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APOSTILA-COMPLETA-MULTICULTURALISMO-E-DIREITOS-HUMANOS - FAVENI

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTICULTURALISMO E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 GLOBALIZAÇÃO E SOCIEDADES MULTICULTURAIS ............................ 4 
2 CENÁRIO PÓS-COLONIAL ........................................................................ 5 
3 CONCEITOS DE CULTURA, IDENTIDADE E DIFERENÇA ...................... 8 
4 IDENTIDADE CULTURAL ........................................................................ 10 
5 IGUALDADE E DIFERENÇA .................................................................... 12 
6 UNIVERSALISMO E RELATIVISMO ........................................................ 14 
7 QUESTÕES E TENSÕES NO COTIDIANO: GÊNERO, RAÇA, 
ORIENTAÇÃO SEXUAL E RELIGIÃO ...................................................................... 17 
8 ETNOCENTRISMO, ESTEREÓTIPO E PRECONCEITO ......................... 20 
9 DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E DEMOCRACIA ............................ 29 
10 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO 
COM O ESPAÇO ESCOLAR .................................................................................... 33 
11 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS 
HUMANOS (PNEDH) ................................................................................................ 37 
12 OS DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA ............................................ 40 
12.1 Antiguidade ..................................................................................................... 40 
12.2 Conquista da Babilônia ................................................................................... 41 
12.3 O Império Romano ......................................................................................... 42 
13 IDADE MÉDIA ....................................................................................... 44 
13.1 Contexto histórico ........................................................................................... 44 
13.2 A Justiça na Idade Média ................................................................................ 44 
14 IDADE MODERNA ................................................................................ 46 
14.1 Revolução Gloriosa e a Petition of Rights ....................................................... 47 
14.2 Declaração dos Povos da Virgínea ................................................................. 48 
14.3 Declaração de Independência dos EUA ......................................................... 48 
14.4 Revolução Francesa ....................................................................................... 49 
15 IDADE CONTEMPORÂNEA .................................................................. 50 
15.1 Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar ......................... 51 
15.2 Liga das Nações e a Criação da ONU ............................................................ 52 
 
3 
 
16 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO E SUA RELAÇÃO
 52 
16.1 A Declaração Universal dos Direitos Humanos .............................................. 52 
16.2 Preâmbulo ...................................................................................................... 53 
17 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO E SUA RELAÇÃO
 60 
17.1 Carta da ONU ................................................................................................. 60 
17.2 Guia prático ‘Campo de ação da sociedade civil e o Sistema dos Direitos 
Humanos das Nações Unidas. .................................................................................. 61 
17.3 Guia de orientação das Nações Unidas no Brasil para denúncias de 
discriminação étnico-racial ........................................................................................ 61 
17.4 Mapa do Encarceramento – Os jovens do Brasil ............................................ 61 
17.5 Relatório do Subcomitê de Prevenção da Tortura (SPT) sobre o Brasil (2012)
 62 
17.6 Declaração de Durban (2001) ......................................................................... 62 
17.7 A organização das Nações Unidas (ONU) ...................................................... 62 
17.8 Quais os princípios da ONU? ......................................................................... 62 
17.9 Por que a ONU foi criada? .............................................................................. 64 
17.10 Como é a estrutura da ONU ........................................................................... 64 
17.11 Onde a ONU está sediada .............................................................................. 65 
17.12 Como são as reuniões da ONU? .................................................................... 65 
17.13 A Assembleia-Geral da ONU .......................................................................... 65 
17.14 O Conselho de Segurança da ONU ................................................................ 66 
17.15 Conselho Econômico E Social ........................................................................ 68 
17.16 Conselho De Tutela ........................................................................................ 68 
17.17 Corte Internacional De Justiça ........................................................................ 69 
17.18 Secretariado ................................................................................................... 70 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 71 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................................. 71 
 
 
 
4 
 
 
1 GLOBALIZAÇÃO E SOCIEDADES MULTICULTURAIS 
O multiculturalismo é conhecido como um fenômeno que estabelece a 
coexistência de várias culturas em um mesmo espaço territorial e nacional. Ele é muito 
comum em nossa época, pois graças aos importantes avanços tecnológicos, ao 
desenvolvimento das comunicações e da interligação de diferentes partes do mundo, 
todas as sociedades podem receber informação sobre outras. Ao mesmo tempo, o 
crescimento das migrações e a travessia legal das fronteiras colaboram com a mistura 
de culturas e sociedades. 
As relações entre esses ‘’grupos’’ podem ser aceitação e tolerância ou de 
conflito e rejeição. Isso vai depender da história da sociedade em questão, das 
políticas públicas propostas pelo Estado e, principalmente, do modo específico como 
a cultura dominante do território é imposta ou se impõem para todas as outras. A 
convivência entre culturas diferentes não é uma questão nova, mas que se se 
intensificou nos últimos anos devido a acontecimentos marcantes. 
Não é possível entender o multiculturalismo fora do contexto do fenômeno da 
globalização. O desenvolvimento acelerado dos meios de transporte e das tecnologias 
de comunicação aproximaram diferentes regiões do mundo, criando redes industriais 
e financeiras complexas e uma economia multinacional, interdependente e insubmissa 
às fronteiras nacionais. Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos passam a 
hegemonizar culturalmente todo o planeta. Seus produtos, filmes, músicas e formas 
de ver as coisas se espalham globalmente gerando o que se chama de 
“americanização” do mundo. 
 
 
5 
 
 
Fonte: diegobrandao.jusbrasil 
Frente a esse fenômeno de hegemonização dos padrões culturais globais, as 
culturas tradicionais se fortaleceram, reagindo contra a massificação dos modos de 
ser. Por outro lado, apesar da massificação, vemos que essas comunidades culturais 
locais são capazes de se apropriar de partes da cultura americana, transformando-as 
em uma algo novo e diferente do original. No Brasil, o funk e rap são um exemplo claro 
dessa possibilidade. 
Outros processos importantes que influenciam no surgimento das sociedades 
multiculturais, são as lutas pela independência que ocorrem nas colônias europeias 
da segunda metade do século XX, especialmentena África e na Ásia. 
2 CENÁRIO PÓS-COLONIAL 
O cenário pós-colonial gera um processo de resgate das culturas tradicionais 
locais e, ao mesmo tempo, pela ligação histórica, desencadeia um movimento 
migratório para os países colonizadores. Também os conflitos de ordem étnica, 
religiosa e política, além das deficiências econômicas, são fatores que aumentam o 
fluxo migratório. Incentivado por tudo isso e pelo próprio cenário criado pela 
globalização, esse movimento migratório transforma de modo profundo as nações que 
receberam os imigrantes, colocando em cheque a capacidade dos estados modernos 
de gerirem sua nova configuração multicultural. 
Alguns países democráticos têm buscado promover a aceitação e incorporação 
de culturas diferentes em seus territórios, valorizando a possibilidade de se 
constituírem enquanto nações pluriétnicas. No entanto, em outros países, a negação 
 
6 
 
de direitos sociais e a perseguição de minorias culturais são práticas oficiais. Muitas 
vezes, ainda que exista uma política multiculturalista oficial, a perseguição é praticada 
por pessoas comuns, inflamadas por um sentimento de nacionalismo e rejeição ao 
outro. Os ataques violentos organizados por civis aos abrigos de refugiados de origem 
árabe na Alemanha são um exemplo disso. O multiculturalismo emerge a partir das 
reivindicações de minorias étnicas que sofrem de opressão histórica em seus 
territórios, como os negros e as populações indígenas por todo continente americano, 
incluindo o Brasil. O debate em torno desse tema é muito importante e traz à tona a 
forma como lidamos, enquanto sociedade, com as diferenças étnicas, culturais e 
religiosas que nos cercam. 
 De um modo genérico o multiculturalismo pode ser entendido como a gestão 
de um fenômeno social assentado na refração das culturas postas em maior contato 
a partir da segunda metade do século XX. O cerne político da questão está na luta por 
mais justiça social. O ponto de inflexão é posto na democracia. Portanto, uma luta por 
oportunidades, mais respeito à diferença e menos desigualdade. Enfim, é um 
fenômeno adensado pela conquista dos direitos civis. Como resultado prático buscam-
se melhorias em termos legais, econômicos, políticos sociais e culturais para as 
denominadas minorias. 
O multiculturalismo configura-se como política de gestão da multiculturalidade 
e/ou movimentos culturais demandados pela valorização da diferença como fator de 
expressão de identidade (s). Este, enquanto movimento de ideias, resulta de um tipo 
de consciência coletiva para a qual as orientações do agir humano se oporiam a toda 
forma de centrismos (SEMPRINI, 1999). Assim, esta política afronta as concepções 
monoculturais das sociedades etnocêntricas. 
Os Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Inglaterra, Espanha e 
outros mais são exemplos de países onde as sociedades passaram a assumir 
formalmente a multiculturalidade. Deste feito, tais países engendraram políticas 
públicas como formas de gestão da pluralidade cultural. A América Latina, e nesta o 
Brasil, também se pôs diante da necessidade de valorizar a diversidade cultural 
(UNESCO, 2002). Valorização esta, situada na legislação e na formatação de políticas 
públicas específicas. 
Coroando esta política pública encontram-se programas antirracistas. Um lado 
prático destes consiste em levar professores/as e alunos/as a intervir em casos de 
 
7 
 
“constrangimento racial e cultural”. A dimensão pedagógica do programa tem como 
finalidade a identificação das práticas racistas sistêmicas implicadas na definição de 
políticas e práticas de imigração, moradia, emprego e educação. 
No Brasil é disputado o reconhecimento da diferença através de políticas 
compensatórias (índios, negros, pessoas com necessidades especiais, mulheres, 
jovens, idosos, gays, etc.). Não obstante, este reconhecimento é marcado por 
contradições próprias da formação política e cultural expressa em desigualdades 
sociais. O Estado brasileiro assumiu a multiculturalidade como um condicionante da 
estruturação social. Por isso, pôs no corpo da Lei Maior (BRASIL, 1988) este feito 
cultural como marca da formação social do país. A Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional – LDBEN, Lei 9394/96, (BRASIL, 1996) trouxe uma concepção de 
educação para a diversidade cultural. Este processo de reforma estabeleceu as 
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1998). 
Em outros âmbitos legais foram implantadas políticas públicas na forma de 
ações afirmativas nas universidades. A Lei nº 12.711/2012 foi sancionada em agosto 
de 2012. Ela garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 
universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos 
oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação 
de jovens e adultos. O restante (50%) das vagas permanece no processo de seleção 
universal. A reforma universitária está atravessada por este eixo transversal. Neste 
processo reformista foi criada a Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdades 
Raciais – SEPPIR e A Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização, 
Diversidade e Inclusão – SECADI. Outras reformulações têm sido desenvolvidas para 
o fortalecimento de grupos sociais discriminados ou postos à margem da sociedade. 
São políticas encorajadoras das questões multiculturais. Estas, portanto, constroem-
se mediante desafios. Porque a expressão dessas desloca poderes. O que tenciona 
relações antes mantidas em uma aura de naturalização. 
 
 
8 
 
 
Fonte: cartacapital 
3 CONCEITOS DE CULTURA, IDENTIDADE E DIFERENÇA 
Nos últimos tempos a cultura tem sido o foco das discussões antropológicas 
devido ao estudo de sua evolução ser essencial à compreensão da diversidade 
cultural da espécie humana. Conforme Laraia (1996), o termo “cultura” foi definido 
pela primeira vez, no final do século XVIII, por Edward Tylor que através do termo 
germânico “Kultur”, que significava os aspectos espirituais de uma comunidade, com 
a palavra francesa “Civilization”, que significava as realizações materiais de um povo. 
Ao tratar do conceito de cultura, a sociologia se ocupa em entender os aspectos 
aprendidos que o ser humano, em contato social, adquire ao longo de sua convivência. 
Esses aspectos, compartilhados entre os indivíduos que fazem parte deste grupo de 
convívio específico, refletem especificamente a realidade social desses sujeitos. 
Características como a linguagem, modo de se vestir em ocasiões específicas são 
algumas características que podem ser determinadas por uma cultura que acaba por 
ter como função possibilitar a cooperação e a comunicação entre aqueles que dela 
fazem parte. 
A cultura possui tanto aspectos tangíveis - objetos ou símbolos que fazem parte 
do seu contexto, quanto intangíveis - ideias, normas que regulam o comportamento, 
formas de religiosidade. Esses aspectos constroem a realidade social dividida por 
aqueles que a integram, dando forma a relações e estabelecendo valores e normas. 
Esses valores são características que são consideradas desejáveis ou 
indesejáveis no comportamento dos indivíduos que fazem parte de uma cultura, como 
 
9 
 
por exemplo o princípio da honestidade que é visto como característica extremamente 
desejável em nossa sociedade. 
As normas são um conjunto de regras formadas a partir dos valores de uma 
cultura, que servem para regular o comportamento daqueles que dela fazem parte. O 
valor do princípio da honestidade faz com que a desonestidade seja condenada dentro 
dos limites convencionados pelos integrantes dessa cultura, compelindo os demais 
integrantes a agir dentro do que é estipulado como “honesto”. As normas e os valores 
possuem grandes variações nas diferentes culturas que observamos. Em algumas 
culturas, como no Japão, o valor da educação é tão forte que falhar em exames 
escolares é visto comouma vergonha tremenda para a família do estudante. Existe, 
então, a norma de que estudar e ter bom desempenho acadêmico é uma das mais 
importantes tarefas de um jovem japonês e a pressão social que esse valor exerce 
sobre ele é tão forte que há um grande número de suicídios relacionados a falhas 
escolares. Para nós, no entanto, a ideia do suicídio motivado por uma falha escolar 
parece ser loucura. 
Mesmo dentro de uma mesma sociedade podem existir divergências culturais. 
Alguns grupos, ou pessoas, podem ter fortes valores baseados em crenças religiosas, 
enquanto outras prefiram a lógica do progresso científico para compreender o mundo. 
A diversidade cultural é um fato em nossa realidade globalizada, onde o contato entre 
o que consideramos familiar e o que consideramos estranho é comum. Ideias 
diferentes, comportamento, contato com línguas estrangeiras ou com a culinária de 
outras culturas tornou-se tão corriqueiro em nosso dia a dia que mal paramos para 
pensar no impacto que sofremos diariamente, seja na adoção de expressões de 
línguas estrangeiras ou na incorporação de alimentos exóticos em nossa rotina 
alimentar. 
Uma cultura não é estática, ela está em constante mudança de acordo com os 
acontecimentos vividos por seus integrantes. Valores que possuíam força no passado 
se enfraquecem no novo contexto vivido pelas novas gerações, a depender das novas 
necessidades que surgem, já que o mundo social também não é estático. Movimentos 
contraculturas, como o punk ou o rock, são exemplos claros do processo de mudança 
de valores culturais que algumas sociedades viveram de forma generalizada. 
O contato com culturas diferentes também modifica alguns aspectos de nossa 
cultura. O processo de aculturação, onde uma cultura absorve ou adota certos 
 
10 
 
aspectos de outra a partir do seu convívio, é comum em nossa realidade globalizada, 
onde temos contato quase perpétuo com culturas de todas as formas e lugares 
possíveis. 
 
 
Fonte: portalmie 
 
 
4 IDENTIDADE CULTURAL 
 
A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos círculos teóricos das 
Ciências Sociais em face de sua complexidade. Entre as possíveis formas de 
entendimento da ideia de identidade cultural, existem duas concepções distintas que 
devemos destacar dentro dos estudos sociológicos mais recentes. Essas concepções 
de identidade são brevemente explicadas por Anthony Giddens, sociólogo britânico, e 
nos ajudarão a entender melhor esse conceito. 
O conceito de identidade refere-se a uma parte mais individual do sujeito social, 
mas que ainda assim é totalmente dependente do âmbito comum e da convivência 
social. De forma geral, entende-se por identidade aquilo que se relaciona com o 
conjunto de entendimentos que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo 
aquilo que lhe é significativo. Esse entendimento é construído a partir de determinadas 
fontes de significado que são construídas socialmente, como o gênero, nacionalidade 
ou classe social, e que passam a ser usadas pelos indivíduos como plataforma de 
construção de sua identidade. 
Dentro desse conceito de identidade, há duas distinções importantes que 
devemos entender antes de prosseguirmos. A teoria sociológica distingue duas 
apreensões: a identidade social e a autoidentidade. 
 
11 
 
A identidade social refere-se às características atribuídas a um indivíduo pelos 
outros, o que serve como uma espécie de categorização realizada pelos demais 
indivíduos para identificar o que uma pessoa em particular é, portanto, o título 
profissional de médico, por exemplo, quando atribuído a um sujeito, possui uma série 
de qualidades predefinidas no contexto social que são atribuídas aos indivíduos que 
exercem essa profissão. A partir disso, o sujeito posiciona-se e é posicionado em seu 
âmbito social em relação a outros indivíduos que partilham dos mesmos atributos. 
O conceito de autoidentidade (ou a identidade pessoal) refere-se à formulação 
de um sentido único que atribuímos a nós mesmos e à nossa relação individual que 
desenvolvemos com o restante do mundo. A escola teórica do “interacionismo 
simbólico” é o principal ponto de apoio para essa ideia, já que parte da noção de que 
é diante da interação entre o indivíduo e o mundo exterior que surge a formação de 
um sentido de “si mesmo”. Esse diálogo entre mundo interior do indivíduo e mundo 
exterior da sociedade molda a identidade do sujeito que se forma a partir de suas 
escolhas no decorrer de sua vida. 
Diante do que já foi esclarecido, que o conceito de identidade cultural faz alusão 
à construção identitária de cada indivíduo em seu contexto cultural. Em outras 
palavras, a identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o mundo 
exterior e como nos posicionamos em relação a ele. Esse processo é contínuo e 
perpétuo, o que significa que a identidade de um sujeito está sempre sujeita a 
mudanças. Nesse sentido, a identidade cultural preenche os espaços de mediação 
entre o mundo “interior” e o mundo “exterior”, entre o mundo pessoal e o mundo 
público. Nesse processo, ao mesmo tempo que projetamos nossas particularidades 
sobre o mundo exterior (ações individuais de vontade ou desejo particular), também 
internalizamos o mundo exterior (normas, valores, língua...). É nessa relação que 
construímos nossas identidades. 
Algumas pessoas consideram a globalização um perigo para a preservação da 
diversidade cultural, pois acreditam na perda de costumes tradicionais e típicos de 
cada sociedade, dando lugar às características globais e "impessoais". 
Com o intuito de tentar preservar a riqueza da diversidade cultural dos países, 
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) 
criou a "Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural". 
 
12 
 
A Declaração da UNESCO sobre Diversidade Cultural reconhece as múltiplas 
culturas como uma "herança comum da humanidade", e é considerada o primeiro 
instrumento que promove e protege a diversidade cultural e o diálogo intercultural 
entre as nações. 
 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
 
Já o Brasil, é um país incrivelmente rico em diversidade cultural, devido a sua 
extensão territorial e a pluralidade de colonizações e influências que sofreu ao longo 
do processo de construção da sociedade brasileira. As diferenças são bastante 
visíveis mesmo entre as diferentes regiões do país: norte, nordeste, centro-oeste, 
sudeste e sul. 
Nas regiões norte e nordeste, a predominância é das tradições indígenas e 
africanas, sincretizadas com os costumes dos povos europeus, que colonizaram o 
país. Na região centro-oeste, onde predomina o Pantanal, existe ainda uma grande 
presença da diversidade cultural indígena, com forte influência da culinária mineira e 
paulista. No sudeste e sul destacam-se costumes de origem europeia, com colônias 
portuguesas, germânicas, italianas e espanholas que, ainda hoje, mantêm a cultura 
típica de seus países de origem. 
5 IGUALDADE E DIFERENÇA 
Igualdade e diferença são temas velhos a despeito de sua permanência no 
debate atual. Esses temas estiveram enlaçados com os processos históricos 
emergentes e alcançaram várias formas de aparição histórico-discursiva que nem 
http://www.pt.slideshare.net/
 
13 
 
sempre combinavam a igualdade como oposto a uma desigualdade naturalizada, que 
demandava busca de soluções, exemplo disso era na Antiguidade Clássica, cuja 
igualdade não era universalizável aos “não cidadãos”, aos “bárbaros”, mas sim, 
apenas aos cidadãos. 
Os responsáveis pela dignidade do conceito de igualdade de forma mais 
universal foram as filosofias humanistas dos séculos XVI e XVII, a ética cristã, os 
Iluminismos do século XVIII e o marxismo do século XIX. Entretanto, a noção de 
igualdade persistente na cultura ocidental está indissociavelmente ligada ao 
Cristianismo, o qual enxerga cada homem individualmente, como uma pessoa 
singular, diferente, mas igualperante Deus e dotado da mesma origem. 
Assim, a noção de igualdade para o Cristianismo está intimamente ligada à 
noção de diferença: igualdade porque pela origem comum não há homem superior e 
nem inferior, e diferença porque na relação entre homem e Deus existe desigualdade 
entre criatura e Criador. E essa ideia de uma igualdade perante Deus foi ao longo do 
tempo sendo aperfeiçoada e codificada como igualdade perante a lei. 
Partindo desse suposto, o princípio de isonomia ou da igualdade, legalmente 
reconhecido e garantido pelos textos constitucionais dos países com regime político 
democrático, como é o caso do Brasil, afirma que todos são iguais, sem distinção de 
qualquer natureza, porém a estrutura concreta das sociedades, revela as diversidades 
de ordem cultural, social, de gênero, étnico-racial e as interferências dessas nas 
condições de vida e de história dessas sociedades e a necessidade da busca de uma 
igualdade material, substantiva, que perpassa pelo reconhecimento do direito a 
diferença. Em outras palavras, existem dois tipos de igualdade: a legal ou formal – 
àquela que está presente em dispositivos jurídicos; e a material – àquela que se 
consubstancia na vida cotidiana, garantindo que todos os sujeitos usufruam os 
mesmos direitos e oportunidades. 
Entretanto, o direito à igualdade material, real, só se legitima quando os direitos 
às diferenças são respeitados. Com efeito, nas sociedades pluriétnicas, a noção de 
neutralidade do Estado, nas esferas econômica e social, se traduz na crença de que 
a mera introdução de dispositivos legais é o suficiente para garantir a existência de 
uma sociedade harmônica, onde independentemente da diversidade, seria 
assegurado a todos a efetiva igualdade de acesso aos bens produzidos pela 
 
14 
 
humanidade, mas a discriminação se dá exatamente quando indivíduos são tratados 
iguais em situações diferentes, e quando diferentes, em situações iguais. 
Nesse contexto, a discussão de igualdade tem trazido à cena as várias 
coletividades, as diversas demandas específicas dos grupos excluídos histórica e 
culturalmente, como as mulheres, os índios, os negros, os homossexuais, os 
deficientes, etc., que lutam pelo direito às diferenças como pressuposto ao direito à 
igualdade, ou seja, uma discriminação positiva. 
6 UNIVERSALISMO E RELATIVISMO 
Com o processo de internacionalização dos direitos humanos, compreendido 
como um fenômeno do pós-guerra de 1945 em diante houve a necessidade premente 
de se formalizar, em diversas cartas, declarações e pactos internacionais, um rol 
mínimo de direitos, individuais e coletivos, que os Estados e as Organizações 
Internacionais se comprometem a respeitar, manter e promover. 
O objetivo era fomentar o reconhecimento e a valorização da dignidade da 
pessoa humana, independentemente, das diversidades culturais e do regime jurídico 
adotado por cada Estado. 
 
Nesse ínterim, foi idealizado um complexo sistema de proteção dos direitos 
humanos, o qual, num contexto global é exercido pela ONU, e, nas perspectivas 
regionais, pelas organizações internacionais. Destacam-se os sistemas: europeu, 
africano, asiático e interamericano. Acredita-se que parte das monstruosas violações 
aos direitos humanos da era Hitler poderiam ter sido evitadas, caso tais sistemas 
existissem. 
Pela adoção do novo paradigma, o qual situa a tutela dos direitos humanos 
como tema de legítimo interesse internacional, foi necessário restringir o conceito de 
soberania estatal, a qual se caracterizava, até então, por sua natureza ilimitada. 
Assim, a proteção dos direitos humanos não deve mais, reduzir-se ao âmbito interno 
de cada Estado, visto que a violação dos direitos humanos não é um problema 
doméstico, mas sim, uma questão que afeta toda a comunidade internacional. 
A concepção universalista, notadamente demarcada a partir da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos de 1948, oferece como contra-argumentos à crítica 
relativista, os seguintes: 
 
15 
 
a) No que concerne ao argumento filosófico, os universalistas refutam as visões 
antropocêntricas e cosmoteleológicas, afirmando que os direitos expressos nas 
declarações de direitos humanos não têm o condão de abranger todas as nuanças da 
vida em sociedade. 
Ainda nesse sentido, os universalistas argumentam que é possível identificar 
traços comuns em qualquer sociedade, como, por exemplo, a valorização da 
dignidade da pessoa humana e a proteção contra opressão ou arbítrio. Nessa esteira, 
afirma-se a ideia de um núcleo mínimo de direitos os quais merecem a salvaguarda 
em nível global. 
b) Contra a crítica da imposição da cultura ocidental aos demais povos, como 
expressão imperialista, os universalistas reagem à postura relativista afirmando que 
vários Estados promovem graves e generalizadas violações aos direitos humanos, 
sob a justificativa da manutenção da identidade cultural. O discurso relativista, nesses 
termos, estaria impregnado de conveniência e segundas intenções, haja vista valer-
se como ideologia para oprimir as populações subjugadas por essas práticas vis e 
inexpugnáveis, e, ao mesmo tempo, para impedir a interferência da sociedade 
internacional na seara dos direitos humanos. 
Para reforçar essa crítica, ainda, era imprescindível refutar o argumento da falta 
de representatividade dos Estados na adoção da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos de 1948, o que para os relativistas era um sinal da arrogância dos países 
ocidentais. Assim, em 1993, foi adotada a Declaração e Programa de Ação de Viena. 
Neste acordo internacional houve a tentativa, via normativa, de se afirmar a 
universalidade como característica intrínseca aos direitos humanos. Para tanto o 
fórum de Viena contou com a participação de 171 Estados, os quais de forma livre e 
consensual acordaram que, resguardadas as particularidades culturais, os direitos 
humanos devem possuir um caráter protetivo de cunho universal, conforme dispõe o 
seguinte dispositivo: 
 
“Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e 
inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos 
humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a 
mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser 
levadas em consideração, assim como diversos contexto histórico, cultural e 
religioso, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos 
e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, 
econômicos e culturais”. 
 
 
16 
 
Desta forma, pode-se inferir que, se a Declaração de 1948 consagrou a 
perspectiva ocidental da definição dos direitos humanos, foi em Viena, em 1993, que 
se efetivou a tese da universalidade, haja vista os amplos debates que se travaram, 
em uma arena política mais numerosa e representativa das diversas perspectivas 
regionais e culturais, os quais repercutiram, inclusive, na modificação de algumas 
tradições ocidentais. 
c) No que concerne à crítica da supervalorização dos direitos humanos, na 
perspectiva individual, os universalistas explicam que, em face da fragilidade do 
indivíduo frente ao Estado, ao capital privado e, até mesmo, à comunidade, era 
necessário elencar um rol mínimo de direitos que resguardassem a dignidade 
humana, minimizando os aspectos negativos, inerentes a vulnerabilidade individual, 
em situações de opressão e desigualdade extrema. Soma-se a isso a inexistência de 
impedimentos normativos para assunção de deveres, isto é, os direitos consagrados 
nas declarações de direitos humanos podem ser implementados à luz dos deveres 
correlatos. Esta interpenetração, direitos-deveres, é salutar e deve ser fomentada para 
possibilitar uma aproximação entre as culturas, num contexto de aprendizado 
recíproco. 
d) Para refutar o argumento do direcionamento geopolítico dos direitos 
humanos, os universalistas reconhecem a existência desse tipo de práticainstrumentalização-interesse, entretanto acentuam que tal assertiva não é, de forma 
alguma, exclusiva da seara humanista. Em outros termos, essa censura pode ser 
estendida a qualquer tema do Direito Internacional, visto que, na Sociedade 
internacional a correlação de forças não é isonômica, tampouco homogênea, o que 
facilita a seletividade das normas internacionais de acordo com a influência política. 
Assim, a crítica deve recair não sobre o Direito Internacional dos Direitos 
Humanos, mas sim sobre as próprias características da sociedade internacional, cujos 
atores principais, Estados, são, ao mesmo tempo, produtores, destinatários e 
aplicadores da norma internacional, podendo então interpretá-la de modo unilateral 
para atingir seus fins”. 
Por derradeiro, rebate-se a crítica “desenvolvimentista” à perspectiva 
universalista dos direitos humanos, afirmando-se que a inexistência de recursos 
econômico-financeiros não deve servir de mote a permitir uma postergação ad 
infinitum do gozo destes direitos. Ademais é preciso lembrar que os direitos previstos 
 
17 
 
nas declarações de direitos humanos são denominados de mínimo ético irredutível ou 
mínimo existencial, ou seja, compõem o rol mínimo de direitos e garantias que devem 
ser asseguradas para possibilitar a existência de uma vida digna. 
 
 
Fonte: pulpitocristao 
 
Nesse sentido, vislumbra-se que as políticas de Estado devem ser orientadas, 
para a implementação fático-jurídica dos direitos humanos, os quais, em muitos casos, 
também são direitos fundamentais, por estarem também previstos nas diversas 
Constituições estatais. Além disso, é falacioso o argumento de que a existência de 
riquezas fomenta a implementação dos Direitos Humanos, em especial, os 
econômicos, sociais e culturais. A realidade dos Estados é demarcada por grandes 
desigualdades econômicas internas, as quais alijam a grande população do acesso a 
tais direitos, mantendo o status quo de seletas elites locais. 
7 QUESTÕES E TENSÕES NO COTIDIANO: GÊNERO, RAÇA, ORIENTAÇÃO 
SEXUAL E RELIGIÃO 
Nos diversos contextos culturais existem fronteiras simbólicas que delimitam, 
de forma semipermeável, as diferenças entre os indivíduos e grupos sociais. Quando 
tais fronteiras se tornam rígidas, não permeáveis, e passam a qualificar alguns grupos 
a partir da desqualificação constante e difusa de outros grupos, percebemos o 
preconceito em ação, ou seja, a discriminação. Quando estas fronteiras rígidas são 
alvos de transgressão, percebemos a violência e a intolerância, subjacentes às 
práticas discriminatórias, em relação aos supostos 'transgressores'. Para a 
 
18 
 
manutenção das desigualdades sociais é fundamental que tais fronteiras sejam 
respeitadas, não importando o preço pago em termos de sofrimento psíquico. Afinal, 
sentir-se inferiorizado ou desqualificado por defeitos pressupostos não é, certamente, 
uma experiência agradável. 
Apesar dessa fragmentação, gênero, raça, etnia, religião e sexualidade estão 
intimamente imbricados na vida social e na história das sociedades ocidentais e, 
portanto, necessitam de uma abordagem conjunta. Para trabalhar estes temas de 
forma transversal, é fundamental manter uma perspectiva não essencialista em 
relação às diferenças. A adoção dessa perspectiva justifica-se eticamente, uma vez 
que o processo de naturalização das diferenças étnico-raciais, de gênero ou de 
orientação sexual, que marcou os séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição do acesso 
à cidadania a negros, indígenas, mulheres e homossexuais. 
Lembremos, por exemplo, que até o início do século XX uma das justificativas 
para a não extensão às mulheres do direito ao voto baseava-se na ideia de que elas 
possuíam um cérebro menor e menos desenvolvido que o dos homens. Este 
imperativo de encontrar no corpo as razões de tais diferenças, ou seja, de 
essencializá-las ou naturalizá-las, explica-se pela preponderância formal dos 
princípios políticos do Iluminismo, muito especialmente do princípio da igualdade. 
Depois da Revolução Francesa, nas democracias liberais modernas, apenas 
desigualdades naturais, inscritas nos corpos, podiam justificar o não acesso pleno à 
cidadania. 
Alguns autores vêm mostrando como discursos homofóbicos, misóginos ou 
sexistas e racistas estão profundamente articulados. Um dos exemplos mais 
interessantes diz respeito ao modo pelo qual, na Alemanha nazista, a ascensão do 
discurso racista afetou não apenas as mulheres judias ou ciganas, consideradas 
racialmente inferiores. Como se tratava de “proteger” a chamada raça ariana, 
considerada superior às demais, passou a ser atribuído às mulheres “arianas” o 
ambíguo estatuto de “mães da raça”. E para cumprir esse papel deveriam ficar fora 
do espaço público, permanecendo em casa e ocupando-se apenas da tarefa de criar 
filhos “racialmente puros”. Vê-se aqui como a adoção do racismo como política de 
Estado acabou implicando a reclusão das mulheres ao espaço doméstico. Vale 
lembrar que, ainda na Alemanha nazista, o racismo antissemita articulou-se também 
 
19 
 
à discriminação de homossexuais. Vistos, como os judeus, como ameaças à raça 
ariana, acabaram igualmente sendo enviados a campos de concentração. 
Além de relações históricas, há em situações bem cotidianas uma espécie de 
sinergia entre atitudes e discursos racistas, sexistas e homofóbicos. Um exemplo 
talvez banal: se um adolescente ou aluno manifesta qualquer sinal de 
homossexualidade, logo aparece alguém o chamando de “mulherzinha” ou 
“mariquinha”. O que poucos se perguntam é por que ser chamado de mulher pode ser 
ofensivo. Em que sentido ser feminino é mau? Aqui pode ser visto o modo como a 
misoginia e a homofobia se misturam e se reforçam. A discriminação em relação às 
mulheres ou ao feminino articula-se à discriminação dos sexualmente diferentes, 
daqueles que são sexualmente atraídos por pessoas do mesmo sexo. 
O sofrimento que emerge dessa situação para adolescentes de ambos os 
sexos talvez só possa ser realmente avaliado por aqueles que foram submetidos/as a 
tais processos de estigmatização e marginalização. Além disso, frequentemente o 
discurso racista utiliza características atribuídas às mulheres para inferiorizar 
negros/as, indígenas ou outros grupos considerados inferiores: “São mais 
impressionáveis, mais imprevidentes, mais descontrolados, mais impulsivos” etc. e, 
como as mulheres, estariam mais próximos da natureza, devendo ser tutelados, ou 
seja, tratados como crianças, incapazes de exercer plenamente seus direitos políticos. 
Assim, diferentes desigualdades se sobrepõem e se reforçam. Faz todo o 
sentido, portanto, discuti-las em conjunto, pois aquele que é considerado como 
cidadão, o sujeito político por excelência, é homem, branco e heterossexual. Em torno 
dele constrói-se todo um universo de diferenças desvalorizadas, de “subcidadãos e 
subcidadãs”. 
Precisamos, portanto, ir além da promoção de uma atitude apenas tolerante 
para com a diferença, o que em si já é uma grande tarefa, sem dúvida. Afinal, as 
sociedades fazem parte do fluxo mais geral da vida e a vida só persevera, só se 
renova, só resiste às forças que podem destruí-la através da produção contínua e 
incansável de diferenças, de infinitas variações. As sociedades também estão em 
fluxo contínuo, produzindo a cada geração novas ideias, novos estilos, novas 
identidades, novos valores e novas práticas sociais. 
Não precisamos recuar tanto no tempo para encontrar diferentes formas de 
organização social e manifestações culturais: nossos antepassados agiam e 
 
20 
 
pensavam de forma muito diversa da nossa. Num passado não muito distante, a 
situação da mulher no Brasil, por exemplo, era bastante distinta da atual. Os costumes 
de muitas famílias da nossa oligarquia rural exigiam que os pais escolhessem aquele 
que desposaria sua filha. Uma série de fatores influía na decisão dos pais e mães: 
desde aliançasantigas entre as famílias, obrigações recíprocas, promessas feitas, às 
vezes, antes do nascimento dos filhos e filhas, até mesmo questões como o dote e os 
interesses econômicos, contando muito pouco o desejo dos filhos e das filhas. Hoje 
as coisas são bem diferentes e, embora uma série de elementos de diversas ordens 
interfira na escolha do parceiro(a), o desejo individual é representado pela coletividade 
como decisivo. 
A diversidade das manifestações culturais se estende não só no tempo, mas 
também no espaço. Se dirigirmos o olhar para os diferentes continentes, 
encontraremos costumes que nos parecerão, à luz dos nossos, curiosos ou 
aberrantes. Do mesmo modo que os povos falam diferentes línguas, eles expressam 
das formas mais variadas os seus valores culturais. O nascimento de uma criança 
será festejado de forma variada se estivermos em São Paulo, na Guiné-Bissau ou no 
norte da Suécia: a um mesmo fato aparente – o nascimento – diferentes culturas 
atribuem significados distintos que são perceptíveis por meio de suas manifestações. 
8 ETNOCENTRISMO, ESTEREÓTIPO E PRECONCEITO 
Etnocentrismo, estereótipo, preconceito e discriminação são ideias e 
comportamentos que negam humanidade àqueles e àquelas que são suas vítimas. A 
situação tem melhorado graças à atuação dos movimentos sociais e de políticas 
públicas específicas. E você? Como pode contribuir para a mudança? 
A reação diante da alteridade faz parte da própria natureza das sociedades. Em 
diferentes épocas, sociedades particulares reagiram de formas específicas diante do 
contato com uma cultura diversa à sua. Um fenômeno, porém, caracteriza todas as 
sociedades humanas: o estranhamento diante de costumes de outros povos e a 
avaliação de formas de vida distintas a partir dos elementos da sua própria cultura. A 
este estranhamento chamamos etnocentrismo. 
Por exemplo, todas as culturas definem o que as pessoas devem levar como 
vestimenta e adorno. Muitas vezes, a cultura ocidental se negou a ver nas pinturas 
 
21 
 
corporais ou em diferentes adornos e adereços dos grupos indígenas sul-americanos 
os correspondentes às nossas roupas, e criou-se a ideia de que o “índio” andaria 
pelado, avaliando tal comportamento como “errado”. Recentemente, com a onda 
ecológica, o que no passado fora condenado, passou a ser valorizado, ou seja, a 
nudez de “índios e índias” os colocaria de forma mais salutar em maior contato com a 
natureza. Nada mais equivocado do que falar do “índio” de forma indiscriminada: o 
etnocentrismo não permite ver, por um lado, que o “índio” não existe como algo 
genérico, mas nas manifestações específicas de cada cultura – Bororo, Nhambiquara, 
Guarani, Cinta-Larga, Pataxó etc. – e por outro, que o “índio” nem anda “pelado” nem 
está mais próximo da natureza, pela simples ausência de vestimentas ocidentais. Os 
Zoé, índios Tupi do rio Cuminapanema (PA), por exemplo, utilizam botoques labiais; 
os homens, estojos penianos e as mulheres, tiaras e outros adornos sem os quais 
jamais apareceriam em público. São elementos que os diferenciam definitivamente 
dos animais e que marcam a sua vida em sociedade, da mesma forma que o uso de 
roupas na nossa cultura. 
Vê-se, com naturalidade, que mulheres, e atualmente também os homens, 
furem suas orelhas e usem brincos. Ninguém vê no ato de furar as orelhas um signo 
de barbárie e o uso de brincos é sinônimo de coqueteria para homens e mulheres. Há 
pouco tempo, homens que usassem brincos eram tidos como homossexuais ou 
afeminados. O uso de botoques labiais por diversos grupos indígenas do Brasil não 
foi, porém, incorporado da mesma forma. Os brincos que as indianas usam no nariz 
eram vistos com estranheza, pois o nariz não era considerado o lugar “certo” para 
colocar brincos, segundo o padrão de beleza ocidental predominante no país, até 
chegarem os piercings, cada vez mais adotados pelos jovens. 
O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como 
“certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal” os comportamentos e as 
formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando 
sua humanidade. Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o 
conceito de estereótipo, que consiste na generalização e atribuição de valor (na 
maioria das vezes negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a 
essas características e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma 
generalização de julgamentos subjetivos feitos em relação a um determinado grupo, 
impondo-lhes o lugar de inferior e o lugar de incapaz no caso dos estereótipos 
 
22 
 
negativos. No cotidiano, temos expressões que reforçam os estereótipos: “tudo farinha 
do mesmo saco”; “tal pai, tal filho”; “só podia ser mulher”; “nordestino é preguiçoso”; 
“serviço de negro”; e uma série de outras expressões e ditados populares específicos 
de cada região do país. 
Os estereótipos são uma maneira de “biologizar” as características de um 
grupo, isto é, considerá-las como fruto exclusivo da biologia, da anatomia. O processo 
de naturalização ou biologização das diferenças étnico-raciais, de gênero ou de 
orientação sexual, que marcou os séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da 
cidadania a negros, mulheres e homossexuais. 
Uma das justificativas até o início do século XX para a não extensão às 
mulheres do direito de voto baseava-se na ideia de que possuíam um cérebro menor 
e menos desenvolvido que o dos homens. A homossexualidade, por sua vez, era tida 
como uma espécie de anomalia da natureza. Nas democracias modernas, apenas 
desigualdades naturais podiam justificar o não acesso pleno à cidadania. 
No interior de nossa sociedade, encontramos uma série de atitudes 
etnocêntricas e biologicistas. Muitos acreditaram que havia várias raças e sub-raças, 
que determinariam, geneticamente, as capacidades das pessoas. Da mesma forma, 
pesquisas foram realizadas para provar que o cérebro das mulheres funcionava de 
modo diferente do cérebro dos homens. Esses temas serão aprofundados nos 
Módulos Relações de Gênero e Relações Étnico-Raciais. 
Encontramos um exemplo de intolerância religiosa na relação com o candomblé 
e outras religiões de matriz africana. O sacrifício animal no candomblé e em outras 
religiões afro-brasileiras tem sido considerado como sinônimo de barbárie pelos 
praticantes de outros credos: trata-se, contudo, simplesmente, de uma forma 
específica para que homens e mulheres entrem em contato com o divino, com os 
deuses, neste caso, os orixás, cada qual com a sua preferência, no que diz respeito 
ao sacrifício. Outras religiões pregam formas diversas de contato com o divino e 
condenam as práticas do candomblé como “erradas” e “bárbaras”, ou como “feitiçaria”, 
a partir de seus próprios preceitos religiosos. O preconceito de alguns seguimentos 
religiosos tem levado seus seguidores a atacar, com pedras e paus, terreiros e roças. 
O espiritismo kardecista, hoje praticado nas mais diferentes partes do Brasil, foi 
durante muito tempo perseguido por aqueles que, adotando um ponto de vista católico 
ou médico, afirmavam serem as práticas espíritas próprias de charlatães. Se boa parte 
 
23 
 
dos brasileiros se define como católica, a verdade é que somos um país cruzado por 
múltiplas crenças. Até mesmo no interior do próprio catolicismo há diferentes práticas 
religiosas: somos um país plural. A constituição garante a liberdade religiosa e de 
crença, e as instituições devem promover o respeito entre os praticantes de diferentes 
religiões, além de preservar o direito não adotam qualquer prática religiosa. No 
entanto, é bastante comum encontrarmos crianças e adolescentes que exibem com 
orgulho para seus/suas educadores/as os símbolos de sua primeira comunhão, 
enquanto famílias que cultuam religiões de matriz africana são pejorativamente 
chamadas de “macumbeiras”, sendo discriminadaspor suas identidades religiosas. 
O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao 
definir a priori quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se 
aproxima também do preconceito, que, como diz a palavra, é algo que vem antes (pré) 
do conhecimento (conceito), ou seja, antes de conhecer já defino “o lugar” daquela 
pessoa ou grupo. Um outro significado da palavra “conceito” é “juízo” e, assim sendo, 
preconceito seria um “prejuízo” para quem o sofre, mas também para quem o exerce, 
pois não entra em contato com o outro. 
O preconceito relativo às práticas religiosas afro-brasileiras está 
profundamente arraigado na sociedade brasileira por essas práticas estarem 
associadas a negros e negras, grupo historicamente estigmatizado e excluído. Os 
cultos afro-brasileiros seriam contrários ao “normal e natural” cristianismo europeu. 
Teremos um módulo dedicado ao estudo das relações étnico raciais e ao estudo 
histórico, cultural e pedagógico da presença dos negros no Brasil, assim como tratará 
das reivindicações e das conquistas dos movimentos negros. Para efeito desse 
exemplo, porém, vale lembrar que expressões culturais como o samba, a capoeira e 
o candomblé foram, durante décadas, proibidas e perseguidas pela polícia. Isso 
mostra que essas práticas foram incorporadas aos símbolos nacionais no interior de 
processos extremamente complexos. 
O caso mais evidente é o samba, que de “música de negros” passou a ser 
caracterizado como “música nacional”. As religiões afro-brasileiras, no entanto, ainda 
enfrentam um profundo preconceito por parte de amplos setores da sociedade: há 
quem considere o candomblé como uma “dança folclórica”, negando, como 
consequência, seu conteúdo religioso; há também quem o caracteriza como uma 
“prática atrasada”. Em ambos os casos, seu caráter religioso é negado e não é tomado 
 
24 
 
em pé de igualdade com outras práticas e crenças. Ora, tanto o candomblé quanto a 
umbanda são religiões extremamente complexas, de práticas e rituais sofisticados e 
fazem parte de um sistema místico que da mesma forma que a Bíblia, explica a origem 
da humanidade, suas relações com o mundo natural e com o mundo sobrenatural. Os 
grupos que compõem as religiões afro-brasileiras possuem o conhecimento de um 
código que se expressa por intermédio da religião, desconhecido por outros setores 
da população. Enquanto códigos e expressões culturais de determinados grupos, as 
diferentes religiões afro-brasileiras devem ser olhadas com respeito. 
 
 
Fonte: megaarquivo.files.wordpress 
Além das práticas religiosas, em nossa sociedade, existem práticas que sofrem 
um profundo preconceito por parte dos setores hegemônicos, ou seja, por parte 
daqueles que se aproximam do que é considerado “correto” segundo os que detêm 
poder. Seguindo essa lógica, as práticas homossexuais e homoafetivas, são 
condenadas, vistas como transtorno, perturbação, perversão ou desvio da “normal e 
natural” heterossexualidade. Aqueles e aquelas que manifestavam desejos diferentes 
dos comportamentos heterossexuais, além de condenados por várias religiões, foram 
enquadrados(as) no campo patológico e estudados(as) pela medicina psiquiátrica que 
buscava a cura para aquele mal. Foi necessária a contribuição de outros campos do 
conhecimento para romper com a ideia de “homossexualismo” como doença e 
construir os conceitos de homossexualidade e de orientação sexual, incluindo a 
sexualidade como constitutiva da identidade de todas as pessoas. 
O preconceito contra pessoas com orientação sexual diferenciada vem sendo 
fortemente combatido pelo Movimento LGBT. Consideradas, no passado, um pecado 
pela religião (e por muitos até hoje), uma doença pela medicina, um desvio de conduta 
 
25 
 
pela psicologia, as práticas homoeróticas, nas últimas décadas, têm contribuído para 
a superação do estigma que as reprova e persegue. Embora se trate de um grupo 
social ainda fortemente estigmatizado, é inegável que a atuação dos movimentos 
sociais tem provocado mudanças no imaginário e agregado conhecimentos sobre a 
homossexualidade, de maneira a tirá-la da “clandestinidade”. Há pouco mais de uma 
década, era impensável a “Parada do Orgulho Gay”, atualmente denominada Parada 
LGBT, por exemplo, que ocorre em boa parte das grandes cidades brasileiras. Cada 
vez mais vemos homossexuais ocupando a cena pública de diferentes formas. A atual 
luta pela parceria civil constitui uma das muitas bandeiras dos movimentos 
homossexuais com apoio de vários outros movimentos sociais. 
No conjunto das conquistas político-sociais da atuação do Movimento LGBT, 
se enquadra a sensibilização da população de modo geral para as formas de 
discriminação por orientação sexual, que tem levado estudantes a abandonarem a 
escola, por não suportarem o sofrimento causado pelas piadinhas e ameaças 
cotidianas dentro e fora dos muros escolares. Esses mesmos movimentos têm 
apontado a urgência de inclusão, no currículo escolar, da diversidade de orientação 
sexual, como forma de superação de preconceitos e enfrentamento da homofobia. 
Questões de gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual e sua 
combinação direcionam práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade 
contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no campo das ideias, a 
discriminação está no campo da ação, ou seja, é uma atitude. É a atitude de 
discriminar, de negar oportunidades, de negar acesso, de negar humanidade. Nessa 
perspectiva, a omissão e a invisibilidade também são consideradas atitudes, também 
se constituem em discriminação. 
O predomínio de livros didáticos e paradidáticos em que a figura da mulher é 
ausente ou caracterizada como menos qualificada que o homem contribui para uma 
imagem de inferioridade feminina, por um lado, e superioridade masculina, por outro. 
É o caso dos livros em que a mulher ocupa os lugares de menos prestígio, como, por 
exemplo, a organização e limpeza da casa, ou quando aparece como ajudante nas 
atividades masculinas, como enfermeiras e garçonetes. Silenciosamente, vão sendo 
demarcados, com uma linha nada imaginária, os lugares dos homens e os lugares 
das mulheres. E os homens e as mulheres que fugirem desse roteiro pré-definido terão 
seus valores humanos ameaçados ou violados. O grupo social, respaldado por um 
 
26 
 
conjunto de ideias machistas, exercerá seu controle e fortalecerá os mecanismos de 
exclusão e negação de oportunidades iguais. 
É importante destacar que há mudanças acontecendo. No que se refere às 
mulheres, por exemplo, historicamente em situação de desigualdade com relação aos 
homens, sua entrada progressiva no mercado de trabalho, seu acesso a ambientes 
antes considerados “masculinos” e, inclusive, a predominância feminina em 
determinadas profissões liberais se deram em meio a um processo de transformação 
pautado, entre outros fatores, pelas demandas dos movimentos feministas, muito 
vigorosos em todos os países ocidentais, nas últimas décadas. Esse processo veio 
acompanhado de uma profunda discussão sobre a construção das feminilidades e 
masculinidades nos diferentes processos de educação e pela organização política das 
mulheres na luta contra o preconceito e as discriminações e pela construção da 
igualdade. 
A superação das discriminações implica a elaboração de políticas públicas 
específicas e articuladas. Os exemplos relativos às mulheres, aos homossexuais 
masculinos e femininos, às populações negra e indígena tiveram a intenção não 
apenas de explicitar que as práticas preconceituosas e discriminatórias – misoginia, 
homofobia e racismo – existem no interior da nossa sociedade, mas também que 
essas mesmas práticas vêm sofrendo profundas transformações em função da 
atuação dos próprios movimentos sociais, feministas, LGBT, negros e indígenas. Tais 
movimentos têm evidenciado o quanto as discriminações se dão de formas 
combinadase sobrepostas, refletindo um modelo social e econômico que nega 
direitos e considera inferiores mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros, 
indígenas. A desnaturalização das desigualdades exige um olhar transdisciplinar, que, 
em vez de colocar cada seguimento numa caixinha isolada, convoca as diferentes 
ciências, disciplinas e saberes para compreender a correlação entre essas formas de 
discriminação e construir formas igualmente transdisciplinares de enfrentá-las e de 
promover a igualdade. 
 
 
27 
 
 
Fonte: pedrovallsfeurosa 
 
Daquilo que vimos refletindo até aqui, fica evidente que a escola é instituição-
parte da sociedade e por isso não poderia se isentar dos benefícios ou das mazelas 
produzidos por essa mesma sociedade. A escola é, portanto, influenciada pelos 
modos de pensar e de se relacionar da/na sociedade, ao mesmo tempo em que os 
influência, contribuindo para suas transformações. Ao identificarmos o cenário de 
discriminações e preconceitos, vemos no espaço da escola as possibilidades de 
particular contribuição para alteração desse processo. A escola, por seus propósitos, 
pela obrigatoriedade legal e por abrigar distintas diversidades (de origem, de gênero, 
sexual, étnico-racial, cultural etc.), torna-se responsável juntamente com estudantes, 
familiares, comunidade, organizações governamentais e não governamentais, por 
construir caminhos para a eliminação de preconceitos e de práticas discriminatórias. 
Educar para a valorização da diversidade não é, portanto, tarefa apenas daqueles que 
fazem parte do cotidiano da escola; é responsabilidade de toda a sociedade e do 
Estado. 
Compreendemos que não se faz uma educação de qualidade sem uma 
educação cidadã, uma educação que valorize a diversidade. Reconhecemos, porém, 
que a escola tem uma antiga trajetória normalizadora e homogeneizadora que precisa 
ser revista. O ideal de homogeneização levava a crer que os estudantes negros, 
indígenas, transexuais, lésbicas, meninos e meninas deveriam se adaptar às normas 
e à normalidade. Com a repetição de imagens, linguagens, contos e repressão aos 
comportamentos “anormais” (ser canhoto, por exemplo) se levariam os “desviantes” à 
integração ao grupo, passando da minimização à eliminação das diferenças (defeitos). 
E o que seria normal? Ser homem-macho? Ser mulher feminina? Ser negro quase 
 
28 
 
branco? Ser gay sem gestos “afetados”? Espera-se que o discriminado se esforce e 
adapte-se às regras para que ele, o diferente, seja tratado como “igual”. Nessa visão, 
“se o aluno for eliminando suas singularidades indesejáveis, será aceito em sua 
plenitude” (Castro, 2006). 
Essa concepção de educação justificou e justifica, ainda hoje, a fala de 
educadores e educadoras, os quais, ainda que reconheçam a existência de 
discriminações dentro e fora da escola, acreditam que é melhor “ficar em silêncio”. 
Falar do tema seria acordar preconceitos antes adormecidos, podendo provocar um 
efeito contrário: em vez de reduzir os preconceitos, aumentá-los. E, nos silêncios, no 
“currículo explícito e oculto”, vão se reproduzindo desigualdades. Quando a escola 
não oferece possibilidades concretas de legitimação das diversidades (nas falas, nos 
textos escolhidos, nas imagens veiculadas na escola etc.) o que resta aos alunos e 
alunas, senão a luta cotidiana para adaptar-se ao que esperam deles(as) ou 
conformar-se com o status de “desviante” ou reagir aos xingamentos e piadinhas e 
configurar entre os indisciplinados? E, por último, abandonar a escola. 
A diversidade está presente em cada entrelinha, em cada imagem, em cada 
dado, nas diferentes áreas do conhecimento, valorizando-a ou negando-a. É no 
ambiente escolar que as diversidades podem ser respeitadas ou negadas. É da 
relação entre educadores, entre estes e os educandos e entre os educandos que 
nascerá a aprendizagem da convivência e do respeito à diversidade. “A diversidade, 
devidamente reconhecida, é um recurso social dotado de alta potencialidade 
pedagógica e libertadora. A sua valorização é indispensável para o desenvolvimento 
e a inclusão de todos os indivíduos. 
Políticas socioeducacionais e práticas pedagógicas inclusivas, voltadas a 
garantir a permanência, a formação de qualidade, a igualdade de oportunidades e o 
reconhecimento das diversas orientações sexuais e identidades de gênero [e étnico-
raciais], contribuem para a melhoria do contexto educacional e apresentam um 
potencial transformador que ultrapassa os limites da escola, em favor da consolidação 
da democracia” (Texto-base da Conferência Nacional de LGBT – Direitos Humanos e 
Políticas Públicas: o caminho para garantir a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, 
travestis e transexuais, 2008) É no ambiente escolar que os/as estudantes podem 
construir suas identidades individuais e de grupo, podem exercitar o direito e o respeito 
à diferença. 
 
29 
 
Faz-se necessário contextualizar o currículo, “cultivar uma cultura de abertura 
ao novo, para ser capaz de absorver e reconhecer a importância da afirmação da 
identidade, levando em conta os valores culturais” dos(as) estudantes e seus 
familiares, favorecendo que estudantes e educadores(as) respeitem os valores 
positivos que emergem do confronto dessas diferenças, possibilitando, ainda, 
desativar a carga negativa e eivada de preconceitos que marca a visão discriminatória 
de grupos sociais, com base em sua origem étnico-racial, suas crenças religiosas, 
suas práticas culturais, seu modo de viver a sexualidade. Trata-se, portanto, de tarefa 
transdisciplinar, pela qual todos os educadores e educadoras são responsáveis. Cada 
área do conhecimento pode e tem a contribuir para que as realidades de discriminação 
sejam desveladas, seja recuperando os processos históricos, seja analisando 
estatísticas, seja em uma leitura crítica da literatura ou na inclusão de autores de 
grupos discriminados ou que abordem o tema. Seja, ainda, na análise das ciências 
biológicas e naturalização das desigualdades. 
Espera-se, portanto, que uma prática educativa de enfrentamento das 
desigualdades e valorização da diversidade vá além, seja capaz de promover 
diálogos, a convivência e o engajamento na promoção da igualdade. Não se trata, 
simplesmente, de desenvolver metodologias para trabalhar a diversidade e tampouco 
com “os diversos”. É, antes de tudo, rever as relações que se dão no ambiente escolar 
na perspectiva do respeito à diversidade e de construção da igualdade, contribuindo 
para a superação das assimetrias nas relações entre homens e mulheres, entre 
negros e brancos, entre brancos e indígenas entre homossexuais e heterossexuais e 
para a qualidade da educação para todos e todas. 
É no ambiente escolar que crianças e jovens podem se dar conta de que somos 
todos diferentes e que é a diferença, e não o temor ou a indiferença, que deve atiçar 
a nossa curiosidade. E mais: é na escola que crianças e jovens podem ser, juntamente 
com os professores e as professoras, promotores e promotoras da transformação do 
Brasil em um país respeitoso, orgulhoso e disseminador da sua diversidade. 
9 DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E DEMOCRACIA 
É no período pós-guerra que surge o Direito Internacional dos Direitos 
Humanos como uma tentativa de situar os direitos fundamentais na base da ordem 
 
30 
 
internacional contemporânea. Para que esse objetivo fosse alcançado, seria 
necessária uma universalização e internacionalização desses direitos, ou seja, a 
questão dos Direitos Humanos deveria ir além das fronteiras dos Estados Nacionais. 
Esse processo de internacionalização acabou gerando o surgimento de um 
sistema normativo internacional, voltado para a proteção e amparo dos direitos 
fundamentais. O sistema internacional de proteção dos direitos humanos dialoga com 
os sistemas nacionais para a garantia e o respeito aos direitos e às liberdades 
fundamentais dos indivíduos. Todavia, se o Estadose torna negligente frente ao 
compromisso de promoção dos Direitos Humanos, o sistema internacional possui 
legitimidade para cobrar desses Estados. 
Essa legitimidade tem lugar, sobretudo, quando se estabelece uma efetiva 
relação do Estado Nacional com a ordem internacional, no sentido de garantia dos 
direitos fundamentais. De outra maneira: quando o Estado aceita o aparato 
internacional. Nessa perspectiva, a intervenção internacional é uma medida que 
reflete apenas em um auxílio ou em um complemento à proteção interna desses 
direitos. O processo de internacionalização dos direitos humanos desencadeia a 
democratização do cenário internacional, uma vez que surge a sociedade civil 
internacional, composta por organizações não governamentais e por indivíduos, que 
passam a poder acionar órgãos internacionais em casos de violação dos direitos 
humanos. 
Por essas razões, a dimensão da cidadania no exercício de garantia dos 
direitos humanos, sobretudo no plano internacional, sugere que o favorecimento do 
acesso às Cortes internacionais a indivíduos ou grupos organizados, não só contribui 
para a efetivação dos direitos humanos, como se realiza, propriamente, o 
entendimento de que o sistema internacional de proteção desses direitos envolve um 
sistema legal juridicamente vinculante, podendo ser exigível, portanto, diretamente 
pela cidadania. É preciso, no entanto, refletir sobre como a proteção dos direitos 
humanos costuma se realizar no interior de ordenamentos jurídicos internos dos 
Estados democráticos e, sobretudo para os objetivos deste trabalho, na democracia 
brasileira. 
As declarações francesas de 1789 e americana de 1776, no início da idade 
contemporânea, trazem a ideia de cidadania apoiada em um discurso liberal, em que 
os direitos fundamentais se relacionavam à ideia de liberdade, segurança e 
 
31 
 
propriedade. Estabeleciam, desse modo, os direitos civis e políticos. Já no período 
entre guerras, surge a preocupação com o discurso social da cidadania, sendo 
valorizada a ideia de igualdade (na dimensão dos direitos sociais e econômicos), 
como uma tentativa de eliminar a exploração econômica conforme tratava a 
Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918, da extinta 
República Soviética Russa. 
A separação entre os direitos civis e políticos e os direitos sociais acerca da 
cidadania tem fim com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 
1948. Aquele texto reúne todos os tipos direitos fundamentais, que agora não podem 
mais ser pensados isoladamente. Além disso, a Declaração Universal estabelece que 
os Direitos Humanos são universais e inerentes aos seres humanos. Somando esses 
dois aspectos, a Declaração de 1948 traz a concepção contemporânea de cidadania. 
Representando uma nova dimensão sobre o que passa a ser um sujeito de direito: a 
partir de então, se fala em categorias de direitos, segundo suas condições 
particulares. Nessa linha, ganha relevo discussões sobre os direitos das mulheres, 
dos grupos raciais e de quaisquer sujeitos que costumam ser discriminados ou 
constitua alguma espécie de minoria que precise de uma dimensão de afirmação de 
seus direitos. É preciso pensar, nesse cenário, se a Constituição brasileira de 1988 
acolhe essa nova dimensão de cidadania, tal como descrita. A Constituição brasileira 
adota a indivisibilidade dos direitos humanos. Ou seja, ela proclama ser inconcebível 
separar os direitos civis e políticos dos direitos sociais, econômicos e culturais. Nesse 
quesito, ela atende a concepção de cidadania que se delineou. 
No que diz respeito ao alcance universal dos Direitos Humanos, a Carta de 
1988 também está em consonância com a concepção contemporânea de cidadania, 
tendo em vista que seu texto afirma que todos são iguais e que os direitos 
fundamentais são inerentes à pessoa humana. A Constituição brasileira também 
concebe os direitos fundamentais como um tema de interesse internacional. Além 
disso, a ordem constitucional estabelecida em 1988 acolhe aquela nova dimensão de 
sujeito de direito, concreto e categorizado, segundo suas particularidades. Em seu 
texto, fica clara a divisão em capítulos dedicados a categorias como idosos, crianças 
e adolescentes, direitos dos índios, entre outros, dessa maneira propondo um 
tratamento específico para esses grupos. Dessa forma, a Constituição brasileira 
parece dialogar fortemente com essa nova dimensão de sujeito de direito 
 
32 
 
internacional, e propriamente com a nova concepção de cidadania, tal como 
apresentada. 
Para além disso, é possível analisar a responsabilidade do Estado na 
consolidação da cidadania brasileira observando três elementos essenciais da ideia 
de cidadania no cenário da discussão sobre Direitos Humanos refletidos na 
Constituição brasileira: a indivisibilidade e a universalidade da ideia de direitos 
humanos, e a característica de especificidade dos sujeitos de direito. A Constituição 
brasileira assegura todos os tipos de direitos fundamentais e garante a efetividade de 
seus preceitos. Por essa razão, a todos esses direitos são assegurados a mesma 
garantia de proteção na ordem jurídica interna. A Carta de 1988 também estabelece 
o princípio da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, dessa forma, 
vinculando os Poderes Públicos ao dever de promover esses direitos de forma plena 
e efetiva. Quanto à universalidade dos direitos fundamentais, o Estado brasileiro leva 
isso em consideração em relação a todos os indivíduos. Além disso, o país é obrigado 
a observar plenamente na ordem interna os acordos internacionais firmados que 
tratam dos direitos e garantias fundamentais e que foram ratificados pelo Estado 
brasileiro. 
Uma reflexão sobre Direitos Humanos, sobretudo quando se pensa a 
democracia brasileira e seu passado (recente) de autoritarismo, passa pela 
necessidade de se analisar a responsabilidade do Estado na consolidação da 
cidadania no Brasil. A Constituição Federal de 1988 é considerada, por muitos, um 
marco da transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no 
Brasil, importando, desse modo, em uma redefinição do Estado e dos direitos 
fundamentais no país, após longos vinte e um anos de ditadura militar. 
A importância com o bem-estar social e a preservação da dignidade humana é 
tão expressiva que a Constituição eleva alguns direitos e garantias fundamentais ao 
patamar de cláusulas pétreas. A Carta de 1988 inova ao extrapolar os limites dos 
direitos individuais e tutelar também os direitos coletivos (direitos que se aplicam a 
classes ou categorias sociais). Além disso, ela estabelece a aplicabilidade imediata 
das normas que dizem respeito aos direitos fundamentais. Aquilo que Flávia Piovesan 
chama de um “constitucionalismo concretizador dos direitos fundamentais”. Os 
direitos sociais também são tratados na Constituição com a mesma dimensão. O 
artigo 6º da Constituição estabelece uma série de direitos, como à educação, à saúde 
 
33 
 
e ao trabalho, entre outros. Não obstante, o importante é ressaltar que a Constituição 
estabelece “uma ordem social com um amplo universo de normas que enunciam 
programas, tarefas, diretrizes e fins a serem perseguidos pelo estado e pela 
sociedade”. Por outro lado, além da ordem social, a Constituição de 1988 também 
estabeleceu uma ordem econômica, marcada pelo intervencionismo estatal em prol 
do bem-estar social. Isto corresponderia, em linhas gerais, ao modelo de “Estado de 
Bem-Estar Social. 
 
 
Fonte: ibradd 
10 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM O 
ESPAÇO ESCOLAR 
Direitos humanos é uma expressão que abrange diversas concepções e 
abordagens em torno de um conjunto de direitos que fazem parte da própria natureza 
humana e da dignidade a ela inerente. A proteção a tais direitos é resultado de um 
lento processo histórico que foi se reconhecendo legislativamente a partir dos 
imperativos sociaispostos ao longo do tempo. 
No entanto, ressalte-se que este processo ainda está em evolução, tendo em 
vista que em algumas sociedades ainda se identificam poucos avanços em relação 
aos direitos humanos. Bobbio (2004) destaca que os direitos humanos são históricos, 
modificáveis, suscetíveis de constante transformação e alargamento de seus 
horizontes, relacionando-se à própria civilização humana em seus diferentes níveis 
sociais de desenvolvimento. Dessa forma, torna-se essencial discutir acerca deste 
 
34 
 
conceito para que se possa compreendê-lo em sua amplitude diante das constantes 
transformações histórico-sociais, bem como sua relação intrínseca com a educação. 
Os direitos humanos podem ser definidos como um conjunto de instituições que 
concretizam, em cada tempo histórico, as necessidades sociais relacionadas à sua 
dignidade. Tais necessidades devem ser reconhecidas positivamente pelo 
ordenamento jurídico conferindo a estes direitos o caráter de universalidade. Nesse 
sentido, Pérez Luño (1999) leciona que os direitos humanos são um “[...] conjunto de 
faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretiza as exigências 
da dignidade, da liberdade, da igualdade humana”. 
No entanto, embora o reconhecimento dos direitos humanos e sua 
consequente positivação em algumas regulamentações, como a Declaração Universal 
dos Direitos do Homem, tenham se expandido ao longo dos anos, ainda se 
vislumbram constantes afrontas a tais direitos evidenciando-se a necessidade de 
constante observância dos dispositivos postos visando o respeito e a garantia de 
proteção a todos em suas diversidades. 
Para Gorczevski (2005), os direitos humanos são universais, absolutos e 
inerentes ao homem, não dependendo de concessão por parte do Estado, entretanto, 
apesar de inerentes à natureza humana, o “[...] seu reconhecimento e proteção é o 
resultado de um longo processo histórico, que ocorreu de forma lenta e gradual, 
passando por várias fases e, eventualmente, com alguns retrocessos”. Os direitos 
humanos trazem o sentido de igualdade entre os sujeitos ao representarem o 
reconhecimento de que todos são dignos do mesmo respeito, independentemente de 
diferenças biológicas ou sociais. Não há, pois, distinção entre os sujeitos de direitos. 
Ainda que não se identifique um conceito único de tais direitos, pode-se indicar 
um núcleo central comum: a ideia de universalidade. Esta característica de 
universalidade é essencial para se chegar à uma definição de direitos humanos, pois, 
sem atribuir a estes o caráter de universalidade, corre-se o risco de criarem-se 
fragmentações em sua titularidade, concebendo-se a existência de direitos cabíveis 
apenas a determinados grupos sociais. 
Assim, falar que os direitos humanos apresentam a característica da 
universalidade, significa dizer que os mesmos são inerentes a todos os homens, pelo 
simples fato de serem humanos, em todas as épocas e espaços sociais, devendo ser 
respeitados indistintamente. Nesse contexto, a lei escrita positiva tais direitos, 
 
35 
 
tornando-se igualmente aplicável a todos. Segundo Gorczevski (2009) os direitos 
humanos constituem-se em valores superiores existentes no mundo axiológico 
concretizados por meio dos direitos fundamentais positivados. 
Tem-se, portanto, a necessidade de evidenciar a distinção entre direitos 
fundamentais e direitos humanos, tendo em vista as constantes concepções de serem 
termos sinônimos. Os direitos humanos são direitos naturais cabíveis a todos os 
homens, independente de nacionalidade, enquanto que os direitos fundamentais se 
referem à positivação destes direitos nos respectivos ordenamentos jurídicos pátrios. 
Pode-se afirmar que os direitos fundamentais nascem da positivação dos 
direitos humanos, significa a consolidação dos direitos naturais do indivíduo na ordem 
jurídica positiva. A positivação por meio da letra da lei constitui-se em maior garantia 
ao sujeito, tendo em vista a concretização da tutela jurídica destes direitos pelo 
Estado, que assume o dever de observá-los e respeita-los como fundamento da 
igualdade e respeito aos seus cidadãos. 
 
 
Fonte: patriciapaulausp 
 
No entanto, apesar da existência de inúmeros instrumentos internacionais de 
proteção aos direitos humanos, estes ainda são constantemente violados 
desencadeando situações de violência e caos social em algumas situações. As 
condições mínimas para a existência digna são comumente inobservadas, direitos 
fundamentais como a vida e a liberdade são desrespeitados pelos próprios sujeitos, 
destacando-se ainda as situações de omissão e afronta aos direitos humanos pelo 
próprio Estado como na deterioração do meio ambiente, na desigualdade social, 
no desemprego e na omissão diante da criminalidade (RAYO, 2004). 
O respeito aos direitos humanos é, portanto, indispensável à sobrevivência do 
próprio homem no planeta, observando-se que não nos são dados pelo Estado ou 
construídos a partir da luta de terceiros, mas são construídos pelo cotidiano 
https://jus.com.br/tudo/desemprego
 
36 
 
social. Estes direitos acompanham a evolução social, sendo alvo de contínuas 
mudanças e refletindo as lutas e necessidades dos sujeitos. Dessa forma, estes 
direitos precisam de instrumentos que colaborem na sua conscientização para uma 
efetiva aplicabilidade dos mesmos. 
A educação é certamente um dos instrumentos mais poderosos de 
consolidação dos direitos humanos. Como prática social, a educação em direitos 
humanos constitui-se em política transformadora da sociedade e do homem, trazendo 
em si a possibilidade de superação de fenômenos como a pobreza, a violência, a 
desigualdade e a exclusão social. Assim, o processo educativo traz em si a potencial 
formação humana e promoção dos direitos humanos. A educação constitui-se em 
instrumento que possibilita a promoção dos direitos humanos visto que é parte 
integrante da dignidade humana por formar e conscientizar socialmente o indivíduo 
para o exercício pleno de sua cidadania. Pode-se dizer que a educação é pressuposto 
fundamental para o indivíduo realizar-se plenamente como ser humano na sociedade. 
Em se tratando de direitos humanos a educação assume papel considerável, 
pois abrange a função de humanizar o humano (SAVIANI, 1989). No entanto, educar 
não se trata apenas de depositar ou transmitir conteúdos dissociados da realidade 
vivenciada pelo aluno, esta prática, reconhecida por Freire (1997). 
Dessa forma, ao evidenciar o papel preponderante da educação na 
consolidação dos direitos humanos faz-se necessário destacar que aquela se refere 
a um processo educativo crítico, participativo, que visa a superação dos contextos de 
alienação e opressão a que estão submetidos os sujeitos no contexto capitalista. 
Este processo, que habilita o indivíduo para a conscientização do contexto 
sócio histórico em que vive e seu consequente questionamento, perpassa 
necessariamente pelo estudo e reflexão constante da temática relativa aos direitos 
humanos. 
A educação para os direitos humanos deve contribuir: 
 Para o fortalecimento do respeito aos direitos e liberdades fundamentais do 
ser humano. 
 Ao pleno desenvolvimento da pessoa humana e sua dignidade; a prática da 
tolerância, do respeito à diversidade de gênero e cultura, da amizade entre todas as 
nações, povos indígenas e grupos raciais, étnicos e religiosos. 
 
37 
 
 E a possibilidade de todas as pessoas participarem efetivamente de uma 
sociedade livre. 
Assim, os princípios da igualdade e da não discriminação devem nortear a 
educação em direitos humanos de maneira que, neste contexto, desenvolvam-se 
atividades que considerem a experiência e o contexto social vivenciado pelos alunos, 
permitindo que os mesmos compreendam e atendam às suas necessidades a fim de 
buscar as devidas soluções compatíveis com o ordenamento jurídico na garantia de 
proteção aos direitos humanos. 
Dessa

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