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PROVA AV2 ADMINISTRATIVO II ERICK DIOGO SÁ E SILVA 1) João Augusto estava participando de uma partida de futebol quando fraturou uma costela, vindo a necessitar de intervenção cirúrgica, realizada em hospital público federal localizado no Estado X. Dois anos e meio após a realização da cirurgia, João Augusto ainda sofria com muitas dores no local, o que o impossibilitava de exercer sua profissão como taxista. Descobre, então, que a equipe médica havia esquecido um pequeno bisturi dentro do seu corpo. Realizada nova cirurgia no mesmo hospital público, o problema foi resolvido. No dia seguinte, ao sair do hospital, João Augusto procura você, na qualidade de advogado(a), para identificar e minutar a medida judicial que pode ser adotada para tutelar seus direitos. Responda qual a peça judicial cabível, que deve conter argumentação jurídica apropriada e desenvolvimento dos fundamentos legais da matéria versada no problema, abordando, necessariamente: (I) competência do órgão julgador; (II) a natureza da pretensão deduzida por João Augusto; e (III) os fundamentos jurídicos aplicáveis ao caso. RESPOSTA: A peça judicial cabível para o caso de João Augusto é uma Ação de Responsabilização Civil com Indenização por meio de Rito Ordinário em face da União movida Vara Cível da Justiça Federal, nos termos do artigo 109, inc. I, da Constituição Federal de 1988: “Art. 109. Aos juízes federais competem processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à justiça eleitoral e a justiça do trabalho”. O Caso Concreto examinado revela ocorrência de erro médico durante a primeira cirurgia realizada no hospital público federal, o que implica responsabilidade objetiva do ente público e subjetiva da equipe médica. Conforme o artigo 37, § 6º, da CF/1988, as entidades de direito público e as de direito privado que prestam serviços públicos responderão pelos danos que os seus agentes causarem a terceiros, sendo assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Com esse fundamento, o hospital público federal possui responsabilidade objetiva sobre o dano provocado a João. A equipe médica também poderia ser acionada no polo passivo da Ação de Responsabilização Civil, mas essa responsabilidade seria culposa, demandando prova de culpa. Entretanto, para a responsabilização do hospital público federal não há necessidade de prova de culpa, tendo em vista a responsabilidade objetiva, conforme art. 186, art. 927, parágrafo único, e art. 949 do Código Civil de 2002: aquele que causa dano a alguém deve tem a obrigação de repará-lo, independente de culpa, conforme casos especificados em lei, respondendo por despesas de tratamento e dos lucros cessantes. 2) Adriano, policial civil, com dois anos de carreira é designado para realizar diligência em área de risco, dirige-se ao local em viatura caracterizada, com o resto da equipe. Em lá chegando, já encontra resistência armada por parte dos criminosos homiziados naquele logradouro. Na tentativa de evitar os disparos, o motorista da viatura realiza manobra defensiva sem observar, minimamente, a técnica necessária para evitar que o carro colidisse gravemente contra um transformador da concessionária de energia elétrica, causando uma pequena explosão que atinge o veículo. Em decorrência de tal acidente, Adriano sofre séria queimadura no pé, reduzindo sua capacidade motora e dando ensejo a sua aposentadoria por invalidez. A perícia posteriormente realizada no veículo constatou que a manobra também foi prejudicada por falha na manutenção dos freios da viatura. Analise, justificadamente, a viabilidade de pretensão indenizatória, por danos morais e materiais, formulada por Adriano em face do Estado do Rio de Janeiro. RESPOSTA: O Estado tem responsabilidade objetiva sobre o fato ocorrido, tendo em vista a previsão do artigo 37, § 6º, da CF/1988, que preconiza a obrigação do Estado em responder pelos danos cometidos por agentes públicos, nessa qualidade. Trata-se de responsabilidade objetiva. Basta a comprovação do nexo de causalidade com o dano ocorrido. Além disso, há responsabilidade subjetiva do Estado, tendo em vista comprovação pericial de que houve erro na manutenção da viatura policial que provocou mal funcionamento do sistema de freios do veículo e favoreceu a ocorrência do acidente. A pretensão indenizatória de Adriano será exercida em face do Estado do Rio de Janeiro, conforme art. 37, § 6º, da CF/1988, conjugado com os artigos 186 e 927, parágrafo único, do Código Civil de 2002, para a responsabilidade objetiva, e art. 186 e 927, caput, para a responsabilidade subjetiva. Portanto, haverá responsabilidade objetiva e subjetiva do Estado do Rio de Janeiro em reparar os danos causados a Adriano, os quais lhe provocaram a redução da capacidade motora e a aposentadoria por invalidez, invocando-se também o disposto no art. 949 do Código Civil de 2002. 3) No curso de uma inundação e do aumento elevado das águas dos rios em determinada cidade no interior do Brasil, em razão do expressivo aumento do índice pluviométrico em apenas dois dias de chuvas torrenciais, o Poder Público municipal ocupou durante o período de 10 (dez) dias a propriedade de uma fazenda particular com o objetivo de instalar, de forma provisória, a sede da Prefeitura, do Fórum e da Delegacia de Polícia, que foram completamente inundadas pelas chuvas. Diante da hipótese acima narrada, identifique e explicite o instituto de direito administrativo de que se utilizou o Poder Público municipal, indicando a respectiva base legal. RESPOSTA: O instituto de Direito administrativo de que foi utilizado pelo o Poder Público Municipal foi a ocupação temporária de bens privados ou da requisição que se encontra previsto no artigo 5º, inc. XXV, da Constituição Federal de 1988, que prevê, para os caso de iminente perigo público, o direito de a autoridade competente usar de propriedade particular, assegurando-se ao proprietário a indenização ulterior, caso haja ocorrência de dano. Significa dizer que o Estado pode se apropriar temporariamente de bem privado para uso em caso de iminente perigo público. Trata-se de caso excepcional de intervenção pública em direito de propriedade, constitucionalmente assegurado, em benefício do bem comum, sob os princípios da supremacia do interesse público e indisponibilidade do interesse público, assegurado o direito a reparação de dano à propriedade alheia. 4) Discorra acerca das intervenções restritiva e supressiva do Estado na propriedade privada, apontado suas principais diferenças. RESPOSTA: A intervenção restritiva são as restrições que são impostas pelo Estado com a finalidade do uso da propriedade sem retirá-la do domínio particular. As formas de intervenção restritivas do Estado à propriedade privada são: (a) requisição, nos casos de iminente perigo público, conforme CF/1988, art. 5º, inc. XXV; (b) nesta modalidade, ela implica na limitação parcial ao direito de propriedade, sendo que o particular conserva o seu direito, mas sofre restrições, ônus ou condicionamentos como por exemplo a servidão administrativa. Na intervenção supressiva, ela implica na retirada do direito de propriedade anterior, não permitindo que o particular tenha mais qualquer poder em relação ao bem como por exemplo a desapropriação, sendo uma transferência para si ou para outrem, forma coercitiva, a propriedade de terceiro, em nome do interesse público, suprimindo ou extinguindo a propriedade particular do bem de interesse. Por se tratar de dois meios diferentes a intervenção restritiva se torna mais suave em que ela toma temporariamente o espaço do particular para o estado, já no supressivo oformato é mais grave, por se tratar de uma tomada completa do bem, se tornando propriedade do Estado para uso da sociedade, sendo assim, o restritivo ainda garante o dono do terreno o seu direito de uso após o estado terminar de usá-lo, e na supressiva o Estado mantem para sí a propriedade do terreno, não voltando para o dono da propriedade. Os tipos de intervenções que existem são, tombamento, requisição, servidão administrativa, limitação administrativa, desapropriação, ocupação temporária. A limitação administrativa são as imposições gerais do Estado ao particular para compatibilizar os imperativos do regime jurídico-administrativo com os imperativos de Direito Privado e a distribuição isonômica dos ônus decorrentes sendo uma intervenção restritiva. A ocupação temporária é a forma originária de aquisição do bem móvel, previsto no artigo 1.263 do CC de 2002 sendo nela assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade não sendo ocupação defesa por lei, o artigo que mais se aproxima da ocupação temporária é tratada no inciso II §1 do artigo 136, em que nela possibilita durante o Estado de Defesa, a ocupação e o uso temporário de bens e serviços públicos, sendo uma intervenção restritiva. A requisição administrativa é o ato unilateral referente à solicitação imperativa de bem móvel, imóvel ou serviço do administrado para satisfazer o interesse público em casos de iminente perigo público, na forma do inciso XXV do art. 5 da Constituição Federal, sendo assegurado caso ocorra dano, a indenização posterior, sendo uma intervenção restritiva. O tombamento, é tratado no artigo 216 do CF em que constituem patrimônio cultural brasileiro o direito de tombar, como forma de preservação da cultura brasileira, sendo uma inscrição compulsória ou voluntária de determinado bem de natureza material ou imaterial do patrimônio cultural brasileiro, com a finalidade de proteção, em libro de tombo, sendo uma intervenção restritiva. A servidão administrativa é um direito real que proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava ou onera o prédio serviente, pertencente a dono diverso. Sua função tem como objeto o bens imóveis e gera uma relação propter rem, sendo pouco relevante, nas relações entre os particulares, a titularidade dos bens e submete-se à teoria do mínimo encargo, sendo uma intervenção restritiva. A desapropriação prevista no artigo 5 da CF inciso XXIV, determina a situações que exigem não apenas limitação temporária ou parcial, mas sim a inversão duradoura e completa do direito de propriedade, a fim de que o interesse público seja satisfeito ou, no caso de certas expropriações, seja resguardado interesse privado legítimo e socialmente relevante, sendo uma intervenção supressiva.
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