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Unidade 1 Análise ambiental e de mercado Danilo Pereira da Silva © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Imagens Adaptadas de Shutterstock. Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. Conteúdo em websites Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros. Sumário Unidade 1 Análise ambiental e de mercado ................................................................. 7 Seção 1 Do marketing tradicional ao marketing digital .............................. 8 Seção 2 Ferramentas estratégicas ..................................................................19 Seção 3 Cultura de consumo e tomada de decisão do consumidor .........29 Seção 4 Estilo de vida e a influência digital ................................................40 Palavras do autor Prezado aluno, seja bem-vindo à disciplina Gestão Mercadológica na Era Digital, na qual nos dedicaremos a entender melhor a mercado-logia ou, como é mais conhecido, o marketing. Essa é uma compe- tência fundamental para todas as organizações, indo além da divulgação e propaganda: seu papel é tamanho, que solidifica a estratégia da empresa e dita os novos caminhos a seguir. O estudo da gestão mercadológica na era digital se faz necessário, pois essa revolução digital traz grandes mudanças na forma pela qual os consumi- dores adquirem informações e consomem produtos. As organizações neces- sitam estar aptas a reagir rapidamente, analisando seus ambientes, ou correm o risco de ir à falência. Neste curso, você obterá conhecimentos que podem nortear suas ativi- dades em diversas áreas das organizações, além de obter informações sobre como as principais empresas utilizam o marketing para a tomada de decisões. Iniciaremos apresentado o conceito de marketing, suas principais ferramentas, o comportamento dos consumidores e a análise ambiental e de mercado. Na sequência, estudaremos a gestão do produto, serviços, marcas e canais de venda, apresentando conceitos como matriz BCG, 4P de marketing, comércio digital B2B e B2C e venda por canais on-line e off-line. Na próxima etapa partimos para o gerenciamento de preços, analisando as formas de precificação tanto on-line quanto off-line, a composição desses preços e como utilizá-los como estratégia empresarial E, finalmente, focamos no gerenciamento da comunicação e promoção, trazendo os conceitos de mix de comunicação, 5M, diferentes formatos de mídia e propaganda e publicidade. Este conteúdo foi desenvolvido com muito cuidado para que você obtenha um grande aprendizado e faça desse conhecimento um diferencial em sua carreira profissional. Para isso, é fundamental que você faça a sua parte, efetuando o estudo do material e utilizando os conceitos aprendido na prática. Boa leitura! Unidade 1 Danilo Pereira da Silva Análise ambiental e de mercado Convite ao estudo Olá, caro aluno! Na hora do almoço, você decide em qual restaurante comer, comparando uma série de itens (preço, distância, tipo de comida). No caminho para o restaurante, observa um outdoor sobre uma escola de idiomas; durante o almoço checa suas redes sociais e percebe um anúncio de um ingresso para um show que você tem interesse. Ao pagar a conta, o atendente informa que a cadastrando dez almoços no aplicativo, o 11º é grátis, e ao voltar ao trabalho você recebe um flyer sobre a construção e venda de um novo edifício de apartamentos. Você sabe o que tudo isso tem em comum? Todas essas ações fazem parte do marketing e suas estratégias. No decorrer deste estudo vamos nos aprofundar no conceito de marke- ting, apresentaremos a evolução do marketing do tradicional ao digital e suas principais diferenças, como a tecnologia vem alterando as estratégias das organizações. Também nos aprofundaremos nas eras do marketing, na importância da análise de ambientes e suas variações, bem de que maneira elas afetam o ambiente interno da empresa e seus produtos. Serão apresen- tadas as principais ferramentas estratégicas do marketing, e estudaremos a cultura do consumo e o processo de tomada de decisão. Por fim, analisa- remos o estilo de vida dos nossos consumidores, a influência digital sobre eles e seu comportamento no mundo on-line Ao fim deste estudo você estará apto a efetuar uma análise estratégica do ambiente e mercado para sua empresa com foco na área de marketing, e assim poderá se tornar um profissional mais completo, desenvolvendo as habilidades de analisar o ambiente de marketing, traçar estratégias para segmentação de mercados-alvo e efetuar um plano de marketing. Vamos aos estudos? 8 Seção 1 Do marketing tradicional ao marketing digital Diálogo aberto Prezado aluno, seja bem-vindo! Durante o comercial do seu programa favorito, você assiste à oferta de um produto que se encaixa no seu perfil. Antes de começar seu vídeo no YouTube, um anúncio é vinculado. Você recebe uma ligação da sua opera- dora de telefonia, convidando-o para uma pesquisa de satisfação. No super- mercado, degusta um novo sabor de sorvete, e antes de pagar por um aplica- tivo no seu celular, você pode testá-lo por sete dias. Todas essas situações no mundo de hoje são reflexos de estratégias e do conceito de marketing. Nesta seção, vamos juntos estudar sobre a evolução do marketing do seu início até a era digital, o ambiente em que ele está inserido e como podemos utilizá-lo para segmentar melhor nosso cliente e mercado. Para isso, vamos acompanhar as irmãs Simone e Cibele, que juntas criaram uma loja de bolsas e semijoias em um bairro comercial de sua cidade. Simone cuida das vendas e Cibele, da administração. Nos últimos anos conquistaram uma base sólida de clientes, principal- mente do bairro, graças ao bom atendimento de Simone e à qualidade dos produtos ofertados. A localização da loja foi escolhida devido ao bom preço do aluguel e porque fica próxima a uma grande avenida, o que, na opinião da Cibele, ajudou a construir a base de clientes. Porém, neste ano elas notaram uma queda no movimento, e com isso seu lucro vem caindo. Decidiram, então, investigar o que estava acontecendo e descobriram que uma grande rede de moda feminina havia se instalado em um shopping próximo, que adotou uma estratégia agressiva de marketing. Simone pensa em investir em vendas on-line e Cibele quer entender melhor o que é marketing. Assim, você vai ajudar as duas a desenvolver um plano de marketing e responder algumas questões. Como elas podem voltar a crescer usando as vendas on-line? Como elas podem competir com uma grande loja? Como entender o perfil do seu cliente atual e potencial, e como conquistá-lo? Nas próximas páginas vamos entender um pouco mais sobre o conceito marketing e como ele vem evoluindo até a Era 4.0. Além disso, veremos como podemos usar o marketing para melhorar os resultados e atrair mais clientes. Vamos juntos estudar para ajudá-las e aprimorar nossos conhecimentos? 9 Não pode faltar Nós estamos o tempo todo expostos ao marketing e somos influenciados por ele em diversos sentidos sem ao menos perceber. Ele está presente na televisão, mais obviamente nas propagandas dos intervalos comerciais, mas também nos patrocíniosa programas em que empresas oferecem prêmios aos participantes de programas de plateia, tendo assim sua marca propagada. Está presente também em pôsteres no transporte público, na degustação de produto nos mercados, em uma amostra grátis que você recebe na compra, no desconto na farmácia e até em uma pesquisa de opinião. Kotler e Armstrong (2003, p. 26) definem marketing como “um processo administrativo e social pelo qual indivíduo e grupos obtêm o que necessitam e desejam, por meio de criação, oferta e troca de produtos e valor com outros”. Por esta definição, você pode perceber que o marketing vai além da propa- ganda, como muitos ainda pensam, mas faz parte do processo de definição de estratégia, desenvolvimento de produto ou serviço. As Eras do Marketing Philip Kotler é um dos maiores especialistas em marketing, tendo seus livros como base para cursos graduação e pós-graduação. Criou conceitos fundamentais para as organizações e que são utilizados por profissionais de marketing por todo o mundo até hoje. Além disso, ele foi o responsável por criar e difundir o conceito de marketing da Era 1.0 à Era 4.0. Vamos entender um pouco de cada uma dessas eras? O marketing como o conhecemos teve início na Revolução Industrial, quando era centrado no produto, pois o objetivo era vender em massa produtos padronizados, produzidos em escala e com custo baixo. O maior exemplo disso é o Ford Modelo T, o primeiro carro produzido em série. Hoje algumas organizações ainda trabalham com esse modelo, conhecido como Marketing 1.0 O Marketing 2.0 é a era orientada ao cliente, tendo como lema “o cliente é rei”, pois, com o advento do acesso à informação, ele passa a ter acesso aos preços e pode compará-los. Com isso, ele passa a ser mais exigente, e cada consumidor quer um produto que melhor atenda às suas necessidades. Devido a isso, as organizações necessitaram segmentar seus mercados, com produtos melhores para mercado-alvo. Um exemplo é a gama variada de produtos oferecidos por uma mesma empresa, de preços e qualidade variadas, e as empresas que se especializaram em cada tipo de público, como as lojas de luxo que vendem produtos para a Classe A. 10 Em 2010, Kotler lançou o livro Marketing 3.0, no qual abordou o tema das novas configurações de consumo. As organizações passaram a considerar os clientes mais do que consumidores, mas como seres com desejos, valores e o espírito humano de transformar o mundo em um lugar melhor. Assim nasceu a era voltada a valores. Questões como desmatamento, testes em animais e poluição, entre outros, passaram a ter atenção dos consumidores e, assim, além de fatores como preço e qualidade, levam em conta a organização e seus impactos no ambiente. Não é raro, hoje em dia, propagandas que abordem mais a causa social e a maneira como a empresa utiliza materiais reciclados ou protege o meio ambiente do que do próprio produto em si. Nesta era, as pessoas estão mais conectadas às outras e a informação circula globalmente. Outra consequência da globalização que pode ser desta- cada é a necessidade de empresas se adaptarem a diferentes cenários, países, culturas, economias etc. Tudo isso é o que conduz os novos processos decisó- rios dentro das organizações. E, finalmente, chegamos ao Marketing 4.0, no qual o foco é o compor- tamento dos clientes on-line. Com o advento das inovações digitais, nosso mundo está mais conectado, e a evolução das novas tecnologias é cada vez mais vez rápida. Devido a isso, nossa forma de consumir tem mudado drasti- camente e as organizações devem se adaptar rapidamente, correndo o risco de deixarem de existir. São exemplos casos como o fim das locadoras, com o surgimento de plataformas de filmes digitais e o fechamento de grandes livrarias, devido ao comércio on-line de livros. Também como avanço da tecnologia figuram as plataformas de ensino a distância. Neste cenário de transformação digital é importante que as organizações fiquem atentas às mudanças e se adaptem ao mundo on-line. Ainda assim, na era digital tornou-se um diferencial positivo manter um aspecto off-line. A revolução digital exige mais do que usar as redes sociais; é uma mudança de mindset. Novos conceitos têm a necessidade de ser integrados, tais como jornada do cliente, customer relationship management (CRM) e omnichannel. Vocabulário Aqui temos, alguns termos já mencionados ou que serão mencionados à frente. • Jornada do cliente: entender e mapear o caminho que o consu- midor percorre desde seu contato inicial até a compra. • Mindset: em tradução livre, mind é mente e set, configuração; ou seja, mudança de configuração da mente ou das linhas de pensamento. 11 • Omnichannel: integração das lojas físicas e virtuais para que, independentemente de qual canal o cliente entre em contato, a experiência seja a mesma. • CRM: gerenciamento do relacionamento com o cliente. • Top of Mind: marcas que são referências, muitas vezes substituindo o nome do produto. Por exemplo, Bombril em vez de palha de aço. • Demografia: análise e estudo das características de uma população, contemplando: idade, sexo, cidade natal, índice de natalidade, crença religiosa, entre outras. • Market Share: a fatia de mercado que determinada organização detém. A evolução do marketing tradicional para o digital A forma de marketing tradicional morreu; as organizações não detêm mais toda a informação e podem passar apenas o que desejam aos clientes. Hoje as pessoas buscam informações sobre o produto na internet, leem as avaliações em sites, assistem análises no YouTube, comparam preço em buscadores e, assim, estão cada vez mais preparadas para a tomada de decisão. Antes, o profissional de marketing criava suas segmentações de merca- do-alvo como base apenas em estudos demográficos, comportamentais e geográficos, porém por mais que ainda seja possível e recomendável efetuar as segmentações dessa maneira, é necessário ir além. Temos que conhecer nossos clientes, sua cultura, seu modelo mental e os grupos de influência em que ele está inserido, para, assim, obter melhores resultados. Agora o cliente está integrado a outros consumidores pelo mundo e juntos formam uma grande comunidade nas redes sociais. Isso vai além de manter uma página comercial no Facebook: é necessário interagir com conteúdo relevante, gerar valor ao cliente, entender suas preferências para melhor atendê-los. O envio de e-mail marketing pode ser considerado spam quando não é relevante, ou quando não for solicitado. A organização deve, então, pedir permissão ao cliente para abordá-lo, e assim integrar a comuni- dade em que ele convive de forma on-line. Ser uma marca Top of Mind ainda é importante, mas sem adaptação e sem ter a visão necessária, ela poderá ser destruída. Há alguns anos a Kodak era uma dessas marcas, mas a falta de visão e adaptação fez com que ela fosse à beira da falência por deixar de entender a necessidade de seus clientes, perdendo o seu espaço para novos concorrentes e smartphones. 12 A intensidade de como o marketing nos afeta aumentou com o uso dos smartphones, computadores e redes sociais, gerando novas formas de atingir o público. Provavelmente você já fez uma pesquisa de algum produto ou viagem pelo seu smartphone, e então passou a ver esse produto em toda a rede. Ou, então, seu filho (ou irmão) começou a pedir um brinquedo que ele viu em um canal do YouTube. Essas são algumas das novas formas que o marketing tem assumido nessa era digital. Você pode ainda ver exemplos de organizações operando na Era 1.0, 2.0 ou 3.0. O ideal para os profissionais de marketing e dirigentes é migrar gradativamente de um modelo para outro até atingir o 4.0, buscando, assim, manter o equilíbrio entre a marca e sua evolução. Reflita Pensando nas organizações onde você trabalha ou trabalhou, responda: Você consegue identificar em qual era do marketing elas se enquadram? Quais as estratégias de segmentação de mercado-alvo elas utilizam? Análisedo ambiente O ambiente externo do marketing é constituído por fatores sociais, tecno- lógicos, econômicos, políticos e legais, naturais e competitivos, conforme Figura 1.1. A análise do ambiente deve rastrear as mudanças que podem afetar a organização nestas dimensões. Figura 1.1 | Dimensões do ambiente de marketing Fonte: adaptada de Churchill e Peter (2012). 13 Uma mudança em qualquer uma das dimensões do ambiente de marke- ting pode gerar um efeito em cascata, em que o produto ou serviço deixe de ser necessário. Por outro lado, uma análise efetiva do ambiente pode auxiliar a organização a prever mudança, posicionar-se previamente neste novo cenário e aumentar seu Market Share. No Quadro 1.1, você pode observar alguns exemplos de mudanças em cada uma das dimensões do ambiente de marketing. Quadro 1.1 | Exemplo de mudanças no ambiente de marketing Dimensão Produto Mudança Impacto Político e Leis Tabaco e fumígeros Proibição da veicula- ção de propagandas e patrocínios. Declínio dessa indústria com a diminuição do número de clientes. Tecnológico CD A criação do streaming Queda brusca nos preços e na procura por este item. Econômico Imóveis Programa Minha Casa Minha Vida, com aumento de oferta de financiamentos. Aumento da demanda por imóveis de médio e baixo custo. Social Alimentos Busca por produtos orgânicos e saudáveis. Busca de alimentos me- lhores em detrimento do preço. Competitivo Táxi O surgimento de carros por aplicativos. Aumento da concor- rência, com produtos melhores e preços mais competitivos. Natural Combustíveis Escassez de petróleo na natureza. Automóveis passam a necessitar de novas formas de combustível. Fonte: elaborado pelo autor. Você pode, por exemplo, observar o mercado bancário brasileiro, que até alguns anos era um mercado sólido e tradicional com todas as 5 forças de Porter ao seu favor. Porém, devido a alterações disruptivas nos ambientes tecnológico, social e político, houve uma subversão nesse cenário, o que favoreceu o surgimento dos bancos digitais, como podemos ver no Quadro 1.2. 14 Quadro 1.2 | Alterações no ambiente de marketing no setor bancário Ambiente Bancos tradicionais Bancos digitais Tecnológico Burocracia para solicitar serviços. Solicitação de serviços via aplicativo. Social Público de trabalhadores formais acostumados à burocracia. Foco em novos públicos, como jovens conectados e avessos à burocracia. Político Pouca ameaça de novos en- trantes devido à dificuldade em criar um banco novo. Aprovação de leis, facilitando e incentivando a criação de novos bancos digitais e fomen- tando a concorrência. Fonte: elaborado pelo autor. Os bancos tradicionais estão, neste momento, buscando uma evolução rápida para a digitalização de suas atividades, visando alcançar os bancos que já nasceram digitais, para inserir-se neste no ambiente de marketing. Seus dirigentes sabem que essas mudanças no ambiente de marketing vieram para ficar e, ou eles se adaptam, ou suas organizações podem ir à falência. Assimile Vamos voltar ao caso da Kodak: essa organização centenária nasceu em 1888 e, ao longo das décadas, sempre se reinventou, desenvolvendo novas tecnologias para atender a seus clientes. A Kodak dominava o mercado fotográfico no mundo desde a venda de máquinas até a impressão de fotos. Com a evolução das tecnologias, a organização desenvolveu as primeiras câmeras digitais – mas resolveu não investir nisso, pois a estratégia da empresa era manter o grande lucro que obtinha com a venda de filmes e revelação. Essa estratégia se provou um erro de análise do ambiente, pois com a revolução digital, os consumidores passaram a ter a necessidade de utilizar suas fotos de forma digital, e a demanda por fotos impressas começou a cair. Novos concorrentes surgiram, com máquinas fotográficas digitais de qualidade. A Kodak, ao perceber esse fato, passou a investir nesse segmento, mas a esse ponto seus produtos não eram competitivos. E assim uma das maiores marcas do mundo foi à falência por falhar em analisar o ambiente de marketing. A partir de caso, você consegue observar a importância da análise do ambiente de marketing? 15 Segmentação de mercado Já pensou se todos nós tivéssemos o mesmo modelo de carro com a mesma cor? Isso foi o que Henry Ford pensou, quando desenvolveu seu Modelo T: todos teríamos o mesmo produto com as mesmas especificações. Henry Ford disse a seguinte frase: “Eles podem tê-lo em qualquer cor, desde que seja preto”. Ao longo do tempo esse pensamento vem evoluindo e, finalmente, chegamos ao um ponto em que os consumidores são tratados como pessoas completas, com necessidades, desejos e aspirações diferentes. Isso quer dizer que existe milhares de tipos de perfis de consumo. Hoje em dia a própria Ford Motor Company – empresa legado de Henry Ford – segmenta seus mercados. Caso você viaje para outro país, possivelmente vai se deparar com um carro totalmente diferente dos vistos aqui no Brasil, afinal, as zonas geladas do Canadá, as estradas brasileiras e o calor escaldante de zonas tropicais e desérticas necessitam de tecnolo- gias e modelos adequados às suas realidades. Mas, além das necessidades técnicas, o ambiente social tem alto impacto também nas segmentações, e o consumidor brasileiro tem necessidade e desejos diferentes do consumidor europeu, o que se traduz em outra segmentação. Há alguns grupos de segmentação de mercado. Marketing de massa são produtos que atendem a todos os consumidores de forma única. No modelo atual do marketing há poucos produtos que podem ser classificados assim, pois eles têm a necessidade de agradar a todos os públicos. Um exemplo é a Coca-Cola. Marketing de segmentos é a forma mais utilizada hoje, em que o profissional segmenta parte dos consumidores e oferece soluções que atendam a um grande grupo de pessoas. As organizações atendem a um mercado-alvo ou têm diferentes estratégias e produtos para cada mercado- -alvo que atendem. Exemplo disso são as grandes redes de lanchonetes como o McDonald’s, que oferecem, além do hambúrguer tradicional, opções vegeta- rianas, saladas e até refeições completas. Marketing de nicho é aplicado por organizações que segmentam uma parcela pequena do mercado que tem as mesmas necessidades, e assim prezam pela excelência no atendimento das mesmas. Um exemplo disso são lojas de roupas para mulheres evangélicas de determinada denominação. Para iniciar a segmentação do seu mercado-alvo, você pode levar em conta as bases demográficas (sexo, idade, raça, renda), geográfica (região, clima, densidade populacional), comportamental (frequência de uso, comportamento on-line), estilo de vida. Também é necessária a análise do perfil da concorrência. A partir desses dados você pode identificar os perfis dos consumidores e, assim, direcionar sua estratégia. 16 Para obter esses dados, as organizações recorrem a pesquisas com os clientes, cruzamento de banco de dados, utilização de CRM, pesquisa de mercado e Benchmark. Com todas essas informações, a organização pode estruturar um plane- jamento estratégico, com dados de qual é o mercado-alvo a atingir, como ele prefere receber informações, que tipo de mídia utilizar, onde vender (on-line, off-line ou ambos), qual estratégia de preços pode ser utilizada e quais os principais produtos. Exemplificando O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) é uma entidade sem fins lucrativos que visa estimular o empreendedo- rismo em pequenos negócios. Mesmo sendo uma organização que não visa ao lucro, ela necessita do marketing e de segmentar seus mercados. Sua estratégia é a de marke- ting de segmentos, utilizando alguns compostos de marketing para mercados-alvos diferentes. Para empreendedores mais conectados e digitais, o Sebrae mantém um portal de capacitações on-line, já para os empreendedores mais tradicionais, utiliza a estratégia de escritórios presenciais. Além disso, segmenta seu público emquatro grandes perfis: microempreendedores individuais (MEI), microempresas, empresas de pequeno porte, poten- ciais empresários. Outra segmentação efetuada é a geografia para cada estado/região: o Sebrae se divide em unidades estaduais para melhor atender à demanda de cada estado. Agora que você conhece o conceito de marketing, ambiente e segmen- tação, vamos à prática? Sem medo de errar Você se lembra do caso das irmãs Cibele e Simone? A loja de bolsas e semijoias delas estava com seu faturamento em declínio devido à inaugu- ração de uma grande loja no shopping da região. Ficamos de auxiliá-las na criação de uma estratégia de marketing. Com base no que aprendemos, podemos afirmar que a empresa delas está provavelmente na Era 2.0 do marketing. Porém, as irmãs estão cometendo um erro comum, que é deixar de analisar seu ambiente. O surgimento de um grande concorrente pode afetar drasticamente a pequena empresa, pois ela tende a não 17 conseguir competir em preços, mas, como vimos anteriormente, os consumidores levam em consideração outros fatores além do preço para a tomada de decisão. Um caminho que elas podem usar é efetuar uma pesquisa para entender o mercado-alvo, seus fatores demográficos e comportamentais, entre outros, e, assim, segmentar suas estratégias. Para concorrer com a grande empresa, é possível fazer um posiciona- mento com valor social para um público de nicho, focar o comércio on-line aliado à participação nas comunidades em que seu público convive e, então, efetuar ações que gerem engajamento e valor para a marca. Faça valer a pena 1. A empresa americana General Motors (GM), uma das maiores monta- doras do mundo, anunciou em 2017 que desistiu de vender carros ao médio e longo prazos, e agora está testando seu serviço de aluguel de carros de curto prazo para pessoas que não desejam mais ter automóveis próprios. Essa estratégia prevê o futuro dos carros autônomos. Qual das opções a seguir explica o motivo pelo qual a empresa fez esse anúncio? a. Mudança para o marketing 4.0. b. Nova estratégia de CRM. c. Alteração do ambiente social e tecnológico. d. Queda na venda dos produtos “Vaca Leiteira”. e. Adequação aos valores sociais da Era 3.0. 2. Kotler, em seu livro Marketing 3.0, define as eras de marketing e suas principais características. Quando a empresa produz um produto padronizado e vendido em massa para todos os clientes, ela opera em qual era? Assinale a opção que corresponde à resposta correta. a. Orientada ao digital. b. Orientada ao cliente. c. Orientada aos valores. d. Orientada ao produto. e. Orientada a comportamento on-line. 18 3. Após uma análise dos segmentos de clientes, a empresa Chileno Vinhos decidiu optar por vender apenas produtos de altíssima qualidade de uma região específica do Chile. Qual estratégia de segmentação ela adotou? a. Marketing setorial. b. Marketing geográfico. c. Marketing de massas. d. Marketing individual. e. Marketing de nicho. 19 Seção 2 Ferramentas estratégicas Diálogo aberto Olá, prezado aluno! Vamos, agora, começar a estruturar um planeja- mento de marketing. Você já recebeu uma ligação pedindo que respondesse uma breve pesquisa sobre algum serviço que tenha consumido? Sua empresa já recebeu a visita de outras organizações para conhecer seus processos? Quando recebe oferta de e-mail, ela chega na hora que você está com sua caixa de e-mails aberta e o produto ofertado é algo do seu interesse? Todas essas situações são parte das ferramentas de marketing, e vamos estudá-las mais adiante. Anteriormente conhecemos o caso de duas irmãs, donas de uma loja de bolsas e semijoias em um bairro de sua cidade. Após a chegada de uma grande concorrente, elas passam a ter dificuldade para manter seu fatura- mento. Assim, buscaram entender um pouco mais do conceito de marke- ting e vendas on-line. Efetuaram uma análise do ambiente de marketing e a segmentação do seu mercado-alvo, com a sua ajuda. Para continuar nessa jornada de restruturação e retomada do crescimento, terão que traçar um planejamento de marketing e aprender a usar as principais ferramentas disponíveis. Novamente precisarão da sua ajudar para responder a algumas questões. Quais sãos as melhores estratégias de marketing para a empresa? Como desenvolver um planejamento de marketing? Quais são as ferramentas que devem usar? Vamos nos aprofundar no planejamento do marketing em busca dessas repostas? Não pode faltar O planejamento estratégico do marketing é uma etapa fundamental para que a organização obtenha sucesso em seus objetivos e metas, devendo ser utilizado em todas as organizações, independentemente do ramo ou produto. Você pode conhecer algumas organizações que não efetuam um plane- jamento de marketing e, mesmo assim, obtêm sucesso em suas atividades. Porém, não efetuar um bom planejamento pode levar a organização a cometer alguns erros e gerar impactos negativos, tais como falha na compre- ensão da mensagem transmitida, ocasionando o uso incorreto do produto 20 e reclamações posteriores de insatisfação. Podemos observar, por exemplo, o caso em que uma empresa divulga o investimento em ações com a possi- blidade de alto ganhos, porém não deixa claro quais os riscos envolvidos no processo. Falta de concordância entre as mensagens é outro ponto que devemos abordar. Cada organização busca manter uma comunicação que seja clara e que esteja em mesma sintonia. Um caso é o McDonald’s, que mantém sua mensagem clara em todos os seus canais: mídias impressas, propagandas televisivas e website. Todos contêm a mesma mensagem e compartilham um mesmo objetivo, adaptando-se apenas à forma do canal e construindo, assim, uma imagem duradoura e uma mensagem clara ao longo do tempo. Nós temos acesso a diversas ferramentas que podem ajudar no planeja- mento de marketing, e agora vamos conhecer as principais. Segmentação de mercado Como vimos anteriormente, a segmentação de mercado é um fator funda- mental para qualquer organização e é a partir dela que definimos e entendemos o público que pretendemos atender. Para efetuar essas segmentações utilizamos vários tipos de análises, conforme apresentado no Quadro 1.3. Quadro 1.3 | Segmentação de mercado Tipo Critério Exemplo de segmentação Demográfica Faixa etária, sexo, estado civil. Meninas de 5 a 10 anos. Socioeconômica Renda, escolaridade, posse de bens, ocupação profissional. Dentistas pós-graduados de classe A. Geográfica Localização, bairros, cidades, macrorregiões, países. Clientes da região central da cidade. Benefício esperado Potência do produto, produto de luxo, preço baixo. Clientes que buscam carros de alta potência. Grau de utilização do produto Taxa de consumo do pro- duto. Clientes que sempre trocam de apa- relho pelo modelo mais novo. Psicográfica Estilo de vida, valores, perso-nalidade. Clientes que buscam produtos sustentáveis. Fonte: adaptado de Churchill e Peter (2012). Após essa análise, vamos iniciar a criação das nossas estratégias e da nossa base de planejamento marketing. 21 Sistema de informação de marketing O sistema de informação de marketing (SIM) é uma das principais ferra- mentas disponíveis, pois nele estão contidos os métodos e procedimentos que suportam a inteligência do marketing e planejamento da empresa. Ele é constituído de dados primários e secundários, a saber: • Dados primários são informações que precisam ser coletadas pela organização por não estarem disponíveis imediatamente. Exemplo delas são pesquisas de opinião sobre o produto ou levantamento de necessidades de um serviço específico. A coleta desses dados é feita com pesquisas qualitativas, entrevistas, experimentos e observações. Esse tipo de dado é mais caro de ser obtido devido à forma de coleta, porém, com o avanço das tecnologias, esse tipo de levantamento se tornou um pouco mais fácil e barato, já que podemos fazer parte desses estudos pela internet. • Dados secundários são informações quea organização já possui e que estão disponíveis para serem utilizadas inicialmente. Eles têm custo inferior aos dados primários, sendo assim mais vantajosos, pois já foram adquiridos anteriormente. As desvantagens principais desses dados são: risco de estarem desatualizados, falta de informa- ções completas, baixo teor de confiança na precisão dos dados e/ou inadequados ao objetivo da análise. Os dados secundários podem ser originados de levantamentos internos anteriores como contabilização de interações dos clientes ou de fontes externas, como as pesquisas de Ibope, dados de censo, pesquisa de outras empresas, dados de prefei- turas e parceiros, entre outras fontes. Pesquisa de marketing A pesquisa de marketing é uma forma objetiva de obter respostas sobre um problema ou situação objeto da pesquisa. A seguir, você pode conferir alguns exemplos: • Avaliação da imagem de um produto. • Aceitação desse produto em determinado mercado. • Possível expansão de mercado em uma nova região. Para efetuar uma boa pesquisa de marketing, é necessário definir bem qual o objetivo da pesquisa. Temos alguns questionamentos que podem nos ajudar nesta definição: Por que vamos realizar a pesquisa? Quais variáveis do composto de marketing vou pesquisar? Quais categorias de produtos? 22 Quem é o público alvo? Quais aspectos do comportamento? Quais dados demográficos? Respondendo a essas questões, você terá base para definir seu objeto de pesquisa. Existem três tipos de pesquisa: Exploratória: que tem como finalidade gerar hipóteses, obter informa- ções e gerar ideias. Casual: com a finalidade de validar ou testar a relação de causa e efeito, como uma pesquisa para analisar se a queda nas vendas de certo produto está relacionada à qualidade ou a um produto substituto. Descritiva: tem como finalidade analisar a relação entre duas variáveis, se existem e a frequência de ocorrência. Exemplo: uma análise para determinar qual é o fator decisivo para a venda do produto – o marketing televiso ou a qualidade do atendimento na hora da compra. Customer Relationship Management (CRM) O conceito de CRM, ou em português, gerenciamento do relacionamento com o cliente, surgiu no final da década de 1990, como um desdobramento da Database Marketing (DBM), o marketing de banco de dados, no qual são registradas todas as interações de contatos com o cliente, seu relacionamento e eventos da organização. O DBM possibilitava a análise e tratamentos dos dados de forma informatizada e rápida. Graças à evolução da informática e do conceito de marketing, tornou-se possível o marketing individualizado, em que cada cliente é tratado individualmente com ofertas e com seu relacio- namento pelo seu canal de preferência. O conceito de CRM refere-se ao desenvolvimento de uma estratégia de relacionamento e à implementação de processos operacionais baseados em infraestrutura compu- tacional e de telecomunicações, visando adquirir, servir e reter os clientes. (BATISTA, 2000, apud DIAS, 2003, p. 7) As estratégias de marketing se tornaram agressivas nas últimas décadas, sendo comum o telemarketing ativo, em que uma central de vendas, com posse de uma lista de clientes, efetua ligações para oferecer um determinado produto. Essa oferta é feita por meio de um alto volume de e-mails marke- ting ofertando diversos produtos, pelos quais os clientes muitas vezes não têm o menor interesse. Essas estratégias tornavam as empresas invasoras 23 do espaço do cliente, pois utilizam suas informações para ofertas, sem um devido tratamento Com o CRM, temos acesso aos dados armazenados e tratados pelo DBM, e dessa forma podemos traçar planejamentos estruturados com ações de marketing personificadas. Assim, o cliente não se sente invadido: é possível conecta-se ao seu mercado-alvo e a cada cliente da forma que ele deseja, com conteúdos relevantes e no momento oportuno. Assimile Talvez essa seja a primeira vez em que você tenha contato com o conceito do CRM, mas com certeza você foi e é alvo constante de ações surgidas dessas ferramentas. Hoje, a empresa de telefonia que você usa tem acesso ao caminho que você percorre para chegar ao trabalho, o transporte que você usa, suas pesquisas na internet, seus horários, sua agenda e muito mais. Para uma empresa que deseja lhe vender algo, essas informações são cruciais, e todas as organizações buscam manter um CRM atualizado para se relacionar com seus clientes e ampliar suas vendas com ações, no momento em que ele está mais propenso a receber uma oferta e concretizar a compra. Análise SWOT (ou FOFA) Essa ferramenta de análise foi nomeada pelo acrônimo dos termos em inglês Strengths, Opportunities, Weaknesses e Threats (SWOT), ou, em portu- guês, Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças (FOFA). Figura 1.2 | Análise SWOT Fonte: elaborada pelo autor. 24 A matriz SWOT é usada, geralmente, para a elaboração do plano de negócios, além de ser muito útil para o planejamento de marketing. O ambiente interno da empresa é formado por: Forças, que são os itens nos quais a organização se destaca, e pelas fraquezas, que são os pontos nos quais a empresa tem menor efetividade. No ambiente externo, temos as oportunidades, que nada mais são do que fatores fora da organização e que ela pode aproveitar, e as ameaças, que são fatores que podem atrapalhar a empresa. Exemplificando Vamos ver um exemplo de análise SWOT de uma empresa varejista com vendas on-line e off-line: Forças: presença da marca, relacionamento com o cliente, omnichannel, criatividade da equipe. Fraquezas: planejamento marketing engessado, concorrência entre a loja física e a virtual. Oportunidades: novos canais de mídia, novas tecnologias, expansão da venda para outras regiões. Ameaças: entrada de novos concorrentes, alteração no perfil de consumo, alteração no cenário econômico. Benchmark Kotler define o benchmark como “não mais depender do auto aperfeiço- amento e passar a estudar ‘o desempenho de empresas de classe mundial’ e adotar as ‘melhores práticas’” (KOTLER, 2000, p. 49). Essa é uma ferramenta muito útil para todas as organizações, sendo utilizada para a busca de inova- ções e inspirações de outras empresas. Empresas concorrentes diretas não são adeptas da prática de benchmark entre si, para evitar que seu concorrente absorva as melhores práticas e ganha vantagens competitivas. Ainda assim, é possível fazer um benchmark de um concorrente avaliando suas práticas, métricas e resultados a distância, por meio de relatórios e análise disponíveis na internet e em revistas especia- lizadas. Porém, essa prática é comum entre empresas de ramos diferentes, como empresas de telemarketing que fizeram benchmark com empresas automobilísticas e adaptaram a metodologia Seis Sigma. Outra forma comum de benchmark é quando pequenas e médias empresas de alimentação parti- cipam de feiras e eventos como a Summer Fancy Food, e efetuam benchmark em restaurantes badalados. 25 O profissional de marketing pode ser munir dessa ferramenta para compreender como alguns mercados reagem e como melhor aproveitá-los. Vamos tomar como exemplo uma empresa do Sudeste do Brasil que decide expandir seus negócios para Região Nordeste. O profissional de marketing pode efetuar uma pesquisa de mercado, que é uma solução mais cara, ou efetuar um benchmark com alguma empresa da região, e entender como aquele mercado específico reage às campanhas, adquirindo, dessa forma, parte da experiência coletada pela organização-alvo da ação, com base na sua atividades anteriores, resultados e fracassos. É importante ter em mente que o benchmark não é uma simples cópia, mas uma análise das atividades e uma troca de experiência entre as organizações. Plano de marketing De acordo com Dias (2003, p. 476), “plano de marketing é um documento estratégico corporativo por meio do qual diversos fatores são considerados e sintetizados, alternativas são avaliadas e decisões são tomadas”. A construção de umplano de marketing é a materialização do planeja- mento do marketing utilizando as ferramentas anteriores, em que a organi- zação detalha as ações que planejou para determinado período e como atuará em seus diversos canais. Ele funciona como um roteiro das ações a tomar e quando e como elas ocorrerão, como um relatório para que a toda a organi- zação tenha ciência do que foi planejado, evitando conflitos de informação entre departamentos. Funciona também como uma ferramenta de persuasão, podendo ser usado para vender as ideias do departamento de marketing para atrair cooperação dos stakeholders internos e investidores e parceiros para a empresa. O plano de marketing contém uma análise geral do mercado no qual a empresa está inserida, os objetivos da organização, suas estraté- gias para atingir esses objetivos, a forma de implementação, as análises que fundamentam o plano e um resumo final. Reflita Você consideraria que um plano de marketing de sucesso pode ser aplicado a mais de uma empresa do mesmo ramo? Qual seria a melhor solução: efetuar uma pesquisa de marketing ou um benchmark para identificar como se posicionar em um novo mercado? Vocabulário • Seis Sigma: metodologia desenvolvida pela Motorola, contendo uma série de ferramentas com foco na qualidade de processos e redução de custos. 26 • Summer Fancy Foods: feira de alimentação e bebidas dos Estados Unidos da América, considerada a mais importante do setor. • Stakeholders: são todos os públicos relacionados à empresa, sejam fornecedores, funcionários dos diversos departamentos, clientes, governos, sociedade. • Omnichannel: estratégia em que todos os canais de atendimento funcionam em conjunto, oferecendo ao cliente a mesma experi- ência, independentemente do canal. Vamos aplicar essas ferramentas na prática. Sem medo de errar Vamos relembrar o caso das irmãs que têm uma loja de bolsas e semijoias e que, com a chegada de uma grande concorrente, viram seu faturamento cair, razão pela qual resolveram, então, estudar o mercado-alvo para abrir uma loja virtual. Porém, elas identificam a necessidade de desenvolver um planejamento de marketing para que suas ações tenham o resultado esperado. Para isso, o melhor caminho é criar um plano de marketing com os dados obtidos por intermédio das ferramentas apresentadas. Elas já efetuaram a segmentação do mercado e análise do ambiente de marketing, ações funda- mentais para a construção de um bom planejamento de marketing. Para continuar com o planejamento, elas devem reunir o máximo de informa- ções sobre o mercado-alvo, como o cadastro atual de clientes, pesquisas de opinião em sua região, busca no IBGE por dados demográficos e formação de parcerias com associações de bairro locais para obter dados dos clientes. Além disso, elas podem efetuar uma pesquisa de marketing para entender qual o principal motivo que faz os clientes consumirem os produtos na concor- rência, e o que os levaria a consumir na loja física ou em uma loja virtual. Quadro 1.4 | Matriz SWOT Ajuda Atrapalha Internas Forças: Relacionamento com os clientes. Clientes fiéis. Fraquezas: Falta de conhecimento das estratégias de marketing. Externas Oportunidade: Loja on-line. Diminuição de custos com local para armazenamento diferente da loja. Implantação do sistema de CRM. Ameaças: Entrada de novos concorrentes. Diminuição do fluxo de pessoas em frente à loja. Fonte: elaborado pelo autor. 27 Ao efetuar a análise SWOT do seu negócio, elas poderão obter uma visão estratégica de suas forças, fraquezas, oportunidades de mercado e ameaças, ficando claro em que áreas elas devem atuar para melhorar seus resul- tados: criação de uma loja on-line para compensar a queda no movimento, ampliação de seus conhecimento em marketing para criar novas estraté- gias e implantação de um sistema de CRM, que abre possibilidades para aplicar a personalização nas ofertas para os clientes nos momentos e canais mais oportunos. Elas podem, também, efetuar um benchmark em outras lojas que passam pelo mesmo tipo de problema, entender como essas lojas da região passaram por isso e conseguiram superar. Quais foram as estratégias, os ganhos e os erros que elas cometeram nesse processo, analisando as ações de marketing efetuadas e seus resultados, para assim adquirir conhecimento e aplicá-lo no seu próprio negócio. Ao completar essas ações, as irmãs terão em suas mãos todas as análises, todos os dados e todas as informações possíveis para definir quais estratégias de marketing serão necessárias para conquistar novos mercados e retomar o crescimento. Faça valer a pena 1. Paulo trabalha em uma pequena empresa familiar. O gerente de marke- ting está efetuando um planejamento da área e solicitou que ele realize uma análise da situação da empresa em relação e seu posicionamento frente às tendências do seu mercado de atuação. Qual ferramenta é usada para efetuar essa análise? a. Benchmark. b. Segmentação de mercado. c. Pesquisa de marketing. d. Análise SWOT. e. CRM. 2. As vendas de um modelo de automóvel de determinada montadora estão caindo. O gerente de marketing solicita uma pesquisa para analisar qual o percentual dos clientes está insatisfeito com o atendimento das concessionárias. Selecione qual é a pesquisa correta para atender a essa solicitação. 28 a. Pesquisa casual. b. Pesquisa descritiva. c. Pesquisa de opinião. d. Pesquisa exploratória. e. Pesquisa demográfica. 3. João é o diretor de vendas de uma pequena editora e tem encontrado dificuldades em manter o faturamento devido à queda das vendas de livros on-line. Ele identificou, por meio de pesquisa, que essa queda se deve a alguns fatores: 1. Ofertas feitas de forma impessoal. 2. Oferta de produtos pelos quais o cliente não tem interesse. 3. Oferta já adquirida pelo cliente. 4. Volume alto de e-mails. Uma empresa de soluções de marketing ofereceu seu portfólio de ferra- mentas para sanar esse problema. Qual ferramenta ele deve escolher? Assinale a alternativa correta: a. Pesquisa de marketing. b. Construção de e-mails. c. Relatórios de benchmark. d. Sistema de informação de marketing. e. Customer Relationship Management. 29 Seção 3 Cultura de consumo e tomada de decisão do consumidor Diálogo aberto Olá, caro aluno, seja bem-vindo! Você já observou que as pessoas ao seu redor tomam decisões diferentes diante da mesma situação? Você sabe qual é a razão disso? Estudar o motivo que leva as pessoas a tomarem decisões diferentes e como atrair o máximo de clientes é uma das missões do profissional de marketing. Vamos estudar o caso de uma jovem artista que deseja abrir uma loja de quadros. Ela estudou bem o local onde será a futura instalação da sua loja e percebeu que ele é bem diferente do bairro onde mora. Sua casa fica em uma zona suburbana, com muitas casas e poucos comér- cios, a população é formada principalmente por pessoas que trabalham no centro da cidade. A região escolhida para abrir sua loja é formada por grandes condomínios residenciais e edifícios comerciais com diversos escritórios. Assim, ela percebeu que o perfil do público daquela região é diferente do que está acostumada, e para que sua loja seja um sucesso ela precisa entender esse público. Você é o responsável por ajudá-la a responder algumas questões, para que assim ela possa entender e atuar neste com esse novo público. Como funciona o processo de tomada de decisão de compra? Como identificar e adaptar-se ao perfil daquele bairro? Como o produto dela pode ser vendido e como os potenciais clientes decidem comprar produtos como estes? Vamos juntos entender alguns conceitos importantes, para podemos ajudar essa jovem artista a vender seus produtos e entender o processo de compra de seus potenciais clientes. Não pode faltar Desenvolver a segmentação do mercado-alvo é item fundamental para o desenvolvimento de um planejamento de marketing. Porém, além da segmentação, outro fator crucialpara o sucesso de uma organização é conhecer seus clientes. 30 Podemos categorizar os clientes inicialmente em dois grupos de mercado: O mercado de bens de consumo, composto por indivíduos e famílias, que efetuam suas compras de produtos e serviços para consumo pessoal. O mercado de negócios, composto por organizações, que efetuam suas compras para suprir suas necessidades (produzir produtos, prestação de serviços e revenda, entre outros). Porém, é importante ressaltar que independentemente de qual mercado, quando se trata de cliente sempre estamos lidando com uma pessoa, e não uma organização. Essa definição causa estranheza, pois é comum pensar que determinada organização é nossa cliente, mas lembre-se: a decisão de compra de uma organização é feita por pessoas, dessa maneira, nossos clientes são as pessoas que formam a instituição. Modelo mental Modelo mental é um conceito muito importante quando você pretende analisar e entender o comportamento das pessoas. Ele é a base que todos nós temos para reagir a estímulos, ainda que de forma inconsciente. Ao longo da nossa formação como pessoa, aprendemos a entender o mundo através de uma série de filtros que facilitam a nossa tomada de decisão e entendimento das situações. Esse filtro é constituído de crenças, valores e suposições sobre a própria pessoa e sobre o mundo a sua volta. O modelo mental não necessariamente corresponde à realidade; cada pessoa desenvolve um modelo mental diferente devido a sua própria vivência. Esse modelo é formado por quatro filtros: Filtro biológico: cada ser humano tem seus limites biológicos e assim pode compreender o mundo de acordo com esses limites. Um daltônico, por exemplo, tem uma experiência diversa ao assistir à televisão, ver um anúncio no outdoor, comprar um produto no mercado ou navegar pela internet. Tudo isso porque ao passar pelo seu filtro biológico, a informação é compreendida de forma diferente Assim, de acordo com nossos limites biológicos entendemos a realidade de formas diferentes e passamos a crer nessa realidade “paralela”. Filtro linguístico: nós conhecemos e explicamos o mundo por intermédio da linguagem, seja escrita ou oral. Ainda que todos nós tenhamos conheci- mento do português, cada um de nós tem um entendimento diferente desse filtro. Muitas vezes a nossa comunicação pode ser falha devida a cada pessoa interpretar o sentido das palavras de forma pessoal, de acordo com seus 31 conhecimentos e vivências. Podemos considerar os regionalismos como um filtro linguístico, por exemplo: em cada região alguns alimentos têm nomes diferentes. Outro exemplo disso são os números e valores: um diretor analisa um balanço da empresa e observa uma informação diferente do gerente financeiro, e isso não quer dizer que as análises estejam incorretas, mas, que na leitura dos resultados, cada um tem um conhecimento diferente, com focos diferentes. Filtro cultural: esse filtro é mais facilmente compreendido e conhecido por ser um filtro coletivo por assim dizer: cada agrupamento de pessoas tem modelos mentais coletivos, seja em famílias, organizações, regiões, religiões ou grupo de descendência. Dentro de uma família um costume é passado por gerações; em uma organização, em tese, todos compartilham dos mesmos valores e formas de resolver problemas, e em cada cultura alguns compor- tamentos e pensamentos são valorizados em detrimentos de outros. Assim como o filtro linguístico que traz entendimento diferente devido à linguagem e conhecimento, o filtro cultural traz este entendimento diferente com base na vivência coletiva. Por exemplo, para o hinduísmo, a vaca é um animal sagrado, tanto que ela anda livremente pelas ruas do país sem ser maltratada ou utilizada como alimento. Já para a maioria dos brasileiros, a vaca é uma das principais fontes de alimento. O Mcdonald’s, rede de fast-food presente em todo mundo, adaptou-se a este fator cultural nos seus restaurantes da Índia, e não serve carne bovina. Dessa forma cada um de nós tem alguns filtros culturais arraigados na personalidade. Filtro pessoal: esse filtro é formado pela nossa vivência e história de vida, e é o que nos torna únicos como pessoas. Ele é constituído pela raça, sexo, nacionalidade, formação, origem étnica, condição social e econô- mica, influências da família, amigos, professores e colegas, etc. Todas as nossas experiências compõem esse filtro, e durante toda a nossa vida vamos expandindo-o e, assim, utilizando-o para compreender o mundo e reagir a ele. Através desse filtro, cada pessoa analisa o seu mundo com base no seu histórico. Uma pessoa que viveu uma série de problemas financeiros em sua infância tem uma percepção de um investimento diferente que outra pessoa que não passou por essa experiência, por exemplo. Nesse item os exemplos são infinitos, assim como são infinitas as possibilidades de experiências entre as pessoas, mesmo entre pessoas da mesma família. Conhecer o conceito de modelos mentais e saber seus impactos pode trazer diferenciação, gerar eficácia e eficiência para os negócios, principal- mente quando você entende os principais fatores do modelo mental dos seus clientes e do seu mercado-alvo. 32 Como resultado do modelo mental há três grandes impactos em nossa vida: • Percepção seletiva: fenômeno que explica o motivo de duas pessoas observarem a mesma coisa e efetuarem leituras diferentes. Esse é um impacto que potencialmente gera conflito. • Comportamento automático: são respostas automáticas e incons- cientes que ocorrem quando identificamos uma situação conhecida e repetida, como dirigir um carro todos os dias. Esse fator ajuda a pessoa a poupar energia e tempo, porém causa impacto quando existem mudanças no contexto. • Inferências: são histórias que nós criamos inconscientemente através do nosso modelo mental para preencher lacunas da realidade que não conhecemos, facilitando assim o entendimento. Porém, essas inferên- cias não são necessariamente a realidade, o que pode ocasionar conclusões erradas. Assimile O modelo mental pode levar o cliente a tomar a decisão de adquirir um determinando produto, baseado em suas experiências anteriores de compra, seguindo um comportamento automático. Seguindo o conceito de CRM e personalização, a organização pode identificar esse comportamento em seu site e gerar personalizações para cada cliente, alterando a disposição dos itens na tela e impactando o cliente com novas informações e ofertas, de maneira diversa a formas anteriores que haviam perdido a relevância. Cultura e subcultura Peter e Churchill (2003, p. 154) afirmam que “a cultura é um dos meios mais importantes pelos quais uma sociedade influencia os comportamentos dos indivíduos”. Desta forma, fica claro que entender a cultura dos nossos clientes é item fundamental para que a estratégia de marketing tenha sucesso. Exemplo disso é a cultura brasileira, que mostra os cidadãos do país como um povo animado e mundialmente conhecido como “cordial”. Os britânicos são conhecidos como pontuais e os asiáticos, caracterizados por uma cultura voltada ao trabalho duro e à família. A cultura influencia fortemente o consumo da sociedade, e deve ser levada em conta ao traçar sua estratégia de marketing, pois a abordagem errada pode trazer diversos problemas para a organização. 33 Temos também a subcultura um desdobramento da cultura, devido à diversidade das pessoas de cada país ou região. Por exemplo: dentro do grupo de brasileiros podemos ter diversas subculturas, tais como judeus ou mulçumanos, com valores próprios da subcultura à qual pertencem. A partir da subcultura podemos desenvolver estratégias e um mix de marketing para atender cada mercado específico, como bairros de classe alta, regiões com grande concentração de imigrantes latino-americanos e bairros com predo- minância de idosos. Lembre-se sempre de que dentro da cultura e subcultura cada indivíduo é impactado de formas e graus diferentes, e o profissionalde marketing busca sempre atingir os maiores padrões. No Quadro 1.5 temos alguns tipos e características de subculturas. Quadro 1.5 | Tipos de subcultura Características Exemplos Idade Crianças, adolescentes, jovens adultos, idosos. Religião Católicos, budistas, mulçumanos, ateus Raças Negros, asiáticos, indígenas. Nacionalidade Brasileiros, portugueses, alemães, norte-a-mericanos. Classe Ricos, pobres, classe média. Fonte: adaptada de Peter e Churchill (2012). Exemplificando Uma empresa de padarias, ao abrir uma nova unidade e criar um plano de marketing, teve que adaptar-se, observando a subcultura da região, pois a nova unidade estava localizada em um bairro de classe média alta formado principalmente por idosos. Assim, ela investiu em um mix de marketing que privilegiava comuni- cação visual, com seus dados em letras grandes para facilitar a leitura, criou um ambiente acolhedor e funcional, com o menor número de obstáculos no caminho para evitar acidentes. Contratou e treinou profissionais para atender a esse público, com atenção redobrada. Isso se refletiu nos preços dos produtos, com um valor mais elevado para compensar esses investimentos específicos, porém alinhados à subcultura do bairro. 34 Tomada de decisão Vamos entender como funciona o processo de tomada de decisão para compra de algum produto ou serviço. Esse processo é semelhante para as compras organizacionais e para as compras pessoais, pois mesmo que o foco do produto seja uma organização, seu comprador será uma pessoa. Abraham Maslow nos apresentou em sua hierarquia de necessidades – ou, como é mais conhecida, a pirâmide de Maslow –, quais são as necessi- dades das pessoas e em que ordem elas devem ser saciadas. Seguindo essa teoria temos as necessidades fisiológicas ou básicas, neces- sidades de segurança pessoal, necessidades sociais, necessidade de autoestima e necessidade de autorrealização. Cada uma delas deve ser atendida antes da seguinte, pois para os seres humanos elas são prioritárias. Por exemplo: antes de uma necessidade de pós-graduação (autorrealização), a pessoa tem que ter sua fome saciada (fisiológica). Podemos observar, a seguir, alguns exemplos de necessidades aplicadas na pirâmide de Maslow. Figura 1.3 | Modelo Pirâmide de Maslow Fonte: elaborada pelo autor. 35 A primeira etapa do processo de compra é o reconhecimento da neces- sidade ou problema; nela o consumidor passa a identificar sua necessi- dade. O estímulo para isso pode ser interno, como a necessidade básica de se alimentar, ou externo, como o anúncio de um produto que desperta o interesse do cliente, por exemplo, um novo modelo de celular. Nas organi- zações, o estímulo interno aparece como uma necessidade levantada por um usuário ou cliente, como a compra de material de escritório, utilização de um software para melhor atender o cliente, ou por estímulos externos, como uma reunião para apresentar uma solução, em que se cria essa “necessidade”. O entendimento das motivações para essas necessidades auxilia os profis- sionais de marketing a traçar estratégias, tais como um restaurante atuar servindo um almoço em um ambiente calmo, elegante e com refeições mais elaboradas, atendendo, assim, a necessidade básica de alimentação, junta- mente à necessidade de autorrealização do cliente, ao estar comendo em um lugar de “prestígio”. O processo de compra é iniciado quando o cliente percebe a necessidade de algum produto ou serviço. Essa identificação de necessidade pode vir com um estímulo interno, como: sentimento de fome, vontade de impressionar alguém, identificar que falta algum material para completar suas atividades no trabalho. Pode vir também por meio de um estímulo externo, que desperta ou cria a necessidade, tais como: convite para um aniversário, propaganda de um celular novo e superior, apresentação comercial do serviço que automa- tize determinada tarefa. O reconhecimento da necessidade ou problema é a primeira etapa no processo de compra, e ela pode ser uma das necessidades da pirâmide de Maslow. Peter e Churchill (2012) nos apresentam a pesquisa da agência BBDO Worldwide, que após identificar 74 impulsos pessoais que motivam os consumidores, desenvolveu uma nova ferramenta de marketing: a análise do impulso pessoal. A segunda etapa é a busca de informações, quando o cliente, após reconhecer a necessidade, passa a buscar informações de como satisfazê-la. Segundo Peter e Churchill (2012), ele pode buscar a informações em cinco fontes básicas: • Fontes internas: o cliente busca em sua própria memória como ele já satisfez essa necessidade anteriormente, ou empresas com as quais ele já teve contato e que podem suprir sua necessidade. • Fontes de grupos: consulta a amigos e familiares em busca de indica- ções. É uma das fontes mais poderosas para o processo decisório, pois tem alto fator de credibilidade e confiança. 36 • Fontes de marketing: pelas informações contidas em embala- gens, propagandas, mostruários, obtidas com vendedores e outras ações de marketing. Essa fonte, por mais acessível que seja, não tem grande força no processo decisório devido a não conquistar sempre a confiança do consumidor. • Fontes públicas: informações disponíveis aos consumidores que são independentes dos profissionais de marketing, como a revista Consumidor S. A. Essas fontes têm confiabilidade alta, mas requerem certo esforço para serem obtidas pelo cliente. • Fontes de experimentação: o cliente obtém as informações sobre o produto por meio de experimentação, seja um test drive de um carro ou uma amostra grátis no supermercado. Esta fonte é a mais difícil de ser utilizada pois requer que o consumidor se desloque até o estabe- lecimento ou aguarde alguns dias para receber uma amostra grátis solicitada à empresa pela internet. Assim, os consumidores formam o que é chamado de conjunto conside- rado, contendo todas as marcas consideradas para satisfazer a sua necessi- dade. As marcas mais famosas têm vantagem, pois estão presentes na mente do consumidor e assim são rapidamente inclusas no conjunto considerado. A terceira etapa é a avaliação de alternativas, em que o cliente avalia quais são as caraterísticas mais importantes e quais sãos as caraterísticas de cada marca do conjunto considerado, então cada consumidor determina qual a marca atende melhor a sua necessidade e representa maior valor para ele. No caso de saciar sua fome no horário de almoço, o cliente avalia o fast-food como uma refeição rápida, porém pouco saudável; o restaurante por quilo com mais opções, porém com preço mediano que depende do peso do prato; o restaurante à la carte com opções predeterminadas e preços variados e tempos distintos de preparação; e um delivery de comida com preços e opções variadas, cada uma com o seu tempo de entrega e que o cliente neces- sita consumir o produto em sua casa ou escritório. A decisão de compra é a quarta etapa quando, após avaliar as opções disponíveis do conjunto considerado, o cliente decide se alguma delas supre sua necessidade. Nela o consumidor decide pela compra ou não de determi- nado produto, quando e como efetuar o pagamento. Pode ser uma decisão de compra rápida, como em casos de liquidação, ou de economia, em caso de escolha do produto mais barato ou até de adiamento da compra para um momento futuro, quando o produto estiver dentro da faixa de preço que agrade ao cliente. 37 E, por fim, a quinta etapa, que é a Avaliação da Compra, quando o cliente avalia formal ou informalmente o resultado da compra e sua satisfação com o bem ou serviço obtido. O reconhecimento favorável da compra e experi- ência com o produto é muito importante, pois influencia futuras compras caso o consumidor esteja satisfeito, além de poder gerar uma nova fonte de informação pela qual o consumidor propaga para os amigos e família sua satisfação e, assim, essas pessoas passam a considerar essa marca. Reflita Cada vez mais se faz importante conhecer bem nossosclientes para efetuarmos ofertas que atendam suas necessidades de forma eficiente. Para tal, necessitamos analisar seus modelos mentais, suas culturas e subculturas e seus processos de tomada de decisão. Após conhecer esses conceitos, você consegue avaliar se as empresas da sua cidade utilizam esses itens na hora de efetuar suas ações de marketing? E quanto às multinacionais: elas adaptam suas ações para as subculturas da sua região? Agora, de posse desses conhecimentos, com informações para efetuar uma melhor análise de nossos mercados e posicionamento de marketing, vamos voltar para o caso da jovem artista. Sem medo de errar Vamos voltar ao caso da jovem artista que deseja abrir uma loja de quadros em um bairro nobre de sua cidade. Ela percebeu que o público desse bairro é diferente do que ela está habituada, e pediu sua ajuda. Com base no conteúdo que estudamos, sabemos que existem diversos fatores que influenciam nossos clientes em seus processos de compra, e é fundamental que ela leve em conta esses itens para que sua loja tenha maior chance de sucesso. Para entender o perfil dos seus potenciais clientes, ela precisa entender qual a cultura e subcultura daquele bairro. Para isso, ela pode buscar dados nas associações de bairro e pesquisas demográficas disponíveis, compreen- dendo melhor o perfil desses clientes e, a partir disso, adaptar sua loja para o perfil dos potenciais clientes. Ao analisar o produto oferecido e identificá-lo na pirâmide de Maslow, podemos classificá-lo como um produto que atende à necessidade de estima, ou seja, um produto que poderá trazer um status para os clientes, por ser uma 38 obra de arte. Aliado a isso, a subcultura da região, que contém um público de classe média alta, tanto familiar (condomínios residenciais) quanto comer- cial (escritórios). Ela pode investir em estratégias de marketing que visam atingir a cultura e subcultura do bairro, ofertando seus quadros com o apelo de que são produtos únicos e que concedem elegância e status a quem adquirir. Sua estratégia não deve se basear em preço, mas na qualidade e escassez do item, devido a serem únicos. Sua loja deve privilegiar a exposição dos produtos, com foco no processo de compra rápida, principalmente para os clientes dos escritórios, que tendem a efetuar as compras de forma rápida. Além disso, é interessante manter um ambiente aconchegante para os clientes familiares que tendem a passar mais tempo na loja observando os produtos. Faça valer a pena 1. Cada pessoa tem uma percepção de mundo diferente de acordo com diversos filtros que criam e influenciam seu modelo mental. Para profis- sionais de marketing é fundamental entender cada um desses filtros que compõem o modelo mental. Assinale a alternativa que lista todos os filtros corretos. a. Biológico, linguístico, geográfico, pessoal. b. Linguístico, geográfico, demográfico e cultural. c. Cultural, pessoal, social e demográfico. d. Demográfico, social, geográfico e pessoal. e. Pessoal, cultural, biológico e linguístico. 2. Um analista de marketing de uma empresa de viagens recebeu a incum- bência de classificar os produtos conforme a hierarquia de necessidades de Maslow. Viagens de turismo devem ser classificadas como necessidade: a. Fisiológica. b. De estima. c. De autorrealização. d. Social. e. De segurança. 39 3. O proprietário de uma empresa especializada em venda de doces artesa- nais efetuou uma parceira com um supermercado para vender seus produtos, porém sua marca ainda é desconhecida e, assim, poucos doces foram vendidos. O gerente do supermercado sugeriu então que a empresa efetue alguns dias de degustação no supermercado, para que os consumidores passem a conhecer a marca. Dentro dos conjuntos de produtos considerados, essa estratégia é uma fonte de: a. Pesquisa. b. Memória. c. Propaganda. d. Experimentação. e. Pública. 40 Seção 4 Estilo de vida e a influência digital Diálogo aberto Olá, caro aluno, vamos iniciar nossos estudos? Você já se perguntou por que nas filas rápidas do mercado sempre há corredores cheios de guloseimas e pequenas utilidades? Outra situação que deve ter acontecido com você é consultar o preço de um produto on-line, estando em uma loja física. Você já pensou na influência desses itens para o profissional de marketing? Vamos conhecer o caso de Mario, dono de um pequeno mercado no centro de sua cidade. Seu mercado tem mantido um bom resultado de vendas, mas ele vem percebendo que alguns produtos, como sucos e refri- gerantes, não estão tendo boa saída, enquanto outros itens têm próxima a data vencimento. Ele não entende porque alguns dos produtos estão saindo normalmente e outros não. Agora, Mario precisa entender o motivo de produtos que deveriam ter boa saída estarem estocando e como aumentar a saídas deles. Ele sabe que o problema não é o movimento. Por isso ele conta com você para entender a melhor maneira de incentivar seus clientes a consumirem determinados produtos. Como utilizar o mix de marketing para melhorar suas vendas? Vamos auxiliá-lo? Não pode faltar Para efetuar a tomada de decisão, o consumidor avalia conscientemente diversos critérios –preço, usabilidade, satisfação, reconhecimento etc. –, porém, antes do processo de tomada de decisão ocorrer, cada consumidor é influenciado por diversos fatores. Esses fatores influenciadores muitas vezes são imperceptíveis para os clientes em suas tomadas de decisões diárias, entretanto fundamentais para o planejamento de marketing. 41 Kotler (2000) em seu livro Administração de Marketing segmenta os fatores influenciadores em quatro categorias, que são: culturais, sociais, pessoais e psicológicas. Churchill e Peter (2012) agrupam os fatores trazidos por Kotler em influências sociais e apresentam dois outros grupos: influências de marketing, sobre os 4Ps (praça, produto, promoção e preço) e influências situacionais, com foco no ambiente, tempo e condições da compra. Fatores influenciadores sociais As influências sociais são fatores advindos de grupos sociais dos quais o consumidor participa. Estes grupos sociais moldam os consumidores ao longo de toda a sua vida, e é fundamental compreendê-los e ao impacto ocasionado por eles no perfil de consumo. O primeiro grupo de influência do consumidor é a sua família e é a partir dela que o consumidor adquire a base das influências de decisão de compra que serão levadas para vida. Nossos pais definem limites como “para comprar o seu brinquedo, você tem que economizar sua mesada para pagar a metade” ou “filho escolha apenas um doce”. De acordo com Churchill e Peter (2012), alguns profissionais de marketing consideram as famílias que compartilham uma mesma residência com uma unidade básica de consumo, pois as famílias influen- ciam as decisões de compra de seus componentes e efetuam compras uns aos outros. Filhos compram presentes aos pais, um cônjuge pode comprar flores aos outros, os pais decidem comprar uma televisão que será útil para todos, por exemplo. Nas unidades familiares, os fatores de compra e influência podem ser diversos, como situações em que a esposa é responsável pelas compras domésticas e os maridos, pelas compras de bens duráveis. Outro tipo de unidade familiar são as constituídas apenas pela mãe e os filhos, e assim ela passa a ser responsável por todas as compras. Sendo assim, as estratégias de marketing devem levar em conta o tipo de formação de unidades básicas. As pessoas passam por diversos ciclos de vidas das famílias, e estes ciclos podem auxiliar o profissional de marketing a identificar as mudanças das necessidades dos consumidores. 42 Figura 1.4 | Ciclo de vida das famílias Fonte: adaptada de Churchill e Peter (2012). Outra fonte muito comum ao longa da vida do consumidor são os grupos de referência. Eles são formados por pessoas que influenciam o pensamento, comportamento e decisões de compra do consumidor. Esses grupos de referênciasão os mais diversos, como grupos de adolescentes que influen- ciam seus membros a decidir preferências de compra e comportamento, ou organizações não-governamentais, que influenciam o consumo de produtos que não agridem o ambiente. Existem também os grupos de referência dissociativos, dos quais o consumidor deseja manter distância. Assim, os profissionais de marketing devem ficar atentos para garantir que o produto não faça parte deste grupo de referência. Os grupos de referências influenciam os clientes de diversas formas, sejam diretas ou indiretas, tais como a expressão da opinião do grupo, comporta- mento e itens preferidos por ele. Todos os consumidores fazem parte de culturas e subculturas e são influenciados por elas, conforme visto anteriormente, e é fundamental que os profissionais de marketing as estudem profundamente para desenvolver melhor suas estratégias e implantá-las com sucesso. Além da cultura, outro fator que influencia todos os consumidores é a classe social da qual ele faz parte. Na sociedade atual, as pessoas são classifi- cadas de acordo com termos de prestígio, riqueza e poder. Uma classificação social difundida no Brasil é a separação nas classes A, B, C, E e D. Cada uma dessas classes são diferenciadas por sua riqueza, comportamentos e preferên- cias. Por exemplo: um consumidor da classe A tende a consumir produtos de alto qualidade e preço elevado, efetuar investimentos e comprar produtos com base em conceitos de beleza e status. 43 Influências de marketing (4Ps) Os elementos do composto de marketing, os 4Ps, podem influenciar o consumo, e para isso cada um deles deve ser pensando a fim de atrair mais consumidores por meio desse potencial. Ao desenvolver um produto, a área de criação, alinhada com área de marketing, busca tornar sua aparência convidativa ao consumo, seja por um formato diferente que retém a atenção do cliente, seja por exibir os benefícios do produto, ou até pela paleta de cores escolhida. Para definir estas estraté- gias, os profissionais de marketing efetuam pesquisas para avaliar a reação dos consumidores a diversas apresentações de um mesmo produto. O elemento preço também tem um papel de influência na tomada de decisão. Em alguns casos os clientes buscam os produtos mais baratos, independentemente da sua qualidade real, ou efetuam a compra em um momento de liquidação. Em compras de carros, eletrônicos e outros bens com requisitos diversos, o elemento preço deixa de ser um fator decisório para passar a ser um dos itens levados em conta. Os canais de distribuição – também conhecidos como praça – podem influenciar no processo decisório, em conjunto com o produto oferecido, conforme exemplos a seguir: • Para produtos considerados comuns, a fácil disponibilidade e locali- zação próxima do ponto de venda são fatores considerados muito importantes pelos clientes, pois eles não estão dispostos a gastar tempo se deslocando até um ponto distante para comprar o produto. Exemplos destes produtos são: pasta de dente, produtos de limpeza, alimentos básicos (arroz, feijão). • Nos casos de produtos exclusivos, o consumidor pode estar disposto a se deslocar até um local distante para comprar o produto. Aqui ele entende que o produto pode estar disponível em apenas certas regiões e vale o esforço do deslocamento para compra. Exemplos são carros de luxo, restaurantes badalados, lojas especificas. Por fim, temos o fator influenciador promoção, em que os profissionais de marketing buscam compartilhar a mensagem que o produto traz, aprego- ando algum benefício ou resolução de determinada necessidade, e assim acabam por reforçar a decisão de compra. Exemplificando As grandes marcas escolhem com muito cuidado sua imagem para aumentar a chance de consumo. E um fator que influencia os consumi- 44 dores inconscientemente é a escolha das cores na hora de apresentar um produto. Você já parou para pensar por que as marcas escolhem cada cor? As cores têm um efeito positivo no marketing e é importante levá-las em conta na hora de pensar em estratégias para influenciar clientes. Por exemplo: o vermelho traz uma sensação de excitação e é ligado à juventude; já o azul é ligado à confiança, seguro e força, e o verde é mais voltado a um sentimento pacífico, de crescimento e saúde. As marcas que você conhece que utilizam essas cores procuram passar esses sentimentos? Passe a observar! Influências Situacionais Independente do perfil do consumidor e das suas preferências de compra, diversas situações adversas podem influenciar o consumidor a mudar seu comportamento e decisões de compras: mesmo pessoas centradas podem passar a tomar decisões por impulso. O ambiente físico influencia o comportamento pela sua composição. Um exemplo são supermercados em que ficam à disposição diversos produtos de compra por impulso próximos ao caixa, como chocolates, latas de refrige- rante, revistas e doces. Fatores que não podem ser controlados, como clima e temperatura, também influenciam o processo decisório, como ondas de calor, que aumentam o consumo de refrigerantes, sucos e outra bebidas, independentemente de promoções desses produtos. No ambiente social as influências são decorrentes de outras pessoas, como quando temos necessidade de efetuar uma compra para outra pessoa. Assim, nossas preferências e decisões de compra podem ser diferentes das nossas decisões normais. Efetuar compras em companhia de outra pessoa pode alterar nosso comportamento, assim como lojas muito movimentadas podem influenciar alguns consumidores a efetuar compras mais rápidas. O fator tempo é outro que pode influenciar diretamente o comporta- mento de compra. Em casos que temos menos tempo para efetuar a compra, podemos reduzir as opções e escolher mais rapidamente para compensar o pouco tempo disponível. A disposição de certos produtos na loja pode facilitar a decisão de compra nestes casos, como os produtos nas esquinas dos corredores. 45 Estilo de vida Kotler (2000, p. 191) define um estilo de vida como “o padrão de vida da pessoa expresso por atividades, interesses e opiniões. O estilo de vida repre- senta a ‘pessoa por inteiro’ interagindo com seu ambiente”. Um foco dos profissionais de marketing é criar relacionamento com grupo de estilo de vida, indo além da cultura e subcultura, atingindo um segmento específico com maior chance de venda. Kotler apresenta, em seu livro Administração de Marketing, a psicografia, a ciência da mensuração e categorização do estilo de vida do consumidor, e o VALS 2 (Values and lifestyle – Valores e estilos de vida), sistema que catego- rizava os norte-americanos em oito grupos, baseado em respostas de um questionário, obtendo um perfil de estilo de vida. Assim, foram apresentados alguns grupos de estilo de vida, como os atualizados, pessoas bem-sucedidas, sofisticadas e ativas; os empreende- dores, pessoas orientadas para a carreira e trabalho; e os experimentadores, jovens entusiastas e impulsivos, entre outros perfis. As pesquisas que fornecem base para as segmentações, apresentam questões e frases sobre determinadas situações como “eu prefiro plantar meus ingredientes a comprar” questionando a concordâncias com as frases, e os clientes com respostas semelhantes são agrupados juntos. Dias (2003) apresenta os perfis que mais se adequava ao cenário brasi- leiro: batalhadores, realizados, adaptados, tradicionais e pressionadas. Estes perfis são resultado de uma pesquisa da agência de publicidade Backer Spielvogel Bates Worldwide. Com surgimento do CRM a identificação destes estilos de vida se tornou mais fácil devido a coleta de informações durante o momento de compra. Consumidores on-line O marketing passou por uma grande transformação com a evolução das tecnologias. Os consumidores, que antes eram dependentes de informações publicitárias e fontes diversas de forma passiva, passaram a interagir com as marcas, compartilhar experiências e percepções pela internet e influenciar
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