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Dengue Agente etiológico Existem 4 sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. É um vírus RNA de filamento único, esférico, envelopado, medindo aproximadamente 60 nm. Arbovírus da família Flaviviridae. Transmissão pelo vetor Aedes aegypti é o principal vetor. Aedes albopictus também é capaz de transmitir, mas é mais comum na Ásia. O Aedes aegypti adquire o vírus se alimentando de sangue de um indivíduo infectado na fase de viremia, que começa um dia antes do aparecimento da febre e vai até o sexto dia de doença. Após 8-12 dias, quando o vírus se multiplica nas glândulas salivares da fêmea do mosquito, surge a capacidade de transmissão. Seus hábitos são diurnos (início da manhã) e vespertinos (final da tarde). Outras formas de transmissão Existem relatos de transmissão vertical do vírus da dengue. Uma gestante doente pode passar o vírus para o recém-nato, que pode desenvolver uma forma grave de “dengue- neonatal”. Também é possível ocorrer transmissão através de transfusão sanguínea. Patogênese O vírus é inoculado pela fêmea do mosquito durante o replastro sanguíneo. Inicialmente, o vírus se replica nas células mononucleares dos linfonodos locais e nas células musculares esqueléticas (o que explica a dor muscular), produzindo a viremia. No sangue, o vírus penetra nos monócitos, onde sofre uma segunda replicação e se dissemina por todo o corpo. A replicação viral estimula a produção de citocinas pelos macrófagos e, indiretamente, pelos linfócitos T-helper específicos que interagem com o HLA classe II dessas células. Patogênese A síndrome febril da dengue provavelmente depende da liberação dessas substâncias, sendo as mais importantes o TNF-alfa e a IL-6. A resposta imunológica começa a surgir já na primeira semana de doença. Tanto a imunidade humoral quanto a celular participa do controle da infecção. Os linfócitos TCD8+ citotóxicos são capazes de destruir as células infectadas, por intermédio de anticorpos específicos (citotoxicidade anticorpo-dependente). Os vírus também podem ser neutralizados diretamente pelos anticorpos Patogênese A partir do sexto dia de doença, o IgM antidengue começa a ser detectado, atingindo o pico no final da primeira semana e persistindo no soro por alguns meses. Os anticorpos da classe IgG surgem na primeira semana e atingem o pico na segunda semana, mantendo-se positivo por vários anos e conferindo imunidade sorotipo-específica, provavelmente por toda a vida. Patogênese da dengue grave A dengue grave geralmente ocorre em pacientes que já se infectaram por algum sorotipo do vírus e, anos depois, voltam a ser infectados por outro sorotipo. A chance de dengue grave é maior quando a segunda infecção é pelo sorotipo 2. Em termos de virulência, em ordem decrescente temos os sorotipos 2, 3, 4 e 1. Teoria de Halstead A ligação dos anticorpos heterólogos ao novo sorotipo de vírus da dengue (sem neutralizá-lo) facilitaria a penetração do vírus nos macrófagos, por mecanismo de opsonização. Uma quantidade muito maior de vírus ganharia o interior dos fagócitos, onde podem se proliferar em larga escala, aumentando a viremia e estimulando a produção de grande quantidade de citocinas (TNF-alfa, IL-6), além de proteases ativadoras do sistema complemento e tromboplastina. Linfócitos T-helper CD4+ específicos secretam IFN-gama, que age sobre os macrófagos infectados, potencializando a internalização viral e a expressão de moléculas HLA classe II em sua membrana que, por sua vez, ativa os linfócitos T-helper CD4+ específicos – um mecanismo de feedback positivo. Quadro clínico Fase de recuperação Fase crítica Fase febril 06 Febre alta (39 – 40° C): principal manifestação da dengue, tem início súbito,dura de 2 a 7 dias. Tipicamente, aé acompanhada por adinamia, cefaleia, dor retrorbitária, mialgia e artralgia. Queixas gastrointestinais: anorexia, náusea, vômito, diarreia. São comuns na fase febril. Exantema maculopapular surge em metade dos pacientes, pode ou não ser pruriginoso, acomete face, tronco, extremidades e sem poupar palmas e plantas. Costuma surgir durante a defervescência e dura no máximo 36-48 horas. A maioria dos pacientes passa da fase febril diretamente para a fase de recuperação. Fase febril Essa fase pode se instalar durante a defervescência (entre 3-7 dias após o início dos sintomas) e suas primeiras manifestações costumam ser os sinais de alarme. Pode ocorrer choque circulatório, hemorragia digestiva alta, miocardite, aumento das aminotransferases. crianças, pode ocorrer crise convulsiva, meningite linfomonocítica, síndrome de Reye, polirradiculoneurite (Guillain-Barré) e encefalite. Fase crítica Dor abdominal intensa e contínua Vômitos persistentes Hipotensão ortostática e/ou lipotimia Hepatomegalia > 2cm abaixo do rebordo costal Sangramento de mucosas Letargia e/ou irritabilidade Acúmulo de líquido (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico) Aumento progressivo do hematócrito Sinais de alarme Fase de recuperação Pacientes que receberam terapia apropriada durante a fase crítica atingem a fase de recuperação dentro de poucos dias, e o líquido extravasado para o espaço extravascular começa a ser reabsorvido, com melhora gradual do estado clínico. Neste momento é importante estar atento à possibilidade de complicações relacionadas à hiper-hidratação, como a hipervolemia (HAS, edema agudo de pulmão). O débito urinário pode ficar aumentado e muitos pacientes apresentam mudanças no padrão eletrocardiográfico, desenvolvendo bradicardia. Diagnóstico diferencial Influenza Zika Chikungunya Leptospirose anictérica Viroses exantemáticas: sarampo, rubéola, mononucleose, enterovirose Hepatites virais Infecções bacterianas agudas Confirmação diagnóstica pesquisa de antígenos virais (dosagem de antígeno NS1 no sangue); isolamento viral (cultura); teste de amplificação gênica (RT-PCR); imuno-histoquímica tecidual (amostras obtidas por biópsia ou autópsia). Até o quinto dia de doença, somente métodos que identifiquem diretamente o vírus e sua partículas podem ser usados, como por exemplo: Cumpre ressaltar que o resultado negativo não descarta o diagnóstico. Do sexto dia em diante, o diagnóstico deve ser feito por meio de sorologia, com pesquisa de IgM antidengue pela técnica ELISA. Os anticorpos IgG antidengue, se positivos neste momento, refletem apenas contato prévio com o vírus, não sendo úteis para o diagnóstico do quadro de dengue aguda atual Confirmação diagnóstica Não há droga específica contra o vírus da dengue. Alívio síntomático é feito com analgésicos, antitérmicos e antipruriginosos, com ênfase na hidratação oral (nos casos brandos) ou intravenosa (nos casos graves). IMPORTANTE: salicilatos (AAS) e demais AINES são contraindicados na suspeita de dengue. AINES: AAS, ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, diclofenaco, indometacina, nimesulida, paracetamol, meloxicam, celecoxibe. Tratamento O tratamento da dengue é feito por meio da abordagem clínico evolutiva. Com ela, dividimos os pacientes com suspeita da doença em 4 grupos de risco. Essa estratificação de risco deve ser dinâmica e contínua, tendo em mente que o paciente pode passar de um grupo para outro em questão de horas. (algoritmo do Ministério da Saúde). Tratamento SUSPEITA DE DENGUE: relato de febre, usualmente entre 2 e 7 dias, e duas o mais das seguintes manifestações: náusea, vômitos, exantema, mialgias, artralgia, cefaleia, dor retro-orbital, petéquias, prova do laço positiva, leucopenia. Também pode ser considerado suspeito toda criança com quadro febril agudo, usualmente entre 2 e 7 dias de duração e sem foco de infecção aparente. TEM SINAL DE ALARME? (dor abdominal intensa, vômitos persistentes, hipotensão e/ou lipotimia, hepatomegalia > 2cm do rebordo costal, sangramento de mucosas, letargia o irritabilidade, acúmulo de líquido (ascite, derrame pleural), aumento progressivo do hemactócrito). Grupo A Definição: caso suspeito de dengue, ausência de sinais de alarme, ausência de sangramentos espontâneosou induzidos (prova do laço negativa). O paciente também não deve ser portador de comorbidades crônicas importantes, assim como não deve possuir condições clínicas especiais ou risco social. Conduta diagnóstica: exames específicos para a confirmação diagnóstica são obrigatórios apenas em situações não epidêmicas. No contexto de uma epidemia, o diagnóstico pode ser clinicoepidemiológico. O hemograma e outros exames não específicos podem ser realizados, mas não são obrigatórios. Grupo A Tratamento: em regime ambulatorial, com hidratação oral. Para adultos, prescrever um volume total de 60 ml/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina (soro de reidratação oral) e os 2/3 restantes com líquidos caseiros (água, suco, chá). 1/3 do volume total deve ser oferecido logo o início do tratamento. O paciente deve receber por escrito a prescrição de líquidos, de modo que não haja dúvida. Grupo A Crianças até 10 kg: 130 ml/kg/dia Crianças de 10-20 kg: 100 ml/kg/dia Crianças >20 kg: 80 ml/kg/dia Para crianças (<13 anos), o volume ofertado deve seguir a regra de Holliday-Segar acrescido da reposição de possíveis perdas de 3%. Tal qual no adulto, 1/3 do volume é dado por soro de reidratação oral, e os 2/3 restantes com líquidos caseiros. 1/3 do volume também deve ser ofertado no início do tratamento. Grupo B. Definição: caso suspeito, sem sinais de alarme, mas com presença de sangramentos espontâneos (petéquias, equimoses) ou induzidos (prova do laço). Também entram nesse grupo os portadores de comorbidades crônicas (HAS, DM, DPOC, IRC, doenças hematológicas, doença péptica gastroduodenal, hepatopatias) ou condições clínicas especiais (idade < 2 anos ou >65 anos, gestantes) ou risco social Conduta diagnóstica: exames específicos para confirmação diagnóstica da dengue são obrigatórios apenas em situações não epidêmicas. No entanto, o hemograma é obrigatório para todos os pacientes do grupo B, a fim de avaliar a hemoconcentração. A liberação do resultado do hemograma deve ser feita em 2 horas. O paciente deve aguardar o resultado na unidade de atendimento. Grupo B Hemograma normal: manter a prescrição de hidratação e tratar o paciente em regime ambulatorial, reavaliando-o diariamente, por até 48 horas após o desaparecimento da febre (fornecer cartão de acompanhamento da dengue). Hematócrito aumentado: indica hemoconcentração. O paciente deve permanecer internado e conduzir como GRUPO C. .Tratamento: o paciente deve ser observado na unidade de atendimento até o resultado do hemograma, e enquanto isso ele recebe hidratação oral, conforme as recomendações do grupo A. Grupo C .Definição: caso suspeito de dengue, com presença de algum sinal de alarme. Conduta diagnóstica: exames específicos são obrigatórios sempre. Alguns exames inespecíficos além do hemograma também são obrigatórios. Outros exames laboratoriais (glicose, gasometria arteial, eletrólitos, ecocardiograma) podem ser solicitados conforme indicação médica. Tratamento: todos os pacientes do grupo C devem iniciar reposição volêmica intravenosa imediata, onde quer que estejam. Dengue : diagnóstico e manejo clínico : adulto e criança. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – 5. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016. Referências
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