente, tecido conjuntivo fibroso. Pode ocorrer disseminação para os linfáticos, com frequente reação inflamatória granulomatosa, com piogranulomas em linfonodos regionais. Em alguns casos, pode ocorrer envolvimento de outras estruturas além da língua, em especial quando a doença ocorre em ovinos. Eventualmente, lesões podem ser encontradas nos pré estômagos de ruminantes. Sinais clínicos: • Glossite difusa esclerosante • Animal deixa de se alimentar • Salivação intensa, movimentos mastigatórios e dificuldade em se alimentar • Língua hipertrofiada, dura, sensível e dolorosa à manipulação Diagnóstico: • Clinicamente: ‣ Presença de granulomas duros, com conteúdo purulento ‣ Presença de nódulos na língua • Biópsia e cultura: ‣ Presença de pus ‣ Não é mau-cheiroso, granulos sulfurosos, roseta ‣ Diagnóstico definitivo é através de cultura, isolamento e identificação de A. lignieresii Tratamento: • Iodoterapia parenteral: • Reduzir o processo inflamatório e a fibrose • Iodeto de K, VO na dose de 6 a 10g / dia durante 7 a 10 dias • 70 a 80 mg/kg de iodeto de Na ou K, a 10 a 20% IV, repetido 7 a 10 dias • Antibióticos: ‣ Sulfonamidas, estreptomicina, aminoglicosídeos, tetraciclina ou penicilina 9 • Isolar animais doentes: ‣ Evitar a alimentação com forragem grosseira Actinomicose A actinomicose é causada por bactérias do gênero Actinomyces, que fazem parte da microbiota normal da cavidade oral e da mucosa nasofaringiana. São comensais de baixa patogenicidade e que penetram nos tecidos por meio de lesões traumáticas. A forma clássica da doença aparece nos bovinos e é causada pelo Actinomyces bovis. * O Actinomyces bovis é uma bactéria filamentosa gram-negativa. A lesão característica é o aumento de volume irregular da mandíbula ou, menos frequentemente, da maxila, devido ao comprometimento das estruturas ósseas por um processo de evolução longa e progressiva, de características piogranulomatosas. A introdução do agente se dá por meio de ferimentos penetrantes nos tecidos moles da região da mucosa oral, como as gengivas e o periodonto, sendo produzidos por arames, fragmentos grosseiros de vegetais ou de madeira. O envolvimento do tecido ósseo acontece posteriormente. As lesões se caracterizam por exsudato purulento viscoso envolvido por tecido de granulação proliferado que comprime os tecidos normais da região. O aumento de volume da estrutura óssea é resultado da reação inflamatória e da proliferação do tecido ósseo. As áreas de reabsorção óssea coincidem com os focos supurativos presentes na lesão. A superfície de corte da área da lesão apresenta coloração brancoacinzentada na qual se destacam as áreas de supuração, de coloração amarela, em meio à qual estão presentes grânulos amarelos, denominados de “grânulos de enxofre”. Microscopicamente, o agente forma colônias basofílicas, muitas vezes em forma de roseta, circundadas por halo eosinofílico. Ao redor dessas estruturas, a reação é composta de neutrófilos e, mais externamente, de macrófagos epitelioides que apresentam citoplasma abundante e espumoso. Eventualmente, podem ser também observados, nessa região, linfócitos e células gigantes tipo Langhans. Cada foco de reação é envolvido por tecido de granulação, que separa e circunda a lesão como um todo. Nos casos de longa duração, pode ocorrer mineralização. O diagnóstico diferencial inclui actinobacilose, nocardiose e estafilococose (botriomicose). A morfologia das colônias e dos microrganismos, além das suas reações tintoriais, fornece os dados necessários para a diferenciação. Deve-se ressaltar que, na actinobacilose dos bovinos, os tecidos moles são envolvidos preferencialmente e, microscopicamente, as colônias têm tamanho maior. Sinais clínicos: • Aumento de volume de consistência muito dura na altura dos dentes molares ou pré-molares ‣ Mandíbula > maxilar • Lesão aumenta de tamanho lentamente podendo ocorrer ulceração da pele com formação de trajetos fistulosos • Pus amarelado, grânulos pequenos e duros • Dor, afrouxamento e perda de dentes, o que torna a alimentação difícil e culmina no emagrecimento progressivo e emaciação 10 Diagnóstico: • Sinais clínicos • Isolamento do agente do pús ou a observação, em materiais de biópsia ou necropsia, de lesões histológicas características da enfermidade Tratamento: • Eficácia limitada • Antibióticos ⇢
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