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(Medcurso 2019) A superfície da pele é colonizada por diversas bactérias, geralmente gram-positivas (estafilococos, estreptococos) e difterioides, capazes de conviver com um pH relativamente ácido (entre 5 e 6) e uma osmolaridade relativamente alta. Quando intacta, a pele funciona como uma importante barreia contra invasão de micróbios. Entre as bactérias piogênicas que invadem a pele, destacam-se o Staphylococcus aureus, o Streptococcus pyogenes e o bacilo Gram-negativo Pseudomonas aeruginosa. O uso prévio de alguns antibióticos, como a ciprofloxacina, selecionam bactérias da microbiota cutânea, permitindo a proliferação de S. aureus MRSA e de Gram-negativos entéricos do grupo das pseudomonas. As infecções cutâneas e subcutâneas são classificadas de acordo com a profundidade do tecido acometido. indo do superficial para o profundo: piodermites (impetigo, foliculite, ectima), erisipela, celulite, fasciíte necrosante. Impetigo É uma infecção da epiderme superficial (subcórnea) de aspecto vesicopustular. Pode ser primário ou secundário a uma dermatose prévia. O Streptococcus pyogenes (beta-hemolítico do grupo A) é o agente mais comum do impetigo crostoso, predominando em ambientes de baixas condições socioeconômicas e higiene precária. Esta bactéria patogênica coloniza a pele cerca de 10 dias antes do desenvolvimento da infecção, sendo transmitida pessoa a pessoa. O Staphylococcus aureus é o agente mais comum do impetigo bolhoso. Qualquer impetigo tem pico de incidência nos meses quentes e úmidos do ano. Forma crostosa: predomina em crianças de 2 a 5 anos. As lesões ocorrem em áreas expostas (face, membros inferiores), iniciando-se como pequenas pústulas, que logo se rompem. O pus é ressecado, convertendo-se numa espessa crosta amarelada. Pode haver linfadenopatia satélite, porém as lesões não deixam cicatrizes e não estão associadas à febre. → Tratamento: Penicilina G benzatina 1.200.000 U IM, dose única. Penicilina V oral 250 mg VO 6/6h por dez dias. → Pela possibilidade de S. aureus associado, alguns autores recomendam cobrir esta bactéria: cefalexina, eritromicina, mupirocin tópico. Forma bolhosa: predomina também em crianças pequenas, correspondendo a 10% dos impetigos. As lesões são bolhas entre 1-2 cm de diâmetro que se tornam pústulas e se rompem, deixando finas crostas de verniz. → Tratamento: cefalexina, cefadroxil, eritromicina (VO durante 7 dias) ou mupiricin tópico. Outras piodermites Ectima: trata-se de uma piodermite estreptocócica (S. pyogenes), que começa como uma pústula, que logo se aprofunda para a derme, evoluindo para a formação de úlcera cutânea de 0,5-3 cm, com bordos elevados. O tratamento é o mesmo para o impetigo crostoso. Lesões semelhantes podem ser encontradas na bacteremia por P. aeruginosa. Foliculite: é uma piodermite estafilocócica (S. aureus) caracterizada pela infecção supurativa de um ou mais folículos pilossebáceos. São lesões únicas ou múltiplas agrupadas, de aproximadamente 5 mm de diâmetro, de base eritematosa e centro pustuloso. São bem demarcadas e localizadas exatamente no folículo piloso. A foliculite por P. aeruginosa é comum em indivíduos que tiveram contato com banheiras de água quente, não clorada. A foliculite por Candida pode ocorrer raramente em pacientes usuários de glicocorticoides e múltiplos antibióticos tópicos (mupirocin). O antibiótico sistêmico (cefalexina, cefadroxil, eritromicina, clavulin) está indicado nos casos de foliculite extensa ou refratária. Diagnostico diferencial da foliculite: acne, pseudofoliculite, foliculite queloideana de nuca, foliculite dissecante de couro cabeludo etc. Erisipela Também chamada de “febre de Santo Antônio”, a erisipela é uma infecção pelo S. pyogenes da derme superficial e profunda, acometendo os vasos linfáticos, e que se superficializa, atingindo também a epiderme. A porta de entrada da bactéria pode ser úlcera de estase ou lesões micóticas intertriginosas. O que caracteriza clinicamente a erisipela (diferenciando-a da celulite clássica) é a presença de lesões francamente eritematosas e de bordos bem definidos, por vezes elevados. A lesão é quente e dolorosa, com uma preferência típica pela face (região malar) e pela face anterior, lateral ou medial da perna (em 70-80% dos casos). Após 2-3 dias de evolução, podem surgir bolhas flácidas no centro da lesão que logo podem se romper (erisipela bolhosa). O paciente encontra-se com febre alta, calafrios e muitas vezes toxêmico, necessitanto de internação hospitalar. O comprometimento linfático superficial facilita a disseminação lateral da infecção e determina um aspecto em casca de laranja. O linfedema pode ocorrer como sequela, especialmente quando há erisipela de repetição. Tratamento: durante 10-14 dias. → Casos graves (toxemia): penicilina G cristalina 1-2 milhões U 4/4h. → Casos leves/moderados: penicilina G procaína 600.000 U 12/12h. Penicilina V oral 250 mg 6/6h. → Alérgicos a penicilina: eritromicina 500 mg VO 6/6h. → Profilaxia: indicada em casos de erisipela de repetição para evitar a complicação linfática: Elefantiasis mostra. Feita com: penicilina G benzatina 1.200.000 U IM 4/4 semanas. Celulite É uma infecção de tecido subcutâneo (derme profunda e gordura subcutânea) causada pelo S. aureus e, em segundo lugar, o S. pyogenes. A infecção frequentemente possui uma porta de entrada identificável (abrasão, ferida cutânea, úlcera, furunculose), evoluindo com sinais intensos de flogose no local (rubor, calor, dor e edema). Diferentemente da erisipela, não há bordas delimitadas e o eritema é menos proeminente. Febre alta, calafrios e toxemia são comuns. A terapia deve ser imediatamente iniciada com antibiótico venoso, a não ser nos casos mais brandos, sem sinais de toxemia e de intolerância gastrointestinal. Em caso de dúvida entre celulite ou erisipela, devem-se tratar as duas possibilidades (ex: penicilina G cristalina + oxacilina). Tratamento: durante 10-14 dias. → Casos graves (toxemia): oxacilina 2 g IV 4/4h. → Casos leves/moderados: cefalexina, cafadroxil, eritromicina. → Alérgicos a penicilina: cefazolina, cefalotina, vancomicina. Furúnculo e carbúnculo O furúnculo é um nódulo supurativo na derme profunda que se instala a partir de uma foliculite. O carbúnculo é uma lesão mais extensa e profunda, atingindo a gordura subcutânea e se manifestando como múltiplos abscessos separados por septos conjuntivos. Ambos são causados pelo S. aureus. A maioria dos furúnculos pode ser tratada com calor úmido local sem antibiótico. Nunca se deve espremer um furúnculo, pois a bactéria pode se disseminar pela corrente sanguínea. Os furúnculos associados a febre ou celulite perilesional e os carbúnculos devem ser tratados com antibiótico sistêmico (os mesmos da celulite). A furunculose de repetição deve ser tratada com antibiótico sistêmico por 10-14 dias, além de aplicação de mupirocina tópica e cuidados intensivos com a higiene.
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