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1 Metodologias Ativas e Avaliação da Aprendizagem em Ambientes Virtuais Unidades I a IV Profa. Dra. Solimar Garcia Prof. Me. Edna Barberato Genghini Metodologias Ativas e Avaliação da Aprendizagem em Ambientes Virtuais Unidades I a IV Professora conteudista SOLIMAR GARCIA, professora pesquisadora, doutora e pós-doutora em Engenharia de Produção, mestre em Comunicação, MBA em Comunicação e Marketing pela ESPM e especializada em Educação, Ensino Superior e Educação a Distância. Graduada em marketing pela UNIP, jornalista e publicitária pela Fundação Cásper Líbero, passou por diversos órgãos de imprensa como jornal O Estado de S. Paulo, Agência Estado e revistas especializadas. Atuou em várias empresas na área de Comunicação, Marketing e assessoria de imprensa, sendo ainda empreendedora no segmento. Atualmente é coordenadora do curso superior de tecnologia em Gestão Comercial na Universidade Paulista e docente presencial e a distância em diversas instituições, em cursos de Graduação e Pós-Graduação. Na área acadêmica, a autora possui vasta produção em publicações nacionais e internacionais, além de diversos capítulos e livros. Áreas de interesse de pesquisa: Engenharia de Produção e Sustentabilidade, Educação a Distância, Marketing e Marketing Digital, Educação e Educação a distância. CV: http://lattes.cnpq.br/9837467061303171 Professora colaboradora/coordenadora EDNA BARBERATO GENGHINI, professora universitária desde 2002. Atualmente no exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de cinco cursos no nível de Pós-Graduação Lato Sensu: em Psicopedagogia e Neurociências, Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior, Formação e Gestão em Educação a Distância e em formação em Educação a Distância, pela Universidade Paulista (UNIP/EaD), na qual também atua como professora adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica – Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), Pós-Graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e Pós- Graduação Lato Sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP (2011). É autora e coautora de livros-textos para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP/EaD. Membro do NAAP – Núcleo de Acessibilidade e Apoio Psicopedagógico da UNIP/EAD. Áreas de Interesse: Neurociências – Educação Inclusiva – Psicopedagogia Clínica e Institucional – Formação e Gestão em Educação a Distância – Formação de Docentes para o Ensino Superior. SUMÁRIO 1 METODOLOGIAS ATIVAS E OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM ........................................................................................................ 8 1.1 Taxonomia de Bloom................................................................................................................... 9 1.1.1 Taxonomia de Bloom revisada ................................................................................................. 11 1.2 Taxonomia de Fink .................................................................................................................... 15 1.3 Múltiplas inteligências de Gardner ............................................................................................ 16 1.4 Investigue seu próprio estilo de aprendizagem ......................................................................... 19 1.5 Papel do professor no desenvolvimento da aprendizagem do estudante ativo ....................... 19 1.6 Vamos relembrar o que é mediação ......................................................................................... 21 1.7 Características do professor tutor ............................................................................................. 24 1.8 Interdisciplinaridade................................................................................................................... 24 1.9 Multidisciplinaridade .................................................................................................................. 25 1.10 Transdisciplinaridade................................................................................................................. 25 1.11 Como conhecer o estudante? ................................................................................................... 26 2 METODOLOGIAS ATIVAS E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO .......................................................................... 30 2.1 Educação aberta ....................................................................................................................... 31 2.2 Objetos virtuais (ou digitais) de aprendizagem ......................................................................... 31 2.2.1 Plataformas de objetos ............................................................................................................. 32 2.3 Massive Open Online Course (MOOC) – Curso Online Aberto e Massivo............................... 33 2.3.1 Plataformas de MOOCs ........................................................................................................... 33 2.4 Laboratórios virtuais .................................................................................................................. 34 2.5 Ensino híbrido ............................................................................................................................ 37 2.6 Sala de aula invertida ................................................................................................................ 39 2.7 Aprendizagem por pares – peer instruction .............................................................................. 42 2.8 Metodologias baseadas em solução de problemas .................................................................. 44 2.8.1 Solução de problemas baseada no Arco de Maguerez ........................................................... 47 2.8.2 Aprendizagem baseada em equipes (TBL) – team based learning ......................................... 49 2.8.3 Método caso ............................................................................................................................. 51 2.8.4 Aprendizagem baseada em projetos ........................................................................................ 55 2.8.4.1 Expeditionary learning ........................................................................................................... 56 2.8.5 Simulações ............................................................................................................................... 57 2.9 STEM Education – Educação STEM ........................................................................................ 58 2.10 Produção textual ........................................................................................................................ 59 2.10.1 Produção de ebooks ................................................................................................................. 62 2.11 Produção de vídeos................................................................................................................... 63 2.12 Produção de áudio e o uso de podcasts ................................................................................... 64 3 METODOLOGIAS ATIVAS E CRIATIVIDADE ................................................ 67 3.1 Design thinking .......................................................................................................................... 67 3.1.1 Fases do processo de designthinking ..................................................................................... 68 3.1.2 Como funciona? ....................................................................................................................... 69 3.2 Processos de criação de storyboard ......................................................................................... 74 3.3 Processo de criação de storytelling (contar histórias e narrativas) ........................................... 75 3.3.1 Estruturando seu roteiro ou conteúdo ...................................................................................... 78 3.3.2 Digital storytelling ..................................................................................................................... 80 3.4 Dramatização – Role playing game .......................................................................................... 81 3.5 Utilização de filmes em sala de aula ......................................................................................... 83 3.6 Mapas conceituais ..................................................................................................................... 84 3.6.1 Aplicativos para construir mapas mentais (A REDE, 2015) ..................................................... 86 3.7 Trilha de aprendizagem ............................................................................................................. 87 3.8 Portfólio ..................................................................................................................................... 89 3.9 Aprender fazendo – cultura maker – hands-on – mão na massa ............................................. 90 4 GAMIFICAÇÃO E APLICATIVOS .................................................................... 98 4.1 Gamificação e aprendizagem baseada em games ................................................................... 98 4.1.1 Aprendizagem baseada em jogos x gamificação ................................................................... 100 4.2 Elementos de jogos ................................................................................................................. 101 4.3 Atividades com gamificação .................................................................................................... 105 4.4 Aprendizagem baseada em realidade virtual e realidade aumentada .................................... 107 4.5 Experiências com realidade virtual .......................................................................................... 108 4.6 Jogos ....................................................................................................................................... 109 4.7 Aplicativos ............................................................................................................................... 110 4.8 Reflexões sobre a aplicação das metodologias ativas nos cursos a distância ...................... 114 5 APRESENTAÇÃO As pessoas não gostam de ler, não gostam de escrever e não gostam de estudar. Você já ouviu essa colocação em seu ambiente de trabalho ou outro ambiente qualquer? As mudanças provocadas pela entrada do mundo na era da informação e a ascensão da internet, dos computadores pessoais e dos smartphones trouxeram alterações profundas à educação, mudanças que ainda buscamos assimilar para atuar em sala de aula, presencial ou a distância, de maneira mais condizente com os novos tempos. Nesse sentido, “ninguém gosta de ler e de estudar” é apenas um senso comum que destacou como a evolução tecnológica mudou a forma de ser das pessoas. O comportamento de nosso estudante também mudou junto com a tecnologia e ele já não gosta, ou não consegue ficar o tempo todo à mercê de um professor expositivo e sem motivação, o que exige de nós também a aplicação de novas formas de ensinar. Fonte: adaptado de Andrade (s/d). Será que estamos prontos para a educação 3.0 e 4.0? Como vamos encarar esse momento que exige uma educação colaborativa e ao mesmo tempo personalizada? As metodologias ativas, nas quais o estudante é o centro e o professor apenas um facilitador e orientador do aprendizado, passaram a ser buscadas, criadas, aprendidas, praticadas e retrabalhadas para atender ao principal objetivo de tornar o aluno um protagonista e responsável pelo seu próprio conhecimento. Fazem parte desse livro metodologias e formas de ensinar e aprender, que tenho certeza, você já usa ou usou em seu dia a dia na sala de aula: trabalho em 6 equipe, em duplas, grupos grandes e pequenos, trabalho conjunto e colaborativo, pesquisa antecipada, uso de filmes e aplicativos, jogos e tantas possibilidades. Não é objetivo desse livro-texto ensinar você a dar sua aula. O conhecimento sobre seu assunto de expertise é só seu e temos certeza de que você o detém muito bem, caso contrário não seria professor ou professora. O objetivo aqui é lançar luzes sobre novas possibilidades, apresentar ideias e lançar a curiosidade em um mundo a ser desbravado para que as formas de ensinar e de aprender estejam coerentes com o tempo desafiador em que vivemos. As propostas e modelos de ensino e aprendizagem não se esgotam aqui. Para dar conta desse tema, a primeira parte deste livro-texto está dividido em quatro unidades: Unidade I: Metodologias ativas e os processos de ensino e aprendizagem, no qual serão apresentadas possibilidades de compreensão de estudiosos que nos facilitarão criar os objetivos de ensino, pois é a partir deles que começam nossos planejamentos. Assim, serão trazidas a taxonomia de Bloom e sua revisão, a taxonomia de Fink e as múltiplas inteligências de Gardner e ainda formas de investigar os estilos próprios de aprendizagem. A Unidade II – Metodologias ativas e as tecnologias digitais da informação e comunicação apresentará muitos conceitos importantes sobre a educação baseada em metodologias ativas. Primeiro, precisamos lembrar de que tudo muda muito rapidamente quando estamos falando em tecnologias digitais. Também apresentará um panorama sobre o que há em educação na internet e como se está ensinando hoje: com base em solução de problemas, em trabalho em equipes, por projetos, com a sala de aula invertida, chamando a atenção do estudante antes da aula propriamente dita. A Unidade III: Metodologias ativas e criatividade dará sequência ao ferramental utilizado em sala de aula, com possibilidades criativas a partir de metodologias empresariais e profissionais que foram adaptadas para a educação, como o design thinking, o uso do storyboard e storytelling, entre outros. Na Unidade IV: Gamificação e aplicativos discutiremos a diferença entre gamificar e utilizar jogos existentes na internet e irá propor atividades para gamificar a aula, além de abordar a realidade virtual e aumentada, os jogos e os aplicativos que podem ser utilizados em favor da educação. Nessa unidade também vamos refletir em como transportar as técnicas ativas da sala de aula presencial para a educação a distância e suas possibilidades. Todas as unidades apresentam casos aplicados para melhor compreensão das ferramentas. Enfim, vamos conhecer um mundo com atividades nas quais o protagonista é o estudante e nós passamos a ser apenas o coadjuvante e facilitador de sua ação de aprender. Será um interessante caminho! Aproveite o conteúdo! 7 INTRODUÇÃO No início da popularização do telefone celular ele foi proibido de ser utilizado em sala de aula. Isso na época em que um telefone celular servia apenas para fazer e receber chamadas. Há tempos que não se utiliza o aparelho para essa finalidade, ainda que ele ainda a tenha, os usos são os mais diversos, como fazer fotografias e vídeos, navegar na internet, conversar com a família e com os amigos por meio de aplicativos, distrair-se por meio de jogos individuais ou interativos e a lista de possibilidades nãopara por aí. Da mesma forma, o perfil de quem entra num curso superior não é apenas o que imaginamos, que sejam os jovens saídos do ensino médio, por volta de 18 anos. Esses representam apenas 18% da sala de aula. Os outros são pessoas de todas as idades, com buscas diferentes e necessidades específicas, e só quem está atuando consegue observar essa diversidade. Faça uma ideia do que esperar então dos alunos de cursos a distância, que nem a proximidade física e nem o mesmo espaço e tempo compartilham! Para atender esse público cada vez mais heterogêneo e diferenciado o professor conta com sua mais poderosa tecnologia, que é seu corpo e sua voz, com algum equipamento, como giz e lousa, ainda um computador com ou sem acesso à internet e um telão. Uma caixa de som para possibilitar a transmissão de vídeos com áudio, por exemplo. Acostumados ao universo expositivo, falar, explicar, contar são seus verbos favoritos e até esses equipamentos mais tecnológicos como o Datashow e a internet, muitas vezes são dispensados. Ao darmos conta dessa realidade aparece uma pergunta que todos buscamos as respostas: como fazer o encontro perfeito com tamanhas divergências entre o que se espera, o que se transmite e o que se recebe? Como fazer essa ponte? As metodologias ativas têm sido uma resposta comum para os estudiosos da educação, pois colocam o protagonismo na figura do estudante, que passa a ter mais responsabilidade com o seu aprendizado e tira a responsabilidade única, que sempre foi do professor, das mãos dele, que passa agora a dividir com o estudante essa aventura que é o aprender. O acesso à informação está em todos os lugares. Os estudantes não precisam do professor para explicar ou falar de coisas que já estão por aí. Precisa de um professor provocador e inspirador, que os façam refletir e criar uma experiência crítica, que o faça ser capaz de ler o mundo na ótica da realidade, com as dificuldades e os problemas reais que ele vai encontrar na vida e no mundo do trabalho. Como fazer frente a essa dificuldade é o que vamos conhecer com as metodologias ativas e suas possibilidades de se diferenciar, problematizar e fazer o aluno pensar, colocando o papel do professor em segundo plano, e trazendo o foco para o estudante. 8 UNIDADE I 1 METODOLOGIAS ATIVAS E OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM As competências a serem desenvolvidas pelos estudantes para a atuação profissional, como a reflexão, criatividade, ética, criticidade, iniciativa, flexibilidade, autocontrole e comunicação, entre outras, não estão conseguindo ser transmitidas aos alunos pelas formas tradicionais de ensinar (BARBOSA; MOURA, 2013). Nesse sentido, as metodologias ativas se valem de diversas possibilidades. O princípio é que a educação passe a ser problematizadora e proporcione a construção de conhecimentos, ao considerar as experiências significativas e vivências pessoais do estudante, direcionando-o, por meio de seu material e conhecimentos prévios, ao desenvolvimento do raciocínio de forma ativa e capaz de propor soluções (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004). Para longe de redefinir escolas de educação e maneiras de ensinar, vamos apenas traçar uma lista das matrizes pedagógico-metodológicas relativas ao ensino apresentadas por Araújo (2015): a primeira mais longeva, a segunda já centenária, e as três últimas surgidas a partir da segunda metade do século XX. São elas pela ordem cronológica de emergência: a) tradicional; b) escolanovista (ativa); c) libertadora; d) tecnicista; e e) histórico-crítica. Para o autor, a metodologia ativa (identificável também por escola ativa ou escolanovismo) está centrada na aprendizagem, o que significa uma hegemonia do aluno sobre o professor, dispensando, de certa forma, o mesmo. O aluno seria um autoaprendiz. Metodologias ativas são aquelas que colocam o docente como facilitador e o discente no papel principal na busca de seu conhecimento, seja fazendo pesquisas, refletindo aprendendo a tomar decisões, ele se torna o protagonista de seu próprio aprendizado. Podemos observar que dessa forma, por meio de experiências reais ou simuladas voltadas para a solução de problemas, o estudante possa atingir os objetivos propostos para os diversos contextos. Bastos (2006) define metodologias ativas como ferramentas que possibilitam capacitar o estudante a analisar situações com ênfase nas condições locais e regionais, colocando-o na condição de solucionar problemas. O objetivo das metodologias ativas é colocar o estudante como centro e foco do conhecimento e da aprendizagem, como ele aprende e o que realmente aprende e faz sentido para ele, e não pelo foco do professor, pelo que quer ensinar e o que faz sentido para ele. A apresentação do livro Metodologias ativas para uma educação inovadora de Almeida (2018) aponta como principal característica das metodologias ativas a transformação das aulas “em experiências de aprendizagem mais vivas e significativas para os estudantes da cultura digital”, uma vez que essa geração tem expectativas para com o ensino e sua própria aprendizagem muito diferentes das gerações anteriores. 9 1.1 Taxonomia de Bloom A taxonomia de Bloom é utilizada para classificar objetivos de aprendizagem e foi apresentada em 1956 pela primeira vez, com a publicação de “A Taxonomia dos Objetivos Educacionais, a Classificação das Metas Educacionais, Manual I: Domínio Cognitivo” (no título original: “The Taxonomy of Educational Objectives, The Classification of Educational Goals, Handbook I: Cognitive Domain”), (BLOOM et al., 1956). Taxonomia é a ciência de classificação, denominação e organização de um sistema pré-determinado e que tem como resultante um framework conceitual para discussões, análises e/ou recuperação de informação (SIGNORI et al., 2016). Se tão diferente é a realidade e sua busca por conhecimento passou por tantas mudanças, vamos compreender o que diz Bloom et al. (1956), que desenvolveu junto com outros pesquisadores, uma hierarquia, uma taxonomia dos objetivos de processos educacionais sobre as três capacidades que o conhecimento deve envolver e desenvolver no estudante: a cognição, a afetividade e a psicomotora. Com o passar do tempo, diversos autores foram inferindo sobre a taxonomia de Bloom. Ferraz e Belhot (2010) resumem as características dos domínios, baseado em diversos autores (GUSKEY, 2001; BLOOM et al., 1956; BLOOM, 1972; SCHOOL OF EDUCATION, 2005; CLARK, 2006), que resumidamente se apresenta na tabela 1, com as categorias que podem compor os objetivos de aprendizagem. 10 Tabela 1 – Domínios e categorias da taxonomia de Bloom TIPO DE DOMÍNIO CATEGORIAS Domínio cognitivo (habilidades mentais) Conhecimento conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. Domínio afetivo (habilidades emocionais) Atitude receptividade, resposta, valorização, organização e caracterização. Domínio psicomotor, (habilidades físicas) Habilidades imitação, manipulação, articulação e naturalização. Fonte: elaborada pela a autora. Garcia (2018) sobre a taxonomia de Bloom et al. (1956), explica que: […] a cognição se dá pelas habilidades hierarquizadas, conforme o grau de complexidade de seu processamento. Nessa hierarquia, o conhecimento é o nível mais primário, passando pela compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação, o nível mais complexo. Na prática, parte-se do objetivo de aprendizagem, organizando hierarquicamente do ponto mais simples para o mais complexo, de forma sucessiva até que o domínio esteja aprendido e o estudante seja capaz de alcançar o próximo nível. Originalmente, Bloom et al. (1956) ordenou da seguinte forma: Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação. Para a criação de objetivos de aprendizagem pode-se exemplificar com o uso dos seguintes verbos (tabela 2): 11 Tabela2 – Taxonomia de Bloom com verbos Capacidade Definição Verbos, palavras-chave Conhecimento Memorizar e lembrar a informação Identificar, descrever, nomear, rotular, reconhecer, reproduzir, seguir Compreensão Entender significados e conceitos Resumir, converter, defender, parafrasear, interpretar, exemplificar Aplicação Utilizar a informação em uma outra situação Criar, fazer, construir, modelar, prever, preparar Análise Dividir o conceito em partes para compreendê-lo de forma mais ampla Comparar/contrastar, dividir, distinguir, selecionar, separar Síntese Juntar as ideias para criar algo Categorizar, generalizar, reconstruir Avaliação Fazer julgamentos de valor Avaliar, criticar, julgar, justificar, argumentar, respaldar Fonte: elaborada pela autora. Bloom et al. (1956) apontam duas vantagens principais: contribuir para a criação de instrumentos de avaliação e ainda de estratégias que instiguem e facilitem o desempenho dos alunos na aquisição de conhecimentos e como motivador para os professores ajudarem os estudantes na aquisição de competências que se ampliem de forma gradativa, do mais simples para o mais complexo. Na visão de Signori et al. (2016), a maioria dos educadores desconhecem a forma adequada de utilizar o instrumento. Assim, os professores vêm utilizando a taxonomia de Bloom para criar e escrever os objetivos de aprendizagem, o que determina a forma de ensinar e de aprender. Apesar de já ter mais de 60 anos, a hierarquização de Bloom é atual para a aplicação de metodologias ativas e para o contexto de ensino e aprendizagem, cujos domínios foram discutidos por diversos autores ao longo do tempo. Os professores têm utilizado o aspecto cognitivo, que é o mais conhecido. 1.1.1 Taxonomia de Bloom revisada Alguns pesquisadores e Lorin Anderson, antigo aluno de Bloom, em 1999 (2001), atualizaram a Taxonomia de Bloom, considerando outros fatores a afetar o ensino e a aprendizagem. Essa taxonomia revisada tenta corrigir alguns problemas 12 da taxonomia original, e diferencia, o “saber o quê” – o que se pensa, o próprio conteúdo do raciocínio, do “saber como” – conhecer os procedimentos para resolver problemas. O conhecimento é o “saber o quê” e se divide em quatro categorias: factual, conceitual, procedimental e metacognitiva. O conhecimento factual apresenta os termos e ideias de forma isolada, como as definições de vocabulário e diversos detalhes específicos ligados ao assunto. O conhecimento conceitual se apresenta com sistemas de informação, como classificações e categorias. O conhecimento procedimental é o “saber como fazer” e inclui técnicas e métodos, modelos matemáticos, algoritmos, heurística e método empírico, que indiquem a forma de usar os procedimentos. O conhecimento metacognitivo refere-se à “reflexão sobre o que se sabe”, indicando o domínio e conhecimento dos processos cognitivos e das informações, podendo manipulá-los de forma eficaz. A dimensão cognitiva da Taxonomia de Bloom revisada também possui seis capacidades, da mais simples à maior complexidade: lembrar, entender, aplicar, analisar, avaliar e criar. Na figura 1 é possível conhecer a hierarquização das capacidades na dimensão cognitiva. Figura 1 – Taxonomia original e atualizada de Bloom Bloom et al. (1956) Anderson et al. (2001) Fonte: adaptado de Klafke (s/d). Ao pensarmos na aplicação dos objetivos de aprendizagem no modelo revisado de Bloom, podemos criar uma tabela adaptada de Anderson et al. (2001) apud O’Neill e Murphy (s/d) (tabela 3): 13 Tabela 3 – Dimensões da taxonomia de Bloom revisada Fonte: Anderson et al. (2001) apud O’Neill e Murphy (s/d). Vamos conhecer um exemplo prático sobre definições de objetivos no modelo de Bloom revisado. Vamos supor uma aula de comunicação mercadológica, dentre de um curso de Comunicação Empresarial. Os objetivos do professor são os seguintes (tabela 4): Objetivo 1: Avaliar e comparar as ferramentas de comunicação. Objetivo 2: Aplicar as ferramentas de comunicação. Objetivo 3: Criar modelos de ferramentas de comunicação. 14 Tabela 4 – Objetivos no modelo de Bloom revisado Dimensão do conhecimento Dimensão do processo cognitivo 1. lembrar 2. entender 3. aplicar 4. analisar 5. avaliar 6. criar a. Factual Entender em quais ocasiões elas se aplicam melhor. Analisar os possíveis resultados das aplicações das ferramentas de comunicação. b. Conceitual Lembrar os objetivos de cada ferrament a de comunica- ção Avaliar e comparar os resultado s de aplicação de comunica -ção c. Procedi- mental Aplicar as ferramen- tas de comunica- ção nas situações apresenta- das. d. Metaco- nhecimento Criar novas comunica ções para as empresas a partir de objetivos definidos. Fonte: elaborada pela autora (2019). A taxonomia de Bloom foi sempre muito utilizada para a elaboração de objetivos educacionais, principalmente na dimensão do conhecimento. 15 1.2 Taxonomia de Fink A classificação dos objetivos de aprendizagem pode ser feita de outras maneiras e agora vamos conhecer o modelo de Fink (2003). Diferente de Bloom, a taxonomia de Fink (2003) não apresenta os objetivos de forma hierárquica e cobre a intersecção de domínios com a exceção do domínio psicomotor. É similar à taxonomia de Anderson (2001) em sua ênfase na metacognição (aprendendo a aprender) e inclui um efeito mais efetivo da dimensão humana e “carinho: identificando / mudando os sentimentos”. Fonte: adaptado de Fink (2013). Dee Fink não coloca os objetivos em ordem de complexidade, mas interligados uns aos outros. Vamos conhecer alguns exemplos de objetivos apresentados por Fink (2013, p. 37). Aprendizagem sobre aprender: os alunos serão capazes de saber como se tornar estudantes melhores, como pesquisar e construir conhecimento, como buscar conhecimento por si próprios; Afeição: os alunos gostarão de ser bons estudantes, ficarão empolgados com uma atividade ou um assunto, desenvolverão um compromisso para viver corretamente; Dimensão humana: os alunos aprenderão como ser líderes efetivos, como desenvolver uma atitude ética e de caráter, como ter responsabilidade pelos próprios atos, como aceitar a diferença dos outros, como trabalhar em equipe, como servir, entre outros; Integração: os alunos conectarão diferentes disciplinas, pessoas, domínios da vida; 16 Aplicação: os alunos analisarão questões e situações, resolverão problemas, desenvolverão capacidade de decisão, criarão ideias, executarão projetos complexos; Conhecimento fundante: memorização e entendimento de ideias, informações, conceitos gerais. 1.3 Múltiplas inteligências de Gardner Podemos buscar nos estudos de Gardner (1994) e as múltiplas inteligências, inspiração para a aplicação das metodologias ativas. O autor, nos anos 1980, apresentou nove formas de compreensão do conhecimento, conforme características pessoais, que chamou de nove tipos de inteligências, as inteligências múltiplas, que apesar de diferentes, são complementares entre si: verbal ou linguística, lógico- matemática, musical, visual ou espacial, corporal ou cinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalista e existencialista. As inteligências naturalista e existencialista apareceram nas obras mais recentes do autor (GARDNER, 2007). Segundo o psiquiatra americano William Glasser (1925-2013), autor da teoria do controle e da escolha, na qual o professor é um guia para o aluno e não um chefe. A teoria da escolha do autor aplicada à educação, apresenta que não se deve trabalhar apenas com memorização, pois os conceitos serão esquecidos rapidamente. O autor sugere que o estudante realmente aprende quando está fazendo algo. Como Bloom e seus contemporâneos, Glasser confirma que as pessoas aprendem de formas diferentes e as ferramentasutilizadas devem ser diferentes para garantir o aprendizado de todos. O grau de aprendizagem também ocorrerá de acordo com a técnica utilizada. Não existe um percentual correto para cada tipo de aprendizado, conforme aparece em uma pirâmide largamente distribuída na internet e que é atribuída ao autor e a Edgar Dale (1900-1985), um educador americano, que desenvolveu o “Cone da Experiência de Dale” (figura 2). Dale fez um estudo para incorporar materiais audiovisuais na experiência de aprendizado em sala de aula. A figura 2 foi reproduzida de Wallace (2015), que apresenta uma fotocópia do livro do autor: Métodos audiovisuais no ensino (da edição de 1969). 17 Figura 2 – Cone da Experiência de Dale Fonte: Dale (1969) apud Wallace (2015). Assim, vou manter a pirâmide de aprendizagem com os percentuais apenas para termos um ponto de partida e porque contempla nossos objetivos de aprendizagem (figura 3). Figura 3 – Adaptação da pirâmide da aprendizagem Fonte: Garcia (2018) adaptado de Pirâmide de aprendizagem de William Glasser (1986) e National Training Laboratories Bethel, Maine. Os estilos de aprendizagem e formas de se conquistar o conhecimento não estão restritos a esses modelos citados. Existem muitos outros e a internet apresenta Símbolos verbais Símbolos visuais Gravações de rádio / Imagens paradas Imagens em movimento Televisão educacional Exposições Viagens de estudo Demonstrações Experiências dramatizadas Experiências inventadas Experiência direta com propósito 18 diversos locais para se testar a forma de aprendizagem mais adequada para a pessoa, baseado em preferências pessoais. 19 1.4 Investigue seu próprio estilo de aprendizagem Para conhecermos como o aluno aprende precisamos compreender como nós mesmos aprendemos. Para colocar o estudante no foco e no centro, o professor também precisa conhecer essa experiência. Assim, investigar seu próprio estilo de aprendizagem é interessante nesse ponto. Teste de Kolb Conheça o teste para conhecer seu estilo de aprendizagem desenvolvido por David A. Kolb, que por meio de 12 sentenças que tratam de situações do dia a dia descreve a maneira como você aprende. http://www.cchla.ufpb.br/ccmd/aprendizagem/ Teste de Fleming e Mills, baseado nos estilos VARK. Neil Fleming, Christchurch desenvolveu em 1987, na Nova Zelândia, uma série de perguntas com folhas de atividades para alunos, professores, funcionários, clientes, fornecedores e outros, conforme a necessidade. VARK significa, do inglês, visual, aural, read-write, kinesthetic – visual, auditivo, ler- escrever, cinestésico. Este está no original em inglês: http://vark-learn.com/the-vark-questionnaire/ Teste de Felder e Soloman Teste para estilos de aprendizagem desenvolvido por Richard M. Felder e Barbara A. Soloman, da North Carolina State University. https://www.webtools.ncsu.edu/learningstyles/ 1.5 Papel do professor no desenvolvimento da aprendizagem do estudante ativo A inserção das TDICs na educação em geral e na educação a distância, por natureza, tem trazido mudanças à docência, às formas de ensinar e de aprender. Claro que a forma de ensinar passa a ser diferente quando se utiliza as tecnologias, que muda o professor e as próprias organizações. Na visão de Belloni (2003), o uso dos meios tecnológicos traz mais complexidade ao ensino, o que leva à segmentação do ato de ensinar em tarefas múltiplas, segmentação esta que é a principal característica do ensino a distância. O professor sai de seu papel de todo poderoso e dono do conhecimento e passa a ter uma posição de acompanhamento e facilitação, tratando do estudante e dos grupos de forma colaborativa (CAETANO; LORI, 2014). Mill (2013) fala em um http://www.cchla.ufpb.br/ccmd/aprendizagem/ http://vark-learn.com/the-vark-questionnaire/ https://www.webtools.ncsu.edu/learningstyles/ 20 professor mais orientador. Essa posição se repete tanto no ensino presencial, quanto na educação a distância. O aumento do número de vagas a distância e a incorporação das TDICs no processo educacional estão diretamente ligados ao aumento do interesse pela realização de pesquisas na área (VELOSO et al., 2019). A concepção da educação a distância prevê, como um dos elementos mais importantes, a ação do professor mediador. Souza et al. (2016) avalia que o docente formador inclui o tutor online, que busca mediar as relações que se travam entre alunos e conhecimentos, buscando uma aprendizagem e construção coletivas, para atingir o propósito transformador e inclusivo suscitado pela EaD. Para o autor, a relação de empatia e de cooperações entre os educandos deve ser proposta pelo professor-tutor. Souza et al. (2004) apresentam o tutor como mediador, numa realidade de alunos mais participativos. “A figura do tutor como um mediador, motivador e orientador das atividades, o qual deve proporcionar as condições para o aprendizado de todos” (SOUZA et al., 2004). Moran (2009, p. 58) relembra a pedagogia construtivista, na qual o envolvimento de quem aprende é o ponto chave, tirando o professor do papel de transmissor para o de mediador, o que exige uma mudança de comportamento, de paradigma de como se ensina e se aprende. O autor comenta que aprender é uma experiência única e individual e não é uma atividade uniforme, sendo que educar é ajudar os alunos a construir sua identidade e seu caminho profissional e pessoal, desenvolvendo habilidades como emoção, compreensão e comunicação para que possam encontrar seus próprios espaços, sejam sociais, pessoais, ou profissionais, tornando-se assim, cidadão produtivos e realizados. Para Alonso (2005), um dos principais desafios é relação entre professor e aluno, que ao terem contato com a forma midiatizada da EaD, precisa pensar continuamente no modo, na motivação e na finalidade do processo educacional. As habilidades no uso das tecnologias, tão importantes no início da popularização dos cursos a distância, são já condições assimiladas pelos atores envolvidos com educação a distância. A busca se foca agora na atuação de um professor que recebe variados nomes como facilitador, mediador e mentor. No âmbito da educação a distância com a fragmentação e divisão do trabalho, esses codinomes aumentam sendo alguns professores conteudistas, professor da disciplina, docentes de apoio, docente supervisor, professor consultor, docente coordenador de curso, docente coordenador de polo. E ainda os tutores, a distância ou presenciais, que levam a uma outra discussão, sobre se devem ser tratados como professores tutores, apenas tutores ou professores apenas. Thadei (2018) apresenta que já é um lugar comum que o professor visto como transmissor de informações deu lugar, ou pelo menos deveria ter dado lugar, a um professor mediador entre o sujeito e o objeto do conhecimento e classifica como um “jargão pedagógico a expressão “professor mediador” (ou apenas mediador) vinculada a relatos de práticas que se distanciam do verdadeiro sentido de mediação ou revelam uma compreensão rasa do conceito” (THADEI, 2018, p. 91). A ação do professor como mediador, no entanto, é dificultada por diversos fatores, comenta ainda a autora, seja pela falta de conexão entre teoria e prática na formação dos professores, que são ainda influenciados pelos modos tradicionais de ensino, que são replicados na graduação e nos estudos anteriores, ficando os 21 profissionais sem desconstruir esse modelo na formação do professor, refletindo na dissonância entre teoria e prática (THADEI, 2018). Podemos depreender que os novos professores não conseguem inovar no ensino, ao perpetuar a postura de transmissor de informações, com marcas da instrução obtida por seus professores anteriores. Thadei (2018) define ainda que muito dessa reprodução das práticas tidas como antigas e desconectadas da realidade, deve-se ao conhecimento superficial sobremediação e até sobre como realizar a tarefa de mediar e as razões pelas quais deve-se propiciar a aprendizagem mediada. Na visão de Souza et. al. (2004), a EaD configura-se como uma forma mais participativa entre a figura do tutor e dos estudantes, tutor esse visto não só como orientador de atividades, mas antes como um motivador e mediador do aprendizado, aquele que traz as condições para que se realize o aprendizado de todos. A formação continuada e constante é uma prática necessária às atividades do profissional da tutoria, pois dessa forma podem manter-se atualizados em relação à área de atuação, com a busca da prática reflexiva (ROSSI, 2019). 1.6 Vamos relembrar o que é mediação Ao pesarmos no contexto pedagógico, entende-se que a mediação refere-se aos aspectos que ocorrem na ação de ensinar e de aprender, ao ensino e aprendizagem, elementos principais do processo educativo. “De acordo com a abordagem sócio-histórico-cultural, ensinar e aprender são processos interativos, nos quais quem ensina também aprende” (THADEI, 2018, p. 92). Nota-se que a mediação pedagógica é uma das principais atribuições dos educadores em geral, prática que se mostra relevante quando o contexto educacional é a distância. Mello e Soares (2013) apontam o mediador com ação principal no ato de incentivar e motivar o estudante a um estudo significativo, seja pela pesquisa que deve realizar, pela participação nas discussões, exploração dos conteúdos e o aprofundamento desejado e articulador entre a teoria e a prática. Na atuação do docente como mediador, deve acompanhar o processo, mas estimulando a autonomia e a aprendizagem colaborativa, sendo um facilitador e orientador educacional, que motiva a troca de conhecimentos e experiências. Se assim ocorrer, a atuação será coletiva entre docentes e discentes, que juntos buscam e atingem uma educação de qualidade (SOUZA et al., 2015). A mediação aparece em dois contextos diferentes: humana e tecnológica, uma ligada e permeada pela outra, segundo a visão de Mello e Soares (2013). A primeira ocorre com o sistema de tutoria e a segunda como um sistema de comunicação que vai permitir a mediação pedagógica. Pode-se observar que os dispositivos cada vez mais ágeis, portáteis e integrados, carregando com eles os recursos da comunicação síncrona e assíncrona, potencializam as mediações. Para Mello e Soares (2013), o estudante de EaD é um tomador de decisões sobre seu próprio processo de formação, e o faz com independência e autonomia, perfil que exige do aluno uma atitude séria e sistemática na busca do aprendizado. Souza et al. (2015) relembra que a autonomia do estudante faz surgir a figura do mediador, que é o tutor, que deve ser encarado como um orientador, que instiga ideias 22 e sugere possibilidades, trazendo a interação gradativa entre os alunos, o conteúdo, e professor e as práticas do curso. Outra característica que o tutor deve fazer aflorar entre os estudantes é o pensamento criativo, para que novas ideias significativas possam surgir do trabalho conjunto. Moore (2014) discute as interações na educação a distância a partir dos contatos: aluno-professor, aluno-aluno e aluno-conteúdo, propondo um acordo mínimo na comunidade para a compreensão das diferenças nos três tipos de interação. Mattar (2014) apresenta outras categorias somadas ao que propôs Moore e, ao refletir sobre as diversas formas de mediação encontradas na literatura, entende a mediação por camadas que se complementam: aluno/professor; aluno/conteúdo; aluno/aluno; professor/professor; professor/conteúdo; conteúdo/conteúdo; aluno/interface; autointeração (reflexão sobre si mesmo e seu aprendizado); e a interação vicária (observação e interação com os colegas, ou destes com o professor, para processar seu próprio aprendizado). Mattar apresenta uma hierarquia para as mediações, conforme figura 4. 23 Figura 4 – Hierarquia para as mediações Fonte: Mattar (2014). A mediação correta provoca reflexão e autorreflexão, com tomada de consciência e transformação. Isso é possível quando o professor tutor consegue acompanhar o estudante ao longo do processo e participa da transformação própria e do estudante. Na visão de Nicolodi (2013), isso só será possível com a adoção de uma postura aberta e a aprendizagem transformadora em sua prática docente, pois ao transformar-se torna-se capaz de incentivar a transformação do outro. O papel do professor torna-se crucial para a mudança de paradigma. O professor, acostumado a ser o centro, passa a ser coadjuvante e o estudante, acostumado a ser ouvinte, passa ao protagonismo. Para essa nova conduta, podemos concordar com Almeida (2018), que comenta que professores precisam ter “habilidades, competências didáticas e metodológicas para as quais eles não foram e não estão sendo preparados”. 24 1.7 Características do professor tutor Como deve ser e quais conhecimentos precisa ter o professor tutor? Nos primórdios da EaD pela internet o que se prezava muito era o conhecimento e facilidade para usar a tecnologia, além de conhecer os conteúdos ministrados. Esses eram os conhecimentos fundamentais apontados pelos estudiosos e pelos próprios professores para a execução da tarefa de mediar o aprendizado. Souza et al. (2015) questiona a relevância da mediação pedagógica no contexto da EaD e quais são as características que o educador precisa apresentar para que cumpra bem sua função, ao apresentar uma revisão bibliográfica que investiga o papel do mediador e mostra alguns traços do perfil esperado para o professor a distância. O autor apresenta que o professor-tutor precisa ter, idealmente, afetividade, compreensão de suas responsabilidades, compromisso com o processo educacional transformador, trazendo essa perspectiva para o seu próprio aprendizado, com visão de formação e transformação continuada, conhecer os conteúdos e os recursos que serão utilizados como objeto e ainda adotar postura colaborativa e compreender para atuar adequadamente com a diversidade dos estudantes. Os cursos superiores e seus projetos pedagógicos abordam a educação por meio da problematização e da solução de problemas, necessidade premente da contemporaneidade, cujas estratégias e metodologias abordadas devem caminhar para que se prepare o estudante, por meio da inter e da transdisciplinaridade, com uma comunicação significativa, que comporte o diálogo e a flexibilização de processos e conteúdo, apoiados na interação entre professores e alunos, num relacionamento colaborativo de fato. 1.8 Interdisciplinaridade A interação entre o homem, a sociedade e a natureza na busca pela totalidade social nas relações entre si e entre todos esses elementos. A interdisciplinaridade busca juntar o conhecimento racional e conhecimento sensível, e integrar os saberes que são tão distintos, mas que não se separam na produção do sentido da vida. Deve ser uma busca constante na educação e no trabalho, uma vez que a elucidação de questões fundamentais, como a forma que o homem conhece, aprende e se manifesta com a natureza e com a sociedade, se dê de forma isolada, fragmentada ou integrada, colocando sentido na própria interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade busca juntar a ruptura causada pela fragmentação instituída pela ciência moderna e pelo capital, seja na cultura, no trabalho ou na educação, frutos da ciência moderna que se viu esfacelada pela multiplicação das ciências, que se apresenta de forma cada vez mais especializada (JAPIASSÚ, 1976). Com as ciências divididas em muitas disciplinas, no final do século XIX, a busca pela interação e o diálogo entre elas torna-se mais forte. Na educação, essa preocupação destaca-se no início do século XX, com a abordagem da transdisciplinaridade, que Piaget (1981, p. 52) mostra como o “intercâmbio mútuo e 25 integração recíproca entre várias ciências”. Para o autor, a interdisciplinaridadese apresenta como a interação entre as ciências de forma a não haver mais fronteiras entre as disciplinas, conduzindo, portanto, à transdisciplinaridade. Piaget (1981) coloca a transdisciplinaridade como a integração total das ciências, como uma fase posterior e integradora que a interdisciplinaridade alcançaria nas interações entre as partes especializadas, alcançando um sistema total. 1.9 Multidisciplinaridade Muitas disciplinas, juntando diversos saberes, com muitos especialistas, pesquisadores, estudiosos e profissionais ao tratar de seus pontos de vista sobre um único objeto. Podemos tratar a multidisciplinaridade como o estudo, a avaliação de diversos olhares de muitas disciplinas sob um único objeto. Cada disciplina e especialista da área trará suas observações a partir de seus conhecimentos e saberes, não há contato e articulações entre esses diferentes pontos de vista. 1.10 Transdisciplinaridade A realidade é que o conhecimento é uma construção no qual estudante e professor se juntam e se separam, numa relação que não é estática, em que um apenas ensina e o outro apenas aprende. A prática do ensino e troca de posição constante vai proporcionando vivências e experiências, de um lado e de outro, trazendo consistência ao aprendizado, sendo objetivo e resultado para ambos. Então quem ensina também transforma seu conhecimento e quem aprende também transmite a quem ensina. Segundo Teixeira (2015), a transdisciplinaridade busca a unidade do conhecimento, com a articulação de elementos que entremeiam e perpassam diversas disciplinas, encontrando assim uma nova realidade na compreensão da complexidade. Além disso, do ponto de vista humano a transdisciplinaridade é uma atitude empática de abertura ao outro e seu conhecimento. Piaget usou o termo originalmente no I seminário Internacional sobre pluri e interdisciplinaridade, realizado na Universidade de Nice, em 1970, iniciando os estudos sobre a possibilidade de as ciências e disciplinas ultrapassarem e atravessarem seus limites. 26 Conheça três artigos científicos sobre interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade: https://www.scielosp.org/article/icse/1998.v2n2/173-182/pt/ https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/917/803 https://repositorio.unesp.br/handle/11449/181516 Fonte: Pixabay (2019)1 Fonte: Pixabay (2019)2 1.11 Como conhecer o estudante? A aplicação dos conhecimentos que visem colocar o estudante no foco e ensinar de forma que ele aprenda verdadeiramente só pode ser feita se conhecermos e compreendermos bem o nosso aluno. E essa é reflexão principal que precisamos fazer ao repensarmos nossa maneira de dar aulas. Será que estamos colocando o estudante no centro e pensando do ponto de vista dele? Vamos conhecer uma adaptação de atividade realizada pela Profa. Maria Célia Mitidiero, conforme apresentado em fórum de aprendizagem em curso fechado. Para ter uma noção da classe, a professora aplica o método para conhecer o aluno e desenvolver os objetivos de aprendizagem e adaptar os casos a serem estudados, os temas a serem tratados. 1 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2018/01/17/07/06/laptop-3087585_960_ 720.jpg. Acesso em: 31 out. 2019. 2 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2015/07/17/22/44/student-849828_960_ 720.jpg. Acesso em: 31 out. 2019. https://cdn.pixabay.com/photo/2015/07/17/22/44/student-849828_960_720.jpg 27 Atividade de aplicação Perguntas que podem ser feitas aos alunos com a finalidade de conhecê-los melhor: Perguntas sobre dados básicos para ter uma noção geral e da diversidade da sala de aula: nome, idade, atuação profissional, cidade (ou bairro) onde mora, e outras. Perguntas sobre interesses gerais dos estudantes, como filmes ou séries de que gostam, livros que leram, programas que se interessam por fazer, entre outras. Essas questões trazem maior proximidade e as respostas a essas perguntas podem contribuir diretamente para os exemplos, os materiais e os casos que serão trabalhados em sala de aula; Perguntas sobre motivação dos estudantes, como o que os levaram a fazer o curso, o que eles pretendem fazer depois de concluí-lo, por que se inscreveram na disciplina (mais apropriada para disciplinas optativas), entre outras. Essas perguntas contribuem para que o professor possa tentar conciliar os seus objetivos como docente, os objetivos da instituição e a motivação dos alunos, trazendo casos ou conteúdos mais interessantes para eles. Perguntas sobre dedicação e autoaprendizagem, como quantas horas eles podem se dedicar para o curso, como um todo ou para a disciplina, que objetivos eles gostariam de fixar para si mesmos no curso, o que eles esperam da disciplina, quanto eles acham que aprenderam, e outras. As respostas podem contribuir para que o professor tente conciliar os seus objetivos com os dos alunos ou, ao menos, deixar claras as expectativas que eles devem ter em relação à disciplina. Após essa reflexão a professora propõe a criação da mandala Ikigai, uma ferramenta utilizada em processos de coaching, que representa um conceito japonês para conhecer o propósito de vida da pessoa. 28 Fonte: adaptado de Naprática (2019). Fonte: adaptado de Naprática (2019). Os estilos de aprendizagem e como as pessoas aprendem se transformam numa importante ferramenta quando se fala em metodologias ativas. Ao sabermos como elas aprendem podemos propor as melhores formas em nossas atividades em sala de aula. Na sequência das próximas unidades vamos conhecer a utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação e como elas podem ser abordadas na educação. 29 Esta unidade apresentou as definições para metodologias ativas e como se tem pensado o conhecimento nesses tempos de tecnologias digitais disponíveis e móveis. Assim, foram detalhadas a taxonomia de Bloom e sua consequente revisão, a taxonomia de Fink e as múltiplas inteligências de Gardner. Todas elas foram apresentadas com a função de refletirmos sobre como colocar o foco do ensino no estudante, fazendo com que ele seja o protagonista de seu próprio conhecimento. Assim, apresentamos formas de investigação para conhecer os estilos de aprendizagem. Outro foco importante do capítulo trata do papel do professor e as características esperadas para o desenvolvimento desse estudante ativo em seu próprio aprendizado e não um depósito de conhecimentos que a postura antiga do professor representava. Foram destacados ainda os conceitos de mediação, interdisciplinaridade, multi e transdisciplinaridade. 30 UNIDADE II 2 METODOLOGIAS ATIVAS E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs ou TICs) são uma realidade há pelo menos 20 anos, com mais intensidade, nos últimos dez, e ainda estamos engatinhando em seu aprendizado e nas possibilidades de uso na sala de aula. Com a popularização das TICs, a informação passou a estar disponível de forma ampla e o professor passou a ser um orientador e facilitador do aprendizado do estudante. O papel de expor e contar o que aprendeu deve passar para a mão do estudante, que com acesso à informação em muitos e variados formatos, pode falar e explicar para o professor e para os colegas sobre o que aprendeu. Na visão de Mota (2016), tornar a metodologia de ensino dinâmica e flexível para propiciar o conhecimento é um dos usos das TICs. O autor opina que “a formação de cidadãos aptos a desempenhar tarefas complexas e dispostos a enfrentar os desafios das novas e desconhecidas demandas, por meio do uso intenso e consciente de tecnologias inovadoras, é essencial para a educação contemporânea”. A internet possibilitou, de acordo com Valente (2014, p. 145), “as TDICs podem estar interligadas em rede e, por sua vez,interligadas à Internet, constituindo-se em um dos mais poderosos meios de troca de informação e de realização de ações cooperativas”. A mudança de postura do estudante e do professor, fruto de mudanças estruturais da própria sociedade traz muitas possibilidades na forma de aprender e de ensinar. Dessa forma, não podemos admitir que a aula expositiva seja a principal escolha do professor, pois ela não ajuda na construção do conhecimento, conforme Fonseca e Mattar (2017), que mostram que as TDICs facilitam as abordagens de aprendizagem ativa. Sobre essas metodologias e suas aplicações vamos tratar nesse livro-texto. Transformar a aula em uma experiência de aprendizagem viva é desafiador e entre as metodologias ativas, temos um cardápio bem rico para escolher, na visão de Mattar (2017): problematização e aprendizagem baseada em problemas (PBL), aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em games, método do caso, gamificação, sala de aula invertida, peer instruction e design thinking, entre outras. Xanthopoylos (2017) destaca a característica do autodidatismo do estudante em primeiro plano e amplia ainda o estudo blended ou híbrido, simuladores e tecnologias baseadas em realidade virtual, realidade aumentada, Learning Analytics, entre outras. Não se pretende esgotar o assunto das metodologias ativas e suas possibilidades, mas apresentar muitas ferramentas que possam ser aplicadas. http://inoveduc.com.br/author/stavros-xanthopoylos/ 31 2.1 Educação aberta A transformação digital e os avanços tecnológicos colocam a educação numa ponta em que a disponibilização de recursos gratuitos é inevitável por meio da educação aberta, que promove a ideia de que os recursos criados podem e devem ser reutilizados, retratados, refeitos para atender necessidades específicas regionais. Alunos e professores e pessoas de qualquer área podem criar materiais e disponibilizá-los gratuitamente nos ambientes específicos para isso. A implementação de políticas de Educação Aberta e Recursos de Educação Aberta (REA) consistem no conceito de que materiais financiados por recursos públicos devem ser acessíveis a todos. Nesse sentido os recursos devem ser produzidos em softwares livres e terem a licença comum para reutilização, por meio da Creative Commons. Esses recursos passam a fazer parte de recursos da educação aberta, que já tem sido adotada em diversos países. Nos Estados Unidos, Califórnia, as compras públicas de livros dão prioridade para obras didáticas com licenças livres. O estado de Washington publica na internet, todo o material dos cursos, em formato de REA, por meio do projeto Open Course Library (Biblioteca de Cursos Abertos). A Polônia tem um dos programas mais reconhecidos de livro aberto do mundo. A Eslovênia adotou uma política pública de estado para a educação aberta, denominada Opening Up (https://aberta.org.br/estrategia-digital-brasileira-destaca-recursos-educacionais- abertos-rea/). Conheça mais sobre educação aberta em: https://aberta.org.br https://www.educadigital.org.br/site/ http://www.cieb.net.br/cieb-estudos-inovacao-aberta-em-educacao-conceitos-e-modelos- de-negocios/ 2.2 Objetos virtuais (ou digitais) de aprendizagem Os objetos digitais de aprendizagem são utilizados para apoiar a prática pedagógica dentro e fora de sala de aula, e podem ser jogos, animações, simuladores e videoaulas, referindo-se ainda a todo o tipo de mídia utilizada no processo de ensino e aprendizagem online, como áudios, vídeos, fóruns de discussão, ambientes simulados, entre outros. Os objetos são utilizados para despertar o interesse dos estudantes com atividades mais criativas. Além do processo de ensino e aprendizagem, os OVAs https://aberta.org.br/ https://www.educadigital.org.br/site/ http://www.cieb.net.br/cieb-estudos-inovacao-aberta-em-educacao-conceitos-e-modelos-de-negocios/ http://www.cieb.net.br/cieb-estudos-inovacao-aberta-em-educacao-conceitos-e-modelos-de-negocios/ 32 podem ser utilizados diretamente pelo estudante e por seus familiares para estudar e aprender fora da escola. Existem diversos repositórios de objetos de aprendizagem, como a Escola Digital e o Portal do Professor (MEC), que apresentam os conteúdos organizados por série, disciplina e conteúdo, o que facilita a busca pelos professores pelos recursos. Existem objetos de uso livre são os recursos educacionais abertos que são de domínio público e licença aberta, que podem ser utilizados ou adaptados por qualquer pessoa. Já os recursos com licença de uso são pagos ou estão sujeitos a autorização do proprietário. O Centro para a Inovação da Educação Brasileira (CIEB) apresenta a publicação “Orientações para Seleção e Avaliação de Conteúdos e Recursos Digitais”, documento que visa contribuir para a inovação na educação. Segundo a entidade, os professores precisam ter competências para selecionar os conteúdos e ferramentas utilizadas por seus estudantes. Sempre deverão estar alinhados “aos objetivos de aprendizagem, ter consistência e fidedignidade, além de serem simples e intuitivos, para que seu aprendizado de uso não impacte o processo de aprendizado do conteúdo” (OLIVEIRA, 2017). O documento apresenta nove fatores que devem ser considerados no processo de seleção de objetos de aprendizagem. Vamos conhecê-los? 1) O conteúdo possui alinhamento com o currículo? 2) O conteúdo é de qualidade e adequado ao propósito? 3) Possibilita métodos pedagógicos inovadores, promovendo engajamento e facilitando o aprendizado? 4) Possui formas efetivas de avaliar o aprendizado? 5) É fácil de usar? 6) Funciona com os sistemas disponíveis na sua rede/escola? 7) A infraestrutura disponível em sua rede/escola é suficiente para o uso do recurso? 8) Possui funcionalidades para inclusão e acessibilidade? 9) Busque referência e compartilhe. 2.2.1 Plataformas de objetos Os estudiosos da educação apontam que a entrada das TDICs na educação levam a utilização de materiais disponíveis e abertos que devem ser acompanhados sempre de desafios, histórias, jogos e atividades que possam mobilizar os estudantes em todas as suas etapas, o que vai proporcionar a colaboração entre grupos e a aprendizagem personalizada, cada uma em seu melhor momento de aplicação. http://www.cieb.net.br/wp-content/uploads/2017/04/CIEB-Notas-T%C3%A9cnicas-5-Orienta%C3%A7%C3%B5es-para-Sele%C3%A7%C3%A3o-e-Avalia%C3%A7%C3%A3o-de-Conte%C3%BAdos-e-Recursos-Digitais.pdf 33 Você percebe como o estudante passa de um ser passivo para uma posição de protagonista do que está aprendendo e pode encontrar as melhores formas de aprender que faça sentido e funcione melhor para ele. A posição do professor, também se desloca do papel de agente expositivo e dono das respostas absolutas, para algo próximo de um mentor, que apenas guia o processo de busca pelo conhecimento. A redução das aulas expositivas se reflete em mais tempo para dar atenção personalizada e confrontando-se diretamente com as necessidades dos estudantes. Essa personalização traz um acompanhamento mais próximo da evolução e do aprendizado de cada um dos alunos. Você deve ter observado que o trabalho do professor precisa estar amparado e preparado previamente para que consiga ser realizado. Existem plataformas com conteúdo vasto sobre todos os temas e aí a escola decide o que melhor atende ao seu objetivo. Veja que se for ficar nas mãos do professor apenas essa elaboração, trata-se de um trabalho extra muito grande que vai exigir um esforço do professor que nem sempre ele está familiarizado e nem dispõe do tempo necessário para isso. 2.3 Massive Open Online Course (MOOC) – Curso Online Aberto e Massivo A vasta produção de conteúdo por tantas e diferenciadas pessoas levou aos cursos online gratuitos e em grande escala. Os MOOCs se constituem por aulas gravadas e ao vivo, palestras, que são transmitidas pela internet, de forma gratuita. A maioria sãoabertos e oferecidos por instituições e parcerias com professores e universidades renomados. Eles oferecem certificados e são buscados por quem deseja atualização e aprendizado para melhores colocações no mercado. Existem diversas plataformas e a maioria das universidades e instituições internacionais possuem essa possibilidade. Geralmente, os cursos são acessados de forma gratuita, mas a emissão de certificado é condicionada a pagamentos. Para tanto, vide: https://guiadoestudante.abril.com.br/universidades/ead-na-onda-dos- moocs/ 2.3.1 Plataformas de MOOCs Veduca – aulas em vídeo, com o suporte de material complementar como apostila e resumos, possui mais de 750 mil usuários cadastrados e oferece 19 cursos em áreas como gestão, finanças e sustentabilidade, muitos deles ministrados por professores de instituições como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Vide: https://veduca.org/. Coursera – MOOCs de diversas áreas, como gestão, computação e ciências sociais. Possui parceria com 100 universidades de 25 países e disponibiliza cursos em inglês. Vide: https://www.coursera.org. EDX – reúne 52 instituições de ensino e pesquisa que oferecem mais de 1.300 cursos em áreas como ciência da computação, humanidades e matemática. Para tanto, vide: https://www.edx.org/. 34 Fun – cursos em inglês e francês, focado em especializações nas áreas de arte, cultura, ciências e psicologia em parceria com as principais universidades da França. A emissão de certificado ao final do curso é garantida pela frequência mínima de 75%, além de participar dos fóruns e realizar todas as atividades propostas. Vide: https://www.fun-mooc.fr/. USP, UNESP e UNICAMP – as três universidades paulistas oferecem vídeos de suas aulas da graduação, nas mais diversas áreas, no formato de cursos livres e gratuitos. Não há tutoria online e nem oferecem certificado. A Unesp oferece ainda, por meio da Univesp, cursos de História da arte e História da música, com conteúdo também pelo Youtube. Vide: http://eaulas.usp.br/portal/home; https://unespaberta.ead.unesp.br/; http://www.ggte.unicamp.br/e-unicamp/public/. Assista à palestra do TED de Anant Agarwal realizada em 2013, que defende os MOOCs como forma de compartilhar aprendizado de alto padrão e de forma abrangente. Fonte: Pixabay (2019)3 2.4 Laboratórios virtuais As empresas viram um rico negócio com o desenvolvimento da tecnologia aliado à falta de tempo do professor e disponibilizam conteúdo em laboratórios virtuais de toda forma. “No game você aproxima o conteúdo educacional do jovem. Ele oferece uma empatia e uma interação maior o que ajuda no engajamento. No caso do Geekie Games, se adapta à forma que cada um aprende”, diz Claudio Sassaki, diretor da Geekie (MARTINS, 2014). Geekie Lab – é uma plataforma que reúne conteúdo de todo o Ensino Médio e o disponibiliza em mais de 600 aulas com vídeos, textos e exercícios. A empresa tem 3 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2016/12/29/12/27/cyber-glasses-1938449_ 960_720.jpg. Acesso em: 31 out. 2019. 35 parceria com o Ministério da Educação e, em 2014, atendia aproximadamente três milhões de estudantes brasileiros das redes pública e privada. Observe que apenas a adoção de um laboratório pré-formatado, apesar de facilitar o processo, não garante que se implantou o ensino híbrido. Ele dá mais liberdade ao estudante para buscar seus conhecimentos em seu próprio ritmo e ao professor, que pode acompanhar mais proximamente o rendimento de seus alunos. Atividade de aplicação É o caso da EE Profª Etelvina de Góes Marcucci, em Paraisópolis, zona Sul de São Paulo. Graças a uma doação de netbooks, a escola vem implantando dinâmicas de ensino híbrido que seguem esse modelo. “Reservo uma das minhas duas aulas semanais de Física para usar o Geekie Lab com meus alunos. Na primeira, eu indico o tópico que eles devem estudar pela plataforma e na segunda nós exploramos o assunto juntos”, conta o professor William Ulysses da Silva. “Isso é um grande avanço. Como os alunos são muito envolvidos com tecnologia, é algo que chama mais a atenção deles. São novas oportunidades para aprender”. Projeto Gente Outro exemplo de aplicação do ensino híbrido, Projeto Gente significa – Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais, que começou em 2013 na EM André Urani, na Favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro. O aprendizado ocorre em times de alunos de diferentes idades e séries, que são agrupados de acordo com interesses e características acadêmicas e emocionais, entre outras – embora sejam matriculados nas séries convencionais determinadas pela legislação. O papel do professor é supervisionar o aprendizado dos times. A rotina escolar se divide entre atividades de mentoria, que ocupam 60% da grade, e os laboratórios de aprendizagem, com atividades mais parecidas com as aulas tradicionais. A plataforma da Geekie traz os conteúdos organizados em uma sequência didática consistente e possui avaliações diagnósticas que norteiam o trabalho do professor, Conheça mais sobre o Geekie Lab em: https://www.geekie.com.br/cinco- perguntas-respondidas-sobre-o-geekie- lab/. 36 permitindo-lhe mapear fragilidades e pontos fortes de cada aluno, e acompanhar sua evolução. https://novaescola.org.br/conteudo/104/ensino-hibrido-entenda-o-conceito-e- entenda-na-pratica?gclid=Cj0KCQjw7sDlBRC9ARIsAD- pDFr9dp6fb6fHqJzfzEThMPqvOweBPV- BMkZzJQlGa5CUjkJxq5gpMjcaAjOKEALw_wcB Google for Education O Google desenvolveu ferramentas específicas para a educação, que podem ser utilizadas em todos os níveis, do fundamental ao superior, para serem utilizados em sala de aula, como chromebooks, o Google Docs, para escrever documentos de forma colaborativa, o Google Drive, que guarda os documentos na nuvem, a troca de mensagens por e-mails, agenda online, planilhas, tabelas, apresentações e outros. Eles compõem o Gsuit for education A Microsoft também tem o seu produto para a educação e oferece plataforma similar, com soluções parecidas. 37 Observe que as grandes empresas estão por trás das tecnologias da internet. É preciso atentar para a pulverização dessas possibilidades, que são desenvolvidas por pequenos também, mas abocanhadas rapidamente pelos grandes. 2.5 Ensino híbrido Quando falamos em metodologias ativas é porque queremos transformar o aluno em protagonista de sua educação e de seu aprendizado. Como dissemos, não cabe mais um professor que apenas deposite o conhecimento, seja apenas expositivo e traga as respostas. Como inovar no modelo tradicional e alcançar esse objetivo? O ensino híbrido, ou blended learning, procura resolver essa equação, trazendo as melhores práticas do ensino presencial e do ensino on-line, miscigenando ambas, de forma que o professor e o estudante possam transitar no melhor dos dois mundos e integrando a educação tradicional à tecnologia, tão presente na vida do estudante. Claro que essa proposta vai muito além de colocar computadores na escola. O acesso aos equipamentos é importante, mas não é a condição principal. O ensino híbrido exige uma ação do professor nas ações de ensino, e ação dos estudantes nas situações de aprendizagem. Numa forma mais ampla, podemos dizer que o ensino híbrido exige um repensar da organização da sala de aula, da elaboração do plano pedagógico e da gestão do tempo na escola e na aula, propriamente dita, pois precisa favorecer os momentos de interação e de colaboração, e do envolvimento com as tecnologias digitais, conforme proposta do Clayton Christensen Institute, laboratório de inovação e representado no Brasil por Lilian Bacich. A forma mais simples utilizada no Brasil, segundo a coordenadora, é a rotação do laboratório, do inglêslab rotation), que mistura períodos na sala de aula e períodos no laboratório de informática com a aplicação de conteúdos complementares. Ao fazer a aplicação, pode-se pensar num modelo em que o estudante passe uma primeira aula no laboratório de informática tendo contato com o tema, por meio dos recursos online e na aula seguinte, com o professor e os colegas, passe por um 38 aprofundamento dos conceitos, debatendo o assunto, elaborando exercícios contextualizados, desenvolvendo projetos, tirando dúvidas, entre outras. Nessa prática, podemos observar que o aluno é estimulado a pensar criticamente, como desenvolver suas habilidades para o trabalho em grupo e contextualizar o que está aprendendo junto a sua própria realidade, o que dá mais sentido ao conteúdo aprendido. 39 2.6 Sala de aula invertida Por essas alterações de papéis e pela parceria entre a tecnologia e a educação, você já percebeu que a sala de aula tradicional não é capaz de suportar essas atividades, dando espaço então para a sala de aula invertida, a flipped classroom, criada pelos professores norte-americanos de Química, Jonathan Bergmann e Aron Sams. Com algumas variações, as salas de aula mundo afora são mais ou menos assim: Fonte: Pixabay (2019)4 4 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/02/24/02/37/classroom-2093743_960_720.jpg. Acesso em: 2 nov. 2019. 40 Fonte: Pixabay (2019)5 Fonte: Pixabay (2019)6 5 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2013/04/19/01/15/university-105709_960_720.jpg. Acesso em: 2 nov. 2019. 6 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2012/09/10/05/10/steinbach-56641_960_720.jpg. Acesso em: 2 nov. 2019. 41 Será que podemos nos perguntar o que diz a sabedoria popular: como ter resultados diferentes adotando atitudes idênticas sempre? Na sala de aula invertida, o objetivo é que os alunos possam ter autonomia e estudar os conteúdos antecipadamente, em casa, por meio dos materiais fornecidos com antecedência, sejam videoaulas, textos, games educativos e outros. Se assim o fizerem, o processo tradicional da aula fica invertido, pois a aula propriamente dita foi realizada antes de o aluno chegar na escola e quando estiver com o professor, que terá um papel apenas de orientador, ou facilitador, no qual fará os alunos refletirem sobre os temas estudados e poderá utilizar esse momento para tirar dúvidas e melhorar seus conhecimentos de forma mais dinâmica e prática junto com o professor. Veja que se torna um momento de construção de conhecimento em grupo e de forma relevante para o aluno, que se torna protagonista de seu conhecimento. Assim, pensamos que a sala de aula possa adquirir novos formatos, seja em que nível de educação se pensar. Fonte: Pixabay (2019)7 7 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/08/18/08/04/idea-2654150_960_720.jpg. Acesso em: 2 nov. 2019. 42 Fonte: Pixabay (2019)8 Com discussões em grupos em diversos formatos, pequenos ou grandes grupos, duplas e trios, além do contato com o professor após conversas sobre os temas estudados e as propostas de soluções de problemas, uma habilidade facilitada pela sala de aula invertida, que permite relacionamentos e trabalho em equipe, atividades tão exigidas do mercado de trabalho atual, pois os alunos aprendem a ouvir, partilhar, trocar e defender suas ideias, provocando ainda uma maior conexão com os professores e com os colegas. A maioria das atividades ativas para ensino e aprendizagem preveem o uso da sala de aula invertida. Sala de Aula Invertida – Uma Metodologia Ativa de Aprendizagem (Português) Capa Comum – 31 dez. 2015. Por Jonathan Bergmann (Autor), Aaron Sams (Autor). Aprendizagem Invertida para Resolver o Problema do Dever de Casa (Português) Capa Comum – Edição padrão. Por Jonathan Bergmann (Autor), Marcelo L. D. S. Gabriel; Henrique de Oliveira Guerra (Tradutor). Sala de Aula Invertida. Desafios Para o Ensino Superior (Português) Capa Comum – 6 fev. 2019. Por Eniel Espírito Santo; Jonas dos Santos Colvara (Autores). 2.7 Aprendizagem por pares – peer instruction O aprendizado por pares ou colegas, o peer instruction, foi criado por Eric Mazur em 1997. O professor de física em Harvard observou que os estudantes tinham dificuldade em compreender as questões textuais de enunciados e, casualmente, percebeu que a explicação realizada por um dos colegas era mais eficaz. Para superar 8 Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2016/03/09/09/22/workplace-1245776_960_720.jpg. Acesso em: 2 nov. 2019. 43 essa dificuldade, Mazur estruturou uma metodologia que envolvia os alunos na aprendizagem, com foco nos conceitos subjacentes às fórmulas (MAZUR, 2015). O estudante precisa compreender os conteúdos apresentados com antecedência para conseguir explicar ao seu par o seu entendimento sobre o assunto. A instrução por pares é uma forma de aprendizagem cooperativa, com o conhecimento sendo compartilhado em pequenos grupos e ampliando para envolver os alunos de toda a classe (BRITO; CAMPOS, 2019). Os discentes passaram a compreender melhor o conteúdo ao adquirirem habilidade na solução de problemas propostos e explicados pelos pares. Mazur fez comparações entre os alunos expostos ao Peer Instruction e aos que tiveram o ensinamento de forma tradicional, e observou notas melhores e maior compreensão dos conceitos. Garcia, Dalla e Rossini (2019) citam o estudo de Cranton (2012), que analisou os dados de mais de 6000 discentes de física em 62 cursos introdutórios e descobriu que os discentes em salas de aulas que utilizavam metodologias ativas para engajamento interativo melhoraram 25%, alcançando um ganho médio de 48% em um teste de física com padrões conceituais normais. Se comparados aos discentes com ensino tradicional, obtiveram um ganho médio de 23% em cursos tradicionais baseados somente em leituras. Conheça a aplicação de Garcia, Dalla e Rossini (2019) do peer instruction em três classes de duas faculdades diferentes, com o objetivo, à semelhança de Mazur (2015), de aumentar a interação entre os estudantes nas aulas tradicionais (expositivas) e dessa forma favorecer o aprofundamento dos conceitos estudados. O estudo foi aplicado da seguinte forma: A professora apresentou brevemente os pontos principais e aplicou um teste sobre o assunto da aula. Com a maioria de respostas certas, a aula prossegue para o próximo tópico. Se os acertos ficarem abaixo de 30%, a professora volta às explicações com mais detalhes e refaz a avaliação sob outro ângulo. A aplicação conceitual teve o seguinte formato genérico, adaptado de Mazur (2015): Proposição da questão: 1 minuto; Tempo para os discentes pensarem individualmente: 1-2 minutos; Os discentes anotam suas respostas individuais (opcional); Os discentes convencem seus colegas: 1-2 minutos; Os discentes anotam as respostas corrigidas; Feedback para o docente: registro das respostas; Explicação da resposta correta 2 minutos. O convencimento é feito por meio da interação entre os pares, conversas e troca de ideias entre os estudantes. 44 Quando o resultado das respostas corretas for em torno de 50%, haverá pouco espaço para melhora; se for muito menor, haverá poucos discentes na sala para convencer os demais sobre a resposta correta (GARCIA et al., 2019). Conheça o resultado da aplicação do peer instruction em: https://congressos.ufmg.br/index.php/congressogiz/IVCIM/paper/view/1005 A aprendizagem por pares também é uma ferramenta muito útil para realizar avaliações. A avaliação realizada entre os pares proporciona o aprendizado pois ao ler e corrigir outras
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