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Livro-Texto Unidade III - História das Relações Internacionais

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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Unidade III
7 A GUERRA FRIA (1946-1989)
Falaremos sobre a história das relações internacionais de 1946 a 1989, partindo da gestação da 
ordem internacional bipolar, que prevaleceria durante toda a Guerra Fria, passando pelas distintas fases 
desse conflito, ora “quentes”, ora de fato “frias”, chegando até a queda do Muro de Berlim, episódio que 
simbolizou o fim do conflito ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética.
É correto dividir a Guerra Fria em quatro períodos. O “período quente” da Guerra Fria, ou seja, fase 
em que de fato existiu animosidade entre Estados Unidos e União Soviética, estendeu-se de 1947 a 
1955. A “coexistência pacífica”, período no qual os dois polos de poder puseram de lado as hostilidades 
para se tolerarem mutuamente, vigorou de 1955 a 1968. A “distensão”, período no qual Estados Unidos 
e União Soviética moveram esforços para pôr fim à Guerra Fria, estendeu-se de 1969 a 1979. E a “nova 
Guerra Fria”, período no qual Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos, fez ressurgir as 
“rivalidades naturais” entre capitalistas e socialistas, marcou quase toda a década de 1980.
Portanto, existiram diferentes matizes na ordem bipolar que caracterizou o cenário internacional 
durante a Guerra Fria, sendo insensato analisar o período como um todo contínuo e ininterrupto de 
rivalidades políticas, da forma como se aprende na Educação Básica.
 Observação
A expressão “distensão” foi empregada por José Flávio Sombra Saraiva 
em sua célebre obra História das relações internacionais contemporâneas, 
de 2007, como tradução de détente, que vem do francês.
7.1 Período “quente” da Guerra Fria
É curioso observar que, ao fim da Segunda Guerra Mundial, não existia rivalidade entre Estados 
Unidos e União Soviética. Na verdade, existia entre os dois países e a Grã-Bretanha, desde a Conferência 
de Teerã, realizada em 1943, passando pelas conferências seguintes, a de Yalta e a de Potsdam, ambas 
realizadas em 1945, uma aliança, ainda que frouxamente mantida, com o objetivo de lutar contra Hitler 
e punir a Alemanha pela campanha na Segunda Guerra Mundial (SARAIVA, 2007a).
Até aquele momento da história, os líderes das principais nações que saíram vitoriosas da Segunda 
Guerra Mundial, União Soviética, Estados Unidos e Grã-Bretanha, compartilhavam dos mesmos interesses, 
e parecia que nenhum deles vislumbrava possibilidades de antagonismo na ordem internacional que 
caracterizaria o mundo a partir dali.
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Unidade III
Saraiva (2007a) argumenta que fora George Frost Kennan o responsável por alertar Truman, ainda 
em 1945, acerca do que ele chamou de “antagonismo nato” entre capitalismo e socialismo:
George Frost Kennan, pai dos conceitos da guerra fria e conselheiro da 
embaixada norte-americana em Moscou, chamou a atenção de Truman, 
ainda em 1945, para algumas características da reinserção internacional da 
União Soviética no pós-guerra. Stalin não reconstruiria a economia soviética 
na lógica da abertura comercial ao Ocidente e não subordinaria as medidas 
de defesa do modelo da economia planificada e do projeto do socialismo às 
prebendas comerciais norte-americanas. O diplomata falava de sua crença 
no antagonismo nato entre o capitalismo e o socialismo e na percepção de 
que jamais a União Soviética admitiria uma comunidade de propósitos com 
Estados capitalistas (SARAIVA, 2007a, p. 198).
Tocados pelo alerta de Kennan, os Estados Unidos inauguraram uma nova política externa a partir de 
1947, levada a cabo pelo próprio Kennan, por George Marshall e por Dean Acheson, todos empenhados 
em conter as tendências expansionistas soviéticas. Essa nova política externa duraria até meados da 
década de 1950 e marcaria o período mais “quente” da Guerra Fria (DEFARGES, 1994).
Importante mencionar que tudo isso acontecia num momento que a União Soviética esperava 
pela assistência norte-americana para a sua reconstrução, a qual havia sido prometida por Roosevelt, 
antecessor de Truman, na Conferência de Teerã, em 1943 (WOODS, 1996).
Stalin tinha plena consciência dos revezes provocados pela Segunda Guerra Mundial na União 
Soviética: mais de 20 milhões de mortos, superioridade atômica dos Estados Unidos em contraste com 
a debilidade do projeto nuclear soviético e retrocesso da industrialização e agricultura. Sua tentativa 
de reconstrução do país sem parceiros ocidentais, baseada no reinício do processo de militarização 
das fronteiras, no recrudescimento da política de espaços na Europa Oriental e no aceleramento do 
projeto de desenvolvimento da bomba atômica, foi interpretada pelos Estados Unidos como um projeto 
expansionista (CERVO; DÖPCKE, 1994).
Nesse contexto, os Estados Unidos criaram medidas no campo político (Doutrina Truman), econômico 
(Plano Marshall e Ponto IV) e militar (criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan). 
A Doutrina Truman começou com um discurso ao Congresso dos Estados Unidos, cujo pretexto fora a 
crise política na Grécia, abalada por uma guerra civil e às beiras do comunismo. Na ocasião, Truman 
se dirigiu aos congressistas, em março de 1947, na tentativa de convencê-los a liberarem recursos 
da ordem de 400 milhões de dólares para conter o avanço dos movimentos comunistas na Grécia 
(SARAIVA, 2007a).
Ao lançar a Doutrina Truman, os Estados Unidos se colocaram na condição de condutor da campanha 
internacional contra o comunismo, ocupando o posto de “guardião do mundo” que até então havia sido 
reservado à Grã-Bretanha, agora incapaz de assumir a dianteira frente aos estragos causados por duas 
guerras mundiais.
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A Doutrina Truman não era um plano ou um programa, mas uma narrativa incorporada pelos Estados 
Unidos e replicada pelo mundo, uma filosofia de vida a partir daquele momento, conforme explica 
Saraiva (2007a, p. 201):
O discurso de Truman no Congresso foi uma peça primorosa da dimensão 
messiânica que os Estados Unidos dariam à guerra fria. O presidente insistiu 
que todas as nações teriam que enfrentar uma escolha fundamental entre as 
duas formas de vida. A primeira, aquela que primava pelas instituições livres 
e governos representativos. A segunda, a sustentada na vontade da minoria 
sobre a maioria. [...] A doutrina, fundamentada na concepção de liderança 
dos norte-americanos, expunha a crença de que se o país fracassasse na 
missão, haveria perigo à paz e à segurança da nação. A mensagem de 
Truman virou doutrina e associou-se à ideia de uma declaração informal 
de desafio à União Soviética.
O Plano Marshall foi a tradução econômica da Doutrina Truman, tendo sido concebido pelo secretário 
de Estado, George Marshall, também em 1947. A ideia surgiu depois que Marshall apercebeu-se de que 
os votos para candidatos comunistas haviam aumentado na Europa no imediato pós-guerra. Para o 
secretário, aqueles resultados indicavam uma debilidade das democracias ocidentais diante do avanço 
soviético, o que só poderia ser combatido através da reestruturação econômica da Europa ocidental, a 
qual seria levada a cabo pelos Estados Unidos (CHOTARD, 1991).
A partir do momento que o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Plano Marshall, os recursos 
começaram a ser solicitados pelos países europeus, montante que alcançou 17 bilhões de dólares 
entre 1947 e 1951 e ajudou a Europa Ocidental a se reerguer depois dos abalos causados pelas guerras 
mundiais (CHOTARD, 1991).
Não era a primeira vez que os Estados Unidos impunham sua força no contexto das relações 
econômicas internacionais. Antes disso, em 1944, na Conferência de Bretton Woods, a criação do Fundo 
Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial alavancou os Estados Unidos à posição de líder do 
projeto de reconstrução do capitalismo na Europa (SARAIVA, 2007a).
Muitos críticos chamaram o Plano Marshall de Plano de Auto-ajuda Marshall. A crítica faz sentido 
quando se considera que os recursos não eram liberados deliberada e gratuitamente para a Europa, 
mas estavamatrelados a um conjunto de condições, entre as quais, a compra de produtos oriundos 
dos Estados Unidos.
Contudo, nem todos os analistas pensavam assim, sobretudo aqueles ligados à política doméstica 
dos Estados Unidos, para os quais o Plano Marshall não se restringiu a uma iniciativa de governo, mas 
exigiu esforços dos cidadãos norte-americanos, os quais se comprometeram com a luta de George 
Marshall contra o comunismo.
Já o Ponto IV foi uma espécie de Plano Marshall direcionado à África e à Ásia. Criado em 1949, somente 
dois anos após o seu análogo, quando a Europa já se beneficiara bastante dos recursos dos Estados 
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Unidade III
Unidos, o Ponto IV era mais um esquema de cooperação técnica do que um projeto de reestruturação 
econômica e só podia socorrer aqueles que enfrentassem “clara ameaça comunista” (SARAIVA, 2007a).
Sobre o Ponto IV, Saraiva (2007a, p. 202) afirma o seguinte:
Engenharia econômica amplamente criticada pelos governos latino-americanos 
que haviam participado da aliança contra Hitler, o Ponto IV teve algum sucesso 
para a manutenção dos interesses norte-americanos na África e na Ásia. O Brasil, 
que se beneficiara da política de barganha durante a Segunda Guerra Mundial, 
viveu, na segunda metade da década, a frustração do declínio do financiamento 
norte-americano para o projeto desenvolvimentista. A diplomacia brasileira foi 
crítica da ajuda prioritária orientada a países que pouco contribuíram para a 
vitória aliada na Segunda Guerra Mundial.
O fato é que a América Latina há tempos se via longe das prioridades dos Estados Unidos, e o Ponto IV 
foi mais um “tapa na cara” de países como o Brasil, que esperavam receber mais do gigante do norte, 
sobretudo em forma de ajuda financeira.
Por fim, a Otan foi a medida militar tomada pelos Estados Unidos para limitar o avanço dos 
soviéticos. A organização, também criada em 1949, contava com a participação de doze países ocidentais 
comprometidos com o pacto de defesa contra as possíveis agressões da União Soviética e de seus aliados. 
Vale dizer que a Otan, baseada no princípio básico de defesa coletiva das liberdades democráticas dos 
países capitalistas, não foi aceita tão facilmente pelo Congresso dos Estados Unidos quanto o Plano 
Marshall, pois, além de envolver comprometimentos financeiros do país, exigia dele o abandono da 
tradicional prática de isolacionismo (SARAIVA, 2007a).
Os Estados Unidos não se defendiam do comunismo só externamente. No âmbito doméstico, o 
sistema político conduziu ações no sentido de controlar ameaças ideológicas. Assim, a promulgação da 
Lei de Segurança Nacional e a criação do Departamento de Defesa, da Agência Central de Inteligência 
(CIA) e do Conselho de Segurança Nacional foram justificadas pelo contexto específico da Guerra Fria 
(SARAIVA, 2007a).
A União Soviética não ficou indiferente aos movimentos dos Estados Unidos e buscou acompanhá-los, 
mesmo que lentamente, na empreitada ideológica. As primeiras medidas tomadas por Stalin consistiram 
no reinício do processo de militarização das fronteiras, no recrudescimento da política de espaços na 
Europa oriental e no aceleramento do projeto de desenvolvimento da bomba atômica (SARAIVA, 2007a).
Sobre a primeira medida, como já dito, ao término da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética 
havia perdido 20 milhões de homens, o que reduziu sobremaneira o seu efetivo militar, que mal alcançava 
3 milhões de homens em 1947, no início da Guerra Fria. Já no início dos anos 1950, Stalin já contava com 
um efetivo militar de cerca de 6 milhões de homens, lotados sobretudo no Exército (HOBSBAWN, 1995).
Já a segunda medida buscava aumentar a área de influência da União Soviética sobre o Leste Europeu, 
ou seja, sovietizar a Europa oriental. Foi nesse contexto que nasceu, na Conferência dos Nove Partidos, 
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
realizada em 1947, o Kominform, um escritório de informação política responsável por propagar a revolução 
comunista no mundo e o controle ideológico dos partidos comunistas no Leste Europeu. É correto dizer 
que o Kominform foi uma resposta à Doutrina Truman (HOBSBAWN, 1995).
Por fim, o primeiro experimento de bomba atômica pela União Soviética só aconteceu em 1949 e, 
juntamente com o desenvolvimento da pesquisa espacial, elevou o país à condição de igualdade com os 
Estados Unidos nesses dois campos (SARAIVA, 2007a).
Mas nem tudo correu conforme o esperado para Stalin. Nem todo o Leste Europeu quis atrelar-se 
de forma especial à União Soviética, que queria manter sob sua área de influência todos os países 
comunistas. Sobre isso, Saraiva (2007a, p. 205) afirma o seguinte:
A Europa Oriental era parte do Império Soviético: o controle político na 
região recrudesceu, o monitoramento e a planificação das economias foram 
ampliados e a regra do arbítrio foi imposta sobre as vozes dissonantes 
da democracia política. O argumento da força sobrepôs-se à força do 
argumento em quase todos os países da região. [...] Variadas formas de 
convivência foram estabelecidas no sistema intra-imperial soviético. 
Da dependência absoluta, nos casos da Hungria e da Polônia, à relativa 
soberania da Tchecoslováquia e da Iugoslávia, todos os países sob a esfera 
soviética sentiram o fortalecimento da política condominial conduzida 
por Stalin. A Tchecoslováquia, até o início de 1948, não se tinha ajustado 
plenamente ao jogo soviético na região, mas curvou-se depois da revolução 
de fevereiro de 1948. Tito, na Iugoslávia, herói das lutas antinazistas, evoluiu 
do pró-sovietismo puro para uma posição de equidistância em relação aos 
dois blocos depois das questões relativas à anexação de Trieste e à presença 
ostensiva de tropas soviéticas nas cidades iugoslavas.
A Iugoslávia acabou sendo expulsa do Kominform em 1948. Stalin chegou a ameaçar invadir o 
país como forma de reverter a subversão de Tito, mas acabou tendo de admitir a força do “titoísmo” e 
aceitar países autônomos dentro do que seria sua área de influência. Problemas desse tipo tiveram de 
ser enfrentados pela União Soviética durante toda a Guerra Fria (ZORGBIBE, 1995).
Enquanto isso, o resto do mundo também vivia, de alguma forma, as consequências da Guerra 
Fria. A Alemanha, dividida, servia de vitrine do conflito ideológico para o resto do globo, sendo que em 
Berlim existiam dois mundos: um ocidental, onde os Estados Unidos haviam injetado muito dinheiro, 
e a vida parecia alegre e próspera; outro oriental, de onde Stalin extraía as riquezas para utilizá-las na 
reconstrução da União Soviética, e a vida parecia triste e desprovida de perspectivas (SARAIVA, 2007a).
A América Latina, sem poder barganhar com os Estados Unidos, como quando ainda tinha a 
participação na Segunda Guerra Mundial como uma moeda de troca, foi relegada a segundo plano. 
O Brasil, sob a gestão de Eurico Gaspar Dutra, alinhou-se à política estadunidense de contenção 
do comunismo, chegando a cassar o Partido Comunista domesticamente, sempre esperando uma 
recompensa financeira dos Estados Unidos, a qual nunca chegou. A Argentina, com Perón na presidência, 
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Unidade III
buscou uma terceira via de inserção internacional. O México se alinhou ao vizinho do norte sem muita 
resistência. A Guatemala foi um caso expressivo, pois lá ascendeu um governo de esquerda, derrubado 
pela CIA em 1954 (VIZENTINI, 1994).
A África recebeu alguma influência soviética quando da fundação de movimentos nacionalistas 
e pan-africanistas, tais como o Partido Africano da Independência do Senegal, a Juventude do Togo, 
a União das Populações dos Camarões, o Congresso da Independência de Madagascar, o Movimento 
Popular de Libertação da Angola, entre outros. Porém, da mesma forma que a América Latina, a 
África não preocupava os Estados Unidos, e, de fato, nenhum alinhamento aos soviéticos veio de lá 
(ALBRIGHT, 1980).
A Ásia também viveu de forma intensa a Guerra Fria. A Coreia foi dividida em duas, a do Sul, 
capitalista, e a do Norte, comunista, não tendo sido desde entãoreunificada. A China foi perdida para 
o comunismo depois que, na guerra civil entre capitalistas e comunistas, Mao Tsé-Tung ascendeu ao 
poder com a ajuda de Stalin, o que fez com que os Estados Unidos se concentrassem na reconstrução 
japonesa (ZORGBIBE, 1995).
7.2 Coexistência pacífica
A flexibilização da bipolaridade marcou o período que vai de 1955 a 1968. É dessa característica que 
surgiu a expressão “coexistência pacífica”, sustentada pela percepção de que ambos os polos de poder 
estavam muito bem armados e que, por isso mesmo, se toleravam mutuamente. Sobre a diferença entre 
a “coexistência pacífica” e a “distensão”, período que sucedeu àquele, Saraiva diz (2007a, p. 212) que:
A coexistência pacífica, definida temporalmente entre 1955 e 1968, foi o 
segundo momento da ordem internacional construída nos estertores da 
Segunda Guerra Mundial. Alguns autores confundem “coexistência pacífica” 
com détente, mas Philippe Defarges e René Girault chamam a atenção para 
essa importante distinção de momentos históricos das relações internacionais. 
Poder-se-ia supor que o início do descongelamento das relações de poder da 
guerra fria nos anos 1950 corresponderia ao que alguns denominam “primeira 
détente” (GIRAULT et al, 1993, p. 310) ou antecedente da détente.
Assim, a “distensão” aconteceria mais tarde, de 1969 a 1979, e se referia a um período no qual as 
duas potências evidenciavam o desejo de pôr fim ao conflito, ao passo que a “coexistência pacífica” se 
referia a um período no qual as duas potências se toleravam pelo fato de ambas possuírem poder bélico 
suficiente para se destruírem.
A “coexistência pacífica” foi possibilitada por seis acontecimentos importantes no 
cenário internacional:
•	 recuperação econômica da Europa;
•	 flexibilização política nos Estados Unidos e na União Soviética;
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
•	 desintegração do bloco comunista;
•	 descolonização afro-asiática;
•	 inserção internacional própria da América Latina a partir de 1960;
•	 declínio gradual das armas nucleares.
A Europa ocidental fora reerguida pelo Plano Marshall e, nos anos 1950, se preparava para um novo 
passo no âmbito de sua integração regional, a criação da Comunidade Econômica do Carvão e do Aço 
(Ceca), em 1952, semente da União Europeia e de um fenômeno salutar para o continente (MENEZES; 
PENNA FILHO, 2006). Para os Estados Unidos, o processo de integração econômica europeia era muito 
oportuno, conforme afirma Saraiva (2007a, p. 219):
Os Estados Unidos, que viam o ressurgimento da força europeia como um 
bom muro de contenção ao comunismo, elogiaram a nova coesão regional 
dos seus parceiros no “Velho Continente”, Monnet foi recebido na Casa Branca 
com honras de chefe de Estado. Eisenhower chegou a afirmar, em fevereiro 
de 1957, durante a visita de Guy Mollet a Washington, que a integração 
europeia ocidental era o ponto de inflexão da história contemporânea 
do mundo livre. As vantagens de um amplo ambiente econômico para os 
investimentos das empresas norte-americanas na Europa entusiasmavam os 
governantes do gigante ocidental. O condomínio de poder flexibilizava-se 
para ampliar os ganhos da expansão do capitalismo. E isso era bom para os 
Estados Unidos também.
A Ceca foi criada em 1951 pelo Tratado de Paris por França, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica e 
Luxemburgo. A organização surgiu da ideia proposta por Jean Monnet, político francês, a Robert Schuman 
e Konrad Adenauer, chanceleres da França e da Alemanha, respectivamente. A ideia de Monnet era 
organizar a gestão do setor enérgico na região (sobretudo do mercado do carvão e do aço), estratégico 
para ambos os países, sob o controle de uma autoridade independente (MENEZES; PENNA FILHO, 2006).
 Saiba mais
Para ter acesso a uma análise mais aprofundada sobre a integração 
econômica europeia, leia:
MENEZES, A.; PENNA FILHO, P. Integração regional: blocos econômicos 
nas relações internacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
A flexibilização política ocorreu tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética. Nos Estados 
Unidos, Truman deixou a presidência em 1953, sendo substituído por Dwight Eisenhower e por uma 
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Unidade III
gestão marcada pela percepção de que o investimento em poderio bélico, por si só, não bastava para 
construir a legitimidade do país, como deixara evidente a Guerra da Coreia.
 Observação
A Guerra da Coreia mostrou aos Estados Unidos que o comunismo não 
deveria ser menosprezado, afinal, o lado norte da ilha sucumbiu aos avanços 
soviéticos, que por pouco não dominaram também o lado capitalista.
Já na União Soviética, também em 1953, Stalin deixou o poder, vítima de uma hemorragia cerebral, 
sendo sucedido por Nikita Kruschev, um político conhecido por suas tendências liberalizantes e por 
ter iniciado o processo de desestalinização do país, reforma que contribuiu para o fim do monolitismo 
soviético dentro do bloco de países comunistas (DEFARGES, 1994). Era evidente que, estando os dois 
líderes do “período quente” fora de cena, a flexibilização do conflito ocorreria naturalmente.
Sobre o início da desintegração do bloco comunista, Saraiva afirma que esse processo teve início na 
China de Mao Tsé-Tung e nos países do Leste Europeu:
A ruptura chinesa do monolitismo do poder da União Soviética sobre o mundo 
comunista, com o conflito sino-soviético no início dos anos 1960, mostrou 
que a satelitização – mesmo para países que conviviam em relação de 
dependência militar com os soviéticos, como a Hungria, a Tchecoslováquia e 
a Polônia – não mais se aplicava à realidade dos fatos. As crenças divergentes 
de alguns partidos comunistas, principalmente na Albânia e na Iugoslávia, 
associadas ao renascimento do nacionalismo, descaracterizaram a unidade 
comunista na Europa Oriental já nos anos 1950 (SARAIVA, 2007a, p. 213).
A China, sob a liderança de Mao, ansioso por tornar-se o teórico principal do comunismo 
internacional, se dissociou do comunismo soviético e virou um centro autônomo de poder em meio à 
ordem bipolar vigente. Além das ambições de Mao, os partidos comunistas chineses e soviéticos tinham 
suas divergências acerca da questão da energia nuclear, o que contribuiu para que a China tomasse 
rumos próprios, sobretudo a partir do momento que se iniciou a reforma do comunismo na União 
Soviética, empreendida por Kruschev (ZORGBIBE, 1995).
Mas a China não foi a única. A morte de Stalin fez explodir no Leste Europeu uma crise de lealdade 
dos partidos comunistas de diversos países, sendo que quatro deles – Albânia, Bulgária, Romênia e 
Tchecoslováquia – lograram formular um novo modelo de comunismo, relativamente dissociado do 
modelo stalinista. A Iugoslávia, desde os tempos de Stalin dissociada da União Soviética, recebia como 
boas novas esses acontecimentos. Já a Polônia e a Hungria não tiveram êxito nessas tentativas de 
dissociação naquele momento, já que a União Soviética propôs soluções que mantinham esses países sob 
sua influência e ao mesmo tempo garantiam relativa abertura política e inovação no setor econômico 
(ZORGBIBE, 1995).
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A descolonização da África e da Ásia também contribuiu para a existência da “coexistência pacífica” 
a partir do momento que se multiplicaram no cenário internacional os Estados com soberania formal, 
ainda que consistissem em nações atrasadas sob muitos aspectos. O fato é que a participação desses 
novos atores nos organismos multilaterais, sobretudo na ONU, colocou-os em pé de igualdade jurídica 
com suas antigas metrópoles, bem como com os Estados Unidos e com a União Soviética, embora ainda 
tivessem pouco poder de barganha nesses espaços (SARAIVA, 2007a).
Nesse sentido, a Conferência de Bandung marcou o início da manifestação dos países não alinhados 
nas relações internacionais:
Bandung marcou o início da manifestação espetacular de um terceiro 
grupo de Estados nas relações internacionais. Procuraram nortear, desde os 
primeiros momentos, sua vontade pela equidistânciaem relação aos dois 
mundos – o do liberalismo capitalista ocidental e o da economia socialista 
planificada. Sua força residia, portanto, na busca de uma outra alternativa 
de inserção internacional, mais independente e autônoma, menos alinhada 
e dependente (SARAIVA, 2007a, p. 221).
Os Estados Unidos e a União Soviética acompanharam os movimentos das nações recém-independentes. 
Os Estados Unidos se encarregaram de montar um pacote com o objetivo de afastar os soviéticos desses 
países, incluindo estratégias como a concessão de bolsas de estudo para jovens do continente africano, 
a ajuda financeira, a distribuição de alimentos, o recurso à ONU para despolitizar os auxílios à África, a 
assistência técnica, a cooperação educacional, o estabelecimento de um Fundo das Nações Unidos para 
o Congo, a ajuda militar a alguns países para a salvaguarda de sua segurança, a criação da Associação 
Internacional de Desenvolvimento (AID) e um fundo de ajuda ao desenvolvimento do Banco Mundial 
(ALBRIGHT, 1980).
A União Soviética também fez seus investimentos, criando, em Moscou, a Universidade da Amizade, 
que depois passou a levar o nome de Instituto Patrice Lumumba, aberta aos estudantes africanos, 
latino-americanos e asiáticos com o objetivo de formá-los para liderar experiências socialistas em seus 
países. Além disso, os empréstimos soviéticos para a África garantiram os laços entre as duas regiões nos 
primeiros anos do pós-independência (ALBRIGHT, 1980).
A relativa autonomia da América Latina foi também fator importante. Na Argentina, Arturo 
Frondizi inaugurou uma nova era de política externa, na qual os interesses argentinos passaram a 
ser definidos fora da órbita das potências, sobretudo dos Estados Unidos. No Brasil, Jânio Quadros 
inaugurou a Política Externa Independente (PEI), concebida para contribuir com a política nacional 
de desenvolvimento econômico e social e para diversificar os laços internacionais do Brasil. Jânio, 
o idealizador da PEI, defendia que o país tinha condições geopolíticas e econômicas necessárias 
(território, população e desenvolvimento industrial) para assumir um papel de protagonismo nas 
relações internacionais, opinião da qual Goulart compartilhou quando assumiu a presidência, 
continuando a PEI (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014). A seguir, os princípios da PEI:
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Unidade III
1) Respeito aos compromissos e à posição tradicional do Brasil no mundo livre;
2) Ampliação dos contatos com todos os países, inclusive os do 
mundo socialista;
3) Contribuição constante e objetiva à redução das tensões internacionais, 
quer no plano regional, quer no mundial;
4) Expansão do comércio externo brasileiro;
5) Apoio decidido ao anticolonialismo;
6) Luta contra o subdesenvolvimento econômico;
7) Incremento das relações com a Europa, em todos os planos;
8) Reconhecimento e atribuição da devida importância aos interesses e 
aspirações comuns ao Brasil e às Nações da África e da Ásia;
9) Estabelecimento e estreitamento de relações com os Estados africanos;
10) Fidelidade ao sistema interamericano;
11) Continuidade e intensificação da Operação Pan-Americana;
12) Apoio constante ao programa de Associação do Livre Comércio 
Latino-Americano;
13) A mais íntima e completa cooperação com as Repúblicas irmãs da 
América Latina, em todos os planos;
14) Relações de sincera colaboração com os Estados Unidos, em defesa do 
progresso democrático e social das Américas;
15) Apoio decidido e ativo à Organização das Nações Unidas para que ela 
se constitua na garantia efetiva e incontestável da paz internacional e da 
justiça econômica (RBPI, 1961, p. 133).
 Observação
A PEI não negava a tradição diplomática do país nem desfazia os 
laços com as grandes potências, mas apenas atualizava a política exterior 
brasileira em conformidade com a tendência mundial.
129
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O fato é que, mesmo mantendo princípios anteriores de relações com os Estados Unidos, Jânio 
irritou o governo estadunidense. Uma vez no poder, reatou relações diplomáticas com a União Soviética, 
rompidas desde 1947 (as relações comerciais não haviam sido descontinuadas). Pouco tempo depois, 
recebeu de forma fria o enviado especial dos EUA, Adolf Berle Jr., que havia viajado a Brasília para 
conversar sobre a questão cubana e ouviu de Jânio que o Brasil se oporia a qualquer tipo de intervenção 
na ilha. Por fim, condecorou Ernesto Che Guevara, líder revolucionário de Cuba, com a Grã-Cruz da 
Ordem do Cruzeiro do Sul, a maior comenda do governo brasileiro (GARCIA, 2005).
Nesse período, o Brasil de fato diversificou seus laços internacionais, criando legações do Brasil na 
Bulgária e na Albânia, elevando a embaixadas as legações do Brasil na Polônia e no Irã, inaugurando 
embaixadas no Senegal, na Costa do Marfim, na Nigéria e na Etiópia e restabelecendo relações 
diplomáticas com a Hungria e a Romênia, rompidas desde a Segunda Guerra Mundial (GARCIA, 2005).
Porém, há que se considerar que a política externa brasileira para a África não conseguiu romper 
com a visão romantizada em relação a Portugal, com quem o Brasil manteve a parceria quando se 
tratava da independência das colônias africanas, e que o restabelecimento de relações diplomáticas com 
a União Soviética não significou necessariamente simpatia ideológica pelo regime soviético, conforme 
argumentou o próprio Itamaraty (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Essa relativa autonomia do Brasil, imitada por alguns vizinhos, principalmente pela Argentina, 
mostrou que a América Latina realmente teve uma inserção internacional própria ao longo da década de 
1960 e contribuiu com a “coexistência pacífica”, na medida em que deixou de ser o “quintal” dos Estados 
Unidos. O México foi uma exceção, guardando sua postura de dependência em relação ao seu vizinho do 
norte, e outros, como o Paraguai, a Bolívia e as repúblicas da América Central, patinaram sem conseguir 
sair do lugar e não lograram elaborar uma agenda própria de reinserção internacional (SUÁREZ, 1975).
Por fim, o declínio gradual das armas nucleares também merece destaque, conforme afirma Saraiva 
(2007a, p. 214):
O caráter amplamente destrutivo das armas e seu monopólio em clube 
restrito tornaram as próprias superpotências reféns de seus arsenais. Esse 
bizarro equilíbrio do terror, perpetuado ao longo do período, produziu a 
“tragicomédia”. Portadores de sofisticadíssima potencialidade nuclear, 
norte-americanos e soviéticos foram obrigados a enfrentar-se nas guerras 
da Coreia e do Vietnã sem o uso das armas atômicas. O medo generalizado, 
cristalizado na opinião pública mundial, da iminência de uma terceira 
guerra mundial, e última, limitava as hipóteses de suicídio mundial pelo uso 
indiscriminado e descontrolado dos armamentos atômicos.
Esses seis fatores amenizaram o peso da Guerra Fria, tornando os anos 1960 menos inseguros do que 
os dois decênios anteriores, tendência que permaneceria e até se acentuaria durante a “distensão”. Mas 
não se pode esquecer que, mesmo na “coexistência pacífica”, houve momentos de tensão, representados 
principalmente pela construção do Muro de Berlim, separando a Alemanha ocidental da oriental em 
1961, e pela Crise dos Mísseis de Cuba, ocorrida no ano seguinte.
130
Unidade III
 Observação
O Muro de Berlim só seria derrubado em 1989, simbolizando o 
fim da Guerra Fria.
A Crise dos Mísseis foi o momento de maior tensão da “coexistência pacífica”. Em 1961, os Estados 
Unidos instalaram mísseis nucleares na Turquia, atitude que gerou desagrado nos soviéticos e que 
causou preocupação pela possibilidade de um ataque através de uma posição muito privilegiada. Na 
mesma época, os Estados Unidos também tentaram invadir Cuba devido ao regime socialista que vigiava 
a ilha e avançava nela.
No dia 14 de outubro de 1962, os Estados Unidos divulgaram fotos, coletadas através de um voo 
secreto sobre Cuba, que denunciavam a instalação de mísseis nucleares soviéticos na ilha. O então 
presidente estadunidense, John Kennedy, tratou de comunicarsua população do risco iminente e 
encarou o fato como um ato de guerra. Do lado soviético, Kruschev alegou que a base consistia apenas 
numa ação defensiva e servia também para impedir uma nova invasão na ilha. No dia 28 de outubro, 
ficou acordado que a União Soviética retiraria imediatamente os mísseis de Cuba, e que os Estados 
Unidos retirariam em até cinco anos os mísseis da Turquia (ALLISON, 1969).
Esse episódio mexeu com a opinião pública nos Estados Unidos. Por um lado, muitas manifestações 
ocorreram no sentido de acalmar os ânimos e pedir a Kennedy que tratasse do conflito com cautela. 
Por outro lado, grupos domésticos nos Estados Unidos, como os militares e os republicanos, criticaram a 
forma como Kennedy levou a questão, considerando o presidente “frouxo” no trato com a União Soviética.
A querela exigia cuidado, uma vez que tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética possuíam 
armamento nuclear.
7.3 Distensão
Apesar da “distensão” começar apenas em 1969, para Saraiva (2007a), o ano de 1962 é considerado 
um marco entre a “coexistência pacífica” e a “distensão”, já que a acomodação das crises de Berlim e 
de Cuba anunciou um período de concertação entre Estados Unidos e União Soviética, ainda que os 
conflitos ideológicos na Ásia, na África e no Oriente Próximo persistissem (VAISSE, 1991).
Alguns episódios caracterizaram de forma marcada a “distensão”. O primeiro desses episódios foi 
a conclusão do Tratado de Não Proliferação (TNP), em 1968, após três anos de negociações. O TNP 
estabeleceu que (SARAIVA, 2007a):
•	 todos os países que não haviam realizado experimentos nucleares até 1967 seriam incluídos na 
categoria de países não nucleares;
131
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
•	 todos os países que já vinham realizando experimentos nucleares congelariam para si 
o poder nuclear;
•	 todos os países nucleares renunciariam ao desenvolvimento e à aquisição de armas nucleares 
em troca de tecnologias nucleares para fins pacíficos e se submeteriam à inspeção da Agência 
Internacional de Energia Atômica (Aiea), fundada em 1956 pela ONU.
O TNP foi assinado pelos Estados Unidos, pela União Soviética e pela Grã-Bretanha, mas rejeitado 
pela China e pela França, que naquele momento estavam voltadas para a construção da bomba 
de hidrogênio, projeto que poderia ser frustrado pelo tratado. Alemanha, Itália, Bélgica e Japão 
aborreceram-se com as restrições impostas pelo TNP, pois os deixavam em desvantagem a partir 
do momento que os incluíssem na categoria de países não nucleares. Índia, Brasil, Israel, Paquistão, 
Cuba e Argentina recusaram-se a firmar o tratado por considerarem-no discriminatório, já que o 
texto impedia o fomento da indústria nuclear nos países que não possuíam tecnologia desse tipo, 
mas não impedia o aumento dos arsenais nucleares nos países que já possuíam tecnologia desse 
tipo (GARCIA, 2005).
Sobre o Brasil, é importante dizer que, embora tenha se recusado a assinar o TNP, buscou negociar 
com os países da América Latina uma política nuclear, já tendo inclusive assinado o Tratado de Tlatelolco 
em 1967, o que simbolizou um marco da vontade própria da América Latina em definir e implementar 
uma política nuclear regional. Argentina e Brasil chegaram a dominar o ciclo nuclear antes de concluir 
o processo de ratificação do Tratado de Tlatelolco em 1994 (SARAIVA, 2007a).
 Observação
O Brasil só aderiu ao TNP em 1997, já na gestão de Fernando Henrique, 
no contexto da adesão brasileira a diversos regimes internacionais.
O segundo episódio desse novo tempo foi o Tratado Salt, assinado em 1974 com o objetivo de limitar 
o uso de armas estratégicas, levando quatro anos para ser negociado e exigindo uma série de reuniões 
entre Estados Unidos e União Soviética. O Tratado Salt se desdobrou em duas partes, conforme explica 
Saraiva (2007a, p. 235):
O processo Salt de negociação seria desdobrado em duas partes: um acordo 
provisório inicial e um tratado. Em maio de 1972 era assinado, em Moscou, 
por Nixon e Brejnev, o acordo Salt, que previa o congelamento, por cinco 
anos, do desenvolvimento e da produção de armas estratégicas, bem 
como o controle sobre os mísseis intercontinentais e lançadores balísticos 
submarinos. Era a segunda vez que os dois países realmente assumiam a 
responsabilidade internacional pelo controle de armamentos nucleares. 
Ampliava-se, de fato, a política da détente.
Foi no contexto do Tratado Salt que ocorreu a primeira visita oficial de um presidente dos Estados 
Unidos à União Soviética. De 1972 a 1974, os dois chefes de Estado se reuniram quatro vezes. 
132
Unidade III
A figura a seguir é um registro da quarta reunião entre os países, em 1974, quando Ford e Brejnev 
finalmente assinaram o Tratado Salt.
Figura 23 – Ford e Brejnev assinando o Tratado Salt
A concertação na política mundial nuclear permitiu ainda reativar entre os dois blocos fluxos 
comerciais e financeiros estagnados. Nesse sentido, o Ato Administrativo de Exportação, de 1969, e a 
Emenda Jackson, de 1974, contribuíram para a elevação do volume de comércio entre Estados Unidos e 
União Soviética de 200 milhões de rublos em 1971 para 3 bilhões de rublos em 1979 (SARAIVA, 2007a).
O Ato Administrativo de Exportação facilitou a criação de mecanismos de intercâmbio comercial 
com os países do Leste Europeu, flexibilizando as regras anteriores de controle das exportações de 
materiais sensíveis. A Emenda Jackson garantiu aos soviéticos, nos Estados Unidos, as vantagens 
da cláusula da nação mais favorecida (VAISSE, 1991).
Mas a “distensão” não significou uma concertação sem arestas, conforme argumenta Saraiva 
(2007a, p. 237):
Esses resultados comerciais não justificam, todavia, a visão simplista das 
diferenças e desinteligências vividas pelos dois países na década de 1970. 
A convivência tolerante não significou a inexistência de tensões entre 
Moscou e Washington. Permaneceram problemas de herança da guerra 
fria em algumas áreas. Alguns eram ainda tributários das negociações do 
imediato pós-guerra: o status de Berlim, a divisão da Alemanha e a questão 
fronteiriça da Polônia. Berlim Ocidental, incrustrada na Alemanha Oriental, 
vivia o drama do difícil acesso ao Ocidente. Longas negociações permitiram, 
em setembro de 1971, a convivência entre as quatro potências presentes em 
Berlim. A aceitação soviética da autonomia de Berlim foi um grande passo 
para a reconciliação gradual entre as duas Alemanhas.
133
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A “distensão” também ocorreu fora do relacionamento bilateral entre as duas superpotências. 
A Conferência de Helsinki sobre a segurança e a cooperação na Europa, realizada em 1975, com a presença 
dos Estados Unidos e da União Soviética, evidenciou que a Europa também buscava seu próprio espaço 
de poder no cenário internacional e mostrava espírito desarmado acerca das desconfianças seculares 
que existiam no continente (SARAIVA, 2007a).
Assim, a “distensão” foi reforçada pela diversidade de interesses nas relações internacionais, muitos 
dos quais distantes das opções entre capitalismo e socialismo. A Europa voltou-se para si mesma no 
esforço de promover a integração econômica regional através da União Europeia. A América Latina (ou 
pelo menos parte dela e principalmente o Brasil), há bastante tempo ignorada pelos Estados Unidos, 
distanciou-se relativamente do alinhamento automático para buscar neutralidade. A Ásia, de onde 
brotaram polos de poder, e a África, envolvida numa nova onda de independências, também passaram 
a preocupar-se com as dinâmicas regionais que as afetavam em substituição ao dilema Estados 
Unidos x União Soviética (SARAIVA, 2007a).
Vale ressaltar que nasceu desses desenrolares próprios, pelo menos no Terceiro Mundo, uma ilusão 
de igualdade com os países ricos, que logo caiu por terra na medida em que suas reivindicações não 
eram ouvidas. Nesse sentido, as tentativas dos países em desenvolvimento de substituir o diálogo 
leste x oeste pelo diálogo norte x sul foram esvaziadas,expondo percepções que, na verdade, não 
passavam de ilusões (SARAIVA, 2007a)
Por fim, a intranquilidade econômica também marcou a “distensão”. A década de 1970 assistiu a 
duas crises energéticas, uma em 1973 e outra em 1979, sendo que ambas afetaram países em todos os 
rincões do globo, de pobres a ricos, passando por emergentes, e precipitaram a crise da dívida externa 
nos países em desenvolvimento (PIRES, 2010).
A origem da crise econômica tem uma explicação simples. Quando do primeiro choque do petróleo, 
em 1973, a elevação dos preços do petróleo fez com que se concentrasse nos países da Organização dos 
Países Exportadores de Petróleo (Opep) uma soma de divisas que não possuíam aplicação imediata. Diante 
da situação, mesmo sendo remunerados a taxas negativas de juros, os membros da Opep decidiram investir 
seus capitais em bancos da Europa e dos Estados Unidos. Naquela época, a recessão que assombrava os 
países industrializados fez com que os investimentos fossem adiados, o que deixou recursos, que puderam 
ser emprestados aos países em desenvolvimento, empenhados em acelerar o processo de industrialização. 
Tal postura serviu para que os efeitos da recessão nos países industrializados não fossem tão grandes, 
uma vez que as nações em desenvolvimento abriam mercado para seus produtores de bens de capital, 
estimulando o emprego e a renda (PIRES, 2010).
Para os países tomadores de crédito, parecia ser um bom negócio superar as restrições ao crescimento 
e empreender políticas expansivas com capitais externos. Mas, a partir da década de 1980, influenciada 
pela política monetária dos Estados Unidos, a taxa de juros aumentou consideravelmente, impedindo os 
países tomadores de quitar seus débitos e mergulhando-os em terríveis crises econômicas (PIRES, 2010).
Como se vê, a crise econômica tirou o foco do confronto bipolar. Tudo indicava que os anos de 
Guerra Fria haviam sido deixados para trás diante da emergência de novas aflições internacionais.
134
Unidade III
7.4 Nova Guerra Fria
Durante praticamente todo o pós-guerra, os Estados Unidos ocuparam o lugar de hegemonia mundial 
e predominaram, consequentemente, em dois aspectos, primeiro sobre os negócios internacionais e 
segundo sobre a segurança internacional.
Sobre a liderança no regime internacional de comércio e negócios, Saraiva (2007a, p. 262) afirma que:
A primeira [a hegemonia] era assegurada pela sua singular força econômica, 
comercial e tecnológica em face dos parceiros capitalistas tradicionais 
– Europa Ocidental e Japão, que empreendiam a reconstrução de seus 
aparelhos econômicos destruídos pela guerra –, mas também pelo relativo 
controle exercido sobre as instituições de Bretton Woods – FMI, Banco 
Mundial e GATT –, que determinavam o padrão de comportamento esperado 
de economias colocadas em situação de interdependência no quadro de 
uma mesma ordem liberal-capitalista. Praticamente dois terços dos fluxos 
internacionais de bens, serviços e capitais eram feitos entre os próprios 
países capitalistas desenvolvidos – ou seja, membros da Organização 
de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), criada em 1960 a 
partir da antiga Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE) 
organizada em 1948 para administrar a ajuda dos Estados Unidos à Europa 
– uma vez que os países socialistas e em desenvolvimento detinham parcela 
diminuta dessas correntes de intercâmbio global.
Já sobre a liderança no regime internacional de segurança, a supremacia dos Estados Unidos era 
assegurada por um sistema de alianças regionais que abarcava praticamente todo o globo. A primeira 
dessas alianças regionais, selada ainda no Governo Truman, em 1947, foi o Tratado Interamericano de 
Assistência Recíproca (Tiar), firmado entre os países americanos como instrumento jurídico destinado a 
promover a defesa da América Latina contra agressões externas (GARCIA, 2005).
Do Tiar, derivaram outras alianças (COUTEAU-BÉGARIE, 1985):
•	 União da Europa Ocidental (UEO), 1948;
•	 Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), 1949;
•	 Tratados de Defesa com a Austrália e a Nova Zelândia (Anzus), 1951;
•	 Tratados de Defesa com o Japão, 1951;
•	 Organização do Tratado do Sudeste Asiático (Otase), 1954;
•	 Pacto de Bagdá, 1955;
•	 Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), 1965.
135
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Por isso, passado o período de “distensão”, ou seja, a partir de 1979, a União Soviética, após tantos 
esforços, muitos dos quais empreendidos sem recursos, não tinha mais condições de sustentar o 
antagonismo em relação aos Estados Unidos. Mas foi a própria União Soviética quem enterrou o período 
de “distensão” ao invadir o Afeganistão em 1979, ação seguida pela incitação da guerra civil angolana 
e pelo desenvolvimento de novos sistemas de mísseis com ogivas múltiplas (SS-20) (KENNEDY, 1987).
A partir daí, o governo Reagan, republicano, só respondeu às crescentes ameaças do “império do 
mal”, conforme explica Saraiva (2007a, p. 264):
Com a invasão do Afeganistão e algumas outras iniciativas soviéticas 
em países africanos, as negociações para um eventual Salt II ou para uma 
delimitação geográfica das zonas permitidas de instalação de sistemas de 
defesa antimísseis ficaram irremediavelmente comprometidas e o presidente 
Ronald Reagan decide tentar reviver a ordem mundial da pax americana. 
O lançamento, em 1983, de um “projeto de defesa contra os mísseis balísticos”, 
mais conhecido como Iniciativa de Defesa Estratégica (ou “Guerra nas Estrelas”), 
a um custo de mais de 26 bilhões de dólares, colocou a União Soviética frente 
à difícil escolha entre aumentar ainda mais sua superioridade “quantitativa” 
no terreno europeu ou levantar o desafio “qualitativo” colocado pelos Estados 
Unidos num terreno que ameaçava provocar a desestabilização do status quo 
militar e tornar obsoletos os sistemas conhecidos de dissuasão nuclear.
O projeto “Guerra nas Estrelas” foi amplamente criticado pela opinião pública estadunidense, 
preocupada com o aumento do orçamento voltado para defesa e segurança. Isso porque a União Soviética 
já não podia mais se lançar numa competição militar com os Estados Unidos, mas estes também não 
dispunham dos excedentes econômicos que permitiram construir, no imediato pós-Segunda Guerra, o 
Império Estadunidense e a recuperação europeia. Daí a opinião pública dos Estados Unidos não estar a 
favor de Reagan na “nova Guerra Fria”. Gorbatchev acabou retirando as tropas soviéticas do Afeganistão 
em 1988, quando a União Soviética já estava a um passo da desintegração (VAN DER WEE, 1990).
Além de ter ficado extremamente oneroso para o contribuinte estadunidense, o projeto “Guerra nas 
Estrelas” levantou dúvidas sobre sua funcionalidade. Os especialistas discutiam na época se o sistema 
defensivo de armas espaciais capazes de impedir um ataque nuclear contra o território dos Estados 
Unidos realmente funcionaria diante de um ataque de tamanhas proporções. Curioso mencionar que, 
apesar de todas as críticas dirigidas a Reagan por causa dessa iniciativa, ele acabou sendo reeleito para 
a presidência dos Estados Unidos no termo seguinte.
 Observação
A Iniciativa de Defesa Estratégica, muito criticada dentro dos Estados 
Unidos, ganhou o apelido de “Guerra nas Estrelas” por parecer ficção 
científica. Em 1983, quando Reagan lançou o projeto, a franquia de George 
Lucas, Star Wars, já estava em seu terceiro longa-metragem.
136
Unidade III
Gorbatchev tentou negociar, mas Reagan se mostrou irredutível. Assim, ao mesmo tempo que 
reconheceu a impossibilidade de continuar uma “nova Guerra Fria”, Gorbatchev iniciou em 1985 a 
política de abertura política (Glasnost) e econômica (Perestroika), que daria fim ao regime soviético 
(SARAIVA, 2007a).
A partir daí, o pluripartidarismo voltou a ser aceito na União Soviética (contexto no qual Boris Iéltsin, 
ultrarreformista e futuro líder da nação, fundou a Plataforma Democrática), e muitos países do Leste 
Europeu, até então socialistas,viram líderes da resistência ao comunismo tomarem o poder. E assim 
começou a abertura da “cortina de ferro”, expressão utilizada para designar a divisão do mundo em duas 
partes (MORAES; FRANCO, 2014).
Em 1991, Gorbatchev foi vítima de um golpe de estado orquestrado pelo Partido Comunista, resistente 
à política de abertura, mas Iéltsin, oportunista, se mostrou “solidário” a Gorbatchev e logrou contornar 
o golpe do Partido Comunista, assumindo a presidência da União Soviética (MORAES; FRANCO, 2014).
Enquanto líder soviético, a prioridade de Yeltsin era manter a unidade da União Soviética, ou seja, 
impedir que as repúblicas soviéticas se tornassem independentes, no que não obteve sucesso, pois a 
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas acabou cedendo espaço a 11 nações independentes, 
a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), em 1991, quando o Muro de Berlim já havia caído há 
dois anos, evidenciando a derrocada do socialismo (MORAES; FRANCO, 2014).
 Lembrete
A queda do Muro de Berlim simbolizou a reunificação da Alemanha, que 
antes estava dividida entre Alemanha Ocidental, capitalista, e Alemanha 
Oriental, socialista.
A partir de 1991, não existia mais União Soviética, e sim Rússia, Bielo-Rússia, Ucrânia, Moldávia, 
Armênia, Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Tajiquistão e Quirguistão. A Letônia, a 
Lituânia e a Estônia, países bálticos, nunca fizeram parte da CEI. A Geórgia foi membro da organização 
de 1994 a 2008. E o Turcomenistão deixou a CEI em 2005 (MORAES; FRANCO, 2014).
Os países que antes eram alinhados à União Soviética tomaram rumos próprios. Na Romênia, em 
1989, o ditador Nicolae Ceausescu, que conduzira uma das ditaduras mais violentas da região, após 
muitas manifestações populares duramente reprimidas, acabou por ser fuzilado junto com a esposa, 
episódio que foi televisionado para o mundo todo. Na Albânia, em 1991, manifestantes derrubaram, na 
praça principal de Tirana, a estátua do ex-ditador comunista Enver Hoxha e protagonizaram as primeiras 
eleições livres e democráticas (as quais os comunistas acabaram ganhando) (MORAES; FRANCO, 2014).
137
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Observação
Os eleitores albaneses não permitiram que os comunistas vencessem 
fácil as eleições de 1991. O Partido Socialista teve de ser repaginado e o 
presidente eleito teve de substituir seu gabinete, além de comprometer-se 
com o desenvolvimento da economia de mercado na Albânia.
Na Tchecoslováquia, em 1993, as manifestações pacíficas, justamente por essa característica, 
levaram o nome de “Revolução Veludo”, cujo desfecho foi a divisão do país em dois, a República Tcheca 
e a Eslováquia. A Tchecoslováquia existia desde o fim da Primeira Guerra Mundial, abarcando dois povos 
– os tchecos no Ocidente e os eslovacos no Oriente – que nutriam um pelo outro forte sentimento 
separatista (MORAES; FRANCO, 2014).
Na Iugoslávia, já não havia mais Tito, que morrera em 1980, mas a unidade continuava, a despeito 
dos sentimentos separatistas dos muitos povos que formavam a nação (servos, croatas, eslovenos, 
bósnios, macedônicos e montenegrinos) e das duas províncias autônomas encravadas no território da 
Sérvia (Kosovo e Voivodina). Com a queda da União Soviética, a Eslovênia foi a primeira a declarar 
independência (1991), seguida pelas outras, sendo a última Kosovo (2008) (MORAES; FRANCO, 2014).
Enquanto isso, na Rússia, em 1992, Iéltsin anunciou um programa radical de desestatização e 
liberalização econômica. A transição provocou muitos problemas econômicos, e Iéltsin enfrentou forte 
oposição do Legislativo, que tentou tirá-lo do poder, ao que ele respondeu com um bombardeio na sede 
do parlamento, matando mais de 300 pessoas. Apoiado pelas Forças Armadas e pelos Estados, Iéltsin 
aprovou uma nova constituição na Rússia, que reforçava seu poder, e nunca chegou a ser punido pelo 
atentado contra o parlamento (MORAES; FRANCO, 2014).
Em 1994, Iéltsin ordenou a intervenção militar na Chechênia, autodeclarada independente desde 
1991, uma situação que ainda não foi resolvida, sendo a região considerada uma república da federação 
russa submetida a Moscou. Em 1998, Iéltsin decretou a moratória, condição na qual o país admite ser 
incapaz de saldar suas dívidas, o que afetou os mercados financeiros de todo o planeta e fez com que 
neocomunistas reclamassem o poder, sem êxito. Em 1999, a atuação russa foi essencial para o tratado 
de paz em Kosovo. Em 1999, Iéltsin renunciou e foi substituído pelo então premier, Putin, que, em 2000, 
foi eleito presidente da Rússia e permanece no poder desde então (MORAES; FRANCO, 2014).
Nas outras regiões, em nações que haviam sido afetadas pela dinâmica da Guerra Fria, a derrocada 
do socialismo também deixou suas marcas. Na África, por exemplo, Moçambique e Angola ilustram isso. 
Nesses países, após a expulsão dos portugueses, na década de 1970, as facções que lutavam contra o 
colonialismo entraram em guerra civil pela disputa do poder (MORAES; FRANCO, 2014).
Em Angola, o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), que ocupava o poder e era apoiado pela 
União Soviética, e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), oposição apoiada 
138
Unidade III
pelos Estados Unidos, protagonizaram uma guerra civil que só acabou em 1994, após a intermediação 
da ONU (MORAES; FRANCO, 2014).
Em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), que ocupava o poder e era 
apoiada pela União Soviética, e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), oposição apoiada pelos 
Estados Unidos e pela África do Sul, protagonizaram uma guerra civil que em tese já não existe, embora 
a Frelimo nunca tenha dado abertura política para a Renamo (MORAES; FRANCO, 2014).
Com o fim da Guerra Fria e o consequente abandono desses países pelos Estados Unidos e pela União 
Soviética, a miséria se intensificou. Cuba e Coreia do Norte persistiram no socialismo, o que deteve seu 
desenvolvimento em longo prazo, sendo hoje referências de países que não alcançaram seu potencial 
econômico por conta das debilidades de uma economia socialista (MORAES; FRANCO, 2014).
Na China, após a morte de Mao, em 1976, Deng Xiaoping iniciou a política das quatro grandes 
modernizações (indústria, agricultura, ciência e tecnologia e Forças Armadas), criando Zonas Econômicas 
Especiais (ZEEs), abertas ao investimento estrangeiro, e permitindo a propriedade privada no campo, 
mas reprimiu ferozmente a sociedade civil chinesa quando esta pediu pela democratização. Ou seja, a 
China persistiu no socialismo no campo político, mas fez reformas no campo econômico, de modo que, 
hoje, tem uma economia aberta, 70% privatizada, mas se denomina socialista e representa uma ditadura 
(MORAES; FRANCO, 2014).
8 O MUNDO GLOBALIZADO (1990-)
Falaremos sobre a história das relações internacionais de 1990 aos dias atuais, partindo desde a 
discussão acerca do caráter da ordem mundial pós-Guerra Fria, passando pelos processos intensificados 
pela Globalização ao longo dos anos 1990, tal como a integração regional, e chegando até os dias de 
hoje, marcados por um possível fenômeno de “desintegração regional” estimulado pelo ressurgimento 
do nacionalismo em muitas partes do mundo.
Existe hoje uma discussão em torno da configuração da ordem mundial. A partir da derrocada 
do socialismo, não se teve mais uma noção clara sobre a balança de poder do sistema internacional. 
Durante o século XIX, existiu o consenso de que a ordem mundial era multipolar (os cinco grandes do 
Concerto Europeu). Durante os anos de Guerra Fria, existiu o consenso de que a ordem mundial era 
bipolar (Estados Unidos e União Soviética). Mas hoje não existe consenso sobre o caráter da ordem 
mundial – alguns teóricos falam em unipolaridade, com a prevalência dos Estados Unidos enquanto 
polo de poder; outros teóricos falam em multipolaridade, com a existência de polos que competem com 
os Estados Unidos pela hegemonia mundial, tais como China, Japão e a União Europeia enquanto bloco.
Ademais,a Europa viu a sua integração se aprofundar bastante nos anos 1990 para vê-la entrar 
em crises sucessivas nos anos 2000 – econômicas, com foco na Grécia, em Portugal, na Itália e na 
Espanha; e políticas, com foco no Reino Unido. Em todas as partes do mundo, surgiram governos 
nacionalistas que substituíram modelos multilaterais de interação com a comunidade internacional 
por conversas bilaterais, colocando em xeque organismos multilaterais como a ONU e a Organização 
139
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Mundial do Comércio (OMC) e blocos econômicos como o Acordo de Livre Comércio da América do 
Norte (Nafta), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a própria União Europeia.
8.1 Nova balança de poder
Após a desintegração da União Soviética, enquanto a China crescia e a União Europeia se consolidava, 
os Estados Unidos estrelaram brevemente como o único polo de poder do globo. Portanto, no início nos 
anos 1990, existia a crença de que a ordem mundial pós-Guerra Fria era unipolar, com a prevalência 
dos Estados Unidos, crença abalada imediatamente pelo relativo declínio econômico estadunidense e 
pela ascensão de polos emergentes e posteriormente enterrada com os ataques de 11 de Setembro, 
os quais evidenciaram a vulnerabilidade dos Estados Unidos diante da atuação de entidades não 
estatais (DIAS, 2010).
Sobre isso, Saraiva (2007a, p. 290) afirma que:
Os Estados Unidos, de seu lado, a despeito da crise fiscal do Estado, que 
assumia proporções preocupantes, emergiam claramente como os vencedores 
da disputa hegemônica com a outra superpotência nuclear. Ao precipitar-se 
a derrocada da União Soviética, chegou-se mesmo a falar na substituição do 
mundo bipolar pelo “momento unipolar”: o presidente George Bush, por sua 
vez, em seu discurso de 1991 sobre o “estado da União”, preferiu adotar o 
conceito wilsoniano sobre uma “nova ordem mundial”. O sucesso estratégico 
da potência norte-americana não conseguia, contudo, esconder, em meados 
dos anos 1980, as marcas indeléveis do que parecia ser seu declínio econômico 
relativo: novas potências tecnológicas e comerciais, dentre as quais o Japão 
e a Alemanha quase unificada (processo que culminou em outubro de 1991, 
pouco antes da derrocada da União Soviética), disputavam a supremacia no 
terreno mais importante da estratégia moderna, a da constante inovação 
produtiva a partir da alta qualidade da mão de obra.
Além disso, o autor contribui com a concepção segundo a qual a ordem mundial é multipolar devido 
à crescente importância dada a esses atores não estatais no sistema internacional. Na tipologia clássica, 
os atores internacionais considerados mais relevantes eram os Estados, as organizações internacionais 
e as forças transnacionais, formadas pelas organizações não governamentais (ONGs) e pelas empresas 
multinacionais (EMNs) (MERLE, 1982).
 Observação
Pode-se definir ator internacional como aquela unidade cuja ação incide 
sobre a vida internacional. Em outras palavras, a ação de um ator internacional 
ultrapassa as fronteiras nacionais, ou seja, é transnacional (DIAS, 2010).
140
Unidade III
Mas hoje a tipologia moderna ampliou as forças transnacionais, incluindo, além das ONGs e das 
EMNs, atores de caráter político ou sindical (internacionais de partidos ou sindicatos), religioso (Igreja 
católica, islamismo), assistencial ou humanitário (Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras), desportivo 
(COI, Fifa), midiático (BBC, Rede Globo), criminoso (Isis, Farc, Talibã) e atores individuais (Nelson Mandela, 
George Bush). Esses atores, apesar do caráter não estatal, impactam as relações internacionais e moldam 
inclusive a atuação dos Estados (PECEQUILO, 2004).
 Observação
Mesmo com a importância dada atualmente pelos analistas aos 
novos atores das relações internacionais, não se pode dizer que algum 
desses atores figura entre os polos de poder da ordem mundial, que 
ainda ficam restritos aos Estados, concepção consagrada desde Vestfália.
Além da presença de novos atores na balança de poder, a ordem mundial de hoje não mais se apoia 
apenas em terror nuclear, como fora ao longo da Guerra Fria, mas também no lugar que cada polo de 
poder tem dentro do Conselho de Segurança da ONU (SARAIVA, 2007a).
No pós-Primeira Guerra Mundial e ao longo do período entre as guerras, a Liga das Nações 
simplesmente não funcionou por causa de fatores como a ausência dos Estados Unidos, o isolamento da 
União Soviética e a falta de vontade política de seus membros para conter, com o uso da força coletiva, 
as ameaças à segurança internacional (SARAIVA, 2007a).
 Lembrete
A Liga das Nações fora ideia de Woodrow Wilson, então presidente dos 
Estados Unidos, mas o Congresso não aprovou a adesão do país ao tratado 
de criação da organização, de modo que a Liga começou a funcionar sem a 
participação do “gigante do norte”.
No pós-Segunda Guerra Mundial e ao longo da Guerra Fria, o antagonismo entre Estados Unidos 
e União Soviética minou a unanimidade do Conselho de Segurança e, assim, seu processo decisório, 
paralisando o órgão diante dos problemas de segurança no cenário internacional (SARAIVA, 2007a).
No pós-Guerra Fria, pela primeira vez, o sistema onusiano teve condições de trabalhar de forma 
efetiva, embora a sua configuração ainda seja contestada por países que, vencidos nos conflitos do 
século XX, não puderam ser incluídos em seu processo decisório, tais como Alemanha e Japão, e nunca 
conseguiram alcançar posição de prestígio no cenário internacional, tais como Brasil, Índia, África do 
Sul, Indonésia etc. (SARAIVA, 2007a).
O Conselho de Segurança é formado por 15 membros: cinco permanentes com direito a veto – 
Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – e dez membros não permanentes, eleitos pela 
141
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Assembleia Geral para um período de dois anos, com possibilidade de prorrogação. O Conselho é o único 
órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e 
cumprir as suas decisões, sendo que uma decisão só é aprovada quando nove dos 15 votos dos membros 
não permanentes e cinco votos dos membros permanentes são favoráveis (DIAS, 2010).
A reforma do Conselho de Segurança é muito discutida e já foi proposta por diversas coalizões de 
Estados, tais como o Grupo dos 4 (G-4), formado por Brasil, Índia, Japão e Alemanha; o Ibas, formado 
por Índia, Brasil e África do Sul; o Unidos pelo Consenso, também conhecido como Coffee Club, 
formado por Canadá, Itália, Colômbia e Paquistão; entre outras. As reivindicações fazem sentido, uma 
vez que o Conselho de Segurança é considerado anacrônico por ter uma representação herdada do 
fim da Segunda Guerra Mundial, formada a partir dos polos de poder europeus que ainda restaram 
e a partir dos novos polos de poder formados pelo próprio processo de guerra. Porém, nenhuma das 
propostas de reforma jamais logrou ser atendida (BRIGIDO, 2010).
Por fim, cabe mencionar que, no pós-Guerra Fria, a política externa dos Estados, e principalmente 
dos que são polos de poder na nova ordem mundial, não se guia tanto pela busca de supremacia 
militar, característica do período anterior, mas na atração e no emprego produtivo de grandes volumes 
de capitais disponibilizados sob a forma de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Daí a crescente 
importância que tiveram, pelo menos até meados dos anos 2010, os blocos econômicos na dinâmica da 
ordem mundial pós-Guerra Fria (SARAIVA, 2007a).
 Saiba mais
Para ter acesso a análises alternativas e consagradas sobre a ordem 
mundial do pós-Guerra Fria, leia:
FUKUYAMA, F. O fim da história e o último homem. Rio de 
Janeiro: Rocco, 1992.
HUNTINGTON, S. O choque das civilizações e a mudança da ordem 
mundial. Lisboa: Gradiva, 2009.
8.2 Novos problemas globais
A década de 1990 também viu o aparecimento de “novos” problemas globais, ligados principalmente 
ao meio ambiente, à saúde pública (Aids e epidemias de outras doenças virais, a exemplo do pânico 
causado pelas gripesque ano após ano assombram a população mundial), aos direitos humanos, à 
internet e ao terrorismo. Sendo globais, esses problemas impõem à comunidade internacional o desafio 
de soluções globais (SARAIVA, 2007a).
A degradação do meio ambiente não é um problema novo. Porém, esse tema vem ganhando 
apenas recentemente a atenção das pessoas porque seus efeitos passaram a ser incontestáveis e suas 
142
Unidade III
consequências, catastróficas. Os dados são chocantes – a poluição é responsável, anualmente, por quase 
25% (12,6 milhões) de todas as mortes de seres humanos no mundo; por ano, cerca de 600 mil crianças 
sofrem danos cerebrais devido à presença de chumbo em tintas; atualmente, os oceanos possuem 
500 “zonas mortas”, onde a concentração de oxigênio é tão baixa que torna inadequada a presença 
de vida marinha; mais de 80% do esgoto mundial são despejados diretamente no meio ambiente sem 
tratamento, causando a poluição de solos usados na agropecuária e de lagos e rios utilizados como 
fonte de água para mais de 300 milhões de pessoas; cerca de 3,5 bilhões de pessoas dependem de mares 
poluídos para se alimentar etc. (ONU, [s.d.]).
Quem pensa que o problema está longe de si se engana. As catástrofes ambientais causadas pelo 
aquecimento global, por exemplo, vão afetar milhões de pessoas, sobretudo em países insulares, 
envolvendo, de uma forma ou de outra, países que a princípio “não têm nada a ver com isso” (como 
insistem em dizer alguns líderes, a exemplo de Donald Trump). Isso porque esses países insulares tendem 
a desaparecer do mapa à medida que o nível do mar subir, o que ameaçaria sua existência enquanto 
Estados e exigiria a atenção de outros países para lidar com o fluxo de refugiados climáticos. Tuvalu, no 
Pacífico Sul, está condenada a sumir do mapa ainda no século XXI (GRANDELLE, 2011).
Portanto, a comunidade internacional, com a intermediação das agências especializadas, precisa 
fortalecer o regime internacional de proteção ao meio ambiente, missão nada fácil, já que muitos países 
relutam em assumir as responsabilidades. Os Estados Unidos, por exemplo, não ratificaram o Protocolo 
de Quioto em 1999 e se retiraram do Acordo de Paris em 2017. O Brasil, imitando os passos de Trump, 
também abandonou o Acordo de Paris em 2019 e cancelou, no mesmo ano, a realização da Conferência 
das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-25), que acabou sendo realizada em Madri. Esses 
países insistem em argumentar que ambientalismo é “coisa de esquerda” (LONDOÑO; FRIEDMAN, 2018).
Entrando na discussão sobre saúde pública, de acordo com os dados mais recentes, cerca de 38 milhões 
de pessoas em todo o mundo vivem com HIV, sendo que cerca de 14 milhões delas não têm acesso à 
terapia antirretroviral. Só em 2018, aproximadamente, 1,7 milhão de pessoas foram infectadas com o 
vírus no mundo e aproximadamente 800 mil vieram a óbito vitimadas por doenças relacionadas à Aids. 
Desde o início da epidemia, cerca de 75 milhões de pessoas foram infectadas com o vírus da Aids e cerca 
de 32 milhões faleceram em decorrência da doença (UNAIDS, 2020).
No tocante às mulheres, os dados são alarmantes. Todas as semanas, cerca de 6 mil jovens 
mulheres entre 15 e 24 anos são infectadas pelo vírus da Aids. Na África subsariana, 80% das novas 
infecções entre adolescentes de 15 a 19 anos afetam meninas. Em algumas regiões, as mulheres 
que foram vítimas de violência física ou sexual por parceiro íntimo têm 1,5 vez mais probabilidade 
de contrair o vírus da Aids do que as mulheres que não tiveram essa violência (UNAIDS, 2020).
Como se vê, a Aids é um problema global desde que passou a ser considerada epidêmica e na 
medida em que afeta muito países incapazes de investir na prevenção e no tratamento da doença, o 
que demanda a assistência de outros países. Ademais, a existência da doença envolve a atuação de 
atores como a indústria farmacêutica, atuação que deve ser controlada pelos Estados, de modo a evitar 
que as vítimas sofram ainda mais com tratamentos condicionados e os países mais afetados se tornem 
fornecedores de cobaias para testes de remédios produzidos por essa indústria.
143
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O ébola, uma febre grave do tipo hemorrágica, perturba o continente africano desde 1976, mas não 
ganha a atenção da mídia a menos que afete pessoas fora daquela região (HEWLETT; HEWLETT, 2008). 
As famigeradas gripes também assombram o mundo todos os anos, sendo as causadas pelo coronavírus, 
com origem na China, as que tiveram maior repercussão recentemente.
As epidemias não respeitam fronteiras e se espalham muito rapidamente, não sendo problema 
exclusivo do local onde se originaram, mas exigindo um esforço conjunto de toda a comunidade 
internacional. Mas o que se vê nessas ocasiões é o abandono dos países mais pobres, largados à própria 
sorte, ou, quando o centro de irradiação é um país mais rico, o preconceito com seus habitantes.
Portanto, a comunidade internacional, com a intermediação da Organização Mundial da Saúde 
(OMS), deve lutar pela concretização de um regime internacional de saúde pública que envolva desde 
políticas públicas, como a universalização e a atualização rápida da Classificação Estatística Internacional 
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), a ações efetivas para aumentar o orçamento 
voltado para a prevenção e o tratamento de doenças em países pobres.
A violação dos direitos humanos também não é problema novo. Todavia, com a derrocada do socialismo 
e os gritos por democracia mundo afora, os direitos humanos passaram a ser alvo de maiores discussões, 
sobretudo quando sua violação é cometida no seio de ditaduras ou no contexto do ressurgimento dos 
novos nacionalismos.
O relatório do Observatório dos Direitos Humanos trouxe uma informação importante em 2020, 
segundo o qual a elevação da China ao posto de potência mundial prejudicou a manutenção dos direitos 
humanos fundamentais no país e no mundo. Segundo o próprio relatório:
Pequim reprime críticas dentro do país há muito tempo. Agora, o governo 
chinês está tentando estender essa censura para o resto do mundo. Décadas 
de progresso atualmente estão sob ameaça. Para proteger o futuro de todos, 
os governos devem agir em conjunto para resistir aos ataques ao sistema 
internacional de direitos humanos [...] Os líderes da China encaram os direitos 
humanos como uma ameaça existencial. Como resultado, as autoridades 
chinesas procuram censurar as críticas à China no exterior, além de não seguir 
com os compromissos globais assumidos e enfraquecer os mecanismos de 
proteção aos direitos globais (HUMAN RIGHTS WATCH, 2020, p. 1).
O relatório segue citando Trump, Narendra Modi, primeiro ministro da Índia, e Jair Bolsonaro, 
presidente do Brasil, como líderes populistas que ascenderam ao poder “demonizando minorias” e, no 
capítulo dedicado ao Brasil, menciona violações dos direitos humanos facilitadas por Bolsonaro no que 
diz respeito a segurança pública e conduta policial, condições das penitenciárias e torturas, crianças, 
orientação sexual e identidade de gênero, mulheres e meninas, liberdade de expressão e de associação, 
pessoas com deficiência, migrantes, refugiados e solicitantes de asilo político e meio ambiente (HUMAN 
RIGHTS WATCH, 2020).
144
Unidade III
Encontrar uma solução global para esse problema é bastante difícil. O fato é que os direitos 
humanos não são universais e o Ocidente não pode impor ao mundo a sua noção de direitos humanos, 
principalmente quando ele mesmo continua violando esses direitos de forma velada. Portanto, é inviável 
pensar em um regime internacional de proteção aos direitos humanos quando a própria noção de 
direitos humanos é relativa.
O que se pode fazer para alcançar certo grau de respeito aos direitos das pessoas, independentemente 
do país de que sejam oriundas, é perseguir e cumprir as 17 metas dos Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável (ONU, [s.d.]):
•	 Erradicação da pobreza: acabar com a pobreza em todas as suasformas, em todos os lugares.
•	 Fome zero e agricultura sustentável: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e 
melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
•	 Saúde e bem-estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em 
todas as idades.
•	 Educação de qualidade: assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, promover 
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
•	 Igualdade de gênero: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
•	 Água limpa e saneamento: garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e 
saneamento para todos.
•	 Energia limpa e acessível: garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e 
renovável para todos.
•	 Trabalho decente e crescimento econômico: promover o crescimento econômico sustentado, 
inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
•	 Inovação de infraestrutura: construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização 
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
•	 Redução das desigualdades: reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
•	 Cidades e comunidades sustentáveis: tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, 
seguros, resilientes e sustentáveis.
•	 Consumo e produção responsáveis: assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
•	 Ação contra a mudança global do clima: tomar medidas urgentes para combater a mudança 
climática e seus impactos.
145
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
•	 Vida na água: garantir a conservação e o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos 
marinhos para o desenvolvimento sustentável.
•	 Vida terrestre: proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, 
gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação 
da Terra e deter a perda da biodiversidade.
•	 Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o 
desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições 
eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
•	 Parcerias e meios de implementação: fortalecer os meios de implementação e revitalizar a 
parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Entrando na discussão sobre a internet, em 2013, um escândalo de espionagem trouxe à tona a 
necessidade de se pensar numa governança global para a internet, algo ainda inexistente até aquele 
momento e que poderia controlar crimes realizados pela internet. Naquele ano, veio a público a 
espionagem de uma agência estadunidense de segurança com o objetivo de obter maiores informações 
a respeito de Dilma Rousseff e de Angela Merkel, líderes do Brasil e da Alemanha, respectivamente 
(SARAIVA, 2014).
Diante do escândalo, Rousseff cancelou uma reunião de cúpula com os Estados Unidos, esperando 
um pedido formal de desculpas de Obama, que nunca o fez. A diplomacia estadunidense se limitou a 
explicações vagas e tentou agendar uma reunião por ocasião da Assembleia Geral da ONU de 2014, que 
foi cancelada por Obama na última hora e jamais remarcada. Merkel também manifestou seu desagrado 
(SARAIVA, 2014).
O Brasil e a Alemanha tiveram uma atuação muito importante nos marcos do multilateralismo para 
a criação de uma governança global para a internet. Em 2013, foi aprovada uma resolução sobre o 
direito à privacidade na era digital, o que configura apenas um começo, nada comparável, por exemplo, 
ao regime internacional para a proteção do meio ambiente, mas muito bem-vindo no atual contexto do 
aumento de crimes praticados pela internet (CORNELET, 2014).
Por fim, o terrorismo internacional, problema que existe desde o final do século XIX, se intensificou 
nos últimos anos, conforme explica Saraiva (2007a, p. 304):
O terrorismo não é, por certo, um problema novo na agenda internacional, 
tendo servido como válvula de escape a antigos grupos anarquistas e 
niilistas no final do século XIX ou como detonador de causas nacionalistas 
no limiar da Primeira Guerra Mundial. Ele recrudesceu, contudo, a partir 
de 1970, quando a média de atentados anuais não ultrapassava cerca de 
três centenas de casos catalogados em todo o mundo. Em meados dos 
anos 1970, a cifra já tinha alcançado 350, sobretudo com base em grupos 
organizados no Oriente Médio para lutar pela causa palestina. Nos anos 
146
Unidade III
1980, a média sobe para 500 atentados (sem descurar muitos casos de 
origem propriamente europeia), para declinar em 1990 para pouco mais 
de 450 casos registrados. Nem sempre os alvos privilegiados de grupos 
terroristas nacionais ou internacionais foram as “potências imperialistas” 
(em primeiro lugar os Estados Unidos), uma vez que tanto Estados 
formalmente democráticos (como Espanha e Itália) quanto regimes 
reconhecidamente autoritários (como Argélia, Egito ou Turquia) foram 
objeto de dezenas de atentados de base política ou religiosa. Em alguns 
casos, a tentativa de identificação de Estados patrocinadores do terrorismo 
internacional constituiu motivo de retaliações unilaterais, como os ataques 
aéreos dos Estados Unidos contra a Líbia, em flagrante desacordo com o 
direito internacional.
E os Estados Unidos não pararam por aí. No contexto da Guerra ao Terror, iniciada logo após os ataques 
de 11 de Setembro, invadiram o Iraque e o Afeganistão em busca de seus algozes, enforcaram Saddam 
Hussein, então ditador iraquiano, e exterminaram Osama bin Laden, líder da Al-Qaeda, grupo terrorista 
que assumiu os ataques às torres gêmeas em 2001 (MORAES; FRANCO, 2014). Em 2020, assassinaram 
também o general iraniano Qasem Soleimani num ataque aéreo empreendido como resposta pelos 
ataques contra a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, em dezembro de 2019, os quais haviam sido 
executados por uma milícia iraquiana aliada ao Irã (MACIAS; TAN, 2020).
Os principais grupos terroristas do mundo na atualidade são Al-Qaeda, Estado Islâmico, Talibã, Boko 
Haram, Hezbollah e Hamas, embora este último se autodenomine partido político (de fato, o Hamas vem 
renunciando à violência e optando pela política para alcançar seus objetivos).
A Al-Qaeda surgiu como braço do Talibã. O Boko Haram e o Hezbollah são os únicos deles que 
atuam fora do Oriente Médio, na Nigéria e no Líbano, respectivamente. O Estado Islâmico, o que ganhou 
mais notoriedade nos últimos anos, ao dominar parte da Síria e do Iraque antes de ser praticamente 
combatido e obrigado a retroceder, provocou um deslocamento interno sem precedentes na Síria e uma 
saída em massa de refugiados sírios em direção à Europa, situação que causou uma das maiores crises 
de refugiados deste século.
É digno de menção o fato de que algumas das conferências patrocinadas pela ONU nos anos 1990 
– criança, em 1990; meio ambiente e desenvolvimento, em 1992; desenvolvimento social, em 1995; 
mulher, em 1995; assentamentos humanos, em 1996; além de outras que tiveram menos atenção da 
mídia – contribuíram para aumentar o grau de consciência das pessoas sobre os “novos problemas 
globais”, o que é um passo importante para fortalecer regimes internacionais para solucioná-los 
(SARAIVA, 2007a).
8.3 Novas formas de inserção internacional
E como a ordem mundial do pós-Guerra Fria não mais se apoiava apenas em supremacia militar, os 
blocos econômicos, cerne de um novo tipo de inserção internacional dos países, passaram a ter grande 
importância a partir da última década do século XX. Alguns deles já datavam dos anos 1950 e 1960, mas, 
147
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
a partir dos anos 1990, o mundo viu florescer novos arranjos desse tipo e se intensificar a integração 
naqueles que já existiam. Falaremos agora de alguns desses arranjos.
 Observação
É válido distinguir blocos econômicos de organizações internacionais 
e de coalizões políticas. Os blocos econômicos são organizações 
internacionais, com tratado constitutivo e estrutura fixa, porém, voltados 
especificamente

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