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Programa de Leniência Antitruste do CADE Benefícios do Programa de Leniência Antitruste3 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2019 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação Continuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Educação Continuada Paulo Marques Coordenadora-Geral de Educação a Distância Natália Teles da Mota Teixeira Conteudista/s Amanda Athayde (conteudista, 2019) Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT / Laboratório Latitude e Enap. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação ................................................................................... 5 Benefícios administrativos do Programa de Leniência Antitruste ...... 5 Benefícios criminais do Programa de Leniência Antitruste .............. 11 Repercussões cíveis Programa de Leniência Antitruste ................... 11 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação Você está prestes a iniciar o terceiro módulo do curso! Serão apresentados os benefícios do Programa de Leniência Antitruste, os Acordos de Leniência Total e Parcial, a participação do Ministério Público nos acordos, a abrangência criminal e ações privadas de ressarcimento no Brasil. Para atingir os objetivos do módulo, você passará por: • 10 páginas de conteúdo em formato de hipertexto, que podem conter imagens, infográficos, tabelas e links. • 1 vídeo de 10 minuto e 47 segundos, que explica os requisitos legais para participar do Programa de Leniência Antitruste do Cade de acordo com a Lei de Defesa da Concorrência. • 5 questões avaliativas, valendo 4 pontos cada. Sugerimos que você veja o conteúdo dos módulos e responda às questões na ordem em que estão dispostas. Você é livre para cursar os módulos na ordem que achar melhor - dentro do período de duração do curso, mas as questões devem sempre ser respondidas para que você possa avançar dentro de cada módulo. Tenha certeza de que fez tudo, módulos e questões, para não ter problemas com a obtenção do certificado ao final do curso! Lembrando: você navegará por todo o conteúdo e atividades em sequência, podendo avançar e/ ou retornar sempre que achar necessário. Bons estudos! Benefícios administrativos do Programa de Leniência Antitruste Leniência Antitruste: Benefícios Administrativos Diante do fato de que o cartel é tanto um ilícito administrativo (art. 36, §3º, da Lei nº 12.529/2011) quanto um ilícito criminal (art. 4º, II, da Lei nº 8.137/1990), o Programa de Leniência Antitruste brasileiro oferece benefícios, tanto administrativos quanto criminais, aos infratores. Veja quais são os benefícios administrativos. M ód ul o 3 Benefícios do Programa de Leniência Antitruste 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • 1. Benefícios administrativos do Acordo de Leniência Antitruste para os infratores Cartéis são reprimidos administrativamente pelo Cade, nos termos do artigo 36 da Lei nº 12.529/2011. Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados. § 3o As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica: I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qualquer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente; b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou limitada de serviços; c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitação pública; II - promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes; III - limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado; IV - criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços; V - impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias-primas, equipamentos ou tecnologia, bem como aos canais de distribuição; VI - exigir ou conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios de comunicação de massa; VII - utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de preços de terceiros; VIII - regular mercados de bens ou serviços, estabelecendo acordos para limitar ou controlar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, a produção de bens ou prestação de serviços, ou para dificultar investimentos destinados à produção de bens ou serviços ou à sua distribuição; IX - impor, no comércio de bens ou serviços, a distribuidores, varejistas e representantes 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública preços de revenda, descontos, condições de pagamento, quantidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras condições de comercialização relativos a negócios destes com terceiros; X - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços; XI - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, dentro das condições de pagamento normais aos usos e costumes comerciais; XII - dificultar ou romper a continuidade ou desenvolvimento de relações comerciais de prazo indeterminado em razão de recusa da outra parte em submeter-se a cláusulas e condições comerciais injustificáveis ou anticoncorrenciais; XIII - destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-primas, produtos intermediários ou acabados, assim como destruir, inutilizar ou dificultar a operação de equipamentos destinados a produzi-los, distribuí-los ou transportá-los; XIV - açambarcar ou impedir a exploração de direitos de propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia; XV - vender mercadoria ou prestar serviços injustificadamente abaixo do preço de custo; XVI - reter bens de produção ou de consumo, exceto para garantir a cobertura dos custos de produção; XVII - cessar parcial ou totalmente as atividades da empresa sem justa causa comprovada; XVIII - subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização de um serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à utilização de outro ou à aquisição de um bem; e XIX - exercer ou explorar abusivamente direitos de propriedade industrial, intelectual, tecnologia ou marca. As penas aplicáveis aos infratores da Lei nº 12.529/2011 estão previstas nos artigos 37 e 38, de modo que são, portanto, aplicáveis aos participantes de cartel ou de influência de conduta comercial uniforme. Mas não só com multas se penaliza um infrator da Lei de Defesa da Concorrência no Brasil, existem outras sanções que podem ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, na esfera administrativa, conforme imagem abaixo. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública As penas aplicáveis no Brasil podem ser bastante duras, o que reforça um dos importantes pilares para a estruturação de um Programa de Leniência efetivo que é, justamente, o receio de severas punições. Assim, a existência de benefícios administrativos claros com relação a essas penas constitui relevante incentivo para que os colaboradores procurem a autoridade antitruste para denunciar a prática anticompetitiva. Nos termos do Art. 86 da Lei nº 12.529/2011, a celebração do Acordo de Leniência candidata as empresas e/ou indivíduos à obtenção dos benefícios da extinção da ação punitiva ouda redução da penalidade aplicável pelo Cade. Na esfera administrativa, os benefícios serão efetivamente concedidos com a declaração de cumprimento do Acordo de Leniência, o que é realizado apenas pelo Tribunal do Cade, por ocasião do julgamento do Processo Administrativo. Não há qualquer exigência, assim, de homologação do acordo em juízo. Existe, porém, relevância na distinção entre Acordo de Leniência Antitruste Total e Acordo de Leniência Antitruste Parcial. • 2. Acordo De Leniência Antitruste Total O Acordo de Leniência Total consiste na hipótese de acordo em que há a extinção da ação punitiva da administração pública, nos termos do artigo 86 da Lei nº 12.529/2011 junto com o artigo 208 do RICade. Nesse caso, como a SG/Cade não tem “conhecimento prévio” da infração, a empresa e/ou pessoa física automaticamente receberá, com a declaração de cumprimento do Acordo de Leniência 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública pelo Plenário do Tribunal do Cade, o benefício da extinção da ação punitiva da administração pública em relação à infração noticiada. Saiba mais O Guia do Programa de Leniência do Cade expõe o seguinte a respeito da noção de “conhecimento prévio”: “Apesar de não haver, na legislação brasileira, o conceito expresso de ‘conhecimento prévio’ da conduta pela Superintendência-Geral do Cade, entende-se que o conhecimento prévio apenas ocorre na hipótese de haver, à época da apresentação da proposta de Acordo de Leniência, procedimento administrativo aberto (arts. 66 e 69 da Lei nº 12.529/2011) com indícios razoáveis de prática anticompetitivas para apurar a infração objeto da proposta de Acordo de Leniência. Representações feitas por meio do ‘Clique Denúncia’, notícias na mídia ou informação sobre a existência de investigação em outro órgão da Administração Pública ainda não apuradas pelo Cade, dentre outras situações, em regra, não configuraram ‘conhecimento prévio’ por parte da Superintendência-Geral do Cade, exceto se trouxerem elementos probatórios suficientes para ensejar a abertura de procedimento administrativo”. O Guia: programa de leniência antitruste do Cade está disponível em: http:// www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/guias_do_ Cade/guia_programa-de-leniencia-do-cade-final.pdf. • 3. Acordo De Leniência Antitruste Parcial O Acordo de Leniência Parcial consiste na hipótese de acordo em que há a redução de um a dois terços das penas aplicáveis, nos termos do artigo 86 da Lei nº 12.529/2011 junto com o artigo 208, inciso II, do RICade. É aplicável em casos nos quais a SG/Cade já tinha conhecimento prévio da conduta, mas não dispunha de “provas suficientes para assegurar a condenação dos proponentes”. Assim, a empresa e/ou pessoa física poderá celebrar um Acordo de Leniência com benefícios parciais e receberá, com a declaração de cumprimento do Acordo de Leniência pelo Plenário do Tribunal do Cade, o benefício da redução de um a dois terços da penalidade aplicável, a depender da efetividade da colaboração prestada e da boa-fé do infrator no cumprimento do Acordo de Leniência. 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Pergunta Diante disso, qual será o parâmetro para o Tribunal definir se a redução será de um ou dois terços da penalidade aplicável? Resposta Não há, no RICade ou no Guia do Programa de Leniência do Cade, previsão nesse sentido. O Tribunal do Cade deve estar atento para manter a consistência interna do Processo Administrativo e também a consistência externa do Programa de Leniência. A fim de manter a consistência interna, o Tribunal não deve conceder menores benefícios ao signatário do Acordo de Leniência Antitruste do que já foi concedido a um compromissário em sede de TCC, por exemplo. Se o caso foi oriundo, por exemplo, de um Acordo de Leniência Parcial e, após, foram celebrados TCCs, sendo que o primeiro obteve um desconto de 50%, o Tribunal não deve conceder benefício ao signatário que seja menor que este, sob pena de desincentivar futuras colaborações ao Programa de Leniência. Nesse sentido, a fim de manter a consistência externa do Programa de Leniência, se as informações e documentos apresentados tiverem sido interessantes para a investigação, e se essa tiver resultado em evidências robustas para comprovar e condenar os demais investigados, o benefício deve ser o máximo, de 2/3 da penalidade aplicável. Esse foi o entendimento, por exemplo, no julgamento do Processo Administrativo 08012.005255/2010-11 (Cartel Internacional de Placas de Memória (DRAM)). A leitura do Processo Administrativo do Cartel Internacional de Placas de Memória (DRAM) é importante para compreender o conteúdo, link do PDF: https://addie.escolavirtual.gov.br/ pluginfile.php/8563/mod_lesson/page_contents/5171/M%C3%B3dulo%203%20-%20ODA%20 9%20-%20Voto%20DRAM%20%28itens%202%2C%204.8%20e%205.5.8%29.pdf Saiba mais As regulamentações do Banco Central (BC) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) são interessantes e promovem a previsibilidade aos administrados quanto ao que se considera ser “conhecimento prévio”. Ademais, o BC e a CVM objetivam os critérios para a avaliação dessa margem de desconto no caso de uma Leniência Parcial. A declaração do BC, nos termos do art. 32 da Lei nº 13.506/2017, incluirá a avaliação do atendimento das condições estipuladas no acordo, da efetividade da cooperação prestada, e da boa-fé do infrator quanto ao cumprimento do acordo. Conforme os incisos do art. 91, da Circular BC nº 3.857/2017, o BC observará, nesse espetro variável de 1/3 (um terço) a 3/5 (três quintos), os 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública seguintes elementos: “I – a importância das informações, documentos e provas apresentadas pelo signatário; II - o momento em que apresentada a proposta; e III - a boa-fé do signatário” (BRASIL. Banco Central do Brasil. Circular nº 3.857, de 14 de novembro de 2017). Dispõe sobre o rito do processo administrativo sancionador, a aplicação de penalidades, o termo de compromisso, as medidas acautelatórias, a multa cominatória e o acordo administrativo em processo de supervisão previstos na Lei nº 13.506, de 13 de novembro de 2017. Já a Proposta de Instrução da CVM prevê ainda que a fixação do desconto, dentro do intervalo de 1/3 a 2/3 da pena, deverá ser calculada tendo como base: a importância das informações, documentos e provas apresentadas pelo signatário; momento em que foi apresentada a proposta; e a colaboração individual de cada um dos signatários (art. 108, §2º, da Proposta de Instrução da CVM). Disponível em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/audiencias_ publicas/ap_sdm/anexos/2018/sdm02__18edital.pdf Benefícios criminais do Programa de Leniência Antitruste Revista interativa, disponível na plataforma do curso. Repercussões cíveis Programa de Leniência Antitruste O artigo 47 da Lei nº 12.529.2011 prevê que, em defesa de seus interesses individuais ou individuais e homogêneos, os prejudicados pela conduta anticompetitiva poderão ingressar em juízo para obter a cessação de práticas que constituam infração da ordem econômica, bem como o recebimento de indenização por perdas e danos sofridos, independentemente do Inquérito ou Processo Administrativo em curso, que não será suspenso em virtude do ajuizamento de ação de ressarcimento. A Lei nº 12.529/2011 não impõe ao signatário do Acordo de Leniência Antitruste a obrigação de ressarcir eventuais consumidores lesados como uma condição sine qua non para a celebração do acordo. Todavia, a lei também não exime o beneficiário da leniência de responder por danos concorrenciais em eventual ação civil pública e/ou ação privada de ressarcimento de danos movida em face do beneficiário da leniência e demais coautores. Logo, não há repercussões cíveis imediatas da celebração do acordo com o Cade, diferentemente do que acontece, por exemplo, com os benefícios administrativos e criminais. Diante da inexistência de repercussões cíveisimediatas e para evitar desincentivos para o Programa de Leniência Antitruste, a Superintendência-Geral (SG/Cade) propôs algumas alterações legislativas para mitigar a exposição cível do signatário do acordo. A minuta de Exposição de 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Motivos da primeira proposta de Resolução sobre o acesso a documentos e informações de Acordos de Leniência e TCC (Consulta Pública nº 05/2016) limita a responsabilidade civil do signatário do acordo, vez que impede acesso imediato de terceiros a documentos aportados voluntariamente pelo colaborador. A proposta de alteração legislativa diz respeito à não extensão da responsabilidade solidária ao Signatário da Leniência, sob pena do fomento das ações de reparação de danos ser um desincentivo à propositura de acordos. A extensão de responsabilidade solidária, na medida em que o impacto financeiro decorrente do ajuizamento das ações pela totalidade de danos causados pelo conluio é imensurável, pode resultar na redução da atratividade do Programa de Leniência. Nesse mesmo sentido, também se sugeriu que a repetição do indébito prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC) fosse dispensada em relação aos Signatários da Leniência. Por sua vez, a segunda alteração legislativa necessária diz respeito ao termo inicial de contagem da prescrição. Nesse sentido, seria necessária uma alteração legislativa para estabelecer que o termo inicial da prescrição seria a ciência inequívoca do ilícito concorrencial, que se daria no momento do julgamento da infração pelo Tribunal do Cade. Em 2016, foi apresentado ao Senado Federal o Projeto de Lei do Senado – PLS, nº 283/2016, propondo alterações à Lei nº 12.529/2011, “para aprimorar o caráter dissuasório da multa imposta pelo [Cade] em condenações de empresas por infrações à ordem econômica, estimular o ajuizamento de ações privadas para cessação das infrações, bem como ressarcimento dos danos dela decorrentes” O PLS propõe alterações ao artigo 37 e ao artigo 47, da Lei 12.529/2011. A proposição foi aprovada no Senado e ganhou o número 11.275/2018 em sua tramitação na Câmara dos Deputados, onde foi aprovada na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviço. Atualmente pende apreciação da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Essa também é uma preocupação trazida no Projeto de Lei nº 10.830/2018, de autoria do Deputado Federal Jaime Martins, que aborda a questão prescricional e outras relacionadas às ações de ressarcimento civil por danos concorrenciais. Importante Para compreender o assunto é importante que você faça uma leitura do item 4. Propostas regulamentares, legislativas e de advocacy na articulação entre as persecuções pública e privada a condutas anticompetitivas no Brasil da Nota Técnica nº 24/2016/CHEFIA GAB-SG/SG/CADE. Acesse a biblioteca do curso para baixar o documento.
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