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Kaysa Suassuna Medicina | FITS PERITÔNIO, CAVIDADE PERITONEAL E CORRELAÇÕES CLÍNICAS Peritônio e cavidade peritoneal ➢ O peritônio é uma membrana serosa contínua que reveste a cavidade abdominopélvica (o peritônio parietal) e as vísceras contidas (o peritônio visceral). ➢ A cavidade peritoneal colapsada entre as lâminas parietal e visceral normalmente contém apenas líquido peritoneal suficiente (cerca de 50 ml) para lubrificar a face interna da membrana. Essa disposição permite que o intestino tenha a liberdade de movimento necessária para alimentação (digestão). ➢ Aderências decorrentes de infecção ou lesão interferem com esses movimentos. ➢ O peritônio parietal é uma membrana sensível, semipermeável, com leitos capilares sanguíneos e linfáticos abundantes profundamente à sua superfície subdiafragmática. Formações peritoneais e subdivisões da cavidade peritoneal: As continuidades e conexões entre os peritônios visceral e parietal ocorrem nos locais em que o intestino entra e sai da cavidade abdominopélvica. ➢ Partes do peritônio também ocorrem como pregas duplas (mesentérios e omentos, e subdivisões chamadas ligamentos) que dão passagem às estruturas neurovasculares e aos ductos de órgãos acessórios que entram e saem das vísceras. ➢ Os ligamentos peritoneais recebem os nomes das estruturas específicas unidas por eles. ➢ Em virtude da rotação e do crescimento exuberante do intestino durante o desenvolvimento, a disposição da cavidade peritoneal torna-se complexa. A parte principal da cavidade peritoneal é dividida pelo mesocolo transverso em compartimentos supracólico e infracólico. ➢ Uma parte menor da cavidade, a bolsa omental situa-se posteriormente ao estômago, separando-o das vísceras retroperitoneais na parede posterior. Comunica-se com a cavidade peritoneal através do forame omental. ➢ A disposição complexa da cavidade peritoneal determina o fluxo e o acúmulo de excesso de líquido (ascítico) na cavidade peritoneal em casos de doença. Casos Clínicos Peritonite Quando há contaminação bacteriana durante laparotomia ou quando há perfuração traumática ou ruptura do intestino em virtude de infecção e inflamação (p. ex., apendicite), permitindo a entrada de gás, material fecal e bactérias Kaysa Suassuna Medicina | FITS na cavidade peritoneal, a consequência é infecção e inflamação do peritônio – peritonite. Há exsudação de soro, fibrina, células e pus para a cavidade peritoneal, acompanhada por dor na pele sobrejacente e aumento do tônus dos músculos anterolaterais do abdome. Considerando-se a extensão das superfícies peritoneais e a rápida absorção de material, inclusive de toxinas bacterianas, da cavidade peritoneal, quando uma peritonite torna-se generalizada (disseminada na cavidade peritoneal), é potencialmente fatal. Além da intensa dor abdominal espontânea, há dor à palpação, náuseas e/ou vômito, febre e constipação intestinal. A peritonite generalizada também ocorre quando uma úlcera perfura a parede do estômago ou duodeno, derramando seu conteúdo ácido na cavidade peritoneal. Ascite O líquido em excesso na cavidade peritoneal é denominado líquido ascítico. O distúrbio clínico caracterizado por líquido ascítico é denominado ascite. A ascite também pode ser decorrente de lesão mecânica (que também pode causar hemorragia interna) ou de outras doenças, como hipertensão portal (congestão venosa), metástase disseminada de células cancerosas para as vísceras abdominais e inanição (quando há deficiência da produção das proteínas plasmáticas, alterando os gradientes de concentração e produzindo protuberância paradoxal do abdome). Em todos esses casos, a cavidade peritoneal pode ser distendida com vários litros de líquido anormal, que interferem com os movimentos das vísceras. Os movimentos rítmicos da parede anterolateral do abdome normalmente acompanham as incursões respiratórias. Se o abdome for retraído enquanto o tórax se expande (ritmo abdominotorácico paradoxal) e houver rigidez muscular, pode haver peritonite ou pneumonite (inflamação dos pulmões). Como a dor intensa se agrava com o movimento, as pessoas com peritonite costumam deitar com os joelhos fletidos para relaxar os músculos anterolaterais do abdome. Elas também apresentam respiração superficial (e, portanto, mais rápida), reduzindo a pressão intra-abdominal e a dor. O efeito de sucção do diafragma durante a respiração “puxa” o líquido (p. ex., decorrente de víscera perfurada) para os espaços subfrênicos. Portanto, o abscesso subfrênico é uma complicação frequente da peritonite. Aderências peritoneais e adesiólise Se houver lesão do peritônio por uma ferida perfuroincisa, por exemplo, ou por infecção há inflamação das superfícies peritoneais, tornando-as viscosas com fibrina. Quando há cicatrização, a fibrina pode ser substituída por tecido fibroso, formando aderências anormais entre o peritônio visceral das vísceras adjacentes ou entre o peritônio visceral de um órgão e o peritônio parietal da parede adjacente do abdome. Também podem formar-se aderências (tecido cicatricial) após uma cirurgia abdominal (p. ex., devido à ruptura do apêndice vermiforme), limitando os movimentos normais das vísceras. Esse “aprisionamento” pode causar dor crônica ou complicações de emergência, como obstrução intestinal quando o intestino é torcido ao redor de uma aderência (vólvulo). A adesiólise refere-se à separação cirúrgica de aderências. Kaysa Suassuna Medicina | FITS Paracentese abdominal A maioria dos casos de peritonite é secundária, tendo uma causa cirúrgica. A ascite pode resultar de cirrose hepática ou ocorrer em associação com processos malignos. Em casos raros, os indivíduos com ascite crônica decorrente de uma condição como cirrose hepática desenvolvem peritonite primária, na qual o líquido ascítico se torna infectado sem uma causa cirúrgica. O tratamento da peritonite generalizada inclui retirada do líquido ascítico, para promover alívio quando o volume é grande, e para fins diagnósticos (p. ex., cultura). Se houver infecção, são administradas altas doses de antibióticos. Por vezes, pode ser necessário remover acúmulos mais localizados de líquido para análise. A punção cirúrgica da cavidade peritoneal para aspiração ou drenagem de líquido é denominada paracentese. Após injeção de um anestésico local, insere-se uma agulha ou trocarte e uma cânula na parede anterolateral do abdome até a cavidade peritoneal através da linha alba, por exemplo. A agulha é introduzida superiormente à bexiga urinária vazia, em um local que evite a artéria epigástrica inferior. Diálise peritoneal O peritônio é uma membrana semipermeável com extensa área superficial, grande parte da qual (as partes subdiafragmáticas em especial) situa-se sobre os leitos dos capilares sanguíneos e linfáticos. Portanto, o líquido injetado na cavidade peritoneal é rapidamente absorvido. Na insuficiência renal, escórias nitrogenadas como a ureia acumulam-se no sangue e nos tecidos e, por fim, alcançam níveis fatais. Pode ser realizada diálise peritoneal, na qual as substâncias solúveis e o excesso de água são removidos do sistema por transferência através do peritônio, usando uma solução estéril diluída que é introduzida na cavidade peritoneal em um lado e depois drenada do outro lado. Solutos difusíveis e água são transferidos entre o sangue e a cavidade peritoneal em virtude de gradientes de concentração entre os dois compartimentos de líquido. No entanto, a diálise peritoneal geralmente é apenas temporária. A longo prazo, é preferível usar o fluxo sanguíneo direto através de um aparelho de diálise renal. Funções do omento maior O omento maior, grande e cheio de gordura, impede a aderência do peritônio visceral ao peritônio parietal. É bastante móvel e desloca-se ao redor da cavidade peritoneal com os movimentos peristálticos das vísceras. Não raro forma aderências adjacentes a um órgão inflamado, como o apêndice vermiforme, algumas vezes isolando-o e assim protegendo outras vísceras. Portanto, é comum, ao penetrar a cavidade abdominal, na dissecçãoou durante uma cirurgia, encontrar o omento muito deslocado da posição “normal” na qual é quase sempre representado em ilustrações anatômicas. O omento maior também protege os órgãos abdominais contra lesão e proporciona isolamento contra a perda de calor corporal. Formação de abscesso Kaysa Suassuna Medicina | FITS Perfuração de uma úlcera duodenal, ruptura da vesícula biliar ou perfuração do apêndice vermiforme pode causar a formação de um abscesso (coleção circunscrita de exsudato purulento, isto é, pus) no recesso subfrênico. O abscesso pode ser isolado inferiormente por aderências do omento maior. Disseminação de líquidos patológicos A importância clínica dos recessos peritoneais está associada à disseminação de líquidos patológicos como o pus, um produto da inflamação. Os recessos determinam a extensão e o sentido da disseminação de líquidos que podem entrar na cavidade peritoneal quando um órgão está doente ou é lesado. Fluxo de líquido ascítico e pus Os sulcos paracólicos são importantes clinicamente porque proporcionam vias para o fluxo de líquido ascítico e a disseminação de infecções intraperitoneais. O material purulento no abdome pode ser transportado ao longo dos sulcos paracólicos para a pelve, sobretudo quando a pessoa está em posição ortostática. Assim, para facilitar o fluxo de exsudato para a cavidade peritoneal, onde a absorção de toxinas é relativamente fácil de drenar, os pacientes com peritonite frequentemente são colocados na posição sentada (em um ângulo de pelo menos 45°). Por outro lado, as infecções pélvicas podem estender-se superiormente até um recesso subfrênico situado sob o diafragma, principalmente quando a pessoa está em decúbito dorsal. Do mesmo modo, os sulcos paracólicos são vias para a disseminação de células cancerosas que se soltaram da superfície ulcerada de um tumor e penetraram a cavidade peritoneal. Líquido na bolsa omental A perfuração da parede posterior do estômago provoca a passagem de seu conteúdo líquido para a bolsa omental. A inflamação ou lesão do pâncreas também pode permitir a passagem de líquido pancreático para a bolsa, com formação de um pseudocisto pancreático. Hérnia interna através do forame omental Embora raro, uma alça de intestino delgado pode atravessar o forame omental, entrar na bolsa omental e ser estrangulada pelas margens do forame. Como não se pode fazer incisão em nenhum dos limites do forame porque todos contêm vasos sanguíneos, o intestino edemaciado deve ser descomprimido usando-se uma agulha, de modo que possa ser recolocado na cavidade peritoneal através do forame omental.
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