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ADMINISTRAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Gisele Lozada Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 A238 Administração de produtos e serviços [recurso eletrônico] / Organizadora, Gisele Lozada. – Porto Alegre : SAGAH,2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-69726-63-0 1. Administração - Produtos. 2. Administração – Serviços. 3. Sistemas de produção. I. Lozada, Gisele. CDU 658.64 A produção e o consumidor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar o consumidor, suas principais características e relaciona- mento com a produção. � Entender a formação de expectativas no cliente. � Identificar como o cliente percebe a qualidade. Introdução O que a empresa produz é um fator importante na definição de como ela irá produzir, já partindo das diferenças básicas entre produtos e serviços. Contudo, existe um fator ainda mais fundamental: para quem a organização irá destinar sua produção. Assim, conhecer o cliente, seus desejos e necessidades, é fundamental para que a pro- dução tenha maior capacidade de atender suas expectativas. Neste texto, você vai estudar o consumidor e seu comportamento, que corresponde a um conjunto de fatores capaz de determinar suas escolhas e expectativas, além de influenciar sua percepção de quali- dade. Fatores estes que afetam diretamente a atividade produtiva de qualquer empresa, sendo determinantes para o atingimento de seus objetivos. O cliente e a produção Você certamente já ouviu, ao menos uma vez, a expressão “o cliente tem sempre razão”. Por mais generalista ou exagerada que possa parecer, tem seu fundo de verdade. O cliente terá sempre a faculdade da escolha, da decisão, por mais limitada que seja a situação. Mesmo em casos de necessidades mais básicas, em que o consumo é quase inevitável (como ocorre na alimentação), o cliente ainda possui o poder da escolha. Ele certamente irá consumir, mas pode definir de quem, em que volume e por quanto tempo o fará, entre outros aspectos. A questão é saber transformar esta realidade em oportunidade. Definindo o consumidor Em uma definição literal, podemos determinar o consumidor como aquele que adquire mercadorias e serviços para utilização própria ou coletiva. De acordo com o contexto, pode também ser nomeado como comprador, cliente ou freguês. Contudo, ao inserirmos o consumidor no contexto organizacional, sua definição torna-se mais ampla e complexa à medida que são associadas a ele diversas características e funções. Sob a ótica da administração da produção, o cliente é percebido como foco dos objetivos das organizações, que produzem bens e serviços destinados à satisfação dos desejos ou necessidades de seus clientes. O cliente pode ser um indivíduo, um grupo ou uma organização que possui interesse em ad- quirir bens ou serviços, podendo inclusive participar do processo produtivo do mesmo (em menor ou maior grau, de acordo com o tipo de bem ou serviços que é produzido). O cliente pode também corresponder ao recurso que será transformado pelo processo produtivo, como o que ocorre, por exemplo, na prestação de serviços nos ramos da estética e medicina. Na economia, o consumidor é considerado um dos agentes econômicos que, no desempenho de suas funções, formam o circuito econômico, a partir dele são estudados aspectos como a produção, distribuição e consumo dos bens e serviços. As decisões e ações do consumidor afetam os demais agentes, influenciando o cenário econômico como um todo. Clientes pode ainda representar diferentes categorias de agentes inte- grantes do ambiente organizacional, sendo classificados de várias formas como clientes internos e externos, intermediários ou usuários finais (ou con- sumidores), stakeholders (pagadores, beneficiários ou participantes), clientes valiosos e não tão valiosos. Neste contexto, clientes tornam-se elementos vi- tais para a existência e sobrevivência das organizações, sendo cruciais para seus objetivos centrais: sem clientes não existe produção e tão pouco lucro. Portanto, é preciso conhecê-los, para depois entendê-los. O comportamento do consumidor Alguns autores, como Solomon (2016), definem o comportamento do consu- midor como um processo, formado por diversas etapas como seleção, compra, utilização e descarte de bens e serviços destinados à satisfação de necessidade e/ou desejos. Os primeiros estudos realizados sobre o tema foram realizados Administração de produtos e serviços152 entre as décadas de 1960 e 1970, que os pesquisadores intitulavam “estudo do comportamento do comprador” – note que estava mais voltado ao consumo de bens, pois os serviços ainda não eram tão representativos como atualmente. Contudo, o cenário agora é outro, onde clientes compram conceitos: quando um cliente compra um produto ou serviço espera estar adquirindo com ele um conjunto de benefícios que irá atender suas necessidades e ex- pectativas. Isso resulta nos chamados “pacotes” que incluirão produtos e ser- viços, onde um será essencial (parte principal) e os demais acessórios (apoio). A formação destes pacotes corresponde a geração de conceito (projeto de pro- dutos e serviços). O comportamento consumidor, bem como a escolha dos bens e serviços que irá consumir, possui uma relação direta com seu estilo de vida. Mas, como fazer para descobrir mais sobre estes aspectos? Nesta empreitada a ad- ministração da produção se ampara em outra função organizacional, que se destina ao atendimento desta demanda: a área de marketing. É o marketing que se incumbirá da importante tarefa de conhecer o cliente, auxiliando e apoiando a produção, para que seus objetivos de desempenho estejam adequa- damente definidos, promovendo um alinhado coletivo entre ela, a empresa e seus clientes. A relação entre cliente e empresa corresponde a um cenário amplamente conhecido pelo marketing, que possui as habilidades necessárias para analisar e monitorar o cliente, percebendo seus desejos e necessidades, sinalizando à empresa as oportunidades decorrentes. Isso permite, entre outras coisas, a geração ou adequação dos produtos e serviços, para que estes atendam às necessidades dos clientes – o que revela a importância do marketing para a empresa. Este cenário ressalta ainda a necessidade de alinhamento das funções or- ganizacionais (como marketing e produção), na intenção de somar esforços e promover o compartilhamento de especialidades, convergindo para o atingi- mento de objetivos comuns: conhecer o comportamento, a formação de ex- pectativas e percepção de qualidade do cliente. Assim, a organização terá maiores chances de oferecer bens e serviços adequados, que estejam mais alinhados às necessidades dos clientes. O comportamento do consumidor está intimamente ligado à sua natureza (tipos e categorias, que possuem características específicas), apresentando grande variação de necessidades e anseios a serem satisfeitos, que incluem uma gama quase infinita de alternativas, podendo ir de fome e sede até amor, status ou realização espiritual. Outro fator importante corresponde aos efeitos 153A produção e o consumidor situacionais sobre o comportamento dos consumidores, que influenciam suas decisões e são gerados por aspectos como infraestrutura (layout, site, vendedores), outras pessoas ou grupos (principalmente aqueles de maior poder social), destinação do bem ou serviço (uso próprio ou de terceiros), va- lores e família. Tudo isso torna o panorama do conhecimento do cliente ainda mais rico e complexo. Leia mais sobre os efeitos situacionais sobre o comportamento dos consumi- dores no capítulo 9 da obra O comportamento do consumidor: comprando, pos- suindo e sendo (SOLOMON, 2016). A natureza do consumidor Consumidores podem ser organizações, grupos ou indivíduos que possuem o poder de escolher e consumir bens e serviços que serão utilizados para satisfazer suas necessidades. A aquisição e o consumo podem ou não ser re- alizadospelo mesmo consumidor, como ocorre, por exemplo, na compra de material de expediente em uma empresa. Também a decisão de compra pode ser realizada por um ou mais agentes, como o que ocorre, com frequência, no ambiente organizacional, onde as decisões de compra muitas vezes são com- partilhadas entre diversas pessoas. É importante considerar ainda que o consumidor tem o poder da decisão no processo de consumo, podendo até mesmo determinar o nível de desem- penho que a organização deve alcançar para que seu produto ou serviço seja desejado por ele. Não obstante, deve-se também lembrar que a organização tem a capacidade de interferir na decisão do cliente, influenciando ou contri- buindo para sua formação de opinião, que dará origem às expectativas. Clientes possuem características muito específicas e particulares, que podem corresponder a aspectos individuais ou coletivos. Estas propriedades são capazes de diferenciar os consumidores entre si, ou, em algumas situa- ções, agrupá-los de acordo com suas semelhanças. Tais características afetam seu comportamento, estabelecendo diferentes desejos e necessidades, e dando Administração de produtos e serviços154 forma a seu estilo de vida, que definirá, entre outras coisas, o que desejam ou precisam consumir. A sociedade, que já foi fortemente marcada pelo consumo de massa, evo- luiu para um cenário caracterizado por uma quantidade e variedade quase in- finita de opções de produtos e serviços, distribuídas em diferentes segmentos. As exigências dos consumidores igualmente evoluíram e se multiplicaram, tor- nando a tarefa da organização (satisfação do cliente) cada vez mais complexa. Para que esta intenção possa ser cumprida pelas empresas, é necessário que ela, cada vez mais, conheça e entenda seus clientes, suas necessidades, preferências e preocupações, que podem ao mesmo tempo diferenciá-los e agrupá-los. É através do estudo do consumidor, de forma individual e cole- tiva, que a empresa poderá melhor se posicionar frente ao desafio de satisfazer o cliente. Desta forma, todos os esforços voltados à satisfação dos clientes corres- pondem, de fato, a um investimento, dado o valor que o cliente representa para a organização. Tais esforços visam responder à seguinte pergunta: quem é meu cliente? Conhecer o perfil do cliente, além de ser uma preocupação da empresa enquanto organização, é também uma das responsabilidades priori- tárias da Administração da Produção e Operações. Gerentes e suas equipes, devem planejar, coordenar e controlar a atividade produtiva, garantindo o me- lhor emprego dos recursos, a fim de viabilizar o equilíbrio entre produtivi- dade e satisfação/retenção de clientes. Consumidores representam elementos fundamentais para a existência e sobrevivência de toda e qualquer empresa, devendo esta possuir objetivos orientados para seu público alvo. Uma organi- zação sadia possui e mantém clientes, pois sem eles não auferirá receita nem tão pouco lucro, deixando de possuir qualquer valor para o mercado. É preciso que os gerentes e seus funcionários conheçam e compreendam a natureza do consumidor, que é refletida em seu comportamento e que pode, potencialmente, influenciar o tipo de produto ou serviço a ser fornecido. Ca- racterísticas são ainda mais marcantes quando o cliente é o receptor direto do serviço ou produto, podendo ainda impactar outros clientes. Para que o estudo do consumidor seja realizado de forma adequada, convém a segmentação dos clientes em categorias, a fim de permitir a análise mais profunda das características específicas de cada grupo. Num primeiro momento, pode-se considerar aspectos como idade, gênero, estrutura fami- liar, classe social e renda, raça e etnia, geografia e estilo de vida. Já em uma análise voltada ao comportamento, podemos verificar dez diferentes tipos de clientes: 155A produção e o consumidor � Aliado: bem-humorado e disposto a ajudar, fornece feedback positivo para melhoria do serviço e contagia outros clientes com sua atitude positiva; � Refém: vinculados contratualmente ao fornecedor, devendo consumir deste o serviço mesmo que o preço seja superior (para ter direito a aspectos como garantia), humor nem sempre constante, principalmente quando desempenho do serviço não corresponde ao esperado; � Anarquista: avesso a regras e sistemas, exige liberdade, podendo re- presentar problema junto a outros clientes que podem se sentir injus- tiçados; � Paciente: vinculado a um serviço (como escola ou hospital), mas dis- posto a submeter-se às regras e regulamentos. Contudo, restrições des- necessárias podem transformá-lo em refém ou anarquista; � Tolerante: passivos, muitas vezes em demasia, fazendo com que sua visibilidade seja comprometida no processo. Contudo, sua boa vontade pode ser apenas aparente; � Intolerante: potenciais causadores de problemas ao processo ou demais clientes. Sem atenção adequada, podem transformar-se em terroristas; � Vítima: parecem atrair má sorte, carregando o processo ao infortúnio. Sua reação em algumas situações pode levar a grandes incidentes, re- signados a seu inevitável destino; � Terrorista: imprevisível, manifesta insatisfação em voz alta e em am- biente lotado, embora possa ter elogiado serviço em momento recente; � Incompetente: demonstram que a experiência com o produto ou ser- viço foi ruim, predispondo e confundindo novos clientes, ou até mesmo os afastando. Requer monitoramento e treinamento, para que sejam controlados (contudo, nem todo cliente pode ser treinado); � Campeão: é o cliente que todas as empresas desejam possuir, apoiam funcionários e processos, além de promover comentários positivos sobre o conjunto da organização. O poder do relacionamento Para que a empresa adquira o poder de influenciar a opinião do cliente, existem algumas questões bastante relevantes: conhecimento e relaciona- mento. O contato com o cliente será o ponto de partida para o relacionamento, e por isso deve ser muito bem aproveitado. Qualquer forma de contato, seja Administração de produtos e serviços156 pessoal ou através de meios virtuais como a internet, constitui-se em uma potencial ferramenta de geração e coleta de informações. Estas informações serão a porta de entrada da organização ao universo do cliente, de onde a em- presa irá colher os subsídios necessários para a elaboração de seus produtos e serviços, visando aproximar-se ao máximo dos desejos e necessidades dos clientes. O relacionamento permite a conquista e retenção de clientes, sendo uma potencial ferramenta para promover lealdade e reduzir perdas. Apresenta vá- rias formas ou proporções, como relacionamentos longo ou curto prazos (tem- porários), de alto volume ou pessoal, com variações de escopo em situações como os serviços profissionais ou no contexto business-to-business (B2B). A abordagem ao cliente pode ocorrer de diferentes formas, dependendo do nível de conhecimento que a produção possui sobre as exigências do con- sumidor, permitindo o estabelecimento de um sistema adequado de aten- dimento, balanceando produtividade e retenção de clientes. Essa condição permite ainda que os esforços sejam focados nos consumidores efetivamente potenciais (clientes-alvo). O relacionamento pode ser representado por três diferentes categorias ou abordagens, conforme ilustrado na Figura 1, deno- minadas de abordagem transacional, retenção de clientes e crescimento do relacionamento, sendo que as duas últimas representam evolução da primeira. A abordagem transacional considera que o relacionamento acontece uma única vez, com reduzida memória de transações anteriores e baixa ex- pectativa de reincidências. Já a abordagem de retenção do cliente percebe o potencial enriquecimento da transação, com maior e melhor nível de informa- ções sobre o cliente, focando em elevada qualidade e promovendo lealdade. Por fim, a abordagem do crescimento do relacionamento procura aumentar os pontos de contato, aproveitando as oportunidades paraobtenção de infor- mações, ampliando os pontos de contato a cada nova transação, tornando-se mais resistente à ação competitiva. 157A produção e o consumidor Figura 1. Tipos de abordagem no relacionamento com o cliente (C = cliente e E = empresa) Fonte: Adaptada de Johnston e Clark (2002, p. 87). Este contexto evidencia a importância do conhecimento do consumidor pela empresa, e quão precioso são contato e relacionamento. Contudo, é im- portante estar atento, pois se este processo for realizado sem o devido preparo e planejamento, poderá trazer problemas ao invés de benefícios. O cliente não só fornece as informações necessárias para a definição dos produtos e serviços, ele muitas vezes acaba participando do processo produtivo, e assim pode influenciá-lo também. Como regra geral, quanto maior o contato, maior a participação do cliente no processo de produção. Se não for conduzido com o devido cuidado, o contato com o consumidor pode repre- sentar problema. O cliente não só fornece as informações necessárias para a definição dos produtos e serviços, ele muitas vezes acaba participando do processo produtivo, e assim pode influenciá-lo também, o que pode promover interferências positivas ou negativas. Administração de produtos e serviços158 A formação das expectativas Como você já pode perceber, clientes (seja indivíduo, grupo ou organi- zação) possuem características específicas, que os diferenciam ou até mesmo agrupam, estabelecendo tipos ou categorias de consumidores. Estas proprie- dades são refletidas em seu comportamento e estilo de vida, a partir do qual manifesta desejos e necessidades, definindo quais bens e serviços cada cliente irá consumir. O consumo, por sua vez, está vinculado a uma expectativa, que corres- ponde a uma projeção gerada pelo cliente sobre como o produto ou serviço irá se comportar, que benefícios irá lhe trazer. E esta expectativa está direta- mente relacionada à percepção de qualidade que o cliente irá formar a respeito do produto ou serviço consumido: se atender às expectativas, significa que ele apresenta a qualidade desejada pelo cliente. Mas como se formam as expectativas? Quem tem o poder ou a capacidade de interferir neste processo? Quem vem primeiro, a expectativa ou o con- sumo? Muitas podem ser as respostas para estes questionamentos, todos eles muito oportunos. Seja qual for a linha de pensamento adotada para esclarecer este panorama, elas provavelmente incluirão aspectos como natureza, com- portamento e relacionamento. As expectativas dos clientes são influenciadas por diversos aspectos, con- forme ilustrado na Figura 2. Contudo, cabe ressaltar a frequência e força do preço como agente influenciador: quanto maior o preço, maiores serão as ex- pectativas. Esta relevância pode ser explicada ou ao menos relacionada em razão da direta associação entre preço e valor atribuído pelo cliente ao pro- duto ou serviço adquirido. 159A produção e o consumidor Figura 2. Níveis de expectativa do cliente. Fonte: Adaptada de Johnston e Clark (2002, p. 133). O consumidor corresponde a um dos recursos de input de muitas opera- ções de serviços, característica que traz consigo a necessidade de gerencia- mento do mesmo, ao passo que se tenta entender o que ele espera da operação. É importante lembrar que, acima de tudo, o cliente é agente capaz de julgar a qualidade do produto ou serviço, verificando se ele atende às exigências e às expectativas. E deste julgamento é que resulta o sucesso da organização. Neste contexto, qualidade e satisfação estão diretamente relacionadas, e desta relação deriva a compreensão das expectativas do cliente. O que o cliente espera de um produto ou serviço será, logicamente, sua medida para avaliar seu desempenho e, consequentemente, sua satisfação com o item adquirido. A expectativa do cliente apresenta diferentes níveis, conforme o Quadro 1. Administração de produtos e serviços160 Fonte: adaptado de Johnston e Clark (2002, p. 130). Nível de expectativa Descrição Ideal O melhor possível Ideal factível O que deve acontecer, dado o preço ou padrão do setor Desejável O padrão que o consu- midor deseja receber Obrigatório O nível de desempenho que o cliente deve receber, em função dos custos Mínimo tolerável Os padrões mínimos toleráveis que devem ser atingidos Intolerável Os padrões que os consumi- dores não devem receber Quadro 1. Níveis de expectativa do cliente. Contudo, cabe salientar que as expectativas são dinâmicas, não estando fixadas a um único ponto entre o ideal e o intolerável. Elas se modificam ao longo do tempo (inclusive durante o fornecimento), sendo avaliadas e revi- sadas em função das experiências vividas pelos consumidores. Esta mesma constância de mutação e adaptação precisa ser empregada à organização, em todas as funções conectadas ao atendimento do cliente, para que os produtos e serviços por ela oferecidos apresentem qualidade capaz de acompanhar a evolução das expectativas dos consumidores, sendo percebida por eles. Para que a empresa obtenha êxito em sua operação, ela necessita identi- ficar os fatores que mais potencialmente definirão as expectativas, às quais seus produtos e serviços deverão atender, por meio de seus atributos de quali- dade. Estes fatores são divididos nas seguintes categorias: � Acesso: acessibilidade da localização do serviço. � Estética: conjunto que agrada ao cliente, incluindo aparência, instala- ções, atmosfera e funcionários, entre outros. � Atenção/assistência: pessoal de contato fornece apoio e demonstra in- teresse em auxiliar. 161A produção e o consumidor � Disponibilidade: instalações e funcionários em quantidade e tempo adequados (no caso de serviço), quantidade e variedade de produto (no caso de bens). � Cuidado: demonstração de preocupação, consideração, simpatia e paci- ência ao cliente, fazendo com que se sinta confortável. � Limpeza/atratividade: aparência atraente e limpeza do ambiente, insta- lações, bens e pessoal envolvidos no fornecimento. � Conforto: comodidade proporcionada pelo ambiente e instalações. � Comprometimento: percebido no comportamento dos funcionários, demonstrando satisfação e diligência na busca por melhor atender o cliente. � Comunicação: informação verbal ou escrita oferecida de forma clara, total e precisa, com capacidade de ouvir e atender. � Competência: habilidade, expertise e profissionalismo no forneci- mento, incluindo atendimento das instruções do cliente, conhecimento do produto ou serviço, capacidade de oferecer trabalho apropriado. � Cortesia: educação, respeito, experiência demonstrados principal- mente pelo pessoal de contato. � Flexibilidade: disposição em adequar o produto ou serviço às necessi- dades do cliente. � Cordialidade: abordagem pessoal calorosa e natural, atitude agradável que faz o cliente sentir bem-vindo. � Funcionalidade: natureza e adaptação do produto ou serviço ao propó- sito da qualidade. � Integridade: honestidade, justiça, imparcialidade e confiabilidade no trato com o cliente. � Confiabilidade: consistência do desempenho da organização e seus agentes, incluindo pontualidade na entrega e cumprimento de pro- messas. � Responsividade: velocidade e pontualidade na produção e entrega, res- pondendo rapidamente às solicitações do cliente. � Segurança: oferecida ao cliente e suas posses, durante o fornecimento ou prestação do serviço, incluindo manutenção e confidencialidade. Estes aspectos fornecem a base para a definição das expectativas do cliente, devendo ser percebidos e atendidos pela organização. A operação de- verá atender a esses aspectos da forma mais ampla possível, tendo em vista que isso refletirá na percepção de qualidade pelo cliente, afetando-a direta- Administração de produtos e serviços162 mente. É importante atentar-se para o que demonstra necessidade de alinha- mento entre operação e expectativas e visar soluções por meio da elaboração e disponibilização de produtos e serviços cuja qualidadeé percebida pelo cliente. A percepção da qualidade A qualidade corresponde ao fator crucial para qualquer relação de consumo, seja ela baseada no fornecimento de bens ou na prestação de serviços. A em- presa executa sua produção com a intenção de entregar algo dotado de qua- lidade, para que assim possa satisfazer seus clientes. No outro extremo desta relação temos o cliente, que igualmente deseja a qualidade como um fator presente no bem ou serviço que está adquirindo. O cliente percebe a qualidade baseando seu julgamento a partir das ex- pectativas por ele formadas no decorrer do processo de consumo. E como as expectativas são dinâmicas, existe potencial condição de um descolamento entre expectativa e qualidade percebida. Desta forma, a qualidade seria per- cebida em função da possível lacuna existente entre expectativa e percepção, conforme Figura 3. Figura 3. A percepção da qualidade pelo cliente. Fonte: Adaptada de Slack et al. (2006, p. 416). Expectativas dos consumidores relativas ao produto ou serviço Percepções dos consumidores relativas ao produto ou serviço Qualidade percebida A qualidade possui ainda outros atributos intrínsecos, decorrentes de seu atingimento, como, por exemplo, a redução de custos relacionados ao retra- balho ou ao desperdício motivado por questões como refugos e devoluções. Quanto maior a qualidade, melhores serão os resultados em diversos aspectos. Para completar o cenário, a qualidade apresenta uma particularidade im- portante: ela pode ser percebida em diferentes níveis pelos agentes envolvidos na relação de consumo. A questão é como a organização pode promover o ali- 163A produção e o consumidor nhamento desta percepção. A fim de auxiliar nesta tarefa, são propostas cinco categorias de abordagem da qualidade, conforme o Quadro 2, auxiliando as empresas na definição de objetivos e estratégias para sua operação. Fonte: Baseado em Slack et al. (2006, p. 413-414). Abordagem Descrição Transcendental Percebe a qualidade como um sinônimo de excelência inata do produto oferecido. Baseada na manufatura Visa oferecer produtos e serviços livres de erros, pois estes correspondem a prejuízos. Quanto maior a qualidade, maior o efeito benéfico dela sobre receitas e despesas. Baseada no usuário Visa assegurar que o produto ou serviço esteja adequado ao consumidor e a seus interesses. Baseada no produto Percebe a qualidade como um conjunto men- surável e preciso de características, as quais são requeridas para satisfazer o consumidor. Baseada no valor Define a qualidade em termos de custo e preço, defendendo que deve ser percebida em razão ao preço do produto ou serviço. Quadro 2. Abordagens da qualidade. A percepção de qualidade pelo cliente ocorre de forma individual, já que as expectativas são também individuais e distintas de consumidor para con- sumidor, dadas suas experiências anteriores, conhecimento individual e his- tóricos sobre produtos ou serviços, que influenciam suas decisões. Em alguns casos, porém, o cliente é incapaz de perceber as especificações da operação, composta pelas técnicas aplicadas na produção do produto ou serviço. Nestas condições, realizará uma medição de qualidade ainda mais subjetiva. Administração de produtos e serviços164 Alguns exemplos da diferença de percepção da qualidade: � Em função da individualidade: um voo de longa distância pode parecer ex- citante para uma pessoa (que está saindo de férias), enquanto que para outra pode percebê-lo como apenas necessário (deslocamento para uma reunião de trabalho). � Em função da incapacidade de julgamento técnico: após uma consulta ao dentista o paciente pode não dominar a técnica utilizada, mas percebe a qualida- de do serviço a partir do momento que o dente não representa mais problema. Por fim, é oportuno realizar um cruzamento das percepções de qualidade sob a ótica da operação e do cliente: a operação deseja atingir, enquanto que o consumidor deseja perceber a qualidade. Em outras palavras, a operação foca em atingir as expectativas do cliente, buscando compreender o que ele deseja e o satisfaz, enquanto que o consumidor, ao adquirir um bem ou ser- viço, percebe a qualidade entregue pela operação. Logo, podemos definir ou resumir a qualidade como o fator que busca aproximar os objetivos do cliente e da organização. 165A produção e o consumidor 1. Clientes representam papel funda- mental para as organizações, pois é a eles que se destinam os bens e serviços por elas oferecidos. Podem ser segmentados em dez diferentes tipos, sintetizados por categorias e definições como: a) O cliente aliado, que apresenta bom humor e disposição para ajudar e fornecer feedback posi- tivo para facilitar o serviço. b) O cliente paciente, que não gosta de regras e sistemas, podendo causar problemas com outros clientes, que se sentem injustiçados. c) O cliente vítima, que raramente é passivo ou paciente e, fre- quentemente, causa problemas e estresse ao próprio serviço, merecendo trato cuidadoso. d) O cliente campeão, que apresenta comportamento inesperado, como declarar insatisfação em voz alta em um estabelecimento lotado. e) O cliente refém, que corresponde ao tipo de cliente que toda a empresa deseja possuir, pois de- monstra apoio aos funcionários e serviços, além de fazer comentá- rios positivos sobre a organização. 2. A ausência de ligação com o consu- midor, bem como de informações e de lealdade entre o consumidor e empresa são traços de uma: a) Abordagem transacional. b) Abordagem do crescimento de relacionamento. c) Abordagem de retenção do cliente. d) Classificação de gênero. e) Classificação por idade. 3. São fatores de qualidade para a definição das expectativas do cliente: a) Comprometimento, funcionários e segurança. b) Responsividade, comunicação e competência. c) Resultado do serviço, funcionários e instalações. d) Amabilidade, aparência e cortesia. e) Instalações. 4. É correto afirmar que: a) A qualidade percebida pelo cliente é um fator gerenciado exclusivamente pela empresa que oferece o produto ou serviço. b) Preço e marketing são fatores de qualidade do produto ou serviço. c) A percepção de qualidade é afetada apenas pela situação presente, sem sofrer a influência de experiências passadas. d) A expectativa do cliente pode apresentar seis diferentes níveis, entre eles o nível desejável, que corresponde ao desempenho que o cliente deve receber, dados os custos envolvidos na produção. e) A qualidade é uma via de mão dupla, entre operação e consu- midor. 5. A qualidade é vital para o desem- penho de qualquer organização, devendo ser considerada uma tarefa chave da administração da produção e operações. Neste sentido, a quali- Administração de produtos e serviços166 dade apresenta cinco abordagens, representadas pelas seguintes cate- gorias e definições: a) Abordagem baseada no produto, que percebe a qualidade como um sinônimo de excelência inata do produto oferecido. b) Abordagem baseada na manufa- tura, que se preocupa em propor- cionar produtos ou serviços livres de erros. c) Abordagem transcendental, que assegura que o produto ou ser- viço esteja adequado ao consu- midor e a seus interesses. d) Abordagem baseada no valor, que percebe a qualidade como um conjunto mensurável e pre- ciso de características, necessárias para satisfazer ao consumidor. e) Abordagem baseada no usuário, que defende que a qualidade deve ser percebida em razão ao preço do produto ou serviço. JOHNSTON, R. CLARK, G. Administração de operações e serviços. São Paulo: Atlas, 2002. SLACK, N. et. al. Administração da produção. ed. compacta. São Paulo: Atlas, 2006. SOLOMON, M. R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016. 167A produção e o consumidor Conteúdo:
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