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TJ-SP_AC_10057422920198260032_de942

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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2020.0000380663
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 
1005742-29.2019.8.26.0032, da Comarca de Araçatuba, em que é apelante FAZENDA 
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelada JAQUELINE SAKAE 
PELLIZZARI.
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Público do 
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Rejeitadas as preliminares, 
negaram provimento, nos termos que constarão do acórdão. V. U., de conformidade 
com o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores EDUARDO GOUVÊA 
(Presidente) e COIMBRA SCHMIDT.
São Paulo, 29 de maio de 2020.
MOACIR PERES
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
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Apelação Cível nº 1005742-29.2019.8.26.0032 -Voto nº 32.997 2
VOTO Nº 32.997
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1005742-29.2019.8.26.0032 de Araçatuba
APELANTE: ESTADO DE SÃO PAULO
APELADA: JAQUELINE SAKAE PELLIZZARI
JUIZ SENTENCIANTE: JOSÉ DANIEL DINIS GONÇALVES
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. IPVA. Portadora de necessidades 
especiais. Afastamento das preliminares. Natureza declaratória do 
ato administrativo que confere a isenção. Repetição devida. 
Sentença mantida. Preliminares afastadas. Recurso improvido. 
A Fazenda do Estado de São Paulo, inconformada com a r. sentença 
que julgou procedente o pedido da parte autora (fls. 80/85), interpôs recurso de 
apelação. 
Esclarece, preliminarmente, que a concessão das isenções deve se dar 
em conformidade com o que for estabelecido pelo Poder Executivo, como dispõe o 
artigo 12 da Lei Estadual nº 13.296/08, desta maneira o princípio da independência 
dos poderes é ferido ao se pretender que o Poder Judiciário declare que determinada 
situação é isenta. Assim, o pedido é juridicamente impossível. Ademais, aduz 
decadência do direito, pois o pagamento do imposto deverá ser efetuado no prazo de 
30 dias da data da emissão da nota fiscal do bem adquirido e a interessada deveria 
providenciar o pagamento ou a prova de que o veículo é imune, isento ou de que 
está dispensado o seu pagamento, porém, não realizou nenhuma das opções, 
mantendo-se inerte. No mérito, argumenta que a apelada efetuou o pagamento do 
IPVA 2018 e 2019, sem ter requerido no prazo legal de 30 dias. Desse modo, o 
direito não socorre aos que dormem. Daí, pretender a reforma da r. sentença (fls. 
89/98). 
Com as contrarrazões (fls. 102/115), subiram os autos. 
É o relatório.
A autora alega ser portadora de deficiência física, por isso, afirma ter o 
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Apelação Cível nº 1005742-29.2019.8.26.0032 -Voto nº 32.997 3
direito à isenção de IPVA. Entretanto, por razões burocráticas não formulou o 
pedido de isenção tempestivamente, efetuando o pagamento do tributo em relação 
aos anos anteriores à obtenção da isenção. Assim, requer “A procedência da 
presente ação, a fim de condenar a requerida a: I-) restituir o valor de R$ 4.572,92 
(quatro mil, quinhentos e setenta e dois reais e noventa e dois centavos), observando 
o disposto no artigo 167 do CTN e respeitando a súmula 188 do STJ.” (fls. 04). 
O MM. Juiz de primeiro grau condenou a requerida “a restituir os 
valores do IPVA referente aos anos 2018/2019, com incidência de correção 
monetária a partir do pagamento indevido, pelo índice IPCA-E, e juros de mora no 
mesmo índice que utilizado pela Fazenda Pública para remunerar seu crédito 
tributário (critério prevalente) ou de 1% ao mês, em ambos os casos incidentes a 
partir do trânsito em julgado (artigos 406 do Código Civil e 167 do Código 
Tributário Nacional; Súmula nº 188 do Superior Tribunal de Justiça), extinguindo o 
feito com resolução de mérito, com base no artigo 487, I do CPC. Sucumbente, 
arcará a Fazenda com honorários de advogado que fixo em 10% sobre o valor da 
condenação.” (fls. 84/85).
Não assiste razão à apelante. 
De início, as preliminares arguidas devem ser afastadas. 
A priori, ao contrário do que a requerida alega em suas contrarrazões, a 
apelante preencheu todos os requisitos exigidos nos arts. 1.009 e 1.010 do CPC, 
uma vez que rebateu com os fundamentos prolatados na sentença. Assim, sua 
preliminar deve ser afastada.
De outro lado, também não merece prosperar a ofensa ao princípio da 
separação dos poderes alegada pela apelante, uma vez que o nosso ordenamento 
jurídico adotou o sistema de jurisdição única, cabendo ao Poder Judiciário a 
apreciação de qualquer lesão ou ameaça de lesão a direito (artigo 5º, XXXV, da 
Constituição Federal). Consequentemente, ainda que haja previsão administrativa 
para efetuar o pedido, esta não tem força absoluta, podendo o Poder Judiciário, na 
qualidade de parte equidistante, verificar a legalidade do ato no caso concreto, razão 
pela qual, o pedido é juridicamente possível.
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No mais, com relação à preliminar de decadência, essa se confunde com 
o mérito e com este será analisada.
Com efeito, o artigo 13, inciso III, da Lei nº 13.296, de 23 de dezembro 
de 2008, prevê que está isenta do IPVA a propriedade “de um único veículo 
adequado para ser conduzido por pessoas com deficiência física”. 
Por sua vez, a Lei Estadual nº 16.498, de 18 de julho de 2017, ao alterar a 
redação do inciso III, do artigo da citada Lei Estadual, possibilitou a concessão da 
isenção da exação para um único veículo de propriedade de pessoa com deficiência 
ou autista, seja ela condutora ou não do veículo (art. 3º, I), porém limitou a benesse 
à aquisição de veículos cujo valor não supere o previsto em convênio para a 
concessão da isenção do ICMS (art. 4º, I). 
De acordo com o Convênio ICMS nº 38, de 30 de março de 2012, 
celebrado no âmbito do CONFAZ pelos Estados da Federação: 
“Cláusula primeira - Ficam isentas do ICMS as saídas internas e 
interestaduais de veículo automotor novo quando adquirido por pessoas portadoras 
de deficiência física, visual, mental severa ou profunda, ou autistas, diretamente ou 
por intermédio de seu representante legal.
(...) 
§ 2º O benefício previsto nesta cláusula somente se aplica a veículo 
automotor novo cujo preço de venda ao consumidor sugerido pelo fabricante, 
incluídos os tributos incidentes, não seja superior a R$ 70.000,00 (setenta mil 
reais)”. 
Logo, a concessão de isenção de IPVA, seja para deficiente condutor ou 
não, está atrelada ao valor do veículo que, segundo a nova lei, não pode ultrapassar 
a R$ 70.000,00, quando da sua aquisição. 
Releva notar, neste passo, que a condicionante é legal, devidamente 
instituída por lei, apenas utilizando o legislador de técnica normativa para indicar o 
critério quantitativo. 
Este, inclusive, é o entendimento sedimentado no C. Órgão Especial 
deste Egrégio Tribunal: 
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“ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Art. 4º, inciso I, da 
Lei Estadual nº 16.498/17, na parte em que acrescentou ao artigo 13 da Lei nº 
13.926/2008, o § 1º-A, o qual determina que a isenção de IPVA para proprietário 
com deficiência física fica limitada a veículo automotor de até R$ 70.000,00 
Alegação de violação ao princípio da isonomia tributária, devendo a isenção ser 
estendida a veículo de valor superior Discrímen que garante a concessão da 
isenção àqueles deficientes físicos que realmente necessitam do benefício para sua 
inclusão e não a outros que possuem condições financeiras de adquirir veículo de 
valor elevado, sob pena de prejuízo indevido ao erário Inconstitucionalidade não 
verificada Incidente não acolhido” (TJSP; Incidente De Arguição de 
Inconstitucionalidade Cível 0038459-47.2018.8.26.0000; Relator (a): Des. Salles 
Rossi; Órgão Julgador: Órgão Especial;Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 
13ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 27/02/2019; Data de Registro: 
01/03/2019)
In casu, é incontroversa a condição física da apelada e o valor do veículo 
dentro da faixa legalmente estabelecida para a isenção. O que se discute, aqui, é o 
direito à restituição do valor pago a título de IPVA, uma vez que a autora não 
respeitou o prazo administrativo para formular o pedido de isenção de IPVA.
Ora, a Administração não constitui o direito em si, a finalidade é apenas 
verificar o preenchimento das formalidades legais e reconhecer ou não se a 
requerente faz jus ao direito pleiteado, no caso, a isenção de IPVA.
Portanto, o ato é meramente declaratório, uma vez que a isenção decorre 
de lei. Assim, a inobservância do prazo administrativo não retira da autora o seu 
direito à isenção, por conseguinte, se o valor do IPVA foi pago por quem tem direito 
à isenção, este valor deverá ser restituído. Nesse sentido:
“Apelação Cível. Tributário. IPVA. Pretensão de obter isenção do 
imposto incidente sobre veículo destinado ao transporte de portador de necessidades 
especiais, bem como reembolso dos valores recolhidos nos exercícios anteriores. 
Sentença de procedência. Recurso voluntário do Estado de São Paulo. Parcial 
provimento de rigor. Prevalência dos preceitos constitucionais que asseguram a 
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Apelação Cível nº 1005742-29.2019.8.26.0032 -Voto nº 32.997 6
proteção especial às pessoas deficientes. Precedentes da Corte e do C. STJ. 
Repetição devida. Natureza declaratória da decisão que retroage até a 
aquisição do veículo. Juros de mora que incidem apenas a partir do trânsito em 
julgado da sentença, nos termos da súmula 188 do STJ. R. sentença parcialmente 
reformada. Recurso parcialmente provido.” (g.n. Ap. nº 
1002586-19.2016.8.26.0394, rel. Des. Sidney Romano dos Reis, j. 05.03.2018).
Por fim, no tocante aos honorários advocatícios recursais, condeno a 
apelante ao pagamento de 11% sobre o valor da condenação, válido para as duas 
instâncias, nos termos do art. 85, §11, do Código de Processo Civil. 
Ante o exposto, rejeitadas as preliminares, nega-se provimento ao 
recurso de apelação, mantida a r. sentença.
MOACIR PERES
Relator
		2020-05-29T15:05:27+0000
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