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Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Imunologia dos transplantes Como e por que o corpo rejeita transplantes de órgãos e medula óssea? Tipos de transplante • Autólogo: quando o doador e o receptor são o mesmo indivíduo. Acontece em alguns tratamentos onde o material doado é retirado do próprio indivíduo. • Isogênico: quando o receptor e o doador são indivíduos geneticamente idênticos. Acontece no caso de transplantes entre gêmeos univitelinos. • Alogênico: são aqueles nos quais o doador e o receptor são indivíduos da mesma espécie, porém, geneticamente diferentes. Esse tipo é o mais comum. Pode gerar um tipo de resposta imune, chamada resposta contra antígenos polimórficos, ou seja, resposta contra antígenos que são iguais, mas com diferenças relativas aos polimorfismos genéticos que modificam essas proteínas. • Xenogênico: quando o doador e o receptor são indivíduos de espécies diferentes. No caso de humanos ocorrem alguns tipos de transplantes derivados de outras espécies, como porcos, ovelhas... Tipos de rejeição • Hiperaguda: rejeição extremamente rápida, que acontece horas após a cirurgia, causada por oclusão das artérias do enxerto. • Aguda: ocorre de dias a semanas após o transplante, mediada por resposta imune celular. • Crônica: acontece de meses a anos após o transplante, mediada por doença vascular no enxerto. Todos esses tipos de rejeição são mediados pelo sistema imune. Rejeição hiperaguda • É mediada por anticorpos naturais. Figura 15.46. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway-8. Artmed Editora, 2014. Exemplo de transplante de rim. O vermelho é o transplantado. Nesse indivíduo, a partir do momento em que a circulação sanguínea é reconectada ao novo rim, os anticorpos do indivíduo entram em contato com a parede do endotélio renal e por algum motivo são capazes de reconhecer as células endoteliais desse órgão. Em muitos casos, é possível que esses anticorpos também reconheçam as hemácias – muitos antígenos de células epiteliais são expressos em hemácias. Então, em muitos casos, os anticorpos também se ligam às hemácias remanescentes da circulação do órgão doado. Independente se a ligação for no endotélio ou nas hemácias, a ligação do anticorpo gera ativação de células da circulação, principalmente neutrófilos e monócitos. Essas células vão ser ativadas e começam a secretar mediadores inflamatórios, citocinas principalmente e da início a uma resposta inflamatória nesse vaso, ativando coagulação, formação de trombos inflamatórios e isso gera oclusão do vaso – o que provoca a morte do órgão. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Por que esses anticorpos se ligam e reconhecem esse órgão transplantado? • Essa rejeição hiperaguda é uma rejeição dependente de hipersensibilidade do tipo II. Esse tipo de indução de dano tecidual causado pela ligação direta de anticorpos a antígenos em células é característico da hipersensibilidade do tipo II destrutiva. • Ocorre por incompatibilidade de ABO – grupo sanguíneo. Os antígenos de grupo sanguíneo são expressos em hemácias e nas células endoteliais. E, quando há o transplante entre pessoas que tipos sanguíneos diferentes, é possível que esses anticorpos – considerados anticorpos naturais, produzidos de forma natural contra antígenos sanguíneos, vão reconhecer as células endoteliais e hemácias do órgão transplantado, induzindo a rejeição hiperaguda. • A incompatibilidade ABO é a mais comum causadora de rejeição hiperaguda, então não é indicado que se faça transplante de órgãos sólidos entre indivíduos de grupos sanguíneos diferentes. Levando em conta a lógica de transplante (AB não doa para A, mas A doa para Ab...). Aplicar a mesma regra de transfusão sanguínea. • Além do grupamento ABO, existem outros grupamentos sanguíneos que também podem causar rejeição hiperaguda. Também pode ocorrer a presença de anticorpos contra moléculas de MHC que são polimórficas (já que as proteínas de MHC das pessoas são diferentes). • Para impedir a rejeição hiperaguda, faz-se o teste de reação cruzada – pega um pouco do sangue do doador e um pouco de soro da pessoa que vai receber (o qual possui anticorpos). Se misturar o sangue do doador com o soro do receptor e ocorrer aglutinação de hemácias, significa que existem anticorpos no receptor capazes de reconhecer as hemácias do doador. Logo, o transplante não pode ocorrer pois haverá rejeição hiperaguda. • Esse tipo de reação é um dos principais problemas dos transplantes xenogeneicos, porque ao transplantar de indivíduos de espécies diferentes, é possível que existam outros grupos sanguíneos ainda mais complexos nesses animais e que o indivíduo possua anticorpos naturais contra esses tipos. Além disso, a presença de uma quantidade de antígenos polimórficos muito maior. • Existe uma possibilidade que não é feita com muita frequência, mas é possível: a desensibilização com goma globulina, uma forma de diminuir a rejeição hiperaguda, nos casos em que o único órgão disponível seja aquele e o indivíduo possa falecer sem o transplante. • Essa rejeição é tão rápida porque os anticorpos já estão prontos no indivíduo – por serem naturais. • Esses anticorpos, assim que a circulação é reestabelecida no órgão doado, vão ser capazes de começar a se ligar nas hemácias e a resposta inflamatória começa, com a ativação das células. Ocorre inclusive a ativação do complemento, já que esses anticorpos se ligam no endotélio. Essa resposta inflamatória resulta na morte rápida desse órgão – perda de função. Rejeição aguda • É o tipo mais comum de rejeição, por acontecer em transplantes alogênicos – feitos com maior frequência. • É uma reação mediada por linfócitos T. Logo, uma hipersensibilidade do tipo IV. Figura 15.41. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway-8. Artmed Editora, 2014. • 2 camundongos possuem o MHCa. Eles são homozigotos para o MHC e têm apenas um alelo, denominado com a. Ambos têm o mesmo MHC. Ao fazer um transplante de pele entre eles, 100% dos transplantes sobreviveram. Não houve rejeição. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Ao fazer a mesma coisa com 2 camundongos da mesma espécie, porém, geneticamente diferentes, um com MHCa e o outro com MHCb, todos os transplantes são rejeitados um pouco depois de 10 dias. Isso já mostra que o MHC está envolvido. Apenas a diferença entre eles foi suficiente para promover essa rejeição. • Quando se faz o experimento uma segunda vez, entre os mesmos camundongos geneticamente diferentes, a rejeição é ainda mais rápida, em torno de 5 a 6 dias. Tal fato demonstra que existe a aquisição de memória imunológica para resposta contra esse transplante – característica de linfócitos T e linfócitos B. Até aqui, há a dúvida de quem está reconhecendo o MHC e desenvolvendo uma resposta inflamatória, se o B ou o T. Figura 15.41. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway-8. Artmed Editora, 2014. • Para ter certeza de que a rejeição aguda a transplantes é mediada por linfócitos T, pegaram o camundongo azul que já tinha recebido e rejeitado o transplante do camundongo amarelo, purificaram seus linfócitos T e transferiram para o camundongo azul que nunca tinha recebido o transplante antes. Fizeram o transplante nesse camundongo azul com os novos linfócitos T e este rejeitou também o transplante no mesmo tempo que da segunda vez do outro, depois de adquirir a memória. • Com esses experimentos ficou demonstrado que o MHC define a capacidade que o indivíduo tem de rejeitar o transplante e que essa rejeição é mediada pelos linfócitos T. • Esse tipo de rejeição é o principal acometimentoem transplantes que não envolvem indivíduos com o MHC idêntico, que leva à resposta alogênica. A resposta alogênica é a resposta contra antígenos polimórficos – proteínas iguais produzidas por genes diferentes. Isso não interfere na função, mas são geneticamente diferentes. Polimorfismos em proteínas iguais não são comuns em uma mesma população, a não ser com MHC – elas são naturalmente extremamente polimórficas entre os humanos. • Logo, essa resposta pode ocorrer contra qualquer antígeno polimórfico, mas é mais comum contra o MHC – por essas características particulares que ele possui. • Tem outro motivo para que a rejeição aguda seja normalmente uma resposta imune contra o MHC presente no órgão transplantado: aloreatividade. Nat. Ver. Immunol. 2001 Dec; 7(12):942-953. • Temos um linfócito T sendo estimulado por duas células dendríticas. Uma célula dendrítica própria, que tem o MHC igual ao do linfócito T e uma célula dendrítica em verde, alogeneica – derivada de outro indivíduo. • Nos dois casos, é possível que o linfócito T seja ativado. • Com a célula dendrítica própria, acontece o reconhecimento convencional – que envolve o complexo MHC:peptídeo. Esse complexo é o antígeno que vai induzir a ativação do linfócito, sendo que o MHC e o linfócito T é capaz de interagir com esse MHC por ter sido selecionado dessa forma na seleção positiva. E o peptídeo é um peptídeo estranho que confere ao complexo MHC:peptídeo a capacidade de ativar o linfócito Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez T. Quando o linfócito T interage com uma célula dendrítica própria, consegue interagir com o MHC, mas não é ativado por ele, por conta do processo de seleção positiva e negativa. Ao haver apresentação de peptídeo específico, a interação se torna forte o bastante para ativá-lo. Esse é o processo convencional. • No caso de o linfócito T ser ativado por uma célula apresentadora alogeneica, geneticamente diferente do linfócito, existem duas possibilidades para que o linfócito seja ativado: forma direta e indireta. • Na forma direta, o linfócito T é ativado diretamente pela molécula de MHC. Isso acontece porque todos os linfócitos T de um indivíduo são selecionados na seleção positiva para interagirem com moléculas de MHC, só não são ativados por causa da tolerância central (os que são ativados, morrem). Ao ser submetido a uma molécula de MHC de um outro organismo, a probabilidade de ele conseguir interagir com essa molécula é muito grande, por serem moléculas muito parecidas – possuem apenas algumas mutações diferentes. No entanto, essa interação do linfócito T com a célula dendrítica alogênica não é uma interação que foi regulada nos processos de seleção intratímica. Então, essa interação direta do TCR com a molécula de MHC pode ser forte o suficiente para gerar sua ativação. Essa ativação acontece na aloreatividade do reconhecimento direto do TCR pelo MHC. Nesse caso o peptídeo não é tão importante, ele precisa estar presente para completar a molécula MHC, mas mesmo que esse peptídeo seja totalmente inespecífico para o linfócito T, o reconhecimento direto desse MHC é suficiente para que o linfócito receba o primeiro sinal e comece uma resposta. • A outra possibilidade é através do reconhecimento indireto. Nele, o peptídeo apresentado é derivado de um pedaço do MHC e podem levar à ativação do linfócito, mesmo que essa interação não seja tão forte assim. Nas respostas alogênicas, o antígeno imunogênico são as proteínas codificadas pelo MHC (6 e 6 tipos) que podem ser apresentadas – consideradas antígenos. Elas podem ser utilizadas de duas maneiras para induzir a resposta produtiva dos linfócitos T. De forma direta ou indireta. Figura 15.45. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway-8. Artmed Editora, 2014. • Indivíduo que recebe transplante renal (em vermelho). As células vermelhas são do rim doado e as azuis são do indivíduo receptor. • Imagem da esquerda: no reconhecimento direto, uma célula apresentadora do próprio órgão doado é que vai apresentar antígenos desse órgão para linfócitos T. E, a interação do MHC com o TCR, mesmo que o antígeno não seja um antígeno específico de linfócito T, é suficiente para ativá- lo. O fato da célula ser geneticamente diferente é suficiente para que tenham moléculas de MHC capazes de ativar diretamente o linfócito T. Como que a célula alogeneica vai parar no linfonodo? Decorrente do processo do transplante e seus procedimentos, que causam processos inflamatórios suficientemente grandes para induzir a ativação de células dendríticas, inclusive as que vão migrar desse órgão e vão para o órgão linfoide secundário mais próximos e fazem a apresentação. • Já no reconhecimento indireto, o que acontece é que alguma célula apresentadora do próprio indivíduo vai endocitar antígenos derivados do órgão transplantado e apresentar esses antígenos para linfócitos T. É uma apresentação clássica, só que o antígeno apresentado precisa ser polimórfico, altamente capaz de ativar esse linfócito T – acontece normalmente quando os Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez peptídeos apresentados são derivados de moléculas de MHC. A célula apresentadora do indivíduo receptor fagocita células do órgão doado, que morreram durante o processo de transplante e apresenta peptídeos do MHC dessas células. • Essa ativação acontece com linfócitos T CD4 e T CD8. • O peptídeo que é aloreativo. Primeira fase:priming • Uma vez que o linfócito está ativado, seja direta ou indiretamente, ele começa a resposta inflamatória que vai destruir o órgão, chamada de resposta alogenêica. É um tipo de resposta mais intensa, principalmente porque o reconhecimento direto leva à ativação de uma quantidade muito grande de linfócitos. Em torno de 30% de linfócitos do corpo são capazes de reconhecer moléculas de MHC estranha. Isso + a expansão clonal, gera uma superprodução desses linfócitos. • A seleção positiva acaba contribuindo muito para a rejeição aguda, porque nela todos os linfócitos precisam interagir com moléculas de MHC. • A reatividade cruzada de um linfócito próprio com o MHC de outro indivíduo é muito provável, levando a um percentual muito elevado de linfócitos ativados diretamente pela interação com o MHC do doador. • Os linfócitos são ativados nos linfonodos e órgãos linfoides secundários adjacentes ao local do enxerto. • Ambas as células dendríticas do órgão doado quanto as células próprias do recebedor capturam antígenos reativos do órgão e migram para os órgãos linfoides secundários. Segunda fase • Depois de ativados esses linfócitos vão para a fase efetora, que é a fase de destruição do tecido. • Ocorre uma reação de hipersensibilidade do tipo IV destrutiva, a qual vai levar à destruição do órgão. • É um processo intenso, porque os dois tipos de linfócitos T são ativados. Os CD8 vão destruir as células do tecido, induzindo morte celular através do reconhecimento do MHC alogênicos classe I e promovendo uma grande destruição tecidual. Enquanto isso, os linfócitos T CD4 vão diferenciar em diferentes tipos de linfócitos (Th1, Th2 e vários tipos), já que não há uma resposta inflamatória específica com citocinas, então todos esses tipos de CD4 vão causar algum tipo de dano ao tecido. Torna-se uma resposta bastante exacerbada, o que acaba levando à destruição inflamatória desse órgão, tanto por respostas nos vasos, quanto por respostas dos linfócitos dentro do órgão. Rejeição crônica • Demora mais para que o órgão seja eliminado, de meses a anos. • No caso de camundongos em torno de 60 dias. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem AngieMartinez Figura 15.42. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway-8. Artmed Editora, 2014. • Pegaram 2 camundongos que são geneticamente diferentes. Mas, apresentam o mesmo MHCa. Nesse caso, esse transplante foi rejeitado 60 dias depois, caracterizando uma rejeição crônica. • O fato do MHC ser igual, impede a rejeição aguda. Quanto mais semelhante for o MHC, maior a chance do transplante se manter. • Os indivíduos são diferentes em outros genes – que não são tão polimórficos ou que produzem proteínas que são capazes de ativar diretamente o linfócito T. Esses genes polimórficos que não são proteínas do MHC, são chamados de complexo menor de compatibilidade, mHC. São antígenos menores de histocompatibilidade. • Na rejeição crônica, acontece a apresentação de proteínas polimórficas que diferem em sequências de aminoácidos entre indivíduos diferentes. Isso acontece devido a mutações ao longo da vida, que geram a presença de agentes menores de histocompatibilidade. • Os antígenos menores acabam funcionando de forma semelhante aos antígenos de reconhecimento tumoral. Esses são antígenos que aparecem no tumor devido a modificações genéticas associadas ao processo de carcinogênese. No caso dos transplantes, acontece de uma forma semelhar, só que não há transformação celular, o que acontece é que são antígenos geneticamente diferentes porque são provenientes de outra pessoa. Figura 15.43. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway-8. Artmed Editora, 2014. • No lado esquerdo, uma proteína própria sendo degradada pelo proteassomo, bombeada para dentro do retículo endoplasmático através de TAP e a apresentação via MHC de classe I de peptídeos próprios. Isso acontece usualmente nas células, só que esses peptídeos próprios + MHC tendem a ser tolerados pelo sistema imune – pela tolerância. • Quando acontece do receptor receber um órgão, essas proteínas são alteradas, são proteínas que tem diferenças – pequenas, no caso dos antígenos menores. Essas pequenas diferenças geram novas sequências que vão ser apresentadas também via MHC para indução de resposta. • Essa resposta envolve antígenos em menor quantidade – poucos antígenos polimórficos que conseguem se tornar imunogênicos em um transplante e proteínas que não são capazes de causar reconhecimento direto e ativação direta dos linfócitos T. • No caso dos antígenos menores só ocorre a ativação indireta e o número e imunogenicidade desses antígenos é bem menor. Isso explica por que demora mais tempo para que ocorra a rejeição. Contudo, é uma resposta mais complexa. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez J Clin Invest. 2010; 120(4):1036-1039. • Por ocorrer por bastante tempo, acaba sendo similar a uma doença autoimune. • A base do processo são os antígenos menores de histocompatibilidade, que vão gerar a ativação dos linfócitos T CD4 e T CD8 – em um nível menor. No entanto, é uma ativação contínua, que perdura por muito tempo, até que a ativação dos linfócitos T CD4 gera números suficientes para levar à ativação de linfócitos B – capazes de reconhecer aloantígenos presentes nas células do órgão transplantado. • O linfócito B ativado começa a produzir anticorpos. E, esses anticorpos, juntamente com os linfócitos B vão gerar o dano ao tecido, que vai levar à rejeição. • Na maior parte dos casos, essa rejeição ocorre através de uma doença vascular crônica, que vai gerando pequenos eventos inflamatórios do endotélio do órgão transplantado. Associadas à produção de anticorpos contra os aloantígenos e a ativação do sistema complemento na vasculatura do órgão, o que gera um dano irreversível. • É o tipo de rejeição que acaba gerando a necessidade de administrar imunossupressores em indivíduos transplantados. Utilizados para tentar controlar a rejeição crônica e fazer que o órgão funcione pela maior quantidade de tempo possível. Análise de compatibilidade para transplantes • Para se fazer um transplante bem-sucedido, a análise da compatibilidade precisa ser feita: • Primeiro, a análise do tipo sanguíneo, para impedir a rejeição hiperaguda, mediante a definição da compatibilidade ABO e teste de reação cruzada; • Depois tem que se avaliar a compatibilidade do MHC (HLA), para que ele seja o mais compatível possível, na tentativa de diminuir a possibilidade de rejeição aguda. Na maior parte dos casos não é suficiente que seja o mais compatível possível, necessitando a administração de imunossupressores e anti-inflamatórios esteroidais. • Por último, os antígenos de histocompatibilidade menores, tentando prevenir a rejeição crônica. Exemplo: HA e HY, comuns. O HY, por exemplo, é o antígeno específico do cromossomo y – está presente apenas em homes, um polimorfismo natural. Por isso os transplantes de homens para mulheres não são os mais indicados. A rejeição crônica é a menos grave, podendo ter o órgão funcional por mais de 10 anos, aumentando a expectativa de vida do indivíduo. Transplante de medula óssea • Transplante de órgão líquido. • O transplante da medula óssea pode ser classificado em isogênico, alogeneico ou autólogo. • O objetivo desse transplante é substituir todas as células hematopoiéticas, através de um transplante de células tronco hematopoiéticas. É basicamente substituir todo o sistema imune do indivíduo. • Transferem-se células tronco hematopoiéticas de um indivíduo saudável para um indivíduo que precisa de uma nova célula hematopoiética. • Tipos: - Singeneico, quando o doador é geneticamente igual à pessoa que o está recebendo. - Alogeneico é quando o doador é geneticamente diferente do indivíduo que está recebendo. - Autólogo: mesmo indivíduo recebendo a medula óssea. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez https://slideplayer.com.br/amp/84142/ Exemplo do que é feito antes da medula óssea: Para poder fazer um transplante de medula óssea é preciso eliminar a medula óssea que está doente de alguma forma ou que está no paciente que será transplantado. O paciente sofre quimioterapia e radioterapia, para eliminar a medula óssea, fazendo com que suas células sanguíneas, principalmente as hematopoiéticas sejam todas eliminadas. Esses processos destroem todas as células proliferativas desse indivíduo. Chamado de regime de condicionamento: a quimio + radio para eliminar a doença de base e a medula anterior. Depois disso, ele recebe a medula do doador ou dele mesmo antes do regime. A partir disso, ele vai possuir uma medula nova, que pode ser geneticamente igual ou geneticamente diferente. Fontes de obtenção de células-tronco hematopoiéticas • Essas fontes são variadas: - No início, se utilizava punção de medula óssea. Aspirando a medula óssea como fonte de CTH para o transplante. - Atualmente, pode-se utilizar o sangue do cordão umbilical – normalmente guardado para mantê-lo viável para um possível transplante de medula óssea. - Sangue de doador tratado com grandes doses de G-CSF – capaz de remover as células CTH da medula para o sangue. • Essas fontes não são uma fonte pura de CTH – não estão presentes apenas elas. Estão junto com uma grande variedade de outros tipos celulares. Isso gera um grande problema de rejeição de transplante de medula óssea e sua relação com o sistema imune. • Por não existirem apenas células tronco- hematopoiéticas na fonte/material transplantado, as funções dos linfócitos T precisam ser avaliadas. Função dos linfócitos T • Há duas funções dos linfócitos T importantes para a pessoa que está recebendo o transplante. • Esses linfócitos T são totalmente formados e com capacidade efetora. • As funções importantes são: ➔ ¨Pega¨ - termo clínico para aadaptação ao transplante da medula óssea. É uma adaptação do enxerto que gera uma medula óssea produtiva. Normalmente é determinada pela eritropoiese e megacariopoiese, ou seja, quando o indivíduo, depois do transplante de medula óssea, começa a produzir hemácias e plaquetas, significa que o transplante foi bem-sucedido e a medula transplantada está começando produzir novas células. A pega está completa com a produção de linfócitos B – últimos a serem produzidos após um transplante, o que indica que a medula está funcionando perfeitamente. Para que a adaptação do enxerto aconteça, é importante que os linfócitos T do doador se alojem na medula óssea e produzam citocinas importantes para que as células hematopoiéticas consigam se manter na medula, como GM-CSF e IL-3 (fator de crescimento importante para a sobrevivência e manutenção de células-tronco hematopoiéticas. Além disso, os linfócitos do doador atacam os linfócitos residuais do receptor, que poderiam fazer respostas alogeneicas. Isso porque ao serem transplantadas, as células T são linfócitos alogeneicos, ̈ enxergando¨ as células do receptor como alogeneicas, inclusive o MHC dele. As moléculas de MHC do indivíduo receptor podem levar à ativação direta ou indireta Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez de linfócitos T que foram transplantados. Eles atacam antes de ser atacados. ➔ Os linfócitos T transplantados também causando o chamado efeito enxerto contra o tumor. Isso só se aplica quando o transplante de medula óssea é feito para tratar tumores hematológicos – linfomas, leucemias, mielomas... Os linfócitos T do doador fazem uma resposta aloreativa contra as células tumorais, que por algum motivo foram resistentes a quimio e radioterapia. Se fizer uma quimio e matar a maior parte das células tumorais, fazendo o transplante gera o combate às células tumorais, pela resposta alogeneica que os novos linfócitos T farão ao reconhecer o MHC delas. • Se eliminar os linfócitos T do transplante de medula óssea e transplantar somente essa célula- tronco hematopoiética, ela terá menor chance de sobrevivência, por: não ter os fatores de crescimento necessários que o linfócito T produz; poder ser atacada pelos linfócitos do recebedor. • É possível que no caso de tratamento contra uma doença tumoral, o tumor volte a se estabelecer, porque as células resistentes a quimioterapia não são eliminadas pelos linfócitos. • Há também um efeito maléfico, ligado à presença de linfócitos T no produto transplantado: a chamada doença enxerto contra o hospedeiro (GVHD ou DECH). Doença enxerto contra o hospedeiro • É o principal acometimento dos pacientes após transplante de medula óssea. • É uma resposta alogeneica dos linfócitos T contra os tecidos do hospedeiro. • É uma rejeição aguda ao transplante. No entanto, ao contrário do que acontece com os órgãos sólidos, neste caso as células do transplante que rejeitam, atacando os tecidos do recebedor e causando uma série de respostas inflamatórias em diferentes tipos de tecido. • Essa célula T do doador protege as células-tronco do doador, elimina as células tumorais resistentes à quimioterapia, mas se é capaz de eliminar células do receptor de uma forma geral, isso significa que pode acontecer com outras células do indivíduo também. É isso que acontece na doença. • As células T do doador são capazes de atacar diferentes órgãos/tecidos do doador, principalmente fígado, pele e intestino, causando uma doença generalizada – caracterizada por náuseas, vômito, diarreia, insuficiência hepática aguda e diferentes tipos de lesões na pele, todas elas causadas pela resposta inflamatória mediada pelo linfócito T do doador. • O transplante ataca as células do indivíduo que o recebeu. • Essa doença acaba se estabelecendo depois de 3 fases de indução: - Primeira fase: regime de condicionamento, onde o indivíduo que vai receber o transplante sobre a quimio e radioterapia. A quimio e a radioterapia são feitas para eliminar a medula óssea doente, mas acabam destruindo células proliferativas em geral, principalmente células epiteliais. No intestino e na pele, com a destruição dessas células durante o condicionamento, acaba gerando uma abertura/porta de entrada nesses epitélios e a transmigração bacteriana. Então, no regime de condicionamento ocorre dano em tecidos com atividade proliferativa (epitélio), o que permite o aumento da transmigração bacteriana no intestino, mucosas e epitélios em geral. Essa migração bacteriana gera uma grande quantidade de citocinas sendo produzidas, principalmente Il-1, Il-6 e TNFalfa. Ocorre uma resposta inflamatória e se tornam tecidos inflamados. - A segunda fase é a de ativação do linfócito T, que é quando o transplante é feito. Com achegada dos linfócitos do doador, ocorre a resposta alogeneica, que é ainda mais estimulada pela inflamação causada pelo regime de condicionamento e ativação das células apresentadoras. O linfócito T doado reconhece a célula apresentadora de forma alogeneica, ou seja, é ativado pelo MHC de forma direta ou indireta. E, a célula dendrítica, com o estímulo inflamatório se torna extremamente competente para a apresentação de antígenos, o que gera na maioria das vezes a diferenciação do linfócito T para Th1, que é o principal linfócito envolvido na doença. Esse Th1 vai produzir as citocinas IFN-gama e IL-2. - Com o linfócito T ativado vai para a terceira etapa, que é a etapa do dano tecidual com a ação das citocinas produzidas pelo linfócito T, induzindo a ativação de linfócitos T CD8, aumento da atividade do CD8 pelo auxílio da célula CD4, o aumento da ativação da célula Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez NK e o aumento da ativação de macrófagos. Essas 3 células são as principais responsáveis pela destruição dos tecidos. • Os principais tecidos acometidos são pele, intestino e fígado porque é para onde o linfócito T ativado migra, já que são os tecidos que estão inflamados (pele e intestino). O fígado está envolvido pela necessidade de detoxificar esses produtos bacterianos que conseguem entrar principalmente por danos no intestino.
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