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UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO Tecido muscular CARACTERÍSTICAS O tecido muscular é constituído de células alongadas, que contêm grande quantidade de filamentos citoplasmáticos compostos de proteínas cujo arranjo torna possível a produção de movimento – transformam energia química em mecânica. Esse movimento é feito por contrações, que são possíveis graças à energia armazenada nas moléculas de ATP. As células musculares têm origem mesodérmica. O tecido muscular é classificado em três tipos: músculo estriado esquelético, músculo estriado cardíaco e músculo liso. As células musculares recebem o nome de fibras. A membrana celular é chamada de sarcolema, o citosol chama-se sarcoplasma e o retículo endoplasmático liso recebeu o nome de retículo sarcoplasmático. MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO O tecido muscular esquelético é formado por feixes de células muito longas, cilíndricas, multinucleadas e com inúmeros filamentos cilíndricos chamados miofibrilas. Seus núcleos elípticos se localizam na periferia, abaixo do sarcolema. Essa localização nuclear ajuda a distinguir o músculo esquelético do músculo cardíaco, uma vez que, no músculo cardíaco, os núcleos são centrais. As variações no diâmetro das fibras musculares esquelética dependem de vários fatores, como: músculo considerado, idade, sexo, estado de nutrição e treinamento físico. O exercício físico aumenta a musculatura e diminui a quantidade de tecido adiposo. O aumento da musculatura pelo exercício físico se deve à formação de novas miofibrilas, com aumento do diâmetro das fibras musculares. Esse processo, caracterizado pelo aumento de volume das células, chama-se hipertrofia. É diferente da hiperplasia, em que há o aumento no número de células – elas se proliferam. A hiperplasia é comum em outros tecidos, mas não nos músculos estriados. O músculo liso sofre hiperplasia. Organização do músculo esquelético: Os músculos são formados por milhares de fibras musculares organizadas em conjuntos de feixes. Os feixes são envolvidos por uma camada de tecido conjuntivo chamada epimísio, que recobre o músculo inteiro. Além disso, há o perimísio, formado por septos de epimísio, os quais se dirigem para o interior do músculo e envolvem conjuntos de fibras musculares. Entre as fibras musculares, há uma delicada camada de tecido conjuntivo, denominada endomísio. O endomísio contém uma extensa rede de capilares sanguíneos. Cada célula muscular esquelética é envolvida por uma lâmina basal. O tecido do músculo contém ainda vasos linfáticos e nervos. O tecido conjuntivo atua unindo as fibras musculares e transmitindo as forças de contração do músculo. Os vasos sanguíneos penetram o músculo através dos septos do perimísio e formam uma extensa rede de capilares sanguíneos no endomísio, entre as fibras musculares. Alguns músculos se afilam nas extremidades, num processo de transição de músculo para tendão. Estrutura das fibras musculares esqueléticas: Possuem estriações transversais caracterizadas pela alternância de faixas claras e escuras. A faixa escura recebe o nome de banda A, enquanto a faixa clara recebe o nome de banda I. No centro de cada banda I, nota-se uma linha transversal escura, chamada linha Z ou disco Z. A banda A tem uma zona mais clara no seu centro, chamada banda H. Por que as fibras têm o aspecto estriado? Cada fibra muscular contém milhares de filamentos cilíndricos chamados miofibrilas, as quais percorrem a fibra em sua extensão. Cada miofibrila é formada pela sequência repetitiva de unidades denominadas sarcômeros, formados pela região da miofibrila situada entre dois discos Z sucessivos. Cada sarcômero contém uma banda A ladeada por duas semibandas I. Os sarcômeros dispõem-se “em registro”, isto é, as diversas faixas de uma miofibrila estão alinhadas com as faixas correspondentes das miofibrilas adjacentes. UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO As miofibrilas são constituídas por longos filamentos dispostos paralelamente ao eixo das células. Esses filamentos, chamados de miofilamentos, são de dois tipos: finos e grossos. Nos filamentos finos, predominam moléculas de actina, e nos filamentos grossos, predominam moléculas de miosina II. Distribuição dos miofilamentos e de suas moléculas nos sarcômeros: Cada miofibrila é um longo cilindro formado por uma sequência de inúmeros sarcômeros, cada qual delimitado por dois discos Z, um em cada extremidade. Nos discos Z de cada sarcômero ancoram-se os miofilamentos finos. Estes filamentos paralelos se dirigem para o centro de cada sarcômero, onde suas extremidades se intercalam com os filamentos grossos, dispostos paralelamente entre si na região central de cada sarcômero. Como resultado dessa organização, a banda I é formada somente por filamentos finos. Os filamentos grossos ocupam a banda A na região central do sarcômero. Na porção externa de cada banda A, existem filamentos finos intercalados com filamentos grossos. Esses segmentos de superposição se estendem até as bordas da banda H, que, situada na porção mais central de cada sarcômero, contém somente filamentos grossos. As miofibrilas do músculo estriado contêm quatro proteínas principais: miosina, actina, tropomiosina e troponina. Os filamentos grossos são formados de miosina II, e as outras três proteínas são encontradas nos filamentos finos. A miosina e a actina, juntas, representam 55% do total das proteínas do músculo estriado. A actina apresenta-se sob a forma de polímeros longos chamados de actina F, formados por duas cadeias de monômeros globulares (actina G) torcidas uma sobre a outra, em hélice dupla. Cada monômero globular de actina G tem um sítio que interage com a miosina. A tropomiosina é uma molécula longa e fina, constituída por duas cadeias polipeptídicas enroladas entre si. A troponina é um complexo de três subunidades: TnT, que se liga fortemente à tropomiosina, TnC, que tem grande afinidade por íons cálcio (Ca2+) e TnI, que cobre o sítio ativo de actina, no qual ocorre a interação da actina com a miosina. A molécula de miosina II é grande, tem a forma de um bastão e é formada por duas cadeias enroladas em hélice. Em uma das extremidades, a miosina apresenta uma saliência globular. É nessa parte da molécula que se encontra o local de combinação com a actina e que ocorre a hidrolise de ATP para liberar a energia utilizada na contração. As moléculas de miosina estão dispostas nos filamentos grossos de tal maneira que suas regiões em bastão se sobrepõem, e as cabeças situam-se nas extremidades do miofilamento. A parte central do sarcômero, que corresponde à banda H, é uma região da miosina constituída exclusivamente do segmento em bastão das moléculas. No centro da banda H encontra-se a linha M. Há várias proteínas que constituem a linha M, entre as quais destaca-se a miomesina. O conjunto de miofibrilas de cada célula é ancorado à membrana plasmática da célula muscular por meio de diversas proteínas que tem afinidade tanto pelos miofilamentos como por proteínas da membrana plasmática. Uma dessas proteínas, chamada distrofina, liga os filamentos de actina a proteínas do sarcolema. OBS: a distrofia muscular de Duchenne é uma miopatia hereditária ligada ao cromossomo X. Causa lesões progressivas das fibras musculares e, frequentemente, leva à morte prematura. No musculo esquelético desses doentes, a distrofina é inexistente ou defeituosa. Inervação e junção mioneural: A contração das fibras musculares esqueléticas é comandada por nervos motores que se ramificam no tecido conjuntivo do perimísio, originando numerosos ramos. Nesses ramos, um conjunto de terminações axonais e suas extremidades dilatadasse aproximam do sarcolema e constituem uma placa motora, na qual cada uma das dilatações dos axônios constitui estruturas semelhantes a sinapses, chamadas junções UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO mioneurais. As dilatações dos terminais axonais têm numerosas mitocôndrias e vesículas sinápticas que contêm o neurotransmissor acetilcolina. O sarcolema da junção tem milhares de receptores para acetilcolina, os quais se abrem quando reconhecem a acetilcolina. Quando um potencial de ação chega ao terminal axônico, há liberação de acetilcolina para a fenda existente entre a membrana do axônio e da célula muscular. A acetilcolina liga-se aos seus receptores e permite a entrada de íons sódio através do sarcolema no local de junção, resultando na despolarização local do sarcolema. O excesso de acetilcolina é hidrolisado pela colinesterase encontrada na fenda sináptica. A destruição da acetilcolina é necessária para evitar o contato prolongado do neurotransmissor com os receptores de sarcolema. A despolarização iniciada na placa motora devido à entrada de íons sódio propaga-se ao longo da membrana da fibra muscular. Sistema de túbulos transversais ou sistema T: As fibras musculares estriadas têm estruturas especializadas em conduzir a despolarização da membrana rapidamente e de maneira eficiente para o interior da célula. A estrutura consiste no sistema de túbulos transversais ou sistema T, constituído por invaginações da membrana plasmática da fibra muscular chamadas túbulos T. Estes se dirigem para o interior da célula e circundam as miofibrilas nas regiões dos limites entre as bandas A e I de cada sarcômero. A despolarização da membrana da superfície celular é transmitida para o interior da célula ao longo das membranas dos túbulos T. Externamente às miofibrilas, em torno de cada túbulo T, há uma expansão do reticulo sarcoplasmático. Esse complexo, formado por um túbulo T e duas expansões do reticulo sarcoplasmático, é conhecido como tríade. Nas tríades, a despolarização da membrana plasmática que chega pelos túbulos T provoca a saída de íons Ca2+ para o citosol. Esse transporte ocorre por canais de cálcio. O aumento da concentração desses íons no citosol é o fator desencadeador da contração muscular. Quando termina a despolarização, íons Ca2+ são transportados de volta por transporte ativo, e a fibra muscular relaxa. Mecanismo da contração muscular: O sarcômero em repouso consiste em filamentos finos e grossos que se sobrepõem parcialmente. A contração resulta do deslizamento dos filamentos finos em relação aos espessos. Durante a contração, os filamentos interagem, e, devido à atividade da miosina, que se comporta como proteína motora, as cabeças das moléculas de miosina tracionam os filamentos de actina para o centro do sarcômero. Estes penetram mais profundamente nos sarcômeros, arrastando os discos Z consigo, nos quais estão ancorados – é o chamado modelo de filamentos deslizantes. A contração se inicia na faixa A, na qual porções de filamentos finos e grossos estão interpostas. Durante o repouso, ATP se liga à ATPase das cabeças da miosina. Para agir na molécula de ATP e liberar energia, a miosina necessita da actina, que atua como cofator. Quando há aumento da concentração de íons Ca2+ no citosol, estes se combinam com a unidade TnC da troponina. Em consequência, tornam-se expostos os locais de ligação da actina com a miosina, ocorrendo interação entre elas. A combinação dos íons Ca2+ com a subunidade TnC corresponde à fase em que o complexo miosina-ATP é ativado. Como resultado, o ATP libera difosfato de adenosina (ADP), fosfato inorgânico (Pi) e energia. Ocorre uma deformação da cabeça e de parte do bastão das moléculas de miosina, aumentando a curvatura da cabeça. Como a actina está combinada com a miosina, o movimento das cabeças da miosina traciona o filamento da actina, promovendo seu deslizamento sobre o filamento de miosina. A contração muscular consiste em inúmeros ciclos de deslizamento da actina sobre a miosina. Não existindo ATP, o complexo actina-miosina torna-se estável, o que explica a rigidez muscular que ocorre após a morte (rigor mortis). Uma contração muscular é o resultado de milhares de ciclos de formação e separação de pontes de actina- miosina e tração de filamentos finos para o interior de cada sarcômero. A atividade contrátil continua até que os íons Ca2+ sejam removidos, quando se encerra o estímulo nervoso. Durante a contração, a banda I diminui de tamanho, porque os filamentos de actina penetram a banda A. Ao mesmo tempo, o comprimento da banda H – a porção da banda que contêm somente filamentos grossos – também se reduz à medida que os filamentos finos se sobrepõem completamente aos grossos. Como resultado, cada sarcômero e, em consequência, a fibra inteira sofrem encurtamento. OBS: Unidades motoras → uma fibra nervosa pode inervar uma única fibra muscular ou ramificar-se em 160 fibras ou mais. Uma fibra nervosa e as fibras musculares por ela inervadas formam uma unidade motora. As variações na força de contração do músculo se devem às variações no número de fibras do músculo que se contraem em determinado momento. Uma vez que os músculos podem ser divididos em unidades UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO motoras, o disparo de uma única célula nervosa determina uma contração cuja força é proporcional ao número de fibras musculares inervadas pela unidade motora. Desse modo, a quantidade de unidades motoras acionadas e o tamanho de cada uma controlam a intensidade da contração do músculo. Fusos musculares e corpúsculos tendíneos de Golgi: Todos os músculos estriados esqueléticos têm receptores que captam modificações no próprio músculo, denominados fusos musculares. Cada fuso é delimitado por uma cápsula de tecido conjuntivo. O fuso contém fluido e fibras musculares modificadas chamadas fibras intrafusais. Diversas fibras nervosas sensoriais (aferentes) inervam os fusos musculares, onde detectam modificações no comprimento (distensão) das fibras musculares intrafusais e transmitem essa informação para o sistema nervoso central (SNC). Nele são ativados diversos mecanismos reflexos que atuam sobre: (1) outros grupos musculares associados ao músculo que se contraiu, participando do mecanismo de controle da postura e da coordenação de músculos opostos durante as atividades motoras; (2) o grau de tensão das fibras intrafusais, por meio de fibras nervosas eferentes do SNC que inervam as fibras e as mantem tensionadas para dotá-las da sensibilidade adequada para transmitir o grau de distensão das fibras regulares dos músculos. Os corpúsculos tendíneos de Golgi são estruturas proprioceptivas que captam estímulos produzidos no próprio organismo e respondem às diferenças tensionais exercidas pelos músculos sobre os tendões. Essas informações são transmitidas ao SNC e participam do controle das forças necessárias para o movimento. Transmissão da força no músculo esquelético: O tecido conjuntivo dos músculos esqueléticos (epimísio e perimísio) mantém as fibras musculares unidas, possibilitando que a força de contração gerada por cada fibra se componha para produzir a força de contração do músculo inteiro. É por meio do tecido conjuntivo que essa força se transmite a outras estruturas, como tendões e ossos. Um dos mecanismos utilizados para a transmissão da força de contração são os costâmeros, estruturas localizadas abaixo da membrana plasmática (sarcolema) das células musculares esqueléticas. Os costâmeros são locais onde miofibrilas se ancoram no sarcolema, por meio das quais a força de contração é transmitida lateralmente, em direção ao endomísio. Utilização de energiapela célula muscular esquelética: A fibra muscular é adaptada para a produção de trabalho mecânico intenso e descontínuo. A energia que pode ser mobilizada com mais facilidade é a acumulada em moléculas armazenadas na célula: ATP e fosfocreatina. Existe também energia acumulada nos depósitos sarcoplasmáticos de glicogênio. Quando o músculo exerce atividade intensa, pode haver insuficiência de oxigênio e a célula irá recorrer ao metabolismo anaeróbico da glicose (glicólise). As fibras musculares esqueléticas podem ser identificadas como tipo I, ou fibras lentas, e tipo II, ou fibras rápidas. As fibras do tipo I, adaptadas para contrações continuadas, são vermelho-escuras e ricas em sarcoplasma contendo mioglobina. Sua energia é obtida principalmente dos ácidos graxos que são metabolizados nas mitocôndrias. As fibras do tipo II, adaptadas para contrações rápidas e descontinuas, contêm pouca mioglobina e, por isso, são vermelho claras. Elas podem ser subdivididas nos tipos IIA, IIB e IIC. A classificação das fibras musculares também é importante para a caracterização das doenças musculares (miopatias) nas biopsias de tecido muscular. Outros componentes do sarcoplasma: O sarcoplasma contém grânulos de glicogênio que servem como deposito de energia. Também possuem mioglobina, uma proteína parecida com a hemoglobina e que é responsável pela cor vermelho-escura de algumas fibras musculares. A mioglobina serve como deposito de oxigênio. Os músculos que executam atividades prolongadas são vermelhos e ricos em mioglobina. As fibras musculares esqueléticas têm pequenas quantidades de reticulo endoplasmático granuloso e ribossomos, um aspecto de coincide com a reduzida síntese proteica nesse tecido. UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO MÚSCULO CARDÍACO É constituído por células cilíndricas alongadas e às vezes ramificadas. São curtas em relação às fibras musculares esqueléticas. Suas fibras contêm apenas um ou dois núcleos, os quais se localizam no centro da fibra, e não na periferia, como nos músculos esqueléticos. As fibras cardíacas são circundadas por uma delicada bainha de tecido conjuntivo equivalente ao endomísio do musculo esquelético, que contêm abundante rede de capilares sanguíneos. Elas se prendem entre si por meio de junções intercelulares complexas – traços transversais que aparecem em intervalos irregulares ao longo da célula, chamados discos intercalares ou discos escalariformes. No músculo cardíaco, o sistema T e o reticulo sarcoplasmático não são tão bem-organizados. O reticulo sarcoplasmático não é tão desenvolvido e distribui-se irregularmente entre as miofibrilas. As tríades (túbulo T + duas cisternas de reticulo sarcoplasmático) não são frequentes nas células cardíacas, sendo, em vez disso, encontradas díades, constituídas por um túbulo T e uma cisterna do reticulo sarcoplasmático. O músculo cardíaco contém numerosas mitocôndrias. Ele armazena ácidos graxos sob forma de triglicerídeos. Nele, existe pequena quantidade de glicogênio, que fornece glicose quando necessário. As células musculares cardíacas podem apresentar grânulos de lipofuscina, um pigmento que aparece nas células que não se multiplicam, que possuem vida longa. As fibras cardíacas apresentam grânulos secretores, localizados próximo aos núcleos, na região do complexo de Golgi. Esses grânulos são mais abundantes nas células musculares do átrio esquerdo. Eles contêm a molécula precursora do hormônio natriurético. Esse hormônio tem ação oposta à da aldosterona – hormônio antidiurético que atua nos rins promovendo a retenção de sódio e água. O hormônio natriurético aumenta a eliminação de sódio e água. OBS: as setas indicam os discos intercalares. Discos intercalares: São traços retos ou com aspecto de escada. Os discos intercalares são complexos juncionais situados na interface entre as extremidades de células musculares adjacentes. Nos discos intercalares encontram-se duas especializações juncionais principais: junções de adesão e junções comunicantes. Nas junções de adesão se ancoram os filamentos de actina dos sarcômeros terminais (são equivalentes aos discos Z das miofibrilas). Essas junções oferecem forte adesão às células musculares cardíacas, para que elas não se separem durante a atividade contrátil. Nas partes laterais dos discos, paralelas às miofibrilas, encontram-se principalmente junções comunicantes, responsáveis pela comunicação iônica entre células musculares adjacentes. A passagem dos íons permite que o sinal para a contração passe de uma célula para a outra. Sistema gerador de impulsos: No coração, existe uma rede de células musculares cardíacas modificadas e acopladas às outras células musculares do órgão. Elas têm papel importante na produção e na condução do estímulo cardíaco, de tal modo que as contrações dos átrios e dos ventrículos ocorrem em determinada sequência. MÚSCULO LISO É formado pela associação de células longas e fusiformes, mais espessas no centro e afiladas nas extremidades, com núcleo único elíptico e central. Quando vistos em cortes longitudinais, os núcleos frequentemente exibem um aspecto ondulado. Diferentemente das fibras musculares estriadas, as lisas, também chamadas leiomiócitos, não têm estriação transversal e, portanto, não possuem miofibrilas. As fibras musculares lisas organizam-se em feixes ou, mais comumente, em camadas nas paredes de órgãos ocos. As células musculares lisas são revestidas por lâmina basal e se mantem unidas por uma rede muito delicada de fibras reticulares. Essas fibras prendem as células musculares lisas umas às outras, de tal maneira que a UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO contração simultânea de apenas algumas células se reflete na contração do músculo inteiro. Quando está em intensa atividade sintética, essa célula apresenta o reticulo endoplasmático granuloso desenvolvido. O sarcolema dessa célula apresenta grande quantidade de invaginações, denominadas cavéolas. Estas possivelmente estão associadas ao transporte de íons Ca2+ para o citosol, necessários para desencadear o processo de contração. As células musculares lisas adjacentes apresentam junções comunicantes, que participam da transmissão do impulso de uma célula para a outra e, assim, propagam o estímulo para uma população maior de fibras. No citoplasma, são vistas estruturas densas aos elétrons chamadas corpos densos. Além disso, são observadas estruturas densas junto à superfície interna da membrana plasmática, as placas densas. Ambas fazem parte do citoesqueleto das células musculares lisas, sustentando a célula como um todo e seu aparelho contrátil. Aparelho contrátil e mecanismo de contração: A contração é diferente da que ocorre nos músculos estriados. No sarcoplasma das células musculares lisas existem filamentos de α-actina e de miosina II. Os filamentos de actina se ancoram nos corpos densos do citoplasma e nas placas densas situadas junto à membrana. Os corpos densos têm várias proteínas, entre as quais destacam as de filamentos intermediários, além de moléculas de α-actina, uma proteína que ancora filamentos de actina em diversos tipos de células do organismo. Os filamentos de miosina formam pontes entre os de actina. Esses conjuntos de actina e miosina, juntamente com os corpos e as placas densas, constituem uma rede tridimensional que ocupa todo o citoplasma da célula muscular lisa. O deslizamento dos inúmeros filamentos de actina sobre os de miosina provoca o encurtamento das células (contração). A contração nas células musculares lisas obedece a uma sequência bem coordenada. O estímulo inicial é o aumento da concentração de íons Ca2+no citosol, que resulta de estímulos mecânicos e elétricos (potencial de ação). Um estímulo de tração atua sobre receptores de superfície que respondem a ela. Tais receptores estão acoplados a proteínas G e, por meio de segundos mensageiros, promovem a saída de íons Ca2+ de cisternas do reticulo sarcoplasmático para o citosol. Estímulos nervosos promovem a entrada dos íons através de canais de cálcio do plasmalema ativados por modificadores de voltagem. No citosol, os íons Ca2+ combinam-se com moléculas de calmodulina, uma proteína com afinidade para esses íons. O complexo calmodulina-Ca2+ ativa a enzima quinase da cadeia leve (que faz parte da molécula de miosina), resultando na fosforilação das moléculas de miosina. Uma vez fosforiladas, estas moléculas se combinam com a actina, dando início aos ciclos de deslizamento da actina sobre a miosina e a contração da célula. Para isso, é necessária a energia armazenada em moléculas de ATP. Os corpos densos contêm α-actina e são comparáveis, em composição molecular e em função, aos discos Z dos músculos estriados. UNINOVE MEDICINA BASES MORFOFUNCIONAIS I VICTÓRIA CAROLLINA DOS SANTOS CARVALHO Inervação do tecido muscular liso: O músculo liso recebe fibras do sistema nervoso simpático e do parassimpático. Ele não possui as placas motoras presentes nos tecidos esqueléticos. Nas extremidades axonais que passam entre as células musculares lisas, há muitas dilatações de diferentes diâmetros, também chamadas de varicosidades. Essas dilatações contêm vesículas sinápticas com vários neurotransmissores, como a acetilcolina (terminações colinérgicas) ou a norepinefrina (terminações adrenérgicas). Os neurotransmissores são liberados no espaço extracelular do musculo liso e se difundem, alcançando receptores da superfície das fibras musculares. Esses receptores estão associados a sistemas de proteínas G situados na superfície interna da membrana, produzindo mensageiros que desencadeiam a contração muscular. As células musculares lisas são conectadas por junções comunicantes, de modo que o estímulo inicial que alcança algumas das células de um feixe se transmite rapidamente por muitas outras. As terminações nervosas adrenérgicas e colinérgicas atuam de modo antagônico, estimulando ou deprimindo a atividade contrátil do músculo. REGENERAÇÃO DOS DIVERSOS TIPOS DE TECIDO MUSCULAR O músculo cardíaco não se regenera. Nas lesões do coração, como nos infartos, as partes destruídas são invadidas por fibroblastos que produzem fibras colágenas, formando uma cicatriz de tecido conjuntivo denso. As fibras musculares esqueléticas não se dividem, estando em G0. No entanto, o musculo esquelético tem uma pequena capacidade de reconstituição a partir das células satélites. Estas são mononucleadas, fusiformes e dispostas paralelamente às fibras musculares dentro da lâmina basal que envolve as fibras. São consideradas mioblastos inativos. Após uma lesão ou outros estímulos, as células satélites se tornam ativas, proliferam por mitose e se fundem umas às outras para formar novas fibras musculares esqueléticas. Elas também entram em mitose quando o músculo é submetido a exercício intenso. Nesse caso, se fundem com as fibras musculares preexistentes, contribuindo para a hipertrofia do músculo. O músculo liso é capaz de uma resposta regenerativa mais eficiente. Ocorrendo lesão, as células musculares lisas que permanecem viáveis entram em mitose e reparam o tecido destruído.
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