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Anamnese 2

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Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
O que compõe uma anamnese? 
Para que se faça a anamnese perfeita, é 
preciso que se realize todas as suas 
partes, que são: identificação, queixa 
principal, história de doença atual 
(HDA), interrogatório sintomatológico 
(IS), antecedentes pessoais e familiares, 
hábitos de vida, condições 
socioeconômicas e culturais. 
Identificação 
A identificação é o perfil 
sociodemográfico do paciente que 
permite a interpretação de dados 
individuais e coletivos. Apresenta 
múltiplos interesses e o primeiro deles é 
de iniciar um relacionamento com 
paciente, começando por saber qual o 
seu nome. 
SÃO OBRIGATÓRIOS OS ITENS: 
✓ Nome: 
Primeiro dado da identificação. Nunca é 
demais criticar o hábito de designar o 
paciente pelo número do leito ou pelo 
diagnóstico. “Paciente do leito 5” ou 
“aquele caso de cirrose hepática da 
enfermaria 7” são expressões que 
jamais devem ser usadas para 
caracterizar uma pessoa. 
✓ Idade: 
Cada grupo etário tem sua própria 
doença, e bastaria essa assertiva para 
tornar clara a importância da idade. A 
todo momento, o raciocínio diagnóstico 
se apoia nesse dado, e quando se fala 
em “doenças próprias da infância”, está 
se consagrando o significado do fator 
idade no processo de adoecimento. Vale 
ressaltar que, no contexto da anamnese, 
a relação médico-paciente apresenta 
peculiaridades de acordo com as 
diferentes faixas etárias. 
✓ Sexo/gênero: 
Não se falando nas diferenças 
fisiológicas, sempre importantes do 
ponto de vista clínico, há enfermidades 
que só ocorrem em determinado sexo. 
Exemplo clássico é a hemofilia, 
transmitida pelas mulheres, mas que só 
aparece nos homens. É óbvio que 
existem doenças específicas para cada 
sexo no que se refere aos órgãos 
sexuais. As doenças endócrinas 
adquirem muitas particularidades em 
função desse fator. A questão de gênero 
aponta para um processo de 
adoecimento diferenciado no homem e 
na mulher, ainda quando a doença é a 
mesma. 
✓ Cor/etnia: 
Em nosso país, onde existe uma intensa 
mistura de etnias, é preferível o registro 
da cor da pele usando as nomenclaturas 
“cor branca”, “cor parda” ou “cor preta”. 
A influência da etnia no processo do 
adoecimento conta com muitos 
exemplos. O mais conhecido é o da 
anemia falciforme, uma alteração 
sanguínea específica dos negros, mas 
que, em virtude da miscigenação, pode 
ocorrer em pessoas de outra cor. Outro 
exemplo é a hipertensão arterial, que 
mostra comportamento evolutivo 
diferente nos pacientes negros: é mais 
frequente, mais grave, apresenta lesões 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
renais mais intensas e maior incidência 
de AVE. Em contrapartida, pessoas de 
cor branca estão mais predispostas aos 
cânceres de pele. 
✓ Estado civil: 
Não só os aspectos sociais referentes ao 
estado civil podem ser úteis ao 
examinador. Aspectos médico-
trabalhistas e periciais podem estar 
envolvidos, e o conhecimento do estado 
civil passa ser um dado valioso. 
✓ Profissão: 
É um dado de crescente importância na 
prática médica, e tem relação com o 
próximo item. 
✓ Local de trabalho: 
Não basta registrar ocupação atual. Faz-
se necessário indagar sobre outras 
atividades já exercidas em épocas 
anteriores. Por isso, nos prontuários 
devem constar os itens profissão e local 
de trabalho na identificação e os itens 
ocupação atual e ocupações anteriores 
nos hábitos de vida. 
Em certas ocasiões, existe uma relação 
direta entre o trabalho do indivíduo e a 
doença que lhe acometeu. Enquadram-
se nessa categoria as chamadas doenças 
profissionais e os acidentes de trabalho. 
Por exemplo, indivíduos que trabalham 
em pedreiras ou minas podem sofrer 
uma doença determinada por 
substâncias inaladas ao exercerem sua 
profissão, a pneumoconiose. O 
indivíduo que sofre uma fratura ao cair 
de um andaime é vítima de um acidente 
de trabalho. 
Em outras situações, ainda que a 
ocupação não seja diretamente 
relacionada com a doença, o ambiente 
no qual o trabalho é executado poderá 
envolver fatores que agravam uma 
afecção preexistente. Assim, são os 
locais empoeirados ou enfumaçados 
que agravam as enfermidades 
broncopulmonares, como asma 
brônquica, bronquite crônica e enfisema 
pulmonar. 
✓ Naturalidade: 
Local onde o paciente nasceu. 
✓ Procedência: 
Refere-se à residência anterior do 
paciente. Por exemplo, ao atender um 
paciente que mora em Goiânia, mas que 
anteriormente residiu em Belém, deve-
se registrar a última localidade como a 
procedência. 
No caso de um executivo que reside em 
São Paulo e faz uma viagem de negócios 
para Recife, caso seja atendido em um 
hospital em Recife, sua procedência será 
São Paulo. Caso procure assistência 
médica logo depois de seu retorno a São 
Paulo, sua procedência será Recife. 
✓ Residência: 
Anota-se o endereço da residência atual 
do paciente. 
As doenças infecciosas e parasitárias se 
distribuem pelo mundo em função de 
vários fatores, como climáticos, 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
hidrográficos e de altitude. Conhecer o 
local da residência é o primeiro passo 
nessa área. Além disso, deve-se lembrar 
de que os movimentos migratórios 
influem de modo decisivo na 
epidemiologia de muitas doenças 
infecciosas e parasitárias, como a 
doença de Chagas, a esquistossomose, 
a malária e a hidatidose. 
✓ Nome da mãe: 
Anotar o nome da mãe do paciente é 
uma regra bastante comum na hospitais 
no sentido de diferenciar os pacientes 
de mesmo nome. 
✓ Nome do responsável, 
cuidador ou acompanhante: 
O registro do nome do responsável, 
cuidador ou acompanhante de crianças, 
adolescentes, idosos, tutelados ou 
incapazes por problemas cognição, por 
exemplo, faz-se necessário para que se 
firme a relação da corresponsabilidade 
ética no processo de tratamento do 
paciente. 
✓ Religião: 
A religião a qual o paciente se filia tem 
relevância no processo saúde-doença. 
Alguns dados bastante objetivos, como 
a proibição da hemotransfusão em 
testemunhas de Jeová e o não uso de 
carnes pelos fiéis da Igreja Adventista, 
têm uma repercussão importante no 
planejamento terapêutico. Outros dados 
mais subjetivos podem influenciar a 
relação médico-paciente, uma vez que o 
médico usa em sua fala a pauta 
científica, que muitas vezes pode se 
contrapor à pauta religiosa pela qual o 
paciente compreende o mundo em que 
vive. 
✓ Filiação a 
órgãos/instituições 
previdenciárias e planos de 
saúde: 
Ter conhecimento desse fato facilita o 
encaminhamento para exames 
complementares, outros especialistas 
ou mesmo a hospitais, nos casos de 
internação. 
Queixa principal 
Registra-se a queixa principal ou o 
motivo que levou paciente a procurar 
um médico, repetindo, se possível, as 
expressões por ele utilizadas. É uma 
afirmação breve e espontânea, 
geralmente um sinal ou um sintoma, 
suscitador nas próprias palavras da 
pessoa, que descreve o motivo da 
consulta. Geralmente, é uma anotação 
entre aspas para indicar que se trata das 
palavras exatas do paciente. Não se deve 
aceitar “rótulos diagnósticos” referidos à 
queixa principal. Assim, se o paciente 
disser que problema é “pressão alta” ou 
“menopausa”, deve-se esclarecer o 
sintoma que ficou subentendido sob 
outra denominação, pois nem sempre 
existe uma correspondência entre a 
nomenclatura leiga e o significado exato 
do termo usado pelo paciente. Por isso, 
sempre se solicita a ele a tradução em 
linguagem corriqueira daquilo que 
sente. 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
✓ Sugestões para obter a 
“queixa principal”: 
Qual o motivo da consulta? 
Por que o (a) senhor (a) me procurou? 
O que o (a) senhor (a) está sentindo? 
O que está incomodando? 
✓ Exemplos de “queixaprincipal: 
Dor de ouvido 
Dor no peito há 2h 
Exame periódico para o trabalho 
História da doença atual (HDA) 
A história da doença atual (HDA) é um 
registro cronológico e detalhado do 
motivo que levou o paciente a procurar 
assistência médica, desde o seu início 
até a data atual. A HDA é a parte 
principal da anamnese e costuma ser a 
chave mestra para chegar ao 
diagnóstico. 
✓ Sintoma-guia: 
Designa-se como sintoma-guia o 
sintoma ou sinal que permite recompor 
a história da doença atual com mais 
facilidade e precisão, por exemplo: a 
febre na malária, a dor epigástrica na 
úlcera péptica, as convulsões na 
epilepsia, o edema na síndrome 
nefrótica, a diarreia na colite ulcerativa. 
Contudo, isso não significa que haja 
sempre um único e constante sintoma-
guia para cada enfermidade. Sintoma-
guia não é necessariamente o mais 
antigo, mas tal atributo deve ser levado 
em conta. Não é obrigatório que seja a 
primeira queixa relatada pelo paciente, 
porém isso também não pode ser 
menosprezado. Nem é, tampouco de 
maneira sistemática, o sintoma mais 
realçado pelo paciente. Como 
orientação geral, o estudante deve 
escolher como sintoma-guia a queixa de 
mais longa duração, o sintoma mais 
salientado pelo paciente ou 
simplesmente começar pelo relato da 
“queixa principal”. 
O passo seguinte é determinar a época 
em que teve início aquele sintoma. A 
pergunta padrão pode ser: “Quando o 
senhor começou a sentir isso?”. Nem 
sempre o paciente consegue se lembrar 
de datas exatas, mas é indispensável 
estabelecer a época provável do início 
do sintoma. Afecções de longa duração 
e de começo insidioso com múltiplas 
manifestações causam maior 
dificuldade. Nesses casos mais 
complexos, é válido utilizar-se de certos 
artifícios, procurando relacionar o (s) 
sintoma (s) com eventos que não se 
esquecem (casamento, gravidez 
mudanças, acidentes). 
O terceiro passo consiste em investigar 
a maneira como evoluiu o sintoma. 
Muitas perguntas devem ser feitas, e 
cada sintoma tem suas características 
semiológicas. Constrói-se uma história 
clínica com base no modo como 
evoluem os sintomas. 
Concomitantemente com análise da 
evolução do sintoma-guia, o 
examinador estabelece as correlações e 
as inter-relações com outras queixas. A 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
análise do sintoma-guia e dos outros 
sintomas termina com a obtenção de 
informações sobre como eles estão no 
presente momento. Visto em conjunto 
esse esquema básico para confecção da 
anamnese, verifica-se que a meta 
almejada é obter uma história que tenha 
início, meio e fim. 
✓ Análise de um sintoma: 
Para ajudar na análise de um sintoma, 
tem-se um esquema com alguns 
elementos essenciais para essa etapa: 
Início: deve ser caracterizada com 
relação à época de aparecimento, se foi 
de início súbito ou gradativo, se teve 
fator desencadeante ou não. 
Característica do sintoma: definir a 
localização, duração, intensidade, 
frequência, tipo, ou seja, características 
próprias a depender do sintoma. 
Fatores de melhora ou piora: definir 
quais fatores melhoram e pioram um 
sintoma, como fatores ambientais, 
posição, atividade física ou repouso, 
alimentos ou uso de medicamentos. 
Relação com outras queixas: registrar se 
existe alguma manifestação ou queixa 
que acompanha o sintoma, geralmente 
relacionado com o segmento anatômico 
ou funcional acometido pelo sintoma. 
Evolução: registrar o comportamento do 
sintoma ao longo do tempo, relatando 
modificações das características e 
influência de tratamentos efetuados. 
Situação atual: registrar como o sintoma 
está no momento da anamnese. 
Interrogatório sintomatológico 
Constitui um complemento da HDA. O 
interrogatório sintomatológico (IS) 
documenta a existência ou ausência de 
sintomas comuns relacionados com 
cada um dos principais sistemas 
corporais. A principal utilidade prática 
do interrogatório sintomatológico reside 
no fato de permitir ao médico levantar 
possibilidades e reconhecer 
enfermidades que não guardam relação 
com o quadro sintomatológico 
registrado na HDA. Por exemplo: o 
relato de um paciente conduziu ao 
diagnóstico de úlcera péptica, e no IS 
houve referência a edema dos membros 
inferiores. Esse sintoma pode despertar 
uma nova hipótese diagnóstica que vai 
culminar no encontro de uma cirrose. 
Além disso, é no interrogatório 
sintomatológico que se origina a 
suspeita diagnóstica mais importante. É 
comum um paciente não relatar um ou 
vários sintomas durante a elaboração da 
HDA. Simples esquecimento ou medo 
inconsciente de determinados 
diagnósticos podem levar o paciente a 
não se referir a padecimentos de valor 
crucial para chegar a um diagnóstico. 
Por isso, outra importante função do 
interrogatório sintomatológico é avaliar 
práticas de promoção à saúde. Enquanto 
se avalia o estado de saúde passado e 
presente de cada sistema corporal, 
aproveita-se para promover saúde, 
orientando e esclarecendo o paciente 
sobre maneiras de prevenir doenças e 
evitar riscos à saúde. 
 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
✓ Sistematização do IS: 
Não é fácil sintetizar o interrogatório 
sintomatológico quando se tem como 
permanente preocupação uma visão 
global do paciente. Sem dúvida, a 
melhor maneira é levar em conta os 
segmentos do corpo. 
O domínio do método clínico exige um 
esforço especial nessa fase, porém a 
chave do problema está no exame do 
maior número possível de pacientes, 
seguindo-se a sistematização proposta 
a seguir: 
Sintomas gerais, como febre, astenia, 
alteração de peso. 
Pele e fâneros, como alteração da cor, 
textura, lesões. 
Cabeça e pescoço, abrangendo sintomas 
que acometem o crânio, face, olhos, 
ouvidos, nariz, cavidades paranasais, 
cavidade bucal e anexos, faringe, 
laringe, tireoide, paratireoide, vasos e 
linfonodos. 
Tórax, abrangendo mamas, traqueia, 
brônquios, pulmões, pleuras, 
diafragma, mediastino, coração, 
grandes vasos e esôfago. 
Abdome, abrangendo parede 
abdominal, estômago, intestino 
delgado, cólon, reto, ânus, fígado, vias 
biliares e pâncreas. 
Sistema geniturinário, abrangendo rins, 
vias urinárias e órgãos genitais. 
Sistema hemolinfopoético, como 
hemorragias, icterícia. 
Sistema endócrino, abrangendo 
hipotálamo, e hipófise, tireoide, 
paratireoides, suprarrenais e gônadas. 
Coluna vertebral, ossos, articulações e 
extremidades, como dor, rigidez 
deformidades. 
Músculos, como fraqueza, atrofia, dor. 
Artérias, veias, linfáticos e 
microcirculação, como edemas, dor. 
Sistema nervoso, como dor, convulsão 
amnésia. 
Exame psíquico e avaliação das 
condições emocionais, como memória, 
inteligência, consciência, 
comportamento. 
Antecedentes pessoais 
Considera-se avaliação do estado de 
saúde passado e presente do paciente, 
conhecendo fatores pessoais e 
familiares que influenciam seu processo 
saúde-doença. 
Em crianças e indivíduos de baixa idade, 
a análise dos antecedentes pessoais 
costuma ser feita com mais facilidade do 
que em outras faixas etárias. Às vezes, 
uma hipótese diagnóstica leva o 
examinador a uma indagação mais 
minuciosa de algum aspecto da vida 
pregressa. Por exemplo: ao encontrar-
se uma cardiopatia congênita, 
investiga-se é possível ocorrência de 
rubéola na mãe durante o primeiro 
trimestre da gravidez. O interesse dessa 
indagação é por saber-se que essa 
virose costuma causar defeitos 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
congênitos em elevada proporção dos 
casos. 
Os passos a serem seguidos abrangem 
os antecedentes fisiológicos e 
antecedentes patológicos. 
✓ Antecedentes pessoais 
fisiológicos: 
A avaliação dos antecedentes pessoais 
fisiológicos inclui os seguintes itens: 
Gestação e nascimento: como decorreu 
a gravidez, usode medicamentos ou 
radiações sofridas pela genitora, viroses 
contraídas durante a gestação, 
condições de parto, estado da criança ao 
nascer, ordem de nascimento, número 
de irmãos. 
Desenvolvimento psicomotor e neural: 
dentição, engatinhar e andar, fala, 
desenvolvimento físico, controle dos 
esfíncteres, aproveitamento escolar. 
Desenvolvimento sexual: puberdade, 
menarca, sexarca, menopausa, 
orientação sexual. 
✓ Antecedentes pessoais 
patológicos: 
A avaliação dos antecedentes pessoais 
patológicos compreende os seguintes 
itens: 
Doenças sofridas pelo paciente: infância 
(sarampo, varicela, caxumba), vida 
adulta (pneumonia, hepatite, malária). 
Alergia: alimentos, medicamentos e 
outras substâncias (eczemas, urticária, 
asma). 
Cirurgias e outras intervenções: data, 
tipo de cirurgia, diagnóstico. 
Traumatismo: detalhes do acidente. 
Transfusão sanguínea: número de 
transfusões, quando ocorreu, onde e 
por quê. 
História obstétrica: número de 
gestações, número de partos, número 
de abortos, número de prematuros, 
número de cesarianas. Caso o paciente 
seja do sexo masculino, indaga-se o 
número de filhos, enfatizando-se a 
importância da maternidade. 
Vacinas: quais, época da aplicação. 
Medicamentos em uso: qual, posologia, 
motivo, quem prescreveu. 
Antecedentes familiares 
Os antecedentes começam com a 
menção ao estado de saúde (quando 
vivos) dos pais e irmãos do paciente. Se 
for casado, inclui-se o cônjuge e, se 
tiver filhos, estes são referidos. Não se 
esquecer dos avós, tios e primos 
paternos e maternos do paciente. Se 
tiver algum doente na família, esclarecer 
a natureza da enfermidade. 
Em caso de falecimento, indagar a causa 
do óbito e a idade em que ocorreu. 
Pergunta-se sistematicamente sobre a 
existência de enxaqueca, diabetes, 
tuberculose, hipertensão arterial, 
câncer, doenças alérgicas, doença 
arterial coronária, acidente vascular 
cerebral, dislipidemias, úlcera péptica, 
colelitíase e varizes, que são as doenças 
com caráter familiar mais comuns. 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
Quando o paciente é portador de uma 
doença de caráter hereditário (hemofilia, 
anemia falciforme, erros metabólicos), 
torna-se imprescindível um 
levantamento genealógico mais 
rigoroso, e, nesse caso, recorre-se às 
técnicas de investigação genética. 
Hábitos e estilo de vida 
Este item, muito amplo e heterogêneo, 
documenta hábitos e estilo de vida do 
paciente e está desdobrado nos 
seguintes tópicos: 
✓ Alimentação: 
Toma-se como referência o que seria 
alimentação adequada para aquela 
pessoa em função da idade, do sexo e 
do trabalho desempenhado. Induz-se o 
paciente a discriminar sua alimentação 
habitual, especificando o tipo e a 
quantidade dos alimentos ingeridos. 
Devemos questionar principalmente 
sobre o consumo de alimentos à base de 
carboidratos, proteínas, gorduras, 
fibras, bem como de água e outros 
líquidos. 
Assim procedendo, o examinador 
poderá fazer uma avaliação quantitativa 
e qualitativa, ambas com interesse 
médico. 
✓ Ocupação atual e ocupações 
anteriores: 
Na identificação do paciente, deve-se 
abordar esse aspecto. Naquela ocasião, 
foi feito o registro puro e simples da 
profissão. Aqui pretende-se ir mais 
adiante, obtendo informações sobre a 
natureza do trabalho desempenhado, 
com que substâncias entra em contato, 
quais as características do meio 
ambiente e qual o grau de ajustamento 
ao trabalho. 
Desse modo, vê-se que os portadores 
de asma brônquica terão sua doença 
agravada se trabalharem em ambiente 
enfumaçado, empoeirado ou se tiverem 
de manipular inseticidas, pelos de 
animais, penas de aves, plumas de 
algodão ou de lã, livros velhos e outros 
materiais reconhecidamente capazes de 
agir como antígenos ou irritante das vias 
respiratórias. 
✓ Atividades físicas: 
Devemos questionar qual o tipo de 
exercício físico o paciente realiza 
(natação, futebol, caminhada, etc), 
frequência (diariamente, 3 vezes por 
semana, etc), duração (por 30 minutos, 
por uma hora) e tempo que pratica (há 1 
ano, há 3 meses). 
Uma classificação prática é a que se 
designa: pessoas sedentárias; pessoas 
que exercem atividades físicas 
moderadas; pessoas que exercem 
atividades físicas intensas e constantes; 
pessoas que exercem atividades físicas 
ocasionais. 
✓ Hábitos: 
Alguns hábitos são ocultados pelos 
pacientes e até pelos próprios 
familiares. A investigação deste item 
exige habilidade, discrição e 
perspicácia. Uma afirmativa ou uma 
negativa sem explicações por parte do 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
paciente não significa necessariamente 
a verdade. Deve-se investigar 
sistematicamente o uso de tabaco, 
bebidas alcoólicas, anabolizantes, 
anfetaminas e drogas ilícitas. 
✓ Consumo de tabaco: 
O consumo de tabaco, socialmente 
aceito, não costuma ser negado pelos 
pacientes, exceto quando tenha sido 
proibido de fumar. Os efeitos nocivos do 
tabaco são indiscutíveis: câncer de boca, 
faringe, laringe, pulmão e bexiga, 
afecções broncopulmonares, afecções 
cardiovasculares, disfunções sexuais 
masculinas, baixo peso fetal, 
intoxicação do recém-nascido em 
aleitamento materno, entre outros. 
Diante disso, nenhuma anamnese está 
completa se não se investigar esse 
hábito, registrando-se tipo (cigarro, 
cachimbo, charuto, cigarro de palha), 
quantidade, frequência, duração do 
vício e abstinência (já tentou parar de 
fumar). 
✓ Consumo de bebidas 
alcoólicas: 
A ingestão de bebidas alcoólicas 
também é socialmente aceita, mas 
muitas vezes é omitida ou minimizada 
por parte dos pacientes. Que o álcool 
tem efeitos graves sobre o fígado, 
cérebro, nervos, pâncreas e coração não 
se discute. O próprio etilismo, em si, 
uma doença de fundo psicossocial, deve 
ser colocado entre as enfermidades 
importantes e mais difundidas 
atualmente. 
Não se deve deixar de perguntar sobre o 
tipo de bebida (cerveja, vinho, licor, 
vodca, whisky, cachaça, etc), a 
quantidade habitualmente ingerida, a 
frequência, a duração do vício e 
abstinência (se já tentou parar de 
beber). 
Para facilitar a avaliação do hábito de 
consumir bebidas alcoólicas e/ou do 
grau de dependência do paciente ao 
consumo de álcool, pode-se fazer uso 
da sistematização: pessoas abstêmias, 
ou seja, não consomem definitivamente 
nenhum tipo de bebida alcoólica; 
consumo ocasional, em quantidades 
moderadas; consumo ocasional, em 
grande quantidade, chegando a estado 
de embriaguez; consumo frequente em 
quantidade moderada; consumo diário 
em pequena quantidade; consumo 
diário em quantidade para determinar a 
embriaguez; consumo diário em 
quantidade exagerada, chegando o 
paciente a avançado estado de 
embriaguez. 
✓ Uso de anabolizantes e 
anfetaminas: 
Uso de anabolizantes por jovens 
frequentadores de academia de 
ginástica tornou-se hoje uma 
preocupação, pois tais substâncias 
levam à dependência e estão 
correlacionadas com doenças cardíacas, 
renais, hepáticas, endócrinas e 
neurológicas. A utilização de 
anfetaminas, de maneira 
indiscriminada, leva à dependência 
química e, comparadamente, causa 
prejuízos à saúde. Alguns sedativos 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
(barbitúricos, morfina, 
benzodiazepínicos) também causam 
dependência química e devem ser 
sempre investigados. 
✓ Consumo de drogas ilícitas: 
As drogas ilícitas incluem maconha, 
cocaína, heroína, ecstasy, LCD, crack, 
chá de cogumelo, inalantes (cola de 
sapateiro, lança-perfume). O uso dessas 
substâncias ocorre em escala crescente 
em todos os grupos socioeconômicos, 
principalmente entre adolescentes. O 
hábito de frequentar festas rave pode 
estar associado ao uso abusivo de 
drogas ilícitas. Não deixar de questionar 
sobre o tipo de droga, quantidade 
habitualmenteingerida, frequência, 
duração do vicio e abstinência. 
A investigação clínica de um paciente 
que usa drogas ilícitas não é fácil. Há 
necessidade de tato e perspicácia, e o 
profissional deve integrar informações 
provenientes de todas as fontes 
disponíveis, principalmente de 
familiares. 
Condições socioeconômicas e 
culturais 
As condições socioeconômicas e 
culturais avaliam a situação financeira, 
vínculos afetivos familiares, filiação 
religiosa e crenças espirituais do 
paciente, bem como condições de 
moradia e grau de escolaridade. 
✓ Habitação: 
Na zona rural, pela sua precariedade, as 
casas comportam-se como abrigos 
ideais para numerosos reservatórios e 
transmissores de doenças infecciosas e 
parasitárias. Como exemplo, pode-se 
citar a doença de Chagas. Os 
triatomíneos (barbeiros) encontram na 
“cafua” ou “casa de pau a pique” seu 
habitat ideal, o que faz dessa parasitose 
importante endemia de várias regiões 
brasileiras. 
Na zona urbana, a diversidade de 
habitação é um fator importante. Por 
outro lado, as favelas e áreas de invasão 
propiciam o surgimento de doenças 
infectoparasitárias devido à ausência de 
saneamento básico, proximidade de rios 
poluídos, ineficácia na coleta de lixo e 
confinamento de várias pessoas em 
pequenos cômodos habitacionais. Por 
outro lado, casas ou apartamentos de 
alto luxo podem manter, por exemplo, 
em suas piscinas e jardins, criadouros 
do mosquito Aedes aegypti, dificultando 
o controle da dengue. 
Neste item, é importante questionar 
sobre as condições de moradia: se mora 
em casa ou apartamento; se a casa é 
feita de alvenaria ou não; qual a 
quantidade de cômodos; se conta com 
saneamento básico (água tratada e rede 
de esgoto), com coleta regular de lixo; 
se abriga animais domésticos, entre 
outros. Indaga-se também sobre o 
contato com pessoas ou animais 
doentes. 
A poluição do ar, a poluição sonora e 
visual, os desmatamentos e as 
queimadas, as alterações climáticas, as 
inundações, os temporais e os 
terremotos, todos são fatores relevantes 
Semiologia 
Como fazer a anamnese perfeita 
(parte 2) 
Juliana Simão 
na análise da habitação, podendo 
propiciar o surgimento de várias 
doenças. 
✓ Condições socioeconômicas: 
Os primeiros elementos estão contidos 
na própria identificação do paciente, 
outros são coletados no decorrer da 
anamnese. Se houver necessidade de 
mais informações, indagar sobre 
rendimento mensal, situação 
profissional, se há dependência 
econômica de parentes ou instituição. 
Todo profissional precisa conhecer as 
possibilidades econômicas de seu 
paciente, principalmente sua capacidade 
financeira para comprar medicamentos. 
É obrigação do profissional 
compatibilizar sua prescrição aos 
rendimentos do paciente. A maior parte 
das doenças crônicas exige uso 
contínuo de um ou mais medicamentos. 
No Brasil, atualmente, há distribuição 
gratuita de medicamentos para 
pacientes crônicos e cabe ao 
profissional de saúde conhecer a lista 
desses remédios para prescrevê-los 
quando for necessário. Uma das mais 
frequentes causas de abandono do 
tratamento é a incapacidade de adquirir 
remédios ou alimentos especiais. 
✓ Condições culturais: 
É importante destacar que as condições 
culturais não se restringem ao grau de 
escolaridade, mas abrangem a 
religiosidade, as tradições, as crenças, 
os mitos, a medicina popular, os 
comportamentos e hábitos alimentares. 
Tais condições culturais devem ser 
respeitadas em seu contexto. Quanto à 
escolaridade, é importante saber se o 
paciente é analfabeto ou alfabetizado. 
Vale ressaltar se o paciente completou o 
ensino fundamental, ensino médio ou se 
tem nível superior (graduação e pós-
graduação). Tais informações são 
fundamentais na compreensão do 
processo saúde-doença. Partir de algo 
simples, como o grau de escolaridade 
(alfabetizado ou não), é a maneira mais 
prática de abordar esse aspecto da 
anamnese. Todavia, é o conjunto de 
dados de dados vistos e ouvidos que 
permitirá uma avaliação mais 
abrangente. 
✓ Vida conjugal e 
relacionamento familiar: 
Investiga-se o relacionamento entre 
pais e filhos, entre irmãos e entre 
cônjuges. 
Esse tópico é onde a dificuldade atinge 
o seu máximo, pois os pacientes adotam 
uma maior reserva a respeito de sua vida 
íntima e de suas relações familiares. Por 
isso, deve-se reconhecer esse 
obstáculo, preparando-se intelectual e 
psicologicamente, para, em época 
oportuna e nos momentos exatos, levar 
a anamnese até os mais recônditos e 
bem guardados escaninhos da vida 
pessoal e familiar do paciente.

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