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Página 1 ANESTESIAS ESPINHAIS CAMILA MARTINS ANESTESIAS ESPINHAIS INTRODUÇÃO Raquianestesia e Peridural. A principal diferença é que a raqui tem um efeito mais rápido por se inserir no líquor -> entra em contato mais rápido com as estruturas nervosas. Anestesias espinhais: introdução de soluções anestésicas no interior do estojo raquidiano (espaço subaracnóideo) – deve provocar uma interrupção temporária dos impulsos por meio do bloqueio dos canais de Na+. VANTAGENS DAS ANESTESIAS ESPINHAIS (BLOQUEIO REGIONAL): • Melhora da evolução dos pacientes; • Diminuição da resposta sistêmica ao estresse cirúrgico; • Redução de sangramento intraoperatório; • Atenuação da incidência de eventos tromboembólicos; • Diminuição da morbimortalidade em pacientes de alto risco; • Prolongam a analgesia pós operatória. RAQUIANESTESIA NA RAQUI, O LÍQUIDO DEVE GOTEJAR NO ESPAÇO SUBARACNÓIDEO. É uma técnica fácil, que envolve a punção do canal medular. O anestésico se difunde no LCR e atinge as raízes nervosas. PERIDURAL É uma técnica mais complexa em relação à raquianestesia. O LÍQUIDO ANESTÉSICO DEVE SER INSERIDO ENTRE A DURA-MÁTER E A ARACNÓIDE E OS LIGAMENTOS AMARELOS. A peridural se usa com frequência de forma contínua, com a inserção de um cateter no espaço peridural. Muito utilizado em cirurgias prolongadas em pacientes com muitas comorbidades, de forma que ela é liberada aos poucos e de forma contínua. O cateter pode ser deixado por até uma semana, para auxiliar também no pós-operatório. A manipulação do cateter deve ser muito cuidadosa para evitar infecções. Existem também agulhas combinadas para realizar as duas de forma simultânea. Primeiro vamos com a agulha de peridural, e depois passamos a agulha de raqui por dentro. Vantagens: menor incidência de falhas, menor tempo de latência, menos tentativas de punção, menores níveis plasmáticos do AL são suficientes. A epidural sacro é feita pelo espaço peridural sacral, mais utilizada em crianças (em adultos teria que ser uma agulha muito grossa). Não esquecer que após a anestesia regional o paciente deve ir para a sala de recuperação pós- anestésicas, mesmo se seus parâmetros vitais estiverem ótimos. Após a anestesia no neuroeixo, o paciente pode manter-se consciente ou pode estar sedado, dependendo do objetivo da cirurgia e da dose utilizada. Página 2 ANESTESIAS ESPINHAIS CAMILA MARTINS VANTAGENS DA PERIDURAL: Maior duração, permite bloqueios diferenciados, menor incidência de complicações, ausência de cefaléia pós punção. DESVANTAGENS DA PERIDURAL: Menor relaxamento muscular, técnica mais difícil, maior número de falhas, efeitos tóxicos mais intensos, pode haver perfuração da dura- máter. EFEITOS FISIOLÓGICOS PRINCIPAIS – SNC: • Inibição da sensibilidade; • Bloqueio simpático; • Relaxamento muscular (muito maior com a raquianestesia do que com a peridural) SECUNDÁRIOS – SCV: O bloqueio das fibras do simpático lombar leva à: • Vasodilatação; • Diminuição do retorno venoso periférico; • Diminuição da volemia circulante; • Redução do retorno venoso; • Redução do DC. Cuidado com a hipotensão arterial: fazer reposição volêmica e vasopressor. REVISÃO ANATÔMICA As curvaturas da coluna vertebral devem ser levadas em conta principalmente na raquianestesia, pois quando colocado na posição de Trendelemburg o bloqueio pode acabar sendo mais cranial do que o esperado. Os processos espinhosos de T5 a T7 são inclinados acentuadamente para baixo, sendo quase impossível a punção mediana nesses locais. Assim, é preferível a punção paramediana nesses casos. A medula espinhal termina na altura entre L1 e L3, então o ideal é sempre fazer a raquianestesia abaixo desse nível. CONTEÚDO DO CANAL ESPINHAL: medula espinhal, meninges (dura-máter, aracnóide, pia- máter), raízes raquidianas, ligamentos denteados, vasos medulares, LCR. As raízes nervosas deixam o canal espinhal pelos forames vertebrais, e a união das raízes dorsais e anteriores origina os nervos espinhais, com suas fibras motoras sensitivas e autonômicas envolvidas por dura-máter e epineuro. LÍQUOR: ele deve ser incolor, cristalino, e não deve coagular. Caso esteja alterado, o procedimento deve ser abortado. O LCR é formado principalmente no plexo coroide dos ventrículos cerebrais, que é formado pela invaginação de veias do espaço intradural. Forma-se 500ml de líquor em 24 horas. As anestesias espinhais são divididas em isso, hiper ou hipobáricas quando comparadas à densidade do LCR. Importante: o líquor não tem sistema tampão. Página 3 ANESTESIAS ESPINHAIS CAMILA MARTINS ESPAÇO PERIDURAL: tem como limite interno a dura-máter e como limite externo o periósteo do canal vertebral, o ligamento longitudinal posterior e o ligamento amarelo. Seu conteúdo são: as raízes nervosas, um denso plexo venoso e tecido adiposo frouxo. Seu limite superior é o forame magno e o inferior é o forame sacro, então tecnicamente a peridural pode ser feita em toda essa extensão, mas as punções mais baixas são sempre mais seguras, além de possuir uma largura muito maior nessa região. É mais fácil localizar o espaço peridural com o paciente sentado, por conta da diferença de pressão. TÉCNICAS A punção pode ser feita com o paciente sentado e relaxado ou em decúbito lateral. Para identificar L4, vamos traçar uma linha que liga uma crista ilíaca à outra. Nós podemos atingir os espaços por acesso mediano ou acesso lateral. No acesso lateral (ou paramediano) nós evitamos os ligamentos supraespinhosos e interespinhosos. Essa técnica é muito utilizada em idosos, pois os ligamentos podem estar calcificados. Na punção paramediana a agulha é inserida a 1,5cm da linha média com um ângulo de 25 graus. PUNÇÃO DE TAYLOR: espaço na região sacral onde não há ligamentos. Pode ser usado como alternativa tanto para o método mediano como para o paramediano (principalmente no caso da raqui, que é mais difícil) As características do paciente também influenciam a distribuição do AL no LCR (idade, altura, sexo – no homem os ombros são mais largos e na mulher o quadril é mais largo), pressão intra-abdominal – como na gestação – configuração anatômica da coluna, posição. Dependendo da posição do paciente, nós podemos usar uma solução hipobárica ou hiperbárica. Com os vasoconstrictores, os vasos tanto do espaço peridural quando espeço subaracnóideo sofrem vasoconstricção, tornando a absorção mais lenta. Nesse caso, o anestésico fica mais tempo na raiz nervosa e a qualidade do bloqueio fica melhor. Obs: todas as soluções aplicadas no espaço peridural são isobáricas – nesse espaço, a baricidade quase não possui efeito, o anestésico geralmente já fica no espaço injetado (devemos escolher bem o espaço que vamos injetar) RAQUIANESTESIA – MECANISMO O líquido se dilui no líquor entre 1 e 2 minutos. Do segundo ao sexto minuto occorem a: • DIFUSÃO: movimento molecular • FIXAÇÃO: nas raízes nervosas • ABSORÇÃO: pelas vilosidades aracnoideas, pelos capilares linfáticos Página 4 ANESTESIAS ESPINHAIS CAMILA MARTINS dos feixes nervosos ou pelos capilares do parênquima do tecido nervoso. O mecanismo da peridural é o mesmo, mas a sua diluição é mais demorada, pois deve passar pelos forames e pelos ligamentos da dura-máter antes de cair no líquor. Então, fisiologicamente, toda peridural se transforma em uma raquianestesia – devemos, porém, usar uma quantidade anestésica maior pois uma porção se perde durante essa passagem. PERIDURAL – MECANISMO IDENTIFICAÇÃO DO ESPAÇO PERIDURAL: como não ocorre o extravasamento de líquor, é mais difícil identificar esse espaço do que o subaracnóideo. - A pressão do espaço peridural é menor do que a atmosférica:é colocada uma gota anestésica pendente na parte posterior da agulha e vamos prosseguindo seu inserimento – quando essa gota for aspirada, significa que atingimos o espaço peridural, que possui pressão negativa; - Perda da resistência do ligamento amarelo; - Injeção de ar e líquido: colocamos ar em uma seringa – quando estamos no ligamento amarelo e tentamos pressionar o êmbolo, há uma resistência. Vamos progredindo com a agulha e pressionando o êmbolo – quando o ar/líquido flui de uma maneira mais fácil, significa que estamos no espaço peridural. ANESTESIA PERIDURAL CONTÍNUA: não é muito feito na raqui, pois necessitaria de um cateter finíssimo. A agulha bem localizada permite a passagem de um cateter no espaço peridural. A ponta do cateter deve ficar na altura do bisel da agulha. Na hora de retirar a agulha, o cateter deve estar muito bem fixado. TÉCNICA Antes de injetar o líquido (que é um grande volume) é feita uma dose teste, para garantir que não está sendo injetado dentro de nenhum vaso. Ver se não está saindo LCR ou sangue antes de prosseguir. Depois de injetar a lidocaína com adrenalina, observar o monitor cardíaco para garantir que a adrenalina não foi intravascular. CONTRAINDICAÇÕES Absolutas: • Recusa do paciente; • Alergia ao AL (são raras); • Doenças neurológicas; • Hipertensão intracraniana; • Choque hipovolêmico; • Cardiopatias graves (estenose); Página 5 ANESTESIAS ESPINHAIS CAMILA MARTINS • Infecções sistêmicas; • Infecções no local da punção; • Distúrbios da coagulação. Relativas: • Hipotensão arterial; • Hipovolemia leve; • Anemia leve; • Deformidades da coluna; • Cefaleia frequente; • Dor lombar; • Hipersensibilidade ao AL. complicações Dentre as complicações, a cefaléia pós-raqui é a mais comum. Na raqui, a agulha usada deve ser a mais fina possível, deve-se atentar aos antecedentes de cefaléia do paciente, o bisel deve ser inserido de modo paralelo às fibras musculares. O método de preferência deve ser o paramediano, pois ocorre menor extravasamento de LCR. A cefaleia pós-raqui geralmente é bifrontal ou occipital, podendo sua intensidade variar de branda a incapacitante. O que a diferencia de outros tipos de cefaléia é seu forte componente postural: a dor passa quando o paciente está deitado (isso acontece por causa da perda liquórica). Pode estar associada a diplopia, zumbido auditivo e náuseas. Idealmente, o paciente deve ficar em decúbito ventral para reduzir o extravasamento de líquor pós cirurgia. BLOQUEIO EPIDURAL DO SACRO: a agulha vai ser inserida no hiato sacral. É uma técnica mais utilizada em crianças, pois a membrana sacrococcígea não está calcificada. A agulha vai ser introduzida numa posição de 70 graus, e após a perfuração da membrana passa para 40 graus BLOQUEIO DE BIER É um bloqueio regional intravenoso. O membro e exsanguinado e depois garroteado para que o anestésico não se difunda sistemicamente e se torne tóxico. Requer muito cuidado na hora de retirar o garrote.