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RESENHA BROWN, H. D. Teaching by principles. In: Teaching by principles: an interactive approach to language pedagogy. 2. ed. Pearson ESL: New York, 2000. P. 54-71. Escrito pelo professor emérito H. Douglas Brown, o livro Teaching by Principles: An Interactive Approach to Language Pedagogy é utilizado em diversos programas de formação docente, oferecendo um amplo arcabouço teórico pautado nos princípios de aprendizagem e ensino de idiomas. Tendo sua segunda edição publicada em 2000 pela editora Pearson ESL, apresenta exercícios e sugestões de leituras complementares a fim de fornecer ao leitor a oportunidade de processar o material interativamente e auxiliando no desenvolvimento de estratégias pedagógicas. Durante os capítulos iniciais, Brown aborda questões do cenário educacional, analisa os processos relacionados ao ensino de línguas ao longo dos anos e introduz correntes teóricas que definiram a prática. No capítulo 4, o autor apresenta 12 princípios da aprendizagem de segunda língua que contribuem para a atividade docente, os quais podem ser utilizados para estabelecer bases para o ensino. Os princípios são dividindo em três categorias: Princípios Cognitivos (Automaticity, Meaningful Learning, Anticipation of Reward, Intrinsic Motivation e Strategic Investment); Princípios Afetivos (Language Ego, Self-Confidence, Risk-Taking e The Language-Culture Connection) e Princípios Linguísticos (The Native Language Effect, Interlanguage e Communicative Competence). Os Princípios Cognitivos, destacados no início do capítulo, apresentam essa nomenclatura devido a sua relação com funções de caráter mental e intelectual, o que, no entanto, não restringe a identificação de similaridades observadas a partir da comparação dos outros princípios mencionados. O princípio da Automaticity [Automaticidade] alega que um aprendizado eficiente de segunda língua se dá a partir do momento em que o aprendiz é capaz de realizar uma espécie de movimento de controle, isto é, processar um número diverso e relativamente ilimitado de formas de linguagem de maneira automática. Dessa forma, alguns aspectos podem interferir nessa automação, como por exemplo, analisar excessivamente a linguagem ou pensar demais em suas formas e nas regras que regem sua utilização. Não é possível afirmar que a automaticidade ocorra de forma instantânea, pois trata-se de um fenômeno gradual. Ao observar crianças na fase de aquisição da linguagem, por exemplo, inseridas dentro de um contexto cultural e linguístico, é comum notar a naturalidade com que ocorre a aquisição da língua de maneira subconsciente. Em sala de aula, é necessário reforçar a ideia de input, ou seja, aquilo o que é fornecido aos alunos em termos linguísticos, expondo-os a contextos reais de uso e induzindo-os ao output, compreendendo e produzindo a língua sem pensar excessivamente sobre ela. Outro princípio que apresenta grande importância e também estabelece relação com a automaticidade é a Meaningful Learning [Aprendizagem Significativa]. Uma aprendizagem significativa auxilia o aprendiz em uma maior retenção e compreensão do que foi estudado, o que não ocorre durante a aprendizagem mecânica. Ao sentirem-se cativados, os aprendizes passam a relacionar os novos conhecimentos às experiências próprias, o que contribui na sua fixação. Os professores, por sua vez, devem buscar conhecer os interesses dos alunos, os objetivos acadêmicos, pessoais ou profissionais, realizando atividades com propósitos claros, que fujam do caráter mecânico e repetitivo, contribuindo de forma efetiva não somente para os propósitos da instituição de ensino, mas para a atuação dos indivíduos no meio social. Inspirados em teorias behavioristas, alguns teóricos estabeleceram diversos estudos que debatem sobre o comportamento e o quanto os seres humanos são movidos por propósitos, objetivos, ou, trazendo a discussão para o âmbito da aprendizagem de segunda língua, recompensas. O princípio da Anticipation of Reward [Antecipação da Recompensa] destaca que os indivíduos são constantemente levados a agir ou se comportarem a partir do momento em que recompensas são antecipadas, sejam elas tangíveis ou intangíveis, a curto ou longo prazo. Embora ainda existam instituições que trabalhem com recompensas como uma forma de controle aversivo, é necessário que esse conceito seja abordado de forma saudável, encorajando os alunos com frases motivadoras, demonstrando que são capazes de atingirem os seus objetivos, incentivando os próprios alunos a reconhecerem o esforço de seus colegas, apresentar as recompensas a longo prazo que surgirão através do esforço aplicado durante a aprendizagem, dentre outros aspectos. Além disso, é importante que os professores se mostrem entusiasmados, pois o seu comportamento também afeta diretamente no aprendiz, podendo motivá-lo ou desmotiva-lo. Como visto no princípio anterior, a aprendizagem de segunda língua apresenta grandes resultados quando analisadas as perspectivas de recompensa. No entanto, as recompensas que mais potencializam esse aprendizado são aquelas intrinsecamente motivadas pelos alunos. O princípio da Intrinsic Motivation [Motivação Intrínseca] afirma que o próprio comportamento é recompensador, pois decorre de uma série de necessidades, desejos e vontades dentro de si. Ao abordar esse conceito, pode-se questionar a necessidade das recompensas administradas externamente, porém, a figura do professor é de suma importância na aplicação de tarefas que considerem os interesses intrínsecos do aluno, pois o processo de aprendizagem se dá de forma mais significativa quando, em sua percepção, são autocompensantes. Esse princípio dialoga diretamente com o Strategic Investment [Investimento Estratégico], que considera que um domínio bem-sucedido de segunda língua é proveniente, em grande parte, do investimento pessoal do aluno em relação ao tempo, esforço e atenção, na forma de um conjunto individualizado de estratégias para se compreender e produzir o idioma. Durante muito tempo, o ensino de línguas foi pautado em métodos tradicionais, através de livros que frisavam a gramática e a repetição. Todavia, atualmente, tem-se cada vez mais priorizado o papel do aprendiz dentro desse processo, partindo da perspectiva de que os métodos que o aprendiz usa para internalizar e usar a língua são tão importantes quanto os empregados pelos professores. A fim de atingir um número maior de pessoas, os professores podem empregar diferentes metodologias em sala de aula, visto que cada aluno aprende de maneira distinta. Enquanto alguns preferem atividades realizadas individualmente, outros optam por trabalhos em grupo; alguns alunos podem ter afinidade por conteúdos trabalhados através de recursos visuais, outros preferem atividades que privilegiam o listening. O grande dilema do professor passa a ser então atender cada individualidade dos alunos ao passo que possa atingir a sala como um todo. É preciso que o professor reflita sobre em quais contextos pode fornecer oportunidades para que os aprendizes possam trabalhar suas próprias estratégias, assegurando que possam dedicar todo o esforço necessário para desenvolvê-las. A categoria dos Princípios Afetivos traz quatro princípios que se caracterizam por uma grande proporção de envolvimento emocional, no que se refere aos sentimentos sobre si mesmo, as relações na comunidade de aprendizes e ainda nos laços emocionais entre língua e cultura. Language Ego [Ego da Linguagem] é um princípio que, ao se entrelaçar com a segunda língua, pode vir a criar dentro do aprendiz um sentimento de fragilidade, uma atitude defensiva e um aumento de inibições, tendo em vista que à medida que ele aprende a usar uma nova língua, desenvolve um novo modo de pensar, agir e sentir, como uma espécie de nova identidade. Nessa perspectiva, o professor precisa ter paciência e compreensão para facilitar o processo de aprendizagem dos alunos, lembrando-os de que são adultos e estão em um processo gradual, escolhendo mecanismos e técnicas que os desafiem cognitivamente, proporcionandouma comunicação aberta e clara, sem que gere um resultado negativo aos que possuem o ego da linguagem frágil. A crença dos alunos de que eles realmente são totalmente capazes de realizar uma tarefa é um dos fatores que mais influenciam no sucesso de sua realização. E isso se aplica ao segundo princípio, chamado Self-Confidence [Autoconfiança], que pode ser associado ao princípio anterior (Ego da Linguagem), quando existe ainda uma certa insegurança do aluno para desenvolver sua nova identidade. Apesar dessa relação, a autoconfiança ainda vai além, ao enfatizar a autoavaliação que o aluno necessita fazer para seu progresso. O professor pode contribuir sustentando essa autoconfiança em seus alunos que já a possuem e instigando naqueles que ainda se sentem inseguros, além de utilizar de atividades “simples” até que seus alunos se estabilizem, para então passar para uma etapa mais difícil. Risk-Taking [Tomada de Risco] é o princípio no qual os aprendizes de língua bem-sucedidos têm sua avaliação realista de si mesmos como seres vulneráveis, mas que são capazes de realizar tarefas e devem estar dispostos a se arriscarem nas situações que envolvem a linguagem, a tentar produzir e interpretar uma língua em contextos que consideram mais complexos. O aluno que se apropria do ego da linguagem e da autoconfiança se torna totalmente capaz de tomar os riscos necessários na tentativa de usar a linguagem – tanto produtivamente, como receptivamente. O professor pode refletir esse princípio em sua sala de aula, por exemplo, criando uma atmosfera que encoraje o aluno a tentar usar a linguagem voluntariamente, sem esperar que outra pessoa faça, além de ajudá-los a entender como calcular a tomada de risco com responsabilidade. Por fim, o último princípio dessa categoria, Language-Culture Connection [Conexão Língua-Cultura], explana que, sempre que ensinamos uma língua, também estamos ensinando um sistema complexo de costumes culturais, valores e maneiras de pensar, sentir e agir (o que nos remete ao primeiro princípio dessa categoria – Language Ego). Esse princípio se aplica especialmente nos contextos de aprendizagem de uma segunda língua, de forma que, o sucesso com o qual os alunos se adaptam a um novo meio cultural afetará seu sucesso na aquisição de idiomas e vice-versa. As aplicações para a sala de aula podem ser através da inclusão de materiais e atividades que ilustrem a conexão existente entre cultura e linguagem, expor os alunos a discussões sobre as diferenças culturais, sem definir que uma é melhor que outra, ensinar as conotações e aspectos sociolinguísticos da linguagem, entre outros. A última categoria apresentada por Brown durante o capítulo abrange os Princípios Linguísticos, a qual essa está centrada no próprio idioma e em como os alunos lidam com esses complexos sistemas linguísticos. O primeiro deles é o Native Language Effect [Efeito da Língua Nativa], que explica como a língua nativa do aprendiz pode exercer uma forte influência na aquisição do sistema da língua-alvo. Esse aspecto é algo facilmente observável, principalmente em iniciantes, no qual o professor pode corrigir o aluno sutilmente, através de observações e incentivando-o a pensar na língua-alvo, a fim de evitar essa interferência. Embora não seja considerado uma tarefa fácil, submeter os alunos a contextos reais de uso, fazendo-os assumir riscos e primando pelo desenvolvimento de atividades que auxiliem a pensar na língua alvo são fatores de extrema importância, pois ajudam no processo de automaticidade. Interlanguage [Interlíngua] é o segundo princípio desta categoria, que apresenta o processo sistemático de desenvolvimento pelo qual o aluno da segunda língua passa (assim como uma criança que está aprendendo a falar) à medida que progride para a plena competência na língua-alvo. Cabe ao professor, nessa etapa, dar instruções que façam diferença no sucesso do aluno, e lembrar que, como professor, haverá grande responsabilidade, sendo este o “modelo”, o que apresenta domínio da língua-alvo, a pessoa com quem o estudante terá a oportunidade de frequentemente estar falando e ouvindo a língua estudada (assim como são os pais para a criança que está desenvolvendo a fala), a quem irão “imitar”. Quanto à correção, que seja dado um feedback que não constranja o aluno, assim como em qualquer outro erro, além de proporcionar a ele a habilidade da autocorreção. Quanto ao princípio Communicative Competence [Competência Comunicativa], o texto apresenta como um objetivo desejado e melhor alcançado quando consiste em uma combinação de componentes que funcionam mutuamente, sendo estes: a competência organizacional (gramática e discurso), competência pragmática (funcional e sociolinguística), competência estratégica e habilidades psicomotoras. Todos estes pontos devem ser considerados e estar constantemente presentes nos estudos dos alunos, e não somente a fluência almejada, pois todos são de suma importância para que se possa chegar a tal objetivo. Algumas sugestões podem ser aplicadas em sala de aula, como por exemplo: não corrigir constantemente os pequenos erros, usar de uma linguagem autêntica e de melhor compreensão para os estudantes, ensinar a gramática sem negligenciar as demais competências, dentre outras. Esses princípios, como remetem à Linguística, abrangem fortemente o idioma, como os alunos o recebem e como o professor pode lidar com a forma a qual passar o conteúdo e como fazer isso encaixando à realidade de seus alunos, tomando por base também os outros princípios apresentados anteriormente (cognitivos e afetivos). Os doze princípios apresentados têm como objetivo fazer o professor questionar-se, observar a si mesmo e aos seus alunos e, a partir disso, entender a importância de suas escolhas didáticas, além de avaliar o que tem sido feito em sala de aula e quais modificações se fazem necessárias para aprimorar seu ensino e alcançar com êxito o progresso do aluno no aprendizado de uma segunda língua.