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Estudos de Filosofia do Direito - Tércio Sampaio Ferraz Junior

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Estudos de Filosofia do Direito
Tércio Sampaio Ferraz Junior
A referida obra fichada trata dos "Estudos de Filosofia do Direito", Reflexões sobre o poder, a liberdade, a justiça e o Direito, de autoria do Professor titular do departamento de filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Dr. Tercio Sampaio Ferraz Júnior, 3ª edição, publicada pela Editora Atlas, no ano de 2009.
Para o mesmo, o Poder que não é percebido, é de todos, o considerado mais perfeito.
Aquele cujo processo chegou a um fim, alter e ego, dominante e dominado, são um só, embora continuem como se fossem distintos.
Ademais, a unidade que é identidade perverte a diversidade, não porque a suprime, mas porque a mantém como se ela não se alterasse.
O denominado fenômeno do poder é irredutível, ora que aponta o que há de mais central e oculto no processo.
Ter poder, dar ou delegar poder, perder poder, ganhar poder, tudo isso faz parte do denominado uso línguístico, que induz a pensar o poder como substância, como coisa ou como algo que se tem e detém.
Como comportamento, este uso linguístico aponta menos para uma substância, e faz pensar antes numa reação, a relação de poder, que se mostra em forma de redes intrincadas, tendo estruturas e conectadas a elementos.
No que tange a análise da filosofia, segundo aduzido pelo Autor, é possível perceber que ela surge na histórica ática, como um instrumento hábil e eficiênte para derrubar os denominados muros da velha religião, política e até mesmo da denominada velha cultura, que até então se acreditava.
Assim, a Filosofia no todo representado pelo Direito Ático, ou também conhecido como Experiências lógicas, procurar as bases de uma tentativa de compreensão da realidade jurídica.
Para Aristóteles, esta teoria conhecida como da linguagem, é o ponto de partida para seu sistema. 
Aristóteles ainda acredita que toda opinião é de enorme valor para sua própria elaboração, visto que qualquer que seja ela, haverá sempre uma margem de verdade no seu conteúdo, que muito pode ser útil na busca da verdade, tão esperada.
Em relação as experiências humanas, o acabamento entrevisto, cita-se que na análise do livro V, chamado de Ética a Nicômico, Aristóteles aponta à dados da realidade de seu tempo com opiniões do vulgo e sábios, além de instituições vigentes naquela ocasião.
Assim, para a compreensão e noção de justiça, esta será a elaboração da filosofia que precedeu.
Muito se ressalta ao conceito de justiça, que se torna um dos mais disputados na compreensão hermenêutica. 
É sabido que o termo o caracteriza de forma geral tudo aquilo que é justo no sentido equitativo, congruente e igual. 
Mas especificamente, deve referir-se à congruência relativa ao homem, às coisas na sua relatividade face ao homem e aos homens entre si.
Nesta análise, o sentido humano, faz com que o termo justiça ganha contornos jurídicos e filosóficos, convertendo-se em pedra angular de todo o regramento jurídico vigente.
Nas antigas manifestações do pensamento grego a justiça não aparece com denominação própria e específica – ligada a outras ideias, com conotações místicas. 
Segundo Homero/Hesíodo, estes usavam decisão judicial para designar justiça.
Nesta ótica de compreensão, a figura mítida da Têmis, era equiparada a uma Deusas Gregas da Justiça. Têmis, mãe das Horas, presidia a ordem do Universo, sendo a conselheira de Zeus.
Ainda na análise de Homero, ressalta-se que Diké era denominada como Deusa dos julgamento, filha de Zeus e Têmis. A Diké cabia as decisão e pena judicial, fazendo-a cruel e vingativa.
Em relação ao contexto que envolve a Justiça Divina X Justiça Humana, o sentido 1º das palavras tinha referência religiosa que guarda a palavra jurar.
Segundo Platão e Aristóteles, a justiça era utilizada com viés de referência eticamente religiosa.
A palavra justiça não tem a mesma conotação que recebeu mais tarde no Direito Romano, tendo em vista que não enveredarem para a Ciência do Direito.
A luz do Pitagorismo, também conhecido como Gnose (conhecimento, sabedoria), ressalta-se que o conhecimento e cálculos para conhecer a realidade para se libertar, traz estilo de vida em comum.
O primeiro conceito de justiça: igualdade com “igualdade” ou correspondência de opostos, deve ser apontado tal como o conceito de injustiça, interligado ao de Reciprocidade.
Imperioso dizer que a Justiça deve ser vista como princípio de sentido quase exclusivamente social.
Deve ser apontado ainda a análise da Justiça como virtude Universal. 
Para os sofistas, o Mundo era da Natureza e da Cultura. Já para Heráclito x Parmedes, decorre o questionamento de que a Justiça é uma necessidade natural ou uma instituição humana?
Em relação a Protágoras, a Justiça é um dom divino conferido ao homem para que a vida social se tornasse possível. Trata-se também, de um adorno da cidade e vinculo conciliatório da amizade. 
É certo que a justiça não era dada na sua totalidade, mas apenas como inclinação, devendo aos poucos ser desenvolvida e aprendida. 
A conciliação entre a justiça como necessidade natural e instituição humana
Em relação a Jâmblico, a Justiça era uma necessidade exclusivamente natural, sendo ela considerada a virtude mais alta, propiciadora da vida social, sem a qual a vida humana era apenas uma vida de guerra e conflito.
Assim, as obras dos antigos gregos que tratavam de problemas do direito eram mais de caráter legislativo e menos de caráter Jurídico- científico.
Diante deste cenário, imperioso dizer que mesmo os advogados de hoje não vão além da interpretação da lei para o caso singular.
A obra de Demóstenes traz o Julgamento conforme a religião e a justiça, demonstrando absolutamente um caráter ético.
A consciência popular é também igual a vivência jurídica intensa que se difunde no teatro, filosofia e história. Desse fato, surge investigação de toda espécie de fonte da civilização ática.
Como exemplo, pode ser citado a hipótese onde para se obter configuração precisa sobre homicídio culposo, precisa-se recorrer à Hipólito de Eurípedes. 
Neste diapasão, o direito seria uma propriedade da cultura ática e não fruto de uma sistematização jurídica, atrelada a Fontes singulares (poesia, teatro, oratória), sendo igualmente seu método de estudos. Além disso, não possui fontes e informação jurídica (tipicamente), e não é a lei, genérica e moderna.
Deve-se levar a investigação a planos e ordens mais amplos. A Doutrina é sempre uma doutrina suposta, abstraída da palavra dos oradores.
A filosofia é compreendida como sendo a fonte de conhecimento do Direito Ático que por sua condição se dilui na cultura da época. Muitas obras que atingem elaboração de caráter jurídico, próprias de uma elaboração quase científica do direito.
Em relação as Leis e Platão, entende-se que a maioria das prescrições é inspirada por uma grande preocupação com justiça.
Na noção Aristotélica da Justiça, o homem primitivo cultuava a natureza corporificada na família, sendo O elemento constitutivo das famílias entre os antigos é a religião.
Em relação a Associação Religiosa, o autor demonstra que naquela época, a natureza se corporificava nas colheitas. Eram as primeiras civilizações a procurar a amargura do fracasso, sendo que a consciência do fracasso é correlata com a da morte e da contigência dos fenômenos naturais.
No passado, houve um período onde o homem sentiu a necessidade de algo maior que si mesmo e esse desejo transmitindo-se de geração em geração.
As condições humanas de vida variam em função da própria natureza do homem.
Para Aristóteles, os homens parecem conceber o bem e a felicidade conforme a vida que levam, a inteligência e poder de compreensão andam juntos. 
O homem é dotado, sendo absolutamente capaz de superar as barreiras da ignorância. 
Os Gregos antigos viam no homem o senhor da criação e o adoravam como ídolo, ao invés de Deus.
O culto do homem entre os gregos antigos foi um culto à força humana coletiva, corporificada nas Cidades-Estado e aos déspotas, como os tiranos de Atenas ou da Sicília.
Em relação àGrécia, dependendo da Retórica e da Moral, não se diferenciando o jurista do filósofo ou o homem do Estado.
Outro ponto que merece destaque, diz respeito a falta de cultura àtica do perfeito isolamento lógico da norma jurídica, embora houvesse intensa elaboração e evolução.
A revolução econômica da Ática é contemporânea das mudanças constitucionais introduzidas por Sólon. Ademais, a sociedade e as leis são criações humanas sendo a justiça uma invenção de um homem prudente e sábio.
Para assegurar a ordem social, todos falam da justiça como criadora da vida social. Neste sentido, o exercício efetivo do poder de mando é assim uma aceitação da lei da necessidade Universal. 
A justiça passa em Platão a ser o princípio regulador da vida individual, social e de todo universo.
Este não lhe cabe a função específica e limitada de regular uma esfera estrita de aplicação. 
Para os sofistas, a socidade, nem somente encerra na operação na operação de harmonizar ações individuais advindas de ideias pitagóricas. Mas sim a função total e sistemática de reger e equilibrar as várias partes num todo orgânico.
Quanto a ideia de Justiça e virtude universal, aponta-se para a teoria Aristotélica da Justiça, que é o objeto e método.
O bem é aquilo a que todas as coisas tendem. Em todos os planos da realidade relaciona-se o bem, que visam todas as ações humanas.
Seres se identificam pelo mesmo fim, e este interliga-se as diversidades de meios, necessidades de mediação.
A ausência de mediação do imitado, para o ser não necessário, compreende que o movimento é instrumento por função.
Para ser necessário, denota-se para a imobilidade é para ela mesma o seu próprio fim, inexistindo qualquer mediação, que é o bem perfeito se basta a si próprio. Para Aristóteles, o bem é aquilo que, tomado a parte de todo o resto, torna a vida desejável e não tem necessidade de nada mais.
O bem é o poder mesmo de abster-se de qualquer mediação.
O poder de, fazendo atuar os meios, superá-los e abandoná-los. Com isso, atende-se a identidade do fim que é o bem.
Em relação ao método dialético, problemas práticos são para Aristóteles problemas dialéticos: método dialético, sendo, assim, dialéticos os argumentos que concluem a partir de premissas prováveis, pela contraditória da tese dada.
O raciocínio dialético busca provar teses contrárias.
Com isso, Aristóteles não queria demostrar que todas as teses são boas e, por meio de sofismas, provar uma contradição inerente ao real. O raciocínio sobre contradições para não significa para ele a contradição do real. 
O que sucede é a linguagem, como meio necessário para a existência do diálogo, e não é absolutamente idêntica ao real que ela simboliza.
Segundo o entendimento emanado de Aristóteles, a Relação não simbólica e natural entre coisas e afeções da alma, deviam ser diferenciadas.
A Relação simbólica era arbitrário entre coisas/afecções da alma e as palavras. A concepção de língua oposta à do empirismo inglês em que toda instituição nos dá indivíduos. 
No que tange a abstração, ela une atributos universais por um nome, a um nome que se reporta a uma semelhança de atributos.
A linguagem é antes um substituto das coisas e também contraditória.
Em relação a verdade, segundo Kant, o erro resulta de uma atividade da razão mesma, de uma atividade indevida.
Não há compromisso com a realidade una.
Ao contrário, o mundo fenomenal se apresenta como um caos que à razão cumpre ordenar.
A verdade nos é dada de modo ante predicativo. Não há distância entre coisas e afeções da alma. A verdade em Aristóteles é o ser ao qual se opõe o não ser.
Ademais, ela não é real e só aparece no nível da linguagem, onde o erro só existe aqui, neste plano.
Cumpre expor que o discurso em face da realidade é algo incerto em virtude de sua limitação. Desta forma, questiona-se se o discurso já é algo dado, como atingir a verdade a partir de algo duvidoso.
A própria noção aristotélica da ciência pressupõe a noção de fundamento da ciência, de princípios a partir dos quais se constrói a ciência, em si mesmo.
A dialética compreende a Arte das contradições, como exercício da palavra igual e eficiente ao da argumentação.
Desta feita, partindo de premissas prováveis, as teses prováveis de que se utiliza a dialética são as que correspondem à opinião de todos os homens ou da maior parte deles ou dos sábios e, entre estes últimos, a de todos ou da maioria, ou enfim dos mais notáveis ou mais conhecidos.
Portanto, limita-se as opiniões aceitáveis, não sendo qualquer opinião.
A crítica é uma espécie de dialética. O problema da dialética em Aristóteles se dá na conjunção da busca pela obtenção da verdade.
A função instrumental definida é de atingir a verdade científica.
A dialética é uma pré ciência.
Entende-se, segundo o posicionamento do autor, que a ciência é um modo perfeito de conhecimento da coisa como ela é, de quem ela não pode ser diferente de si mesma, de que sua causa é realmente sua. 
Desta feita, cabe ao conhecimento completo da causalidade, da relação e da necessidade do objeto se expor. O verdadeiro cientista nunca erra. 
Se erra, deixa de possuir a ciência e não está fazendo ciência. 
Para Platão, a Justiça é efetivamente um hábito e não é fácil ser justo, pois está em nosso poder agir justamente.
Para Aristóteles, o justo e injusto requer sabedoria.
A justiça é uma virtude, um modo de agir constante.
Em relação a deliberação, a justiça é uma disposição e um meio termo.
O homem justo não é aquele que apenas cumpre ações justas, mas sim aquele que as executa voluntariamente. O contrário vale para a injustiça.
A vontade tem a ver com apetite, força interna, que quando se pode dizer que não há conhecimento de causa, o que vale dizer, quando o princípio causal do ato não está no agente.
O que define o caráter jurídico de um ato concreto de autoridade, se dá pelo grau de consenso público que se admite, ora que este pode ser obtido de vários modos.
Reside aí a raiz provável do paradoxo de uma sociedade obsessivamente preocupada em regular e controlar o poder econômico, mais importante para fazer descer essa regulação e esse controle do plano de uma ética de resultados que contribuem para a formação da convicção.

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