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Lara Torres Pinto Brito – HEMATOLOGIA MIELOMA MÚLTIPLO INTRODUÇÃO O mieloma múltiplo é uma desordem proliferativa dos plasmócitos, célula produtora de imunoglobulinas (IgA, IgD, IgE e IgM). Possui duas características principais: 1. Cadeias Pesadas (gama) 2. Cadeias Leves (kappa ou lâmbida) No mieloma múltiplo há perda da capacidade de policlonalidade, porque vai surgir uma célula anormal que perde a capacidade autorregulatória e vai se proliferar com componente único (produz apenas uma imunoglobulina). Assim, há perda do componente policlonal, para surgir o componente monoclonal, ou seja, perde a capacidade de produzir vários tipos de imunoglobulinas e produz apenas um tipo. ELETROFORESE DE PROTEÍNAS A eletroforese de proteínas é o melhor exame de triagem para detectar o mieloma múltiplo. Indicação: Dor lombar; e/ Sinais de alarme (anemia, refratariedade, febre, sintomas neurológicos); com/ Suspeita de mieloma múltiplo ocasionando o quadro. Consegue quantificar, através de um gráfico, os principais grupos de proteínas que circulam no nosso plasma. A albumina é a principal delas (possui pico), sendo proteína única. Já as outras (alfa-1, alfa-2, beta e gama) são a reunião de vários grupos de proteínas (comportamento mais achatado). PADRÕES ELETROFORESE + IMUNOFIXAÇÃO 1ª ELETROFORESE: Normal. Com pico maior de albumina e comportamento mais achatado das demais. Na região gama ficam as imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM) e igualmente distribuídas as cadeias leves (kappa e lâmbida). 2ª ELETROFORESE: a região gama ficou um pouco maior, mas continua achatado. Porque consegue produzir diversas proteínas e a distribuição – principalmente da cadeia kappa e lâmbida – continua sendo bem distribuída. Pode se tratar de um processo inflamatório crônico. 3ª ELETROFORESE: representa o mieloma múltiplo devido ao componente monoclonal. É observado um componente em tenda, perdendo o formato achatado. Isso ocorre porque perdeu a capacidade de produzir as outras imunoglobulinas, produzindo apenas um tipo (nesse caso, o IgG). Parou de produzir kappa, perdendo o componente policlonal. Nesse padrão pode-se dizer que houve um pico monoclonal. A eletroforese de proteínas possui um complemento – imunofixação – no qual identifica do que é composto o pico monoclonal. PATOGÊNESE O linfócito B produz as imunoglobulinas no centro germinativo do linfócito. Esse linfócito encontra a célula apresentadora de antígeno, que faz com que produza as imunoglobulinas conforme aquela apresentação e, depois, se transforma em plasmócito, (linfócito B meio imortalizado). Está produzindo aquela imunoglobulina e sai do linfonodo para morar na medula óssea, onde fica produzindo imunoglobulina para o resto da vida. É daí que surgem as vacinas (tomou a vacina e manteve a proteção com a produção do anticorpo por causa do plasmócito). Temos vários tipos de plasmócitos, produzindo vários tipos de imunoglobulinas. Entretanto, ao longo da vida, esse plasmócito pode adquirir uma mutação. Ex: translocação na região 14 do cromossomo; ou uma delação do cromossomo 13. No mieloma múltiplo a gente há a gamopatia monoclonal de significado indeterminado. Isso quer dizer que consigo identificar na eletroforese que ele tem o pico monoclonal, mas eu não tenho nenhuma repercussão clínica. Eu vou acompanhar esse paciente. Porque eu sei que quando surge o pico monoclonal eu tenho uma célula doente; e, ao longo do tempo, aquela célula vai adquirir várias novas mutações, várias novas habilidades -> uma neoplasia (mieloma múltiplo). Célula inicial se proliferou e, normalmente, consegue identificar pela eletroforese uma quantidade mínima dessa doença. A gente não precisa tratar, mas a gente precisa acompanhar. Isso porque talvez o paciente não tenha nada, só tenha essa gamopatia monoclonal de significado indeterminado, mas mantem o acompanhamento porque em algum momento essas células vão ganhar novas mutações e depois vira doença (o mieloma múltiplo). Precisa tratar quando há sintomas. Com o tratamento do mieloma múltiplo a gente consegue entrar em remissão. Ou seja, não tem a atividade clínica da doença; mas eu não consigo destruir todo o mieloma, então ficam ainda algumas células restantes que, ao longo do tempo, com o surgimento de novas mutações, ele vai progredir e reaparecer. Então o mieloma múltiplo é uma neoplasia do sangue/plasmócito que não tem cura. Em resumo: existe tratamento para o mieloma múltiplo, mas não existe cura. Isso porque não consegue destruir todos os plasmócitos doentes que, ao longo da vida, podem aparecer novamente como doença. Como dito anteriormente, a morada do plasmócito é dentro da medula óssea. Ele saiu do linfonodo já diferenciado, produzindo imunoglobulina, e vai para a medula óssea, onde continua liberando sua imunoglobulina. Quando surge o mieloma múltiplo, essa célula que adquiriu novas funções e habilidades, começa a interagir com o meio da medula óssea. Principalmente com os osteoclastos, responsável pela reabsorção óssea. QUADRO CLÍNICO O mieloma múltiplo apresenta 4 indicativos (CARO). São achados laboratoriais associados ao mieloma múltiplo: Aumento do cálcio; Anemia; Lesão renal; Lesão óssea. A lesão óssea ocorre porque há o aumento da atividade do osteoclasto podendo levar ao quadro de fratura patológica. Também devido a atividade do osteoclasto, há uma grande liberação de cálcio, levando à uma hipercalcemia associada ao quadro de mieloma múltiplo. Como qualquer neoplasia, ele está lá na medula óssea, causando um quadro inflamatório e gerando um quadro de anemia crônica. E, pela produção anormal de imunoglobulina, aquela imunoglobulina, principalmente o componente da cadeia leve, faz uma toxidade tubular no rim, causando um quadro de insuficiência renal (pode ser aguda revertida ou um quadro de insuficiência renal crônica). Então é um paciente que pode ter lesão óssea, insuficiência renal, anemia e hipercalcemia. Isso se encaixa no caso da paciente com lombalgia. Paciente com lombalgia, que passou dos 45 anos e tiver algum sinal de alarme (como anemia, fratura patológica, lesão renal) vale a pena pesquisar o mieloma múltiplo. Para isso, o primeiro exame a ser solicitado é a eletroferose das proteínas. Possui componente monoclonal! Vai liberar algum tipo de imunoglobulina, sendo a IgG e depois IgM as principais associadas à esse quadro monoclonal. Lembrar que tem diversas outras patologias que podem liberar esse componente monoclonal, mas a principal de todas aqui e o mieloma múltiplo e sua parte anterior que é esse MGUS (gamopatia monoclonal de significado indeterminado). Obs: nem toda MGUS vira mieloma. Tem algumas MGUS que podem evoluir para essas outras doenças linfoproliferativas, como alguns tipos de linfomas, amiloidose, macroglobulinemia de Valterstron. Normalmente a evolução natural do mieloma é o MGUS, depois você pode virar o componente do mieloma assintomático (vê aumento do componente monoclonal, mas ainda sem sintomas). Quando apresenta os sintomas é o CARO: - Alteração do Cálcio - Anemia - Lesão Renal - Disfunção óssea A apresentação clínica mais prevalente (80%) é o envolvimento ósseo -> dor lombar. Pode ter uma fratura óssea na região lombar, que dá lombalgia. Normalmente vem com quadro de anemia associado. Portanto, anemia é um sinal de alarme! Então vale a pena investigar aquele paciente com dor lombar + anemia para o mieloma múltiplo. Se tiver outras complicações como insuficiência renal ou hipercalcemia, fica batata! Apresentação Principal: lombalgia, anemia e disfunção renal. Essa tríade acende alerta de mieloma múltiplo. Apresentação Alternativa: fratura patológica. Acontece quando não houve nenhum traumasignificativo que justificasse a quebra do osso. Nesse paciente também vale a pena investigar mieloma múltiplo. DIAGNÓSTICO Inicialmente história clínica e solicito eletroforese com imunofixação (identifica o pico monoclonal e diz se é um IgG lambda, IgG kappa, IgM lambda, etc) e eu tenho que identificar que o responsável por aquilo é o mieloma múltiplo. Para isso é preciso ir na casa do plasmócito: medula óssea. MIEOLOGRAMA No mielograma é possível identificar o plasmócito anômalo. Isso porque ele possui características anômalas que eu consigo identificar pela morfologia. Mas é preciso atestar que aquele plasmócito anômalo tem um componente monoclonal. BIÓPSIA Atesta o componente monoclonal do plasmócito anômalo por meio da imunohistoquímica - reação que verifica proteínas envolvidas naquela célula. Para comprovar o componente monoclonal do mieloma usa algumas proteínas específicas que tem no mieloma - os CDS - CD 38 e 138. Eu vi que marcou lá o CD 38 e 138 eu sei que é um plasmócito. Eu vou colorir tanto para kappa quanto para lambda. Se eu tiver algum componente monoclonal, só vai colorir algum tipo dessa cadeia leve. Eu já dei o diagnóstico aqui que ali tem uma célula do mieloma múltiplo. Para dizer que é mieloma múltiplo eu preciso ter mais de 10% de plasmócitos. Um paciente que tem anemia, disfunção renal, hipercalcemia e disfunção óssea, com mais de 10% de plasmócitos dentro da medula óssea, fecha o diagnóstico de mieloma múltiplo. Então eu tenho a história clínica (paciente com lombalgia, anemia), fiz eletroforese, parte para medula onde realiza o mielograma (morfologia anômala) e biópsia com imuno-histoquímica (comprova que aquele plasmócito doente tem um componente monoclonal pela relação kappa/lambda). Se fosse um plasmócito normal iria colorir os dois e teria kappa e lambda. Mas quando é um componente monoclonal nos plasmócitos só vou ter kappa ou lambda. Quando eu tenho mais de 10% eu vou chamar aquilo de mieloma múltiplo. EXAMES PARA COMPROVAR MONOCLONACIDADE Eletroforese das proteínas séricas (principal) Eletroforese das proteínas urinárias: a toxidade no rim é por causa da cadeia leve, então é possível ver a excreção da proteína. Procurar anemia, alterações da função renal e do cálcio Investigação de lesão óssea: lesões líticas em ossos longos (crânio, tórax, úmero, fêmur e bacia) com padrão de sal e pimenta. No raio x a gente não visualiza tanto aquele padrão do sal e pimenta, mas dá pra notar que tem uma osteopenia. O mais importante é que nesse distanciamento aqui entre as vértebras, está maior que o normal. A gente chama de lesão boca de peixe (lesão que diminuiu o tamanho dessa vértebra). Na RNM é mais fácil de ver, a região escura é lesão lítica com enfraquecimento do osso, levando à alguma lesão óssea. É possível ver disco vertebral + mieloma múltiplo, além da lesão lítica e abaulamento do disco fazendo compressão e gerando sintomas neurológicos. MM - ROULEAUX Nas hemopatias com aumento exagerado das proteínas, elas são ricas em cargas negativas (diferentemente das hemácias que são cargas positivas). Quando a gente tem excessos, a gente vai ter uma monta de células, acontece o que parece um conjunto de moedas = rouleaux. Quando tem esse feixe de hemácias assim, significa dizer que eles têm um componente proteico muito elevado. Geralmente um componente monoclonal, que a gente vai tentar identificar na maioria das vezes alguma imunoglobulina. PET-SCAM No PET há uma glicose marcada. Aqui Nessa imagem tem um normal e um alterado. A marcada de pretinho é alterada, cheia de lesões líticas na arcada do paciente. É assim que a gente faz a investigação óssea recentemente: PET ou RNM. HEMOGRAMA Hemograma é solicitado par avaliar: Anemia Ureia Creatinina Sódio Potássio Cálcio ESTADIAMENTO E SOBREVIDA Estadiamento é feito através do ISS (sistema internacional de estadiamento) e precisa de dois exames: 1. Beta-2-microglobulina 2. Anemia Se esses exames estiverem normais, a gente diz que é o estadiamento 1. A sobrevida média desse paciente é de 62 meses. Quando começa a ter uma queda da albumina ou aumento da beta-2 a sobrevida cai para 44 meses. E quando você tem uma queda da albumina e aumento de beta-2 já é estágio 3, com prognóstico bem reservado com sobrevida média de 29 meses. TRATAMENTO Sistêmico. Antes é preciso definir se o paciente vai para o transplante de medula óssea ou se ele não irá para o transplante. Isso porque o melphalan apresenta toxidade para a medula óssea. Se for para transplante: quimioterapia Se não for para transplante: usa melphalan De preferência, sempre que possível, tentar fazer transplante de medula óssea. Porque quando ele faz o transplante com a primeira quimio, o tempo de remissão é bem maior do que quando não se faz o transplante. LEMBRANDO: não tem cura e só trata quando tem sintoma.
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