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Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 1 Caso 11 – sistema reprodutor feminino Desenvolvimento pré-natal → os ovários se desenvolvem na região lombar superior da parede posterior do abdome e migram em direção à parede lateral da pelve. Um processo vaginal do peritônio forma o canal inguinal, como no homem, e se projeta para o lábio maior do pudendo em desenvolvimento (homólogo feminino do escroto). O gubernáculo feminino é um cordão fibroso que une o ovário e o útero primitivos ao lábio maior do pudendo em desenvolvimento e dá origens aos ligamentos: o Ligamento útero-ovárico: entre o ovário e o útero, dessa forma o ovário não migra para a região inguinal. o Ligamento redondo do útero: parte do útero, atravessa o canal inguinal e se dispersa na parte anterior do lábio maior do pudendo. Ovários → cada ovário é suspenso pelo mesovário (prega peritoneal), uma subdivisão do ligamento largo. Nas mulheres pré- púberes, a túnica albugínea do ovário é coberta por uma lâmina lisa de epitélio germinativo, uma única camada de células cúbicas. Depois da puberdade, há fibrose e distorção progressiva do epitélio germinativo, em razão da repetida ruptura de folículos ovarianos e liberação de ovócitos. A fibrose é menor em usuárias de contraceptivos orais. o Ligamento suspensor do ovário: passagem de vasos sanguíneos, linfáticos e os nervos ovarianos, se torna contínuo com o mesovário. o Ligamento útero-ovárico: é mais curto e fixa o ovário ao útero. o Ligamento largo do útero: é formado pelo mesovário, mesossalpinge e mesométrio. Como o ovário está suspenso na cavidade peritoneal e sua superfície não é coberta por peritônio, o ovócito expelido na ovulação passa para a cavidade peritoneal. Em seguida, o ovócito é aprisionado pelas fímbrias do infundíbulo da tuba uterina e conduzido para a ampola, onde pode ser fertilizado. Tubas uterinas → estendem-se lateralmente a partir dos cornos uterinos e se abrem na cavidade peritoneal perto dos ovários. Elas têm cerca de 10 cm de comprimento e estão no mesossalpinge (mais estreito). Apesar das imagens ilustrativas, muitas vezes as tubas estão dispostas assimetricamente e uma Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 2 delas está em posição superior e até mesmo posterior em relação ao útero. Elas podem ser divididas em quatro partes, da região lateral para a medial: o Infundíbulo: a extremidade distal afunilada da tuba que se abre na cavidade peritoneal através do óstio abdominal. A extremidade distal do infundíbulo forma fímbrias sobre o ovário. o Ampola: a parte mais larga e mais longa da tuba. A fertilização do ovócito geralmente ocorre na aqui. o Istmo: a parte da tuba que tem parede espessa e entra no corno uterino. o Parte uterina: o segmento intramural curto da tuba que atravessa a parede do útero e se abre, através do óstio uterino, para a cavidade do útero. o Artérias ováricas originam-se da aorta abdominal. Na margem da pelve, cruzam sobre os vasos ilíacos externos e entram nos ligamentos suspensores. o Artérias uterinas se originam das artérias ilíacas internas. Seguem ao longo das faces laterais do útero, emitem ramos e se aproximam das faces mediais dos ovários e tubas uterinas. o Ramos ováricos e tubários são originados de bifurcações da artéria ovárica e da artéria uterina ascendente e anastomosam-se entre si, criando uma circulação colateral de origem abdominal e pélvica para ambas as estruturas. o Plexo venoso pampiniforme formado pelas veias que drenam o ovário, que se juntam para formar uma única veia ovárica. A veia ovárica direita ascende e entra na veia cava inferior; a veia ovárica esquerda drena para a veia renal esquerda. o Veias tubárias drenam para as veias ováricas e para o plexo venoso uterino. Útero → órgão muscular oco, piriforme, com paredes espessas. Na mulher adulta, o útero geralmente encontra-se antevertido (inclinado anterossuperiormente em relação ao eixo da vagina) e antefletido Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 3 (curvado anteriormente em relação ao colo, criando o ângulo de flexão), de modo que sua massa fica sobre a bexiga urinária. A posição do útero muda com o grau de enchimento da bexiga urinária e do reto, e também com a evolução da gravidez. Embora seu tamanho varie muito, o útero tem cerca de 7,5 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2 cm de espessura. o Corpo do útero: forma os 2/3 superiores do órgão e inclui o fundo do útero. É separado do colo pelo istmo do útero (óstio uterino interno). o Colo do útero: 1/3 inferior do órgão. É dividido em uma porção supravaginal entre o istmo e a vagina, e uma porção vaginal, que se projeta para a parte superior da vagina, circunda o óstio uterino externo. A porção supravaginal é separada da bexiga urinária anteriormente pela escavação vesicouterina e do reto posteriormente pela escavação retouterina. o Cavidade do útero: vai do óstio uterino externo até o fundo do útero. Os cornos do útero são as regiões superolaterais, onde penetram as tubas uterinas. A cavidade do útero continua inferiormente como o canal do colo do útero, que junto com o lúmen da vagina constituem o canal de parto. Vagina → tubo musculomembranáceo distensível (7-9 cm de comprimento), estende-se da porção vaginal do colo do útero até o óstio da vagina, a abertura na sua extremidade inferior. A vagina situa-se posteriormente à bexiga urinária e à uretra e anteriormente ao reto. Quatro músculos comprimem a vagina e atuam como esfíncteres: pubovaginal, esfíncter externo da uretra, esfíncter uretrovaginal e bulboesponjoso. Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 4 Monte do púbis → eminência adiposa, arredondada, anterior à sínfise púbica. Após a puberdade, o monte do púbis é coberto por pelos pubianos encrespados. Lábios maiores do pudendo → pregas cutâneas proeminentes que proporcionam proteção indireta para o clitóris e para os óstios da uretra e da vagina. Contém tecido subcutâneo frouxo contendo músculo liso e a extremidade do ligamento redondo do útero. Clitóris → órgão erétil localizado no ponto de encontro dos lábios menores do pudendo anteriormente. Consiste em uma raiz e um pequeno corpo cilíndrico, formados por dois ramos, dois corpos cavernosos e a glande do clitóris. Vestíbulo da vagina → espaço circundado pelos lábios menores do pudendo, no qual se abrem os óstios da uretra e da vagina e os ductos das glândulas vestibulares maiores e menores. De cada lado do óstio externo da uretra há aberturas dos ductos das glândulas uretrais. O tamanho e a aparência do óstio da vagina variam com a condição do hímen, uma prega anular fina de túnica mucosa, que proporciona oclusão parcial ou total do óstio da vagina. Após a ruptura do hímen, são visíveis as carúnculas himenais remanescentes. Esses remanescentes delimitam a vagina e o vestíbulo. Bulbos do vestíbulo → duas massas de tecido erétil alongado. Situam-se lateralmente ao longo do óstio da vagina. São homólogos ao bulbo do pênis. Glândulas vestibulares → podem ser maiores ou menores e situam-se de cada lado do vestíbulo da vagina, posterolateralmente ao óstio da vagina. Os ductos delgados dessas glândulas se abrem no vestíbulo de cada lado do óstio vaginal. Essas glândulas secretam muco para o vestíbulo da vagina durante a excitação sexual. Córtex ovariano → é recoberto por uma cápsula de tecido conjuntivo, a túnica albugínea, e uma camada de epitélio simples consistindo em células epiteliais da superfície ovariana. Não existem ductos emergindo do ovário para conduzir seus gametas para o trato reprodutor. Desta forma, o processo de ovulação envolve um evento inflamatório que causa erosão da parede do ovário. Após a ovulação, as células epiteliais da superfície ovariana rapidamente se dividempara reparar a parede. Fenótipo sexual na embriogênese → a ausência de testosterona não permite o desenvolvimento dos ductos de Wolff, os precursores do trato genital masculino, e a ausência do hormônio antimülleriano permitem o desenvolvimento dos ductos de Müller, os precursores do trato genital feminino. Medula ovariana → constituída por uma matriz rica em colágeno contendo fibras elásticas, também contém grandes vasos sanguíneos, vasos linfáticos e fibras nervosas. Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 5 Corpo e fundo → são constituídos por endométrio, miométrio e uma adventícia ou serosa, a depender da localização. O endométrio é constituído por um epitélio simples cilíndrico e uma lâmina própria, que contém glândulas tubulosas que se estendem até o miométrio. Ele é formado por duas camadas: o Camada funcional: espessa, superficialmente, é descamada na menstruação. o Camada basal: estreita, profundamente, onde as glândulas e células do tecido conjuntivo proliferam e regeneram a camada funcional durante cada ciclo menstrual. O miométrio é a parede muscular do útero, constituído por três camadas de músculo liso. À medida que o útero se estreita em direção ao colo, a quantidade de músculo liso diminui e este é substituído por tecido conjuntivo fibroso. Colo → o lúmen é revestido por um epitélio simples cilíndrico mucossecretor. Entretanto, sua superfície externa, onde o colo se projeta para a vagina, é revestida por um epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado semelhante ao da vagina. A mucosa cervical contém glândulas cervicais. Embora a mucosa cervical se modifique durante o ciclo menstrual, ela não descama durante a menstruação. Representam a estrutura folicular mais precoce e simples do ovário. As ovogônias (células germinativas primitivas) desenvolvem-se no endoderma do saco vitelino logo após o primeiro mês de gestação. Elas sofrem várias divisões mitóticas e povoam o córtex ovariano. A partir do 5º mês de gestação, aproximadamente 7 milhões de ovogônias entram no processo de meiose e se tornam ovócitos primários. Os ovócitos primários são circundados por um epitélio simples de células foliculares, dando origem aos folículos primordiais (primitivo). Envolvendo o ovócito, estão as células granulosas, semelhantes às células de Sertoli, ajudando na sustentação e maturação do ovócito. Estes folículos são a reserva do ovário, que é reduzida de 7 milhões para menos de 300 mil folículos na maturidade sexual. Destes, uma mulher ovulará cerca de 450, entre a menarca e a menopausa. A velocidade com que os folículos primordiais entram no processo de crescimento parece ser independente das gonadotrofinas hipofisárias, sendo mais dependente, nesse início, de fatores parácrinos intraovarianos, que são produzidos tanto pelas células foliculares como pelos ovócitos. Representa o primeiro estágio de crescimento folicular (pré-antral), que ocorre antes da formação de uma cavidade antral preenchida por líquido. Com o aparecimento de células granulosas cuboides, o folículo Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 6 é denominado folículo primário. À medida que as células granulosas proliferam, formam um epitélio estratificado ao redor do ovócito, denominado folículo secundário. O folículo secundário secreta fatores parácrinos, que induzem as células do estroma adjacente a se diferenciarem em células epitelioides da teca, as quais formam uma camada achatada de células ao redor do folículo, que passa a ser denominado folículo pré-antral maduro. Durante esse estágio pré- antral, o ovócito inicia a secreção de glicoproteínas da matriz extracelular, ZP1, ZP2 e ZP3, que formam a zona pelúcida, a qual aumenta de espessura e torna-se um local de ligação específico para o espermatozoide. Células granulosas expressam receptores para FSH durante este período, mas são primariamente dependentes de fatores do ovócito para crescer. Os folículos pré-antrais maduros se desenvolvem em folículos antrais iniciais. O epitélio da granulosa aumenta e os espaços são preenchidos por líquido, formando um antro. Os folículos antrais pequenos continuam crescendo, originando folículos antrais grandes e recrutáveis. Este período é caracterizado por um crescimento da cavidade antral, a qual, progressivamente, divide as células granulosas em duas populações discretas. o Células granulosas murais: são a parede externa do folículo, abaixo da teca. Elas se tornam altamente esteroidogênicas e permanecem no ovário após a ovulação para se diferenciarem no corpo lúteo. o Células do cumulus oophorus / coroa radiada: são mais internas, circundam o ovócito e são liberadas junto com ele durante a ovulação. Elas são essenciais para que as fímbrias da tuba uterina consigam capturar o ovócito após esse processo. Nos folículos primários e secundários iniciais, o ovócito não completa a meiose I devido a uma carência de proteínas específicas associadas à meiose. Entretanto, folículos antrais maiores ganham competência meiótica, mas ainda mantém a interrupção meiótica até o pico de LH que ocorre no meio do ciclo. A interrupção meiótica é decorrente da manutenção de níveis elevados de AMPc no ovócito maduro. Folículos antrais grandes se tornam altamente dependentes de FSH hipofisário para seu crescimento e manutenção da viabilidade, e produzem níveis baixos de estrógeno e inibina B. No final de um ciclo menstrual anterior, um grupo de folículos antrais grandes são recrutados para iniciar um desenvolvimento rápido e dependente de gonadotrofina. À medida que os níveis de FSH declinam, os folículos recrutados sofrem atresia até que reste apenas um folículo. Geralmente, o maior folículo com a maior quantidade de receptores para FSH se torna o folículo dominante. A seleção ocorre durante a fase folicular inicial. No meio do ciclo, o folículo dominante se torna um folículo pré-ovulatório grande. O folículo selecionado se torna uma “glândula” esteroidogênica significativa, constituindo a esteroidogênese ovariana, a qual requer tanto células da teca como da granulosa. o Células da teca: são análogas às células de Leydig testiculares, pois residem fora das células de “sustentação” epiteliais, expressam o receptor para LH e produzem andrógenos. Os níveis basais de LH estimulam a expressão de enzimas esteroidogênicas, assim como ocorre nas células de Leydig, mas a principal diferença entre elas é que as células da teca expressam níveis menores de 17β-HSD, produzindo androstenediona e testosterona, em menor quantidade. Esses andrógenos liberados da teca se difundem pelas células granulosas murais ou penetram nos vasos que circundam o folículo. Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 7 o Células granulosas murais: apresentam um grande número de receptores para FSH, além de serem bastante sensíveis ao FSH, o que estimula a expressão gênica e a atividade da CYP19 (aromatase), a qual converte androstenediona em estrona, um estrógeno fraco, e converte testosterona em 17β-estradiol, um estrógeno potente. Além disso, o FSH induz a expressão de inibina B durante a fase folicular e a expressão de receptores de LH, para que essas células respondam ao pico de LH. O período periovulatório é definido como o tempo entre o início do pico de LH e a expulsão do ovócito e dura cerca de 32-36 horas, ocorrendo tanto a luteinização e formação do corpo lúteo como a ovulação. Mudanças estruturais provocadas pelo pico de LH: o Indução da liberação de citocinas inflamatórias e enzimas hidrolíticas das células da teca e granulosa: rompimento da parede do folículo e da superfície do epitélio ovariano. o Secreção de ácido hialurônico pelas células do cumulus: aumenta todo o complexo cumulus- ovócito, tornando o ovócito mais facilmente capturado e transportado pela tuba uterina e o torna mais fácil de ser encontrado pelos espermatozoides.o Indução da progressão do ovócito para metáfase II, ficando nesse estágio até a fertilização. o Rompimento da lâmina basal das células granulosas murais, de forma que os vasos sanguíneos e a teca podem penetrar entre as células granulosas, o que aumenta o suprimento sanguíneo para o novo corpo lúteo. Mudanças na esteroidogênese provocadas pelo pico de LH: o Inibição transitória da expressão de CYP19: rápido declínio do estrógeno ajuda a “desligar” o feedback positivo da secreção de LH. o Aumento da expressão dos receptores para LDL e HDL: isto torna o colesterol de LDL e HDL acessível a estas células. o Aumento da expressão da proteína StAR, CYP11A1 e 3b-HSD, associado à menor atividade da CYP17, especialmente sua função 17,20-liase. Dessa forma, a formação da progesterona é favorecida e os níveis de progesterona aumentam gradualmente durante a semana seguinte. Após a ovulação, o remanescente da cavidade antral é preenchido por sangue proveniente de vasos sanguíneos danificados, dando origem ao corpo hemorrágico. Dentro de alguns dias, os eritrócitos e debris são removidos por macrófagos, e fibroblastos preenchem a cavidade antral com matriz extracelular de aspecto hialino. No corpo lúteo maduro, as células da teca aumentam de tamanho, se enchem de ésteres de colesterol e acabam colapsando para dentro da antiga cavidade antral, juntamente com vasos sanguíneos e células do tecido conjuntivo. Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 8 O corpo lúteo humano é programado para viver por 14 dias, a menos que seja “resgatado” pela gonadotrofina coriônica humana (hCG), hormônio semelhante ao LH, que se origina do embrião implantado. Se resgatado, o corpo lúteo da gestação permanecerá viável durante a gestação (normalmente cerca de 9 meses). Porém, se não houver fecundação, o corpo lúteo da menstruação regride em 14 dias e este mecanismo parece envolver a liberação de prostaglandina PGF 2a tanto das células granulosas luteínicas como do útero, em resposta à diminuição dos níveis de progesterona durante a segunda semana da fase lútea. Vários fatores parácrinos de células imunes e vasculares provavelmente desempenham um papel na morte e remoção das células granulosas luteínicas. Ao final do ciclo, o corpo lúteo é transformado em um corpo cicatricial denominado corpus albicans, o qual se aprofunda na medula do ovário e é lentamente absorvido. A produção de progesterona está fortemente correlacionada com um padrão pulsátil de liberação de LH. Tanto o LH como o FSH são reduzidos a níveis basais durante a fase lútea, pelo feedback negativo da progesterona e do estrogênio. Além disso, as células granulosas luteínicas secretam inibina A, a qual reprime seletivamente a secreção de FSH. Durante a atresia, as células granulosas e os ovócitos dos folículos que foram recrutados sofrem apoptose. As células da teca persistem e repopulam em geral o estroma celular do ovário. Estas células da teca ainda mantêm receptores de LH e a capacidade de produzir andrógenos, sendo coletivamente denominadas “glândula intersticial” do ovário. Os neurônios hipotalâmicos secretam GnRH de forma pulsátil, o qual estimula a produção de LH e FSH pelos gonadotrofos. Uma alta frequência de pulsos de GnRH (um pulso a cada 60-90 min) promove, seletivamente, a produção de LH, enquanto uma baixa frequência de pulsos (~3h) promove a produção de FSH. A principal diferença entre os eixos reprodutores feminino e masculino é o pico de gonadotrofinas no meio do ciclo, o qual é dependente de um nível de estrógeno alto e constante, proveniente de um folículo dominante. Dessa forma, ocorre uma sequência de eventos que pode ser dividida em três estágios, começando com o final de um ciclo de 28 dias: o Na ausência do LH ou de hCG, o corpo lúteo degenera e há queda drástica de progesterona, estrógeno e inibina A no dia 24 do ciclo. Esses hormônios faziam um feedback negativo sobre o FSH e o LH, então na ausência deles, há uma elevação da secreção de FSH, principalmente, por conta da baixa frequência de pulsos de GnRH durante a fase lútea. o O aumento nos níveis de FSH permite o recrutamento de folículos antrais grandes, os quais produzem pequenas quantidades de estrógeno e inibina B, que por sua vez vão agir fazendo feedback negativo para a produção de FSH. A perda de altos níveis de progesterona (mais importante) e estrógeno, pelo corpo lúteo, causa um aumento na frequência de pulsos de GnRH, o que leva ao aumento de LH e da relação LH/FSH durante a fase folicular. o A resposta ovariana aos níveis decrescentes de FSH é a atresia folicular de todos os folículos recrutados, com exceção do folículo dominante, o qual produz quantidades crescentes de estrógeno e inibina B. o Uma vez que o folículo dominante faça com que os níveis circulantes de estrógeno excedam 200 pg/mL, por cerca de 50 horas, o estrógeno produz um feedback positivo no gonadotrofo, induzindo o surto de LH do meio do ciclo, pelo aumento da frequência de pulsos do GnRH. Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 9 o O surto de LH induz a maturação meiótica, a ovulação e a diferenciação das células granulosas em células produtoras de progesterona. Juntamente com o aumento da progesterona, há elevação dos níveis de estrógeno e inibina A, os quais fazem feedback negativo nos gonadotropos. Mesmo se os níveis de estrógeno ultrapassarem a marca dos 200 pg/mL do feedback positivo, os níveis altos de progesterona bloqueiam qualquer retroalimentação positiva, fazendo com que o FSH e o LH voltem aos níveis basais. o Esses níveis basais, principalmente de LH, são muito necessários para o funcionamento normal do corpo lúteo. Mas, com o decorrer do desenvolvimento, o corpo lúteo se torna insensível ao LH e pode morrer se não haver aumento de uma atividade semelhante ao LH. Fase proliferativa → é induzida pelos níveis de estrógeno em elevação, durante a fase folicular ovariana. O estrógeno induz o crescimento e divisão de todos os tipos celulares do estrato basal e atua diretamente por meio de seus receptores α-ER e β-ER, os quais regulam a expressão gênica. Além disso, o estrógeno induz a expressão de receptores para progesterona, desta forma “preparando” o endométrio uterino para que ele seja capaz de responder à progesterona durante a fase lútea ovariana. Fase secretória → a fase lútea ovariana muda a fase proliferativa do endométrio uterino para a fase secretória. A progesterona inibe maior crescimento endometrial e induz a diferenciação das células epiteliais e do estroma. Ela também induz as glândulas uterinas a secretarem um produto rico em nutrientes, que mantém a viabilidade do blastocisto. À medida que a fase secretória continua, as glândulas uterinas da mucosa ficam dilatadas. A progesterona também induz mudanças na adesividade do epitélio de superfície, para implantação de um embrião. Além disso, promove a diferenciação das células do estroma em “células pré-deciduais”, que devem estar preparadas para formar a decídua da gestação ou para orquestrar a menstruação na ausência de gestação. Fase menstrual → a morte do corpo lúteo resulta em repentina redução da progesterona, o que leva a mudanças no endométrio uterino, que resultam em perda da lâmina funcional. A menstruação coincide com a fase folicular inicial do ovário. Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 10 Aproximadamente 60% do estrógeno é transportado ligado a globulina ligadora de hormônio sexual (SHBG), 20% está ligado a albumina e 20% está na forma livre. A progesterona se liga principalmente a globulina ligadora de cortisol (transcortina) e albumina, e como sua afinidade por estas proteínas é baixa, sua meia-vida na circulação é em torno de 5 minutos. Apesar de o ovário ser o principal local de produção do estrógeno, a aromatização periférica de andrógenos a estrógenos pode gerar níveis locais altos de 17β-estradiolem alguns tecidos. A conversão periférica de andrógenos adrenais e ovarianos é uma fonte importante de estrógeno após a menopausa. O fato da CYP19 (aromatase) ser expressa na mama é a base para o uso de inibidores da aromatase no tratamento de câncer de mama dependente de estrógeno, em mulheres após a menopausa. Estrógenos e progestinas são degradados no fígado em metabólitos inativos, conjugados com sulfato ou glicuronida e excretados na urina. Os principais metabólitos do estradiol incluem estrona, estriol e catecolestrógenos. O principal metabólito da progesterona é o pregnanediol, o qual é conjugado com glicuronato e excretado na urina. Tubas uterinas → o estrógeno secretado durante a fase folicular aumenta o tamanho e o peso das células epiteliais da camada interna das tubas. Ele promove a secreção de muco espesso no istmo e aumenta o tônus da muscular do istmo, desta forma mantendo o complexo cumulus-ovócito na junção ampola-istmo para que ocorra a fertilização. Altos níveis de progesterona, juntamente com estrogênios, durante a fase lútea inicial até a fase lútea média, reduzem o tamanho e a função das células epiteliais, promovendo, também a deciliação, também reduz a secreção de muco espesso e relaxa o tônus do istmo. Miométrio → o tamanho e o número de células musculares lisas são determinados pelo estrógeno e pela progesterona. Mulheres saudáveis e ciclando mantêm um miométrio robusto, enquanto este se torna progressivamente mais fino em mulheres após a menopausa. Quando os estrógenos estão ausentes, a musculatura miometrial atrofia, com algumas células sofrendo apoptose. Apesar de a maior parte do aumento do tamanho do útero durante a gravidez estar relacionada à hipertrofia de células musculares lisas, a população de células musculares lisas também aumenta, sugerindo que também ocorre hiperplasia. Colo do útero (canal endocervical) → o estrógeno estimula a produção de uma quantidade abundante de muco fino, aquoso e levemente alcalino, que forma um ambiente ideal para espermatozoide, coincidindo com a ovulação. A progesterona estimula a produção de muco escasso, viscoso e levemente ácido, que é prejudicial ao espermatozoide. Vagina → O estrógeno estimula a proliferação do epitélio vaginal e aumenta seu conteúdo de glicogênio, que é metabolizado em ácido láctico por lactobacilos comensais, desta forma mantendo um ambiente ácido. Isto inibe a infecção por bactérias não comensais e fungos. A progesterona aumenta a descamação das células epiteliais. Ossos → O estrógeno é necessário para o fechamento das placas epifisárias dos ossos longos em ambos os sexos e tem efeito ósseo anabólico e calciotrópico, estimulando a absorção intestinal de Ca++. O 17β-estradiol também é um dos mais potentes reguladores da função dos osteoblastos e osteoclastos, promovendo a sobrevivência dos osteoblastos e a apoptose dos osteoclastos (formação óssea). Andressa S. Pereira | MedUNEB XIII 11 Fígado → o efeito geral é a melhora dos perfis de lipoproteínas circulantes. O estrógeno aumenta a expressão de receptores de LDL, desta forma aumentando a eliminação de partículas LDL pelo fígado e aumenta os níveis circulantes de HDL. Sistema cardiovascular →Mulheres antes da menopausa apresentam significativamente menos doenças cardiovasculares do que homens ou mulheres após a menopausa. O estrógeno promove vasodilatação pelo aumento na produção de óxido nítrico, o que relaxa a musculatura lisa vascular e inibe a ativação plaquetária. SNC →O estrógeno é neuroprotetor. Os efeitos positivos do estrógeno na angiogênese podem ser responsáveis por algumas das ações benéficas e estimulantes do estrógeno no SNC. A progesterona atua no hipotálamo para aumentar o ponto de termorregulação, desta forma elevando a temperatura corporal. Esta é a base para a utilização da mensuração da temperatura corporal para determinar se ocorreu ovulação. Tecido adiposo → O estrógeno reduz o tecido adiposo por reduzir a atividade da lipoproteína lipase e aumentar a da lipase sensível ao hormônio. A perda do estrógeno resulta no acúmulo de tecido adiposo, especialmente no abdome. Fontes: Moore, 8ª Ed; Gartner, 3ª Ed; Berne, 6ª Ed.
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