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APOSTILA SAÚDE PÚBLICA 2021 (1)

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO 
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE 
SAÚDE PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
ORGANIZADOR POR: 
 
ALEXANDRO IRIS LEITE 
 
 
 
 
 
 
MOSSORÓ-RN
 2 
SUMÁRIO 
 
 
IMPORTÂNCIA DO MÉDICO VETERINÁRIO NA SAÚDE PÚBLICA E 
PARA A SOCIEDADE............................................................................................ 
 
A SAÚDE E O VETERINÁRIO NO MEIO RURAL............................................. 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA E 
SAÚDE PÚBLICA................................................................................................... 
 
INSERÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO NA SAÚDE PÚBLICA: MARCOS 
HISTÓRICOS....................................................................................................... 
 
“ONE WORLD: ONE HEALTH”, - HUMAN HEALTH, ANIMAL HEALTH, 
ENVIRONMENTAL HEALTH…………………………………………………... 
 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 
(Título VIII, Seção II, DA SAÚDE)......................................................................... 
 
04 
 
05 
 
 
06 
 
 
16 
 
 
21 
 
 
22 
 
LEI N.º 8.080/90 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE................................................ 24 
 
LEI N.º 8.142/90 - PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA GESTÃO DO 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS.................................................................. 
 
38 
 
RESOLUÇÃO Nº 287/1998 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE.............. 
 
RESOLUÇÃO 03/2019 DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO............ 
 
PORTARIA Nº 2.488/2011, Ministério da Saúde - Aprova a Política Nacional de 
Atenção Básica... Diretrizes da Estratégia Saúde da Família................................... 
 
CFMV - PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O NASF.................................... 
 
A inserção do Médico Veterinário nos Núcleos de apoio à Saúde da Família 
(NASF): novos caminhos de atuação na saúde pública........................................... 
 
Médico Veterinário no Núcleo de Apoio à Saúde da Família: um profissional que 
pode fazer a diferença............................................................................................. 
 
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA........................................................................ 
 
PORTARIA MS Nº 204/2016 e PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO Nº 4/2017 - 
Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e 
eventos de saúde pública no país.............................................................................. 
 
VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE............................................................. 
 
 
39 
 
40 
 
 
43 
 
44 
 
 
47 
 
 
49 
 
58 
 
 
 
68 
 
72 
 
 
 
 3 
O papel do Médico Veterinário na Educação e formação na Vigilância Ambiental 
em Saúde................................................................................................................ 
PORTARIA Nº 1.138/2014 - Ministério da Saúde. Define as ações e os serviços 
de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e animais 
peçonhentos e venenosos.......................................................................................... 
 
DIRETRIZES PARA PROJETOS FÍSICOS DE UNIDADES DE CONTROLE 
DE ZOONOSES E FATORES BIOLÓGICOS DE RISCO..................................... 
 
A VIGILÂNCIA SANITÁRIA E A MUNICIPALIZAÇÃO: ATRIBUIÇÕES E 
COMPETÊNCIAS.................................................................................................... 
 
ASPECTOS GERAIS DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA......................................... 
 
A AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA).............. 
 
NOÇÕES DE HIGIENE – SANEAMENTO AMBIENTAL................................... 
 
TRATAMENTO DE ÁGUA.................................................................................... 
 
ESGOTAMENTO SANITÁRIO.............................................................................. 
 
TRATAMENTO DE RESÍDUIOS SÓLIDOS......................................................... 
 
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE... 
 
ENTENDENDO A PROMOÇÃO DA SAÚDE....................................................... 
A CONSTRUÇÃO DE VIDAS MAIS SAUDÁVEIS............................................. 
DESVELANDO E ENTENDENDO A EDUCAÇÃO............................................. 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: DESTRINCHANDO A DEFINIÇÃO........................ 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: NOVAS PERSPECTIVAS......................................... 
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO CONVÍVIO HOMEM 
X ANIMAL.............................................................................................................. 
 
EDUCAÇÃO POPULAR: UMA PERSPECTIVA, UM MODO DE 
ATUAR..................................................................................................................... 
 
EDUCAÇÃO POPULAR: DE UMA PRÁTICA ALTERNATIVA A UMA 
ESTRATÉGIA DE GESTÃO PARTICIPATIVA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE 
 
77 
 
 
 
86 
 
 
88 
 
 
99 
 
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116 
 
116 
 
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129 
 
131 
 
131 
 
 
132 
 
 
136 
 
 
144 
 
 
 4 
IMPORTÂNCIA DO MÉDICO VETERINÁRIO NA SAÚDE PÚBLICA E PARA A 
SOCIEDADE 
 
Baseado no texto de Nélio Batista de Morais e Ricardo Siqueira Telles Vieira, Médicos 
Veterinários SESA/Ceará, 2006. 
 
 No dia 09 de setembro de 1932, por meio do Decreto nº 23.133, o então Presidente 
do Brasil Getúlio Vargas normatizou a atuação do médico veterinário e o ensino da 
profissão no país (em função disso, a data passou a ser comemorada como o Dia do 
Veterinário). 
De lá pra cá, sempre se relacionou o conhecimento do papel do médico veterinário 
na preservação da saúde dos animais de estimação. Porém, esta é apenas uma das inúmeras 
atividades de grandiosa importância que este profissional exerce em prol do 
desenvolvimento da sociedade e de todo o planeta. O papel do veterinário hoje na 
sociedade é muito mais amplo, mais importante e mais abrangente. 
O médico veterinário cada vez mais está presente nos setores de saúde pública, 
aplicando seus conhecimentos específicos, garantindo a saúde da população animal e, por 
conseguinte do homem. Em 1946 a Organização Mundial de Saúde (OMS), face à 
importância estratégica da profissão na área de saúde, implantou o setor de saúde pública 
veterinária para dar sustentabilidade e apoio aos países membros em políticas de saúde 
pública vinculadas à importante área da medicina veterinária. 
A inspeção de produtos de origem animal – como carne, leite, pescados, ovos, mel 
e seus derivados comercializados – principalmente em abatedouros e frigoríficos é 
executada exclusivamente pelo médico veterinário. Trata-se de uma análise apurada a fim 
de averiguar a procedência do produto, suas características físico-químicas e a presença de 
agentes contaminantes. Portanto, o médico veterinário fiscaliza o cumprimento das normas 
de higiene nas indústrias, com a finalidade de assegurar a qualidade e a segurança dos 
alimentos, evitando a transmissão de doenças e toxi-infecções para o homem. 
O médico veterinário é imprescindível para a diminuição da carência nutricional da 
população quando incrementa à produção animal através da zootecnia, nutrição animal, 
melhoramento genético, bem-estar animal, sanidade do rebanho, seleção de matrizes e 
reprodutores, aproveitamento de produtos de origem animal, biotecnologias da reprodução 
e administração de propriedades; obtendo como resultado o aumento da oferta, qualidade e 
higidez da proteína animal. 
O Brasil é, hoje, líder mundial na exportação de carne bovina, além de abrigar o 
maior rebanho comercial do planeta. Isso só pode se manter com um elevado grau de 
sanidade dos rebanhos, na qual este profissional é o responsável direto desta atividade. 
Generaliza-se uma consciência universal deque não há mais como conviver com 
um modelo de desenvolvimento econômico que degrade os recursos naturais. A palavra de 
ordem prevalece na sociedade e que deve ser assimilada e assumida pela medicina 
veterinária é a promoção do desenvolvimento com sustentabilidade ambiental. O médico 
veterinário é peça fundamental destas macro-questões, integrando equipes 
multidisciplinares na formulação de políticas ambientais, organizando criadouros 
conservacionistas, preservando o germoplasma de espécies em extinção, atuando nas áreas 
de proteção ambiental, no mapeamento genético e proteção da fauna e integrando os 
movimentos organizados da sociedade em prol da educação ambiental e da promoção do 
desenvolvimento sustentável. 
Atualmente, o médico veterinário está cada vez mais inserido para lidar com 
assuntos internacionais em temas ligados à globalização, comércio internacional, 
biossegurança e bioterrorismo, enfermidades exóticas, emergências zoossanitárias, 
 5 
produção e estudo das doenças dos animais silvestres, com ênfase para as zoonoses e 
gestão de programas de produção e saúde animal. 
Jamais se pode esquecer que por trás de um copo de leite no café da manhã, uma 
visita ao zoológico, uma parada na lanchonete para comer um hambúrguer, um shopping 
sem a presença de pragas, um cão e um gato saudável, uma zoonose que é controlada, uma 
intoxicação alimentar que é evitada, entre tantos outros, está a presença marcante do 
Médico-Veterinário. 
 
“O Médico Veterinário é o artista que converte uma parte da natureza em 
prazer, alimento e ciência” (Celso dos Anjos). 
 
 
A SAÚDE E O VETERINÁRIO NO MEIO RURAL 
 
Texto extraído do Jornal da ENEV Nº 01 abril/maio 2005. 
 
Ao longo das décadas de 70 e 80 foi desencadeado um processo de mobilização de 
militantes em defesa da reforma sanitária. Iniciava-se um pensamento que mudaria a 
forma de se lidar com a saúde. O que antes era visto como assistencialista e baseado no 
atendimento hospitalar, ou seja, meramente curativo, passa a ser abordado de maneira 
abrangente, preventiva e geradora de saúde, sendo esta considerada o bem estar físico, 
mental e social do indivíduo e do coletivo, e não mais a simples ausência de doenças. 
Deste acúmulo foi criado, em 1987, o Sistema Único de Saúde que opera dentro de 
conceitos de universalidade, equidade e integralidade. Além deste, houve outros avanços 
como a Constituição de 1988, que garante a saúde como direito de todos e dever do 
Estado. 
Podemos observar também, na primeira metade do século XX, mudanças na matriz 
tecnológica, originadas pela intenção de aumento nos índices de produção. Sendo assim, o 
meio urbano presenciou uma imensa expansão das indústrias, gerando uma grande onda de 
migração em busca de empregos e oportunidades, elevando assim as densidades 
demográficas dos grandes centros. O inchaço das periferias provocado pelo êxodo rural 
constitui um novo contingente de demanda urbana muito além da capacidade do sistema de 
saúde em absorvê-lo. Isto produz uma crise social e política, com ampla repercussão 
mediática, de tal monta, que resulta em direcionamento das políticas públicas de saúde 
quase exclusivamente para as cidades. Logo, o campo não permaneceu imune às alterações 
causadas pelo avanço das grandes fábricas e das novas relações de trabalho, também neste 
aspecto. 
 A utilização de agro-química tornou-se uma prática cada vez mais periódica entre 
os produtores rurais. Os insumos, entre outros, sofreram gradativa banalização em sua 
toxicidade, sem que fossem considerados os impactos aos recursos naturais, ao ambiente e 
à saúde animal e humana por eles causado. 
Na pecuária e nas outras modalidades de produção animal, este avanço tecnológico, 
caracterizado pelo uso indiscriminado de fármacos e outros tóxicos, ocorreu no final do 
século XX. Não podemos esquecer que estes pacotes de uso veterinário são tão prejudiciais 
quanto os agrícolas, e que devemos atentar para o uso destes, afinal, nossa profissão 
também possui a atribuição de gerar saúde, qualquer que seja a área de atuação. 
 Tanto a velha saúde quanto o novo método de produção agropecuária estão 
intimamente ligados com, a postura conservadora da universidade atual. Ao longo das 
décadas, ela vem sendo alvo de uma constante manipulação das elites que gerem o Estado, 
já que é um setor estratégico da produção de conhecimento e dá o respaldo técnico ao 
 6 
argumento da necessidade de tais modelos. Isto foi aprofundado pelo governo ditatorial 
militar, que, do mesmo modo que fazia uso da força para conter as mobilizações sindicais e 
estudantis, lançava mão do aparato ideológico nos centros universitários. Este artifício 
possibilitou a perpetuação de ambas as formas de pensar saúde e produção, garantindo o 
lucro das grandes empresas farmacêuticas e agrícolas através, da formação de profissionais 
aptos a trabalhar em tal modelo tecnológico. 
 Portanto, na condição de profissionais de veterinária, precisamos estar atentos ao 
modelo educacional ao qual fomos e estamos sendo submetidos, criticando práticas que 
nos são repassadas, pois, além de se distanciarem da realidade do país, da grande maioria 
da população e das demandas sociais, causam sérios danos irreversíveis á saúde e ao meio 
em que nos inserimos. 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA E 
SAÚDE PÚBLICA. 
PFUETZENREITER, Márcia Regina; ZYLBERSZTAJN, Arden; AVILA-PIRES, 
Fernando Dias de. Evolução histórica da medicina veterinária preventiva e saúde pública. 
Ciência Rural. Santa Maria, v. 34, n. 5, 2004. 
INTRODUÇÃO 
A pesquisa histórica aqui apresentada, feita por meio de um trabalho bibliográfico 
documental traça a evolução histórica da Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública 
desde os seus primórdios. O surgimento do conceito de saúde pública veterinária foi 
analisado, bem como as atividades realizadas pelo médico veterinário dentro desse âmbito, 
até chegar ao cenário atual, apontando as tendências e desafios para o setor. A prática 
veterinária tem sido muito voltada aos aspectos populacionais e preventivos e muitas 
táticas utilizadas para o combate de enfermidades em populações humanas foram 
contribuições prestadas pela Medicina Veterinária. 
Há dois tipos de prática da Medicina Veterinária que estão direcionadas para a medicina 
populacional. Uma delas é a Medicina Veterinária Preventiva que está ligada à saúde 
humana por aplicar conhecimentos da epidemiologia para prevenir as enfermidades 
animais e melhorar a produção de alimentos. O segundo tipo de prática veterinária voltada 
para a medicina populacional é a saúde pública, que foi primeiramente desenvolvida por 
meio da higiene de alimentos. 
 O SURGIMENTO DAS ATIVIDADES DE MEDICINA VETERINÁRIA 
PREVENTIVA 
SCHWABE (1984) descreve as ações praticadas pela Medicina Veterinária Preventiva 
dividindo-as em cinco fases e as considera aparentadas com as atividades relacionadas à 
“doença animal”: 
Fase de ações locais 
Este período tem seu princípio na pré-história e continua até o primeiro século da era 
cristã. Os primeiros esforços dirigidos contra a doença animal que se tem conhecimento 
 7 
foram descritos nas antigas civilizações da Suméria, Egito e Grécia, com referências a 
curandeiros de animais antes da era cristã. Esse tipo de ocupação acompanhou o 
surgimento da civilização urbana, desenvolvimento que dependeu da habilidade das 
populações rurais em produzir alimentos em quantidade suficiente para sua subsistência, 
fazendo uso da força animal. Ao lado do tratamento médico, cirúrgico e obstétrico 
individual, duas outras táticas eram aplicadas localmente para o controle das enfermidades 
animais, antes ainda que tivesse sido desenvolvida a teoria do contágio: o emprego da 
quarentena (segregação dos animais doentes dos sadios) e o sacrifício de animais 
enfermos. 
Fase militar 
Essa fase tem seu início no primeiro século da era cristã.A expansão das nações levou aos 
esforços no controle de doenças animais em larga escala. Houve a criação de estruturas 
organizadas de pessoas que curavam os animais dentro dos exércitos, pela importância 
militar que o cavalo assumia. Durante esse longo período de serviços veterinários que 
abrangeu a Idade Média e o Renascimento, os avanços no controle de doenças se limitaram 
ao aperfeiçoamento das técnicas básicas do diagnóstico clínico com o desenvolvimento da 
habilidade de diferenciar as combinações dos sinais de doenças específicas. Essa quarta 
tática para o controle das enfermidades dos animais estava associada à melhoria na 
organização de infra-estrutura dos serviços. 
Fase da polícia sanitária animal 
A terceira fase começa em 1762 – com a criação da primeira escola de veterinária. O início 
dessa fase se precipitou pelos problemas econômicos ocasionados pelo irrompimento de 
enfermidades atingindo um grande número de animais na Europa. Essa crise foi germinal 
para o estabelecimento da primeira escola de medicina veterinária separada da medicina 
humana. Os líderes militares reconheceram o potencial de tais esforços educacionais 
organizados e muitos estudantes das primeiras escolas eram oficiais militares. Nessa fase, 
houve o estabelecimento de centros organizados de tratamento veterinário, primeiramente 
como parte das escolas de veterinária e, mais tarde, como serviços separados. 
Duas novas táticas para o controle de enfermidades animais foram adotadas: a higiene 
(quinta tática) e o controle sobre o abate de animais (sexta tática). O controle sanitário 
incluía os locais de produção de animais e os matadouros, com o objetivo de combater as 
doenças animais e também as enfermidades humanas que estavam sendo associadas a 
alimentos de origem animal. Essas ações forneceram diretamente a base para os primeiros 
esforços direcionados à saúde pública. A aplicação dessas táticas representou uma 
oportunidade para o trabalho educacional dos proprietários de animais. Observou-se que 
uma das principais falhas dos programas veterinários para o controle de enfermidades não 
estaria nas deficiências técnicas dos programas, mas nas deficiências da comunicação com 
o público. 
Fase das campanhas ou ações coletivas 
Os anos 80 do século XIX inauguram essa fase, com as observações e experimentos sobre 
o anthrax por Delafond – diretor da Escola de Veterinária de Alfort (segunda escola de 
veterinária fundada no mundo) – e pelos conhecidos trabalhos de Pasteur, Chauveau, Koch 
e Salmon. Esses nomes e outros conduziram à “revolução microbiológica” como resultado 
 8 
da compreensão das formas de contágio, que forneceu a base para uma nova abordagem 
para a investigação de doenças na busca e identificação de seus agentes etiológicos. Foram 
iniciados programas de ações governamentais no combate às infecções dos animais de 
fazenda. Durante essa fase houve grande sucesso no controle de doenças, o que abriu a 
possibilidade para a criação de animais em produção intensiva. 
Nessa fase, foi introduzida uma outra tática para a prevenção e controle de enfermidades 
que consiste em ações populacionais como o diagnóstico, a imunização e a terapia em 
escala populacional, além de alguns procedimentos em ecologia aplicada como o controle 
de vetores. Muitas dessas medidas, primeiramente visualizadas e praticadas pelos 
veterinários, foram posteriormente extrapoladas e se mostraram bem sucedidas para 
problemas similares em saúde pública. A aplicação dessas medidas permitiu o uso rápido e 
sistemático de outros procedimentos como a quarentena, sacrifício de animais reagentes e 
desinfecção local. 
O controle de vetores surgiu como uma medida preventiva única, sem precedentes como 
resultado dos estudos epidemiológicos de Salmon juntamente com Kilborne, Smith e 
Curtice. Esses pesquisadores foram os primeiros a demonstrar a transmissão de um 
microrganismo por meio de artrópodes sobre a febre do gado no Texas – piroplasmose 
bovina ou babesiose. Ao lado das táticas citadas para essa fase, que durou até os anos de 
1960, está a educação em saúde dos proprietários dos animais. 
Fase de vigilância e ações coletivas 
O surgimento da teoria sobre os agentes etiológicos de doença pela revolução 
microbiológica marcou uma fase muito produtiva para a Medicina Veterinária Preventiva. 
No entanto, observou-se que outros fatores intervinham no aparecimento das enfermidades, 
sendo necessária uma abordagem mais ampla do problema. Muitas vezes, a presença do 
agente etiológico é necessária, mas não suficiente para explicar o aparecimento das 
enfermidades. Essa constatação gerou uma crise na Medicina Veterinária Preventiva que se 
instalou no início dos anos de 1950 pela verificação de vários aspectos (SCHWABE, 
1984): a) apesar de serem efetuadas campanhas contra uma série de enfermidades, houve 
uma redução das mesmas, mas sem produzir sua eliminação; b) o custo para o controle de 
muitas enfermidades era muito grande; c) ausência de conhecimentos para o controle de 
algumas doenças; d) incapacidade em lidar com novas situações práticas que surgiam na 
criação intensiva. 
Em resposta a essa crise, surgiu a “revolução epidemiológica”, com a compreensão de que 
cada situação requer análise dos fatores que interagem para a ocorrência de doenças. A 
epidemiologia, que focaliza seus estudos sobre populações, foi introduzida na Medicina 
Veterinária Preventiva por meio da Saúde Pública para auxiliar sua prática. O diagnóstico 
epidemiológico passou a constituir uma nova tática para o controle de enfermidades. Essa 
fase teve seu início na década de 1960 e continua até os dias de hoje (SCHWABE, 1984). 
Neste período, a epidemiologia começou a ser reconhecida como campo de estudo e 
muitos médicos e médicos veterinários se tornaram conscientes da aptidão destes últimos 
para trabalhar em saúde pública. O ingresso simultâneo dos profissionais da Medicina 
Veterinária no campo das doenças transmissíveis e nos serviços médicos preventivos foi 
permitido pelo reconhecimento dos seus conhecimentos e habilidades em medicina 
populacional e também pela importância das zoonoses, que perfazem 80% das doenças 
 9 
transmissíveis em humanos. Essas habilidades dos veterinários e esses atributos que eles 
podem levar para a saúde pública fazem desta profissão um elo de ligação entre o setor da 
agricultura e da saúde humana (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 
1975). 
A SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA 
A saúde pública é a segunda área da prática veterinária voltada para as populações. 
ROSEN (1994) descreve algumas ações ligadas a essa área na idade média. Nessa época, 
não havia planejamento urbano e as moradias se apinhavam sob os muros de proteção das 
cidades onde os habitantes conservavam hábitos da vida no campo. Animais como porcos, 
gansos e patos eram criados nas casas, o que causava incômodo pelo acúmulo de 
excrementos. Para resolver o problema, os municípios criaram uma série de regulamentos, 
que incluía a construção de instalações para os animais e a criação de matadouros 
municipais. As medidas para o controle de alimentos já eram tomadas na época, porém em 
certas cidades a carne de animais doentes era enviada para hospitais. 
Após a fundação das primeiras escolas de Medicina Veterinária, na segunda metade do 
século XVIII seguiram-se dois movimentos. O primeiro deles estava destinado a deter as 
epidemias que atingiam o gado naquela época e o segundo voltado para reduzir os riscos 
para a saúde humana ao abate indiscriminado de animais para comercialização 
(SCHWABE, 1984). 
O início das atividades da Medicina Veterinária em Saúde Pública ocorreu no século XIX, 
na indústria da carne. Robert von Ostertag na Alemanha e Daniel E. Salmon nos Estados 
Unidos da América deram início ao que se conhece atualmente como proteção dos 
alimentos (ORGANIZACIÓN PANAMERICA DE LA SALUD, 1975). 
A importância da MedicinaVeterinária para a saúde humana coincidiu com o crescente 
reconhecimento entre os núcleos de estudiosos de médicos e veterinários europeus que 
desenvolviam pesquisas médicas comparadas em parceria nas áreas de anatomia e 
fisiologia. Esses estudos ocorreram particularmente nas escolas de veterinária francesas na 
primeira metade do século XIX e o prosseguimento dessas pesquisas forneceu os 
princípios para a elaboração da “revolução microbiológica”. O incremento da pesquisa 
médica comparada no final do século XIX propiciou uma forte ligação entre a Medicina 
Veterinária e a Medicina Humana e influenciou o desenvolvimento de uma tradição 
educacional em algumas escolas de veterinária mais intimamente ligada aos interesses da 
medicina humana que da agricultura (SCHWABE, 1984). 
SCHWABE (1984) descreve os períodos de atividade da saúde pública dentro da Medicina 
Veterinária. O primeiro período teve como alicerce a higiene de alimentos e foi a partir 
dessa base que alguns poucos veterinários assumiram posições administrativas nos 
programas de saúde pública de vários países, no final do século XIX e início do século XX. 
Seguiu-se um intervalo de relativa estabilidade da participação veterinária no trabalho de 
saúde pública que durou até a Segunda Guerra Mundial. 
A segunda fase da Medicina Veterinária na saúde pública, que teve seu início após a 
Segunda Guerra, se caracterizou pelo trabalho voltado para a população com o uso da 
epidemiologia no desenvolvimento de programas de controle de zoonoses pelas agências 
de saúde pública. Como conseqüência da interação com profissionais da medicina humana, 
 10 
os médicos veterinários começaram a ocupar várias posições nas áreas técnicas e 
administrativas da saúde pública. 
Em 1944, a Organização Panamericana de Saúde começou a contratar veterinários como 
consultores. Em 1946, a conferência de estruturação da Organização Mundial de Saúde 
recomendou a criação de uma seção de saúde veterinária, que foi estabelecida em 1949 
(VIANNA PAIM & CAVALCANTE DE QUEIROZ, 1970). A evolução da saúde pública 
veterinária será vista a seguir, sendo utilizados como base os documentos produzidos na 
época para a pesquisa histórica empreendida. 
O termo saúde pública veterinária foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1946, 
durante um encontro que incumbia a OMS de fornecer uma estrutura conceitual e 
programática para aquelas atividades de saúde pública que envolvem a aplicação do 
conhecimento em Medicina Veterinária direcionado para a proteção e promoção da saúde 
humana. Na primeira reunião da OMS/FAO o termo foi assim definido: “A saúde pública 
veterinária compreende todos os esforços da comunidade que influenciam e são 
influenciados pela arte e ciência médica veterinária, aplicados à prevenção da doença, 
proteção da vida, e promoção do bem-estar e eficiência do ser humano”. (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 1951). 
O documento aponta que o termo saúde pública veterinária era relativamente novo na 
língua inglesa – veterinary public health, mas já havia ganho grande aceitação. Em nota de 
rodapé, o grupo recomenda as traduções para alguns idiomas: para o francês – hygiène 
publique vétérinaire, para o espanhol – salud publica veterinária, em italiano – sanità 
pubblica veterinária, e, finalmente em português – saúde pública veterinária. 
O médico veterinário se incorpora muito facilmente ao grupo de profissionais de saúde por 
estar habituado a proteger a população contra as enfermidades coletivas. O tipo de 
formação recebida pelo veterinário está em harmonia com o conceito de saúde pública, que 
considera todos os fatores que determinam a saúde coletiva, sem limitar-se às necessidades 
do indivíduo. O informe complementa que em muitas escolas de veterinária, a medicina 
preventiva – que se ocupa em combater as enfermidades animais – forma uma parte tão 
importante do programa quanto a patologia, a clínica e a cirurgia veterinária 
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1957). 
As atividades da saúde pública veterinária citadas são: as zoonoses, a higiene dos 
alimentos e os trabalhos de laboratório, de biologia e as atividades experimentais. O 
informe assinala que a luta contra as zoonoses se constitui em uma das principais 
atividades da saúde pública veterinária. Essas enfermidades constituem um importante 
fator de morbidade e pobreza, pelas infecções agudas e crônicas que causam aos seres 
humanos e pelas perdas econômicas ocasionadas na produção animal. A prevenção e a 
eliminação desse tipo de enfermidade no homem dependem, em grande parte, das medidas 
adotadas contra essas doenças nos animais. 
No texto, argumenta-se que as ações de combate não podem ser adotadas independemente 
pelas autoridades sanitárias e agrícolas e a melhor maneira para enfrentar o problema seria 
coordenar os esforços dos serviços de saúde e de agricultura por meio da saúde pública 
veterinária (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1957). 
 11 
No Segundo Comunicado Técnico de Especialistas em Zoonoses (WORLD HEALTH 
ORGANIZATION, 1959) foi reconhecida a existência de mais de cem zoonoses, o que fez 
com que aumentasse a importância dos programas de prevenção, controle e erradicação 
dessas enfermidades. 
Dando seqüência à série de reuniões efetuadas para discutir temas ligados à saúde pública 
veterinária, especialistas do comitê da FAO/OMS em saúde pública veterinária se reuniram 
no final de 1974, em Genebra. O principal objetivo do encontro era reforçar a importância 
cada vez maior dos médicos veterinários no trabalho de saúde pública e a conseqüente 
necessidade de fortalecer os serviços de saúde pública veterinária. Na reunião, foram 
definidos os propósitos do campo de atuação: “A saúde pública Veterinária (SPV) é um 
componente das atividades de saúde pública devotado à aplicação das habilidades, 
conhecimentos e recursos da profissão veterinária para a proteção e melhora da saúde 
humana” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975). 
No documento, há uma nota explicativa afirmando que a medicina veterinária é um braço 
estendido da medicina, que se ocupa da saúde de outras espécies animais que não os seres 
humanos. A saúde pública veterinária desempenha diversas funções na saúde pública que 
obedecem à vasta comunhão de interesses existentes entre a medicina veterinária e a 
medicina humana e oferecem a oportunidade de uma proveitosa interação entre ambas. 
Como profissão cruzada, a saúde pública veterinária apresenta natureza interdisciplinar, 
voltando-se simultaneamente para ambas as direções: os seres humanos e os animais. 
A produção de proteínas de alto valor biológico para consumo humano em quantidade 
suficiente é resultado do sucesso da Medicina Veterinária em manter economicamente sob 
controle as doenças animais. Essas atividades são importantes benefícios adicionais na 
proteção da saúde humana, especialmente quando os esforços no controle de doenças se 
direciona para o combate às zoonoses (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975). 
Atualmente, as atividades básicas de proteção da saúde animal, com especial atenção para 
o combate às zoonoses fazem com que as concepções de saúde e doença da Medicina 
Veterinária Preventiva sejam as mesmas da saúde pública veterinária formando um modo 
único de pensar – a preocupação com a promoção da saúde na coletividade, constituindo 
um estilo de pensamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública 
(PFUETZENREITER, 2003). 
Os médicos veterinários podem desempenhar dois tipos de função dentro da saúde pública. 
O primeiro tipo estabelece as atividades para as quais o veterinário tem uma qualificação 
única. O outro abrange as atividades que podem ser desempenhadas igualmente pelos 
veterinários, pelos médicos e pelos demais profissionais do setor. A publicação da OMS 
resultante de uma reunião de especialistas em saúde pública veterinária (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 1975) procurou especificar essas contribuiçõesda Medicina 
Veterinária para a Saúde Pública, como será detalhado a seguir. 
São inúmeras as contribuições da Medicina Veterinária para a saúde humana. A primeira e 
mais básica função do sanitarista veterinário está fundamentada no contexto puramente 
veterinário por sua conexão com os animais inferiores e suas doenças, relacionado à saúde 
e bem-estar humanos. Essas atividades refletem as qualificações específicas dos médicos 
veterinários e normalmente são a base da formação do veterinário de saúde pública dos 
organismos de saúde. 
 12 
O encargo relacionado diretamente com os animais inclui: a) diagnóstico, controle e 
vigilância em zoonoses; b) estudos comparativos da epidemiologia de enfermidades não 
infecciosas dos animais em relação aos seres humanos; c) intercâmbio de informações 
entre a pesquisa médica veterinária e a pesquisa médica humana com vistas à aplicação 
desta para as necessidades da saúde humana; d) estudo sobre substâncias tóxicas e venenos 
provenientes dos animais; e) inspeção de alimentos e vigilância sanitária; f) estudo de 
problemas de saúde relacionados às indústrias animais, incluindo o destino adequado de 
dejetos; g) supervisão da criação de animais de experimentação; h) estabelecimento de 
interligação e cooperação entre as organizações de saúde pública e veterinária com outras 
unidades relacionadas com animais; i) consulta técnica sobre assuntos de saúde humana 
relativos aos animais. 
Outros contextos das atividades desempenhadas pelo sanitarista veterinário são o 
biomédico e o generalista. Ainda que o médico veterinário exerça atividades puramente 
veterinárias como as acima mencionadas, sua ampla formação básica nas ciências 
biomédicas o qualifica para desempenhar muitos papéis adicionais na saúde pública, que 
são comuns aos médicos e a outros membros da equipe como: a) epidemiologia em geral; 
b) laboratório de saúde pública; c) produção e controle de produtos biológicos; d) proteção 
dos alimentos; e) avaliação e controle de medicamentos; f) saneamento ambiental; g) 
pesquisa de saúde pública. 
A formação conferida aos médicos veterinários os qualifica para desempenhar funções 
generalistas, que podem ser executadas por outros membros da equipe de saúde pública, 
como a administração, o planejamento e a coordenação de programas de saúde pública. 
De acordo com o Comitê de Especialistas em Saúde Pública Veterinária (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 1975) o ponto crucial de implementar a ampliação da 
atuação do médico veterinário na saúde pública está não apenas em melhorar os canais de 
comunicação interprofissionais e em estabelecer uma infra-estrutura apropriada para a 
carreira, mas sobretudo, em assegurar uma boa formação aos profissionais na área. Deve 
haver um estímulo e fortalecimento da educação veterinária – que deveria receber apoio 
tanto por parte dos setores de saúde pública, quanto da agricultura – para o ensino de saúde 
pública. Todos os profissionais deveriam estar voltados para a importância da profissão 
veterinária para a saúde humana, sendo considerado lamentável quando um médico 
veterinário não está consciente disso. 
CENÁRIO ATUAL E TENDÊNCIAS DA MEDICINA VETERINÁRIA 
PREVENTIVA E SAÚDE PÚBLICA 
A expressão saúde pública veterinária é utilizada para designar o marco conceitual e a 
estrutura de implementação das atividades de saúde pública que empregam conhecimentos 
e recursos da medicina veterinária para proteger e melhorar a saúde humana. A saúde 
pública veterinária vincula a agricultura, a saúde animal, a educação, o ambiente e a saúde 
humana. Seus princípios de base estão fortemente ligados nas ciências biológicas e sociais 
que se encontram amplamente difundidos na agricultura, na medicina e no meio ambiente 
(ARÁMBULO, 1991). 
A proteção dos alimentos e o controle e erradicação de zoonoses permanecem as funções 
de maior interesse na área. Também ganham destaque outros três enfoques: os modelos 
biomédicos (pesquisas em animais para estudar os problemas de saúde dos seres humanos), 
 13 
o desenvolvimento dos serviços de saúde pública veterinária, e o ensino e formação em 
saúde pública. Em relação ao último tópico, recomenda-se a mudança de abordagem dos 
currículos – com concentração excessiva na clínica – para fornecer uma educação mais 
voltada para os aspectos de saúde pública (ARÁMBULO, 1991). 
BÖGEL (1992) aponta para a importância da realização de pesquisas sobre as necessidades 
e tendências da educação veterinária e confirma a atenção que deve ser dispensada à 
formação veterinária enfatizando a saúde pública. O autor argumenta que em um mundo 
com uma população cada vez mais numerosa, que recorre a novos sistemas de exploração 
do solo e a novas tecnologias, é importante o desenvolvimento de uma medicina 
veterinária populacional. A orientação dispensada à medicina veterinária dentro da tríade 
formada pelo meio ambiente, o animal e o homem deve ser acompanhada de uma 
importante expansão da saúde pública veterinária e de uma profunda modificação da 
formação veterinária, mais centrada na interdisciplinaridade. O autor aponta que os 
principais problemas enfrentados pela saúde pública veterinária são as novas 
biotecnologias, o controle das infecções de origem alimentar, os novos sistemas de 
exploração agrária e as questões éticas relativas a esses problemas. 
Tradicionalmente dentro do âmbito da saúde pública, a medicina veterinária tem 
trabalhado no controle das zoonoses e na proteção sanitária dos alimentos. Além destes 
setores, situações específicas relacionadas com o meio ambiente têm chamado a atenção 
para a atuação da profissão veterinária. O trabalho interdisciplinar, a incorporação nos 
grupos inter-setoriais e inter-institucionais que planificam, executam e avaliam estudos e 
projetos de impacto ambiental, estão abrindo oportunidades para a presença do médico 
veterinário nesse segmento (CIFUENTES, 1992). 
Para realizar atividades ligadas à área ambiental, CIFUENTES (1992) aponta que o médico 
veterinário deve ter conhecimentos gerais sobre as ciências do ambiente, além de 
conhecimentos sobre: a) as relações ambiente-enfermidade; b) as atividades agropecuárias 
e suas relações sobre o ambiente; c) modelos de avaliação de estudos de impacto 
ambiental; d) tecnologia básica para a proteção e saneamento ambiental. Na formação 
acadêmica dos médicos veterinários, o autor propõe que as escolas ofereçam 
conhecimentos aprofundados nas áreas de ciências ambientais, ecologia, biologia e 
saneamento ambiental para que os profissionais possam ser incorporados e oferecer sua 
contribuição a esses setores. 
NIELSEN (1997) declara que o profissional de Medicina Veterinária deve ter um nível de 
competência consistente com as demandas da sociedade. O reconhecimento da importância 
da profissão para a sociedade está na dependência de sua relevância social. As questões de 
maior relevância social apontadas para a profissão para este século são: a) produção de 
alimentos com utilização de métodos sustentáveis levando em consideração o crescimento 
populacional; b) proteção do meio ambiente à degradação e perda da biodiversidade; c) 
profilaxia das novas zoonoses com potencial epidêmico. Todas essas questões apontadas 
pelo autor estão ligadas à sustentabilidade. 
A redução da pobreza especialmente nas comunidades rurais, a produção de alimentos sem 
produzir desgaste ambiental e o controle de enfermidades relacionadas ao meio ambiente 
constituem alguns dos desafios para a população mundial atual. Nesse contexto cresce a 
importância da participação do sanitarista veterinário nessas questões ligadas à 
sustentabilidade, em que as populações devem examinar seus padrões de produção e 
 14 
consumo e se comprometer com um crescimento econômico responsável que respeite o 
meio ambiente. Todos esses tópicos ligados à sustentabilidade devem ser mais enfatizados 
na formação veterinária. 
O problemadas zoonoses é destacado por vários autores (CRIPPS, 2000; OSBURN, 1996; 
STÖHR & MESLIN, 1997). Esse grupo de enfermidades continua a representar um 
importante problema de saúde para grande parte do mundo, com elevadas perdas para os 
setores de saúde e de agricultura, principalmente nos países em desenvolvimento. O risco 
de infecções emergentes por novas entidades patológicas ou por agentes conhecidos 
aparecendo em novas áreas ou em novas condições vem aumentando nos últimos anos. O 
controle das enfermidades desta natureza requer uma cooperação inter-setorial e inter-
institucional, reunindo segmentos ligados à saúde, finanças, planejamento, comércio, 
agricultura e indústria de alimentos, consumidores e comunidade científica biomédica e 
agrária (STÖHR & MESLIN, 1997). 
Em 1999, reuniu-se na Itália um Grupo de Estudos para discutir as tendências da Saúde 
Pública Veterinária para o futuro. Na publicação resultante do encontro (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 2002) está contida uma revisão que se tornou uma 
oportunidade de reexame do papel e funções sobre a área. 
A preocupação predominante da Saúde Pública Veterinária durante os anos de 1970 e 1980 
estava voltada para os riscos da poluição química ao ambiente e aos alimentos (resultante 
de pesticidas, resíduos animais, e outras substâncias tóxicas). Entretanto, nas duas últimas 
décadas as zoonoses emergentes e re-emergentes têm adquirido significância global. 
Dentre outros, são citados os problemas relacionados à Salmonella enteritidis das aves, as 
febres hemorrágicas virais de Marburg e Ebola, a ligação entre a encefalite espongiforme 
bovina e a doença de Creutzfeldt-Jacob, as Hantaviroses, e vários outros exemplos de 
agentes zoonóticos que requerem o trabalho conjunto de médicos, veterinários e biólogos. 
Ao lado desses problemas estão as novas tendências na prática de produção, as 
interferências nas populações de animais silvestres, as mudanças demográficas, a 
mobilidade das populações, a urbanização e globalização da indústria de alimentos. Essas 
alterações devem estar acompanhadas de níveis aumentados de vigilância epidemiológica e 
de novas abordagens para o controle e prevenção de doenças (WORLD HEALTH 
ORGANIZATION, 2002). 
Em face dessa nova situação, as atividades da Saúde Pública Veterinária devem estar em 
consonância com outros esforços nas áreas da saúde, agricultura e ambiente. O Grupo de 
Estudos redefiniu a Saúde Pública Veterinária e o escopo de seus esforços colaborativos, e 
a Saúde Pública Veterinária passou a ser considerada como “a soma de todas as 
contribuições para o bem-estar físico, mental e social dos seres humanos mediante a 
compreensão e aplicação da ciência veterinária” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 
2002). A ciência veterinária engloba todas as atividades veterinárias incluindo a produção 
animal e a saúde, cumprindo as funções essenciais na saúde pública e influenciando 
diretamente a saúde humana pelo seu conhecimento e experiência. 
Pelo menos metade dos 1700 agentes conhecidos que infectam os seres humanos tem um 
vertebrado como reservatório animal ou inseto como vetor e muitas doenças emergentes 
são zoonoses. Em vista disso, há necessidade de fortalecimento da ligação entre a medicina 
animal e a humana. Além das atividades habituais, os domínios específicos emergentes da 
Saúde Pública Veterinária que podem trazer contribuições significativas para a saúde 
 15 
pública são: a) investigação, epidemiologia e controle de doenças comunicáveis não 
zoonóticas; b) aspectos sociais, comportamentais e mentais da relação entre seres humanos 
e animais; c) epidemiologia e prevenção de doenças não infecciosas (incluindo a promoção 
de estilos de vida saudáveis); d) análises e avaliações de serviços e programas de saúde 
pública; e) atividades que envolvem o contexto social, especialmente aquelas em que há 
participação em programas de educação em saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 
2002). 
Deve ser ressaltada uma atividade importante do médico veterinário dentro da saúde 
pública que é a educação em saúde. Esse profissional pode atuar na difusão de informações 
e na conscientização das pessoas sobre os temas ligados à saúde. A participação do 
sanitarista veterinário é fundamental nos programas de educação em saúde para a proteção 
e promoção da saúde humana em comunidades dentro dos princípios do desenvolvimento 
sustentável. 
Esse significativo tema, ao lado daqueles discutidos aqui anteriormente, deve ser 
trabalhado com atenção na formação veterinária para acompanhar as necessidades atuais 
da sociedade e antecipar as exigências para o futuro. O profissional formado em Medicina 
Veterinária que possuir sólidos fundamentos nos conteúdos pertinentes à Medicina 
Veterinária Preventiva e Saúde Pública, além da habilidade para trabalhar de forma 
interdisciplinar estará preparado para auxiliar as populações humanas a enfrentarem seus 
principais desafios. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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century. Revue Scientific Technique, v.11, n.1, p.255-262, 1991. 
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Revue Scientific Technique, v.11, n.1, p.219-239, 1992. 
CIFUENTES, E.E. Protección del medio ambiente y actividades de salud pública 
veterinaria. Revue Scientifique Technique, v.11, n.1, p.191-203, 1992. 
CRIPS, P.J. Veterinary education, zoonoses and public health: a personal perspective. Acta 
Tropica, v.76, p.77-80, 2000. 
NIELSEN, N.O. Reshaping the veterinary medical profession for the next century. 
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salud publica. Geneva : WHO, 1957. 30p. (Informe Técnico n.111). 
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. A competency-based 
curriculum for veterinary public health and preventive medicine. Washington : 
Paho/WHO, 1975. 115p. (Publicación Científica 313). 
OSBURN, B.I. Emerging diseases with a worldwide impact and the consequences for 
veterinary curricula. Veterinary Quarterly, v.18, n.3, p.124-126, 1996. 
 16 
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pública nos cursos de medicina veterinária – estudo de caso realizado na 
Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 2003. 459f. Tese (Doutorado 
em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Santa 
Catarina. 
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STÖHR, K.; MESLIN, F.X. The role of veterinary public health in the prevention of 
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Report of a WHO Study Group. Geneva, 2002. 85p. (WHO Technical Report Series 
n.907). 
 
 
 
INSERÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO NA SAÚDE PÚBLICA: MARCOS 
HISTÓRICOS 
 
Por Alexandro Iris Leite, Professor – UFERSA.O Médico Veterinário cada vez mais está presente nos setores de saúde pública, 
aplicando seus conhecimentos específicos, garantindo a saúde da população animal e, por 
conseguinte, a do homem. 
 
A preocupação com a Saúde Pública e a importância da participação do 
profissional Médico Veterinário se deu, inicialmente, pela Organização Mundial da Saúde 
em 1946 quando criou a seção de Saúde Pública Veterinária (SPV) para dar 
 17 
sustentabilidade e apoio aos países membros em políticas de saúde pública vinculadas à 
importante área da medicina veterinária, designando algumas atribuições para esse 
profissional. Assim esta seção compreendia a aplicação do conhecimento em Medicina 
Veterinária direcionado para a proteção e promoção da saúde humana. 
 
No Brasil, o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de 
Origem Animal (RIISPOA) do Ministério da Agricultura (Aprovado pelo Decreto nº 
30.691, de 29-03-52, alterado pelos Decretos nºs 1.255 de 25-06-62, 1.236 de 02-09-94, nº 
1.812 de 08-02-96, nº 2.244 de 04-06-97 e nº 9.013 de 29-03-2017), determina, desde o 
ano de 1952, que somente o profissional Médico Veterinário pode fiscalizar os alimentos 
de origem animal, sendo o único com formação para tal função. Portanto, a inspeção de 
produtos de origem animal – como todos os tipos de carne, leite, pescados, ovos, mel e 
seus derivados – principalmente em abatedouros e frigoríficos é executada exclusivamente 
pelo médico veterinário que conhece as doenças nos animais, vivos e após o abate, que são 
destinados para a alimentação humana e sabe dos riscos, com a finalidade de assegurar a 
qualidade e a segurança dos alimentos, evitando a transmissão de doenças e toxinfecções 
para o homem. 
 
A Lei que dispõe sobre o exercício da profissão do Médico Veterinário e cria os 
Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária no país data de 1968 (Lei Nº 
5.517/68). Nela consta no Art. 6º que constitui como competência do médico veterinário o 
exercício de atividades ou funções públicas e particulares, relacionadas com várias 
atividades e campos de atuação. O item “b” do referido Art. 6º especifica: “O estudo e a 
aplicação de medidas de saúde pública no tocante às doenças de animais transmissíveis 
ao homem”. 
Com a Constituição Brasileira em 1988, houve a criação do Sistema Único de 
Saúde (SUS), visando a redução do risco de doença e de outros agravos com ações e 
serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. 
A Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre as condições para a 
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento do SUS. 
Destaca no Art. 3º que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre 
outros, a alimentação, o saneamento básico, o meio ambiente... tudo isto são campos em 
que o Médico Veterinário pode e deve atuar para a promoção e proteção da saúde do 
homem, uma vez que lida com o controle e prevenção de doenças comuns em 
animais/vetores/ambiente que pode acometer o homem e com o controle de qualidade de 
todos os alimentos de origem animal. No Art. 6º estão incluídas no campo de atuação do 
Sistema Único de Saúde (SUS) a execução de ações como de vigilância sanitária; de 
vigilância epidemiológica; a colaboração na proteção do meio ambiente; a fiscalização e 
a inspeção de alimentos para consumo humano. Associado a isto, quanto aos Princípios e 
Diretrizes do SUS, está no Art. 7º a integração em nível executivo das ações de saúde e 
meio ambiente, onde entra aí a participação fundamental do Médico Veterinário na equipe 
interdisciplinar de saúde. 
Posteriormente, a Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 287 DE 08 de 
outubro de 1998, tendo em vista a necessidade de consolidar o Sistema Único de Saúde, 
com todos os seus princípios e objetivos; a importância da ação interdisciplinar no âmbito 
da saúde; e o reconhecimento da imprescindibilidade das ações realizadas pelos diferentes 
profissionais de nível superior constitui um avanço no que tange à concepção de saúde e à 
 18 
integralidade da atenção. Relaciona 14 categorias profissionais que são considerados da 
área de saúde, dentre estes o Médico Veterinário. Isto foi um marco bastante importante 
para a categoria dos Veterinários. 
 
A Portaria Nº 1.399, do Ministério da Saúde de 15 de dezembro de 1999. 
Regulamenta a Norma Operacional Básica do SUS 01/96 no que se refere às competências 
da União, estados, municípios e Distrito Federal, na área de epidemiologia e controle de 
doenças. No seu Art. 3º está que compete aos Municípios a gestão do componente 
municipal do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde, 
compreendendo as seguintes atividades: captura de vetores e reservatórios, 
identificação e levantamento do índice de infestação; registro, captura, apreensão e 
eliminação de animais que representem risco à saúde do homem; ações de controle 
químico e biológico de vetores e de eliminação de criadouros... Ou seja, elenca 
atividades de prevenção e controle de Zoonoses e doenças transmitidas por vetores, onde 
se tem o Médico Veterinário como o profissional mais adequado para atuar nestas ações. 
 
O Código de Ética da profissão de Medicina Veterinária (Resolução Nº 722, de 
16/08/2002) conceitua a Medicina Veterinária como atividade imprescindível ao progresso 
econômico, à proteção da saúde, meio ambiente e ao bem estar dos brasileiros... 
destacando que a Medicina Veterinária é uma ciência a serviço da coletividade. 
 
A Portaria nº 397, de 09 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho e Emprego, 
aprova a Classificação Brasileira de Ocupações, nela a Medicina Veterinária está 
classificada como pertencente ao grupo de “Profissionais da Medicina, Saúde e Afins” 
com o Código 2233-05. 
 
Vale salientar que quanto à formação do Médico Veterinário, a Resolução do 
Conselho Nacional de Educação Nº 3, de 15 de agosto de 2019 Institui as Diretrizes 
Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Medicina Veterinária. No seu Art. 
3º está explícito o perfil do formando egresso/profissional que deve ser a de formação 
generalista, humanista, crítica e reflexiva, apto a compreender e traduzir as 
necessidades de indivíduos, grupos sociais e comunidades, com relação às atividades 
inerentes ao exercício profissional, no âmbito de seus campos específicos de atuação... 
inclusive saneamento ambiental e medicina veterinária preventiva, saúde pública e 
inspeção e tecnologia de produtos de origem animal... No Art. 4º inclui que a formação 
do Médico Veterinário tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos para 
desenvolver ações e resultados voltados também à área de Atenção à saúde que, dentro de 
seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, 
promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto 
coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma 
integrada e continua com as demais instâncias do sistema de saúde. Sendo capaz de 
pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções 
para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos 
padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a 
responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a 
resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo. 
 
A Lei Nº 11.947/2009 determina a utilização de, no mínimo, 30% dos recursos 
repassados pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE) para 
alimentação escolar, na compra de produtos diretamente da agricultura familiar e do 
 19 
empreendedor familiar rural ou de suas organizações, como exemplo os alimentos de 
origem animal. A Lei representa uma política nacional de desenvolvimento social para 
valorizar a produção local de alimentos pelos pequenos produtoresrurais do Brasil 
(Ministério do Desenvolvimento Agrário - Programa Alimentação Escolar). Para tanto, 
se faz necessário a participação do Médico Veterinário na fiscalização destes produtos que 
vão ser ofertados para crianças e adolescentes através da merenda escolar. 
 
A Portaria Nº 2.488, de 21 de outubro de 2011 do Ministério da Saúde Aprova 
a Política Nacional de Atenção Básica e normas de organização, citando que o Médico 
Veterinário pode compor as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF 
que foram criados com o objetivo de ampliar a abrangência e o escopo das ações da 
atenção básica, bem como sua resolubilidade. Estas equipes devem ser compostas por 
profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que atuam de maneira integrada e 
apoiando os profissionais das Equipes Saúde da Família (Médicos e Enfermeiros), 
compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios sob responsabilidade destas 
equipes. Contribuindo no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre 
problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários e 
ambientais dentro dos territórios. 
 
Os NASF devem buscar contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do 
SUS principalmente por intermédio da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da 
capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto 
em termos clínicos quanto sanitários. São exemplos de ações de apoio desenvolvidas 
pelos profissionais dos NASF: discussão de casos, atendimento conjunto ou não, 
interconsulta, construção conjunta de projetos terapêuticos, educação permanente, 
intervenções no território e na saúde de grupos populacionais e da coletividade, ações 
intersetoriais, ações de prevenção e promoção da saúde, discussão do processo de 
trabalho das equipes, etc. 
 
Os NASF devem ampliar a capacidade de intervenção coletiva das equipes de 
atenção básica para as ações de promoção de saúde, buscando fortalecer o protagonismo de 
grupos sociais em condições de vulnerabilidade na superação de sua condição. 
 
Quando presente no NASF, o profissional sanitarista pode reforçar as ações de 
apoio institucional, ainda que não sejam exclusivas dele, tais como: análise e intervenção 
conjunta sobre riscos coletivos e vulnerabilidades, apoio à discussão de informações e 
indicadores e saúde, suporte à organização do processo de trabalho (acolhimento, cuidado 
continuado/programado, ações coletivas, gestão das agendas, articulação com outros 
pontos de atenção da rede, identificação de necessidades de educação permanente, 
utilização de dispositivos de gestão do cuidado etc.). 
 
Outra conquista recente foi a criação dos Programas de Residência 
Multiprofissional em Saúde e Programas de Residência em Área Profissional de Saúde 
pelo MEC direcionados para as 14 profissões da saúde, nela incluída a Medicina 
Veterinária (Lei Nº 11.129/2005 e Resolução CNRMS/MEC Nº 2/2012). Nas suas 
diretrizes gerais consta que os objetivos dos programas são a integração ensino-serviço-
comunidade, desenvolvidos por intermédio de parcerias com os gestores, trabalhadores e 
usuários, visando favorecer a inserção qualificada de profissionais da saúde no mercado de 
trabalho, preferencialmente recém-formados, particularmente em áreas prioritárias para o 
SUS. Convém destacar que qualquer que seja a área de concentração da Residência para os 
 20 
profissionais de Medicina Veterinária (clínica, cirurgia, silvestres, saúde pública, etc), 
todos os residentes devem cursar disciplinas na área do SUS, como também, devem 
realizar estágio de vivência no SUS, através de ações relacionadas à educação em saúde, 
vigilância em saúde, inspeção de produtos de origem animal, controle sanitário de animais 
de produção, dentre outras, ou seja, devem contribuir na consolidação do SUS e da saúde 
pública em seu território de trabalho. 
A Portaria nº 1.138, de 23 de maio de 2014 do Ministério da Saúde define as 
ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e 
de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, de relevância para a 
saúde pública. A Portaria considera a necessidade de fortalecimento e de articulação de 
ações que se destinam à vigilância dos fatores de risco relativos às zoonoses e acidentes 
causados por animais peçonhentos e venenosos, de relevância para a saúde pública e ao 
controle de animais vetores, hospedeiros, reservatórios, amplificadores e portadores, 
visando garantir a prevenção, promoção e proteção à saúde humana e subsidiando os 
gestores no processo de planejamento e de tomada de decisão em tempo oportuno. A 
Portaria também reconhece os Centros de Vigilância / Controle de Zoonoses como 
estabelecimentos de saúde pertencentes ao SUS. Assim, para que todas as ações citadas 
ocorram na prática, o profissional Médico Veterinário deve estar à frente na coordenação e 
execução das ações. 
A mais recente Portaria Nº 204 de 17 de fevereiro de 2016 e a Portaria de 
Consolidação Nº 4, de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde ditam a 
obrigatoriedade da Notificação de doenças, agravos e eventos de saúde pública no Brasil, 
dentre estes estão aqueles que tem a participação de animais como reservatórios e/ou 
vetores na sua transmissão, tais como: Acidente de trabalho (ex: em clínicas e laboratórios 
veterinários, fazendas, zoológicos, matadouros, etc); Acidente por animal peçonhento 
(serpentes, aranhas, escorpiões, abelhas, etc); Acidente por animal potencialmente 
transmissor da raiva; Botulismo; Dengue; Doença de Chagas Aguda; Antraz pneumônico; 
Tularemia; Ebola; Esquistossomose; Evento de Saúde Pública que se constitua ameaça à 
saúde pública (ex: qualquer Epizootia – mortandade de animais); Febre Amarela; Febre de 
Chikungunya; Doença por Zika Vírus; Febre do Nilo Ocidental; Febre Maculosa; 
Hantavirose; Influenza humana produzida por novo subtipo viral (Ex: Gripe Suína – 
H1N1; Influenza Aviária - H5N1); Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, 
incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados); Leishmaniose Tegumentar 
Americana; Leishmaniose Visceral; Leptospirose; Malária; Peste; Raiva humana; Tétano; 
Toxoplasmose e Tuberculose. 
 
O Anexo 3 da Portaria de Consolidação Nº 4, de 28 de setembro de 2017 do 
Ministério da Saúde elenca a Lista das doenças de notificação compulsória imediata, com 
base na vigilância animal, são estas: Febre Amarela, Raiva, Febre do Nilo Ocidental, 
Outras arboviroses de importância em saúde pública (Encefalomielite Equina do Oeste, do 
Leste e Venezuelana, Oropouche, Mayaro), Peste e Influenza. Também elenca os Eventos 
de saúde pública (ESP), Epizootias de notificação compulsória imediata, que são: morte de 
primatas não humanos, morte ou adoecimento de cães e gatos com sintomatologia 
neurológica, morte de aves silvestres, morte ou adoecimento de equídeos com 
sintomatologia neurológica, morte de canídeos silvestres, morte de quirópteros em áreas 
urbanas, morte de roedores silvestres em áreas de ocorrência de peste, e morte de animais 
silvestres sem causa conhecida. 
 
 21 
Assim sendo, de acordo com o embasamento legal exposto acima, faz-se necessário 
que o Profissional Médico Veterinário seja urgentemente reconhecido pelos gestores como 
peça fundamental para compor a equipe interdisciplinar de saúde pública nas três esferas 
de governo, principalmente na esfera municipal que é a base do sistema onde desencadeia 
todo o processo de saúde / doença nas populações. 
 
 
“ONE WORLD: ONE HEALTH”, - HUMAN HEALTH, ANIMAL HEALTH, 
ENVIRONMENTAL HEALTH . 
 
A partir de 2004, especialistas em saúde de todo o mundo vêm se reunindo para 
delinear prioridades de uma abordagem internacional e interdisciplinar para combater as 
ameaças para a saúde da vida na terra, passando a se ter um reconhecimento oficial que há 
apenas “Um Mundo”, como também apenas “UmaSaúde.” Necessidade de construção de 
pontes interdisciplinares para a saúde em um mundo globalizado de forma que consiga 
responder às ameaças das doenças emergentes para a Saúde Humana, Agricultura e 
Conservação da vida no meio ambiente. Os órgãos participantes eram representantes das 
áreas de saúde humana, saúde animal, produção de alimentos, Meio Ambiente, 
Conservação da vida selvagem, Direito ambiental, Centros de pesquisas internacionais, 
dentre outros... (OMS, OIE, FAO, CDC...) 
FATOS ANTECEDENTES: Recentes surtos de Febre do Nilo Ocidental, Ebola, 
Encefaloparia Espongiforme Bovina (Doença da Vaca Louca), Gripe aviária e Gripe suína 
- lembrando que a saúde humana e animal estão intimamente ligadas. 
 
PRODUTO / ENCAMINHAMENTOS Convocação dos líderes de todo o mundo, a 
sociedade civil, todos os órgãos e instituições de ciência para se unirem na perspectiva de 
"One World, One Health”. 
 
Principais encontros: 
2004, EUA - “One World, One Health: Construindo Pontes Interdisciplinares para a Saúde 
em um mundo globalizado”. 
2005, China: “Além das Zoonoses: One World - One Health, a ameaça de Doenças 
Emergentes para a Saúde Humana, Agricultura e Conservação: Implicações para Políticas 
Públicas”. 
2007, Brasil: “Um Mundo – Uma Saúde: Ecossistemas, Animais Silvestres e Meio de Vida 
Humana Saudáveis: Uma Parceria Pública-Privada Inovadora” 
 
CONCLUSÃO INCONTESTÁVEL: 
Uma compreensão mais ampla da saúde e da doença exige uma unidade de abordagem 
viável somente através da junção de estudos com o humano, os animais domésticos e 
silvestres e o ambiente - One Health. Fenômenos como a perda de espécies, degradação do 
habitat, poluição, espécies exóticas invasoras e a mudança climática global estão alterando 
fundamentalmente a vida em nosso planeta. 
A ascensão dos países emergentes também contribuem para o ressurgimento de doenças 
infecciosas que ameaçam não somente os seres humanos (e seus suprimentos de comida e 
economia), mas também a fauna e flora que compõem a biodiversidade criticamente 
necessária que oferece suporte à infraestrutura de estar do nosso mundo. 
A seriedade e eficácia da gestão ambiental da humanidade e do futuro de nossa saúde 
nunca foram mais claramente ligados. Para vencer as batalhas das doença do século 21, 
assegurando simultaneamente a integridade biológica da terra para as gerações futuras 
 22 
exigem-se abordagens interdisciplinares e intersetoriais para a prevenção de doenças, 
vigilância, monitoramento, controle e mitigação, bem como a conservação do meio 
ambiente de forma mais ampla. 
 
PRODUTO / ENCAMINHAMENTOS 
Convocação dos líderes de todo o mundo, a sociedade civil, todos os órgãos e instituições 
de ciência para se unirem na perspectiva de "One World, One Health“ 
“ 12 Princípios de Manhattan” 
1. Reconhecer a ligação essencial entre o ser humano, animais domésticos / silvestres e o 
meio ambiente - suas ameaças para à saúde, suprimentos de alimentos e economias. 
2. Reconhecer que as decisões sobre o uso da terra e da água tem implicações reais para a 
saúde dos ecossistemas. 
3. Os animais selvagens devem ser estudados pelas ciências da saúde como um 
componente essencial de prevenção global de doenças, vigilância, monitorização e 
controle. 
4. Reconhecer que os programas de saúde humana podem contribuir significativamente 
para os esforços de conservação. 
5. Atenção especial para os países emergentes. 
6. Integrar totalmente as perspectivas de conservação da biodiversidade e necessidades 
humanas (incluindo as relacionadas com a saúde dos animais domésticos) no 
desenvolvimento de soluções para as ameaças de doenças infecciosas. 
7. Reduzir a demanda e regular melhor o comércio da carne de caça, não só para proteger 
populações de animais selvagens, mas para diminuir os riscos de movimento de doenças, a 
transmissão entre espécies, bem como o desenvolvimento de novas relações patógeno-
hospedeiro. 
8. Restringir o abate em massa de espécies selvagens livres na natureza para o controle de 
doenças. 
9. Aumentar o investimento na infra-estrutura global da saúde humana e animal. 
10. Formar relações de colaboração entre governos, populações locais e os setores público 
e privado para enfrentar os desafios da saúde global e conservação da biodiversidade. 
11. Fornecer recursos e apoio para as redes mundiais de vigilância da saúde dos animais – 
troca de informações com a saúde pública e a sanidade animal - sistemas de alerta precoce 
quando no surgimento e ressurgimento de doenças / ameaças. 
12. Investir na educação e sensibilização da população mundial. Influenciar o processo 
político - compreender melhor as relações entre saúde e integridade do ecossistema. 
 
 
 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 
 
Em 1988, a Assembléia Nacional Constituinte aprovou a nova Constituição 
Brasileira, incluindo, pela primeira vez, uma seção sobre a Saúde. Esta seção sobre Saúde 
incorporou, em grande parte, os conceitos e propostas da 8.ª Conferência Nacional de 
Saúde, podendo-se dizer que na essência, a Constituição adotou a proposta da Reforma 
Sanitária e do Sistema Único de Saúde. 
 
Título VIII Seção II 
 
DA SAÚDE 
 
 23 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais 
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público 
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua 
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou 
jurídica de direito privado. 
 
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e 
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes 
diretrizes: 
I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 
II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos 
serviços assistenciais; 
III – participação da comunidade. 
 
(*) § 1.º Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, 
com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, além de outras fontes. 
 
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. 
 
§ 1.º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único 
de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo 
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. 
 
§ 2.º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às 
instituições privadas com fins lucrativos. 
 
§ 3.º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na 
assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. 
 
§ 4.º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, 
tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a 
coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de 
comercialização. 
 
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da 
lei: 
I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e 
participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados 
e outros insumos; 
 
II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do 
trabalhador; 
 
III – ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; 
 
IV – participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; 
 24 
 
V – incrementar em sua área de atuaçãoo desenvolvimento científico e tecnológico; 
 
VI – fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, 
bem como bebidas e águas para consumo humano; 
 
VII – participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de 
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; 
 
VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. 
 
 
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
 
 
Criado pela Constituição de 1988, e regulamentado dois anos depois pelas Leis n.º 
8.080/90 e n.º 8.142/90, o Sistema Único de Saúde é constituído pelo conjunto de ações e 
serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicos federais, estaduais e 
municipais e, complementarmente, por iniciativa privada que se vincule ao Sistema. 
Primeiramente, o SUS é um sistema, ou seja, é formado por várias instituições dos 
três níveis de governo (União, estados e municípios), e pelo setor privado contratado e 
conveniado, como se fosse um mesmo corpo. Assim, o serviço privado, quando é 
contratado pelo SUS, deve atuar como se fosse público, usando as mesmas normas do 
serviço público. 
Depois, é único, isto é, tem a mesma doutrina, a mesma filosofia de atuação em 
todo o território nacional, e é organizado de acordo com a mesma sistemática. 
LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. 
Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a 
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 
TÍTULO I 
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 
 Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as 
condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 
 § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de 
políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros 
agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às 
ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. 
 § 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da 
sociedade. 
 Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a 
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a 
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde 
da população expressam a organização social e econômica do País. 
http://legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.080-1990?OpenDocument
 25 
 Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto 
no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-
estar físico, mental e social. 
TÍTULO II 
DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR 
 Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições 
públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das 
fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). 
 § 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, 
estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, 
medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. 
 § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em 
caráter complementar. 
CAPÍTULO I 
Dos Objetivos e Atribuições 
 Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS: 
 I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; 
 II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e 
social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei; 
 III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e 
recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades 
preventivas. 
 Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): 
 I - a execução de ações: 
 a) de vigilância sanitária; 
 b) de vigilância epidemiológica; 
 c) de saúde do trabalhador; e 
 d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; 
 II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento 
básico; 
 III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde; 
 26 
 IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; 
 V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; 
 VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e 
outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; 
 VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a 
saúde; 
 VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo 
humano; 
 IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e 
utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; 
 X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e 
tecnológico; 
 XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados. 
 § 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, 
diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do 
meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da 
saúde, abrangendo: 
 I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a 
saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e 
 II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com 
a saúde. 
 § 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que 
proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores 
determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de 
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. 
 § 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de 
atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância 
sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à 
recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos 
advindos das condições de trabalho, abrangendo: 
 I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença 
profissional e do trabalho; 
 II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em 
estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes 
no processo de trabalho; 
 27 
 III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da 
normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, 
armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de 
máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; 
 IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; 
 V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre 
os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os 
resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, 
periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; 
 VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do 
trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; 
 VII - revisão

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