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18 Quem é quem no sector segurador em Portugal autor O Jornal Económico

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QUEM 
 QUEM
é
2019
no Setor Segurador 
em Portugal
3
Vítor Norinha
vnorinha@jornaleconomico.pt
Falar de seguros em 2019 é abor-dar o tema dos desafios. Numa atividade que passou razoavel-
mente bem pelas crises financeiras dos 
últimos 10 anos e que, ao contrário, de 
outros setores financeiros, ganhou cre-
dibilidade, cresceu, melhorou a solvabi-
lidade e ficou ainda mais imprescindível 
para a indústria e os cidadãos, tem pela 
frente alguns dos seus maiores desafios 
conhecidos. 
O setor está a preparar-se para as 
novas regras de contabilidade, a IFRS 
17, e que é claramente o maior tema 
da indústria na atualidade. O que está 
em causa é a mensuração dos passivos 
relativos a contratos de seguros e que, 
pela sua complexidade tem vindo a ser 
adiada desde 2004. Na altura foi criado 
o normativo IFRS 4. 
Hoje trabalha-se no IFRS 17 para 
melhorar a informação contabilística e 
potenciar uma comparabilidade entre 
empresas de seguros que estão nas vá-
rias geografias mundiais. Este trabalho 
é para implementar em 2021, mas com 
possível adiamento para 2022 por pro-
posta do International Accounting Stan-
dards Board. Recorde-se que a indústria 
já tinha feito grandes investimentos 
FICHA TÉCNICA
EDITORIAL
Novas regras contabilísticas 
e novos seguros
Propriedade
Megafin, Sociedade Editora SA
Diretor
Filipe Alves
Diretor Adjunto
Shrikesh Laxmidas
Conteúdos Editoriais
Vítor Norinha
Área Comercial
Cláudia Sousa (Diretora), 
Elsa Soares, Isabel Silva, 
Ana Catarino, Cristina Marques 
e Cláudia Robalo
Fotografia
Cristina Bernardo e Reuters
Design e Paginação
Rute Marcelino (coordenadora) 
e Fábio Gomes 
Impressão
Jorge Fernandes
Revista distribuída 
com O Jornal Económico
Rua Vieira da Silva 45, 
1350-342 Lisboa
com a implementação do Solvência II 
que entrou em vigor no início de 2016.
Mas o ano de 2019 para os seguros vai 
ficar marcado por mudanças paradigmá-
ticas ao nível dos investimentos com os 
ativos a serem dotados de uma catego-
rização em termos de efeito ambiental, 
social e de governance e cujo objetivo 
será mensurar perdas de valor em títulos 
ditos de “brown investments”, como em 
títulos ditos de “green investments”. Na 
base de todo o movimento está a nova 
economia “low carbon”. E do lado dos 
clientes está o tema da experiência, da 
facilidade de contratação de seguros, 
dos “millennials” e das grandes necessi-
dades das empresas com temas como as 
alterações climáticas, desastres naturais, 
os cyber ataques e a exposição de riscos 
políticos e sociais que têm potencial 
devastador sobre as economias de países 
e, em particular, sobre empresas exporta-
doras e/ou de grande consumo. E, claro, 
não podemos esquecer a digitalização e 
o bigdata com a provável entrada das 
grandes plataformas mundiais na distri-
buição de seguros. O setor é muito regu-
lado mas os seguradores estão ávidos de 
parcerias globais.
Em Portugal, o ano ficará marcado 
a nível de regulação com o tema das 
associações mutualistas. O regulador já 
tinha criado o grupo de trabalho para 
preparar a Norma Regulamentar que 
identificava o tipo de informação que as 
associações mutualistas teriam de pres-
tar. O projeto ficou concluído e foi apre-
ciado. As associações mutualistas passam 
a ter indicações de como convergir com 
o regime de supervisão aplicável ao setor 
segurador e, em função da dimensão 
económica, terão um período transitório 
de adaptação até 12 anos.
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06 EntrevistaJosé Almaça, o presidente da Autoridade de 
Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões 
fala dos desafios complexos, da distribuição, 
das alterações climáticas e do tema das 
associações mutualistas.
16 EntrevistaO impacto nos resultados e nos 
dividendos dos seguradores à luz da 
futura norma contabilística IFRS 17 é o 
tema de fundo desenvolvido por Carla 
Sá Pereira, da EY.
32 FórumOs líderes do setor segurador estão presentes 
numa análise ao futuro do setor que 
será mais digital e onde existe o risco de 
entrada das grandes plataformas mundiais. 
Alterações climáticas, cyber risk, demografia 
e regulação são temas de discussão
46 DiretórioPara reter a informação essencial 
e os contactos da indústria 
de seguros em Portugal.
ÍNDICE
5
Digitalizar e transformar
O mercado de seguros em Portugal é cada vez mais digital. O recente trabalho da EY “European 
Insurance CRO Survey 2018” fala em transformação do setor. 
ANÁLISEPor Vítor Norinha
O digital é um dos temas de fun-do para a indústria seguradora em 2019. Falamos de utilização 
do digital perante clientes, fornecedores 
e parceiros, a par da utilização do digital 
para a resiliência desta indústria. Refere 
Carla Sá Pereira da EY que as consulto-
ras têm apoiado os clientes “na automa-
tização e digitalização dos processos core 
desde a tarifação, subscrição, faturação e 
gestão das apólices ate à gestão de sinis-
tros e os respetivos pagamentos”.
Outro dos temas fortes para este ano 
está na adaptação às necessidades do se-
tor para com as gerações de consumidores 
jovens. São os chamados produtos “pay 
per use” e que permitem às seguradoras 
adaptarem-se aos padrões de consumo 
e utilização dos clientes. Refere ainda a 
mesma fonte da EY que estes produtos 
poderão reduzir os custos com sinistros 
em cerca de 40% e os custos administra-
tivos em 50% com pricing de apólices de 
forma ajustada, mas a disrupção está nas 
aplicações que captam o comportamen-
to dos condutores e os dispositivos que 
registam a atividade física e que permi-
tem identificar comportamentos e criar 
preçários adequados. Este é o mundo dos 
veículos autónomos, dos drones e da in-
ternet of things. O resultado tem sido a 
evolução para seguros baseados na utili-
zação como são os seguros “pay as you 
drive” no automóvel e o “pay as you live” 
nos seguros de vida e de saúde. 
José Galamba de Oliveira, presidente 
da Associação Portuguesa de Segurado-
res, realça na sua entrevista que as com-
panhias já perceberam qual é o caminho e 
a melhor forma de dar resposta aos clien-
tes. E a própria APS trilhou o caminho 
neste sentido e os exemplos mais recentes 
são a e-Segurnet, uma aplicação alter-
nativa à versão em papel da declaração 
amigável para acidente automóvel; a par 
de uma outra iniciativa da APS e que é 
a participação eletrónica de acidente de 
trabalho, que permite a seguradora agir 
de forma mais rápida, fazendo intervir os 
prestadores de cuidados de saúde e regu-
larizando a situação.
Nada disto se faz sem as insurtechs, 
adianta o presidente da APS. Diz que a 
sua atuação “tem permitido melhorar os 
modelos de relacionamento e de negó-
cio dos seguradores, na medida em que 
montam a operação (de forma) mais ágil 
e eficiente, e mais alinhada com as expe-
tativas dos consumidores”. As insurtechs 
estão a trabalhar ao nível da subscrição, 
distribuição e gestão de sinistros.
Mas são os novos seguros ligados a 
cyber ataques, catástrofes naturais e even-
tos climáticos extremos provocados pelas 
alterações climáticas que levam a maiores 
desafios dos seguradores. A procura pre-
cisa de se adaptar e já está a acontecer, 
sendo que a exposição a este tipo de risco 
não é apenas de pessoas mas alargado a 
cidades, regiões, países e multinacionais. 
Os seguradores podem nem sequer con-
seguir oferecer soluções suficientes e que 
exigem a colaboração público-privada 
com entidades nacionais e internacionais.
E a nível do setor Vida o tema está 
na demografia e na insustentabilidade 
das reformas, enquanto na distribuição 
o risco está na entrada no mercado das 
grandes plataformas como a Google e a 
Amazon e que embora tenha regras rígi-
das a cumprir na Europa, têm capacidade 
de perceber o que os clientes precisam a 
partir do fenómeno BigTech. Claro que 
o setor diz já estar apostado na constan-
te inovação tecnológica e a Ageas dá o 
exemplo de aplicação de tecnologia com 
a inteligência artificial na recuperação de 
acidentes ou na área da saúde com um 
projeto piloto de IA destinado à triagem 
médica e que atuará como umaferramen-
ta de decisão clínica.
Literacia e solvência
A literacia dos consumidores é fundamen-
tal para criar a consciência e o sentimento 
de que um contrato de seguro não é uma 
despesa supérflua, mas uma necessidade 
económica que permite estabilidade na 
vida e nos negócios. Todos os atores des-
ta indústria são unânimes em considerar 
crítico a forma de como os consumidores 
devem abordar a necessidade de um se-
guro e a relevância crescente de uma in-
dústria que não registou as confusões do 
resto do setor financeiro. Diz Galamba de 
Oliveira: “Notamos uma maior conscien-
cialização por parte dos portugueses em 
relação à importância de ter um seguro”.
Por outro lado e para a indústria o de-
safio está no trabalho de adaptação às 
novas regras de contabilidade, a IFRS 17, 
que implica ajustamentos em processos, 
sistemas, dados e pessoas. O objetivo des-
tas novas regras à incrementar a transpa-
rência e a comparabilidade das demons-
trações financeiras entre seguradores. O 
tema do negócio oneroso vai obrigar a 
detalhe nas demonstrações financeiras 
para uma gestão racional subjacente à 
subscrição de contratos onerosos. O re-
gime europeu Solvência II já tinha impli-
cado alterações de oferta de produtos que 
consomem mais capital. 
6
Quais os grandes momentos do setor segurador dos últimos cinco anos e quais os pontos 
fortes registados em 2018?
Destaco, em primeiro lugar, a implemen-
tação do regime solvência II, com a pro-
dução de efeitos do novo regime jurídico 
de acesso e exercício da atividade segura-
dora e resseguradora.
Em segundo lugar, a reposição, nem sem-
pre com a compreensão de todos os sta-
keholders, do equilíbrio técnico no ramo 
de acidentes de trabalho, onde se verifi-
cou no passado uma situação problemáti-
ca resultante de práticas comerciais desa-
justadas e agressivas lesivas dos interesses 
de segurados e beneficiários.
O terceiro grande marco foi a sobrevivência 
da Tranquilidade e da Açoreana aos proces-
sos de resolução do BES e do Banif, sem ne-
cessidade de intervenção pública e com ple-
na salvaguarda dos direitos dos tomadores 
de seguro, segurados e beneficiários.
Julgo que é também de salientar o inte-
resse de novos investidores no mercado 
segurador português, em particular de 
fundos de investimento internacionais 
e investidores originários da República 
Popular da China, um fenómeno que não 
seria expectável na década anterior.
O tema da regulação nas associações 
mutualistas está definitivamente 
resolvido?
Após a publicação do despacho dos mem-
bros do Governo responsáveis pelas áreas 
das Finanças e da Segurança Social, que 
identificou as associações mutualistas a 
sujeitar ao regime transitório, a ASF cons-
tituiu um grupo de trabalho para preparar 
a Norma Regulamentar que identifica o 
âmbito, a natureza e o formato da infor-
mação a prestar pelas associações mutua-
listas a esta Autoridade e, dessa forma, 
operacionalizar as suas competências de-
correntes da aprovação do novo código 
das associações mutualistas.
O projeto de norma regulamentar já está 
concluído e foi submetido, no dia 21 
de março, à apreciação da Comissão de 
Acompanhamento do período de transi-
ção, cuja constituição ocorreu no dia 19 
de março.
Esta norma regulamentar permitirá a re-
colha e o exame de informação sobre as 
associações mutualistas, para que a ASF 
conheça a sua atividade, produtos e rede 
de distribuição. Tal informação é funda-
mental para aferir quais os passos que de-
vem ser dados pelas associações mutualis-
tas com vista à convergência com o regime 
de supervisão aplicável ao setor segurador.
Por outro lado, atendendo à publicação 
do Decreto-Lei n.º 37/2019, de 15 de 
março, o conselho de administração da 
ASF determinou os procedimentos com 
vista à verificação da adequação e registo 
das pessoas que dirigem efetivamente, fis-
calizam ou são responsáveis por funções-
chave das associações mutualistas.
O Decreto-Lei n.º 59/2018, de 2 de agos-
to, que aprovou o Código das Associações 
Mutualistas, estabeleceu um regime espe-
cial para as associações mutualistas em 
função da sua dimensão económica, deter-
minando a sua sujeição a regras específicas 
do setor segurador. Saliento o caráter ino-
vador do regime agora previsto, estando 
consagrado para as associações mutualis-
tas por ele abrangidas, a fim de assegurar 
uma adaptação gradual, um período tran-
sitório de até 12 anos. Assim, estamos ape-
nas no início de um processo, com o qual a 
ASF está profundamente empenhada.
“Regime 
de distribuição 
de seguros tem prazos 
de produção 
de efeitos irrealistas”
O futuro para os seguros tem desafios complexos, 
diz José Almaça, presidente da ASF. A distribuição 
de seguros e a nova diretiva para os fundos de pensões são temas 
quentes. As alterações climáticas estão a gerar movimentos 
a nível de sustainable finance.
Por Vítor Norinha
José Figueiredo Almaça, presidente 
da Autoridade de Supervisão de 
Seguros e Fundos de pensões (ASF)
ENTREVISTA
7
Como avalia o seu mandato?
Os agentes que atuam no setor segura-
dor e de fundos de pensões - as empre-
sas, os investidores e os consumidores - é 
que poderão fazer essa avaliação. Da mi-
nha parte compete-me apenas dizer que 
dei o meu melhor e que pude contar com 
o apoio de uma equipa técnica – os tra-
balhadores da ASF - de grande qualida-
de e que em todos os momentos difíceis 
se revelaram à altura dos desafios. Foi 
uma grande honra trabalhar com estas 
pessoas.
Quais os grandes desafios do setor 
segurador para 2019 e anos seguintes? 
O cyber risk e as alterações climáticas 
poderão ser o driver de novas ofertas?
O futuro apresenta diversos desafios 
complexos para o setor. Da envolvente 
macroeconómica e dos mercados finan-
ceiros, persistem os desafios associados 
ao ambiente prolongado de baixas taxas 
de juro, o risco de reversão dos preços 
dos ativos e o clima de acentuada tensão 
geopolítica. 
Para 2019 destacaria a implementação 
do regime jurídico da distribuição de se-
guros, aprovado pela Lei n.º 7/2019, de 
16 de janeiro. Este diploma foi aprovado 
com prazos de produção de efeitos irrea-
listas, o que coloca dificuldades acresci-
das aos operadores e ao supervisor, mas 
estou convencido que no final teremos 
um mercado mais ordenado e mais foca-
do no consumidor.
Contamos que, ainda em 2019, possa ser 
aprovado o diploma de transposição da 
Diretiva IORP II, o que suscitará impor-
tantes desafios no setor dos fundos de 
pensões.
As alterações climáticas, além de tende-
rem a aumentar a frequência e a extremar 
a severidade dos eventos seguráveis, au-
mentando assim os custos da sua proteção 
pelo setor segurador, são também propul-
soras de uma mudança paradigmática 
ao nível dos investimentos. Atualmente 
decorrem iniciativas importantes a nível 
europeu e mundial, sobre “Sustainable fi-
nance”, que visam dotar os ativos de uma 
categorização em termos do efeito am-
biental, social e de “governance” gerado 
pela atividade dos respetivos emitentes. 
Esses efeitos pretendem mensurar tanto 
perdas de valor relevantes em títulos con-
siderados como “Brown investments”, 
como a incerteza relativamente a “Green 
investments”, no propósito de transição 
para uma economia “low carbon”.
No caso dos riscos cibernéticos, as em-
presas de seguros têm de, por um lado, 
salvaguardar a integridade e a segurança 
das suas estruturas informáticas e da in-
formação sensível sobre os consumidores 
em sua posse, e da qual dependem forte-
mente. Por outro lado, numa ótica de ne-
gócio, devem revelar adaptabilidade a, de 
uma forma sustentada, expandir a oferta 
de cobertura seguradora face a eventos 
desta natureza, fruto da sua procura cres-
cente, em virtude do seu potencial disrup-
tivo para a atividade económica.
A questão da literacia financeira a 
envolver os vários reguladores já teve 
resultados palpáveis?
Uma estratégia sustentada de educação 
financeira tem sempre de ser encarada 
no médio e longo prazo, já que o objeti-
As alterações 
climáticas, além 
de tenderem aaumentar a frequência 
e a extremar a 
severidade dos 
eventos seguráveis, 
aumentando assim 
os custos da sua 
proteção pelo setor 
segurador, são 
também propulsoras 
de uma mudança 
paradigmática ao nível 
dos investimentos
“ 
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vo é mudar atitudes e comportamentos. 
A estratégia dos reguladores nacionais 
assenta sobretudo na coordenação de es-
forços e projetos de diferentes entidades, 
estimulando novos parceiros e poten-
ciando, através deles, uma implementa-
ção mais eficaz de cada um dos progra-
mas delineados.
Se pensarmos no projeto que temos 
com o Ministério da Educação, que tem 
como objetivo introduzir a educação fi-
nanceira nos currículos escolares, é pos-
sível, a meu ver, observar uma evolução 
muito significativa. Quando iniciámos a 
estratégia nas escolas, a temática da edu-
cação financeira era relativamente des-
conhecida. Havia até algum receio em 
abordar temas financeiros em ambiente 
escolar precisamente devido ao elevado 
desconhecimento das matérias. Atual-
mente, a educação financeira é uma das 
componentes obrigatórias na disciplina 
de educação para a cidadania, temos 
centenas de professores no território na-
cional com formação certificada nestas 
matérias, uma rede de escolas permanen-
temente a trabalhar e manuais escolares 
que já cobrem praticamente todos os ci-
clos de ensino. 
Isto não significa que não façamos fre-
quentemente uma avaliação do nosso 
trabalho. Em 2015 conduzimos um in-
quérito à literacia financeira da popula-
ção portuguesa, que permitiu identificar 
áreas que requerem, no curto prazo, uma 
maior intervenção da nossa parte. Esta-
mos, aliás, a trabalhar em novas ferra-
mentas de diagnóstico que possibilitem 
um crescente alinhamento da nossa estra-
tégia com as necessidades da população 
portuguesa a este nível. 
A perceção do risco pelos novos 
consumidores, caso dos “millennials” 
tem resposta da indústria?
De um modo geral, a indústria segurado-
ra tem bem identificada a necessidade de 
disponibilizar serviços que reflitam a evo-
lução contínua dos riscos, bem como das 
exigências e necessidades dos consumi-
dores, fruto, em particular, das diferentes 
faixas etárias e de como estas influenciam 
a perceção face à utilidade e aos custos 
dos produtos disponibilizados pelo setor. 
Este facto reflete-se tanto nas estratégias 
de marketing e comunicação, na gama de 
riscos para os quais começam a ser dispo-
nibilizadas coberturas, como na lógica de 
funcionamento de alguns produtos e na 
maior customização associada. Por exem-
plo, são desenhados produtos automóvel 
a funcionar numa lógica de “pay as you 
go”, que reforçam a perceção de custos 
proporcionais ao nível de utilização, bem 
como coberturas adaptadas à eletrifica-
ção da mobilidade individual, ou, no caso 
dos seguros de saúde, o acesso a consul-
tas de forma remota.
Como se está o mercado a preparar 
para a digitalização e as novas formas 
de contratar seguros?
A digitalização do processo de contra-
tação de seguros é uma realidade antiga 
no nosso mercado, nós temos empresas 
de seguros focadas na contratação à 
distância (inicialmente por canal telefó-
nico) desde os anos 90 do século passa-
do, pelo que este processo não é novo. 
É relevante notar o papel dos mediado-
res tradicionais no mercado não vida 
de distribuição de seguros se mantém 
preponderante atualmente, como nas 
últimas décadas e, no mercado Vida, é 
o canal bancário que mantém essa he-
gemonia desde os anos 90.
Na distribuição que impacto terão as 
grandes plataformas digitais como a 
Google e a Amazon? Estão obrigados 
à regulação europeia? Como serão 
regulados e controlados se fisicamente 
estão fora do espaço europeu?
Caso as grandes plataformas digitais pre-
tendam entrar na atividade de distribui-
ção de seguros, elas terão de se conformar 
com a Diretiva sobre a distribuição de se-
guros e sujeitar-se à supervisão por uma 
autoridade competente na UE.
Importa notar que esta diretiva, trans-
9
posta pelo já referido novo do regime 
jurídico da distribuição de seguros, pre-
vê expressamente a sua aplicabilidade à 
atividade de prestação de informação so-
bre contratos de seguros em resposta aos 
critérios selecionados pelo consumidor 
através de plataformas digitais na Inter-
net ou por outros meios de comunicação, 
quando o consumidor celebrar direta ou 
indiretamente um contrato de seguro no 
final do processo.
Que implicações terá para as empresas 
de seguros, os respetivos acionistas 
e ainda para os distribuidores e 
tomadores de seguros as futuras regras 
contabilísticas para os contratos de 
seguros, a IFRS17?
A IFRS 17, à imagem das restantes IAS/
IFRS já em vigor, tem como principais 
objetivos fornecer mais e melhor infor-
mação aos leitores das demonstrações 
financeiras sobre a situação financeira da 
entidade em causa, além de maior com-
parabilidade entre diferentes entidades. 
Neste sentido, acredita-se que o impacto 
da introdução da IFRS 17 para todos os 
agentes envolvidos será positiva, na me-
dida em que poderão assim, ter um co-
nhecimento mais rigoroso e aprofundado 
da realidade de todo o setor segurador.
Qual a ligação entre as regras 
da IFRS 17 e as definidas 
pelo regime Solvência II?
A IFRS 17 estabelece, em linha com o que 
já ocorre no atual regime de solvência, 
que os passivos relativos a contratos de 
seguros devem ser mensurados utilizan-
do princípios de justo valor. Apesar de a 
forma de cálculo dos referidos passivos 
não ser totalmente idêntica, existem, ine-
vitavelmente, pontos de contacto. Con-
siderando o grande investimento que as 
empresas de seguros tiveram de efetuar 
aquando da implementação do Solvência 
II, é natural, e até desejável, que sejam 
aproveitadas todas as sinergias possíveis.
O setor segurador português está 
suficientemente preparado para 
acomodar a IFRS 17?
A entrada em vigor da IFRS 17 constitui, 
indiscutivelmente, um desafio de enorme 
magnitude para todas as empresas de se-
guros. Neste sentido a ASF tem vindo a 
desenvolver iniciativas e a alocar recursos 
para pôr em marcha um plano de imple-
mentação, dirigido ao mercado segurador 
nacional, deste normativo contabilístico, 
tendo como objetivo primordial garantir 
uma transição o mais suave possível.
As novas regras de solvência e 
contabilísticas são suficientes para 
acautelar os desafios dos riscos políticos 
e sociais na Europa?
A entrada em vigor a 1 de janeiro de 2016 
do regime Solvência II foi o culminar de 
um trabalho conjunto de mais de uma dé-
cada por parte dos reguladores europeus. 
A preocupação de que este regime respon-
da adequadamente aos desafios existentes 
esteve presente desde o primeiro dia, e ain-
da se mantém, através das revisões regula-
res a que este regime é sujeito. Após mais 
de três anos de aplicação, podemos con-
siderar que o mesmo tem sido um suces-
so, contribuindo para um setor segurador 
mais robusto e com uma cultura de gestão 
baseada nos riscos mais vincada. 
No que respeita ao regime contabilístico, 
as regras definidas pelas IAS/IFRS são 
utilizadas num vasto número de países, 
presentes nos diferentes continentes. En-
quanto outras matérias já se encontram 
regulamentadas e até estabilizadas há bas-
tante tempo, a mensuração dos passivos 
relativos a contratos de seguros, talvez 
pela sua complexidade, tem vindo a ser 
adiada desde 2004 (data da publicação 
da primeira fase deste normativo através 
da IFRS 4). Neste sentido, e à imagem do 
que tem acontecido com as restantes IAS/
IFRS, acredita-se que a IFRS 17 dará um 
contributo fundamental para a melhoria 
da informação contabilística apresenta-
da, permitindo inclusive uma maior com-
parabilidade entre empresas de seguros 
presentes em diferentes latitudes. 
ENTREVISTA
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Como evoluiu o setor segurador em 2018 e quais são as perspetivas para 2019 
em termos de prémios?
Durante o ano de 2018, o setor segurador 
manteve-se sólido e resiliente e continua a 
ser um importante contribuinte para a es-
tabilidade e para o financiamento da eco-
nomia. Representacerca de 7% do PIB, e 
num cenário de crescimento do PIB nos 
próximos anos, continuará a ter taxas de 
crescimento interessantes. As empresas 
de seguros continuam a demonstrar a sua 
capacidade para dar respostas céleres em 
situações extremas, – um quadro que se 
manterá no futuro mas que exigirá uma 
crescente capacidade de resposta face a 
um contexto de eventos extremos cada 
vez mais frequentes, como aqueles que 
assistimos durante os incêndios – a razão, 
afinal, para a sua existência: providenciar 
as condições para que as famílias e as 
empresas possam recuperar, mais rapida-
mente, de situações de infortúnio.
No que respeita ao volume de prémios, o 
crescimento global atingiu os 12%, sendo 
esta evolução muito marcada pela recu-
peração do segmento Vida (mais 14,5%). 
No entanto, também o segmento Não 
Vida deu o seu contributo crescendo a um 
ritmo superior ao do ano passado (mais 
7,5%, contra mais 6,9%, em 2017) sendo 
esta evolução particularmente expressiva 
em linhas de negócio importantes, como 
os Acidentes de Trabalho (13,5%), Doen-
ça (7,4%) e mesmo Automóvel (6,8%).
Quanto a 2019, de acordo com as mais 
recentes projeções do Banco de Portugal, 
prevê-se um crescimento real do PIB de 
1,8%, uma ligeira desaceleração face a 
2018 em linha com o abrandamento es-
perado na área do euro, o que, conjuga-
do com as restantes perspetivas macroe-
conómicas de curto prazo, significa que 
os desafios de gestão técnica Vida e Não 
Vida transitarão de ano praticamente in-
tactos. No ramo Vida, o desafio funda-
mental será assegurar o desenvolvimento 
do negócio dentro de padrões razoáveis 
de acumulação de responsabilidades e re-
quisitos de capital, ainda num contexto 
de baixas taxas de juro de médio e lon-
go prazo. Em Não Vida, manter-se-á o 
desafio de melhorar as condições de ex-
ploração de grandes ramos, como os de 
Acidentes de Trabalho e Automóvel, e 
de expandir a penetração de seguros não 
obrigatórios, como os de Saúde, Multir-
riscos ou Responsabilidade Civil Geral.
Perante os novos desafios da indústria 
que produtos novos poderão as 
seguradoras lançar em 2019?
Existem de facto novas tendências que 
são novos desafios para o setor segura-
dor. Tendências como o evoluir das tec-
nologias digitais, mas também a própria 
evolução da sociedade em termos demo-
“Digitalização é o caminho 
a seguir e de forma 
mais célere possível”
O cliente atual exige respostas céleres das companhias, afirma Galamba de Oliveira, presidente 
APS. O gestor dá exemplos recentes de sucesso: a e-Segurnet, uma alternativa à versão 
em pepel da declaração amigável de acidente, e a participação eletrónica de acidentes de trabalho.
Por Vítor Norinha
José Galamba de Oliveira, 
presidente da Associação 
Portuguesa de Seguradores
ENTREVISTA
gráficos e sociais que originam novas 
necessidades e expetativas dos consumi-
dores (famílias e empresas), são fatores 
que levam a que a indústria desenvolva 
trabalho de forma permanentemente 
para dar resposta a estas novas realida-
des, quer seja aperfeiçoando a oferta exis-
tente, quer desenvolvendo novas ofertas 
para novos riscos, como por exemplo, no 
curto prazo, para os riscos cyber, ou no 
médio prazo para os riscos associados 
aos veículos autónomos.
O tema do cyber risk e das alterações 
climáticas está a potenciar a criação 
de novas ofertas de seguros?
Tal como referido, anteriormente, cyber 
riscos e alterações climáticas são novas 
realidades dos tempos atuais a que as 
seguradoras estão obviamente atentas. 
Cabe a cada seguradora individualmen-
te definir as suas estratégias comerciais, 
no âmbito das quais se enquadra a pos-
sibilidade do surgimento no mercado de 
novos produtos que respondam às novas 
necessidades.
De referir ainda, que no contexto das al-
terações climáticas, as seguradoras e as 
resseguradoras, estão comprometidas e 
diretamente envolvidas na luta contra as 
mudanças climáticas de várias maneiras: 
ajudando na prevenção e adaptação; par-
ticipando e oferecendo expertise em parce-
rias público-privadas; em caso de riscos na-
12
turais, compensando as perdas seguras; e, 
como um dos maiores investidores institu-
cionais, fornecendo financiamento de longo 
prazo para a economia, investindo cada vez 
mais em ativos verdes e sustentáveis.
O small data está a ser aproveitado pela 
indústria? E como é que este se está a 
preparar para a digitalização completa 
dos contratos?
Como todos os setores de atividade que 
procuram acompanhar as novas ten-
dências no que se refere à relação com 
o cliente, observamos o small data com 
particular interesse. As especificidades do 
setor segurador implicam o desafio per-
manente de tentar compreender e definir 
as fronteiras do tratamento dos dados 
pessoais, que são críticos para a gestão 
dos contratos, desde a subscrição ao pa-
gamento dos sinistros. 
Em relação à digitalização, as segurado-
ras compreendem que este é o caminho a 
seguir e de forma mais célere possível, sob 
pena se perder a capacidade de resposta 
que o cliente atual exige. Refiro dois bons 
exemplos: o primeiro, a e-segurnet, uma 
aplicação que é uma alternativa à versão 
em papel da declaração amigável em caso 
de acidente. Esta app é uma das várias 
novidades que a APS tem apresentado no 
âmbito da sua estratégia de fomentar a 
digitalização do setor segurador; e o se-
gundo exemplo, a participação eletrónica 
de acidente de trabalho, que é mais sim-
ples e de rápida concretização, habilitan-
do a seguradora a agir de forma célere, 
identificando rapidamente o trabalhador 
acidentado, fazendo intervir os prestado-
res de cuidados de saúde e regularizando 
com o empregador os aspetos administra-
tivos inerentes a estes processos.
As insurtechs estão a ajudar a modificar 
o perfil de abordagem dos seguros pelas 
seguradoras? Há exemplos concretos de 
soluções que estejam ou venham a ser 
implementadas?
Enquanto parceiras no desenvolvimento 
e implementação de soluções tecnológi-
cas no mundo digital, as insurtechs têm 
sido uma peça fundamental nesta nova 
dinâmica. De facto, a sua atuação tem 
permitido melhorar os modelos de rela-
cionamento e de negócio das seguradoras, 
na medida em que tornam a operação das 
seguradoras mais ágeis e eficientes, mais 
alinhadas com as expectativas dos con-
sumidores. Nesta perspetiva, o setor tem 
assistido a um desenvolvimento muito in-
teressante de novas formas de processar a 
informação que melhoram a sua capaci-
dade de resposta quer nas várias fases da 
cadeia de valor: subscrição, distribuição e 
gestão de sinistros.
O tema da literacia financeira foi 
uma das preocupações da APS. Já 
tem resultados concretos das várias 
iniciativas realizadas?
A educação financeira constitui das prin-
cipais linhas de atuação da APS, tendo em 
conta tanto o seu impacto social, como 
a sua importância para o próprio setor. 
Numa perspetiva social, tem um papel es-
sencial pois uma sociedade mais informa-
da conhece melhor as consequências das 
suas decisões financeiras – isto é, uma 
sociedade que toma decisões financeiras 
mais responsáveis.
Em relação ao setor, é fundamental criar, 
nas pessoas e nas empresas, uma maior 
consciência do risco e da necessidade de 
poupança, através da educação financei-
ra. Hoje observa-se que a população está 
mais consciente em relação aos vários fa-
tores que devem influenciar as suas deci-
sões de gestão e, em relação aos seguros, 
notamos uma maior consciencialização 
por parte dos portugueses em relação à 
importância de ter um seguro. O seguro 
não deve ser visto como um custo, mas 
13
ENTREVISTA
sim um investimento na sua segurança e 
dos seus bens. 
Mas há ainda um trabalho de longo pra-
zo a fazer, que deve ser contínuo no tem-
po, abragendo cada vez mais cidadãos e 
de forma cada vez mais tranversal. Nesse 
sentido alargámos o número de parcerias 
estratégicas à Fundação António Cuper-
tino de Miranda e ao Junior Achievement 
Portugal, com o grande objetivo de che-
gar a mais escolas e a mais níveis etários. 
Temos também assistidoa um incremen-
to de solitações para os nossos materiais 
nesta área, por parte de bibliortecas e es-
colas, que nos demostram que este nosso 
projeto de educação financeira tem valor. 
Dentro dos desafios para 2019 que 
implicações terá para o setor de seguros 
a aplicação das novas regras contabilís-
ticas, o IFRS 17? De que forma os segu-
radores se têm preparado para a nova 
realidade à luz destas novas exigências?
Independentemente dos contornos finais 
que venha a assumir, podemos já afirmar 
que a nova norma internacional aplicá-
vel à contabilização de contratos de se-
guro (IFRS 17) vai introduzir alterações 
significativas ao nível das demostrações 
financeiras das empresas de seguros, al-
terações estas que implicarão, certamen-
te, uma reformulação das métricas e dos 
indicadores utilizados na gestão corrente 
das empresas de seguros.
Neste contexto, estima-se que a IFRS 17 
venha a ter profundos impactos ao nível 
dos recursos humanos, dos processos e dos 
sistemas o que, por si só, implicará avulta-
dos investimentos e a que, para a maior 
parte das empresas, acrescerão os custos 
associadas à implementação simultânea 
da nova norma aplicável à contabilização 
de instrumentos financeiros (IFRS 9). 
O ano de 2019 será ainda um ano de 
intensas discussões técnicas e de conso-
lidação dos conhecimentos sobre este 
tema. Neste âmbito, um destaque par-
ticular para o facto de se aguardar que 
o International Accounting Standards 
Board (IASB) publique durante o segun-
do trimestre de 2019 um Discussion Pa-
per onde irá propor algumas alterações 
à norma, entre as quais o adiamento da 
sua data de entrada em vigor para 2022 
(e não 2021 como atualmente previsto). 
Embora existam algumas incertezas em 
torno do texto final da norma e o hori-
zonte temporal para a sua implementa-
ção pareça ser relativamente dilatado, 
os impactos estimados desta no negócio 
segurador são de tal ordem que justificam 
ações concretas no imediato 
Assim sendo, estima-se um ano de 2019 
particularmente ativo ao nível da prepa-
ração e lançamento de projetos relacio-
nados como de implementação da IFRS 
17, não só ao nível das empresas, mas 
também projetos de natureza regulamen-
tar uma vez que é necessário garantir um 
adequado ajustamento do plano de con-
tas para empresas de seguros (PCES) e da 
legislação fiscal (nomeadamente do IRC) 
a esta nova realidade contabilística. 
A diretiva da Distribuição 
teve implementação fácil?
Infelizmente não está a ser uma implemen-
tação fácil porque nesta nova lei da distri-
buição, a lei 7/2019, de 16 de janeiro, que 
transpõe a diretiva da Distribuição, o le-
gislador entendeu estabelecer uma produ-
ção de efeitos retroativos a 1 de outubro 
de 2018. Com esta decisão inviabilizou 
todos os períodos transitórios e de adap-
tação que estavam previstos, gerando uma 
situação e enorme incerteza jurídica quan-
to ao regime aplicável às situações em 
concreto. Trata-se, obviamente, de uma si-
tuação que o decurso do tempo resolverá, 
mas que poderia e deveria ter sido evitada.
O que é expetável esperar a nível 
de concentração do sector segurador 
e da eventual entrada de novos players 
no mercado nacional?
Os movimentos de concentração do setor 
no contexto nacional vão continuar, até 
porque alguns grupos que têm participa-
do neste processo ativamente já manifes-
taram interesse em continuar a concen-
trar. As mudanças acionistas que temos 
assistido têm também a vantagem de 
trazerem inovação, modernidade, ideias 
novas, estabilidade acionista e capital que 
não havia nalgumas seguradoras.
As plataformas globais, tipo Amazon 
ou Google poderão entrar no negócio 
segurador? 
Sim, poderão entrar. Aliás num ou nou-
tro mercado estão já a ser feitos pilotos. 
A indústria seguradora é uma indústria 
complexa e muito regulada e essa tem 
sido uma barreira à entrada deste tipo 
de plataformas. No curto-prazo vejo-as 
entrar mais facilmente na banca, em par-
ticular, nos pagamentos e depois noutros 
segmentos financeiros, mas acabarão 
também por entrar nos seguros. Acredito 
também que essa entrada possa ser feita 
com parcerias com o próprio setor.
14
IFRS 17 é marco histórico na indústria
As futuras regras contabilísticas dos seguros vão afetar, diretamente e indiretamente, todos os intervenientes no setor. Vão ser 
definidos novos produtos e outros serão descontinuados desde que tenham opções e garantias mais onerosas. Este impacto 
teve origem com Solvência II com a redução de oferta de produtos com garantias por serem penalizadores a nível de capital.
Gonçalo Dias Carvalho
PwC | Insurance Manager
A IFRS 17 poderá contribuir para 
transformar a forma como o negócio 
segurador é gerido. As companhias 
de seguros terão de estimar a margem 
contratual para cada contrato, dotando 
os gestores com informação de gestão 
valiosa, para a correta tomada de decisões 
de negócio. A IFRS 17 trará uma maior 
transparência ao setor, contribuindo para 
preços mais adequados e seguradoras 
mais alinhadas, realçando a importância 
de uma sólida função de gestão de riscos.
A IFRS 17 poderá contribuir para a 
transformação operacional da indústria e 
dos operadores. As áreas que poderão ser 
mais afetadas serão as de: subscrição, pricing, 
atuarial, gestão de risco e IT. Relativamente 
à última, haverá a necessidade de proceder-
se a um desenvolvimento dos sistemas de 
informação da Companhia, com impacto 
na forma como os dados são armazenados 
e analisados. A implementação da 
IFRS 17 deverá, ainda, ser devidamente 
coordenada com a implementação da IFRS 
9, Instrumentos Financeiros.
O reconhecimento imediato dos contratos 
que são onerosos, ou seja, que não são 
rentáveis para as companhias, poderá ter 
impacto no design e pricing dos produtos 
comercializados pelas companhias, logo, 
Nuno Esteves
KPMG
A IFRS 17 é um importante marco para a 
indústria seguradora e a sua implementação 
terá implicações sobre os modelos de 
negócio e operativos dos seguradores. 
nos clientes finais e nos agentes/ mediadores, 
enquanto canal de distribuição. 
Por outro lada, a IFRS 17 baseia-
se nos pilares da comparabilidade, 
transparência e contabilidade prospetiva, 
complementando o enquadramento 
regulatório de Solvência II. Existe uma 
base comum entre a IFRS 17 e a Solvência 
II, no respeitante à projeção de fluxos de 
caixa decorrentes de contratos de seguros 
e respetiva atualização para efeitos de 
determinação da “Best estimate”.
No entanto, importa entender as 
principais áreas de diferença entre a IFRS 
17 e Solvência II. Aquelas em que será 
necessário um maior desenvolvimento: 
ao nível dos impactos contabilístico, 
operacional e de négocio, nomeadamente, 
no reconhecimento da “Contratual Service 
Margin”, que não é mais que o lucro 
diferido resultante de um contrato de 
seguro, distribuído ao longo do período 
de cobertura, conceito que não existe em 
Solvência II. Importa ainda mencionar que 
os cálculos de Solvência II encontram-se 
prescritos por regulamentação, enquanto 
a IFRS 17 é baseada em princípios, o que 
resulta num maior nível de julgamento 
na sua aplicação, nomeadamente no 
método de cálculo do “Risk adjustment”, 
relativamente às responsabilidades a pagar, 
bem como na taxa de desconto a aplicar, 
para atualização de responsabilidades. 
Por outro lado, embora o foco no 
cliente tenha sido sempre proeminente 
na indústria seguradora, as seguradoras 
continuam a ser desafiadas relativamente 
às reais necessidades dos seus clientes. Os 
clientes querem mais escolha, flexibilidade, 
simplicidade e personalização no que 
compram, nos canais que usam e 
como interagem com as seguradoras. 
Historicamente, o relacionamento com 
os clientes tem sido limitado a renovação 
de apólices e pagamento de sinistros. 
Hoje em dia, os clientes têm maiores 
capacidades digitais, estando abertos a 
um relacionamento muito mais interativo 
com as seguradoras. Tal altera a forma de 
interação com os mesmos. Começam a 
surgir a parcerias com empresas InsurTech, 
por forma apermitir a criação de um 
serviço mais focado e personalizado. 
Sobre os desafios friso que há um desafio 
intemporal: a otimização de processos / 
forma de servir os clientes. Em 2019, a 
transformação operacional, embutindo 
uma forte componente tecnológica, 
constituirá certamente um desafio, não 
somente com o intuito de otimizar a 
performance operacional, melhorando a 
forma de chegar aos clientes, minimizando 
custos e incrementando o retorno nos 
capitais próprios, mas também numa 
perspetiva regulatória, de endosso dos 
requisitos em matérias de RGPD, AML, 
Solvência 2 ou de IFRS 17. Tempos 
desafiantes. Como sempre!...
15
FORum DOS CONSuLTORES
Ainda que se estimem diferentes impactos 
para vida e não vida, a IFRS 17 afectará, 
directa ou indirectamente, os diferentes 
intervenientes do sector. 
Para os accionistas, as implicações que 
os novos modelos de mensuração de 
responsabilidades e de reconhecimento 
do revenue terão sobre os resultados 
anuais da companhia, poderão trazer 
maior volatilidade dos resultados, 
comparativamente com o modelo actual. 
Para os distribuidores, os princípios de 
identificação e reconhecimento de custos 
de aquisição, em conjugação com os 
limites contratuais (contract boundary 
anual ou plurianual), poderão ter impacto 
sobre o actual modelo de distribuição e 
remuneração da rede. 
No caso dos clientes, poderão existir 
implicações a nível da revisão de 
produtos, condições, coberturas, opções e 
garantias e respectivos modelos de pricing 
disponibilizados pelas seguradoras.
Ainda que estes exemplos ilustrem 
algumas das implicações que o normativo 
terá para os intervenientes do sector, a 
boa notícia é que o mercado segurador 
está já a iniciar os projectos com vista 
à implementação do normativo a 1 de 
Janeiro de 2022, permitindo este período, 
por um lado, aumentar o conhecimento, 
compreensão e atempada formação dos 
diferentes intervenientes e, por outro, 
estabelecer planos e acções que permitam 
a suave transição para o novo normativo 
contabilístico de contratos de seguro.
A IFRS 17 e o Solvência II são normativos 
com objectivos, dimensões a âmbito 
geográfico diferentes. Enquanto a IFRS 
17 estabelece um normativo contabilístico 
para contratos de seguro, o Solvência II 
estabelece a framework de gestão de risco 
para o sector segurador europeu.
Não obstante da diferença conceptual, 
os normativos partilham de princípios 
de mensuração de natureza económica 
comuns levando a que os trabalhos e 
investimentos já realizados no contexto 
do Solvência II sejam o ponto de partida 
para a implementação dos modelos de 
mensuração da IFRS 17. Os normativos 
estabelecem que os contratos de seguro são 
mensurados tendo por base a projecção 
de cash flows futuros, o desconto de cash 
flows e o ajustamento de risco. A IFRS 17 
tem, adicionalmente, uma componente de 
margem de serviço contratual (CSM) no 
âmbito do LRC (liability for remaining 
coverage). A similaridade dos “blocos” 
de mensuração não implica porém que 
os modelos sejam iguais. Para além de 
diferentes níveis de prescrição de requisitos, 
existem diferenças entre os modelos que 
terão de ser identificadas, compreendidas 
e devidamente endereçadas (i.e. despesas 
directamente atribuíveis).
Em termos práticos, e para além da 
referida ligação dos princípios de 
mensuração entre os normativos, a 
implementação da IFRS 17 terá outras 
implicações práticas sobre o Solvência 
II. As já referidas alterações do actual 
modelo de negócio e operativo poderão 
ter impacto sobre os actuais requisitos de 
capital (i.e. uma alteração de produtos 
realizada para efeitos contabilísticos 
poderá ter implicação sobre os fundos 
próprios e os requisitos de capital 
para efeitos de Solvência II). Outra 
importante alteração introduzida pela 
IFRS 17 prende-se com as implicações 
sobre o actual processo de planeamento 
e orçamentação e consequentemente 
sobre o processo de ORSA (Own Risk 
and Solvency Assessment) estabelecido 
pelo Solvência II e visto por muitos 
como um dos elementos chave do regime 
de Solvência II. O ORSA assenta sobre 
uma visão prospectiva da estratégia e 
do negócio, reflectido num orçamento 
plurianual, que deverá seguir principios 
de IFRS 17 já para os anos de 2022. 
Apesar da diferença conceptual dos 
normativos a IFRS 17 e o Solvência II, 
existem significativos pontos de ligação, 
sendo esta uma importante dimensão no 
processo de análise e implementação do 
novo normativo de contratos de seguro. 
Ao nível da digitalização, deve continuar 
o esforço de automatização de operações 
e melhoria dos mecanismos de interação 
com parceiros e clientes. Neste contexto, 
a melhoria da experiência de cliente deve 
continuar na agenda de praticamente todas 
as empresas de seguros e acreditamos que 
ao longo dos próximos anos continuar a 
trazer mudanças significativas, através não 
apenas de uma oferta mais personalizada 
e adequada às preferências de cada 
cliente, mas também da melhoria de toda 
a experiência tanto a nível comercial (de 
promoção e venda de seguros), como 
a nível do serviço prestado (gestão de 
sinistros). 
A nível da contratação, existirá um 
aumento crescente da utilização de 
plataformas digitais, com o aumento da 
importância dos assistentes de vendas 
virtuais (virtual sales assistant), com 
a possibilidade de venda de produtos 
de complexidade crescente, através da 
utilização de tecnologia de inteligência 
artificial. 
Por outro lado 2019 continuará a ser um 
ano com uma forte componente regulatória, 
nomeadamente com a preparação para 
a implementação das novas normas 
contabilísticas (norma IFRS17 e IFRS9), o 
reforço da implementação de mecanismos 
de proteção de dados (GDPR) e no 
reforço dos mecanismos de distribuição 
de seguros (IDD). 
A nível de negócio, continuará a existir 
um reforço da melhoria da experiência 
de cliente e parceiros e uma melhoria da 
eficiência das operações. Também a nível de 
informação e dados, haverá uma tendência 
para reforço das capacidades de análise e 
modelação, com o objetivo de tirar melhor 
partida do maior volume de informação 
disponível, tanto a nível interno (e.g.: 
processos de decisão) como externo 
(desenvolvimento e comercialização de 
produtos). 
Adicionalmente deverá continuar a assistir-
se a movimentos de consolidação do 
sector, com a concretização de operações 
de fusões e aquisições com o objetivo de 
maximizar a eficiência operativa e otimizar 
a gestão de risco e capital.
16
Que implicações terá para os seguradores, os respetivos acionistas e ainda para os 
distribuidores e clientes as 
futuras regras contabilísticas, o IFRS 17?
As implicações para os seguradores são 
numerosas e começam com o esforço de 
implementação, que se tem sentido em di-
versos níveis nas entidades. A implemen-
tação da IFRS 17 implica ajustamentos 
em processos, sistemas, dados e pessoas. 
A forma como vai ser reconhecido o lu-
cro ao longo do período de cobertura dos 
contratos altera-se.
A IFRS 17 tem como objetivo possibi-
litar um incremento da transparência e 
da comparabilidade das demonstrações 
financeiras entre seguradores. Neste con-
texto, destaco as obrigações de divulga-
ção ao nível do chamado “negócio onero-
so”: dado o nível de detalhe que deve ser 
apresentado nas demonstrações financei-
ras, a gestão terá de fundamentar o racio-
nal subjacente à subscrição de contratos 
onerosos ou de alterar a sua estratégia.
Assistimos a algumas alterações nos 
produtos disponibilizados após a en-
trada em vigor do regime europeu “Sol-
vência II”, em particular dos produtos 
que consomem mais capital. Antecipa-
se que o mesmo possa acontecer com 
a implementação da IFRS 17. O Paper 
04-03 do European Financial Repor-
ting Advisory Group, na sequência da 
reunião do Board de 3 setembro do ano 
passado, detalha o impacto potencial 
não só no pricing dos produtos, mas 
também no seu desenho, com o conse-
quente impacto para os clientes.
Por sua vez, a forma como os resultados 
vão ser reconhecidos ao longo do perío-do de cobertura dos contratos vai ser 
diferente, o que tem impacto ao nível 
dos resultados apurados e, consequen-
temente, na distribuição de dividendos 
aos acionistas.
Por último, embora não identifique im-
plicações diretas para os distribuidores, 
julgo que, tendo em conta as alterações 
ao nível do reconhecimento dos lucros 
e eventuais alterações no pricing e dese-
nho dos produtos, os distribuidores terão 
também de se ajustar a estas possíveis al-
terações.
Vão ser necessárias alterações de fundo 
para o retalho e na relação com os 
clientes finais?
Com a implementação da IFRS 17 é es-
perado, como referi, alguns ajustamentos 
“IFRS 17 terá 
impacto nos resultados 
e nos dividendos 
dos seguradores”
As futuras regras contabilísticas decorrentes da IFRS 17 serão 
“um grande desafio para os seguradores encontrarem um 
equilíbrio entre o desenho de produtos simples e a necessidade 
de apresentar produtos adequados às necessidades específicas”, 
afirma Carla Sá Pereira, associate partner da EY.
Por Vítor Norinha
Carla Sá Pereira, 
associate partner da EY
ENTREVISTA
17
aos produtos disponibilizados. Será um 
grande desafio para os seguradores en-
contrarem um equilíbrio entre, por um 
lado, o desenho de produtos mais sim-
ples, cuja mensuração no âmbito da IFRS 
17 seja mais linear e também mais fácil 
de explicar aos clientes, e, por outro, a 
necessidade de apresentar produtos com-
pletos e adequados às suas necessidades 
específicas.
Qual a ligação entre as futuras regras do 
IFRS 17 e as obrigações em matérias de 
capital impostas por Solvência II?
A IFRS 17, norma internacional, estabe-
lece o regime contabilístico das empresas 
e substituirá o atual plano de contas para 
as empresas de seguros (PCES) em vigor 
em Portugal. A norma introduz novas 
regras para o reconhecimento, a mensu-
ração, a apresentação e a divulgação dos 
contratos de seguro. É com base nesta 
norma que passarão a ser apurados os 
resultados dos seguradores.
Por sua vez, o regime “Solvência II” está 
focado na gestão do risco. É o atual regi-
me prudencial que, entre outros, estabe-
lece os requisitos de capital de solvência 
para cada tipologia de risco a que os se-
guradores estão expostos.
Em termos conceptuais existem muitas 
semelhanças entre os dois regimes. Am-
bos pretendem ser market consistent e 
algumas rúbricas dos respetivos balan-
ços são estabelecidas através do valor 
atual dos cash-flows futuros esperados.
No entanto, tendo objetivos distintos, os 
dois regimes têm diversas diferenças e, 
consequentemente, conduzem à obtenção 
de valores diferentes. A forma como são 
reconhecidos os lucros e perdas ao longo 
do prazo de cobertura dos contratos de 
seguro é crítica para a IFRS 17 enquan-
to no “Solvência II” o lucro esperado dos 
contratos encontra-se implicitamente re-
fletido nos fundos próprios (capital) dos 
seguradores.
Foi grande o esforço de adaptação para o 
“Solvência II” e os seguradores ainda se 
encontram a melhorar os procedimentos 
e processos no sentido quer de melhoria 
dos cálculos quer de acelerar os processos 
e reporte, antecipando o fim do regime 
transitório relativo ao prazo de reporte.
A identificação de sinergias e o tentar 
alavancar o que já foi desenvolvido para 
a implementação do “Solvência II” é um 
tema a ter em consideração em todos os 
programas de implementação da IFRS 17. 
O setor segurador português está 
suficientemente preparado para 
acomodar o IFRS 17?
O recente adiamento de 1 ano da data de 
implementação foi genericamente bem 
recebido pelo setor, ainda que alguns ope-
radores tivessem defendido um prazo de 
adiamento de dois anos.
Como já referi, a adoção de uma Nor-
ma contabilística como a IFRS 17 traz 
impactos em dados, processos, sistemas 
e pessoas. São várias as áreas dos segu-
radores que são implicadas, e que terão 
de acompanhar a implementação e seus 
impactos (contabilidade, financeira, atua-
rial, IT).
Este tempo adicional irá ajudar os se-
guradores a estabelecer os processos de 
reporte, sistemas tecnológicos, estruturas 
de governance e os dataflows necessários 
para os exigentes requisitos da norma ao 
nível dos dados. 
Assim, apesar de a data final de implemen-
tação e os requisitos finais não estarem 
ainda fechados, com alguns temas ainda 
em discussão, o momentum de prepara-
ção para a norma não deve ser perdido. 
Com a implementação 
da IFRS 17 é esperado 
algum ajustamento 
aos produtos 
disponibilizados. Será 
um grande desafio 
para os seguradores
“ 
18
No final do dia, a IFRS 17 é muito mais 
do que obter os valores corretos: pode, e 
deve, ser a oportunidade para reequacio-
nar os processos e acelerá-los, melhorar a 
documentação e a qualidade dos dados e 
repensar os sistemas tecnológicos.
Efetivamente, na EY ajudamos vários 
clientes a nível mundial que têm aprovei-
tado para realizar programas de trans-
formação que vão muito além do mero 
cumprimento regulamentar.
São vários os estágios atuais de prepa-
ração dos seguradores a operar em Por-
tugal. Temos clientes onde iniciámos os 
trabalhos de mobilização e formação em 
junho de 2017 e outros em que estamos 
na fase de avaliação de impactos opera-
cionais e financeiros.
Os que continuam com os seus progra-
mas de implementação terão mais tempo 
para os dry-runs, com produção de resul-
tados em paralelo, que permitirão fazer 
os necessários ajustamentos em tempo 
oportuno. Da experiência que tivemos 
aquando da implementação da IFRS 9, o 
tempo despendido na fase de dry-runs foi 
essencial para os clientes que os consegui-
ram realizar.
Como já mencionei, a IFRS 17 visa possi-
bilitar uma maior transparência e compa-
rabilidade dos resultados dos operadores. 
No entanto, sendo uma norma baseada 
em princípios, será aplicada uma elevada 
componente de julgamento profissional, 
pelo que o papel do atuário e do auditor 
é mais uma vez essencial.
Assim, e à semelhança do que se verificou 
no “Solvência II”, a criação de mecanis-
mos de governance que envolvam a opi-
nião formal dos atuários (quer internos 
quer dos auditores) irá aumentar a cre-
dibilidade das demonstrações financeiras 
preparadas em IFRS 17, pelo que o seu 
papel é de inegável importância.
Em Portugal todos os 
seguradores estão a 
utilizar para efeitos 
de apuramento dos 
seus requisitos de 
capital de solvência a 
fórmula standard, que 
foi calibrada para uma 
“Empresa de Seguros 
Europeia média”
“ 
19
As novas regras contabilísticas 
e de solvabilidade são suficientes 
para acautelar os desafios dos riscos 
políticos e sociais na Europa?
O regime de solvência que se encontra 
em vigor desde início de 2016 veio impor 
uma gestão focada e baseada nos riscos. 
Em Portugal todas os seguradores estão 
a utilizar para efeitos de apuramento dos 
seus requisitos de capital de solvência a 
fórmula standard, que foi calibrada para 
uma “Empresa de Seguros Europeia mé-
dia”. Este modelo pode estar mais ou 
menos adequado aos riscos específico de 
cada empresa de seguros.
Em complemento ao apuramento dos 
requisitos de capital de solvência, o “Sol-
vência II” definiu a obrigatoriedade de le-
var a cabo um processo de auto-avaliação 
interno dos riscos e da solvência, o ORSA 
(own risk and solvency assessment). 
No processo do ORSA, considerado por 
muitos como o “coração” do “Solvência 
II, muitos riscos para além dos definidos 
na regulamentação são avaliados e men-
surados pelos seguradores. São desenha-
dos cenários de stress, sendo avaliados os 
seus impactos na situação de solvência, 
a curto e médio prazo. Muitos desses ce-
nários de stress acomodam já riscos po-
líticos e sociais que não estão explicita-
mente considerados na fórmula standard 
de apuramento do requisito de capital. 
A mensuração e avaliação destes riscos é 
preponderante numa ótica de gestão efe-
tiva de capital e pode conduzir à necessi-
dade de criação de um modelo interno, 
ainda que apenas parcial, que capture so-
mente os riscos aos quais as empresas de 
seguros estão efetivamente expostas.
Assim, entendido oORSA como muito 
mais que um mero exercício regulamen-
tar, também este pode, e deve, constituir 
uma ferramenta de gestão essencial para 
o acompanhamento dos riscos críticos 
para cada empresa de seguros.
Como se está o mercado a preparar 
para a digitalização e as novas 
formas de contratar seguros?
Vemos já várias formas de digitalização 
e não apenas na contratação. Existem 
diversos exemplos de que o setor está a 
adaptar-se à realidade digital. Por exem-
plo, a app e-Segurnet da APS, que permi-
te uma alternativa à versão em papel da 
Declaração Amigável de Acidente Auto-
móvel, facilitando a geolocalização e a 
utilização de fotos das circunstâncias do 
acidente. Existem ainda outros exemplos 
como a participação eletrónica de aci-
dente de trabalho, mais recente. Alguns 
seguradores também desenvolveram apps 
específicas que oferecem alguns serviços 
aos seus clientes: encontramos vários 
exemplos no seguro de saúde e no seguro 
automóvel.
O mercado está atento e a adaptar-se à 
digitalização. Como sublinha o recente 
estudo da EY – European Insurance CRO 
Survey 2018 – “A digitalização é mais do 
ENTREVISTA
que tecnologia, é uma transformação”.
Para além da utilização do digital no 
contacto com o cliente, fornecedores e 
parceiros dos seguradores procuram tam-
bém melhorar a sua resiliência operacio-
nal com o digital. Vemos e temos apoiado 
os nossos clientes na automatização e 
digitalização dos processos core, desde a 
tarifação, subscrição, faturação e gestão 
das apólices até à gestão de sinistros e aos 
respetivos pagamentos. Esta transforma-
ção procura simplificar os processos, ace-
lerá-los, reduzir os seus custos e libertar 
recursos para outras tarefas que necessi-
tam de kown-how especializado. 
Estão os seguradores 
e o retalho preparados 
para o mercado “pay per use”?
O sector está a adaptar-se às necessida-
des que decorrem da existência de con-
sumidores millennial, geração X ou Y, em 
particular, à procura de produtos mais 
flexíveis e personalizados.
Os produtos “pay per use” dão aos segu-
radores a oportunidade de desenharem 
seguros adaptados aos padrões de con-
sumo e utilização dos clientes. Estima-se 
que a utilização daquele tipo de produtos 
reduza os custos com sinistros em 40% 
e os custos administrativos em 50%, isto 
para além dos custos de aquisição, per-
mitindo fazer o pricing das apólices de 
forma mais efetiva.
Por outro lado, a sociedade tem assistido 
ao surgimento de novas tecnologias a um 
ritmo quase alucinante. Veículos autóno-
mos, drones, Internet of Things, aplica-
ções que captam o comportamento dos 
condutores ou dispositivos que registam 
a atividade física, só para citar as mais 
relevantes, estão a alterar o nosso dia-a-
dia de uma forma que nem Júlio Verne 
imaginaria.
Esta evolução tecnológica tem permitido 
a implementação de seguros baseados 
na utilização como é o caso dos seguros 
“pay as you drive” no seguro automóvel 
ou “pay as you live” no seguro de vida e 
de saúde.
20
Assim, o sector está a adaptar-se e a ava-
liar o impacto das novas tecnologias, com 
a identificação dos seus pontos fortes e 
procurando associar-se a empresas que 
possam ajudar a criar uma oferta digital 
de produtos e prémios personalizados 
para os clientes.
Estão os atuais clientes preparados em 
termos de literacia financeira para as 
novas realidades dos seguros?
O Conselho Nacional de Supervisores Fi-
nanceiros, no qual estão representadas as 
três Autoridades de Supervisão do setor 
financeiro, tem desenvolvido um esforço 
digno de registo no âmbito da literacia fi-
nanceira, através de iniciativas integradas 
no Plano Nacional de Formação Finan-
ceira que visam não somente o consumi-
dor em geral mas os alunos do nosso sis-
tema escolar, desde muito cedo, e os seus 
professores, isto para além de iniciativas 
dirigidas a públicos-alvo mais específicos, 
através da celebração de protocolos com 
Sindicatos, Ordens e com diversas entida-
des oficiais.
Muito já foi feito desde a implementação 
do Plano, há quase 10 anos, mas ainda 
há um caminho a percorrer, também no 
que se refere aos seguros. De acordo com 
os relatórios de avaliação disponíveis ao 
público, verificam-se ainda algumas di-
ficuldades na interpretação de conceitos 
menos elaborados como “franquia” ou 
“período de carência”, ou da relação en-
tre a “franquia” e o “prémio”, pelo que as 
novas realidades que refere, pelas suas es-
pecificidades, poderão trazer a necessida-
de de ações de sensibilização específicas.
Na distribuição que impacto terão as 
grandes plataformas digitais como a 
Google e a Amazon? 
De acordo com vários seguradores, as 
plataformas GAFA (Google, Apple, Fa-
cebook e Amazon) podem ser grandes 
concorrentes. Efetivamente, têm inegável 
acesso a dados e algoritmos ágeis que po-
deriam também ser utilizados na distri-
buição de seguros.
Ainda assim, o negócio segurador é com-
plexo e altamente regulamentado. Por 
exemplo, a Diretiva da Distribuição de 
Seguros (DDS) aplica-se a produtos co-
mercializados na União Europeia, pelo 
que, para levar a cabo a sua atividade, 
torna-se necessário que os “distribuido-
res” sejam registados num Estado mem-
bro da União Europeia, o que implica, 
devido à aplicação da Diretiva, que, in-
dependentemente dos aspetos operacio-
nais envolvidos, os requisitos de conduta 
sejam semelhantes aos observados pelos 
operadores ditos “mais tradicionais”.
Não obstante, e uma vez ultrapassadas 
(sanadas) as questões regulamentares, es-
tas plataformas têm vantagens no sentido 
que têm ao seu dispor o acesso privilegia-
do ao cliente que já sublinhei.
Estão obrigados à regulação europeia? 
Como serão regulados e controlados 
se fisicamente estão fora do espaço 
europeu?
Como referi, genericamente não existirão 
diferenças relevantes, pelo que o cumpri-
mento das regras europeias não será pos-
to em causa no caso das plataformas, des-
de que registadas num Estado membro da 
União Europeia.
Os produtos têm de ser concebidos e distri-
buídos por uma entidade regulamentada, 
registada num Estado membro, pelo que são 
desenhados localmente e distribuídos no ter-
ritório comunitário através, por exemplo, do 
regime de Livre Prestação de Serviços.
Se os produtos forem também distribuí-
dos fora da União Europeia, aplicar-se-á 
a legislação relativa à distribuição em vi-
gor no país de destino, aquele em que o 
risco se situa.
Para além disso, espera-se que a regula-
mentação da União Europeia vá no sen-
tido de que não releva o que se pretende 
que o negócio seja, pois, prevalecendo a 
substância sobre a forma, o que deve pre-
dominar é a regulamentação do setor em 
que a atividade é efetivamente exercida. 
Assim, as plataformas terão de se confor-
mar com as regras aplicáveis ao setor se-
gurador, na linha do que atrás mencionei, 
com todas as consequências daí decorren-
tes, como as relacionadas com o exercício 
da supervisão.
As plataformas GAFA 
(Google, Apple, 
Facebook e Amazon) 
podem ser grandes 
concorrentes. 
Têm inegável acesso 
a dados e algoritmos 
ágeis que poderiam 
também ser utilizados 
na distribuição 
de seguros
“ 
21
ENTREVISTA
Quais os grandes desafios do setor 
segurador para 2019? 
Desde a envolvente situação económica 
e política, à necessidade do setor de ino-
var e de investir em tecnologia, passando 
pela centralidade no cliente e emergência 
de novos riscos e à pressão regulamentar, 
são diversos os desafios (mas também as 
oportunidades) para o setor, não só em 
2019 mas também a mais longo prazo.
O primeiro desafio está relacionado com 
a envolvente económica e política, em 
especial a primeira. Como os ciclos eco-
nómicos induzem uma maior ou menor 
procura de seguros, a evolução a que te-
mos assistido tem provocado alguma ins-
tabilidade nos últimos anos no volume de 
prémios emitidos de seguro direto, alter-
nando fases de crescimento e de redução, 
ainda que se registe um crescimento nos 
últimos 2 anos.
Em consequência, a taxa de penetração 
dos seguros em Portugal é agora de 6%, 
valor ligeiramenteabaixo da média Euro-
peia, e mesmo inferior aos valores regista-
dos no nosso país há 4 ou 5 anos.
Como para tantos outros sectores, a ino-
vação é também crítica para o sector se-
gurador. Temos observado uma acelera-
ção da disrupção por empresas startups, 
em particular insurtech e fintech. Veri-
fica-se uma procura por modelos mais 
simplificados e ágeis, e centrados no 
cliente, desburocratizando os processos 
(também para os mediadores), mas con-
tinuando a fazer uma correta avaliação 
dos riscos no sentido de manter os seus 
níveis de serviço, a sua reputação e a sua 
sustentabilidade.
Aliada à inovação tem-se verificado, 
igualmente, o investimento em tecnolo-
gias que permitam acelerar os tempos 
de resposta a uma sociedade cada vez 
mais exigente, com uma atempada e 
adequada resposta à atual procura de 
seguros. Assistimos a uma crescente uti-
lização de data analytics, robotic pro-
cess automation e inteligência artificial.
Como também já sublinhei, as expecta-
tivas dos clientes face aos produtos de 
seguros que adquirem tem-se transforma-
do: os millennials, com os seus smartpho-
nes sempre à mão, querem poder fazer 
transações em qualquer altura, em qual-
quer lugar e de forma rápida e simples. A 
adaptação a essas necessidades da forma 
mais eficiente e rentável é outro desafio 
para o setor.
A centralidade no cliente decorre não so-
mente da existência de clientes cada vez 
mais informados e exigentes, que preten-
dem um produto que corresponda às suas 
efetivas necessidades, mas também das 
possibilidades que a tecnologia coloca 
ao nosso dispor, permitindo uma aproxi-
mação quase individualizada ao perfil de 
risco de cada cliente.
Ainda relacionado com a revolução tec-
nológica, vemos que os riscos seguros 
estão a assumir novas formas e, mui-
tas delas, também mais complexas. Por 
exemplo, se por um lado os automóveis 
estão cada vez mais seguros, os custos da 
reparação em caso de sinistros, dada a so-
fisticação dos veículos, são maiores.
Por outro lado, no mundo atual, com a 
crescente recolha e armazenamento de 
dados em grandes quantidades, que só 
são possíveis devido às novas tecnologias, 
o ciber risco continua a aumentar, fazen-
do com que o ciber security e, consequen-
temente, o ciber seguro, assumam papéis 
cada vez mais relevantes. 
Por fim, mas não menos desafiante e im-
pactante é a regulamentação. O ano de 
2019 será dedicado aos programas de 
implementação da IFRS 17 que, como re-
feri, têm impacto em diversas áreas dos 
seguradores. O sector terá ainda de estar 
atento às exigências da DDS e da trans-
posição da 4.ª Diretiva da prevenção ao 
Branqueamento de Capitais (que fixa já 
os requisitos essenciais, mesmo não tendo 
ainda sido emitido normativo específico), 
à implementação dos planos de remedia-
ção do Regulamento Geral de Proteção 
de Dados e às alterações que se anteci-
pam ao “Solvência II”, tanto ao nível dos 
cálculos como do recálculo da dedução 
transitória aplicável às provisões técni-
cas, não perdendo de vista os prazos cada 
vez mais exigentes de reporte.
22
Quais os grandes desafios do setor segurador para 2019 e dos mediadores em particular?
Desde logo a adaptação e con-
formação às regras da nova Lei da Distri-
buição de Seguros (LDS), e a consequente 
formação de todos os mediadores tendo em 
vista um, cada vez maior, profissionalismo 
da nossa classe. Por último aponto o “mun-
do digital” como caminho inexorável para 
o futuro.
Como se está o mercado a preparar-se 
para a digitalização e as novas formas de 
contratar seguros?
A mediação profissional de seguros pro-
fissional, que representamos, ao contrário 
do que muitos pensam é ávida de conhe-
cimento e de evolução. Pretendo dizer que 
para nós o digital não é encarado como 
uma ameaça, mas sim como um desafio. 
Naturalmente, como em tudo na vida, 
haverá alguma selecção natural nos me-
diadores mais antigos e conservadores, é 
humano, mas no final o digital será apenas 
mais uma etapa no caminho do futuro.
Estão os mediadores e o retalho prepara-
dos para o mercado “pay per use”?
“Pay per use” é ainda, em 2019, uma forma 
de ficção. Sempre que leio alguns artigos 
sobre esta forma de fruição de automóveis, 
e consequentes seguros associados, o verbo 
imaginar está sempre presente. Lembro que 
os seguros, e a mediação de seguros, não se 
confinam ao ramo automóvel, sobre a qual 
esta nova forma de contratação de seguros, 
por enquanto, parece circunscrever-se. Po-
rém, todos sabemos que daqui a 20 anos 
“A mediação de seguros 
é ávida de conhecimento e de evolução”
Para os mediadores o digital é um desafio, afirma David Pereira, presidente da direção da APROSE 
(Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros). Entretanto, a concentração de carteiras 
levou ao desaparecimento de 1250 mediadores em 2018.
Por Vítor Norinha
David Pereira, presidente 
da direção da APROSE
ENTREVISTA
seguros, apoiado muito em pequenas 
empresas familiares, é para manter ou 
assistir-se-á a concentrações?
Até no modelo actual da mediação de segu-
ros haverá, obrigatoriamente, uma grande 
evolução, pelo que o conceito de empresa 
familiar na mediação tenderá a desapare-
cer. Neste momento já se assiste a alguma 
concentração de interesses e de carteiras de 
seguros na mediação. Em finais de 2017 
os mediadores de seguros eram 20.258. 
Passado um ano, em finais de 2018, já só 
eram 18.999. Desapareceram mais de 1250 
mediadores em apenas um ano fruto da 
concentração de carteiras. Acreditamos que 
esta concentração, nos próximos anos, será 
exponencial, como forma evolutiva para 
atingir uma maior dimensão e grandeza, a 
fim de fazer face aos grandes desafios que 
o futuro nos reserva e alguns dos quais já 
aqui foram abordados.
As regras contabilísticas IFRS 17 terão 
impacto nas empresas de mediação ou 
são apenas aplicáveis aos seguradores?
Neste mundo global em que vivemos e 
em que todos somos permeáveis uns aos 
outros, no caso mediadores e segurado-
ras, não poderemos dizer, nem acreditar, 
que as novas regras contabilísticas do 
IFRS 17 a implementar a partir de 2021, 
só atingirão as seguradoras. De alguma 
maneira seremos tocados por essas novas 
regras que, à partida, visam uma maior 
clareza e transparência da actividade se-
guradora. Se assim for quem acabará por 
sair beneficiado serão todos os envolvi-
dos atividade seguradora e, por conse-
quência, também os nossos clientes.
nada no mundo será como hoje. Nem no 
mundo nem nas suas múltiplas actividades 
Nem nas seguradoras nem na mediação de 
seguros. Todos evoluirão, uns e outros.
Na distribuição que impacto terão as 
grandes plataformas digitais como a 
Google e a Amazon? 
Também esta pergunta, por enquanto, me 
remete para a ficção. Sabemos, como já 
dissemos, que a evolução não pára e que 
o futuro está ao virar da próxima esqui-
na. Mas isto é tão verdade para a Google 
ou Amazon como para as seguradoras ou 
para os mediadores. Queremos com isto 
dizer que ao longo da história do homem 
e das atividades humanas sempre o velho 
foi substituído pelo novo. Era assim há mil 
anos como o é nos dias de hoje. O segre-
do foi sempre o mesmo, a adaptação dos 
“players” às realidades dos novos tempos. 
A mediação de seguros não será a exceção.
O atual modelo de mediação nos 
23
24
A SPS Advogados tem uma larga expe-
riência profissional em Seguros, tendo, 
ao longo dos anos, desenvolvido áreas 
diferenciadas de actividade, em resposta 
às exigências do sector.
Embora o mercado segurador se tenha 
assente, durante largas décadas, sobre os 
ramos obrigatórios de acidentes de traba-
lho e automóvel, nos últimos anos tem-se 
verificado uma diversificação do mercado 
com a entrada crescente de novos produtos, 
designadamente de responsabilidade civil, 
vida, acidentes pessoais, saúde, financeiros, 
proteção de dados, cibernéticos, etc. 
O Departamento de Seguros da SPS 
Advogados tem acompanhado de per-
to a evolução do mercado, sendo estru-
turado em torno de uma forte prática, 
quer em matéria de contencioso civilquer em matéria de contencioso penal e 
contra-ordenacional, sustentado em to-
dos os ramos de seguro, vida e não vida. 
Esta experiência permite-nos uma defesa 
de antecipação e prevenção de conflitos, 
aplicada quer na preparação da apólice 
de seguro, quer no aconselhamento do 
cliente à adaptação de regras de supervi-
são, quer, em parceria com o cliente, na 
regularização de reclamações judiciais e 
extrajudiciaias.
Nesse sentido temos desenvolvido uma 
área de contencioso especializado naqui-
lo que sabemos serem os pontos críticos 
O direito ao serviço dos seguros
CArlA AzEvEDO GOmEs
Sócia
do bom sucesso das acções movidas por e 
contra as seguradoras:
n Um enfoque muito particular na prova 
a produzir perante a entidade que julga;
n Uma manutenção de laços de comuni-
cação muito intensos com os clientes os 
quais, na fase de gestão pré-contenciosa 
dos sinistros, obtêm muita informação 
essencial ao mérito da acção;
n Uma clara consciência do preconceito 
com que, habitualmente, as seguradoras 
são olhadas por quem julga, o que obriga 
a esforço probatório redobrado;
n Uma preocupação permanente com o 
retorno da informação aos clientes para 
efeitos de provisionamento dos sinistros.
A circunstância de a SPS Advogados co-
laborar há mais de 25 anos com várias 
Companhias de Seguros, criou, ao longo 
deste tempo, equipas especialmente vo-
cacionadas e especializadas nos vários 
segmentos de actividade contenciosa de 
seguros, nomeadamente em matéria de 
responsabilidade civil - quer no ramo au-
tomóvel, quer nos ramos gerais (condo-
mínio, multirriscos, obras e montagens, 
transportes e mercadorias, exploração, 
animais, actividades, etc) quer nos ra-
mos profissionais (advogados, médicos, 
Toc’s e Roc’s, notários, agentes de exe-
cução) – vida, saúde, relações com me-
diadores, imobiliário, acidentes pessoais, 
produtos financeiros / fundos de pensões 
e acidentes de trabalho. 
Do mesmo modo a SPS Advogados tem 
vasta e cimentada experiência em maté-
ria de resolução alternativa de litígios. 
Ao mesmo tempo, a SPS Advogados 
criou uma área própria de consultadoria, 
na elaboração e/ou validação dos muitos 
documentos contratuais que a legislação 
actual exige, com a plena consciência de 
que tal acompanhamento deverá ser se-
cundado pela concepção e implementa-
ção de práticas e procedimentos de con-
tratação, atentas as exigências legais que 
se colocam por reporte à informação a 
prestar ao consumidor.
Finalmente, salienta-se na SPS Advogados 
um desenvolvimento recentemente imple-
mentado na área da regulação e supervi-
são: face a um incremento dos níveis de 
PEDrO mAltA DA sIlvEIrA
Sócio fundador
Consultoria Juridica
25
supervisão, tem havido uma preocupação 
de, nesta área específica, e na busca de so-
luções jurídicas adequadas, desenvolver 
continuamente mecanismos de diálogo e 
interacção com as entidades de supervisão.
Na área da atividade Seguradora, em as-
suntos relacionados com riscos cobertos 
em território português, a SPS Advogados 
representa várias seguradoras sediadas 
em Portugal e no estrangeiro, nomeada-
mente em França, Luxemburgo, Alema-
nha, Inglaterra, Espanha, ou Itália, 
Sendo uma das áreas do direito de maior 
desenvolvimento na actividade da SPS 
Advogados, o seu Departamento de Se-
guros, sediado em Lisboa, conta com um 
total de 18 (dezoito) advogados [(2 (dois) 
sócios, 10 (dez) advogados associados e 6 
(seis) advogados estagiários)]. 
Esse Departamento garante, ainda, 
uma cobertura nacional, no continente 
e Ilhas, através de parcerias com escri-
tórios locais, (Aveiro, Porto, Vila Nova 
de Famalicão, Peso da Régua e Braga, 
Funchal, Açores e Madeira), permitindo 
uma assessoria com acompanhamento 
em todo o território português. 
A SPS Advogados tem presente que o fu-
turo do mercado dos Seguros e a trans-
formação deste sector está no desenvol-
vimento galopante das novas tecnologias: 
riscos cibernéticos, inteligência artificial, 
blockchain, internet of things, condução 
autónoma, robótica, sistemas analíticos, 
telemática, etc. 
Estas tecnologias e respetivos riscos, já 
começam a ser uma nova realidade, com 
efeitos directos neste sector, tais como a 
desmaterialização, automatização, faci-
litador de requisitos legais, sinalização 
imediata das áreas de maior risco, etc. 
Com as inovações tecnológicas e a IA, o 
mercado segurador vai adoptar os smart 
contacts e muitos serviços serão substituí-
dos ou alterados, mesmo na área contra-
tual. Daí que a SPS Advogados, conscien-
te do aumento do potencial infindável de 
novos serviços e de novas ferramentas, 
encontra-se na linha da frente e motivada 
em manter o seu nível de desenvolvimen-
to e crescimento, antecipando e solucio-
nando as necessidades do cliente.
26
GAstãO tAvEIrA
CEO da i2S
Se por um lado, os processos internos não 
mudaram muito na generalidade das segu-
radoras —em termos de distribuição, de 
contacto com o cliente, de processos inter-
nos—; por outro, os clientes são cada vez 
mais exigentes —a nível de informação, da 
qualidade de serviços, da rapidez de respos-
ta, da conveniência. As expectativas subi-
ram muito nas últimas décadas devido às 
mudanças nas outras indústrias e à chegada 
de novas gerações de consumidores, que 
mostram pouca tolerância à burocracia 
que ainda caracteriza muitas atividades 
nos seguros. Surgem também novas ofer-
tas de Insurtech no mercado, com modelos 
de negócio muito mais próximos do clien-
te e que podem ser disruptivos para as se-
guradoras instaladas. As seguradoras po-
dem e devem responder a estes desafios; a 
tecnologia cria muitas possibilidades para 
melhorar, acelerar, digitalizar e mesmo au-
tomatizar muitos processos. Constatamos 
que grande parte das seguradoras traba-
lham com sistemas legados, desenvolvidos 
à medida, ao longo de muitos anos, e com 
gerações tecnológicas distintas e difíceis de 
integrar. Isto resulta em custos muito ele-
vados. Grande parte do orçamento é con-
sumido apenas para manter os sistemas e 
acrescentar os mínimos, em termos de pe-
quenos ajustes aos produtos e em questões 
regulatórias. Do orçamento de Sistemas 
de Informação resta pouco para verdadei-
ra inovação com impacto no cliente, nas 
vendas e na rendibilidade.
Inovação como sinónimo de crescimento 
A i2S tem mais de 30 anos de atividade, 
sempre focada na área de seguros. Fizemos 
mais de 50 implementações, com 100% de 
taxa de sucesso. Temos uma experiência 
única em termos de migrações, que é um 
tema muito complexo em seguros. Ao lon-
go dos anos, realizámos mais de 30 migra-
ções de carteira. Desenvolvemos ferramen-
tas próprias para facilitar estes processos 
de migração. Muitas das maiores segura-
doras em Portugal utilizam a nossa solu-
ção core, número que continua a aumen-
tar todos os anos. A nossa solução está 
a operar em oito países. Investimos, por 
ano, 10 000 pessoas * dia em inovação. 
Contamos com cerca de 250 profissionais 
especializados em seguros. Investimos per-
manentemente em formação interna e ex-
terna, em termos de negócio de seguros e 
de tecnologia. Com a experiência de mais 
de 30 anos dedicada exclusivamente aos 
seguros, a i2S tem um know-how difícil 
de igualar a nível ibérico. Temos vindo, 
desde há alguns anos, a investir em novas 
ferramentas tecnológicas que nos colocam 
numa posição ímpar. O que propomos às 
seguradoras é único: modernizar e digi-
talizar os seus sistemas, assegurando que 
podem gerir os seus produtos e processos, 
sem necessidade de investimento constante 
na mudança de aplicativos e integrações, 
de cada vez que lançam um novo produto 
ou que alteram um processo.
Know-how e tecnologia superiores
A peça central (o cérebro) das soluções i2S 
é o nosso módulo i2S Configurator, que é 
onde se definem os produtos, as regras (co-
berturas, tarifas, regras de aceitação, etc.). 
Este módulo tem um Motor de Regras - 
que foi sendo desenvolvido ao longo dos 
anos e incorpora o nosso know-how – o 
qual comanda todos os sistemas. Quando 
se lança um novo produto, ou se alteram

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