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O ensino da criminologia nos mestrados em direito das universidades públicas

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Prévia do material em texto

Helena Schiessl Cardoso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ENSINO DA CRIMINOLOGIA NOS MESTRADOS EM 
DIREITO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS 
 
 
 
 
 
 
Tese submetida ao Programa de Pós-
graduação em Direito da Universidade 
Federal de Santa Catarina para a 
obtenção do Grau de Doutora em 
Direito. 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vera Regina 
Pereira de Andrade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2017 
 
 
 
Helena Schiessl Cardoso 
 
O ENSINO DA CRIMINOLOGIA NOS MESTRADOS EM 
DIREITO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS 
 
 
Esta tese foi julgada adequada para obtenção do Título de 
“Doutora em Direito” e aprovada em sua forma final pelo Programa de 
Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina 
(PPGD-UFSC). 
Florianópolis, 16 de novembro de 2017. 
 
________________________ 
Prof. Dr. Arno Dal Ri Jr 
Coordenador do Curso 
Banca Examinadora: 
 
________________________ 
Prof.ª Dr.ª Vera Regina Pereira de Andrade 
Orientadora - UFSC 
 
________________________ 
Prof. Dr. Juarez Cirino dos Santos 
Membro – ICPC 
 
________________________ 
Prof. Dr. Alexandre Morais da Rosa 
Membro - UFSC 
 
________________________ 
Prof. Dr. André Ribeiro Giamberardino 
Membro – UFPR 
 
________________________ 
Prof. Dr. Marcelo Mayora Alves 
Membro – UFJF 
 
________________________ 
Prof. Dr. Jackson da Silva Leal 
Membro - UNESC 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todos os meus 
amores! 
Chico, Tina, Elisa, Emily, Beto, Dudu 
e Lara. 
 
Pelas “circunstâncias peculiares” da 
trajetória desta tese, contudo, gostaria 
de registrar singelamente as seguintes 
palavras “especiais” ... 
 
Ao meu pequeno grande Dudu, que 
acompanhou quase todas as aulas do 
doutorado na barriga da mamãe, leu 
muitos textos comigo enquanto ainda 
estava mamando, escreveu algumas 
linhas deste trabalho no meu colo e é 
minha fonte constante de motivação. 
Te amo muito, muito, muito! 
 
À minha pequena grande mãe, que 
deixou tudo de lado para nos 
acompanhar à Florianópolis e para 
cuidar do Dudu sempre quando eu não 
podia em razão dos meus 
compromissos acadêmicos. 
Nossa amizade e meu afeto por ti 
transcendem essa vida! 
E, enfim, como tu dirias, “um cantinho 
desse diploma” é teu e do Dudu! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À minha família, que é meu porto seguro, meu apoio 
incondicional, sem vocês eu não seria nada! 
À minha orientadora e amiga, Professora Dra. Vera Regina 
Pereira de Andrade, que entrou na minha vida por “conspirações 
cósmicas” e marca meu trabalho acadêmico desde aquela primeira banca 
de defesa de dissertação de mestrado no PPGD/UFPR na memorável 
Santos Andrade. Não tenho palavras para agradecer a imensa confiança 
em mim depositada e por todo apoio recebido para realizar esta 
pesquisa! 
A todos os integrantes do grupo de pesquisa coletivo Brasilidade 
Criminológica, que compartilham a mesma indignação com o controle 
penal em nossa região. Em especial ao querido Jackson da Silva Leal, 
que se tornou um interlocutor constante sobre as aflições que surgiram 
no curso da realização do doutorado. 
Aos professores do PPGD/UFSC, em especial à Dra. Thaís Luzia 
Colaço e ao Dr. Antônio Carlos Wolkmer, que deixaram suas marcas 
não apenas na minha formação, mas também neste trabalho. 
Aos professores que gentilmente participaram das bancas de 
defesa de projeto de tese e de defesa prévia de tese, bem como aos que 
participarão da banca de defesa final de tese: Dr. Alexandre Morais da 
Rosa, Dr. André Ribeiro Giamberardino, Dr. Giovani de Paula, Dr. 
Jackson da Silva Leal, Dr. Juarez Cirino dos Santos, Dra. Katie Silene 
Cáceres Argüello, Dra. Luana de Carvalho Silva Gusso, Dr. Marcel 
Soares de Souza e Dr. Marcelo Mayora Alves, vocês tornaram e 
tornarão estes momentos de arguição absolutamente mágicos! 
A todos os Amiguinhos do Doutorado, especialmente à Macell 
Cunha Leitão, Danielle Maria Espezim dos Santos, Adailton Pires 
Costa, Gabriela de Moraes Kyrillos e Ana Clara Corrêa Henning, que 
deixaram a aventura do doutorado muito mais leve. 
Aos meus amigos do grupo Sedição Penal e do grupo Paradoxos 
dos Direitos Humanos no Brasil, Leandro Gornicki Nunes, Leonardo 
Marcondes Machado, Luana de Carvalho Silva Gusso e Waldemar 
Moreno Junior, com os quais eu tive a honra de discutir minhas 
angústias com o sistema penal durante a trajetória do doutorado em 
minha terra natal. 
Aos meus colegas de docência em Joinville-SC, bem como aos 
meus alunos e orientandos, com os quais sempre aprendo. Em especial 
aos meus alunos/afilhados da minha primeira turma na FGG/ACE que 
por meio de suas ilustrações do “Direito Penal” e do “Criminoso” no 
primeiro dia de aula de Direito Penal I em 2011 reforçaram minha 
convicção sobre a importância de pesquisar a Criminologia no ensino 
jurídico. 
Às minhas queridas amigas Fernanda Seger e Bruna Greggio, que 
são exemplos de mulheres fortes e com as quais eu divido as 
indescritíveis emoções da maternidade. 
Aos amigos Elisabeth Grubba Richter e Johni Richter, que 
abriram as portas de seu apartamento em Florianópolis para que eu 
pudesse cursar os créditos do curso de doutorado com maior conforto e 
tranquilidade. 
Aos pesquisadores participantes do IV Encontro do Grupo 
Brasileiro de Criminologia Crítica, que colaboraram com esta tese com 
as suas perguntas e considerações sobre a minha pesquisa, 
particularmente aos professores Dr. Sérgio Salomão Shecaira, Dra. Ela 
Wiecko Volkmer de Castilho e Dr. André Ribeiro Giamberardino. 
A todas as pessoas que de forma direta ou indireta ajudaram 
através de suas contribuições para a execução deste trabalho, em 
especial ao professor Dr. Túlio Lima Vianna (PPGD/UFMG) e às 
funcionárias Helena Cristina Pimentel do Vale (Biblioteca da UFAL), 
Lionete Alcântara de Moraes (Secretaria do PPGD/UnB), Dalva 
Veramundo Bizerra de Souza (Secretaria de Direito Penal, Medicina 
Forense e Criminologia da USP), Alessandro Fraga (Secretaria do 
PPGD/UERJ), Valter Nailton da Silva (Secretaria do PPGD/UNESP), 
Maria Aparecida Oliveira e Fabiano Dauwe (Secretaria do 
PPGD/UFSC) pela atenção dispensada. 
Por fim, ao meu anjo da guarda, que sempre me acompanha e me 
ilumina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 [...] a não ser na universidade, onde 
encontrar a capacidade de repensar o mundo 
com sabedoria e liberdade, de questioná-lo 
com a necessária amplidão e generosidade, 
antevendo conceitualmente o futuro humano? 
(Darcy Ribeiro, 1982) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A presente tese encontra-se vinculada à linha de pesquisa Sociedade, 
Controle Social e Sistema de Justiça do PPGD/UFSC, bem como ao 
projeto de pesquisa Brasilidade Criminológica, coordenado pela 
professora Dra. Vera Regina Pereira de Andrade. Neste sentido, busca 
colaborar com a compreensão do contexto histórico e concreto da 
Criminologia Crítica brasileira e auxiliar no mapeamento das 
comunidades criminológicas estabelecidas. Em linhas gerais, o objeto de 
investigação é a Criminologia nos programas de pós-graduação em 
Direito (mestrado acadêmico), nas universidades públicas brasileiras 
(federais e estaduais), no período compreendido entre 2005 e 2014, a 
fim de possibilitar uma aproximação do saber criminológico (e 
particularmente do saber criminológico crítico) no espaço acadêmico. 
Para tanto, a pesquisa busca inicialmente situar teoricamente os 
principais paradigmas criminológicos da modernidade e suas recepções 
na América Latina e no Brasil, assim como o próprio projeto coletivo de 
pesquisa no qual se insere. Ademais, o trabalho problematiza o controle 
social penal genocida na região e situa a importância da Criminologia no 
ensino jurídico, bem como contextualizaa dimensão ideológica da 
universidade e a construção da pós-graduação brasileira. Em termos 
empíricos, a pesquisa se volta ao mapeamento dos conteúdos 
criminológicos (e sobretudo críticos) nos currículos dos cursos de 
mestrado (acadêmico) em Direito das instituições públicas de ensino 
superior, à luz de um “mosaico científico” construído a partir dos dados 
oficiais dos currículos e das biografias dos docentes de Criminologia. 
Por fim, a tese sustenta o estatuto ausente-residual, volátil e 
fragmentário da Criminologia no ensino jurídico nos espaços 
acadêmicos analisados, afirma a predominância das teorias 
criminológicas centrais e do silêncio latino-americano e brasileiro no 
interior da disciplina, bem como indica a presença significativa da 
perspectiva crítica e/ou politicamente comprometida dos docentes de 
Criminologia na universidade pública. 
 
Palavras-chave: Ensino Jurídico. Mestrado em Direito. Universidade 
Pública. Criminologia. Criminólogos. Criminologia Crítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present thesis is linked to the research line Society, Social Control 
and Justice System of the PPGD / UFSC, as well as to the research 
project Brasilidade Criminológica, coordinated by professor Dr. Regina 
Pereira de Andrade. In this sense, the objective is to collaborate with the 
understanding of the historical and concrete context of Critical 
Criminology in Brazil and to contribute by mapping established 
criminological communities. In general terms, the object of research is 
Criminology in the postgraduate programs in Law (academic masters), 
in the public universities in Brazil (federal and state), in the period 
between 2005 and 2014, in order to allow an approximation to the actual 
state of criminogical knowledge (and especially of critical criminogical 
knowledge) at university. To do so, the research initially seeks to situate 
theoretically the main criminological paradigms of modernity and its 
receptions in Latin America and Brazil, as well as the collective research 
project in which it is inserted. In addition, the work problematizes the 
genocidal social control in the region and places the importance of 
Criminology in legal education, as well as contextualizes the ideological 
dimension of university and the construction of the Brazilian 
postgraduate programs. In empirical terms, the research focuses on 
mapping criminological (and especially critical) content in the 
(academic) master courses in Law of public higher education 
institutions, by creating a “scientific mosaic” constructed from the 
official curriculas and from the criminology teachers’ biographies. 
Finally, the thesis sustains an absent-residual, volatile and fragmentary 
status of Criminology in legal education based on the analyzed academic 
spaces, affirms the predominance of central criminological theories and 
of a latin american and brazilian silence within the discipline, as well as 
indicates the significant presence of a critical perspective and/or 
politically committed perspective of Criminology teachers in the public 
university. 
 
Keywords: Law Studies. Master in Law. Public University. 
Criminology. Criminologists. Critical Criminology. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMEN 
 
La presente tesis se encuentra vinculada a la línea de investigación 
Sociedad, Control Social y Sistema de Justicia del PPGD / UFSC, así 
como al proyecto de investigación Brasilidad Criminológica, coordinado 
por la profesora Dra. Vera Regina Pereira de Andrade. En este sentido, 
busca colaborar con la comprensión del contexto histórico y concreto de 
la Criminología Crítica brasileña y auxiliar en el mapeo de las 
comunidades criminológicas establecidas. En líneas generales, el objeto 
de investigación es la Criminología en los programas de postgrado en 
Derecho (maestría académica), en las universidades públicas brasileñas 
(federales y estatales), en el período comprendido entre 2005 y 2014, a 
fin de posibilitar una aproximación del saber criminológico (y 
particularmente del saber criminológico crítico) en el espacio 
académico. Para ello, la investigación busca inicialmente situar 
teóricamente los principales paradigmas criminológicos de la 
modernidad y sus recepciones en América Latina y Brasil, así como el 
propio proyecto colectivo de investigación en el que se inserta. Además, 
el trabajo problematiza el control social penal genocida en la región y 
sitúa la importancia de la Criminología en la enseñanza jurídica, así 
como contextualiza la dimensión ideológica de la universidad y la 
construcción del postgrado brasileño. En términos empíricos, la 
investigación se vuelve al mapeo de los contenidos criminológicos (y 
sobre todo críticos) en los currículos de los cursos de maestría 
(académico) en Derecho de las instituciones públicas de enseñanza 
superior, a la luz de un “mosaico científico” construido a partir de los 
datos oficiales de los currículos y de las biografías de los docentes de 
Criminología. Por último, la tesis sostiene el estatuto ausente-residual, 
volátil y fragmentario de la Criminología en la enseñanza jurídica en los 
espacios académicos analizados, afirma la predominancia de las teorías 
criminológicas centrales y del silencio latinoamericano y brasileño en el 
interior de la disciplina, así como indica la presencia significativa de la 
perspectiva crítica y / o políticamente comprometida de los docentes de 
Criminología en la universidad pública. 
 
Palabras clave: Enseñanza Jurídica. Maestría en Derecho. Universidad 
Pública. Criminología. Criminólogos. Criminología Crítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1- Distribuição dos Programas de Pós-Graduação e Cursos na Área do 
Direito em 2016 ...............................................................................................134 
Figura 2 - Distribuição dos Programas de Mestrado em Direito das 
Universidades Federais por Região (2015) ......................................................145 
Figura 3 - Distribuição dos Programas de Mestrado em Direito das 
Universidades Estaduais por Região (2015) ....................................................145 
Figura 4 - Crescimento dos Programas de Mestrado em Direito das 
Universidades Federais (1972-2015) ...............................................................146 
Figura 5 - Crescimento dos Programas de Mestrado em Direito das 
Universidades Estaduais (1971-2015) .............................................................147 
Figura 6 - Crescimento dos Programas de Mestrado em Direito das 
Universidades Federais por Região (1972-2015) .............................................148 
Figura 7 - Crescimento dos Programas de Mestrado em Direito das 
Universidades Estaduais por Região (1971-2015) ...........................................149 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1- Mestrados Acadêmicos em Direito que compõem a amostra da 
pesquisa ...........................................................................................................137 
Quadro 2 - Componentes curriculares obrigatórios do curso de Graduação em 
Direito ..............................................................................................................216 
Quadro 3 - A Criminologia como disciplina obrigatória na graduação em Direito 
nas universidades federais das capitais ............................................................218 
Quadro 4 - A Criminologia ausente na graduação em Direito nas universidades 
federais das capitais .........................................................................................218 
Quadro 5 - A Criminologia comodisciplina optativa na graduação em Direito 
nas universidades federais das capitais e na USP ............................................219 
Quadro 6 - A disciplina Criminologia nos cursos de mestrado em Direito das 
universidades públicas (2005 à 2014) ..............................................................221 
Quadro 7 - As ementas da disciplina Criminologia nos cursos de mestrado em 
Direito das universidades públicas (2005 à 2014) ...........................................223 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior 
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico 
FUFSE – Fundação Universidade Federal de Sergipe 
FURG – Universidade Federal do Rio Grande 
PPGD – Programa de Pós-Graduação em Direito 
PUC/MG – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 
PUC/RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
UEA – Universidade do Estado do Amazonas 
UEL – Universidade Estadual de Londrina 
UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná 
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
UFAL – Universidade Federal de Alagoas 
UFBA – Universidade Federal da Bahia 
UFC – Universidade Federal do Ceará 
UFES – Universidade Federal do Espírito Santo 
UFF – Universidade Federal Fluminense 
UFG – Universidade Federal de Goiás 
UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora 
UFMA – Universidade Federal do Maranhão 
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais 
UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso 
UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 
UFPA – Universidade Federal do Pará 
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco 
UFPB/JP – Universidade Federal da Paraíba/João Pessoa 
UFPR – Universidade Federal do Paraná 
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina 
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria 
UFU – Universidade Federal de Uberlândia 
UnB – Universidade de Brasília 
UNESP/FR – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita 
Filho/Franca 
UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro 
UNISINOS/RS – Universidade do Valo do Rio dos Sinos 
USP – Universidade de São Paulo 
UPS/RP – Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................... 29 
1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA.................... 29 
2 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS........................................ 36 
3 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS ........................................... 37 
 
PARTE I - BASE TEÓRICA: 
A CRIMINOLOGIA E O ENSINO JURÍDICO 
 
1 OS GRANDES “PARADIGMAS CRIMINOLÓGICOS” DA 
MODERNIDADE E SUAS “RECEPÇÕES CRIATIVAS” NA 
AMÉRICA LATINA E NO BRASIL ................................................ 41 
1.1 O NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA POSITIVISTA COMO 
CIÊNCIA ........................................................................................... 43 
1.2. DA CRIMINOLOGIA POSITIVISTA À CRIMINOLOGIA 
LIBERAL .......................................................................................... 50 
1.3. A CONSTITUIÇÃO DA CRIMINOLOGIA CRÍTICA E O 
“CRITICISMO”................................................................................. 58 
1.4. A RECEPÇÃO DAS CRIMINOLOGIAS NA AMÉRICA 
LATINA E NO BRASIL: DO “POSITIVISMO” AO “CRITICISMO”
 ........................................................................................................... 65 
2 O CONTROLE SOCIAL PENAL, A CRIMINOLOGIA E O 
ENSINO JURÍDICO ........................................................................... 79 
2.1 O CONTROLE SOCIAL PENAL GENOCIDA NO BRASIL ... 79 
2.2 A UNIVERSIDADE ENQUANTO INSTITUIÇÃO 
IDEOLÓGICA E A IMPORTÂNCIA DA CRIMINOLOGIA NO 
ENSINO JURÍDICO ......................................................................... 91 
2.3 A CONSTRUÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 
NO BRASIL E SUA DISCIPLINA LEGAL ................................... 104 
 
PARTE II - BASE EMPÍRICA: 
A CRIMINOLOGIA NOS MESTRADOS ACADÊMICOS EM 
DIREITO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS 
 
3. CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA EMPÍRICA ........... ....129 
3.1 A DELIMITAÇÃO DA AMOSTRA DE PESQUISA ...............129 
3.2 AS OPÇÕES METODOLÓGICAS E O PERCURSO DA 
COLETA DE DADOS .....................................................................150 
4 O SABER CRIMINOLÓGICO DISPERSO NA ESTRUTURA 
CURRICULAR ..................................................................................157 
4.1 REGIÃO NORTE.......................................................................158 
4.1.1 UFPA ...................................................................................158 
4.1.2 UEA .....................................................................................160 
4.2 REGIÃO NORDESTE ...............................................................160 
4.2.1 UFAL ..................................................................................160 
4.2.2 UFBA ..................................................................................162 
4.2.3 UFC .....................................................................................163 
4.2.4 UFMA .................................................................................164 
4.2.5 UFPB/JP .............................................................................165 
4.2.6 UFPE ...................................................................................166 
4.2.7 UFRN ..................................................................................167 
4.2.8 FUFSE .................................................................................168 
4.3 REGIÃO CENTRO-OESTE ......................................................170 
4.3.1 UFG .....................................................................................171 
4.3.2 UFMT ..................................................................................171 
4.3.3 UFMS ..................................................................................172 
4.4 DISTRITO FEDERAL ...............................................................173 
4.5 REGIÃO SUDESTE ..................................................................174 
 
4.5.1 UFES .................................................................................. 175 
4.5.2 UFMG ................................................................................ 175 
4.5.3 UFU .................................................................................... 176 
4.5.4 UFJF ................................................................................... 177 
4.5.5 UERJ .................................................................................. 178 
4.5.6 UFRJ .................................................................................. 183 
4.5.7 UNIRIO .............................................................................. 184 
4.5.8 UFF ..................................................................................... 185 
4.5.9 USP ..................................................................................... 187 
4.5.10 USP/RP ............................................................................. 191 
4.5.11 UNESP ............................................................................. 191 
4.6 REGIÃO SUL............................................................................ 196 
4.6.1 UENP .................................................................................. 196 
4.6.2 UEL .................................................................................... 198 
4.6.3 UFPR .................................................................................. 199 
4.6.4 UFSC ..................................................................................200 
4.6.5 UFRGS ............................................................................... 202 
4.6.6 FURG ................................................................................. 203 
4.6.7 UFSM ................................................................................. 204 
4.7 UMA SÍNTESE PRELIMINAR ................................................ 204 
5 O SABER CRIMINOLÓGICO INSTITUCIONALIZADO 
ENQUANTO DISCIPLINA ACADÊMICA ..................... .............. 211 
5.1 A DISCIPLINA CRIMINOLOGIA NO ENSINO JURÍDICO EM 
NÍVEL DE GRADUAÇÃO ............................................................ 215 
5.2 A DISCIPLINA CRIMINOLOGIA NO ENSINO JURÍDICO EM 
NÍVEL DE PÓS-GRADUAÇÃO .................................................... 221 
5.2.1 A disciplina “Criminologia, Política Criminal e Direitos 
Fundamentais” na UFAL e a professora Dra. Elaine Cristina 
Pimentel Costa ............................................................................ 227 
5.2.2 A disciplina “Criminologia” na UFPE e o professor Dr. 
Ricardo de Brito Albuquerque Pontes Freitas .........................236 
5.2.3 As disciplinas “Paradigmas em Criminologia”, 
“Globalização e Controle Penal – Criminologia Latino-
Americana” e “Tópicos Especiais – Criminologia e Racismo”na 
UnB e os professores Dra. Ela Wiecko Volkmer de Castilho, 
Dra. Cristina Maria Zackseski e Dr. Evandro Charles Piza 
Duarte ..........................................................................................239 
5.2.4 As disciplinas “Criminologia I” e “Criminolog ia” na 
UFMG e os professores Dr. Carlos Augusto Canêdo Gonçalves 
da Silva e Dr. Túlio Lima Vianna ..............................................248 
5.2.5 A disciplina “Criminologia” na UERJ e os professores Dr. 
Artur de Brito Gueiros Souza e Dra. Vera Malaguti de Souza 
Weglinski Batista ........................................................................262 
5.2.6 A disciplina “Perspectivas Sociológicas e Clínica da 
Criminologia na Legislação Penal” na USP e os professores Dr. 
Sérgio Salomão Shecaira e Dr. Alvino Augusto de Sá .............279 
5.2.7 A disciplina “Olhares criminológicos acerca do desvio, da 
punição e da cidadania” na UNESP e a professora Dra. Ana 
Gabriela Mendes Braga ..............................................................297 
5.2.8 A disciplina “Criminologia: Estado, Sociedade e Controle 
Social” na UFPR e a professora Dra. Katie Silene Cáceres 
Argüello .......................................................................................304 
5.2.9 A disciplina “Criminologia e Políticas Criminais” na 
UFSC e a professora Dra. Vera Regina Pereira de Andrade ..309 
5.3 UMA SÍNTESE FINAL .............................................................323 
6 CONCLUSÃO .................................................................................335 
REFERÊNCIAS ................................................................................. 345 
APÊNDICE A – “Vestígios” de conteúdo criminológico nos cursos 
de Mestrado em Direito das universidades públicas (2005 à 2014) 
conforme o banco de dados da CAPES ............................................377 
APÊNDICE B – Bibliografias completas da disciplina 
“Criminologia” nos cursos de Mestrado em Direito das 
universidades públicas (2005 à 2014) conforme o banco de dados da 
CAPES ................................................................................................441 
 
APÊNDICE C – Currículos resumidos dos professores da disciplina 
“Criminologia” nos cursos de Mestrado em Direito das 
universidades públicas (2005 à 2014) ............................................... 457 
ANEXO A – Planos de Ensino de Criminologia dos cursos de 
Mestrado em Direito ......................................................................... 467 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
INTRODUÇÃO 
 
Para isso existem as escolas: não para ensinar as 
respostas, mas para ensinar as perguntas. As 
respostas nos permitem andar sobre a terra firme. 
Mas somente as perguntas nos permitem entrar 
pelo mar desconhecido. 
(Rubem Alves, 2012, p. 78) 
 
1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA 
 
Preliminarmente, para uma melhor compreensão do presente 
trabalho, faz-se necessário indicar que essa tese busca colaborar com o 
projeto coletivo de pesquisa intitulado Bases para uma criminologia do 
controle penal no Brasil: em busca da brasilidade criminológica, 
iniciado em 2010 na Universidade Federal de Santa Catarina. Trata-se 
de um projeto coordenado pela professora Dra. Vera Regina Pereira de 
Andrade, inserido no marco de sua atuação orgânica1 ao nível do ensino, 
da pesquisa e da extensão, que estabelece um rede de criminólogos 
críticos e une as pesquisas individuais de seus orientandos2 em torno do 
 
1 Pontuamos, neste sentido, que a professora Dra. Vera Regina Pereira de 
Andrade costuma estruturar suas atividades de ensino, pesquisa e extensão em 
torno de um princípio reitor. Por conseguinte, tanto suas disciplinas na 
graduação e pós-graduação quanto seus projetos de pesquisa e de extensão se 
dedicam nos últimos anos à busca de uma Criminologia latino-americana e 
brasileira. Para uma melhor compreensão da organicidade de sua atuação, 
remetemos o leitor para a análise do ensino da Criminologia na UFSC no 
Capítulo 5 (item 5.2.9). 
2Destacamos, nesse sentido, os seguintes trabalhos: (a) as Dissertações de 
Marco Aurélio Souza da Silva (O controle social punitivo antidrogas sob a 
perspectiva da criminologia crítica: a construção do traficante nas decisões 
judiciais em Santa Catarina); Eduardo Granzotto Mello (A formação do 
subsistema penal federal no período dos governos Lula e Dilma (2003-
2014)); Mariana Dutra de Oliveira Garcia (A criminologia no ensino jurídico 
no Brasil); Fernanda Martins (A criminologia, o penalismo e a política 
criminal na Revista de Direito Penal e Criminologia (1971 1983): a 
(des)legitimação do controle penal); Vanessa Maciel Lema (Das funções 
declaradas às funções reais - Como se constitui o trabalho realizado pelas 
mulheres presas no presídio feminino de Florianópolis); Luciano Góes (A 
“tradução” do positivismo criminológico no Brasil: um diálogo entre Cesare 
Lombroso e Nina Rodrigues da perspectiva centro-periférica); Juliana Lobo 
Camargo (A Justiça Restaurativa entre a teoria e a vivência: uma análise 
30 
 
mesmo propósito investigativo. Assim, o projeto coletivo de pesquisa – 
carinhosamente apelidado de Brasilidade Criminológica – tem como 
propósito 
 
[...] investigar quais são as bases (epistemológicas 
e funcionais) para o desenvolvimento de uma 
Criminologia crítica do controle penal na 
sociedade brasileira, tendo por referentes o 
desenvolvimento teórico da Criminologia na 
modernidade (central e periférica), especialmente 
na América Latina e no Brasil, e o contexto 
histórico da globalização neoliberal. A pretensão é 
a de mapear o objeto e a função que a 
Criminologia deve assumir na sociedade brasileira 
enquanto saber comprometido com a compreensão 
e limitação da violência punitiva (individual, 
institucional e estrutural) e a busca de modelos 
não violentos de controle social. Finalmente, ao 
identificar os atores da produção criminológica 
crítica no Brasil, Instituições e sujeitos, 
nominados e anônimos, no centro e nas margens 
 
criminológica crítica, abolicionista e minimalista de seus limites e 
potencialidades perante a crise do sistema penal); Joel Eliseu Galli (A 
aliança punitiva da modernidade: controle e extermínio na estrutura 
operativa do sistema penal); Camila Damasceno de Andrade (Do trabalho ao 
cárcere: criminalização e encarceramento feminino em Santa Catarina 
(1950-1979)); Nayara Aline Schmitt Azevedo (uma hermenêutica 
criminológica crítica e abolicionistapara o sistema socioeducativo: uma lição 
de método e uma lição teórica humanista); e (b) as Teses de Camila Cardoso 
de Mello Prando (O saber dos juristas e o controle penal: o debate 
doutrinário na Revista de Direito Penal (1933-1940) e a construção da 
legitimidade pela defesa social); Marcelo Mayora Alves (Os penalistas na 
ditadura civil-militar. As ciências criminais e as justificativas da ordem); 
Jackson da Silva Leal (Criminologia da Libertação: a construção da 
criminologia critica latino-americana como teoria crítica do controle social e 
a contribuição desde o Brasil - pesquisa na Revista Capítulo criminológico 
(1973-1989) e Doctrina Penal (1977-1989)), bem como nosso próprio projeto 
de Tese, incialmente, intitulado Criminologia crítica e formação jurídica: um 
diagnóstico de época sobre possíveis obstáculos e potencialidades para a 
concretização do projeto de superação do controle penal à luz das escolas 
catarinenses de direito. Destacamos que a lista de todas as orientações da 
professora Dra. Vera Regina Pereira de Andrade se encontra no Anexo A, 
enquanto complementação do Plano de Ensino da disciplina Criminologia na 
UFSC. 
31 
 
acadêmicas, destina-se à construção de uma rede 
criminológica crítica no Brasil, enquanto espaço 
público contra-discursivo de contenção da 
violência (ANDRADE, 2016b). 
 
A partir da leitura dos objetivos transcritos, gostaríamos de 
enfatizar que as pesquisas vinculadas ao projeto coletivo acima referido 
não são “neutras”. Pelo contrário, estão inseridas no “marco teórico” da 
“Criminologia Crítica”3 e, ademais, comprometidas politicamente com a 
contenção e superação das mais diversas formas de violência presentes 
na sociedade brasileira. Lembremos que diante dos “dramáticos 
episódios cotidianos”, cujo símbolo principal é a “morte”, Eugenio Raúl 
Zaffaroni sustenta que, em especial desde a perspectiva latino-
americana, “para nós, a ‘criminologia’ não é um saber privado de 
valorações, mas está repleto de valoração política” (1988, p. 4, 
traduzimos). 
Assim, cada pesquisador vinculado ao projeto da Brasilidade 
Criminológica escolheu o problema a ser estudado em seu trabalho 
individual a partir das temáticas contempladas nesse projeto coletivo e a 
partir de seus próprios valores, suas vivências e suas inquietações 
pessoais. Dito isto, diante da impossibilidade da “neutralidade” ou 
“objetividade” nas pesquisas da área das ciências humanas e sociais, 
optamos inclusive em redigir a presente tese na “primeira pessoa”, bem 
como entendemos necessário explicitar os passos que nos levaram à 
escolha do tema de pesquisa a fim de tornar transparente a nossa carga 
valorativa, buscar a própria conscientização sobre possíveis 
interferências pessoais e tentar controlar, na medida do possível, a nossa 
subjetividade no trabalho.4 
 
3 Para uma melhor compreensão da “Criminologia Crítica”, remetemos o leitor ao 
Capítulo 1. 
4 Num pequeno livro intitulado A arte de pesquisar (2000), a antropóloga Mirian 
Goldenberg enfrenta o problema da objetividade, representatividade e do 
controle de bias na pesquisa qualitativa. Afirma que nas ciências sociais a 
neutralidade e a objetividade são impossíveis, seja nas pesquisas quantitativas, 
seja nas pesquisas qualitativas. Retoma autores como Max Weber, Pierre 
Bourdieu e Howard Becker para sustentar a necessidade de indicar 
explicitamente todos os passos da pesquisa para evitar o bias do pesquisador. 
Em suas palavras, é necessário “buscar o que Pierre Bourdieu chama de 
objetivação: o esforço controlado de conter a subjetividade. Trata-se de um 
esforço porque não é possível realizá-lo plenamente, mas é essencial conservar-
32 
 
Compartilhamos que por ocasião do processo seletivo ao ingresso 
no curso de doutorado do PPGD/UFSC em 2013, a professora Dra. Vera 
Regina Pereira de Andrade solicitou aos candidatos e às candidatas a 
proposição de projetos de pesquisa vinculados ao projeto “guarda-
chuva” da Brasilidade Criminológica que versassem sobre a 
Criminologia no Brasil, sobre o ensino da Criminologia no Brasil ou 
sobre a produção criminológica brasileira. Por conseguinte, optamos em 
nossa primeira versão de “projeto de tese”, por ocasião daquela seleção, 
pela temática do Ensino da Criminologia nas escolas de Direito. Mas, 
por quê? 
Permitam-nos uma pequena regressão. Desde o nosso primeiro 
contato com o saber criminológico, curiosamente, através das primeiras 
aulas de Direito Penal, no segundo ano do curso de Direito da 
Universidade Federal do Paraná (UFPR), ministradas na época pelo 
professor Dr. Juarez Cirino dos Santos, ficamos profundamente 
intrigadas. Lá estava o professor de Direito Penal apresentando um saber 
dogmático, contudo, com profundas críticas ao sistema de justiça 
criminal, sustentadas por categorias advindas do saber criminológico 
crítico. Tivemos o privilégio de estudar já na graduação com um dos 
expoentes da Criminologia Crítica brasileira. Estávamos diante de um 
professor que cumpria com o seu papel institucional de ensinar a 
“dogmática penal”, mas que ia além: obrigava-nos a questionar as 
funções do Direito Penal e das penas criminais. De fato, em sua 
disciplina, abandonávamos a “terra firme” e entrávamos no “mar 
desconhecido”, como diria Rubem Alves (2012, p. 78). 
Diante das críticas consistentes ao sistema de justiça criminal e da 
falência do sistema penal como um todo, sempre nos perguntávamos: 
como este sistema se mantém até hoje, se ele está tão deslegitimado pela 
crítica? Em nossa graduação e em nosso mestrado em Direito na UFPR, 
buscamos enfrentar essa “questão de fundo” através de uma monografia 
e uma dissertação tendo por objeto a temática do Discurso 
Criminológico dos Meios de Comunicação5. Entendíamos – e 
 
se esta meta, para não fazer do objeto construído um objeto inventado” 
(GOLDENBERG, 2000, p. 45). 
5 Indicamos, nesse sentido, a leitura de nossa dissertação de mestrado “Discurso 
Criminológico da Mídia na Sociedade Capitalista: necessidade de 
desconstrução e reconstrução da imagem do criminoso e da criminalidade no 
espaço público” (CARDOSO, 2011) e também de nosso trabalho de conclusão 
de curso “Discurso Criminológico da Mídia na Sociedade Capitalista: 
reflexões a partir da tríplice dimensão da notícia” (CARDOSO, 2008). 
33 
 
continuamos defendendo – que é de fundamental importância estudar o 
retrato do crime e da criminalidade apresentado pelo serviço noticioso e 
a implícita e/ou explícita “política penal” advogada pelos meios de 
comunicação por representarem discursos legitimadores da política 
penal oficial e do atual modelo de controle social penal genocida no 
Brasil. 
Acrescenta-se que, à época do nosso mestrado, iniciamos nossa 
trajetória profissional na advocacia criminal e na docência no ensino 
jurídico. A imersão na vida forense e na sala de aula do curso de Direito 
como docente intensificou as inquietações que já sentíamos nos 
primeiros anos de nossa graduação e reafirmou a necessidade de 
tensionar os discursos legitimadores do modelo de controle social penal 
brasileiro. Como se explica a dificuldade de concretizar minimamente as 
garantias constitucionais no âmbito penal e processual penal? Como é 
possível que grande parte dos agentes jurídicos ainda consegue acreditar 
piamente na “ilusão de segurança jurídica” (ANDRADE, 2003a), nas 
“funções declaradas da pena” (CIRINO DOS SANTOS, 2010) ou nas 
“mitologias penais e processuais penais” (CASARA, 2015)? Como 
grande parte deles continua a sustentar, consciente ou 
inconscientemente, um sistema penal absolutamente deslegitimado 
através de sua própria atuação cotidiana? Diante de tais provocações é 
imprescindível recordar que a universidade possui uma dimensão 
ideológica e, por conseguinte, é de fundamental importância 
problematizar a própria formaçãojurídica desses agentes que através de 
seus discursos e práticas acabam (re)legitimando o sistema penal, o que 
nos levou a optar pelo tema de pesquisa da Criminologia no ensino 
jurídico. 
Pois bem, sentíamos a necessidade de retornar à academia na 
qualidade de estudante e, após um angustiante e disputado processo 
seletivo, fomos agraciadas com a imensa honra e responsabilidade de ser 
a “última” doutoranda no Programa de Pós-graduação em Direito da 
Universidade Federal de Santa Catarina (PPGD/UFSC) de outro ícone 
da Criminologia Crítica brasileira: nossa querida professora Dra. Vera 
Regina Pereira de Andrade. E então, estimuladas pela sua 
“convocatória” na obra Pelas mãos da Criminologia (ANDRADE, 
2012b), pretendemos com a nossa tese doutoral – inserida na linha de 
pesquisa Sociedade, Controle Social e Sistema de Justiça do 
PPGD/UFSC e vinculada ao projeto coletivo Brasilidade Criminológica 
– colaborar com a compreensão do contexto da “Criminologia 
brasileira” e auxiliar no mapeamento das comunidades criminológicas 
estabelecidas em nossas universidades no campo do Direito. Enfim, 
34 
 
como diria Eugenio Raúl Zaffaroni num texto dedicado ao “ensino 
universitário da Criminologia em América Latina”, trata-se de uma 
investigação “sumamente necessária” e que requer, no caso brasileiro, 
uma “investigação particular” diante da “quantidade de entidades 
federativas, universidades e centros de ensino superior” que dificultam 
traçar um “panorama geral da situação” (ZAFFARONI, 1990, p. 59-60, 
traduzimos). 
De fato, com exceção de poucos textos ou trechos de textos,6 há 
um assombroso silêncio na literatura sobre a Criminologia no ensino 
jurídico que dificultou inclusive uma revisão bibliográfica sobre a 
temática em nossa pesquisa. Pontuamos que, no que diz respeito à 
realidade brasileira, encontramos apenas três trabalhos dedicados 
especificamente à “Criminologia no Ensino do Direito”, a saber, um 
texto de autoria de nossa orientadora sobre a importância da 
Criminologia no ensino jurídico (ANDRADE, 2008 e 2012b), outro 
texto que é fruto de uma pesquisa por ela orientada e que se debruça 
empiricamente sobre a realidade do ensino jurídico nas universidades 
federais das capitais no Brasil (GARCIA, 2014) e, por fim, um último 
texto que problematiza o ensino e o aprendizado das ciências criminais 
no século XXI (CARVALHO, 2007 e 2015). Nesse sentido, nossa 
escavação bibliográfica indicou uma imensa lacuna no corpo de 
conhecimento a ser parcialmente enfrentada pela nossa tese. 
Em termos teóricos, partiremos, portanto, essencialmente das 
hipóteses lançadas por Vera Regina Pereira de Andrade (2008 e 2012b) 
sobre a existência de um “estatuto ausente-periférico” da Criminologia 
no ensino jurídico que se desdobra numa “dupla hipótese”, a saber, ao 
contrário das disciplinas dogmáticas, a “Criminologia ocupa pouco 
espaço no Ensino Jurídico e as Criminologias críticas pouco espaço na 
Criminologia” (ANDRADE, 2012b, p.342). Também compartilharemos 
sua preocupação com a necessidade de não apenas “contar a história da 
Criminologia europeia ou norte-americana”, mas de “mergulhar na 
Criminologia latino-americana e brasileira em busca de nossa 
identidade, em busca da latinidade e da brasilidade criminológicas” 
(ANDRADE, 2012b, p. 346). Salo de Carvalho (2015), por sua vez, 
trabalha tanto com a hipótese da “fragmentação da Criminologia” no 
ensino acadêmico – em razão da existência de uma pluralidade de 
saberes criminológicos de matrizes epistemológicas distintas que 
coabitam simultaneamente no ensino acadêmico – quanto com a 
hipótese da própria “fragmentação do ensino das Ciências Criminais” – 
 
6 A serem comentados no Capítulo 2 e no Capítulo 5. 
35 
 
diante da autonomização da Dogmática, da Criminologia e da Política 
Criminal que dificulta uma compreensão mais holística dos saberes 
criminais. Ademais, o autor denuncia uma suposta tendência de limitar o 
ensino da Criminologia à história da gradual superação de teorias 
criminológicas que, em suas palavras, gera uma “debilidade das 
instituições de ensino em formar e desenvolver pensamento 
criminológico com capacidade de crítica” (CARVALHO, 2015, p. 44). 
Considerando que, em termos empíricos, no interior de nossa 
“rede de criminólogos críticos” a dissertação de Mariana Dutra de 
Oliveira Garcia defendida em 2014 buscou clarear este campo 
desconhecido da Criminologia no ensino jurídico no Brasil ao nível da 
graduação, optamos por modificar o nosso primeiro “projeto de 
pesquisa” apresentado por ocasião do processo seletivo do doutorado e 
voltar os nossos estudos para a temática em nível da pós-graduação, em 
especial porque, por um lado, não encontramos em nossa revisão 
bibliográfica nenhum trabalho sobre a Criminologia na pós-graduação 
em Direito no Brasil e, por outro lado, porque o que motivou 
implicitamente a nossa escolha do tema de pesquisa foi a vontade de 
compreender melhor o espaço formativo dos professores de Direito 
(presentes ou futuros) que poderão (eventualmente) impactar nas 
subjetividades dos futuros agentes do sistema de justiça criminal e, 
nesse sentido, abrir um espaço para a discussão e construção de 
caminhos em direção à superação do atual modelo de controle social 
penal. 
Assim, a nossa tese versa sobre a Criminologia no Brasil à luz 
dos programas de pós-graduação em Direito. E, diante do universo de 
mais de uma centena de programas nas instituições de ensino superior 
de natureza pública e privada, nos estreitos limites deste trabalho, 
delimitamos, em diálogo com nossa orientadora, a nossa pesquisa ao 
saber criminológico produzido nos cursos de mestrado (acadêmico) em 
Direito, no período compreendido entre 2005 e 2014, nas universidades 
públicas brasileiras.7 
Desde o início, uma série de perguntas nos intrigava. Os cursos 
de mestrado em Direito contemplam o saber criminológico? Qual é o 
espaço institucional desse saber? A Criminologia está presente enquanto 
disciplina acadêmica? Em que medida? Em caso positivo, é possível 
verificar qual é sua relação com os demais saberes jurídico-penais? É 
 
7 Para uma melhor compreensão da construção de nossa amostra de pesquisa, 
bem como de seu recorte temporal, remetos o leitor ao terceiro capítulo da 
tese (item 3.1). 
36 
 
possível verificar no conteúdo dessa disciplina uma feição legitimadora 
ou crítica em relação ao controle social penal brasileiro? É possível 
verificar a problematização de um saber criminológico próprio nos 
programas de pós-graduação em Direito, ou seja, há uma Criminologia 
brasileira? Quem são os docentes da Criminologia nesses espaços 
acadêmicos? Qual é sua perspectiva criminológica? Qual é sua atuação 
acadêmica ao nível do ensino, da pesquisa e da extensão? 
Partindo dessas indagações, nossa tese investigará o estatuto e o 
conteúdo da Criminologia no ensino jurídico nas universidades públicas 
brasileiras, razão pela qual formulamos os seguintes objetivos a serem 
alcançados pela nossa pesquisa. 
 
2 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS 
 
Os objetivos da pesquisa de tese estão divididos em geral e 
específicos. Assim, em termos gerais, o propósito é de buscar 
compreender a Criminologia nos mestrados (acadêmicos) em Direito nas 
universidades públicas brasileiras. Em termos específicos, o propósito é 
de: 
 
a) Delinear o nascimento da Criminologia como “ciência” e seu 
posterior desenvolvimento no marco dos paradigmas da 
“etiologia” e do “labeling approach”, bem como esboçar a 
discussão acerca da construção de uma Criminologia latino-
americana e brasileira, a fim de indicar as categorias 
conceituais à luz das quais analisaremos os dados empíricos 
da nossa pesquisa, bem como situar o próprio projeto de 
pesquisa da Brasilidade Criminológica (Capítulo 1). 
b) Indicar a dimensão ideológica da universidade e a 
importância da Criminologia no ensino jurídico faceà 
realidade do controle social penal genocida brasileiro, bem 
como resgatar sinteticamente a construção e a 
regulamentação legal da pós-graduação no Brasil a fim de 
preparar teoricamente o terreno de nossa pesquisa empírica 
(Capítulo 2). 
c) Descrever e justificar a construção da amostra de pesquisa e 
esclarecer os caminhos metodológicos percorridos na 
realização da mesma (Capítulo 3). 
d) Buscar “vestígios” do saber criminológico nos currículos dos 
cursos de mestrado em Direito nas universidades públicas 
brasileiras e mapear as instituições de ensino, nas quais a 
37 
 
Criminologia é institucionalizada como “disciplina 
acadêmica” (Capítulo 4). 
e) Compreender o perfil da disciplina Criminologia nestes 
cursos através do estudo dos seus documentos institucionais, 
sobretudo, em relação à presença ou ausência de conteúdos 
criminológico críticos e/ou latino-americanos e/ou 
brasileiros, bem como cruzar as informações obtidas na 
análise dos documentos institucionais com a trajetória 
acadêmica dos seus docentes (Capítulo 5). 
f) Sistematizar os elementos empíricos obtidos através da 
pesquisa a fim de mapear os núcleos criminológicos na 
comunidade acadêmica brasileira e contribuir para uma 
melhor autocompreensão da(s) Criminologia(s) (críticas) no 
Brasil. 
 
3 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS 
 
Inicialmente, far-se-á necessário apresentar os grandes 
paradigmas criminológicos da modernidade e as suas recepções em solo 
brasileiro. Neste sentido, no primeiro capítulo veremos que, como 
ciência, a Criminologia nasce no século XIX e, desde então, é possível 
delinear seu desenvolvimento no marco de dois paradigmas 
criminológicos centrais: o “paradigma etiológico” e o “paradigma do 
labeling approach”. Faremos então um breve resgate histórico para 
possibilitar uma melhor compreensão do contexto do nascimento e dos 
primeiros passos da Criminologia no interior do paradigma etiológico. 
Comentaremos também a revolução paradigmática a partir do advento 
do “labeling approach” que, por sua vez, possibilitou o surgimento da 
Criminologia Crítica. Em todos os momentos, tentaremos fazer 
referência à relação da Criminologia com a Dogmática, no interior do 
grande campo das ciências penais, tendo em vista que a histórica disputa 
pelo local autorizado de fala sobre a “questão criminal” parece justificar 
a presença e/ou ausência do saber criminológico no ensino jurídico. 
Apresentados os grandes paradigmas criminológicos da modernidade, 
problematizaremos sinteticamente a “recepção” (SOZZO, 2001) das 
Criminologias na região latino-americana e, em especial, no Brasil, 
sobretudo, no que diz respeito à construção de uma Criminologia 
genuinamente brasileira – a fim de permitir a compreensão do 
significado da Brasilidade Criminológica (ANDRADE, 2012b, 2016a e 
2016b) que é o norte do projeto de pesquisa coletivo no qual a nossa 
pesquisa doutoral se insere. 
38 
 
No segundo capítulo descreveremos primeiramente a realidade 
do controle social penal seletivo e genocida no Brasil a partir de uma 
perspectiva criminológico crítica e especialmente com respaldo nos 
dados do último “Levantamento Nacional de Informações 
Penitenciárias, INFOPEN – JUNHO DE 2014” para, na sequência, 
apontar a dimensão ideológica da universidade e a própria Criminologia 
no ensino jurídico no sentido da legitimação ou deslegitimação do 
sistema penal em nossa região. Por fim, faremos ainda um breve resgate 
da construção histórica da pós-graduação brasileira e dos seus marcos 
legais para contextualizar teoricamente a nossa pesquisa e, por 
conseguinte, permitir a compreensão tanto da maior flexibilidade 
curricular dos cursos de mestrado em Direito quanto das atuais 
problematizações sobre a universidade enquanto espaço de produção do 
conhecimento no marco da “lógica produtivista” atualmente dominante 
no espaço acadêmico. 
O terceiro capítulo inaugurará a parte empírica do trabalho. 
Iniciaremos pela apresentação e justificação do recorte da nossa amostra 
de pesquisa que, em razão de nossa preocupação com uma maior 
abrangência em termos de território nacional, acabou se limitando aos 
cursos de mestrado acadêmico em Direito das universidades públicas, no 
marco temporal compreendido entre 2005 e 2014. Ademais, 
compartilharemos as opções metodológicas e os passos que percorremos 
na coleta dos dados para a realização da nossa pesquisa qualitativa. Aqui 
pontuaremos que, além do recurso à pesquisa bibliográfica, lançamos 
mão de uma vasta pesquisa documental, sustentada essencialmente com 
base no banco de dados da CAPES – que reúne informações fornecidas 
pelos próprios programas de pós-graduação para efeitos de sua avaliação 
–, e nos planos de ensino das disciplinas de Criminologia – fornecidos 
pelas instituições, pelos docentes ou disponíveis nos endereços 
eletrônicos dos programas de pós-graduação. A fim de permitir uma 
melhor aproximação da realidade da Criminologia nos referidos cursos, 
particularmente diante de eventuais discrepâncias entre os documentos 
institucionais acessados e a realidade da sala de aula da disciplina, 
esclarecemos que incluímos em nossa pesquisa o “método biográfico” e, 
nesse sentido, construímos a análise da Criminologia nos mestrados em 
Direito em formato de “mosaico científico” (BECKER, 1993) 
contemplando inclusive a trajetória acadêmica dos seus docentes em 
nível do ensino, da pesquisa e da extensão à luz de seus “Currículos 
Lattes”. 
Enfrentadas tais questões introdutórias indispensáveis, no quarto 
capítulo tomaremos em foco o ensino criminológico dos cursos de 
39 
 
mestrado (acadêmico) em Direito nas universidades públicas brasileiras 
a partir de seus currículos oficiais. Esboçaremos inicialmente os 
“vestígios criminológicos” encontrados em todas as estruturas 
curriculares a partir da leitura dos nomes, das ementas e das 
bibliografias das disciplinas, considerando que o saber criminológico às 
vezes está imerso em disciplinas não rotuladas estritamente como 
“Criminologia”. Esta primeira abordagem permitirá fazer o primeiro 
mapeamento das instituições que possuem a disciplina em sua grade 
curricular, comprovando o “estatuto ausente-periférico” (ANDRADE, 
2008 e 2012b) da Criminologia no ensino jurídico em nível de pós-
graduação, bem como nos levará a formular a “hipótese” de que o 
“criticismo” possa eventualmente ter se disseminado na comunidade 
jurídica brasileira nas universidades públicas em razão da presença 
recorrente de conteúdos e/ou bibliografias associadas à criminologia 
crítica nas estruturas curriculares analisadas.8 Advertiremos, contudo, 
que seriam necessárias investigações futuras mais detalhadas para 
averiguar se os vestígios criminológicos críticos escavados são 
expressão da uma crítica conjuntural e reformista do sistema penal ou de 
uma crítica estrutural e de superação do mesmo. 
Na continuação verticalizaremos a análise da Criminologia no 
ensino jurídico no quinto capítulo, sumariando preliminarmente o atual 
quadro ao nível da graduação com base nos resultados da pesquisa de 
Mariana Dutra de Oliveira Garcia (2014) desenvolvida no PPGD/UFSC 
no marco do projeto coletivo da Brasilidade Criminológica. Na 
sequência, sistematizaremos e analisaremos os dados oficiais (ementas e 
bibliografias) das disciplinas intituladas de Criminologia nos cursos de 
mestrado em Direito à luz do banco de dados da CAPES e de alguns 
planos de ensino disponibilizados. Confrontaremos tais informações 
institucionais com a atuação acadêmica dos seus respectivos docentes 
(em nível de ensino, pesquisa e extensão), registrada em seus 
“Currículos Lattes”, sobretudo diante da ciência da existência 
corriqueira de “currículos ocultos” (RODRIGUES, 2005) no ensino 
jurídico e da constatação de informações desatualizadas em alguns dos 
documentos institucionais acessados. 
Diante do “mosaico científico” esboçado, formularemos em 
termos conclusivos a tese do estatuto ausente-periférico, volátil e 
fragmentado da Criminologia enquanto disciplinaacadêmica no ensino 
jurídico em nível de pós-graduação nas universidades públicas. Ademais 
 
8 A síntese dos “vestígios criminológicos” a serem expostos nesse capítulo 
encontra-se nos dados tabulados no Apêndice A. 
40 
 
sustentaremos, em termos de conteúdo, a tese da predominância das 
teorias criminológicas centrais e da ausência ou residualidade dos 
conteúdos latino-americanos e brasileiros nos referidos espaços 
acadêmicos que, com raras exceções, não fizeram o giro descolonial em 
busca de um conhecimento próprio, a exemplo da proposta das 
Epistemologias do Sul (SANTOS, 2010), reforçando, portanto, a 
atualidade da “convocatória” (ANDRADE, 2012b e 2016) da construção 
coletiva de uma Criminologia brasileira.9 Outrossim, defenderemos, 
apesar do estatuto ausente e residual da Criminologia no ensino jurídico 
em nível de pós-graduação, a tese da predominância de uma postura 
politicamente engajada de muitos dos seus docentes que se posicionam 
criticamente diante do sistema penal brasileiro, contrapondo-se, neste 
ponto, à realidade da disciplina nas universidades públicas em nível de 
graduação, conforme hipótese levantada por Vera Regina Pereira de 
Andrade (2008 e 2012b) e demonstrada por Mariana Dutra de Oliveira 
Garcia (2014). 
Está, portanto, lançado o “convite” para que o leitor embarque na 
nossa aventura de tentativa de colaboração com o projeto criminológico 
crítico da Brasilidade Criminológica, literalmente, “pelas mãos da 
Criminologia” da professora Dra. Vera Regina Pereira Andrade. 
Abandonemos então a “terra firme” e, como diria Rubem Alves, 
exploremos o “mar desconhecido”! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 Pontuamos que as bibliografias completas das disciplinas de “Criminologia” 
nos cursos de mestrado em Direito das universidades pesquisadas, bem como 
os currículos resumidos dos seus professores, encontram-se respectivamente 
no Apêndice B e Apêndice C. 
41 
 
PARTE I – BASE TEÓRICA: 
A CRIMINOLOGIA E O ENSINO JURÍDICO 
 
1 OS GRANDES “PARADIGMAS CRIMINOLÓGICOS” DA 
MODERNIDADE E SUAS “RECEPÇÕES CRIATIVAS” NA 
AMÉRICA LATINA E NO BRASIL 10 
 
Parece-me evidente que hoje a Criminologia 
crítica na América Latina não tem menos para 
ensinar a europeia e norte-americana daquilo que 
estas podem ensinar à primeira. A transferência 
de experiências e ferramentas conceituais, em 
relação com problemas específicos da área 
originária para outra área, somente é possível se 
não se perder de vista a especificidade histórica e 
política das diversas áreas, o mesmo que a 
relação das ideias com a realidade e os 
problemas regionais nas quais elas surgem. Com 
esta advertência, é certamente desejável o 
enriquecimento recíproco, o intercâmbio cultural 
entre a criminologia latino-americana e a 
europeia.11 
(Alessandro Baratta, 1990, p. 148-149) 
 
 A fim de dimensionar a relevância do saber criminológico no 
ensino jurídico e permitir a problematização do conteúdo criminológico 
veiculado nos programas de pós-graduação em Direito no Brasil, impõe-
se, antes de mais nada, aclarar algumas questões conceituais sobre a 
própria “Criminologia”, sua relação com a “Dogmática penal” e sua 
gênese histórica em terras brasileiras. 
Afinal, o que se entende por “Criminologia”? É possível falar de 
“uma” Criminologia ou existem “várias”? Como ela ou elas se 
relacionam com o Direito Penal? O que se entende por “Criminologia 
crítica”? Há, de fato, alguma Criminologia especificamente “latino-
americana”, como sugerido por Alessandro Baratta? Há uma 
 
10 Compartilhamos que o primeiro esboço deste capítulo foi fruto de um “paper” 
por nós desenvolvido para a disciplina “Criminologia e Políticas Criminais” 
da professora Dra. Vera Regina Pereira de Andrade no PPGD/UFSC e, nesse 
sentido, reflete uma das problematizações centrais naquela disciplina no 
terceiro trimestre de 2014 no marco da Brasilidade Criminológica. 
11 Conforme tradução de Vera Regina Pereira de Andrade (2012b, p. 63). 
42 
 
Criminologia “brasileira”, atenta para as suas próprias especificidades 
regionais, conforme hipótese central do projeto coletivo de pesquisa 
Brasilidade Criminológica de Vera Regina Pereira de Andrade? E, por 
fim, qual é sua relação com a(s) Criminologia(s) dos “países centrais” 
(por exemplo, a Europa)? Trata-se de simples “importações” ou 
“recepções criativas”, segundo terminologia de Maximo Sozzo (2001)? 
Diante dessas questões, buscaremos na sequência apresentar, 
ainda que rudimentarmente,12 as principais teorias criminológicas que 
marcam as duas “coordenadas” (ALBRECHT, 2010) ou os dois 
“paradigmas” (ANDRADE, 1995, 2003a e 2003b) dentro dos quais 
costumam desenvolver-se os acessos teóricos de explicação da 
criminalidade. Estaremos a falar, portanto, das “teorias etiológicas” que 
tomam a criminalidade como um dado objetivo causalmente explicável, 
por um lado, e das teorias do “labeling approach” que conceituam a 
criminalidade como resultado de processos de definição operados pelo 
sistema de justiça criminal, por outro. 
Optamos neste capítulo por uma apresentação “cronológica” de 
algumas das teorias criminológicas mais conhecidas no marco de ambas 
as “coordenadas” ou ambos os “paradigmas”. Descreveremos 
incialmente o surgimento da Criminologia positivista no século XIX no 
marco do “paradigma etiológico”. Tomando a obra de Alessandro 
Baratta (2002) como fio condutor, delinearemos na sequência os 
princípios cardeais da “ideologia da defesa social” associados ao 
pensamento criminológico positivista, bem como indicaremos sua 
desconstrução gradativa por diversos acessos teóricos que culminaram 
na década de sessenta do século XX no surgimento do paradigma do 
“labeling approach”, o qual, por sua vez, abriu o caminho para a 
construção da chamada “Criminologia Crítica”. 
Não obstante, como bem lembra Vera Regina Pereira de Andrade 
(1995 e 2003b), é imperioso chamar atenção para o fato que apesar da 
desconstrução epistemológica do paradigma etiológico pelo paradigma 
do labeling approach ambos convivem na contemporaneidade nos 
discursos cotidianos sobre a criminalidade. Isto porque apesar de 
deslegitimada pelos “saberes criminológicos críticos”, a política penal 
estruturada na “ideologia da defesa social” se mantém até hoje. E diante 
de sua permanência no senso comum das agências do controle social 
penal e, em especial, dos juristas, concordamos com Marcos César 
 
12Para um acesso mais aprofundado, remetemos o leitor desde logo para a 
monumental obra Histórias dos pensamentos criminológicos de Gabriel Ignacio 
Anitua (2008). 
43 
 
Alvarez (2002), no sentido de que é fundamental estudar a Criminologia 
e a própria gênese da Criminologia positivista no Brasil a fim de 
compreender melhor o tempo presente. 
 
1.1 O NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA POSITIVISTA COMO 
CIÊNCIA 
 
A Criminologia constitui-se como “ciência” no século XIX, 
sobretudo como fruto da Escola Positiva italiana (ANDRADE, 2003a, 
BARATTA, 2002; OLMO, 2004, entre outros). A compreensão das 
teses centrais desta primeira “ciência criminológica” e da sua relação 
com o Direito Penal, no entanto, requer um resgate histórico da 
construção do moderno saber penal, sobretudo, italiano e alemão. 
É possível verificar que, na Itália, de meados do século XVIII até 
meados do século XIX, o universo penal foi marcado pelo respectivo 
advento da Escola Clássica e da Escola Positiva, cada qual com 
postulados metodológicos e ideológicos próprios. A histórica luta entre 
ambas as Escolas – além de contribuir para o nascimento da 
Criminologia – gerou um movimento de reação que, na passagem do 
século XIX para o século XX, impulsionou o surgimento da Escola 
Técnico-Jurídica e uma discussão profunda sobre o lugar e a relação 
entre o saber criminológicoe o saber jurídico-penal (ANDRADE, 
2003a). 
 Iniciando pela Escola Clássica, sua origem se dá no marco 
histórico da Ilustração, sobretudo, na passagem do Estado absolutista e 
feudal para o Estado de Direito capitalista e liberal. O Estado e as leis se 
fundamentam agora no “contrato social”, que institui “o limite lógico de 
todo legítimo sacrifício da liberdade individual mediante a ação do 
Estado e, em particular, do exercício do poder punitivo pelo próprio 
Estado” (BARATTA, 2002, p. 33). 
Em sua primeira fase, o classicismo se caracteriza pela forte 
influência filosófica do Iluminismo e por uma consequente crítica do 
Direito e da Justiça Penal. Após sua consolidação, em sua segunda fase, 
a Escola Clássica tende a abandonar sua dimensão crítica e assume uma 
dimensão mais positiva. Neste sentido, 
 
[a] obra “Dos Delitos e das Penas” de Beccaria 
(1764) constitui o marco mais autorizado do início 
da Escola e a expressão mais fidedigna do seu 
primeiro período; da mesma forma que a obra 
‘Programa do Curso de Direito Criminal’ de 
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44 
 
Carrara (1859) constitui o marco mais autorizado 
da culminação daquele segundo período e do 
pleno desenvolvimento da própria Escola Clássica 
(ANDRADE, 2003a, p. 46). 
 
Salientamos que, apesar da existência de duas fases distintas, é 
possível vislumbrar certa unidade metodológica e ideológica na Escola 
Clássica. No que diz respeito à metodologia, a produção jusfilosófica do 
classicismo é condicionada pelo método racionalista, lógico-abstrato ou 
dedutivo de análise do seu objeto. Já do ponto de vista ideológico, desde 
o seu início até à sua maturidade, a Escola Clássica esteve 
comprometida com a limitação e necessária justificação do poder 
punitivo estatal, como garantia da liberdade individual contra toda e 
qualquer arbitrariedade do soberano. Por conseguinte, todo esforço do 
classicismo se concentrava em racionalizar o poder punitivo do Estado e 
em torná-lo mais humanitário (ANDRADE, 2003a). 
Assim, o movimento iluminista de reforma denunciou a 
arbitrariedade e crueldade da Justiça Penal do “Antigo Regime”; 
reivindicou a garantia da segurança jurídica do indivíduo através da 
criação de um regime estrito de legalidade no âmbito penal e processual, 
bem como do estabelecimento de um aparelho processual de estrutura 
acusatória; e, por fim, exigiu a superação do suplício e proclamou a 
necessidade de humanização e de instrumentalização utilitária das penas 
(BARATTA, 2002; CARVALHO, 2015). 
O classicismo lançou então os pressupostos filosóficos e 
ideológicos que, gradualmente incorporados nos movimentos de 
codificação na Europa, configuraram o Direito Penal liberal, marcado 
pelo princípio da legalidade e pelo discurso da utilidade e da função 
preventiva da pena. Tomando o crime como “conceito jurídico”, o 
classicismo “não se deteve na análise da pessoa do criminoso, porque 
nele não visualizou nenhuma anormalidade em relação aos demais 
homens. Ao contrário [...] criminoso será quem, na posse do livre-
arbítrio, viola livre e conscientemente a norma penal” (ANDRADE, 
2003a, p. 58). E tal violação implicava a responsabilização do autor do 
crime (detentor de uma responsabilidade moral) nos estritos limites do 
“fato-crime” por ele cometido. Por conseguinte, o classicismo não 
visualizava o Direito Penal e a pena como mecanismo primordialmente 
de intervenção e modificação do sujeito delinquente, mas os considerava 
“sobretudo como instrumento legal para defender a sociedade do crime, 
criando [...] uma contramotivação em face do crime” (BARATTA, 
2002, p. 31). 
45 
 
Se por um lado o pensamento liberal contratualista teve êxito na 
racionalização do poder punitivo, por outro lado não foi capaz de 
diminuir a criminalidade violenta/ patrimonial relacionada aos processos 
de pauperização e exclusão social da nascente sociedade industrial. 
Neste contexto, segundo Salo de Carvalho, as respostas liberais ao 
controle do delito começaram a ser criticadas, buscando-se a partir daí 
respostas em “conceitos advindos da psiquiatria como o de degeneração 
individual (Morel) ou aqueles biológicos adaptados pela sociologia 
como os de desorganização social (Darwin e Spencer)” (CARVALHO, 
2015, p. 316). 
Por conseguinte, “o solo para o florescimento de novo paradigma 
de ciências criminais tornara-se [...] fértil” (CARVALHO, 2015, p. 316) 
e notam-se, a partir da década de setenta do século XIX, diversas críticas 
ao classicismo, nascendo então a Escola Positiva.13 
De acordo com a análise de Vera Regina Pereira de Andrade 
(2003a), é possível vislumbrar duas críticas centrais do “positivismo” ao 
“classicismo”: 
Em primeiro lugar, acusou-se a Escola Clássica de ter 
negligenciado os direitos da sociedade, em decorrência de sua 
“excessiva” preocupação com a garantia do indivíduo perante o poder 
punitivo do Estado e com os direitos humanos do criminoso. Nesse 
sentido, o positivismo propunha-se resgatar a dimensão da defesa da 
sociedade. 
Em segundo lugar, questionou também a metodologia abstrata do 
classicismo, centrada na razão (racionalismo) e sem nenhuma referência 
à realidade (empiria). Seria necessário, portanto, o positivismo “deslocar 
a orientação filosófica para uma orientação científica, empírico-positiva, 
a única apta a resgatar aquele segundo personagem ‘esquecido’ pela 
Escola Clássica: o homem delinquente” (ANDRADE, 2003a, p. 61). 
Neste sentido, a Escola Positiva é detentora de uma concepção 
positivista de ciência, defendendo a utilização de um método 
 
13 Em termos de contextualização histórica do surgimento da Escola Positivista, 
remetemos à síntese de Vera Regina Pereira de Andrade: “Inserida no horizonte 
histórico de transformação nas funções do Estado que apontavam para o 
intervencionismo na ordem econômica e social, sob a égide de novas ideologias 
políticas de cunho social ou socialista; de crise do programa clássico no 
combate à criminalidade; de predomínio de uma concepção positivista de 
Ciência e declínio do jusnaturalismo ao lado do evolucionismo de Darwin e a 
obra de Spencer, a Escola Positiva partirá de pressupostos muito característicos 
que, distanciando-se daqueles que condicionaram a Escola Clássica, explicam, 
também, o fulcro das críticas a ela dirigidas” (ANDRADE, 2003a, p. 60-61). 
46 
 
experimental ou empírico-indutivo de análise de seu objeto. O foco aqui 
não está mais no crime como “ente jurídico”, mas no “autor do crime” – 
o “delinquente” –, visto como pessoa dotada de uma personalidade mais 
ou menos perigosa que representa um risco para a sociedade. A 
preocupação está agora na construção de uma ciência, capaz de buscar 
as “causas” da criminalidade, sobretudo, a fim de viabilizar a luta 
“científica” contra a mesma e prevenir crimes futuros, inaugurando 
aquilo que se convencionou chamar de “paradigma etiológico de 
Criminologia” (ALBRECHT, 2010; ANDRADE, 1995). 
Tomado, aqui, o crime como “fato natural” ou “fato social”, 
surgem as mais variadas pesquisas sobre a gênese da criminalidade. 
Entre os “primeiros acessos científico-empíricos” (ALBRECHT, 2010) 
podemos citar a pesquisa do médico legista italiano Cesare Lombroso 
(1835-1909), que tentou encontrar uma “explicação causal” da 
criminalidade através de pesquisas antropométricas, isto é, a medição de 
tamanho de corpo, peso, circunferência de crânio, altura da testa etc. em 
“prisioneiros”, “doentes mentais” e grupos da “população normal”. 
Comparando os dados coletados, Lombroso sustentou, em 1876, na sua 
obra L’Uomo Delinquente, a origem biológica da criminalidade na 
constituição diferenciada do “homem delinquente”. Haveria, segundo 
sua tese, uma pré-disposição biológica que conduziria o homem ao 
crime, assim como seria possível verificar especificidades em relação 
aos diferentes tipos de “delinquentes”. Neste sentido, por exemplo, 
Lombroso afirmou que os estupradores possuiriam, em geral, as 
seguintescaracterísticas: “lábios grossos, cabelos abundantes e negros, 
olhos brilhantes, voz rouca, alento vivaz, frequentemente semi-
impotentes e semi-alienados, de genitália atrofiada ou hipertrofiada, 
crânio anômalo [...]” (LOMBROSO, 2007, p. 141). Os ladrões, por sua 
vez, seriam “apaixonados por cores berrantes: amarelo, azul, por 
berloques, correntes e até por brincos [...]” (LOMBROSO, 2007, p. 141-
142). E os assassinos teriam “ar calmo”, seriam “pouco voltados ao 
vinho, mas muito ao amor carnal” e se mostrariam “audazes entre eles, 
arrogantes, soberbos dos próprios delitos [...]” (LOMBROSO, 2007, p. 
142). 
 Observando sua obra como um todo, é possível afirmar que 
Lombroso 
[...] buscou primeiramente no atavismo uma 
explicação para a estrutura corporal e a 
criminalidade nata. Por regressão atávica, o 
criminoso nato se identifica com o selvagem. 
Posteriormente, diante das críticas suscitadas, 
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47 
 
reviu sua tese, acrescentando como causas da 
criminalidade a epilepsia e, a seguir, a loucura 
moral. Atavismo epilepsia e loucura moral 
constituem o que Vonnacke denominou de 
“tríptico lombrosiano” (ANDRADE, 2003b, p. 
36). 
 
Autores como Garófalo e Ferri ampliaram posteriormente o 
determinismo biológico lombrosiano, chamando atenção, 
respectivamente, para fatores psicológicos e sociológicos na análise da 
criminalidade (BARATTA, 2002). De toda sorte, tais perspectivas 
patologizantes da Antropologia e Sociologia Criminal positivista 
continuavam presas à ideia de que a “causa” da criminalidade estaria no 
“indivíduo” portador de alguma “anormalidade” e, neste sentido, 
representavam as bases fundacionais da Criminologia Positivista. Nas 
palavras de Vera Malaguti Batista, 
 
[no] positivismo, o delito é um ente natural [...]. O 
determinismo biológico se contrapõe à ideia 
liberal de responsabilidade moral. O importante é 
“estudar“ o autor do delito e classifica-lo, já que o 
delito aparece aqui como sintoma da sua 
personalidade patológica, causada pelos mesmos 
fatores que produzem a degenerescência. Se o 
liberalismo revolucionário tratava de limitar o 
poder punitivo absolutista, aqui a pena encontrará 
um caudal de razões para expandir-se; as 
estratégias correcionalistas se revestirão de 
características curativas, reeducativas, 
ressocializadoras, as famigeradas ideologias “re” 
(2012b, p. 45). 
 
As teses deterministas da criminalidade e sua negação da 
“normalidade” do criminoso conduziram, portanto, à negação da 
“responsabilidade moral” como fundamento da pena e legitimaram a 
punição com base na “responsabilidade social” ou “legal”. A pena era 
um remédio necessário de defesa da sociedade diante do criminoso 
perigoso. E, neste ponto, era de fundamental importância que a pena 
tinha eficácia preventiva. Ou seja, na Escola positiva “a pena não age de 
modo exclusivamente repressivo, segregando o delinquente e 
dissuadindo com sua ameaça os possíveis autores de delitos; mas, 
também e sobretudo, de modo curativo e reeducativo” (BARATTA, 
2002, p. 40). 
48 
 
É evidente o deslocamento operado pelo positivismo do “fato-
crime” para o “autor-criminoso”. E a gradual assimilação das teses 
centrais da Escola Positiva pelas legislações penais no século XX14 
implicou, por sua vez, a assunção do princípio da individualização da 
pena em conformidade com a personalidade do criminoso e a reforma 
do clássico Direito Penal do fato liberal para um Direito Penal do autor 
intervencionista. A partir de então, “[...] convivem o discurso de 
garantia do indivíduo com o discurso da defesa social; o discurso do 
homem como objeto de intervenção positiva desse mesmo poder, em 
nome da sociedade” (ANDRADE, 2003a, p. 73). 
Além de impactar nas legislações penais de seu tempo, a luta 
entre a Escola Clássica e a Escola Positiva também teve implicações 
teóricas, pois conduziu a uma discussão sobre a divisão do trabalho na 
área criminal e gerou uma disputa pela hegemonia entre a Criminologia 
e o Direito Penal. Deste modo, 
 
[p]ercebe-se aí um deslocamento temático no 
interior do saber penal, uma vez que o objeto de 
discussão já não é crime, criminoso, pena etc., 
mas uma discussão epistemológica sobre o 
próprio lugar, estatuto e função das Ciências 
Penais. As antagônicas distinções das Escolas vão 
cedendo lugar a uma diferenciação de Ciências; a 
uma divisão do trabalho científico entre 
Dogmática Penal e Criminologia (ANDRADE, 
2003a, p. 75). 
 
E, se desde o advento da Escola Clássica o universo penal era 
dominado pelos juristas e pelo Direito Penal, então o positivismo abria 
as portas para os antropólogos, sociólogos, psicólogos, médicos (etc.), 
 
14 “Assim, enquanto o programa clássico (centrado na lógica da liberdade de 
vontade, da certeza e segurança jurídicas) é condicionado e expressa, 
discursivamente, as exigências de uma sociedade e de um Estado de Direito 
liberais, é somente quando esta matriz estatal assume o intervencionismo na 
ordem econômica e social e legitima-se, consequentemente, para intervir 
ativamente no campo penal, que se abre o espaço para um Direito e um 
controle intervencionista sobre a criminalidade e o criminoso, como o 
postulado pelo programa positivista. A emergência da Escola Positiva – e da 
Criminologia – responde, pois, a uma redefinição interna da estratégia do 
poder punitivo, somente admissível na ultrapassagem do Estado de Direito 
liberal para o Estado de Direito social ou intervencionista” (ANDRADE, 
2003a, p. 71). 
49 
 
bem como defendia a necessária hegemonia da Criminologia, tendo em 
vista que era o único saber penal que merecia – à época – o atributo de 
“científico” em razão da utilização do método causal-explicativo. Neste 
sentido, o modelo defendido por Ferri 
 
[...] postula uma unificação disciplinar sob os 
princípios das Ciências causal-explicativas em que 
a autonomia metodológica da Ciência Jurídico-
Penal se anula e se substitui pelo chamado método 
científico. Mais do que procurar uma alternativa 
não normativa para a Ciência do Direito Penal 
postula, em realidade, uma redução sociológica 
dela (ANDRADE, 2003a, p. 79). 
 
Diante deste movimento surgiu, contudo, uma forte reação em 
defesa de uma “Ciência Penal” estritamente jurídica. Era chegada a hora 
do nascimento da Escola Técnico-Jurídica que, inspirada no positivismo 
jurídico alemão, postulava, para o Direito Penal, a assunção do 
paradigma dogmático de Ciência Jurídica – já dominante no Direito 
Privado – e, por conseguinte, a delimitação do objeto da ciência ao 
Direito Penal Positivo vigente. Nesta perspectiva, enquanto 
 
[...] a Ciência Penal teria por objeto de estudo o 
crime e a pena como fatos jurídicos, a 
Antropologia teria por objeto o crime como fato 
individual e a pena como fato social; a Sociologia 
o teria a ambos como fato social, sendo estas duas 
Ciências ao lado da História e do Direito 
comparado as fontes do “conhecimento científico” 
do Direito [...] (ANDRADE, 2003a, p. 87). 
 
Neste modelo proposto pela corrente técnico-jurídica, a 
hegemonia era claramente da Dogmática Penal, ao passo que a 
Criminologia era, nas palavras de Salo de Carvalho, “castigada” com o 
“rótulo da auxiliaridade” (CARVALHO, 2015). Ou seja, diante da 
disputa do positivismo jurídico e do positivismo criminológico e da 
discussão em torno da relação entre Dogmática Penal e Criminologia, a 
proposta vencedora coroava a primeira como soberana em relação à 
segunda (ANDRADE, 2003a). 
Portanto, é possível observar em termos históricos que, após uma 
inicial liderança do positivismo criminológico, a Dogmática Penal saiu 
vencedora na disputa pela hegemonia no universo do saber penal. Por 
50 
 
conseguinte, no modelo oficial que se consolida no século XX “não 
haverá uma redução sociológica da Dogmática penal nem um abandono 
da Criminologia, mas uma ‘relativa’ autonomia metodológica de cada 
paradigma e uma relação de auxiliariedade da Criminologia

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