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Caso Clínico: Encefalopatia Hepática Ana Flávia Ferreira Santos Nayara Salgado Vieria Sette Dados clínicos paciente Paciente: M.R.L – Masculino – 76 anos Peso: 60kg Altura: 1,69m IMC: 21kg/m² - Baixo peso Diagnósticos: - Hemacromatose Hereditária - 07/09 Fibrose e cirrose hepática - 21/09 Encefalopatia - Tipo C - 26/09 Encefalopatia tóxica Dados clínicos paciente Contexto: Paciente com cirrose hepática secundária a hemocromatose hereditária, encaminhado por médico assistente devido à encefalopatia hepática. Relata não está evacuando. Nega febre ou sintomas localizatórios. Exame abdominal com ascite flácida, sem dor. Sem exteriorização de sangramentos, vômitos ou evidências de desidratação. Sem relato de uso de novas medicações, álcool ou libação alimentar. Admitido estável eupneico, desorientado no tempo e no espaço, fala lentificada, hipocorado (1+/4+), ictérico (2+/4+) e com flapping. HPP: - DM insulino dependente - Cirrose hepática CHILD B9, secundária a hemocromatose hereditária - Hipertensão portal Dados clínicos paciente Propedêutica de última internação: - TC abdominal total (03/09/20): Sinais de hepatopatia crônica. Colecistectomia. Moderada quantidade de líquido livre na cavidade abdominal, inclusive peri-hepático, associado a densificação dos planos adiposos abdominais, bem como aumento da visualização da linfonodos. Ateromatose calcificada aortoiliaca e de Ramos abdominais. Espondilose dorsomolar. Alargamento dos canais inguinais Hemocromatose Hereditária Predisposição para a absorção excessiva de ferro da alimentação A mais comum doença genética, hereditária, na população caucasiana (branca); afeta mais homens do que mulheres Mutações no gene HFE são responsáveis pela maioria dos casos Fonte: Hepcentro, 2011 Fonte: Hepcentro, 2011 Figura 1: Classificação da Hemacromatose Fisiopatologia Hemocromatose Fonte: Brissot, et al. ( 2018) Figura 2- Metabolismo do Ferro Sinais e Sintomas Figura 3 :Manifestações clínicas da Hemacromatose Fonte: Brissot, et al . (2018) Diagnóstico Figura 4: Diagnóstico Hemacromatose Evolução da Hemacromatose Figura 5: Evolução da Hemocromatose Tratamento Figura 6: Tratamento Hemacromatose Fonte: Ribeiro, 2020 Cirrose Hepática Histologicamente, a cirrose hepática é definida como uma alteração difusa do fígado, em que a arquitetura normal é substituída por nódulos regenerativos, separados por faixas de tecido fibroso, que determina a diminuição das funções de síntese e excreção hepáticas. ( ver a porcetagem) Figura 7: Cirrose Hepática Fonte: Medicina Fisiopatologica, 2015. Sinais e Sintomas Figura 8: Manifestações clínicas de Cirrose Fonte: Ribeiro, 2020 Encefalopatia Hepática Disfunção cerebral difusa causada por insuficiência hepática É um distúrbio metabólico, portanto potencialmente reversível A amônia está relacionada à sua gênese, ao lado de várias neurotoxinas e fatores diversos, como o edema cerebral Ausente Nenhuma anormalidade detectada Mínima Alterações nos testes psicométricos ou neurofisiológicos Grau 1 Falta de atenção, euforia, ansiedade, desempenho prejudicado, distúrbios do sono Grau 2 Flapping; letargia, desorientação leve tempo e espaço, mudança súbita personalidade Grau 3 Flapping; sonolento, mas responsivo a estímulos, confusão e desorientação importante, comportamento bizarro Grau 4 Coma Quadro Clínico e Diagnóstico As manifestações clínicas são amplas e variáveis, desde alterações psicométricas até coma. Os critérios mais utilizados na graduação da EH clinicamente aparente são os Critérios de West Haven. Critérios de West-Haven para graduação da EH Detoxificação da amônia no fígado Figura 9: Detoxificação da amônia Fonte: Edna Strauss e Mario Reis Alvares da Silva, 2010 Toxicidade da Amônia Figura 10: Toxicidade da Amônia Fonte: Edna Strauss e Mario Reis Alvares da Silva, 2010 Modelo Atual de Patogênese da EH Figura 11: Patogênese da EH Fonte: Edna Strauss e Mario Reis Alvares da Silva, 2010. Dados clínicos paciente Exames Bioquímicos: Albumina 3,3 (3,5 a 5,0) Bilirrubina total: 2,9mg/dL (0,2 a 1,3) Glicose: 225mg/dL ( 60 a 99) Linfócitos: 806mm3 (1000 a 3500) Hemácias: 2,55 milhões/mm2 (4,5 a 5,5) Hemoglobina: 8,4g (13 a 17,5) Hematócrito: 25,2% (40 a 50) Plaquetas: 90.000/mm2 (150.000 a 450.000) Tempo atividade protombina: tempo 15,8s – atividade 70,8% (maior ou igual a 70%) Ureia: 15,0mg/dL (19 a 43) Proteína C reativa: 22,6 (menor que 10)> Devido a inflamação. Dados clínicos paciente Medicamentos administrados no Hospital: - Humulin Regular 1000UI/ 10mL -Albumina H. 20% 50mL - Lactulose - Insulina rápida 8UI antes das refeições - Propranolol 40mg - 3 dias após a internação, foi prescrito supositório gliceria Triagem Nutricional Com base no modelo da NRS 2002 disponível no Hospital Life Center: Realizo contato com o paciente via ramal, para triagem nutricional. Relata DM e HAS. Nega náuseas e vômitos. Paciente constipado, mas relata diurese preservada. Relata perda ponderal de kg em meses Relata pouco apetite com baixa aceitação da dieta branda. Nega alergia ou intolerância alimentar. Triagem Nutricional Pontuação: Idade 70 anos: 1 Perda ponderal + redução da ingestão alimentar: 2 Doença crônica: 1 Pontuação total: 4. Paciente em risco nutricional Proposta de Conduta Dietoterápica Nutrientes Recomendações Hepatopatas Sódio 40 a 60 mEq/dia segundo retenção de fluidos Cálcio 800 a 1200 mg/dia · Potássio · Magnésio · Zinco · Cobre · Manganês Fósforo · Vitamina A · Controle no uso de diuréticos · Medir níveis séricos · Suplementar com alimentos fontes · Recomendações da RDA Vitamina D 50.000 UI/dia (má-absorção?) Vitamina E 400 UI/dia (má-absorção?) Água livre Ascite? Hiponatremia? 1000 a 1500 mL/dia Fonte: Hospital Sírio Libanês, 2009. Fonte: Hospital Sírio Libanês, 2009. Recomendação proteica Recomendação glicídica Recomendação lipídica · Hepatopatia compensada(0,8 a 1,0 g/Kg*) · Hepatopatia descompensada(1,5 a 2,0 g/Kg*) · Sem referência de hepatopatia(1,2 a 1,75 g/Kg*) · Encefalopatia hepática(0,6 a 1,0 g/Kg*) · · Sem restrição (dieta rica) · Restrição apenas na intolerância à glicose e Diabetes 20 a 40% das Calorias Totais Proposta de Conduta Dietoterápica Proposta de Conduta Nutricional Consumir cálcio e fibras alimentares concomitantes à ingestão de ferro Aumentar a oferta de antioxidantes no plano alimentar, como, por exemplo, o ácido ascórbico ofertado longe das refeições, a vitamina E, betacaroteno, polifenóis, flavonoides, selênio, entre outros *Aumentar o consumo de alimentos fontes zinco e controlar os níveis séricos, pois a enzimas cofator necessário às enzimas do ciclo da uréia.* Deve-se adota o consumo regular e diário de alimentos que contenham compostos bioativos com ação anti-inflamatória. Dentre eles, podemos citar: ômega 3, oleaginosas, frutas vermelhas, flavonoides, curcumina, azeite de oliva extra virgem, chá verde, suco de uva integral, dentre outros (Ribeiro,2013) Proposta de Conduta Nutricional Suplementação com AACR pode melhorar a detoxificação da amônia e estimular a síntese protéica hepática, reduzindo o catabolismo e melhorando o estado nutricional. Uso de probióticos: Agentes que modulam a flora intestinal, com significativa redução da amônia sanguínea e reversão de encefalopatia subclínica em 50% dos pacientes, além de reduzir os episódios de infecção. O uso de probióticos deve ser incentivado para reduzir episódios de translocação bacteriana. Inclusão de fibras insolúveis na dieta Evitar o consumo de bebidas alcóolicas Fracionar as refeições, evitando longos períodos em jejum (Ribeiro,2013) Orientações Evitar e/ou reduzir o consumo de carnes vermelhas, leguminosas e folhosos verdes-escuros, por seremboas fontes de ferro. É válido, também, evitar alimentos fortificados com ferro Evitar o consumo de alimentos ricos em vitamina C junto às principais refeições em que haverá oferta do mineral (geralmente almoço e jantar) Aumentar o consumo de fibras, por meio da ingestão de frutas, verduras, legumes e alimentos integrais Dar preferência para alimentos integrais Aumentar o consumo de alimentos fontes zinco Conclusão Concluímos que se trata de uma paciente em risco nutricional, devido ao IMC que apresentado com diversas comorbidades, em sua maioria secundárias a sua patologia de base hereditária, a Hemocromatose; sendo essa: disfunção hepática. Além do mais o paciente apresenta outras doenças crônicas: Diabetes Mellitus e Hipertensão. Portanto precisa de intervenção médica e nutricional. Referências CANÇADO, Rodolfo Delfini; CHIATTONE, Carlos Sérgio. Visão atual da hemocromatose hereditária. Revista Brasileira de hematologia e hemoterapia, v. 32, n. 6, p. 469-475, 2010. BONINI-DOMINGOS, Claudia R. Hemocromatose hereditária e as mutações no gene HFE. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, p. 241-242, 2006. OH, Chang-Kyu; MOON, Yuseok. Dietary and Sentinel Factors Leading to Hemochromatosis. Nutrients, v. 11, n. 5, p. 1047, 2019. RADFORD‐SMITH, Daniel E.; POWELL, Elizabeth E.; POWELL, Lawrie W. Haemochromatosis: a clinical update for the practising physician. Internal medicine journal, v. 48, n. 5, p. 509-516, 2018. ROGERO, Marcelo Macedo; TIRAPEGUI, Julio. Aspectos atuais sobre aminoácidos de cadeia ramificada e exercício físico. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, n. 4, p. 563-575, 2008. CARVALHO, Rosali Braga Brandão et al. Hemocromatose: um enfoque nutricional. Revista Pleiade, v. 2, n. 4, p. 101-108, 2008. SANTOS, LVIA AVEs AMARAL; DOENA, MARIANA DE SouzA; CARAMOR, CARLos ANTONIO. Redução do MELD em paciente finalista de transplante hepático após o uso de aminoácidos de cadeia ramificada: relato de caso. 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