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Trabalho de Infectologia Tema: Diarréia Infecciosa Discentes: Bianca Corsato Volpe, Flavia de Souza, Izabela Brilhante, Vanessa P. Milani das Chagas e Stefanye Catezani. Docente: João Gustavo Guizelin Pinto. ❏ Definição: ❏ Epidemiologia: As diarréias infecciosas representam uma das cinco principais causas de morte no mundo, evidenciando maior impacto em crianças. Em países subdesenvolvidos, a incidência é de 2 a 3 vezes maior. Os principais fatores de risco para a diarreia infecciosa são idade inferior a 5 anos (lactentes e pré-escolares), baixa condição socioeconômica e precariedade no saneamento básico. Nota-se que as crianças são o grupo com maiores taxas de morbimortalidade, apresentando cerca de 50 diarreias/ano, com 10% delas desenvolvendo quadros de desidratação significativa. ❏ Fisiopatologia: 1. Diarréia osmolar: aumento exagerado da osmolaridade na luz intestinal, atraindo água para a luz ( causada por vírus, bactérias, carboidratos). 2. Diarréia secretora: patógenos não-invasivos agridem o intestino delgado com toxinas que promovem secreção abundante de água e eletrólitos. 3. Diarréia disabsortiva: distúrbio da absorção causado por toxinas. 4. Diarréia motora: alteração da motilidade intestinal – hipermotilidade ou hipotonia. 5. Diarréia exsudativa: processo inflamatório que sugere infecção por agentes invasivos, com agressão de íleo distal e cólon. 6. Síndrome do intestino curto: perda de área intestinal. ❏ Principais Enteropatógenos e fisiopatológicas envolvidas: Bactérias: Escherichia coli: E. coli enteropatogênica- diarréia secretora. E. coli enterotoxigênica- diarréia secretora. E. coli enteroinvasora- diarréia exsudativa. E. coli êntero- hemorrágica- diarréia sanguinolenta. E. coli enteroagregativa- diarréia persistente. Shigella: Diarréia exsudativa por ileocolite. Salmonella: Diarréia exsudativa por ileocolite, sepse em lactente desnutridos. Campylobacter jejuni: Diarréia secretora exsudativa. Vibrião colérico: Diarréia secretora grave. Clostridium difficile: Diarréia pós- antibioticoterapia (colite pseudomembranosa). Vírus: Rotavírus: Mais frequente aos 6 meses a 2 anos de idade, principalmente no inverno. Adenovírus entérico: Diarréia secretora e osmótica. Vírus Norwalk: ❏ Diarréia secretora e osmótica. Astrovírus: ❏ Diarréia secretora e osmótica. Protozoários: Cryptosporidium: Diarréia secretora. Ameba histolítica: Colite ( rara). Giardia lamblia: Raramente causa diarréia aguda em regiões endêmicas. ❏ Fatores de risco: Se as gastroenterites forem infecciosas, determinados comportamentos e circunstâncias, assim como comorbidades do paciente, podem ser considerados fatores de risco. Por exemplo, aqueles pacientes que: ❏ Fizeram viagens recentes, principalmente para áreas tropicais de países em desenvolvimento. ❏ Alimentos ou circunstâncias alimentares incomuns (frutos do mar, especialmente crus; refeições em restaurantes ou lanchonetes). ❏ Homossexualidade. ❏ Atividade sexual remunerada. ❏ Uso de drogas intravenosas (pessoas em risco de infecção por HIV e de desenvolvimento de SIDA). ❏ Uso recente de antibióticos. A tabela abaixo mostra os veículos de contaminação, considerados fatores de risco, e os patógenos mais associados que podem levar a gastroenterite: ❏ Gastroenterite viral: A gastroenterite é uma inflamação do revestimento gástrico e dos intestinos grosso e delgado. É normalmente causada pela infecção por um microrganismo, mas também pode ser causada pela ingestão de toxinas químicas ou medicamentos. As gastroenterites virais são uma patologia extremamente comum, sendo a segunda maior causa de doença infecciosa e a maior causa de diarréia infecciosa. ❏ Incidência: Afetam todas as idades, porém são mais frequentes em crianças e idosos. Sendo bastante comum relatos de surtos em creches, escolas ou comunidades fechadas. ❏ Quadro clínico: Geralmente é aguda e autolimitada, durando em torno de 7 - 10 dias. Sendo raramente persistente e crônica. Apresentam uma diarréia não sanguinolenta, geralmente com pouco ou nenhum componente inflamatório. ❏ Principais agentes etiológicos: Rotavírus, Norovírus, Astrovírus e Adenovírus. Sendo o mais frequente o Rotavírus (60% dos casos). ❏ Mecanismo de transmissão: Sua transmissão ocorre principalmente de forma fecal-oral e através de alimentos e água contaminada, devido a isso se torna muito contagiosa. ❏ Complicações: Apesar de a gastroenterite viral normalmente não ser grave em adultos saudáveis e causar desconforto e incômodo, ela pode causar desidratação com risco de vida e desequilíbrio eletrolítico em pessoas muito doentes ou enfraquecidas, crianças muito pequenas e idosos. ❏ Gastroenterite bacteriana: As gastroenterites bacterianas tem como principais agentes infecciosos os gêneros Salmonella, Shigella, Escherichia, Staphylococcus, Aeromonas, Plesiomonas, Yersinia e Campylobacter. ❏ Transmissão: 1. A Salmonella é transmitida pelo consumo de ovos mal cozidos e por contato com répteis, pássaros e anfíbios. 2. A Campylobacter é transmitida por cães e gatos com diarreia. 3. A Shigella é transmitida de uma pessoa para outra, embora também ocorra epidemia de contágio por alimentos. ❏ As bactérias causam gastroenterites por vários mecanismos como: 1. Enterotoxinas: elas aderem à mucosa intestinal sem invadi-la e lá produzem as enterotoxinas, que dificultam a absorção intestinal e provoca secreção de água e eletrólitos pelo estímulo da adenilciclase e isso vai resultar em uma diarreia aquosa. 2. Exotoxinas: Elas são ingeridas normalmente por alimentos contaminados, e vão causar náuseas, vômitos e diarreia agudas em cerca de 12 horas após a ingestão. os sintomas tendem a melhorar após 36 horas. 3. Invasão da mucosa: invadem a mucosa do intestino delgado ou cólon e provocam ulcerações microscópicas, sangramentos, exsudação de líquido rico em proteínas e secreção de eletrólitos e água. ❏ Epidemiologia e as manifestações clínicas: 1. E. coli Enterohemorrágica: produz uma toxina shiga que causa diarreia sanguinolenta. a sua transmissão é interpessoal no dia a dia e também teve relatos de surtos associados à exposição à água em contextos recreativos, como piscinas, lagos e parques aquáticos. Existe uma complicação grave que se desenvolve em 5 a 10 % dos casos que é a síndrome hemolítico-urêmica causada muito entre jovens e idosos. 2. E. coli enterotoxigênica: produz dois tipos de toxinas que causam diarreia aquosa, e esse subtipo é o mais comum em diarreia dos viajantes que visitam países em desenvolvimento. 3. E. coli enteropatogênica: causa diarreia aquosa e já foi causa de surtos de diarreia em enfermeiras. 4. E. coli enteroinvasiva: causa diarreia com ou sem sangue, principalmente em países em desenvolvimento. 5. E. coli enteroagregativa: provoca diarreia em menor quantidade quando comparada com os outros subtipos e também pode ser a causa da diarreia dos viajantes. ❏ Detecção: Todos os subtipos citados acima podem ser detectados nas fezes pela coprocultura. ❏ Abordagem ao paciente com diarréia aguda: Fazer uma anamnese e exame físico bem feito são importantes para levantar suspeitas da etiologia da diarreia. Tem que identificar: ❏ Volume das evacuações ❏ Frequência das evacuações ❏ Sangue, muco ou pus nas fezes - A presença de sangue é geralmente indicativa de infecções por microorganismo invasivo (Shigella, Campylobacter, Salmonella, E. coli entero- hemorrágica). ❏ Características das fezes (coloração, odor, consistência) ❏ Presença de febre ❏ Dor abdominal associada, náuseas, vômitos ou outros sintomas. ❏ Ausência de melhora após 48 horas ❏ História Sexual (homossexuais com infecção frequente por Giardia Lamblia) ❏ Surtos na comunidade ❏ Viagens recentes (países endémicos da amebíase) ❏ Consumo de produtos lácteos não pasteurizados ou de carne/peixe mal cozinhados (ex. gastroenterites por Salmonella ou Campylobacter) ❏ Uso recente de antibióticos (ex. infecção por Clostridium difficile) ❏ Idade do indivíduo(>70 anos) e imunocomprometidos (ambos sinais de alarme) Na maioria dos casos, o exame físico é importante para determinar a severidade da diarreia e não a sua causa. A pele e mucosas secas, a hipotensão e a taquicardia são indicativos de desidratação. A febre está frequentemente associada a infecção por um microorganismo invasivo. O exame abdominal deve ser cuidadoso para excluir outras patologias que podem manifestar-se com diarreia (ex. diverticulite ou apendicite). A maioria dos pacientes não tem necessidade de exames complementares. Pacientes com comorbidades, toxemiados, com hipotensão, diarreia inflamatória importante e imunodeprimidos têm indicação da realização de exames complementares que incluem: ❏ Hemograma, eletrólitos e função renal. Pode-se considerar proteína C- reativa (apenas em pacientes graves); ❏ Hemoculturas em crianças com menos de 3 meses de idade. Exames de fezes incluem leucócitos fecais, que são frequentemente positivos em pacientes com diarreia inflamatória. A presença de leucócitos fecais sugere agentes etiológicos como Shigella, Campylobacter e E. coli enteroinvasiva. Lactoferrina fecal, calprotectina fecal e sangue oculto nas fezes são marcadores de diarréia inflamatória. A coprocultura e eventualmente hemoculturas são necessárias para o diagnóstico etiológico dos quadros diarréicos e são indicados em imunodeprimidos, pacientes com quadro de hipotensão e toxemia ou que não respondem a antibioticoterapia empírica. Deve-se considerar exame protoparasitológico de fezes em diarreia persistente (> 7 dias), diarreia intensa em homossexuais, surtos comunitários por fonte de água e diarreia sanguinolenta com pesquisa de leucócitos fecais negativa. Em pacientes com mais de 2 anos de idade e uso de antibiótico recente ou com diarreia associada aos cuidados de saúde, deve ser considerado o diagnóstico de toxina por Clostridium difficile. O diagnóstico definitivo é feito pela pesquisa das toxinas A e B do Clostridium nas fezes. A pesquisa pelo ELISA deve ser feita apenas nas fezes diarreicas. As culturas não devem ser utilizadas para diagnóstico, pois podem detectar Clostridium sem toxina funcional. Deve-se considerar a realização de procedimentos endoscópicos quando: ❏ Diferenciar doença inflamatória intestinal de doença infecciosa ❏ Diagnóstico de colite pseudomembranosa ❏ Pacientes imunocomprometidos com risco de infecção oportunista ❏ Suspeita de colite isquêmica. Tratamento O tratamento é principalmente de suporte, com a desidratação representando a causa de 50% das mortes. A terapia de reidratação oral é escolha, com a hidratação parenteral sendo reservada para casos com hipotensão, taquicardia e desidratação grave. A hidratação parenteral indicada em pacientes hipotensos e taquicárdicos é feita com soluções isotônicas, em volume de 15 a 20 mL/kg e repetida se necessário. O tratamento sintomático de vômitos pode ser realizado com metoclopramida ou ondansetrona EV ou por via oral. A dor abdominal associada pode ser medicada com sintomáticos, como dipirona. É importante também sempre descartar patologias cirúrgicas na avaliação desses pacientes. Quanto ao tratamento sintomático da diarreia, a loperamida é um medicamento seguro e pode ser usado em dose inicial de 4 mg VO (2 cps) e repetido 1cp a cada evacuação, com dose máxima de 16 mg ao dia. Observação 1: o uso de probióticos não tem benefício comprovado. Observação 2: o uso de inibidores da encefalinase como o racecadotril também não tem benefício e não é recomendado. As diretrizes norte-americanas de diarreia infecciosa aguda não recomendam o uso de antibióticos em pacientes imunocompetentes que aguardam resultados de exames para procura da etiologia da diarreia, exceto em: ❏ Crianças com < 3 meses de idade com alta probabilidade de etiologia bacteriana; ❏ Pacientes com diarreia de característica inflamatória com febre alta e probabilidade de diagnóstico de Shigella. ❏ Pacientes retornando de viagens internacionais com temperatura > 38,5°C e sinais de sepse. Os antibióticos também devem ser considerados em pacientes imunossuprimidos com diarreia de características inflamatórias. O esquema empírico para a maioria dos pacientes com diarreia infecciosa aguda pode incluir uma das seguintes alternativas: ❏ Ciprofloxacina em dose oral de 500 mg 12/12 horas ou EV 200 mg 12/12 horas ❏ Cefalosporinas como cefuroxima 250-500 mg 12/12 horas ou ceftriaxone 2g EV 1x ao dia O tempo recomendado de antibioticoterapia é de até 5 dias na maioria dos casos. ❏ Abordagem ao paciente com diarréia crônica: Na diarreia crônica deve avaliar-se: ❏ Características da diarreia: início (gradual ou súbito), padrão (intermitente ou contínuo), duração, volume da diarreia e características das fezes (aquosas, com sangue ou com ácidos gordos) ❏ Relação da diarreia com o stress, a alimentação e o período do dia (a diarreia noturna sugere uma doença orgânica). ❏ Sintomas associados: dor abdominal, perda de peso, distensão abdominal, flatulência. ❏ Presença de incontinência fecal: importante diagnóstico diferencial que pode ser confundido com diarreia. ❏ Revisão detalhada por aparelhos e sistemas com o objetivo de procurar doenças sistêmicas tais como hipertireoidismo, diabetes, tumores neuroendócrinos, vasculites e imunodeficiências adquiridas. ❏ História de infecções bacterianas recorrentes (pode indicar uma deficiência de imunoglobulinas) ❏ Causas iatrogênicas: medicamentos, radioterapia e cirurgias anteriores. ❏ Diarreia fictícia: consumo abusivo de laxantes, de hidratos de carbono não absorvíveis como a frutose, manitol e a lactulose em indivíduos com deficiência de lactase. ❏ Fatores epidemiológicos: viagens recentes, consumo de água e alimentos contaminados; contatos pessoais. O exame físico é importante para determinar a severidade da doença. Alguns achados sugerem-nos determinados diagnósticos: hiperpigmentação cutânea (doença de Addison), flushing, sibilos, sopros cardíacos e hepatomegalia (tumores carcinóides); dermatite herpetiforme (doença celíaca); úlceras orais, rash cutâneo, fissuras ou fístulas anais (DII); linfadenopatia (poderá sugerir infecção HIV); massa tireóidea e exoftalmia (hipertireoidismo); diminuição do tônus e contratilidade do esfíncter anal (incontinência fecal); sinais de doença vascular periférica (isquemia mesentérica). Na maioria dos doentes, uma avaliação laboratorial mínima deve incluir: hemograma, ureia, creatinina, velocidade de sedimentação, função tireóidea, proteínas totais, albumina e pesquisa de sangue nas fezes. Uma avaliação endoscópica também é necessária em grande parte dos casos, contrariamente ao que acontece com a diarreia aguda. Tratamento O tratamento é individualizado, segundo as causas. ❏ Complicações: ❏ Desidratação; ❏ Diarréias de repetição, desnutrição crônica, retardo do desenvolvimento do peso e estatura; ❏ Retardo do desenvolvimento intelectual; ❏ Morte. ❏ Referências: ❏ Gastroenterites infecciosas - Diagnóstico laboratorial. JBM - MARÇO/ABRIL, 2013. VOL. 101. Nº 2. ❏ MORAES, Antônio Carlos; CASTRO, Fernando MM. Diarreia aguda. Journal of Moleular Biology, v. 102, p. 21-28, 2014. ❏ Fochesatto Filho L, Barros E. Medicina Interna na Prática Clínica. Porto Alegre: Artmed; 2013 ❏ Diarréia e desidratação - BVS Ministério da Saúde. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/214_diarreia.html#:~:text=Complica%C3%A7%C3%B5es %20da%20diarr%C3%A9ia%3A,%2D%20morte.>. Acesso em 22 de maio de 2021. ❏ Manual MSD - Gastroenterites em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastroen terite/gastroenterite ❏ TORRES FILHO, Helio Magarinos. Gastroenterites infecciosas. Jornal Brasileiro de Medicina, Rio de Janeiro, v. 101, n. 2, p. 25-29, 2013. ❏ DE GASTROENTEROLOGIA, Sociedade Portuguesa. Diarreia: avaliação e tratamento, Normas de orientação clínica. ❏ Medicina de emergência : abordagem prática / editores Irineu Tadeu Velasco ... [et al.]. - 14. ed., rev., atual. e ampl. - Barueri [SP] : Manole,2020. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastroenterite/gastroenterite https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastroenterite/gastroenterite
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