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Meningite Criptocócica | Infectologia | UFCSPA

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Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
Curso de Medicina
Disciplina de Infectologia
Meningite criptocócica
Informações gerais
Popularmente conhecida como “doença do pombo”, a meningite criptocócica se caracteriza pela
inflamação das meninges do SNC em decorrência da infecção pela levedura Cryptococcus
neoformans — que é, em geral, o fungo responsável pela doença. Esse agente patogênico pode ser
encontrado nas fezes dos pombos. O contato entre o indivíduo e o fungo acaba sendo bastante
comum nos grandes centros urbanos, onde há grande população do vetor animal, principalmente em
estações de estiagem. Isso ocorre porque, em temporadas de seca, as fezes dos pombos tendem a
ressecar e, com isso, podem se fragmentar e liberar, em suspensão no ar, milhares de partículas
fúngicas da levedura Cryptococcus neoformans que podem, então, ser aspiradas por transeuntes. A
infecção segue a seguinte progressão:
1. Tendo as vias ventilatórias como porta de entrada, o fungo acomete, primeiro, os pulmões —
onde a doença, contudo, não costuma provocar sintomas. Para indivíduos
imunocompetentes, o quadro paralisa nesse estágio, uma vez que o sistema imune do
indivíduo é capaz de combater e neutralizar a infectividade do agente patogênico;
2. Em indivíduos imunocomprometidos, contudo, as leveduras podem penetrar na circulação
sanguínea e viajar para o SNC, infectando as meninges. Isso ocorre porque essa espécia
fúngica apresenta tropismo (isto é, preferência) pelo tecido nervoso. Desse modo, os
pacientes em maior risco para o desenvolvimento da doença são: portadores de doenças
malignas hematológicas, receptores de transplantes de órgãos sólidos que precisam de
terapia imunossupressora, indivíduos em tratamento com glicocorticóides, pacientes com
infecção avançada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e com contagem de
linfócitos T CD4+ < 200/μL, indivíduos com imunossupressão relacionada à diabetes mellitus,
portadores de insuficiência renal, de cirrose ou de pneumopatia crônica. Além disso, claro,
são fatores de risco a exposição a pombos (neoformans) e à matéria orgânica de plantas em
decomposição (var.gattii). A infecção disseminada pode desencadear comprometimento da
pele e de outros órgãos.
O padrão-ouro para o diagnóstico é a identificação do agente etiológico Cryptococcus spp.
por exame direto ou crescimento em cultura do líquor, o que pode dificultar o diagnóstico em tempo
oportuno em situações em que não haja recursos microbiológicos adequados ou em que não seja
possível realizar punção lombar. (a lâmina, popularmente conhecida como céu estrelado, apresenta
os fungos, em branco, em contraste com o meio circundante, em preto; isso porque a tinta nanquim
não é capaz de penetrar a cápsula glicoproteica da levedura)
O antígeno criptocócico (CrAg) está presente na cápsula polissacarídea de Cryptococcus
spp., sendo um alvo para testes diagnósticos por pesquisa sérica ou no LCR por meio de diversos
métodos, como ELISA, látex ou ensaio imunocromatográfico.
Dados epidemiológicos: a doença criptocócica (criptococose) e a infecção posterior das meninges
são relativamente raras na ausência de comprometimento da imunidade.
No Brasil o Cryptococcus neoformans já foi isolado em amostras de solo, vegetais em decomposição
e fezes de aves e morcegos, tanto em áreas rurais quanto em áreas urbanas. A doença por C. gattii
ocorre em até pouco mais de um terço da população nas regiões Norte e Nordeste, na sua maioria
em pacientes não portadores de HIV. A doença por C. neoformans vem sendo descrita
principalmente entre indivíduos imunodeprimidos, sendo identificada em até 6% dos pacientes com
Aids no momento do diagnóstico. Dentre os indivíduos internados em um hospital de Uberlândia/MG,
a maioria dos casos (>80%) estava associada à presença de AIDS. A doença se manifesta,
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
Curso de Medicina
Disciplina de Infectologia
majoritariamente, como meningoencefalite (ou seja, processo inflamatório que envolve o cérebro e
meninges) — sendo esta isolada ou associada a outros acometimentos. Apesar de terapêutica
adequada, a letalidade ainda é muito alta, de 45% a 72% (principalmente em pacientes portadores de
AIDS, que costumam apresentar menor resposta inflamatória e sinais de disseminação da doença).
Início agudo, subagudo ou crônico: em geral, a criptococose e a meningite decorrente se
manifestam de forma crônica.
Sintomas
O acometimento do SNC, em geral, se manifesta por sinais e sintomas de meningite crônica, como
rigidez na nuca, náuseas, vômito, alterações comportamentais, cefaleia, febre, letargia, déficits
sensitivos e de memória, paresia de nervo craniano, déficits visuais e meningismo. Mais raramente,
déficit auditivo, ataxia e convulsão.
A meningite criptocócica difere da bacteriana pelo fato de muitos pacientes infectados por criptococos
apresentarem sintomas por várias semanas. Casos indolentes (não dolorosos) podem se manifestar
como demência subaguda (comprometimento cognitivo, comportamental, psicológico e motor).
A criptococose meníngea pode acarretar perda súbita da visão.
Pacientes mais idosos com meningoencefalite criptocócica podem apresentar apenas demência sem
outros sinais neurológicos.
Pacientes com AIDS frequentemente têm sintomas neurológicos leves, mas normalmente
apresentam febre e outros sintomas constitutivos; manifestando, rapidamente, sinais de
disseminação.
Sinais mais sugestivos: características clássicas de irritação meníngea (como a tríade de rigidez na
nuca, fotofobia e dor de cabeça) podem estar ausentes na meningite criptocócica. O quadro típico é o
de uma meningoencefalite subaguda crônica. Os pacientes normalmente apresentam cefaleia
progressiva intensa por várias semanas.
Imagens
Antígeno criptocócico em tecido cerebral humano,
conforme revelado pela coloração imuno-histoquímica.
As áreas marrons mostram depósitos de
polissacarídeo no mesencéfalo de um paciente que
morreu em decorrência de meningite criptocócica.
Referências:
Larry, J. J. Medicina Interna de Harrison - 2 Volumes.
20ª edição. Porto Alegre: Grupo A, 2020.
GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina
Interna. 25. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.

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