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USO DE MÉTODOS ATIVOS COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE FÍSICA A ALUNOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Janeide Lima Alecrim Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Programa Doutoral em Ensino e Divulgação das Ciências Especialidade Ensino de Física 2020 USO DE MÉTODOS ATIVOS COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE FÍSICA A ALUNOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Janeide Lima Alecrim Doutoramento em Ensino e Divulgação das Ciências Especialidade Ensino de Física Faculdade de Ciências da Universidade do Porto 2020 Orientador Prof. Dr. Paulo Simeão Carvalho Professor Auxiliar, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Coorientadora Profª. Dr.ª Angela Maria dos Santos Professora Efetiva, Instituto Federal do Paraná - Campus Curitiba Dedicado à Caio Henrique Lima Alecrim e Lucas Eduardo Lima Alecrim (In Memoriam), é uma honra ser mãe de vocês. “Daqui até o infinito, onde vivem as estrelas!” Obrigada por transformarem sua mãe numa fortaleza. “O conhecimento é significativo por definição. É o produto significativo de um processo psicológico cognitivo (”saber”) que envolve a interação entre ideias “logicamente” (culturalmente) significativas, ideias anteriores (“ancoradas”) relevantes da estrutura cognitiva particular do aprendiz (ou estrutura dos conhecimentos deste) e o “mecanismo” mental do mesmo para aprender de forma significativa ou para adquirir e reter conhecimentos.” David P. Ausubel In Aquisição e Retenção do Conhecimento: Uma perspectiva cognitiva FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | AGRADECIMENTOS A aqueles que direta ou indiretamente confiaram, apoiaram, participaram, torceram e contribuíram para o sucesso desta caminha meus mais profundos agradecimentos. Nomear todos seria difícil, mas alguns não posso deixar de citar. Professor Dr. Paulo Simeão de Oliveira Ferreira de Carvalho, meu orientador, agradeço por todo o conhecimento, generosidade, paciência, atenção em assuntos acadêmicos e até pessoais. Obrigada pelos chás das 16h, pelas conversas, pelo apoio sempre que precisei e pela atenção e carinho dados ao seu grande fã Caio Henrique (ele faz questão de voltar e ir a Feira Medieval). Professora Dr.ª Angela Maria dos Santos, minha coorientadora, agradeço por todo o conhecimento, generosidade, paciência, atenção em assuntos acadêmicos e na bendita gramática da Língua Portuguesa, essa mistura cá e lá causa caos. Obrigada pelas conversas, risadas e pelo apoio mesmo nos meus dias de surto. Ambos mais que orientador e coorientadora, são amigos aos quais tenho imenso carinho e gratidão, que sem dúvida alguma, são para esta, exemplos a seguir tanto quanto pessoas como profissionais de competência ímpar, bons e justos. Ao meu filho Caio Henrique Lima Alecrim, minha benção tão amada, obrigada por aturar os surtos e estresses de sua mãe, as horas de espera, os dias cansativos, os abraços quando precisei, as viagens inusitadas por lugares que só essa tua mãe inventa, o apoio gigantesco e as horas de qualidade. Tudo isso não tem preço. A Fernando Tavares, meu imenso obrigada pelos “Bom dia Flor!”, pelos “ralhos” por esquecer de me alimentar, pelas conversas madrugadas adentro quando de minhas insônias, pelo apoio todos esses anos e pela amizade nada simples que temos. A Odília Santos do Nascimento (In Memoriam), minha grande avó por todo apoio desde o início de tudo. FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | A Thelma Cristina Sant’Anna (In Memoriam), obrigada pelo apoio, pelo incentivo, pelas conversas e pelos abraços. Sinto sua falta Dona. A minha mãe Maria Nascimento dos Santos e irmãs Joice dos Santos Rodrigues Pinto, Janice Cíntia do Nascimento Rodrigues, Adriana Nascimento Lima e irmão Carlos Nascimento dos Santos pelo apoio, risadas e conversas nesses longos anos afastada e de imensa saudades da família nos momentos especiais, tão difíceis de vivenciar quando se está distante. Aos meus sobrinhos Adrielly Garcez Nascimento Souza, Luan Felipe Rodrigues Campos e Carlos Alexandre O. dos Santos, obrigada queridos vos desejo todo o sucesso do mundo. A Paulo Santos do Nascimento, meu tio e padrinho, e a Fátima da Silva agradeço o imenso apoio. A Marli Duffles Donato Moreira, um anjo que chamo de amiga. Obrigada pela recepção, os abraços e o apoio. Aos amigos (de cá e de lá) e familiares, que acompanharam todos os passos e se mostraram sempre disponíveis para colaborar. À direção e aos profissionais da educação pela participação, colaboração e apoio a esta pesquisa. À Universidade Federal do Amazonas, pelo apoio institucional. A todos, a minha gratidão! FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | RESUMO A escola atual consiste em uma diversidade de alunos nativos digitais que possuem facilidade no acesso a informações. Tal permite a esses alunos facilidades na manipulação e exploração de excelentes materiais de ensino e estabelecer ligações sociais através das redes sociais que lhes permite o contato com pessoas especializadas de níveis acadêmicos e conhecimentos diversos. A tecnologia interage com esses indivíduos e eles evoluem em concomitância, fato que tarda em ocorrer na generalidade das escolas. Estas mantêm-se, muitas vezes, imutáveis e tradicionalistas na sua forma de ensinar. Essa nova e atual realidade societal não combina com uma sala de aula tradicional e abrange um percentual relevante da população estudantil cujas culturas, experiências, conhecimentos e dificuldades são tão diversas. Cada vez mais é possível perceber as fragilidades da educação tradicional na qual o professor é o centro das atenções e detentor de todo o conhecimento. Essas fragilidades vêm sendo apontadas na literatura disponível e mudar a forma de ensinar, depende do interesse e flexibilidade do profissional de educação em lidar com as mudanças, necessárias para implementar abordagens ativas e centradas nos alunos. Para estes, a escola deve ser um lugar de autonomia, onde o conhecimento deve fluir com flexibilidade de construção, com a envolvência dos alunos na construção do seu saber e não somente receptores passivos de informações transmitidas pelo professor, as quais o estudante tende a memorizar e esquecer posteriormente. O objetivo desta pesquisa é avaliar se as metodologias “não tradicionais” e respectivas ferramentas educativas, aplicadas num grupo de estudantes referenciado com dificuldades de aprendizagem na disciplina de Físico-Química, favorecem melhores resultados para o desenvolvimento de competências na aprendizagem de Física, nomeadamente no domínio conceitual, processual e na resolução de problemas, quando utilizadas como apoio ao ensino curricular em aula normal. Esta investigação orientou-se na escassez de trabalhos voltados para alunos adolescentes referenciados, com dificuldades em “aprender” os conceitos apresentados em Física. Para estes alunos, o ensino baseado no tradicionalismo didático a que foram habituados não parece ser o mais adequado para recuperar o sucesso na disciplina de Físico- FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Química. Assim, entendeu-se dar a esses alunos uma orientação didática diferente, que incluiu não apenas uma abordagem metodológica diferente como também recursos educativos digitais e atividades práticas. Por isso, ao submetê-los de forma complementar, em aulas de apoio, a um ensino “não tradicional” baseado em abordagens potencialmente ativas e apoiadas em teorias de aprendizagem consolidadas, pretendeu-se observarse a motivação e o gosto em aprender podem ser estimulados, em alunos com dificuldades e insucesso na aprendizagem da Física. Também pretendeu-se averiguar se, com um envolvimento ativo em atividades práticas e exploração de recursos digitais, a evolução destes estudantes para um nível adequado de aprendizagem, é satisfatória. De forma geral a pesquisa pautou-se em aspectos qualitativos e quantitativos para atingir os objetivos deste estudo e responder às questões que o orientaram. A recolha dos dados qualitativos baseou-se em inquérito por questionário, entrevistas semiestruturadas, descrição das aulas ministradas no projeto e observações do ambiente escolar. Para a recolha dos dados quantitativos fez-se a aplicação de um teste conceitual. Os resultados qualitativos, mediante análise dos dados obtidos, indicam a mudança de opinião dos alunos quanto à aprendizagem dos conteúdos de Física, identificam as dificuldades a serem enfrentadas na aplicação em aulas de apoio de abordagens não tradicionais, assinalam as opiniões das docentes e de alguns discentes envolvidos no projeto e alinhavam, mediante a descrição das aulas de apoio, o comportamento dos alunos e o sucesso do uso das abordagens não tradicionais, com a utilização de diversas ferramentas práticas no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Esta riqueza de informação permite-nos, assim, responder como transpor esta complexidade formativa para um modelo de ensino e aprendizagem com sucesso. Os resultados quantitativos da investigação, provenientes dos dados recolhidos do Teste Diagnóstico de Conhecimento, apontam para um sucesso significativo na aprendizagem dos alunos referenciados com dificuldades de aprendizagem em Física e permitem observar o enquadramento das médias dos alunos do Grupo de Intervenção em relação às médias dos demais alunos matriculados nas turmas de 8º ano, sugerindo uma efetiva recuperação de vários destes alunos em termos de conhecimentos adquiridos. Tal resultado aponta ser possível incluir os alunos com dificuldade de aprendizagens na turma regular quando FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | trabalhados com recursos que potencializem sua aprendizagem, como os utilizados nesta investigação. PALAVRAS-CHAVE Dificuldades de Aprendizagens; Ensino de Física; Estudo do Som; Atividades Práticas; Aprendizagem Ativa. FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | ABSTRACT Today's school consists of a diversity of digital native students who have easy access to information and good learning materials and textbooks, and when using social media, they can have contact with experts of different fields. The technology interacts with these individuals and they evolve in tandem, a fact that is slow to occur in most schools. These remain often immutable and traditionalist in their way of teaching. This new and current reality does not match with the actual traditional classroom, but covers a relevant percentage of the student population whose culture, experiences, knowledge and difficulties are so diverse. It is increasingly possible to perceive the weaknesses of traditional education in which the teacher is the center of attention and the holder of all knowledge. These weaknesses have been pointed out in the available literature and changing the way of teaching depends on the interest and flexibility of the teachers in dealing with the changes necessary to implement active and student-centered didactics. For these new students, the school must be a place of autonomy, where knowledge must flow with construction flexibility and with the students' involvement in the construction of their knowledge and, not only, passive receivers of information transmitted by the teacher and which the student tends to memorize and forget later. The objective of this research is to evaluate if the “non-traditional” methodologies and respective educational tools, applied to a group of students referred with learning difficulties in the discipline of Physical-Chemistry, they favor better results for the learning of physics skills development, particularly in the conceptual, procedural and problem solving domains, when used as support for curriculum education. This investigation was guided by the scarcity of works aimed at adolescent students with difficulties in “learning” the Physics concepts. For these students, teaching based on didactic traditionalism to which they were accustomed does not seem to be the most appropriate to recover success in the discipline of Physical Chemistry. Thus, it was understood to give these students a different didactic orientation, which included not only a different methodological approach, but also digital educational resources and practical activities. Therefore, by subjecting them in a complementary way, in support classes, to a "non- traditional" teaching based on potentially active approaches and supported by theories consolidated learning theories, it was intended to observe whether motivation and joy in learning can be stimulated, in students with difficulties and failure in learning physics. It was also intended to investigate if an active involvement in practical activities and exploitation of digital resources, can promote the evolution of these students, for an adequate level of learning, is satisfactory. FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | In general, the research was based on qualitative and quantitative aspects to achieve the objectives of this study and answer the questions that guided it. The collection of qualitative data was based on questionnaire surveys, semi-structured interviews, description of the classes taught in the project and observations of the school environment. For the collection of quantitative data, a conceptual test was applied. The qualitative results, through analysis of the data obtained indicate the change of opinion of the students regarding the learning of physics contents, identify the difficulties to be faced for the application in support classes of non-traditional approaches, indicates the opinions of teachers and some students involved in the project and aligned, through the description of the support classes, the behavior of students and the success of the use of non-traditional approaches , with the use of various practical tools in the teaching and learning process of students. This wealth of information thus allows us, thus, to know how to transpose this formative complexity into a successful teaching and learning model. The qualitative results, through analysis of the data obtained indicate the change of opinion of the students regarding the learning of the physics contents, identify the difficulties to be faced for the application in support classes of non-traditional approaches, indicate the opinions of teachers and some students involved in the project and aligned, through the description of the support classes, the behavior of students and the success of the use of non-traditional approaches , with the use of various practical tools in the teaching and learning process of students. This wealth of information thus allows us , thus, to know how to transpose this formative complexity into a successful teaching and learning model. The quantitative results of the research, derived from the data collected in the Diagnostic of Knowledge Test, point to a significant success in the learningof students referred with learning difficulties in Physics learning and allow observing the framing of the averages of the students of the Intervention Group in relation to the averages of the other students enrolled in the 8th grade classes, suggesting an effective recovery of several of these students in terms of acquired knowledge. This result indicates that it is possible to include students with learning difficulties in the regular class when working with resources that enhance their learning as those used in this research. KEYWORDS Learning Difficulties; Physics Teaching; Study of Sound; Practical Activities; Active Learning. FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | ÍNDICE AGRADECIMENTOS..............................................................................................................10 RESUMO..................................................................................................................................12 ABSTRACT..............................................................................................................................16 ÍNDICE DE FIGURAS.............................................................................................................21 ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................................25 ÍNDICE DE GRÁFICOS..........................................................................................................26 CAPÍTULO 1: CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO......29 1.1 Contextualização da investigação.......................................................................................29 1.2 Problema de investigação....................................................................................................34 1.3 Objetivos de investigação...................................................................................................35 1.3.1 Geral.............................................................................................................................35 1.3.2 Específicos....................................................................................................................35 1.4 Procedimento Metodológico...............................................................................................36 1.5 Organização e estrutura da tese...........................................................................................37 CAPÍTULO 2: REVISÃO DE LITERATURA........................................................................41 2.1 Teorias da Aprendizagem...................................................................................................41 2.1.1 Jean Piaget....................................................................................................................43 2.1.2 Lev Vygotsky................................................................................................................46 2.1.3 David Ausubel..............................................................................................................49 2.2 Métodos de Ensino e Aprendizagem centrados no aluno...................................................54 2.2.1 Peer Instruction (PI) ou Instrução pelos Pares (IpC)....................................................57 2.2.2 Inquiry-Based Science Education (IBSE)....................................................................60 2.3 Dificuldades nas Aprendizagens.........................................................................................65 2.3.1. Definição de Dificuldades de Aprendizagem..............................................................66 2.3.2 Dificuldades de Aprendizagem e o Ensino de Física...................................................68 CAPÍTULO 3: PLANO DE INVESTIGAÇÃO E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS.....................................................................................................................................72 3.1 População de Estudo...........................................................................................................72 3.2 Desenho da Intervenção......................................................................................................73 3.3 Instrumentos de Recolha de Dados.....................................................................................74 3.3.1 Técnicas e Recolha de Dados.......................................................................................74 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | 3.3.1.1 Observação...............................................................................................................75 3.3.1.2 Entrevistas................................................................................................................76 3.3.2 Ferramentas de Avaliação.............................................................................................77 3.3.2.1 Teste de Interpretação de Texto e Matemática.........................................................77 3.3.2.2 Inquérito Motivacional.............................................................................................78 3.3.2.3 Teste Diagnóstico de Conhecimento........................................................................79 3. 4 Planificação das aulas de apoio e Recursos educativos digitais........................................82 3.4.1 Planificação das aulas................................................................................................83 3.4.2 Recursos Educativos Desenvolvidos e Utilizados.......................................................85 3.4.2.1 Simulações................................................................................................................85 3.4.2.2 Vídeos.......................................................................................................................88 3.4.2.3 Atividade Prática de Laboratório (APL)..................................................................90 3.4.2.4 Apps..........................................................................................................................91 3.4.2.5 Gifs...........................................................................................................................92 CAPÍTULO 4: RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................99 4.1 Teste de Interpretação de Texto e Matemática...................................................................99 4.2 Inquérito Motivacional......................................................................................................101 4.3 Aulas de Apoio Ministradas do Projeto............................................................................116 4.4 Teste Diagnóstico De Conhecimento................................................................................121 4.5 Entrevistas.........................................................................................................................126 4.5.1 Docente.......................................................................................................................126 4.5.2 Discentes.....................................................................................................................130 CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES..............................................................................................135 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................146 APÊNDICES...........................................................................................................................168 APÊNDICE A: Solicitação de autorização de investigação ao Encarregado de Educação (EE) .................................................................................................................................................169APÊNDICE B: Ferramentas de Avaliação: Testes e Inquérito...............................................170 APÊNDICE B01. Teste de Interpretação de Texto e Matemática.......................................170 APÊNDICE B02. Inquérito Motivacional...........................................................................171 APÊNDICE B03. Teste Diagnóstico de Conhecimentos....................................................173 APÊNDICE B03.1. Teste Diagnóstico: Versão 01 – 17 Questões......................................173 APÊNDICE B03.2. Teste Diagnóstico: Versão final – 25 Questões..................................178 APÊNDICE C: Ferramentas de Avaliação: Entrevista Docente e Entrevista Discente..........184 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | APÊNDICE C.1. Entrevista Docente..................................................................................184 APÊNDICE C.2. Entrevista Discente..................................................................................186 APÊNDICE D: Recurso Educativo: Cartas............................................................................189 APÊNDICE E: Planos de Aulas do projeto............................................................................191 Planificação – 01: Produção e propagação do som.............................................................191 Planificação – 02: Meios de propagação do som.................................................................199 Planificação – 03: Ondas.....................................................................................................206 Planificação – 04: Características das ondas.......................................................................212 Planificação – 05: Timbre, Altura e Intensidade do Som....................................................221 Planificação – 06: Audição Humana...................................................................................227 Planificação – 07: Reflexão, Absorção e Refração do som.................................................231 APÊNDICE F: Descrição das aulas de apoio ministradas no projeto.....................................237 Descrição da Aula – 01: Produção e propagação do som. Data: 13/02/2019......................237 Descrição da Aula – 02: Continuação Produção e propagação do som. Data: 20/02/2019.245 Descrição da Aula – 03: Meios de propagação do som. Data: 27/02/2019.........................252 Descrição da Aula – 04: Características da Onda. Data: 13/03/2019..................................269 Descrição da Aula – 05: Características da Onda – Continuação. Data: 20/03/2019..........276 Descrição da Aula – 06: Características de uma Onda. Data: 27/03/2019..........................277 Descrição da Aula – 07: Tipos de Onda. Data: 03/04/2019................................................288 Descrição da Aula – 08: Altura, Intensidade do som e Timbre. Data: 24/04/2019.............294 Descrição da Aula – 09: Audição Humana. Data: 08/05/2019............................................304 Descrição da Aula – 10: Reflexão, Absorção e Refração. Data: 15/05/2019......................310 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | ÍNDICE DE FIGURAS Figura – 01: Um esquema tentativo feito por Moreira, para os principais enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino e alguns de seus mais conhecidos representantes. Fonte: M. A. Moreira, 1997, revisado em 2009 e retirado de Moreira, 2014................................................42 Figura – 02: Diagrama do processo de implementação do método Peer Instruction. Em destaque, a etapa conhecida como ConcepTest. Fonte: Adaptado de Lasry, Mazur e Watkins, (2008) como citado em Araujo e Mazur, (2013)......................................................................59 Figura – 03: Sequência na instrução de ciências através de “Inquiry”, adaptado do livro de Wynne Harlen, (Harlen, 2015 como citado em Moura, 2018).................................................62 Figura – 04: Carta: Guardião do tempo....................................................................................94 Figura – 05: Carta: Controlador das Aprendizagens.................................................................94 Figura – 06: Carta: Chefe de Comunicação..............................................................................95 Figura – 07: Carta: Capitão do Silêncio....................................................................................95 Figura 8: Fonte: Google Imagens............................................................................................175 Figura 9: Fonte: Google Imagens............................................................................................175 Figura 10: Fonte: Google Imagens..........................................................................................176 Figura 11: Fonte: Google Imagens..........................................................................................176 Figura 12: Fonte: Google Imagens..........................................................................................176 Figura 13: Fonte: Google Imagens..........................................................................................177 Figura 14: Fonte: Google Imagens..........................................................................................177 Figura 15: Fonte: Google Imagens..........................................................................................179 Figura 16: Fonte: Google Imagens..........................................................................................180 Figura 17: Fonte: Google Imagens..........................................................................................180 Figura 18: Fonte: Google Imagens..........................................................................................180 Figura 19: Fonte: Google Imagens..........................................................................................181 Figura 20: Fonte: Google Imagens..........................................................................................181 Figura 21: Fonte: Google Imagens..........................................................................................181 Figura 22: Fonte: Google Imagens..........................................................................................189 Figura 23: Fonte: Google Imagens..........................................................................................189 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Figura 24: Fonte: Google Imagens. Desenho Pocoyo: Criador Guillermo García Carsí........190 Figura 25: Fonte: Google Imagens..........................................................................................190 Figura 26: Modelo de relógio analógico. Fonte: Google Imagens.........................................194 Figura 27: Fonte: Google Imagens..........................................................................................195 Figura 28: Fonte: Imagem retirada da simulação....................................................................202 Figura 29: Fonte: Google Imagens..........................................................................................204 Figura 30: Fonte: Google Imagens..........................................................................................204 Figura 31: Fonte: Google Imagens..........................................................................................205 Figura 32: Fonte: Arquivo pessoal do autor............................................................................217 Figura 33: Imagem da simulação utilizada para a obtenção dos dados..................................220 Figura 34: Aparelho auditivo. Fonte: Google Imagens...........................................................229Figura 35: Espectro Sonoro. Fonte: Google Imagens.............................................................230 Figura 36: Espectro Sonoro - Níveis de intensidade sonora. Fonte: Google Imagens............230 Figura 37: Sonar. Fonte: Google Imagens..............................................................................235 Figura 38: Modelo - Reflexão, Absorção e Refração.............................................................236 Figura 39: A figura a qual o aluno refere-se representa a distribuição dos músicos numa orquestra disponível no diapositivo. Fonte: Encyclopedia Britannica....................................238 Figura 40: Diagrama de Conceitos desenvolvido por um dos alunos participantes. Fonte: Arquivo pessoal.......................................................................................................................244 Figura 41: Em escala de cinza. Fonte: Simulação..................................................................244 Figura 42: Gif – 01 indicada no diapositivo. Fonte: Dan Russel............................................246 Figura 43: Modelo de Relógio Analógico. Fonte: Google Imagens.......................................248 Figura 44: Modelo do “desenho” que a aluna refere-se..........................................................250 Figura 45: Diapasão. Fonte: Google Imagens.........................................................................250 Figura 46: Diagrama de Conceitos desenvolvido por um dos participantes...........................252 Figura 47: Gif - 01: A linha a vermelho comporta-se como um êmbolo................................256 Figura 48: Gif - 02: Representação de um comportamento ondulatório.................................256 Figura 49: Figura do diapositivo. Fonte: Google Imagens.....................................................257 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Figura 50: Diagrama de Conceitos Desenvolvido por um dos alunos....................................265 Figura 51: Diagrama de Conceitos desenvolvido por um dos alunos participantes...............268 Figura 52: Descrição dos itens constantes no Guia Informativo fornecido aos alunos..........270 Figura 53: Gif - 02: Representação de um comportamento ondulatório.................................273 Figura 54: Gif - 01: A linha a vermelho comporta-se como um êmbolo................................273 Figura 55: Figura do diapositivo. Fonte: Google Imagens.....................................................273 Figura 56: Onda Sinusoidal apresentada no ecrã, os pontos com seta foram os citados pelos alunos (Cristas E Vales)..........................................................................................................274 Figura 57: Diagrama de Conceitos desenvolvido por um dos alunos.....................................276 Figura 58: Experimento Onda Estacionária realizado na sala de aula com os alunos............279 Figura 59: Modelo da simulação trabalhada com os alunos...................................................286 Figura 60: Diagrama de Conceitos desenvolvido por um dos alunos participante da aula.....288 Figura 61: Modelo de molas coloridas usadas na aula. Fonte: Google Imagens....................290 Figura 62: Alunos a fazer uso das molas para trabalhar tipos de ondas. Fonte: Arquivo pessoal.....................................................................................................................................291 Figura 63: Alunos a construir o diagrama de conceitos no quadro branco. Fonte: Arquivo Pessoal.....................................................................................................................................294 Figura 64: Circulado a branco, são os quadradinhos citados pela aluna. Fonte: Simulação...299 Figura 65: Simulação ligada, baixa frequência. Fonte: Simulação.........................................305 Figura 66: Simulação ligada, alta frequência. Fonte: Simulação............................................306 Figura 67: Amplitude baixa. Fonte: Simulação......................................................................306 Figura 68: Amplitude alta. Fonte: Simulação.........................................................................306 Figura 69: Representação do aparelho auditivo. Fonte: s://www.sobiologia.com.br/conteudos/ corpo/sentido4.php..................................................................................................................307 Figura 70: Níveis de intensidade sonora. Fonte: https://www.vvale.com.br/saude/som-acima- de-80-decibeis-pode-ser-prejudicial........................................................................................308 Figura 71: Frequências ouvidas pelo ouvido humano e por alguns outros mamíferos. Fonte: http://www.cochlea.org/po/som/campo-auditivo-humano......................................................309 Figura 72: Print de uma tela de busca. Fonte: Google Imagens.............................................312 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Figura 73: Simulação desligada. Fonte: Simulação................................................................313 Figura 74: Simulação ligada. Fonte: Simulação.....................................................................313 Figura 75: Reflexão, Absorção E Refração. Fonte: https://marianavmadaleno.wixsite.com/portfolio/blank-6......................................................316 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | ÍNDICE DE TABELAS Tabela – 01: Competências a avaliar por questão.....................................................................81 Tabela – 02: Lista das simulações usadas durante as aulas de apoio, no âmbito da intervenção com indicação dos sites onde estão disponíveis, do conteúdo trabalhado e do objetivo a ser alcançado...................................................................................................................................86 Tabela – 03: Lista de vídeos trabalhados com os alunos nas aulas de apoio com indicação do dos sites onde estão disponíveis e do objetivo a ser alcançado.................................................89 Tabela – 04: Na estão listadas as APLs utilizadas com os alunos nas aulas de apoio com indicação do objetivo e respetivo conteúdo trabalhado............................................................90 Tabela – 05: Lista de Apps trabalhadas com os alunos nas aulas de apoio com indicação do respetivo conteúdo trabalhado..................................................................................................92 Tabela – 06: Gifs utilizadas para complementar o estudo dos conteúdos abordados em sala com os alunos com indicação do objetivo e conteúdos trabalhados.........................................93 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico – 01: O resultado do Teste de Interpretação de Texto e Matemática mostra que 5 dos alunos apresentam dificuldades na interpretação de texto concomitante a realizar pequenos cálculos matemáticos. Da legenda DITFCMS – Dificuldade de Interpretação de Texto e Facilidade no Desenvolvimento de Cálculos Matemáticos Simples, DCMSFIT – Dificuldade de Desenvolvimento de Cálculos Matemáticos Simples e Facilidade na Interpretação de Texto, DITCMS – Dificuldade de Interpretação de Texto e de realizar Cálculos Matemáticos Simples e FITCMS – Facilidade tanto na Interpretação de Texto quanto no Desenvolvimento de Cálculos Matemáticos Simples………………………………………………………………………………………………. 100 Gráfico – 02: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto ao gosto pelas aulas de Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação dasaulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção…………………………………….… 102 Gráfico – 03: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto à facilidade de aprender Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção……………………………….……… 103 Gráfico – 04: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto a estar atento nas aulas de Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção…………………………………..….. 105 Gráfico – 05: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, sobre quanto lhes parece monótonas as aulas da disciplina de Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção………….. 106 Gráfico – 06: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, sobre quanto lhes parece interessante os fenômenos físicos. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção……………………….. 107 Gráfico – 07: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, sobre a importância das aulas laboratoriais para aprender a disciplina Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção………….. 108 Gráfico – 08: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto ao interesse nos mesmos em assumir o papel de investigador nas aulas práticas laboratoriais da disciplina Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção…………………….….….…..….….….….….…………. 110 Gráfico – 09: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto ao uso do computador como ferramenta de estudos fora da sala de aula. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção……………………..….….….….….….….….….….….….….….….….….…………… 111 Gráfico – 10: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto ao computador como ferramenta de ensino e aprendizagem. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção…………………... 112 Gráfico – 11: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto a utilização do computador em seu horário livre. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção…..……………………... 113 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Gráfico – 12: Opinião dos alunos do Grupo de Intervenção, quanto ao que os motivaria a aprender Física. Comparação da opinião dos alunos antes da participação das aulas do projeto com a opinião dos mesmos alunos no final do ano letivo, depois da intervenção………………………………….. 115 Gráfico – 13: Resultado do Teste Diagnóstico de Conhecimento aplicado aos alunos matriculados nas turmas de 8º ano, referente ao pré-teste aplicado aos alunos antes do estudo do domínio som e das aulas do projeto……………………………………………………………………………………... 122 Gráfico 14: Resultado do Teste Diagnóstico de Conhecimento aplicado ao Grupo de Intervenção (a vermelho) e aos demais alunos matriculados nas turmas de 8º ano da escola (a verde)……………. 123 CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | 28 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | CAPÍTULO 1: CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO Tem-se atualmente na escola uma geração de alunos cujo uso de dispositivos eletrônicos é nativo (Palfrey & Gasser, 2011). Esses alunos possuem facilidade no manuseio de mídias digitais, sendo tal habilidade muitas vezes desconhecida por muitos docentes em suas salas de aulas. A sociedade sofreu mudanças e a tecnologia desenvolve-se de forma exponencial em conjunto com a distribuição e acesso à informação e material de apoio ao ensino. Contudo, a escola permanece centrada nos programas, no ensino e em modelos tradicionais de promoção das aprendizagens e de acesso ao conhecimento, como refere o Parecer do Conselho Nacional de Educação de 2016 (PCNE, 2016). Ou seja, a escola continua em sua maioria tradicional e como cita Paulo Freire (2005), bancária e estática na qual se admite que o aluno pouco (ou nada) sabe e o professor é detentor de todo o saber. Essa forma de ensinar nega o diálogo, o questionamento, obstrui a curiosidade e impossibilita a crítica. O acesso à informação permite a esse aluno o alcance e aquisição de excelentes materiais de ensino por meio de pesquisa em sites de busca ou vídeos em plataformas como o YouTube (Marçal, Borges, Viana e Carvalho, 2020) e as redes sociais permitem o contato com pessoas especializadas de níveis acadêmicos e conhecimentos diversos. Essa nova e atual realidade não combina com uma sala de aula tradicional, onde há alunos com cultura, experiências, conhecimentos e dificuldades tão diversas. Ao desconsiderar estas diversidades no planejamento das aulas, o professor prejudica o processo de ensino e aprendizagem e gera no aluno decepção por não conseguir acompanhar os colegas que, muitas vezes, em sua maioria, conseguem aprender com a metodologia de ensino usada pelo professor, o que acarreta divergências na aprendizagem desses indivíduos. Um estudo apresentado em fevereiro de 2016 pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência – DGEEC (DGEEC, 2016 e 2019a), sobre Desigualdades Socioeconômicas e Resultados Escolares, “sugere que em Portugal há uma relação muito forte entre o desempenho escolar dos alunos e o meio socioeconômico dos seus agregados familiares”. O relatório expõe que entre os alunos cujas mães têm licenciatura ou bacharelato, a percentagem de “percursos de sucesso” no 3.º ciclo é de 71%, subindo para 75% para 29 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | aqueles cujas mães têm mestrado/doutorado, enquanto entre os alunos cujas mães têm habilitação escolar mais baixa, equivalente ao 4.º ano, a percentagem de percursos de sucesso é de apenas 19%, caindo para 14% quando não há habilitações. Para a DGEEC (2016), um aluno com “percurso de sucesso” no 3º ciclo é um aluno que obtém positiva nas duas provas finais de 9.º ano (Português e Matemática) após um percurso sem retenções nos 7.º e 8.º anos. A avaliação do Perfil do Aluno quanto aos dados socioeconômicos coincide com os dados relativos às taxas de retenção e desistência, que reduziu de 18.4 % no ano letivo de 2006/07 para 7.6 % em 2016/17. Um fator relevante a ser considerado para a redução dessas taxas foi a inserção de estratégias para alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), que com a atualização das leis para o ensino em 2018 passou a ser chamado de Necessidades de Saúde Especiais (NSE), matriculados no ensino regular que lhes possibilita obter uma educação o mais plena possível, que pode ser, por exemplo, um Apoio Pedagógico Personalizado (APP), ou uma Adequação no Processo de Avaliação (APA) pois depende do tipo de necessidade que o aluno apresenta (DGEEC, 2019a). Todavia, essas estratégias são aplicadas somente aos alunos referenciados, como é o caso dos 119.856 alunos com necessidades especiais de educação matriculadosnas escolas regulares (DGEEC, 2019c, 2019b) registrados somente para Portugal Continental no ano letivo de 2017/18. Inseridos neste grupo os alunos podem apresentar desde a Ausência de dificuldades à Dificuldade total na Aprendizagem Geral, que diz respeito ao fato de aprender novos conhecimentos, aplicar conhecimentos adquiridos, pensar, raciocinar e resolver problemas e na Aprendizagens Escolares, relacionados aos conteúdos curriculares adequados à faixa etária do aluno. É factível que a inserção de estratégias que viabilizem facilidades no processo ensino aprendizagem são necessárias, contudo, tais estratégias devem ser viáveis para outros grupos de alunos que apresentam dificuldades nos estudos, mas por não apresentarem uma Necessidade de Saúde Especial específica não estão referenciados e, portanto, não recebem um apoio adequado ao seu perfil. No relatório apresentado pelo DGEEC (DGEEC, 2018) em março de 2018, para o Terceiro Ciclo de estudos do ensino público, os percentuais informados expõem um quadro que chama a atenção e requer medidas que devem ser tomadas para reverter tal quadro. O estudo indica que 66% dos alunos matriculados no 7.º ano do ensino básico reprovaram no 30 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | ano letivo de 2014/2015 com seis ou mais negativas. Ressalta-se que dentre os alunos com classificações finais negativas, os que obtiveram apenas uma negativa transitaram para o 8º ano, os com duas ou mais negativas podem ou não ter transitado pois são dependentes das decisões do conselho de turma. Os resultados apresentados pelo DGEEC (2018), refletem-se nos dados publicados em maio de 2018 pelo Instituto de Avaliação Educativa no Relatório Nacional 2016 e 2017, referentes aos resultados das provas de aferição da disciplina de Ciências Naturais e Físico- Química realizadas pelos alunos do 8º ano. De acordo com este relatório, 80 % dos alunos revelaram dificuldades nas respostas ou não conseguiram dar uma resposta apropriada (ou não responderam às questões). A disciplina de Ciências Naturais e Físico-Química (8º ano), é aquela que mostra percentagens mais baixas em qualquer um dos níveis dos Domínios Cognitivos com valores aproximados e abaixo dos 50 %, a saber: Nível Inferior: Conhecer/Reproduzir (37.5 %), Nível Médio: Aplicar/Interpretar (38.9 %) e Nível Superior: Raciocinar/Criar (33.4 %) (IAVE, 2017). Tais resultados reforçam a necessidade da implementação de estratégias que modifiquem essa realidade e permitam a esses alunos sucesso na sua aprendizagem. Estes índices também reforçam a ideia de que estes alunos apresentam Dificuldades de Aprendizagem (DA) (García, 1998; Cruz, 1999; Tonini, 2005; Fonseca, 2016) que não podem ser listadas como NEE. Para estes, a aprendizagem necessita de uma assimilação do que é apresentado e a acomodação da nova informação, de desconstrução de ideias pré estabelecidas e organização para uma evolução e amadurecimento para relações simples e complexas (Gonçalves & Vagula, 2012). Para Mantoan (1999), os estudantes com deficiência intelectual com algum déficit cognitivo, devem ter suas habilidades intelectuais desenvolvidas de formas alternativas às habitualmente utilizadas no ensino das ciências físicas (Santos et al, 2019). Estamos em crer que o mesmo raciocínio pode ser aplicado aos estudantes com dificuldades de aprendizagem, uma vez que estes necessitam de uma gestão mais diferenciada dos recursos, dos modos de aprender e dos tempos em que se processa essa aprendizagem (Cabral & Alves, 2016). Para esses alunos a metodologia tradicional, empregada em sala de aula regular, não os agrega de forma plena e consequentemente alunos com classificação negativa, transitam de ano sem uma base que lhes permitam usufruir plenamente o seu aprendizado. Nos últimos anos surgiram vários projetos como o SUPERTABi, com edições desde 2017 (SUPERTABi, 2019) e Encontros como A Voz dos Professores de C&T – VPCT, com edições desde 2016 (https://vpct.utad.pt/) de nível nacional que estimulam os professores a 31 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | usar abordagens ativas na sua prática letiva (Vieira et al, 2020; Silva at al, 2020; Gemignani, 2012; Alarcão, 2005) e a tirar proveito dos recursos educativos digitais (RED). Ainda se está, ao nível do panorama português, muito no início de uma transformação educativa, mas as mudanças parecem começar a aparecer como sugerem os últimos resultados de PISA (2015), em particular na área das ciências. Atualmente dentro das propostas de ensino há o questionamento de um possível aumento cognitivo dos alunos que conduza a uma maior e melhor aprendizagem, quando estimulados pela implementação de estratégias metodológicas ativas e atividades lúdicas envolvendo mídias digitais, bem como na diminuição das dificuldades de aprendizagem quando estas são implementadas (Alves, 2012; Alves & Hetkowski, 2012; Sá, 2016; Bacich & Moran, 2018; de Souza e Fialho, 2018). Sabe-se que as diferentes vivências influenciam na aprendizagem, nas quais os alunos que estão inseridos em condições socioeconômicas desfavorecidas tendem a apresentar maior dificuldade na assimilação dos temas apresentados, o que muitas vezes resulta em sucessivas reprovações (Pocinho, 2018; Loureiro, 2017; Lourenço & Paiva, 2010). Estes estudantes, de maneira geral, quando inseridos em um processo com metodologias ativas tendem a responder positivamente tanto no sucesso escolar quanto no aumento da autoestima. Todavia, o insucesso na área da Físico-Química, como demonstram os dados apresentados pela DGEEC, ainda é grande. Apesar de existirem aulas de apoio para os alunos que têm dificuldades na aprendizagem, numa fase o mais precoce possível como é recomendação do Parecer do Conselho Nacional de Educação de 2016, a nossa experiência nas escolas é que estas aulas são, frequentemente, “mais do mesmo”, uma repetição de exemplos e práticas da sala de aula que, frequentemente, pouco efeito produzem na aprendizagem dos alunos já de si causticados com o insucesso. Para estes, a abordagem nas aulas devem ser, preferencialmente, adaptadas as suas dificuldades, não condicionada ao cumprimento de um programa e aos limites da execução de tarefas. Com o intuito de auxiliar o processo de aprendizagem de todos os estudantes e tendo como referência um estudo prévio desenvolvido com estudantes com NEE (Santos et al, 2019), esta investigação constou da implementação de metodologias ativas de ensino em aulas de apoio diferenciadas. Com a modificação da abordagem, quer no formato da aula e como no uso dos recursos, intentou avaliar o quanto metodologias diferenciadas podem efetivamente auxiliar o processo de aprendizagem, nas aulas de apoio para a disciplina de Físico-Química 32 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | para estudantes do 8º ano do 3º ciclo do ensino básico oriundos de turmas regulares cujas origens são diversificadas e que apresentam dificuldades de aprendizagem em Física. Com esta abordagem, pretendeu-se criar uma via mais facilitada para a aprendizagem efetiva dos alunos com dificuldades de aprendizagem ao se fazer uso da tecnologia, da criatividade e da componente lúdica, produzindo um impacto positivo no percurso educativo. É nosso objetivo a aplicação de uma abordagem ativa, centrada no aluno e com novas formas de abordagem dos conteúdos curriculares, que lhes permita usufruir de uma educação de qualidade, transformadora e colaborativa cujo foco é uma aprendizagem significativa dos conteúdos tendo comoreflexo maior sucesso do que o uso da abordagem tradicional. Em suma, este trabalho de pesquisa distingue-se pelo fato de abordar o ensino de Físico- Química de maneira não tradicional, com estudantes com dificuldades de aprendizagem, de maneira a avaliar o quanto metodologias diferenciadas podem auxiliar o processo de aprendizagem destes estudantes. Com essa premissa, esta investigação usou a ideia de mediação sugerida por Santos et al, (2019), “mediar é um processo educacional que leva em consideração o conhecimento, o desenvolvimento, o respeito e a percepção de que todo indivíduo está apto para aprender. [Portanto1], a mediação deve ter uma intencionalidade e deve sempre desenvolver a habilidade do processo de aprender” (Feuerstein, 1980 como citado em Santos et al, 2019). A mediação do conteúdo por meio de metodologias ativas centradas no aluno tem o intuito de provocar modificações no seu cotidiano ao sistematizar aspectos do ensino e do conteúdo (Santos et al, 2019). No tocante ao ensino de Físico-Química, em Portugal, os conteúdos abordados no 8º ano do terceiro ciclo, são distribuídos em três domínios de acordo com o disposto no Decreto- Lei n.º 139/2012 de 5 de julho e em vigor de acordo com o previsto no artigo 38.º do Decreto- Lei n.º 55/2018, de 6 de julho, que são:1. Reações Químicas; 2. Som e 3. Luz. Para este projeto o Domínio trabalhado foi o Som, o qual se subdivide em quatro Subdomínios que são: 1. Produção e Propagação do Som; 2. Som e Ondas; 3. Atributos do Som e sua detecção pelo ser humano e 4. Fenômenos Acústicos. Nos quatro Subdomínios é possível realizar, nas aulas, atividades práticas laboratoriais, simulações e vídeos, entre outras atividades, que estimulem e fomentem no aluno o questionamento dos fenômenos observados. Realizado um estudo prévio, percebeu-se que o domínio Som: a) é melhor trabalhado a meio do segundo período do 8º ano, portanto os docentes podem alocar bastante tempo à sua lecionação e permite analisar, nesta investigação, o progresso de aprendizagem dos alunos, e 1 Nota da autora 33 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | b) os alunos revelam dificuldades em compreender os conteúdos deste domínio, pois muitos deles são abstratos e envolvem frequentemente a manipulação de fórmulas matemáticas (Afonso & Leite, 1999; Quintas, 2012). 1.2 PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO A problemática orientadora inerente a esta investigação é a escassez de trabalhos voltados para alunos adolescentes com dificuldades de aprendizagem de conceitos apresentados numa aula baseada no tradicionalismo didático e sem perspectivas de mudanças. Em Portugal, a legislação em vigor somente contempla especificamente os alunos com dificuldades de aprendizagem que se enquadram com Necessidades de Saúde Especiais (NSE), tais como dislexia, disortografia, déficit de atenção, hiperatividade, entre outras. Estes são amparados com auxílio e/ou planos de trabalhos individualizados. Contudo, apesar de muitas das dificuldades de aprendizagem estarem configuradas como NSE, um percentual dessas dificuldades estão relacionadas com a maturidade cognitiva, inadaptação à metodologia de ensino, a problemas na estrutura e ao ambiente familiar (Pilette, 2002; Hammill, et al 1998; Correia & Martins, 2005). Consequentemente, para esses alunos, onde não existe diagnosticado um problema de saúde específico, é necessário investir em suportes que os assistam a mudar sua realidade. Realidade essa que, costumeiramente, gera nesses indivíduos baixa autoestima e a sina do insucesso escolar. Em sala de aula, o discurso científico que se instaura e se constrói é feito por um somatório de ações que envolvem as intenções do professor, as operações de descrição, explicação e generalização, a escolha de modelos apropriados e de níveis de referência, a abordagem comunicativa, os tipos de interações e as conexões entre as ideias. Surge, assim, a primeira questão de investigação: – Como transpor esta riqueza e complexidade formativa para um modelo de ensino e aprendizagem com sucesso? É expectável que o aluno prospere na sua individualidade na forma de aprender e que possa não somente usar as representações para explicar relações entre propriedades e processos, mas também explicar a preferência para um tipo de representação em detrimento de outros. 34 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | É também desejável que o aluno consiga estabelecer significados novos a partir da interação entre seus conhecimentos prévios e o processo de aprendizagem e, para isso, o processo deve auxiliar no fornecimento de condições para que a aprendizagem seja não arbitrária e não literal. A segunda questão de investigação será, então, a seguinte: – Poderão estes recursos ser usados na criação de um processo potencialmente significativo, de forma a propiciar que alunos com dificuldades de aprendizagem acompanhe o ritmo de estudos e aprendizagem de seus colegas da turma regular? Estas foram as questões fundamentais levantadas e que alavancaram essa pesquisa. 1.3 OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO 1.3.1 Geral O objetivo geral da investigação é avaliar se o recurso a metodologias diferentes das usadas tradicionalmente nas aulas regulares e recursos educativos potencialmente ativos, quando explorados em aulas de apoio ao ensino curricular, propiciam aos alunos com dificuldades de aprendizagem uma recuperação na aprendizagem de conteúdos lecionados. Como forma de projetar este objetivo geral, representando como que pontos auxiliares para a execução deste projeto, foram definidos alguns objetivos específicos. 1.3.2 Específicos (i) Identificar as metodologias e/ou ferramentas utilizadas regularmente no 8º ano do 3º Ciclo de ensino na escola investigada. (ii) Construir e melhorar recursos educativos baseados em Recursos Educativos Digitais (RED) e Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), em aulas de apoio não tradicionais do domínio Som do 8º ano a alunos identificados com dificuldade de aprendizagem. (iii) Utilizar meios de registro de dados (diário de bordo, fichas de observação etc.) para avaliar as aprendizagens resultantes da aplicação das metodologias e/ou ferramentas; 35 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | (iv) Identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos em sala de aula de Física do 8º ano de escolaridade, durante o ano letivo; (v) Construir ferramentas de avaliação das aprendizagens dos alunos. 1.4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Esta pesquisa tem características de um Estudo de Caso (Silva, 2018, Pereira et al, 2018; Yin, 2015; Vennesson, 2008; Gil, 2008; Stake, 2005; Thiollent, 2002 ; Merriam, 1998; Stake, 1995), no qual se valoriza e considera o papel dos sujeitos envolvidos. Tem caráter exploratório e experimental cuja natureza é essencialmente qualitativa (Fiorentini & Lorenzato, 2012; Goldenberg, 2004) embora incorpore momentos de avaliação de aprendizagem quantitativa (Moreira & Rizzatti, 2020, Cardoso, 2020). A pesquisa foi realizada em cinco fases: 1) Observação – nesta fase houve recolha de informações com as quais foi possível conhecer a escola, o comportamento dos alunos, as dificuldades enfrentadas pelos alunos na sala de aula e as técnicas utilizadas pelas docentes na sala de aula regular; 2) Desenvolvimento e criação de materiais – esta fase teve como característica a planificação das aulas o que inclui o levantamento bibliográfico do que já foi desenvolvido para a melhoria do ensino do domínio som na sala de aula, escolha dos experimentos e mídias que melhorse adequam ao plano de aula traçado para potencializar a aprendizagem dos alunos, criação das ferramentas de avaliação necessárias para a avaliar o aprendizado dos alunos frente a aplicação do material utilizado na planificação das aulas; 3) Fase de Testes – nesta fase foi selecionado um grupo de alunos cujo material desenvolvido na fase anterior, foi aplicado com o intuito de identificar a valia dos recursos e refinar os resultados das ferramentas desenvolvidas; 4) Investigação – nesta fase ocorreu a intervenção de fato com aplicação à população de estudo do material desenvolvido e testados nas fases anteriores, visando a aprendizagem significativa dos mesmos; 5) Recolha e Análise de Dados – durante as quatro fases de desenvolvimento do estudo houve recolha de dados, utilizando para tal as ferramentas desenvolvidas com a finalidade de avaliar o grau de aprendizagem e satisfação dos alunos. A recolha dos dados referentes às docentes ocorreu em função das observações das aulas, conversas e a aplicação de uma entrevista semiestruturada. 36 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | As três primeiras fases desta pequisa ocorreram no decorrer do ano letivo de 2017/2018. Durante esse ano letivo houve uma adaptação da pesquisadora às aulas no ensino básico, ao conhecimento da legislação que permeia tal ensino e aos costumes do país. Na transição para a fase de Investigação houve mudanças, tais como, as aulas de apoio da disciplina Físico-Química, que até aquele momento eram de caráter opcional, passaram a ter caráter obrigatório aos alunos referenciados e aos que apresentassem dificuldades de aprendizagem na disciplina. Para o efeito, a direção da escola disponibilizou um espaço físico e horário fixado na grade de horários dos alunos durante todo o ano letivo, fruto de conversas entre a pesquisadora, os profissionais e a direção da escola. 1.5 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA TESE Este trabalho investigativo encontra-se organizado em seis capítulos, as referências bibliográficas utilizadas e os anexos. Capítulo I – Com o título “CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO”, apresenta a caracterização deste estudo, nele justifica-se a escolha do tema e do nível de escolaridade, os objetivos a que nos propúnhamos alcançar e a organização da tese. Capítulo II – Com o título “REVISÃO DE LITERATURA”, traz a fundamentação teórica da investigação. Trata-se de uma breve revisão bibliográfica das teorias da aprendizagem que nortearam esse trabalho, uma clarificação do significado de dificuldade de aprendizagem, um resumo da legislação que permeia o ensino português e serve de base de apoio aos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e finaliza com os estudos acerca do ensino do conteúdo som na sala de aula. Apresenta os diferentes tipos de metodologias ativas de ensino usadas na investigação. É neste capítulo que os conceitos importantes, que serão usados ao longo do estudo, são apresentados e esclarecidos ao leitor. Capítulo III – Com o título “PLANO DE INVESTIGAÇÃO E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS”, este capítulo trata do desenho metodológico da investigação, com a descrição dos procedimentos, caracterização da população de estudo e instrumentos de recolha de dados usadas na investigação. Discorre-se sobre a observação das aulas, a construção das ferramentas de avaliação usadas para quantificar os resultados, a escolha do conteúdo programático, os recursos educativos construídos e escolhidos para as aulas com o 37 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | fim de alcançar os objetivos da investigação, a planificação das aulas e, por fim, discorre sobre as atividades a serem realizadas nas aulas de apoio realizadas com os alunos da população de estudo. Capítulo IV – Com o título “RESULTADOS E DISCUSSÃO”, nele é feita uma análise dos resultados alcançados no estudo. É feita uma análise das ferramentas de avaliação aplicadas à população de estudo, as dificuldades e falhas detectadas e finaliza com uma interpretação crítica dos resultados obtidos na investigação. Capítulo V – Com o título “CONCLUSÕES”, procede-se à análise global do estudo e procura-se uma resposta às questões e problema desta investigação. São também apresentadas algumas ações que fazem face às limitações detectadas neste estudo e o que não funcionou tão bem e qual o futuro da investigação. Posteriormente às conclusões encontram-se as referências bibliográficas que suportam este trabalho e os apêndices nos quais estão reunidos todos os documentos construídos e utilizados no estudo. 38 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA 39 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | 40 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | CAPÍTULO 2: REVISÃO DE LITERATURA A revisão de literatura trata sobre Teorias da Aprendizagem e dois Métodos de ensino e aprendizagem centrados no aluno, utilizados nesta investigação, para trabalhar com indivíduos com dificuldades de aprendizagem é complexa e relevante, visto a vastidão de fontes e de excelentes autores. Neste sentido, este capítulo aborda, através de um estilo sintético, uma revisão das teorias que se enquadram na base deste trabalho. 2.1 TEORIAS DA APRENDIZAGEM No ensino tradicional comumente atribui-se ao professor o papel de detentor de todo o conhecimento e lhe cabe a função de transmissor da informação, enquanto o aluno é um mero receptor do “conhecimento” (Nitzke et al, 2002; Moreira, 2014; Cunha & Uva, 2016). A sala de aula de caráter totalmente tradicional caracteriza-se por ser “individualista e competitiva entre os alunos, impossibilitando momentos de partilha de conhecimentos, a estimulação e desenvolvimento de competências sociais como a socialização, colaboração e a entreajuda.” (Cunha & Uva, 2016, p. 136) e descarta os conhecimentos prévios dos indivíduos que advêm das influências de agentes externos que atuam estimulando suas capacidades e aptidões e promovendo o seu desenvolvimento físico e mental baseados no seu meio social e cultural. Tais estímulos fazem parte do processo ensino e aprendizagem, cuja eficácia depende de inúmeros fatores. Na busca de entender esse complexo processo e a fazer uso das diversas concepções sobre como se dá a aprendizagem desse indivíduo e na tentativa de explicar “o que é aprendizagem, porque funciona e como funciona” (Moreira, 2014), várias teorias foram concebidas. Essa construção humana é um corpo teórico pedagógico e psicológico que busca descrever e compreender a aprendizagem humana e é constituída de conceitos e princípios baseados num sistema de valores de uma filosofia. Tais teorias também conhecidas como Teorias de Aprendizagem (TA) foram desenvolvidas baseadas em visões de mundo ou filosofias, e são elas: Comportamentalista (Behaviorismo) nela o “comportamento é 41 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | controlado pelas consequências” e portanto a aprendizagem é ligada a estímulos e respostas, a Cognitivista (Construtivismo) dá ênfase “na cognição, no conhecimento do indivíduo sobre o mundo”, ou seja, estuda a aquisição de informações na estrutura cognitiva do aprendiz e a Humanista onde “o aprendiz é visto como um todo pois o importante é sua autorrealização e seu crescimento pessoal” pois considera as emoções da pessoa no processo de aprendizado (Moreira, 2014). A Figura – 01, abaixo, representaum esquema tentativo feito por Moreira (2014), para os principais enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino e alguns de seus mais conhecidos representantes (M. A. Moreira, 1997, revisado em 2009 e retirado de Moreira, 2014). Nesta secção, disserta-se sobre os trabalhos que nortearam esta investigação e se inserem numa visão da construção do conhecimento pelo indivíduo. São eles os de Jean Piaget, Lev Vygotsky e David Ausubel. Para Piaget, “a interação entre indivíduos e o intercâmbio de ideias [propicia]2 o desenvolvimento cognitivo do sujeito, pois os conhecimentos são socialmente definidos e o 2 Nota da Autora 42 Figura – 01: Um esquema tentativo feito por Moreira, para os principais enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino e alguns de seus mais conhecidos representantes. Fonte: M. A. Moreira, 1997, revisado em 2009 e retirado de Moreira, 2014. FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | sujeito depende da interação social para construção e validação dos conceitos” (Torres et al., 2004). Já Vygotsky entende que a constituição dos sujeitos, seu aprendizado e seus processos de pensamento ocorrem mediados pela relação interpessoal (Damiani, 2008), ou seja, “o desenvolvimento cognitivo não ocorre independente do contexto social, histórico e cultural” (Moreira, 2014, p.107). Ausubel toma como conceito central a aprendizagem significativa, que “ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz” (Moreira, 2014, p.161). Precisamente a aprendizagem significa dos conceitos de Física ensinados aos alunos com dificuldades de aprendizagem está inserida de forma implícita no objetivo geral deste trabalho. 2.1.1 Jean Piaget É na segunda metade do século XX que as Teorias da Aprendizagem Cognitiva começaram a ser formuladas. Inicialmente pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), cujo trabalhos datam da década de 20 mas somente décadas depois seus trabalhos influenciam nas ideias do processo de ensino e aprendizagem, ocorrendo um declínio das ideias behavioristas e a ascensão do cognitivismo, conjuntamente com os trabalhos de Lev Vygotsky e décadas mais tarde com os trabalhos de David Ausubel. O interesse pelo rigor da pesquisa e do método científico, aliados a curiosidade de entender cientificamente a psicologia humana fez com que Piaget correlacionasse a psicologia e a biologia desenvolvendo uma abordagem teórica conhecida por Epistemologia Genética. Nas palavras de Piaget, seu interesse e curiosidade foram tanto que “fez adotar a decisão de consagrar minha vida à explicação biológica do conhecimento” (Piaget, 1965, p.5 como citado em Munari, 2010, p.14). O ponto central das investigações de Piaget foram as observações feitas em relação ao desenvolvimento infantil e envolviam compreender como um conhecimento de pequena complexidade passa a um de grande complexidade em relação à capacidade cognitiva do indivíduo. Para Piaget, a criança é uma fonte de dados para o estudo 43 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | de seu desenvolvimento intelectual (Ferracioli, 1999) e a chave para o entendimento do pensamento infantil. Para suas observações formulou uma metodologia própria de pesquisa, à qual associou um conjunto de técnicas de investigação, trabalhadas de acordo com a observação tanto do comportamento espontâneo da criança quanto do comportamento provocado por uma situação experimental e do diálogo estabelecido entre o pesquisador e a criança. Piaget não formulou seu trabalho com a ideia de desenvolver uma teoria específica de aprendizagem, seu foco era teorizar sobre o desenvolvimento mental, contudo o rigor científico no qual primou suas observações e resultados obtidos no decorrer de sete décadas, trouxeram contribuições práticas importantes principalmente ao campo da Educação e consequentemente no da aprendizagem (Rappaport, 1981; La Taille, 1992; Coll, 1992; Furtado et. al.,1999). Segundo Piaget, é através de um processo interativo entre o sujeito e o meio que o conhecimento ocorrerá, uma vez que o seu desenvolvimento é permanente e atinge uma maturação lógico-científica em um dado momento. “A inteligência aparece aqui como uma estruturação que imprime determinadas formas aos intercâmbios entre o sujeito ou sujeitos e os objetos circundantes, próximos ou mais afastados” (Piaget, 2013). Enquanto cresce, o indivíduo passará por etapas nas quais terá uma determinada organização mental ou estado de equilíbrio, cujas modificações ocorrem à medida que adquire novas informações e nova forma de compreender a realidade à sua volta. E somente ao final da adolescência este terá o intelecto pronto para a vida adulta (Goulart, 2008; Munari, 2010; Piaget, 2013). O indivíduo busca o conhecimento e adapta-se estando em equilíbrio com o meio. Quando em desequilíbrio com esse meio desencadeia um conflito cognitivo até que haja um novo equilíbrio. Para Piaget (Moreira, 2014), esse estado de equilíbrio ocorre naturalmente no individuo por meio de mecanismos cognitivos definidos por assimilação e acomodação. É na assimilação que ocorre a tentativa de solucionar uma situação, um problema, um fato ou uma informação através da construção de esquemas de assimilação mental que abordam a realidade do questionamento. Quando a assimilação ocorre, significa que o indivíduo incorporou à realidade seus esquemas de ação impondo-se ao meio. Contudo no processo de assimilação pode ou não ocorrer modificações no conhecimento que se tem da realidade, isto é, quando os esquemas de ação não conseguem assimilar determinada situação a mente pode desistir (Moreira, 2014; Piaget, 2013). 44 FCUP | Uso de Métodos Ativos como Ferramenta no Ensino de Física a Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Havendo modificações ocorre a acomodação, e é através delas que o indivíduo forma novos esquemas de ação e que se dá o desenvolvimento cognitivo, pois, é nessa reestruturação que o indivíduo “modifica suas estruturas cognitivas antigas, constrói novas associações ao conhecimento prévio, domina a situação e amplia a cognição sobre a situação – problema com a nova informação”, o sujeito traz para si a realidade que o rodeia (Moreira, 2014; Piaget, 2013). Quando a assimilação e a acomodação encontram o equilíbrio ocorre a adaptação à situação, assim novas experiências de acomodação geram novos esquemas de assimilação e um novo estado de equilíbrio (adaptação). Tais processos ocorrem em simultâneo e favorecem o enfrentamento de conflitos e a retomada da equilibração. Assim, na mente ocorre um conjunto de esquemas que se aplicam a realidade e somente há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação (Moreira, 2014; Piaget, 2013). Sem a reestruturação dos esquemas de assimilação existentes do indivíduo (estrutura cognitiva) não haverá novos esquemas de assimilação e, portanto, não haverá acomodação, pois a mente como uma estrutura cognitiva funciona sempre em busca do equilíbrio alterando seu grau de organização interna e adaptação ao meio que se encontra. Esse processo de reequilíbrio é definido por Piaget de “equilibração majorante, e é o fator preponderante na evolução, no desenvolvimento, na aprendizagem” e na construção interativa do comportamento humano com o meio físico e sociocultural (Moreira, 2014). A equilibração majorante é responsável pelo desenvolvimento cognitivo e está presente durante todos os seus estágios e períodos. O que significa que ensinar é provocar no individuo o desequilíbrio para que este procure o reequilíbrio (equilibração) cognitivamente, se reestruture e aprenda.
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