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PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria:Patrícia Cesário Pereira Offial CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Prof. Ivan Tesck Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa Revisão de Conteúdo: Fernanda Germani de Oliveira Chiaratti Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2016 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 373.2 O32p Offial; Patrícia Cesário Pereira Projetos pedagógicos na educação infantil e anos iniciais/ Patrícia Cesário Pereira Offial : UNIASSELVI, 2016. 123 p. : il. ISBN 978-85-69910-11-4 1.Projetos pedagógicos na educação infantil. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Patrícia Cesário Pereira Offial Graduada em Pedagogia pela FURB Blumenau/SC (1999), especialista em administração escolar pela FAE, Curitiba/PR (2005), Mestre em Educação pela UNIVALI, Itajaí/ SC (2012) e professora do curso de Pedagogia da Graduação (UNIASSELVI), professora da Pós-graduação. Publicou: Formação Estética e Literatura; Formação Estética e Artística Saberes Sensíveis; Nas Asas das Gaivotas. Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos ....................................................... 09 CAPÍTULO 2 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança ................................................ 31 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 A Estrutura e a Função dos Projetos na Escola .................. 55 A Formação do Professor e a Pedagogia de Projetos ......... 79 Na voz dos Professores: Pedagogia de Projetos e as Experiências em Sala de Aula ............................................ 97 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Reconhecer no aluno um ser em potencial é a principal e mais atual tarefa do professor. Temos hoje uma geração de alunos que lida com ideias, inovações e notícias que circulam pelo mundo todo. As portas do conhecimento se abriram pela facilidade tecnológica e programas cada vez mais sofisticados e personalizados. Não é possível falar de educação sem falar das tecnologias. A informação está por todo lado e transcendeu o ambiente escolar. Hoje nosso aluno é um ser que cria, transforma e compartilha saberes. Vivemos na era tecnológica, da comunicação, da criação, e da informação instantânea. A televisão está se tornando ultrapassada frente às mídias eletrônicas de rápido acesso, que se atualizam a cada segundo. Não há como voltar ao tempo, vivemos numa teia onde todos aprendem com todos, num processo de holomovimento, em que a informação não basta, é preciso saber o que fazer com todo esse conhecimento. É necessário transformar o mundo em que vivemos, pensar em soluções aos problemas planetários, sociais, econômicos, políticos, e humanitários. Temos a frente uma geração de estudantes que nos desafiam a ser melhores a cada dia, a buscar conhecimento, a entender que não ensinamos ninguém, apenas mediamos o conhecimento, somos a ponte que conecta o conhecimento ao aluno. Inovar as práticas pedagógicas no sentido de incentivar essa geração de alunos a buscar com eficiência seus saberes é também umas das principais funções do professor. Nesse contexto, apresentaremos no decorrer do caderno, assuntos pertinentes aos projetos pedagógicos, em sua dimensão política e pedagógica. Para tanto, abordaremos no primeiro capítulo sobre a criança, aprendizagem e as interações com projetos pedagógicos. No segundo capítulo, os projetos diferenciados e as implicações no desenvolvimento da criança. Falaremos sobre a estrutura e a função dos projetos na escola no terceiro capítulo; no quarto capítulo, segue a formação do professor e a pedagogia de projetos. Por fim, as contribuições dos professores com o tema: Na voz dos professores: pedagogia de projetos e as experiências em sala de aula, compondo assim, o quinto capítulo. Boa leitura! A autora. CAPÍTULO 1 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Reconhecer as diferentes formas de a criança aprender. � Favorecer as habilidades da criança e os novos desafios para sua aprendizagem. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 10 11 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 Contextualização A primeira tarefa de um professor em formação é entender como a criança aprende, e para isso é necessário conhecer seu mundo cognitivo, emocional e corporal. Esses três aspectos são essenciais para estabelecermos as formas de trabalho no processo educativo. No entanto entender globalmente a criança implica também em situá-la no contexto atual, é necessário acompanhar as novas demandas da sociedade. Antes o modelo educacional atendia uma sociedade da era industrial, em que os saberes eram fragmentados em disciplinas sem conexão umas com as outras. O conhecimento pertencia exclusivamente ao professor, sendo repassado aos alunos como forma de memorização. Os trabalhos pedagógicos desenvolviam um planejamento estático, com base nos conteúdos, questionários e exercícios de fixação. Essa era basicamente a rotina da escola. Hoje o processo é outro. Na era da comunicação, onde os avanços tecnológicos não param, é necessário aprender a aprender. Reconhecer no aluno um ser em potencial, capaz de promover novas ideias a partir das que conhece, um ser que cria, transforma e compartilha saberes. Essa é a geração de estudantes que precisamos atender. Em consonância com a era da comunicação, uma pedagogia que incentiva um trabalho com projetos, alicerçada aos seus pilares educativos, favorece a interação, participação e diálogo entre os pares, tornando o ambiente propício para o movimento, para a ação, para a construção. Nessa linha, descentraliza o professor do processo, e prioriza o aluno, e a sua aprendizagem. Nesse contexto, nesse primeiro capítulo iremos abordar a relação da criança com projetos e formas de aprendizagem. Boa leitura! A Criança e os Caminhos para a Aprendizagem Entendemos a aprendizagem como um processo contínuo, que inicia desde a vida uterina do ser, acompanhando-o ao longo de sua vida. Aprendemos o que necessitamos para sobreviver e para poder desenvolver-nos no meio social com segurança e bem-estar. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 12 Em tempos primórdios, precisávamos adquirir estratégias básicas de sobrevivência, como as técnicas de cultivo, de caça, de preparação de alimentos, do abrigo contra animais selvagens, entre outros. Hoje, as aprendizagens são outras. Deve-se aprender a movimentar-se no trânsito, a atravessar a rua, a interpretar manuais de aparelhos eletrônicos, de abrir um pacote de bolachas, mexer no computador, celular, entre outros. Desde uma simples tarefa a mais complexa, as ressignificações acontecem de acordo com cada época. As formas de aquisição dessas habilidades sociais e afetivas variam entre diferentes sociedades. Por exemplo, em algumas delas, os adultos ensinam diretamente ou intervêm corrigindo as atividades dos aprendizes;em outras, a intervenção dos adultos é pequena e se favorece a aprendizagem autônoma; em outras, ainda, os jovens constituem grupos e formam sociedades relativamente independentes, nas quais os pequenos aprendem com outros companheiros maiores, com pouca intervenção dos adultos. De acordo com Wallon (2010), existem diversas espécies de aprendizagem, consubstanciadas nas mais variadas atividades da vida humana. Algumas aprendizagens se dão desde os primeiros anos de vida e estão vinculadas ao cotidiano da pessoa, como sentar, andar, falar, entre outras. Outras acontecem de forma sistemática, em instituições próprias, como a escola. Estas aprendizagens estão relacionadas ao desenvolvimento da sociedade que, ao longo dos tempos e de acordo com as diferentes culturas, define o que os indivíduos devem saber nas várias áreas do conhecimento humano. Para Wallon (2010) o desenvolvimento não acaba na fase da adolescência, pois continua em ação no decorrer da vida. Afetividade e cognição estarão em constante movimento, alternando-se nas variadas formas de aprendizagens que o indivíduo congregará ao longo de sua existência. Nesse contexto, as formas de aquisição são muito variadas entre as diferentes sociedades e vão desde um ensino com intervenções muito diretas dos adultos, a uma aprendizagem mais autônoma. No entanto, os adultos ou os indivíduos mais experientes costumam atuar de alguma forma quando se torna necessário. Os saberes do mundo social realizam-se pela atuação na sociedade. Nesse sentido, as crianças vão incorporando aos poucos às atividades do grupo, ao alcance de seu desenvolvimento. A partir daí elas participam, observam o que acontece, recebem as explicações, ouvem as discussões e estratégias, o que é correto ou incorreto. Os comportamentos não aceitáveis são reprovados ou até castigados, ao passo que as condutas desejáveis são elogiadas. A escola, por sua vez, poderá contribuir para o processo da aprendizagem provocando interesse, curiosidade, entusiasmo, anseio Os saberes do mundo social realizam-se pela atuação na sociedade. Nesse sentido, as crianças vão incorporando aos poucos às atividades do grupo, ao alcance de seu desenvolvimento. 13 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 pela pesquisa, estímulo, amor pelo conhecimento. Mas o que ocorre é que muitas vezes a escola tende a transferir as informações por meio de repetição, da memorização e de enunciados que, geralmente, os estudantes não entendem. Isso porque por muitos anos, o ensino e a aprendizagem foram considerados intimamente ligados, ou seja, para acontecer aprendizagem era necessário que houvesse ensino e vice-versa. Isso se dava, principalmente, em função de haver uma crença de que a aprendizagem era centrada no professor, que assumia total responsabilidade e controle pelo processo. Para uma aprendizagem significativa sugerimos a descentralização do professor e fixação dos conteúdos para a problematização do conteúdo, por meio de projetos. Essa estratégia contribui não só para aprendizagens relacionadas aos conteúdos, como também insere o aluno como eixo principal desse processo, suas interações, reflexões, autonomia, relações e discursos. Afinal, numa pedagogia de projetos, o aluno deve ser o gestor de seu conhecimento. Para tanto é necessário também que o professor tenha competências básicas para lidar com projetos. Perrenoud (2000), em seus estudos sobre as competências profissionais para ensinar, sintetizou dez características que o profissional da educação deve possuir, que são: Para uma aprendizagem significativa sugerimos a descentralização do professor e fixação dos conteúdos para a problematização do conteúdo, por meio de projetos. Organizar e dirigir situações de aprendizagens Administrar a progressão das aprendizagens Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho Trabalhar em equipe Participar da administração da escola Informar e envolver os pais Utilizar novas tecnologias Enfrentar os deveres e os dilemas Administrar a sua própria formação contínua Figura 1 - 10 competências para educar Fonte: Adaptado de Perrenoud (2010). PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 14 Nesse sentido, a motivação deve partir da prática docente, do interesse do aluno e da necessidade de conhecer, tendo o conteúdo um real significado ao aprendiz e que a interação entre professor e aluno seja de parceria em prol do conhecimento, e que não sofra nenhum bloqueio ou outro tipo de interferência que funcione como inibidor da aprendizagem. A Participação dos Alunos no Desenvolvimento dos Projetos Trabalhar com projetos exige do professor uma postura diferente daquela a que estamos acostumados. Este novo professor precisa deixar de lado velhos hábitos e materiais com sequências rígidas e buscar novos conhecimentos, interligando as disciplinas e contextualizando os conteúdos ao tema. Não é fácil quebrar velhos paradigmas com currículo normalmente inflexível e conteúdos fragmentados, obrigatórios e uniformes, e abrir espaço para o novo, para a pesquisa, para o debate. Enfim, o professor que trabalha com projetos precisa tornar-se um pesquisador e não temer os desafios, pois eles surgirão, inevitavelmente. No entanto, nem todos os professores estão dispostos a este novo olhar sobre a educação. Nem todas as escolas desejam avançar neste sentido, de modo que, de acordo com Morin (2000, p. 15), em muitas delas, ainda hoje: [...] nos ensinam a isolar os objetos (de seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam- nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor; a eliminar tudo o que causa desordens ou contradições em nosso entendimento. Nossa sociedade tecnológica abre espaço para a informação abundante, mas o conhecimento só é conhecimento quando está organizado, relacionado com as informações e inserido no contexto destas. Sabemos que só o conhecimento não é suficiente nos dias de hoje. O que de fato faz a grande diferença é o que fazemos com o conhecimento que temos. Para que esta ou aquela informação nos será útil? De que forma aplico, na prática, fora da instituição, os conhecimentos adquiridos dentro dela? No que posso ajudar, a partir daquilo que sei fazer? De que maneira posso contribuir com o planeta ou com a cidade onde vivo?, entre outros questionamentos que precisam ser respondidos com tranquilidade pelas crianças. Este novo professor precisa deixar de lado velhos hábitos e materiais com sequências rígidas e buscar novos conhecimentos, interligando as disciplinas e contextualizando os conteúdos ao tema. 15 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 Para saber mais sobre projetos pedagógicos, acesse o link abaixo e entenda “O que um bom projeto de Educação Infantil precisa ter?”: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/ palavra-especialista-clelia-cortez-projeto-educacao-infantil-751323.shtml>. Acompanhe agora a leitura complementar que diz respeito a Pedagogia de Projetos, texto de Maria Elisabette Brisola Brito Prado (2005): PEDAGOGIA DE PROJETOS: FUNDAMENTOS E IMPLICAÇÕES (Parte – I) Atualmente, uma das temáticas que vêm sendo discutidas no cenário educacional é o trabalho por projetos. Mas que projeto? O projeto político-pedagógico da escola? O projeto de sala de aula? O projeto do professor? O projeto dos alunos? O projeto de informática? O projeto da TV Escola? O projeto da biblioteca? Essa diversidade de projetos que circula freqüentemente no âmbito do sistema de ensino muitas vezes deixa o professor preocupado em saber como situar sua prática pedagógica em termos de propiciaraos alunos uma nova forma de aprender integrando as diferentes mídias nas atividades do espaço escolar. Existem, em cada uma dessas instâncias do projeto, propostas e trabalhos interessantes; a questão é como conceber e tratar a articulação entre as instâncias do projeto para que de fato seja reconstruída na escola uma nova forma de ensinar, integrando as diversas mídias e conteúdos curriculares numa perspectiva de aprendizagem construcionista. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. Mas que projeto? O projeto político- pedagógico da escola? O projeto de sala de aula? O projeto do professor? O projeto dos alunos? O projeto de informática? O projeto da TV Escola? O projeto da biblioteca? PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 16 Essas indagações têm levado, muitas vezes, a interpretações múltiplas, ocasionando práticas equivocadas e distanciadas do seu propósito. Sem saber ao certo a diferença entre projeto e um projeto pedagógico, alguns docentes abarcam o mesmo conceito para todos os projetos. No entanto, uma pedagogia por projetos não é apenas trabalhar um tema com início meio e fim. A complexidade é que faz a diferença. Pois um projeto que não tem pesquisa, participação do aluno, e não produz conhecimento, não pode ser considerado um projeto pedagógico. Sendo este um propósito de construção, elaboração, descobertas, e não necessariamente tem fim em si mesmo, pois provoca no pesquisador, na maioria das vezes, a necessidade de mais indagações. É uma fonte inesgotável, pois o saber transcende o conteúdo. Veremos este assunto mais adiante na continuação desse texto. PEDAGOGIA DE PROJETOS: FUNDAMENTOS E IMPLICAÇÕES (Parte – II) Segundo Valente (1999), o construcionismo “significa a construção de conhecimento baseada na realização concreta de uma ação que produz um produto palpável (um artigo, um projeto, um objeto) de interesse pessoal de quem produz” (p. 141). Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo de produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. Portanto, o papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio da transmissão de informações – que tem como centro do processo a atuação do professor – para criar situações de aprendizagem cujo foco incida sobre as relações que se estabelecem nesse processo, cabendo ao professor realizar as mediações necessárias para que o aluno possa encontrar sentido naquilo que está aprendendo a partir das relações criadas nessas situações. A esse respeito Valente (2000) acrescenta: “(...) no desenvolvimento do projeto o professor pode trabalhar com [os alunos] diferentes tipos de conhecimentos que estão imbricados e representados em termos de três construções: procedimentos e estratégias de resolução de problemas, conceitos disciplinares e estratégias e conceitos sobre aprender” (p. 4). Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. 17 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 Neste fragmento, Valente (1999) esclarece sobre o papel do professor frente a pedagogia de projetos, no sentido de motivar a pesquisa, incentivar a ação e mediar o conhecimento. Um projeto desenvolvido de forma tradicional, ou seja, expositiva, direcionada e não mediada, descaracteriza toda a principal função do projeto pedagógico que é por si só movimento. Movimento do pensar, do agir e do conhecer. Na sequência do texto o destaque é um alerta sobre a mediação dos projetos pedagógicos e a função do professor. PEDAGOGIA DE PROJETOS: FUNDAMENTOS E IMPLICAÇÕES (Parte – III) No entanto, para fazer a mediação pedagógica, o professor precisa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, ou seja, entender seu caminho, seu universo cognitivo e afetivo, bem como sua cultura, história e contexto de vida. Além disso, é fundamental que o professor tenha clareza da sua intencionalidade pedagógica para saber intervir no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos utilizados, intuitivamente ou não, na realização do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo aluno. Outro aspecto importante na atuação do professor é o de propiciar o estabelecimento de relações interpessoais entre os alunos e respectivas dinâmicas sociais, valores e crenças próprios do contexto em que vivem. Portanto, existem três aspectos fundamentais que o professor precisa considerar para trabalhar com projetos: as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos; as dinâmicas sociais do contexto em que atua e as possibilidades de sua mediação pedagógica. O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e, conseqüentemente, na postura do professor. Hernández (1988) enfatiza que o trabalho por projeto “não deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da escola” (p. 49). Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 18 Pegamos o gancho sobre os três aspectos fundamentais para prática docente ao considerar um trabalho por projetos pedagógicos. Prado (2005) cita três: 1ª As possibilidades de desenvolvimento de seus alunos: Esse é um ponto muito importante, pois se trata do respeito à individualidade de cada sujeito, considerando os diferentes tempos de aprender de cada pessoa. Nesse sentido o que ocorre é que muitas vezes um professor espera pelo mesmo resultado de todos os alunos. É um grande equívoco. O foco do todo processo educacional, no atual paradigma, é o aluno, e diante disso a preocupação deve ser acompanhar sua aprendizagem, seu desenvolvimento individual, seus progressos. Mesmo que ele esteja num grupo, o olhar do professor deve ser também individualizado. 2ª As dinâmicas sociais do contexto em que atuam: Este aspecto envolve os acontecimentos que transitam entre a sociedade e escola. Esses ocorridos não podem estar isolados ao considerar um projeto pedagógico, pois devem responder a uma questão social e real, pertinente ao contexto em que esses alunos atuam. 3ª As possibilidades de sua mediação pedagógica: Nesse contexto o professor deve valer-se de seu conhecimento não para transmitir prontamente sua percepção sobre um determinado assunto, mas para guiar o aluno a ser um investigador e pesquisador de seu saber. Deve o docente promover relações de discussão, debates e estratégias de troca de saberes entre alunos de forma inter e transdiciplinar. Essa compreensão é fundamental, porque aqueles que buscam apenas conhecer os procedimentos, os métodos para desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da complexidade que envolve a realidade de sala de aula, do contexto escolar. Mas que realidade? Claro que existem diferenças e todas precisam ser tratadas com seriedade para que a comunidade escolar possa constituir-se em um espaço de aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural e social dos alunos. Uma realidade com a qual o professor depara atualmente é caracterizada pela chegada de novas tecnologias (computador, Internet, vídeo, televisão) na escola, que apontam novos desafios para a comunidade escolar. O que fazer diante desse novo cenário? De repente, o professor que, confortavelmente, desenvolvia sua ação pedagógica – tal como havia sido preparado durante sua vida acadêmica e pela sua experiência em sala de aula – se vê diante de uma situação que implica novas aprendizagens e mudanças na prática pedagógica. (PRADO, 2005, p. 13-14). 19 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1É por essa razão que consideramos fundamental direcionar o professor num contexto de aprendiz, um eterno aprendiz. Se antes era fundamental para a escola um professor organizado e redentor de todo saber, hoje a pauta é outra. Ele é quem deve inspirar a vontade, o desejo de aprender, e motivar os alunos a buscarem, a serem gestores de seu conhecimento. Nesse sentido os projetos pedagógicos se inserem como um aliado ao novo perfil de aprendizagem, em que todos aprendem com todos. A pedagogia de projetos, embora constitua um novo desafio para o professor, pode viabilizar ao aluno um modo de aprender baseado na integração entre conteúdos das várias áreas do conhecimento, bem como entre diversas mídias (computador, televisão, livros) disponíveis no contexto da escola. Por outro lado, esses novos desafios educacionais ainda não se encaixam na estrutura do sistema de ensino, que mantém uma organização funcional e operacional – como, por exemplo, horário de aula de 50 minutos e uma grade curricular seqüencial – que dificulta o desenvolvimento de projetos que envolvam ações interdisciplinares, que contemplem o uso de diferentes mídias disponíveis na realidade da escola e impliquem aprendizagens que extrapolam o tempo da aula e o espaço físico da sala de aula e da escola. Daí a importância do desenvolvimento de projetos articulados que envolvam a co-autoria dos vários protagonistas do processo educacional. (PRADO, 2005, p. 14). Isso explica a razão de muitas práticas inovadoras não darem certo, uma vez que esbarram nos sistemas educacionais engessados, presos a um sistema de currículo pautado somente em conteúdos. Essa inflexibilidade do próprio sistema educacional fragiliza e compromete todo um fazer pedagógico, em prol do cumprimento de conteúdos, em que o objetivo se encerra em números (notas), tornando a educação meramente quantitativa, perdendo seu enfoque na qualidade que é a verdadeira cátedra de um sistema educativo. Outro ponto de discussão é se a gestão escolar está em sintonia com os projetos de sala, tornando uma unidade educativa que pensa em parceria. O fato de um projeto de gestão escolar estar articulado com o projeto de sala de aula do professor, que por sua vez visa propiciar o desenvolvimento de projetos em torno de uma problemática de interesse de um grupo de alunos, integrando o computador, materiais da biblioteca e a televisão, torna-se fundamental para o processo de reconstrução de uma nova escola. Isso porque a parceria que se estabelece entre os protagonistas (gestores, professores, alunos) da comunidade escolar pode facilitar a busca de soluções que permitam viabilizar a realização de novas práticas pedagógicas, tendo em vista a aprendizagem para a vida. (PRADO, 2005, p. 14). PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 20 Nesse aspecto o que faz a diferença entre as escolas que apresentam bons resultados e elevam a sua qualidade educativa, ultrapassa a boa vontade dos envolvidos. É indispensável a conexão e a articulação de todos os projetos como eixo principal de um fazer pedagógico em que todos contribuem para a sua realização. A pedagogia de projetos, na perspectiva da integração entre diferentes mídias e conteúdos, envolve a interrelação de conceitos e princípios, os quais sem a devida compreensão podem fragilizar qualquer iniciativa de melhoria de qualidade na aprendizagem dos alunos e de mudança da prática do professor. (PRADO, 2005, p. 14). Nesse sentido, apresentamos alguns conceitos de projetos, “[...] bem como possíveis implicações envolvidas na perspectiva da pedagogia de projetos, que se viabiliza pela articulação entre mídias, saberes e protagonistas (PRADO, 2005, p. 14). É importante o esclarecimento do conceito de projeto, para que fique clara a integração de conteúdos e mídias. Essa junção potencializa a forma de compreender, favorecendo tanto a mediação docente quanto o envolvimento do aluno, pois as mídias respondem as demandas atuais dessa geração de aprendizes. Para saber complementar o que discutimos até aqui acesso o link <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/introdutorio/ etapa_4/p4_04.html> e saiba sobre a pedagogia de projetos na integração com as mídias. Vamos conhecer o conceito de projeto, conforme os estudos de Prado (2005): CONCEITO DE PROJETO (Parte I) A idéia de projeto envolve a antecipação de algo desejável que ainda não foi realizado, traz a idéia de pensar uma realidade que ainda não aconteceu. O processo de projetar implica analisar o presente como fonte de possibilidades futuras (Freire e Prado, 1999). Tal como vários autores sugerem, a origem da palavra projeto deriva do latim projectus, que significa algo lançado para a frente. A idéia de projeto é própria da atividade humana, da sua forma de pensar em algo que deseja tornar real, portanto o projeto é inseparável do http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/introdutorio/etapa_4/p4_04.html http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/introdutorio/etapa_4/p4_04.html 21 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 sentido da ação (Almeida, 2002). Assim, Barbier (In Machado, 2000) salienta: “(...) o projeto não é uma simples representação do futuro, do amanhã, do possível, de uma idéia; é o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar em real, uma idéia a transformar em acto” (p. 6). No entanto, o ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não-determinado e flexibilidade para reformular as metas à medida que as ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. Um dos pressupostos básicos do projeto é a autoria – seja individual, em grupo ou coletiva. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. O ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não- determinado e flexibilidade para reformular as metas à medida que as ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. Queremos apresentar aqui outros conceitos de projetos a partir dos estudos de Barbosa e Horn (2008): Quadro 1 - Conceitos de Projeto Um plano de trabalho, ordenado e particularizado para seguir uma ideia ou um propósito, mesmo que vagos. Um plano com características e possibilidades de concretização. Um plano de ação intencionado que potencializa a capacidade de avaliar o futuro a quem propõe ou vive; que, por antecipar-se na consciência e ter como base o passado e o presente, oferece uma consequente capacidade metodológica para a escolha dos meios necessários para a concreta realização do plano. Uma abertura para possibilidades amplas de encaminhamentos e de resolução, envol- vendo uma vasta gama de variáveis, de percursos imprevisíveis, imaginativos, criativos, ativos e inteligentes, acompanhados de uma grande flexibilidade de organização. Uma proposta que permite criar, sob forma de autoria singular ou de grupo, um modo próprio para abordar ou construir uma questão e respondê-la. Proposta essa que possibilita momentos de autonomia e de dependência do grupo; mo- mentos de cooperação do grupo sob uma autoridade mais experiente e também de li- berdade; momento de individualidade e de sociabilidade; momentos de interesse e de esforço; momentos de jogo e de trabalho como fatores que expressam a complexidade do fato educativo. Uma proposta que leva as crianças a pensarem em temas importantes do seu ambien- te, refletirem sobre a atualidade e considerarem a vida fora da escola. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 22 Uma proposta elaborada e executada para as crianças aprenderem a estudar, a pes- quisar, a procurar informações, a exercitar a crítica, a duvidar, a argumentar, a opinar, a pensar, a gerir as aprendizagens, a refletir coletivamente. E o mais importante, os projetos são elaborados e executados com as crianças e não para as crianças. Fonte:Adaptado de Barbosa e Horn (2008). CONCEITO DE PROJETO (Parte I) A esse respeito, Machado (2000) destaca que não se pode ter projeto pelos outros. É por essa razão que enfatizamos que a possibilidade de o professor ter o seu projeto de sala de aula não significa que este deverá ser executado pelo aluno. Cabe ao professor elaborar projetos para viabilizar a criação de situações que propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos. São níveis de projetos distintos que se articulam nas interações em sala de aula. Por exemplo, o projeto do professor pode ser descobrir estratégias para que os alunos construam seus projetos tendo em vista discutir sobre uma problemática de seu cotidiano ou de um assunto relacionado com os estudos de certa disciplina, envolvendo o uso de diferentes mídias disponíveis no espaço escolar. Isso significa que o projeto do professor pode ser constituído pela própria prática pedagógica, a qual será antecipada (relacionando as referências das experiências anteriores e as novas possibilidades do momento), colocada em ação, analisada e reformulada. De certa forma, essa situação permite ao professor assumir uma postura reflexiva e investigativa da sua ação pedagógica e, portanto, caminhar no sentido de reconstruí-la com vistas a integrar o uso das mídias numa abordagem interdisciplinar. Para isso, é necessário compreender que no trabalho por projetos as pessoas se envolvem para descobrir ou produzir algo novo, procurando respostas a questões ou problemas reais. “Não se faz projeto quando se tem certezas, ou quando se está imobilizado por dúvidas” (Machado, 2000, p. 7). Isso significa que o projeto parte de uma problemática e, portanto, quando se conhece a priori todos os passos para solucionar o problema, esse processo se constitui num exercício e aplicação do que já se sabe (Almeida, 2002). Cabe ao professor elaborar projetos para viabilizar a criação de situações que propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos. “Não se faz projeto quando se tem certezas, ou quando se está imobilizado por dúvidas” (Machado, 2000, p. 7). 23 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 Projeto não pode ser confundido com um conjunto de atividades que o professor propõe para que os alunos realizem a partir de um tema dado pelo professor ou sugerido pelo aluno, resultando numa apresentação de trabalho. Na pedagogia de projetos, é necessário “ter coragem de romper com as limitações do cotidiano, muitas vezes auto-impostas” (Almeida e Fonseca Júnior, 2000, p. 22) e “delinear um percurso possível que pode levar a outros, não imaginados a priori” (Freire e Prado, 1999, p. 113). Mas, para isso é fundamental repensar as potencialidades de aprendizagem dos alunos para a investigação de problemáticas que possam ser significativas para eles e repensar o papel do professor nessa perspectiva pedagógica, integrando as diferentes mídias e outros recursos existentes no contexto da escola. A pedagogia de projetos deve permitir que o aluno aprenda- fazendo e reconheça a própria autoria naquilo que produz por meio de questões de investigação que lhe impulsionam a contextualizar conceitos já conhecidos e descobrir outros que emergem durante o desenvolvimento do projeto. Nessa situação de aprendizagem, o aluno precisa selecionar informações significativas, tomar decisões, trabalhar em grupo, gerenciar confronto de idéias, enfim, desenvolver competências interpessoais para aprender de forma colaborativa com seus pares. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. A pedagogia de projetos deve permitir que o aluno aprenda-fazendo e reconheça a própria autoria naquilo que produz por meio de questões de investigação que lhe impulsionam a contextualizar conceitos já conhecidos e descobrir outros que emergem durante o desenvolvimento do projeto. Nesse contexto, ao lidar com projetos, que é bem diferente de atividades temáticas, torna-se imprescindível que o aluno lide com problemáticas, investigue, troque ideias e se comunique com todas as fontes, seja entre pares, mídias, pesquisas, livros; e agregue ao seu conhecimento, qualidades para sua formação humana, de autonomia, pro-atividade, liderança, e competência para atuar em grupos. Elaborar e atuar nos projetos caracteriza em debruçar-se no desconhecido, na dúvida, em busca de respostas que muitas vezes abrem para outras questões a serem pesquisadas. Diante disso, o professor deve pautar os projetos a partir de uma condição flexível em que o aluno possa adentrar e criar seus próprios projetos, permitindo que o aluno aprenda-fazendo e perceba a sua marca nas produções. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 24 APRENDENDO E “ENSINANDO” COM PROJETOS (Parte I) A mediação do professor é fundamental, pois, ao mesmo tempo que o aluno precisa reconhecer sua própria autoria no projeto, ele também precisa sentir a presença do professor, que ouve, questiona e orienta, visando propiciar a construção de conhecimento do aluno. A mediação implica a criação de situações de aprendizagem que permitam ao aluno fazer regulações, uma vez que os conteúdos envolvidos no projeto precisam ser sistematizados para que os alunos possam formalizar os conhecimentos colocados em ação. O trabalho por projeto potencializa a integração de diferentes áreas de conhecimento, assim como a integração de várias mídias e recursos, os quais permitem ao aluno expressar seu pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de representação. Do ponto de vista de aprendizagem no trabalho por projeto, Prado (2001) destaca a possibilidade de o aluno recontextualizar aquilo que aprendeu, bem como estabelecer relações significativas entre conhecimentos. Nesse processo, o aluno pode ressignificar os conceitos e as estratégias utilizados na solução do problema de investigação que originou o projeto e, com isso, ampliar seu universo de aprendizagem. Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de projetos é vista por seu caráter potencializador da interdisciplinaridade. Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho com projetos permite romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as diferentes áreas do conhecimento numa situação contextualizada da aprendizagem. No entanto, muitas vezes o professor atribui valor para as práticas interdisciplinares, e com isso passa a negar qualquer atividade disciplinar. Essa visão é equivocada, pois Fazenda (1994) enfatiza que a interdisciplinaridade se dá sem que haja perda da identidade das disciplinas. Nesse sentido, Almeida (2002) corrobora com essas idéias destacando: “(...) que o projeto rompe com as fronteiras disciplinares, tornando-as permeáveis na ação de articular diferentes áreas de conhecimento, mobilizadas na investigação de problemáticas e situações da realidade. Isso não significa abandonar as disciplinas, mas integrá-las no desenvolvimento das investigações, aprofundando-as verticalmente em sua própria identidade, ao mesmo tempo, que estabelecem articulações horizontais numa relação de 25 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 APRENDENDO E “ENSINANDO” COM PROJETOS (Parte II) O conhecimento específico – disciplinar – oferece ao aluno a possibilidade de reconhecer e compreender as particularidades de um determinado conteúdo, e o conhecimento integrado – interdisciplinar – dá-lhe a possibilidade de estabelecer relações significativas entre conhecimentos. Ambos se realimentam e um não existe sem o outro. Esse mesmo pensamento serve para orientar a integração das mídias no desenvolvimento de projetos. Conhecer as especificidades e as implicações do uso pedagógico de cada mídia disponível no contexto da escola favorece ao professor criar situaçõespara que o aluno possa integrá-las de forma significativa e adequada ao seu desenvolvimento do seu projeto. Por exemplo, quando o aluno utiliza o computador para digitar um texto, é importante que o professor conheça o que envolve o uso desse recurso em termos de ser um meio pedagógico, mas um meio que pode interferir no processo de o aluno reorganizar suas idéias e a maneira de expressá-las. De igual maneira em relação a outras mídias que estão ao alcance do trabalho pedagógico. Estar atento e buscando a compreensão do uso das mídias no processo de ensino e aprendizagem é fundamental para sua integração no trabalho por projetos. De fato, a integração efetiva poderá ser desenvolvida à medida que sejam compreendidas as especificidades de cada universo envolvido, de modo que as diferentes mídias possam ser integradas ao projeto, conforme suas reciprocidade entre elas, a qual tem como pano de fundo a unicidade do conhecimento em construção” (p. 58). Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. Para melhor compreender a pedagogia de projetos, devemos vê-la como uma ponte entre as disciplinas, que une e cria vínculos de forma interdisciplinar, tornando o saber uma rede de conexões, numa interligação que liga conteúdos ao pensar crítico. E nessa perspectiva o ensino deixa de ser passivo para caracterizar-se como um holomovimento. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 26 potencialidades e características, caso contrário, corre-se o risco da simples justaposição de mídias ou de sua subutilização. Isso nos reporta a uma situação já conhecida de muitos professores que atuam com a informática na educação. Um especialista em informática que não compreende as questões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem terá muita dificuldade para fazer a integração das duas áreas de conhecimento – informática e educação. Isso também acontece no caso de um especialista da educação que não conhece as funcionalidades, as implicações e as possibilidades interativas envolvidas nos diferentes recursos computacionais. Claro que não se espera a mesma expertise nas duas áreas de conhecimento para poder atuar com a informática na educação, mas o desconhecimento de uma das áreas pode desvirtuar uma proposta integradora da informática na educação. Para integrá-las, é preciso compreender as características inerentes às duas áreas e às práticas pedagógicas nas quais essa integração se concretiza. Essa visão atualmente apresenta-se de forma mais ampla, uma vez que o desenvolvimento da tecnologia avança vertiginosamente e sua presença na escola se torna mais freqüente a cada dia. Uma preocupação é que o professor não foi preparado para desenvolver o uso pedagógico das mídias. E para isso não basta que ele aprenda a operacionalizar os recursos tecnológicos, a exigência em termos de desenvolver novas formas de ensinar e de aprender é muito maior. Essa questão, no entanto, diz respeito à formação do professor – aquela que poderá ser desenvolvida na sua própria ação e de forma continuada, pois hoje com a tecnologia basta ter o apoio institucional que prioriza a qualidade do trabalho educacional. O fato de a pedagogia de projetos não ser um método para ser aplicado no contexto da escola dá ao professor uma liberdade de ação que habitualmente não acontece no seu cotidiano escolar. No entanto, essa situação pode provocar um certo desconforto, pois seus referenciais sobre como desenvolver a prática pedagógica não se encaixam nessa perspectiva de trabalho. Assim, surgem entre os professores vários tipos de questionamentos, que representam uma forma interessante na busca de novos caminhos. Mas se o trabalho por projetos for visto tanto pelo professor como pela direção da escola como uma camisa-de-força, isso pode paralisar as ações pedagógicas e seu processo de reconstrução. Uma questão que gera questionamento entre os professores é o fato de que nem todos 27 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 os conteúdos curriculares previstos para serem estudados numa determinada série/nível de escolaridade são possíveis de serem abordados no contexto do projeto. Essa é uma situação que mostra que o projeto não pode ser concebido como uma camisa-de-força, pois existem momentos em que outras estratégias pedagógicas precisam ser colocadas em ação para que os alunos possam aprender determinados conceitos. Nesse sentido, é necessário que o professor tenha abertura e flexibilidade para relativizar sua prática e as estratégias pedagógicas, com vistas a propiciar ao aluno a reconstrução do conhecimento. O compromisso educacional do professor é justamente saber o que, como, quando e por que desenvolver determinadas ações pedagógicas. E para isso é fundamental conhecer o processo de aprendizagem do aluno e ter clareza da sua intencionalidade pedagógica. Outro questionamento que normalmente vem à tona diz respeito à duração de um projeto, uma vez que a atuação do professor segue um calendário escolar e, portanto, pensar na possibilidade de ter um projeto sem fim cria uma certa preocupação em termos de seu compromisso com os alunos de uma determinada turma. Nesse sentido, uma possibilidade seria pensar no desenvolvimento de um projeto que tenha começo, meio e fim, tratando esse fim como um momento provisório, ou seja, que a partir de um fim possam surgir novos começos. A importância desse ciclo de ações é justamente para que o professor possa criar momentos de sistematização dos conceitos, estratégias e procedimentos utilizados no desenvolvimento do projeto. A formalização pode propiciar a abertura para um novo ciclo de ações num nível mais elaborado de compreensão dando, portanto, o formato de uma espiral ascendente, representando o mecanismo do processo de aprendizagem. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/ arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. Conforme o texto, há pontos relevantes quando se trata de projetos na escola. O professor deve estar atento para não confundir projetos de trabalhos com aula temática. Na pedagogia de projetos, o aluno é conduzido a produzir, levantar questões, pesquisar e criar relações que incentivam novas pesquisas e PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 28 consequentemente novas questões. Nessa concepção, o professor é o propulsor do conhecimento, é ele quem impulsionará ao desconhecido, lançando questões, permitindo que o aluno seja o autor de seus projetos, e reconheça sua marca em cada etapa da pesquisa. Atividades de Estudos: 1) Agora vamos refletir sobre a questão dos projetos no contexto das práticas atuais. Em sua opinião, é possível um trabalho com projetos mesmo num sistema pautado em notas? Por quê? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Quais as contribuições da pedagogia por projetos para a formação do aluno? Elenque cinco: __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Algumas Considerações Conforme você viu neste primeiro capítulo, a pedagogia de projetos favorece a aprendizagem do aluno, uma vez que lida com a participação e pesquisa dos diversos temas envolvidos. Mas para que isso aconteça, é necessário, o acompanhamento e o discernimento do professor em parceria com os alunos. Como visto no texto sobre os fundamentos e as implicaçõesno trabalho com projetos, há que se considerar uma série de questões quando se trata da prática em si. Uma delas é a forma interdisciplinar que será aplicada, outra é a questão da duração e o cuidado para não se prolongar, ou esgotar-se em si mesmo. Um 29 Criança, Aprendizagem e as Interações com Projetos Pedagógicos Capítulo 1 projeto deve promover a abertura para novas pesquisas, e não findar-se nela mesma. Resaltamos aqui a importância de um trabalho com projetos em que o aluno reconheça sua autoria, o seu fazer, caso contrário seria uma forma diferente de trabalhar de numa concepção tradicional. No próximo capítulo apresentaremos um modelo de escola com projetos diferenciados e suas implicações na educação e desenvolvimento dos alunos. Referências MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 2 ed. São Paulo: Cortez: Brasília-DF: UNESCO,2000. PERRENOUD, P. et al. As Competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002. PRADO, M. E. B. B. Pedagogia de projetos: fundamentos e implicações. In: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de; MORAN, José Manuel (Org.). Integração das tecnologias na educação. Brasília: Ministério da Educação/ SEED/TV Escola/Salto para o Futuro, 2005. cap. 1, artigo 1.1, p. 12-17. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/1sf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016. WALLON, H. A evolução psicológica a criança. São Paulo, Martins Fontes. 2010. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 30 CAPÍTULO 2 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar a importância de diferentes projetos no contexto escolar, a partir do exemplo da Escola da Ponte. � Promover projetos que atuem de forma significativa para o aprendizado do aluno. 32 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS 33 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 Contextualização Vamos conhecer neste capítulo os projetos diferenciados da Escola da Ponte, localizada em Portugal. Essa Escola enfrentou não só desafios no campo pedagógico, como também burocráticos. Precisou, e ainda precisa provar ao sistema de educação que é possível obter bons resultados, mesmo não tendo um currículo pautado em uma concepção tradicional. A Escola tem por referência uma política de direitos humanos que favorece a autonomia e a solidariedade, e suas práticas resultam do trabalho de uma equipe destinada a desenvolver “seres felizes, sociáveis, autônomos, criativos e críticos” (PACHECO, 2010, p. 73). Essa prática inovadora vem despertando o interesse de professores e pesquisadores de diversos países. Boa leitura! A Escola tem por referência uma política de direitos humanos que favorece a autonomia e a solidariedade, e suas práticas resultam do trabalho de uma equipe. Percursos Teóricos e Metodológicos da Escola da Ponte em Portugal “Querida Alice... Era uma vez um reino encantado junto ao mar. Encantado porque uma fada má havia transformado todos os seus habitantes em pássaros. No reino encantado havia cidades e, para além dos muros das cidades, outras cidades e outras escolas. Essas escolas de aprender a voar eram quase todas iguais. E iguais a essas eram outras escolas dentro das cidades das aves.” José Pacheco, 2004. Nessa epígrafe, retirada do livro Para Alice com amor, José Pacheco conta um pouco da trajetória do projeto que chamou de “Fazer a Ponte”. Essa obra relata, por meio de metáforas, as experiências do autor nos tempos anteriores à entrada de Alice, sua neta, na escola. O educador descreve como eram as escolas em que havia trabalhado, relembra o cotidiano escolar, os problemas e os desafios que encontrou na longa jornada rumo ao desejo de uma escola de qualidade. Os personagens dessa história são pássaros: pássaros bons, pássaros encantados, pássaros com limitações, pássaros diferentes, pássaros inteligentes, pássaros tristes, pássaros felizes. Vivem em um reino encantado junto ao mar e frequentam uma escola de pássaros, onde recebem aulas de piação, aulas de voo, sendo os manuais iguais para todos. Lá, há, também, abutres, com suas “almas empedernidas”, os papagaios, falsos negrelas, e muitos outros pássaros 34 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS insensíveis. Todos obedecem aos comandos e às regras de uma fada muito má (metáfora usada para indicar o método). Na história, antes de Alice entrar na escola, todos seguiam os mesmos manuais, repetiam as mesmas lições. Os alunos (pássaros) não eram valorizados pela diferença, muito menos pela sua experiência sociocultural. Pelo contrário, tinham que se submeter a métodos e padrões pré-estabelecidos. Os manuais aos quais se refere eram ultrapassados e longe da realidade dos alunos. Mesmo não fazendo sentido, esses manuais tinham que ser seguidos obrigatoriamente. Periodicamente esses alunos eram submetidos a testes. Esses testes, aplicados igualmente a todos, no mesmo espaço e tempo, limitavam os alunos aos mesmos padrões. Nessa caminhada, a escola encontrou mais interrogações que certezas: professores e alunos distantes da comunidade, exclusão social, indisciplina generalizada e a falta de um projeto coerente com a prática. Há escolas onde tudo é negação da cidadania. Nessas escolas, a solidão dos professores é da mesma natureza da solidão dos alunos, que passam de sala em sala, no ritmo pautado por uma campainha, e deparam com professores afáveis ou permissivos, uns exigentes, outros autoritários (PACHECO, 2006, p. 47). Foram anos de persistência em busca de uma escola que se diferenciava das tradicionais, desde a organização dos espaços até as alterações de modelos pedagógicos. Uma mudança na educação é algo complexo, principalmente porque envolve políticas educacionais, a comunidade, todo o corpo docente e, sobretudo, o apoio de todos esses envolvidos. Uma mudança na educação é algo complexo, principalmente porque envolve políticas educacionais, a comunidade, todo o corpo docente e, sobretudo, o apoio de todos esses envolvidos. Figura 2 – Escola da Ponte Fonte: A autora. 35 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 A Escola da Ponte, situada na Vila das Aves em Portugal, serve como referência para escolas em muitos países. Um modelo que se distancia de muitos padrões escolares. No entanto, nem sempre foi assim. Em 1976, no início de seu projeto, essa escola encontrou muitos desafios, um conjunto de problemas, dentre eles: indisciplina, exclusão escolar, agressão a professores, isolamento frente à comunidade de contexto. Em entrevista ao Jornal da Folha de São Paulo, Pacheco (DIRECIONAL ESCOLAS, 2011) relata suas experiências no processo que chama de “fazer a Ponte”. Ele conta que na escola havia um grupo chamado de turma do lixão, eram jovens entre treze e quinze anos. Essa turma não sabia ler nem escrever e, conforme seu relato, não eram jovens violentos, eram violentados. Pois, segundo o autor, a violência não nasce com a pessoa, aprende-se com ela. É esse tipo de concepção escolar que um grupo de docentes da Escola da Ponte opôs-se e procurou transformar. Diante de tantos problemas, viu-se a necessidade de buscar alternativas de forma coletiva; e, nessa procura, um grupo de formação deu início ao projeto. Com o desejo de tornar possível o sonho de uma escola mais humanizada, democrática, com professores e alunos participantes, solidários, críticos e autônomos, foram definidos os objetivos no grupo de formação, chamados de “círculo de estudos” (PACHECO, 2010). Esse era o nome adotado por grupos de professores que promoviam uma reflexão sobre as práticaspedagógicas. É necessário esclarecer que o processo de formação, em especial o “círculo de estudos”, partiu de um grupo de docentes preocupados com um contexto escolar bastante conturbado. Contaram com o apoio de professores, destinados a enfrentar desafios de repensar e transformar uma prática escolar. Por meio da reflexão e ação conquistaram uma equipe de pensadores, abertos para repensar sobre sua prática. A formação continuada de docentes é considerada por Pacheco (2010), um meio e não um fim em si mesmo. As discussões devem servir para influenciar práticas, sair do papel, pois formação não se destina somente a capacitar os professores, estes são mediadores de formação em desenvolvimento que passam da identificação e valorização do saber à sua partilha, ou seja, as ideias e as possíveis soluções que se discutem em grupos de formação devem ser partilhadas e postas em prática. No modelo desse círculo de estudos, não há um líder apenas, todos são atuantes e participantes do processo. Discutem formas de resoluções de conflitos encontrados e vivenciados pelos próprios professores. Foi, assim, por meio do círculo de estudos que o Projeto da Ponte teve sua gênese. A formação continuada de docentes é considerada por Pacheco (2010), um meio e não um fim em si mesmo. As ideias e as possíveis soluções que se discutem em grupos de formação devem ser partilhadas e postas em prática. 36 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Os objetivos propunham mudanças quanto à diversificação das aprendizagens centradas em uma política de direitos humanos; quanto ao desenvolvimento da autonomia e da solidariedade, promovendo transformações nas estruturas de comunicação entre instituições e agentes educativos locais. Para isso, segundo Pacheco (2010), foi necessário questionar modelos de práticas pedagógicas, como também levar à comunidade valores humanos, pois uma prática escolar não se altera sem seus pares, professores, educandos e famílias. O modelo de formação utilizado na Escola da Ponte está ligado à resolução de reais problemas do cotidiano escolar e desenvolve-se com a participação crítica e reflexiva dos professores. Estes, integrantes desse círculo de estudos, compreendem que os modelos de formação devem ter direta conexão com a prática, partir da reflexão da ação, identificar os problemas, discutir, dialogar, tornar claros os objetivos e questionar possíveis soluções. Nessa esteira, os autores, Freire e Pacheco, comungam da ideia de uma racionalidade reflexiva, em torno da prática, contudo não há como sustentar uma prática sem teoria, assim como não há mudança ou intervenção da realidade sem a influência da prática, e diante disso Freire sustenta que: Esta busca nos leva a surpreender, nela, duas dimensões: ação e reflexão, de tal forma solidárias, em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente, a outra. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo (FREIRE, 1996, p. 89). A transformação dessa Escola deu-se a partir de problemas e experiências de uma prática mal resolvida com o apoio de grandes teóricos que marcaram a história da educação, a saber: Pestalozzi, Rogers, Montessori, Freire, Freinet, Decroly, dentre outros. A Escola passou por várias mudanças. Rompeu com um modelo escolar no qual as aulas eram centradas no professor. Envolveu os alunos nas tomadas de decisões, coletivas e individuais. Permitiu ao aluno dirigir sua própria aprendizagem. Trocou uma organização hierárquica por uma escola com princípios democráticos e não autoritários. Nesse processo, a escola lidou com grandes desafios, a iniciar pelas diretrizes impostas pelo Ministério de Educação de Portugal, (MEC). Foram muitas lutas até alcançar a autonomia, apesar de ter vínculo estadual. No entanto, na base sólida do grupo de estudos, encontrou forças e apoio para dar continuidade ao projeto. Os poderosos de todos os tempos sabiam que a ponte tem sua pedra angular, mas ignoravam que uma pedra sozinha não se segura num arco. Nesse segredo residia a força da ponte. Poderia vergar sob o peso de uma moral caduca feita de tabus e superstições, mas não cedia. E, se havia quem quisesse destruir o ato criador das gaivotas da escola das aves, as pontes para o futuro da Escola resistiam na sólida consistência das pedras fundadoras. (PACHECO, 2004, p. 58). 37 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 Por meio dessa metáfora, o autor expressa que os obstáculos encontrados no percurso não foram suficientes para romper o desejo de “fazer a ponte”, pois o círculo de estudos, a qual se refere como “Pedra Angular”, foi o que sustentou e sustenta até hoje o projeto. A figura 3, a seguir, representa a dinâmica da formação de modelo escolar, e o círculo de estudos do atual Projeto. Figura 3 - Síntese dos contrastes entre o conceito de círculo e a formação de modelo escolar PLANO DE ESTUDO ÉPOCA DE ESTUDO MATERIAL DE ESTUDO ESTUDOS REUNIÃO PARTICIPANTE COORDENADOR DE CÍRCULO (Monitor Interno) UTILIZA-SE PERÍODOS CURRÍCULOS LIVRO DIDÁTICO ENSINO LIÇÃO ALUNO PROFESSOR (Formador Externo) AO INVÉS DE Fonte: Offial (2012). O esquema anterior demonstra a mudança não só de nomenclatura, mas de transformação de uma prática. Percebe-se que entre o primeiro modelo e o segundo a diferença está na valorização do aluno e na sua inserção como sujeito principal no meio escolar. No modelo anterior, professores e currículos eram o centro do processo educativo. Hoje, nessa escola, o aluno expressa-se atuante 38 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS e consciente no processo de sua formação. Não é raro encontrarmos práticas escolares baseadas no primeiro modelo, também não é raro vermos os mesmos problemas repetirem-se e muito menos raro depararmo- nos com um estado de acomodação generalizado. Diante disso, Freire (1996) comenta que é necessário que o docente tenha a clareza do seu papel de educador e altere sua prática em benefício do aluno. Para o autor, pensar em benefício do aluno é “pensar certo”. O autor traz constantes indagações sobre o ato de ensinar e ressalta que é possível e, de certa forma urgente, que professores atuantes interfiram em sua realidade escolar, pois “[...] o mundo não é. O mundo está sendo” (FREIRE, 1996, p. 76). Todavia, mudanças não ocorrem de um dia para o outro, ainda mais quando se trata de um processo educacional, que é de tamanha complexidade. As alterações realizadas na Escola da Ponte concretizaram-se em parcerias, que eram os “pássaros bons, inovadores”: Foi o amor sempre presente no canto das almas sensíveis que comoveu as almas empedernidas dos abutres, dos papagaios, dos porquenãos, dos borogóvios e das falsas negrelas, e redimiu-as do pecado da ignorância e da maldade. A doce paciência das almas sensíveis ajudou os pássaros doentes a não terem medo da luz diurna, a não fechar os olhos à claridade. (PACHECO, 2004, p. 85). Hoje, a Escola da Ponte é uma entidade pública estatal, de ensino básico, integrada com Jardim de Infância. Recebe alunos desde o 1º até o 9º ano. Em 2011, duzentos e vinte alunos frequentavam a escola. Os alunos são organizados em grupos heterogêneos, não há lugares fixos, e todos trabalham em equipe, professores e alunos, todos com todos. Conforme os documentos pesquisados no site oficial, a escola organiza-se de acordo com a estrutura que segue: Pensar em benefício do aluno é “pensar certo”. Figura 4 - Organização da Escola da Ponte INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO - Plano de registro - Relatório - Álbum - Coletânea de texto - Bibliografias - Ficha de auto-avaliação - Teste selecionado pelos alunos - Registro de disponibilidade - Ata - Comunicação - Quadro de solicitações - Teste sociométrico - Inventário de atitudesINSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS - Caixinha de segredo - Biblioteca - Eu já sei - Assembleia - Caixinha dos textos inventados - Avaliação - Eu preciso de ajuda - Professor tutor - Comissão de ajuda - Grupos de responsabilidade - Direitos e deveres 39 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 NÚCLEOS - Iniciação - Consolidação - Aprofundamento ARTICULAÇÃO CURRICULAR - Dimensão lógico matemática - Dimensão artística - Dimensão naturalista - Dimensão linguística - Dimensão identitária - Dimensão pessoal e social Fonte: Offial (2012). A figura 4 demonstra uma organização diferenciada, a qual, segundo os documentos, vai além dos dispositivos pedagógicos e o desenvolvimento curricular, pois a veiculação desses instrumentos torna possível o trabalho em grupo heterogêneo, a cooperação, a autonomia e a vivência de uma cidadania responsável. A organização curricular dessa escola articula-se por meio de dimensões: Lógico Matemática, Naturalista, Linguística, Identitária, Artística, Pessoal e Social. O conceito de currículo é entendido numa dupla asserção, conforme a sua exterioridade ou interioridade relativamente a cada aluno: o currículo exterior ou objetivo é um perfil, um horizonte de realização, uma meta; o currículo interior ou subjetivo é um percurso (único) de desenvolvimento pessoal, um caminho, um trajeto. Só o currículo subjetivo (o conjunto de aquisições de cada aluno) está em condições de validar a pertinência do currículo objetivo (ESCOLA DA PONTE, 2003). Diferentemente de um currículo tradicional, na Escola da Ponte, os conteúdos a serem trabalhados são escolhidos pelos próprios alunos. Os critérios são selecionados pelos orientadores das dimensões, cada qual na sua área. Os conteúdos são fixados em murais para que os alunos visualizem e percebam o que precisam trabalhar. A seguir duas fotos do mural dos conteúdos: O currículo exterior ou objetivo é um perfil, um horizonte de realização, uma meta; o currículo interior ou subjetivo é um percurso (único) de desenvolvimento pessoal, um caminho, um trajeto. Figura 5 – Mural dos Conteúdos Fonte: Offial (2012). 40 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS A organização atual da Escola é estruturada de acordo com seus princípios, pautada em uma educação solidária, responsável e autônoma. Devido a isso, os alunos são responsáveis pelo seu aprendizado: “O importante é permitir que as crianças descubram por si mesmas o conhecimento de que mais necessitam” (MORAES, 2010, p.140). Dessa forma, os discentes são incentivados a pesquisar os conteúdos com os quais eles próprios se comprometem em estudar. Quem planeja é o aluno participante, e a pesquisa é um dos principais recursos para auxiliar os estudos. Sobre a pesquisa, sustenta Freire (1996, p. 29): Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino [...] Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. Nessa Escola, não há uma divisão de alunos participantes por séries ou por idade, mas por núcleos, conforme as competências, que o aluno participante desenvolve. Há o Núcleo de Iniciação, Consolidação e Aprofundamento. Cada núcleo apresenta determinadas características de perfil a serem desenvolvidos no educando, e a transição de um núcleo ao outro ocorre a partir da identificação dessas competências. Assim, quando o aluno entra para escola é inserido no núcleo de “Iniciação”, para avançar ao próximo núcleo, chamado de “Consolidação” e, na sequência, para o núcleo de “Aprofundamento”. No entanto, no Núcleo da Iniciação há uma subdivisão, conforme explica um dos sujeitos da pesquisa realizada por Offial (2012): - Têm três grupos: tem o grupo da Primeira Vez que está a primeira vez está mais ao cuidado da Guimarães é que está mais direcionada para o trabalho com eles. O grupo da Primeira Vez é o único grupo que trabalha mais exclusivamente com alguns professores. Todos os outros trabalham com todos os professores. Eu trabalho com os dois grupos. Existem dois grandes grupos de crianças que estão matriculadas na Segunda Vez, na Terceira Vez, na Quarta Vez e algumas na Quinta Vez, e nós trabalhamos com os dois grupos. Temos uma espécie de distribuição em que um dia sabemos vamos estar mais próximos dos Seis Estrelas, outro dia vamos estar mais próximos dos Cientistas Malucos. Nós trabalhamos com os dois sem haver qualquer tipo de distinção (Professora 1). O Núcleo da Iniciação subdivide-se em três grupos: o grupo da Primeira Vez, o grupo dos Cientistas Malucos e o grupo das Seis Estrelas. A divisão desse núcleo em outros grupos dá-se por uma questão de espaço, pois não há um grande galpão que comporte todos os alunos participantes, a intenção é a integração para que os alunos compartilhem a aprendizagem, dúvidas e troquem experiências. Os discentes são incentivados a pesquisar os conteúdos com os quais eles próprios se comprometem em estudar. 41 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 Para um aluno participante avançar de núcleo precisa estar preparado, demonstrando características que se referem a responsabilidades, à autonomia, aos relacionamentos, à criatividade, à autodisciplina, à persistência e à concentração nas tarefas, à participação em debates, ao comprometimento etc. Cada núcleo aprofunda esses saberes, levando em conta a faixa etária e o avanço de cada aluno participante em particular, sendo avaliados e observados no decorrer das atividades, dos projetos e das atitudes. Essa organização, por núcleos com diferentes idades, foi muito contestada pelo Ministério da Educação (MEC) de Portugal, como também por educadores que não compreendiam a proposta, conforme se apresenta no fragmento de texto a seguir: Não acredito! Como é possível não estar colocado num 3º ou 4º ano! O miúdo contestou: O senhor não entendeu. O que eu disse foi que na minha escola não se faz como em outras, não se divide os meninos por turmas e por anos. Porque isso não interessa... O universitário cortou-lhe a palavra e atirou, num tom a roçar o cinismo: Está bem! Eu já ouvi essa ladainha. Vá lá! Diz em que ano estás! O moço respirou fundo e olhou na direcção do seu professor, como quem pergunta: o que hei de fazer desta criatura? O professor encolheu os ombros. E o aluno que fazia a palestra respondeu: O senhor não sabe mesmo em que ano eu estou? Triunfante, o universitário usou o imperativo com ênfase redobrada: Não sei. Diz lá! O jovem obedeceu e disse: Estou no mesmo ano em que o senhor está – no ano de 1996! (PACHECO, 2012, p. 10). Esse diálogo representa uma pequena parcela das vezes que a Escola da Ponte precisou provar e comprovar sua forma de organizar-se. Essa diferente organização desperta a curiosidade de pesquisadores inicialmente por não ter alunos divididos por séries, ao invés disso, núcleos. Em cada Núcleo, há professores das diferentes áreas para atender aos alunos na disciplina específica. Por isso, podemos perceber a variedade de áreas em um mesmo núcleo. Sobre isso Pacheco (2010, p. 72) esclarece e argumenta: Na Ponte, há muitos anos, concluímos que seria urgente extinguir o “professor único” nos primeiros quatro anos de escolaridade. O professor generalista possui “conhecimentos superficiais, que acarretam, quase automaticamente, comportamentos livrescos, repetitivos, ou reprodutores”. Na Ponte, o generalista foi substituído pelo mediador. Dessa forma, todos os alunos podem trabalhar com todos os professores. Os alunos são organizados em grupos heterogêneos. Também não há lugar fixo, pois nessa escola há muita movimentação, variando conforme os grupos com os quais os alunos estão envolvidos, dentre eles o das responsabilidades. No entanto, a pesquisa de Mariana (2008, p. 117) demonstra outro ladodesse trabalho. 42 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Nos momentos de concentração e leitura, ou mesmo durante certas atividades artísticas que exijam uma atenção mais delicada no manuseio de materiais diferenciados à sensibilidade do aluno, a estrutura coletiva de grupos de trabalho alcança extraordinária dinâmica participativa. No entanto, a substituição de salas de aulas por salões coletivos de aprendizagem não resolvem o clamor das crianças e adolescentes para que as atividades pedagógicas transcendam o espaço fechado de quatro paredes. O autor acima pontua a necessidade de um melhor aproveitamento dos espaços abertos para potencializar o convívio e a expansão de aprendizagens. Ele percebe que o fato de a Escola da Ponte possuir menos paredes que as demais, não indica que estão mais inseridos em um convívio que não seja a sua própria instituição. O autor traz a tona essa questão, mas não apresenta argumentos que legitimem essa fragilidade. Contrapondo essa análise, verificamos que há na Escola muitas atividades e projetos que contemplam aulas dinâmicas e fora do ambiente escolar. Essas atividades serão tratadas no capítulo cinco. Apesar de a Escola da Ponte ser estadual, ela conquistou a autonomia com o Ministério da Educação para selecionar os professores. Sobre esse assunto, há contradição ao comparar a pesquisa de Santa Rosa (2008) e Mariana (2008) a respeito da seleção dos professores. Santa Rosa (2008) afirma que a escola possui autonomia para escolha dos docentes e Mariana (2008) cita que essa ação foi derrubada pelo MEC. Considerando que as duas pesquisas foram concluídas no mesmo ano, a questão parece não estar resolvida, ou sofreu alterações no decorrer do ano. No entanto, em entrevistas e conversas informais com professores, obtivemos informações de que a escola possui autonomia para a contratação dos professores. Os instrumentos pedagógicos e os instrumentos de avaliação são chamados também de dispositivos, ou seja, estratégias pedagógicas que ajudam o aluno não só a nortear seus estudos, como também seu processo de avaliação. Os instrumentos de avaliação são dispositivos para auxiliar no desenvolvimento contínuo do aluno. Diferentemente das escolas tradicionais, cuja avaliação baseia-se em apenas provas, testes, exercícios, na Escola da Ponte o aluno pode escolher como e quando será feita a sua avaliação. Sobre esse tipo de avaliação, Freire (1996, p.116) nos diz que: Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima para baixo, mas insistindo em passar por democráticos [...] A questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreensão e da prática da avaliação enquanto instrumento de apreciação do que-fazer de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo da libertação e não da domesticação. A avaliação em que se estimule o falar a como caminho de falar com. Necessidade de um melhor aproveitamento dos espaços abertos para potencializar o convívio e a expansão de aprendizagens. 43 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 O educador refere-se a uma avaliação que está a favor do aprendiz, pois ao lidar com o diálogo permite o aluno expressar-se com liberdade. Nessa prática, o aluno tem o direito de ser avaliado pelo que sabe. Os direitos, nessa Escola, são sempre acompanhados de compromissos. Dessa forma, a liberdade vem sendo orientada pela responsabilidade. Todos têm compromisso em deixar em dia o plano da quinzena. Nesse plano, é o próprio aluno participante que orienta os conteúdos a serem estudados e pesquisados. Os professores são somente mediadores do processo ensino aprendizagem. Interferem quando percebem o não comprometimento do aluno participante com os estudos, ou sempre que é requisitado para esclarecer dúvidas. O plano da quinzena é visto todos os dias e assinado pelo professor e no dia da tutoria é revisado pelo tutor de cada grupo. A seguir uma foto de um plano da quinzena: Figura 6 – Modelo de Plano da Quinzena Fonte: Offial (2012). Uma vez por semana um tutor responsável por um determinado grupo acompanha o andamento das tarefas, pesquisas e exercícios que os alunos participantes realizam no decorrer da semana. Dessa forma, o tutor consegue estar mais próximo das necessidades do educando para auxiliá-lo no processo de aprendizagem. Cada aluno participante possui uma pastinha com um plano quinzenal e exercícios de acordo com o conteúdo estudado. Essa pastinha é verificada e assinada pelo tutor. Essa é uma prática, assim como as demais, que inclui todos da escola, inclusive os alunos especiais - quanto aos alunos “especiais”, para a escola, todos são especiais e realizam o mesmo tipo de trabalho sendo respeitados pela diferença. Todos são tratados iguais, e todos recebem o apoio que necessitam (PACHECO, 2010). 44 PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Na pesquisa de observação foi constatado que no Núcleo da Iniciação, havia entre os alunos participantes, dois que apresentavam síndromes, um deles tinha a Síndrome de Down, o outro não foi possível identificar. No entanto, percebemos uma interação muito espontânea entre todos, não fazem distinção entre os que apresentam síndromes, ou qualquer tipo de comportamento diferente, não percebemos qualquer discriminação, pelo contrário comprovamos a inclusão e o respeito entre eles. Por um momento observou-se que a criança que apresentava Síndrome de Down distraiu-se de seus compromissos, uma das colegas de um grupo um pouco mais distante percebeu, levantou-se e ofereceu ajuda para suas atividades, e juntos voltaram a estudar. Há uma preocupação com o outro muito forte nessa Escola. Sentimos que o coletivo é algo real entre os educandos e educadores, como se pode observar na foto a seguir: Figura 7 – Grupos de ajuda Fonte: Offial (2012). É nesse contexto que os alunos da Ponte formam-se. Não pensando para um dia exercerem a cidadania, mas educados no exercício da cidadania, e isso, o Projeto Político Educacional enfatiza claramente. Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem que a escuta não se pode dar. Se discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou menino negro, o menino índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo (FREIRE, 1996, p.120). A educação para a cidadania, segundo Freire (2009), implica em um movimento dinâmico, dialético na sua relação com a prática e a teoria, relacionada aos limites dos vínculos que homens e mulheres estabelecem entre si e com o mundo. A educação para a cidadania, segundo Freire (2009), implica em um movimento dinâmico, dialético na sua relação com a prática e a teoria, relacionada aos limites dos vínculos que homens e mulheres estabelecem entre si e com o mundo. 45 Projetos Diferenciados e as Implicações no Desenvolvimento da Criança Capítulo 2 [...] além de reintegrar o sujeito na construção do conhecimento, resgata também a importância do processo ao reconhecer que pensamento e conhecimento, como tudo na natureza, estão em holomovimento. Ao mesmo tempo valoriza a experiência e o faz de um modo diferente, como um princípio básico na construção do conhecimento. Há uma imanência em todo o conhecimento que depende da ação do sujeito, de seus processos internos (MORAES, 2010, p. 139). A Escola da Ponte oportuniza aos educandos essa relação da prática com a teoria por meio de diferenciadas estratégias que chamam de dispositivos pedagógicos. No início de cada ano é discutido em assembleia projetos, direitos e deveres, grupos de responsabilidades, dentre outros assuntos. No caso dos grupos de responsabilidades, segundo a coordenadora da Dimensão Linguística,
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