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AULA 5 SISTEMAS DE CONTROLE INDUSTRIAIS Prof. Alexandre Arioli 02 CONVERSA INICIAL Bem-vindo à quinta aula de Sistema de Controle Industriais. Abordaremos a implementação de sistemas de controle e proteção em processos de geração e transmissão de energia. Descobriremos como automatizar uma usina hidrelétrica e subestação. Analisaremos os sistemas de proteção de sistemas elétricos e as necessidades para sua implementação. Conheceremos os protocolos utilizados na área energética. Finalizaremos o submódulo 2.7 da ONS. A ideia é que, no final da aula, você tenha uma boa noção das necessidades para implementação de um sistema de controle/proteção para processos de energia elétrica. CONTEXTUALIZANDO Os sistemas digitais têm sido utilizados para a automação da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. O termo automação elétrica tem sido usado para designar esses sistemas digitais que são utilizados para supervisão, comando, controle e proteção dos vários componentes do sistema elétrico (Jardini, 2017). Quanto ao processo a que estão relacionados, esses sistemas podem ser classificados em: • sistema de automação de subestações; • sistema de automação de usinas. Distinguem-se quanto às funções de comando, controle, supervisão e proteção que neles estão instaladas, portanto, aos seus objetivos. Eles trocam informações entre si, de forma a executar suas funções sem duplicação na coleta de dados e nas ações, estando ligados entre si por meio de uma rede de comunicação de dados que constitui a espinha dorsal destes sistemas (Jardini, 2017). Para entendermos melhor esse inter-relacionamento, a seguir serão apresentadas descrições gerais destes sistemas. TEMA 1 – AUTOMAÇÃO DE USINA Os sistemas digitais são também usados para automação de usinas geradoras de energia elétrica. A geração de energia elétrica pode ser feita por diferentes processos de conversão: usinas hidroelétricas, usinas termoelétricas a 03 carvão, usinas termoelétricas a óleo/diesel, usinas termonucleares, eólicas e fotovoltaicas. Desta forma, cada uma delas tem sua particularidade levando a diferenças nas funções de automação. Nesta aula serão discutidas apenas a automação de usinas hidroelétricas (Jardini, 2017). O sistema digital de usina visa prover os meios para a operação e manutenção desta. A figura a seguir apresenta a topologia básica de um sistema de automação de usinas. Figura 1 – Topologia básica do sistema de automação de usinas Fonte: Jardini, 2017, p. 10. As unidades de interface com o processo podem ser compostas por vários módulos, por exemplo: a UAC do gerador pode ter um módulo para automatismo/sequência de eventos e outro para as proteções. Essas interfaces com o processo se integram com os reguladores de tensão, de velocidade dos geradores e com os controladores locais, como os das comportas do vertedouro (Jardini, 2017). Conforme Jardini (2017), nas UAC são alocadas as entradas digitais, entradas analógicas (medições), saídas digitais (controle) e saídas analógicas (sinal de referência ou set points). O SOE é uma unidade especializada para fazer aquisição de dados com alta resolução (1 ms) para sequência de eventos. Por isso as várias SOE precisam ser sincronizadas por um GPS (Jardini, 2017). É importante, neste ponto, indicar que fazem parte do sistema de comando e controle da usina equipamentos dedicados como: relés de proteção, reguladores de tensão, reguladores de velocidade das máquinas e controladores de comportas. Estes deverão se integrar ao sistema (Jardini, 2017). 04 A proteção digital pode, por exemplo, trocar informações com o sistema central via rede ligando-se diretamente a esta. Os reguladores e controladores podem trocar informações com o sistema central via UAC (Jardini, 2017). É oportuno citar que, nas grandes usinas, a sala de comando fica geralmente na casa de força próxima aos geradores (Jardini, 2017). Figura 2 – Vista de uma usina hidroelétrica Figura 3 – Áreas da uma Usina Hidrelétrica 05 Figura 4 – Casa de força de uma usina Conforme Jardini (2017), as seguintes funções são contempladas na UAC de controle de uma usina: • comando: aquisição de dados e atuação no processo; • proteções: supervisão (sinalização e medição); • alarmes; • sequência de eventos; • intertravamentos e bloqueios; • sequências automáticas (partida/parada, sincronização de máquinas); • controle de tensão e reativos; • controle de potência ativa; • controle dos vertedouros; • sincronização; • funções da subestação elevadora e da subestação de alimentação da carga do local onde está a usina; • monitoração de desempenho de transformadores e outros equipamentos; • oscilografia; • cálculo de valores hidroenergéticos; • autodiagnose. 06 1.1 Aquisição de dados e atuação no processo A aquisição de dados e atuação são efetuadas UAC constituindo em: • entradas digitais; • saídas digitais; • entradas analógicas; • saídas analógicas; • comunicação de dados (Jardini, 2017). De acordo com Jardini (2017), as entradas digitais compreendem as informações de estado de equipamentos (aberto, fechado) para sinalização e intertravamento, e os contatos de atuação das proteções (quando convencionais) para sinalização e sequência de eventos. Enquanto para o primeiro conjunto é aceitável tempo de aquisição com resolução de 10 ms (eventos lentos), para o segundo conjunto (eventos rápidos) deve ser especificada resolução de 1 ms (incluindo nesse segundo conjunto os contatos dos disjuntores). Deve ser prevista a sincronização de tempo das UAC (SOE) de forma que o erro de tempo entre eventos datados em diferentes UAC (SOE) seja inferior a um valor especificado, por exemplo, de 2 ms (Jardini, 2017). Segundo Jardini (2017), para leitura dos contatos dos equipamentos de campo (disjuntores, seccionadores) pode-se prever relés de interposição ou especificar às UAC obtê-los diretamente, porém, para tensão CC elevada (125 Vcc). A estas variáveis digitais são adicionadas, nas UAC, rótulos com indicação do instante da mudança de estado (hora – minuto – segundo – milissegundo). As saídas digitais são usadas para acionar equipamentos ou participar de sequenciamentos. No primeiro caso, sua atuação pode ser feita por meio de relé auxiliar interposição ou diretamente, desde que especificado para tal (tensão CC 125 V e interrupção de corrente CC, de valor da ordem de 2 A). Para acionamento que envolve segurança, prevê-se lógica com mais de uma saída digital, de forma a evitar operação incorreta por sinais espúrios (Jardini, 2017). As entradas analógicas são utilizadas principalmente para medição (temperatura, tensão, corrente, potência, frequência). A aquisição destas medições é feita por leitura de um sinal de corrente ou tensão na saída de transdutores (Jardini, 2017). Segundo Jardini (2017), as saídas analógicas consistem na entrega de sinal de corrente (por exemplo, 4 a 20 mA) ou de tensão (por exemplo, ± 10 V) 07 pela UAC e são utilizadas para acionar eventuais indicadores e para dar o sinal de referência (set point) para equipamentos dedicados (regulador de tensão, regulador de potência, abertura de comportas do vertedouro). As UAC devem prever portas para comunicação (ponto a ponto ou para rede local padronizada) permitindo, assim, a aquisição de dados por comunicação de outros equipamentos (por exemplo, módulos de proteção digital) e envio de valor do controle da mesma forma (por exemplo, referência para um regulador de potência digital) (Jardini, 2017). Durante a aquisição dos dados, deve ser previsto o teste de verificação de consistência de suas variáveis, a conversão para unidades de engenharia e a verificação de limites admissíveis (Jardini, 2017). 1.2 ProteçõesAs proteções podem ser do tipo convencional ou digital, entendendo-se por digital aquela que compreende a aquisição do sinal (corrente, tensão) em intervalos discretos menor que 0,1 ciclo, filtragem, e processamento digital das informações com algoritmos específicos em cada aplicação (cálculo da impedância, por exemplo). A atuação é feita por meio de uma saída digital do relé (Jardini, 2017). Entretanto, quando escolhida a proteção digital, ela vem em forma independente das UAC, com hardware próprio de forma a oferecer uma segurança compatível com a que teria com uma proteção convencional (Jardini, 2017). TEMA 2 – AUTOMAÇÃO DE SUBESTAÇÕES O sistema digital de automação de subestação visa prover os meios para operação e manutenção desta. Ele se caracteriza por dois níveis hierárquicos: • o nível interface com o processo e aquisição de dados (relés de proteção, UTR e controladores); • o nível de comando e supervisão, também denominado sistema de supervisão e controle. No nível de interface com o processo encontram-se as unidades de aquisição de dados (UAC) e os outros equipamentos dedicados, como os relés de proteção, os equipamentos de oscilografia, as unidades para intertravamento e os 08 controladores de equipamentos tipo compensador estático, por exemplo (Jardini, 2017). No nível de controle/proteção desenvolvem-se várias funções, algumas das quais estão listadas a seguir: • sinalização ou monitoração de estado (status) de equipamentos; • medição; • proteções; o de linha; o de transformador; o de barra; o de reator; o por perda de sincronismo, etc.; • monitoração das proteções; • religamento automático; • estimativa de localização de falta na linha; • proteção por falha de disjuntor; • controle de equipamentos de chaveamento (intertravamento); • sequência automática de chaveamentos; • monitoração de sobrecarga em transformadores; • controle local de tensão e fluxo de reativo; • corte seletivo de cargas (load shedding); • sincronização; • alarmes; • indicação e registro de sequência de eventos; • oscilografia; • autodiagnose (Jardini, 2017). A figura 5 apresenta uma arquitetura típica de um desses sistemas. No Brasil existem várias subestações digitalizadas, com, inclusive, proteção digital (Jardini, 2017). A rede pode ser simples ou redundante e as funções listadas anteriormente podem ser agrupadas em mais ou menos processadores, dependendo da importância da subestação (Jardini, 2017). 09 Figura 1 – Topologia básica do sistema de automação de usinas Fonte: Jardini, 2017, p. 6. Os sistemas digitais para a realização dessas funções podem variar de complexidade dependendo de como se pretende implementá-las, porém sempre será composto de um sistema central, um sistema de aquisição de dados com ou sem dispositivos de interface com o processo e por unidades dedicadas com objetivos específicos (proteção, oscilografia, por exemplo) (Jardini, 2017). A complexidade do sistema central é função do tamanho da subestação e da escolha se a subestação será assistida ou desassistida (telecomandada) (Jardini, 2017). A subestação é dita assistida quando tem operadores locais durante todo o tempo de serviço. É comum numa área haver várias subestações telecomandadas por meio de outra. Neste caso, o sistema central, na subestação no comando, deve ser composto de computadores em que residirá a interface homem-máquina (IHM) para os operadores (Jardini, 2017). Já na subestação desassistida (telecomandada), o sistema central pode ser simples, com apenas equipamentos para a comunicação e troca de dados com a subestação, que está no comando (Jardini, 2017). 2.1 Arranjo das subestações A denominação arranjo é usada para as formas de se conectarem entre si as linhas, transformadores e cargas de uma subestação. O arranjo mais simples, barra singela, disjuntor singelo, está indicado na figura a seguir (Jardini, 2017). 010 Figura 6 – Arranjo de uma subestação Fonte: Jardini, 2017, p. 112. O disjuntor permite abrir ou fechar o circuito com carga. As seccionadoras não podem operar com carga, assim elas são abertas após ser aberto o disjuntor e são instaladas para isolar o disjuntor para sua manutenção. A faca de terra é operada quando a linha está desenergizada e serve para proteção contra ligação indesejada da linha pelo outro extremo. Na figura 6a todos os circuitos se conectam a mesma barra e são todos desligados quando ocorre um defeito nessa barra (Jardini, 2017). O arranjo da figura 6b inclui um disjuntor de barra (ou disjuntor de paralelo) e com este arranjo perde-se apenas parte dos circuitos quando ocorre um defeito numa seção de barra. Nesses arranjos, quando está sendo feita a manutenção num disjuntor, o circuito fica desligado. Por isso esses arranjos são usados em subestações de pequena importância, subestações de média tensão e subestações industriais em que cada carga é alimentada por dois circuitos vindos de locais independentes (Jardini, 2017). Quando existe o requisito de não perder o circuito, durante a manutenção do disjuntor pode-se usar o arranjo da figura 7. 011 Figura 7 – Arranjo de barra principal e transferência Fonte: Jardini, 2017, p. 112. Nesse arranjo em operação normal tem-se D1, D2, S12, S22, S13, S23 ligados e S11, S21, SP1, SP2, DP desligados. Na ocasião de manutenção de D1 as seguintes providencias são tomadas: • ligar S11, SP1, SP2 e depois DP; • desligar D1, S12, S13 (Jardini, 2017). Agora a corrente da linha passa por S11, SP1, DP, SP2 chegando à barra principal (Jardini, 2017). Como etapa final deve ser providenciada a transferência da proteção da linha 1, de forma que ela possa atuar em DP e não mais em D1 (Jardini, 2017). 2.2 Proteções Num sistema de automação de uma subestação nova é utilizada proteção digital. Em particular, várias empresas têm modernizado as suas subestações existentes, quando, por exemplo, substituem o comando e controle convencional por digital (Jardini, 2017). Os grandes fornecedores de relés digitais costumam utilizar os módulos eletrônicos relés para fazer aquisição de alguns dados, como os estados do disjuntor e chaves (Jardini, 2017). Para distinguir a ordem de operação dos reles, esses dados devem ser adquiridos com resolução rápida (1 ms), coerentemente com o tempo de atuação 012 das proteções. Os relés de proteção digital possuem memórias que permitem armazenar a informação de operação e canais de comunicação que permitem transferi-las para o sistema de supervisão em que será usada a monitoração. O módulo relé digital não precisa comunicar os dados logo em seguida à atuação da proteção, podendo fazê-lo em tempos de até 1 s, visto que sua atuação é direta no disjuntor e os dados comunicados servem para monitoração apenas (Jardini, 2017). TEMA 3 – PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS Em qualquer sistema elétrico avaliado, o principal objetivo da proteção é torná-lo capaz de oferecer um serviço cada vez mais contínuo, mais confiável, a um custo compatível e com segurança, ou seja, sempre obedecendo às normas dos órgãos que regulam o setor elétrico brasileiro e internacional (Rodrigues, 2013). Na proteção existem certos parâmetros que identificam a qualidade e a eficiência, como rapidez para extinção da falha e sensibilidade. E com um planejamento correto é possível agir de maneira significativa em pontos cruciais, tais como: confiabilidade, segurança, tempo e gastos financeiros com manutenção corretiva e preventiva e a melhora no fornecimento de energia para o caso da transmissão e distribuição (Rodrigues, 2013). Ressalta-se que uma corrente de curto-circuito elevada que se mantém por um longo período de tempo pode provocar inúmeros danos ao sistema elétrico ou até mesmo um colapsona rede, portanto é altamente requerido que um sistema de proteção seja configurado de forma a garantir a eliminação do defeito no menor tempo possível, minimizando os danos e os custos, aumentando a segurança material e pessoal (Rodrigues, 2013). Os níveis de curto circuito devem ser sempre os mais baixos possíveis, a fim de minimizar os danos aos equipamentos em caso de curto. Contudo, nem sempre é possível se ter níveis baixos de curto-circuito, devido à queda de tensão, em regime permanente ou durante a partida de grandes cargas, que se tornaria excessiva. Em sistemas elétricos industriais, geralmente é mais fácil projetá-lo e dimensionar os equipamentos visando trabalhar com níveis mais baixos de curto- circuito, porque o efeito indesejável da queda de tensão excessiva na partida das grandes máquinas pode ser mitigado com a utilização de equipamentos que 013 reduzem essa corrente, como equipamentos do tipo soft-starter (Rodrigues, 2013). 3.1 Coordenação de seletividade Antes de tudo é necessário definir o que é coordenação e seletividade. Segundo o dicionário, coordenação é “colaboração harmoniosa de partes e sequência normal de funções”, ou seja, coordenação de um sistema de proteção significa ajustar os parâmetros dos equipamentos de forma a garantir que, para uma falta em determinado ponto do sistema elétrico, a atuação dos relés ocorrerá de forma coordenada, com os relés mais próximos à falta atuando antes que os relés subjacentes, isolando e erradicando a falta. Caso os primeiros na ordem de atuação falhem, os próximos relés devem atuar, seguindo, assim, uma ordem de prioridade de operação (Rodrigues, 2013). A seletividade está atrelada ao conceito de coordenação, sendo que um sistema elétrico de proteção é dito seletivo quando, diante da ocorrência da falta em um ponto, apenas a menor parte do sistema de potência ao redor deste ponto é isolada pela proteção, garantindo que o restante do sistema (e suas respectivas cargas) continue a funcionar de forma satisfatória (Rodrigues, 2013). Garantir a coordenação e a seletividade do sistema de proteção é uma das tarefas mais difíceis no planejamento, principalmente em sistemas malhados, que possuem uma confiabilidade sensivelmente superior aos sistemas radiais (Rodrigues, 2013). Desta forma, qualquer defeito que ocorra em determinado ponto da rede resultará na atuação dos dispositivos mais próximos ao curto, garantindo que a menor parte necessária do sistema seja retirada de operação (Rodrigues, 2013). Assim, tanto a coordenação, a seletividade e a eficácia devem ser tratadas como prioridades no planejamento e na concepção de um sistema eficiente de proteção para qualquer ambiente (Rodrigues, 2013). 014 3.2 Relés de proteção Relés são dispositivos elétricos que são planejados/programados para responderem a determinada condição de entrada de modo pré-programado, e depois que certas condições são encontradas, causam uma operação de contato ou similar em um circuito de controle elétrico associado (Rodrigues, 2013). Figura 8 – Relé de proteção Existem classificações das funções de proteção que determinado relé possui, por exemplo, a função de sobrecorrente desses dispositivos. A proteção de sobrecorrente, cuja numeração segundo a IEC 61850 é 50 (sobrecorrente instantânea) e 51 (sobrecorrente de tempo inverso) é direcionada quase totalmente à extinção de faltas ocorrentes no sistema de potência, porém, devido à sua configuração, é possível também se obter certa proteção contra sobrecargas (Rodrigues, 2013). Segundo Rodrigues (2013), no âmbito dos relés podemos mencionar os seguintes: • relé de proteção diferencial (87); • relé de temperatura do óleo (função 26); • relé de nível de óleo (função 71); • relés de pressão de nível ou de fluxo, de líquido ou gás (função 63); • relé de distância (função 21); • relé de subtensão (função 27); 015 • relé de subcorrente ou subpotência (função 37); • relé térmico para máquina ou transformador (função 49); • relé de sobretensão (função 59); • relé de frequência (função 81). TEMA 4 – PROTOCOLOS DO SETOR ELÉTRICO O número de protocolos abertos criados especificamente para sistemas elétricos é restrito. É usual encontrarmos aplicações em subestações utilizando protocolos genéricos, como MODBUS, e protocolos proprietários (Coutinho, 2015b). Até recentemente, os principais padrões abertos utilizados em sistemas elétricos eram o DNP3 e IEC 60870-5. Por meio deles, funções de automação estavam restritas a comandos remotos, anunciação de alarmes e envio de variáveis analógicas e digitais via rede de comunicação (Coutinho, 2015b). Em 2004 foi publicada a norma técnica internacional IEC 61850 que revolucionou, por assim dizer, a arquitetura de comunicação em sistemas elétricos. Esse novo padrão aproveitou a evolução das redes Ethernet para viabilizar não apenas as funções disponíveis nos padrões anteriores, mas também funções de proteção e automação com elevados requisitos de tempo (Coutinho, 2015b). 4.1 Protocolo DNP 3.0 O protocolo DNP3 (Distributed Network Protocol) foi desenvolvido pela GE Harris, então Westronic, Inc., no início da década de 90. Em 1993 a responsabilidade de padronização e das especificações do protocolo passaram para o DNP3 Users Group, um grupo constituído de usuários e fabricantes que estavam utilizando o protocolo (Coutinho, 2015a). Utiliza essencialmente uma comunicação mestre-escravo, porém com suporte a mensagens não solicitadas – RBE (Report by exception). O protocolo DNP3 suporta a comunicação em modo balanceado (escravos podem iniciar a comunicação) e não balanceado (somente o mestre inicia a comunicação) (Coutinho, 2015a). O DNP3 é um protocolo orientado a evento, o que significa que a modelagem e padronização das mensagens na camada de aplicação são formatadas para retratar, por exemplo, mudanças nas entradas e saídas 016 analógicas e digitais, podendo conter a referência de tempo ou não (Coutinho, 2015a). O frame DNP3 pode ser encapsulado em TCP/IP e encaminhado via rede Ethernet (Coutinho, 2015a). 4.2 IEC 60870-5 A norma IEC 60870-5 foi produzida pelo Comitê Técnico da Comissão Eletrotécnica Internacional 57, Grupo de Trabalho 03, e publicado progressivamente a partir de 1988 (Ferreira, Guerra, Guerra, 2017). As seções IEC 60870-5-1 até IEC 60870-5-5 são os principais documentos de especificação para a parte 5, o protocolo de transmissão que é parte do padrão (Ferreira, Guerra, Guerra, 2017). As seções dos padrões associados, ou simplesmente padrão associado, IEC 60870-5-101 até IEC 60870-5-104, são protocolos de aplicação criados para propósitos específicos (Ferreira, Guerra, Guerra, 2017). O padrão IEC 60870-5-101 proveu o primeiro trabalho completo sobre o protocolo Scada sobre o IEC 60870-5. Este define todas as funções e objetos de dados necessários no nível de aplicação para telecontrole operando em grandes distâncias geográficas, usando baixa largura de banda com comunicação bit-serial (Ferreira, Guerra, Guerra, 2017). O padrão associado IEC 60870-5-102 e o IEC 60870-5-103 proveem tipos de dados e funções que suportam sistemas de proteção elétrica. Estes incluem proteção de distância, proteção diferencial de linha e diferencial de transformador (Ferreira, Guerra, Guerra, 2017). O padrão associado IEC 60870-5-104 possui uma significância especial. Define operações de protocolos de transmissão sobre redes usando perfis de padrões de transporte específicos dos protocolos TCP e IP (Ferreira, Guerra, Guerra, 2017). 4.3 IEC 61850 Anteriormente falamos sobre protocolos apropriados para executar apenas telecomando (supervisão e comandos remotos) de subestações e usinas (DNP3 e IEC_104). No entanto, a norma IEC 61850 vai muito além. Ela não é exatamente um protocolo, mas é um conjuntode normas e padrões que estabelece uma arquitetura de comunicação para sistemas elétricos. Como https://industriaautomatica.wordpress.com/2015/09/26/protocolos-para-sistemas-eletricos-dnp-3-0/ https://industriaautomatica.wordpress.com/2015/09/26/protocolos-para-sistemas-eletricos-iec-60870-5-iec-101/ 017 veremos a seguir, ela estabelece protocolos que possibilitam aos sinais de proteção e automação trafegar via rede de comunicação atendendo os requisitos de tempo e confiabilidade necessários a todas as aplicações para sistemas de elétricos (Coutinho, 2015b). A IEC 6185 estabelece uma estrutura de comunicação que possibilita a interoperabilidade de dispositivos de diferentes fabricantes. A norma define basicamente três níveis de interface (barramentos) distintos para comunicação em uma subestação: • comunicação entre sensores e seus IEDs – barramento de processo; • comunicação entre IEDs – barramento de bay; • comunicação entre IEDs e supervisório – barramento de estação (Coutinho, 2015b). Cada um desses barramentos de dados possui requisitos de comunicação particulares. Figura 9 – Níveis de comunicação IEC 61850 Fonte: Coutinho, 2015b. Segundo Coutinho (2015b), o protocolo definido pela norma para o barramento de processo é o SV – Sample Values (IEC 61850-9). Ele ainda não é 018 utilizado concretamente devido às necessidades de evolução tecnológica dos equipamentos de campo (TCs, TPs, disjuntores etc.) O barramento de bay é modelado pelo protocolo Goose (Generic Objet Oriented Substation Event), o qual já está em pleno uso atualmente. Ele estabelece uma comunicação horizontal, ou seja, mensagens entre IEDs apenas (Coutinho, 2015b). O barramento de estação é modelado pelo protocolo MMS (Manufacturing Message Specification). Ele preenche o mesmo espaço dos protocolos DNP3 e IEC104, ou seja, padroniza a comunicação para mensagens de supervisão e comandos remotos (Coutinho, 2015b). TEMA 5 – PROCEDIMENTO DE REDE: SUBMÓDULO 2.7 Os procedimentos de rede estabelecem os requisitos técnicos necessários para garantir o livre acesso às instalações de transmissão, a realização das atividades de planejamento e programação da operação eletroenergética, administração de serviços de transmissão de energia elétrica, proposição de ampliações e reforços para a rede básica e para as DITs, bem como as atividades de supervisão, coordenação e controle da operação do SIN (ONS, 2017). Os procedimentos de rede propiciam transparência e embasamento técnico-operacional às atividades realizadas pelo ONS no exercício de suas atribuições e têm como principais clientes os agentes e órgãos do setor elétrico e a sociedade, como consumidora final de energia elétrica (ONS, 2017). 5.1 Submódulo 2.7 O objetivo deste submódulo é atribuir responsabilidades relativas aos requisitos de supervisão e controle para a operação e estabelecer os recursos que os agentes devem disponibilizar para o ONS (Submódulo 2.7, 2016). Este submódulo também tem por objetivo definir os recursos de supervisão que os agentes responsáveis por equipamentos instalados em subestações sob responsabilidade de outro agente devem fornecer aos agentes responsáveis pelas instalações compartilhadas (Submódulo 2.7, 2016). 019 5.1.1 Responsabilidades • Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS: o Avalia a qualidade e a disponibilidade dos recursos de supervisão e controle fornecidos pelos agentes de modo a garantir um conjunto de informações que descrevam o estado preciso do sistema elétrico. o Realiza a coordenação do planejamento de adequação das instalações existentes, bem como executa avaliações periódicas do andamento da implementação de adequações e de eventuais revisões deste planejamento. o Define e mantém atualizado com a evolução tecnológica um conjunto padronizado de protocolos de comunicação de dados para escolha pelos agentes nas suas interligações de dados. • Agentes: o Instalam os recursos de supervisão e controle e disponibilizam todas as informações a um ou mais centros de operação designados pelo ONS. o Garantem a qualidade e a disponibilidade dos recursos de supervisão e controle fornecidos ao ONS (Submódulo 2.7, 2016). 5.1.2 Infraestrutura de supervisão e controle do ONS A infraestrutura de supervisão e controle do ONS, por estar baseada nos sistemas de supervisão e controle dos centros de operação do ONS, tem sua estrutura espelhada na organização estabelecida pelo ONS para os seus centros de operação, conforme apresentada no Submódulo 10.1. A figura a seguir ilustra a organização da infraestrutura de supervisão e controle do ONS. 020 Figura 10 – Infraestrutura de supervisão ONS Fonte: Submódulo 2.7, 2016, p. 8. • Legenda: o CNOS: Centro Nacional de Operação do Sistema; o COSR: Centro Regional de Operação do Sistema; o COSR-i: COSR instalado na localização “i”, nas cidades onde o ONS tem os seus COSR; o SSC: Sistema de Supervisão e Controle: SSC-Li: SSC instalado na localização “i”, normalmente nas cidades onde o ONS tem os seus COSR. o SA: Sistema de Aquisição de Dados: SAL: SA local, instalado nas mesmas dependências de um SSC; SAR: SA remoto, instalado em outras dependências que não aquelas do SSC a que pertence. o CD: Concentrador de Dados; o UTR: Unidades Terminais Remotas; o SSCL: Sistema de Supervisão e Controle Local. 021 FINALIZANDO Nesta quinta aula apresentamos informações sobre a implementação de sistema de controle e proteção para a área de energia, como usina e subestação. Para implementarmos um sistema de controle/proteção em uma usina ou subestação, devemos inicialmente realizar um bom levantamento e planejamento da solução que será integrada. É importante que profissionais qualificados e com experiência na área façam parte desta etapa do projeto, pois apresentaram soluções consistentes e que atendem as necessidades da área. É muito importante que os profissionais que participarem do processo estejam atualizados com a normativas da área energética. 022 REFERÊNCIAS JARDINI, J. A. Sistemas elétricos de potência: automação. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Disponível em: <https://social.stoa.usp.br/articles/0015/9029/1997-Jardini-Livro-pp1-294- Sistemas-ElA_tricos-De-PotA_ncia-AutomaA_A_o.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2017. COUTINHO, S. P. Protocolos para sistemas elétricos: DNP 3.0. Automação Industrial, 26 set. 2015a. Disponível em: <https://industriaautomatica.wordpress.com/2015/09/26/protocolos-para-sistemas- eletricos-dnp-3-0/>. 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Submódulo 2.7 – requisitos mínimos de supervisão e controle para a operação. ONS. Disponível em: <http://www.ons.org.br/%2FProcedimentosDeRede%2FM%C3%B3dulo%202%2F Subm%C3%B3dulo%202.7%2FSubmodulo%202.7_Rev_1.0.pdf>. 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