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Rebeca Woset DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS HEMORRAGIA A hemorragia ocorre por causa de função ou integridade anormal de um ou mais dos principais fatores que influenciam a hemostasia — o endotélio e os vasos sanguíneos, plaquetas ou fatores da coagulação. O trauma pode romper fisicamente um vaso e causar hemorragia por rexis (rhexis = quebra por rompimento, ruptura). A hemorragia por rompimento também pode ocorrer após erosão vascular em razão das reações inflamatórias ou neoplasmas invasivos. Número reduzido de plaquetas (trombocitopenia) ou função anormal das plaquetas (trombocitopatia) pode causar hemorragia. A trombocitopenia pode resultar de uma diminuição na produção, de aumento na destruição ou aumento no uso das plaquetas. A diminuição na produção geralmente ocorre em função do dano ou destruição dos megacariócitos, como resultado de lesão por radiação, toxicidade, etc. O aparecimento de hemorragia depende da causa, da localização e da severidade. A hemorragia em um tecido é frequentemente caracterizada com base em seu tamanho. Uma petéquia é um ponto hemorrágico do tamanho de uma cabeça de alfinete (1 a 2 mm) que ocorre principalmente por causa da diapedese associada a dano vascular mínimo. Uma equimose é uma hemorragia maior (mais de 2 a 3 cm em diâmetro) que ocorre com dano vascular mais extenso , ao passo que as sufusões se espalham através das áreas contínuas de tecido maiores do que os outros dois tipos. A hemorragia que ocorre em um espaço focal, confinado, forma um hematoma. Hematomas são mais usuais em orelhas de cães de orelha longa ou porcos e no baço após trauma vascular. O hematoma aumenta de tamanho até que a pressão exercida pelo sangue extravascular se iguale à de dentro do vaso ferido ou que o vaso sele internamente por hemostasia. A significância da hemorragia depende principalmente da quantidade, taxa e localização da perda de sangue. EDEMA Consiste em um acúmulo do excesso de fluido intersticial. O edema ocorre através de quatro mecanismos principais: (1) aumento na permeabilidade microvascular; EX: Extravasamento vascular associado à inflamação. (2) aumento na pressão hidrostática intravascular; EX: hipertensão portal, hipertensão pulmonar, obstrução venosa localizada (3) diminuição na pressão osmótica intravascular; EX: Produção de albumina diminuída ou perda excessiva (4) diminuição na drenagem linfática EX: obstrução ou compressão linfática MECANISMOS DE FORMAÇÃO DE EDEMA PERMEABILIDADE MICROVASCULAR AUMENTADA Comumente associado a uma reação microvascular inicial a estímulos inflamatórios ou imunológicos. Esses estímulos induzem a liberação localizada de mediadores que causam vasodilatação e o aumento na permeabilidade microvascular. A liberação de citocinas induz a reorganização do citoesqueleto das células endoteliais, que resulta em retração das células endoteliais e aumento contínuo dos espaços interendoteliais. O movimento de fluido intravascular através desses espaços para o interstício resulta em edema localizado, que pode diluir um agente inflamatório. PRESSÃO HIDROSTÁTICA INTRAVASCULAR AUMENTADA Mais frequente em função de um aumento do volume de sangue na microvasculatura. Isto pode ser em razão do resultado de um aumento ativo Rebeca Woset DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS no fluxo sanguíneo para a microvasculatura (hiperemia), tal como ocorre com inflamação aguda. Mais comumente ela resulta de acúmulo passivo de sangue (congestão), frequentemente causado por insuficiência cardíaca ou compressão venosa localizada ou obstrução. Os aumentos no volume e na pressão microvascular causam aumento na filtração e redução ou até reversão na absorção de fluido de volta para os vasos. Quando a pressão hidrostática aumentada afeta uma porção localizada da microvasculatura, o edema é localizado. No caso de insuficiência cardíaca, congestão e pressão hidrostática aumentadas podem ocorrer no sistema venoso portal (insuficiência cardíaca direita) causando ascite; no sistema venoso pulmonar (insuficiência cardíaca esquerda), causando edema pulmonar; ou em ambos os sistemas venosos (insuficiência cardíaca generalizada), causando edema generalizado. PRESSÃO OSMÓTICA INTRAVASCULAR REDUZIDA Resulta mais comumente da redução da concentração de proteínas plasmáticas, particularmente a albumina. A hipoalbuminemia reduz a pressão osmótica coloidal intravascular, resultando em aumento da filtração de fluido e diminuição da absorção, culminando com edema. A hipoalbuminemia pode ser resultado de redução na produção de albumina pelo fígado ou excesso de perda do plasma. A redução na produção hepática ocorre mais comumente em função de uma escassez de proteína adequada para a via sintética como resultado de desnutrição ou má absorção intestinal de proteínas. A perda da albumina do plasma pode ocorrer em doenças gastrointestinais caracterizadas por perda severa de sangue, tal como aquelas causadas por parasitismo. Enfermidade renal, com perda da função glomerular e/ou tubular, pode resultar em perda de albumina na urina e diluição da albumina restante ocasionada pela retenção de sódio e volume de fluido intravascular expandido. DRENAGEM LINFÁTICA DIMINUÍDA Reduz a habilidade do sistema linfático em remover o pequeno excesso de fluido que normalmente se acumula no interstício durante a troca de fluidos entre o plasma e o interstício. Isso pode ocorrer em função da compressão dos vasos linfáticos por inchaço inflamatório ou neoplásico, constrição de vaso linfático causado por fibrose ou bloqueio de um vaso linfático por trombo. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DO EDEMA O edema é morfologicamente caracterizado por um fluido transparente a levemente amarelo que geralmente contém pequena quantidade de proteína (transudato), que aumenta e expande o interstício afetado. Histologicamente, o edema é amorfo, com fluido eosinofílico pálido (coloração de hematoxilina e eosina [H&E]) em função do conteúdo proteico. Significado clínico é variável, depende da localização. Macro: Frio. HEMOSTASIA É um processo finamente regulado que envolve predominantemente interações entre endotélio, plaquetas e fatores da coagulação que ocorre somente no local do ano, sem afetar a fluidez e fluxo do sangue. A interrupção no delicado equilíbrio da hemostasia pode resultar em estados patológicos de perda de sangue (hemorragia) ou formação inapropriada de trombo (trombose). Quando o enedotélio ativa, ele produz ou responde aos mediadores que induzem a vasoconstrição, aumentando a adesão e a agregação plaquetária e estimulando a coagulação. Rebeca Woset DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS Os fatores da coagulação são proteínas plasmáticas produzidas principalmente pelo fígado. Sua finalidade na hemostasia é formar a fibrina. Os fatores de coagulação são divididos em: (1) um grupo de contato estruturalmente relacionado e funcionalmente independente (pré-calicreína, cininogênio de alto peso molecular [HMWK] e fatores XII e XI); (2) um grupo dependente de vitamina K (fatores II, VII, IX e X); (3) um grupo fibrinogênio muito instável (fatores I, V, VIII e XIII). Grupo de fatores de contato é ativado pelo contato com o colágeno ou com componentes subendoteliais para iniciar a coagulação pela via intrínseca. A via extrínseca da coagulação é ativada pela liberação do fator tecidual (TF, fator III) pelas células danificadas. PROCESSOS HEMOSTÁTICOS A sequência de eventos que contribui para a hemostasia apresenta: (1) vasoconstrição transitória e agregação plaquetária para formar o tampão plaquetário no local do dano (hemostasia primária); (2) coagulação para formar uma rede de fibrina (hemostasia secundária); (3) fibrinólise para remover o tampão plaqueta/fibrina (retração do trombo); (4) reparo tecidual no local danificado A, Após a lesão vascular, fatores neuro-humorais locaisinduzem uma vasoconstrição transitória. B, Após a injúria endotelial e o rompimento que expõe a matriz extracelular subendotelial (ECM), as plaquetas aderem à ECM via fator de von Willebrand (vWF) e então são ativadas, passando por uma alteração na sua forma e liberação granular; a liberação de adenosina difosfato (ADP) e o tromboxano A2 (TXA 2) levam a mais agregação plaquetária para formar o tampão hemostático primário. C, A ativação local da cascata da coagulação (envolvendo fatores teciduais e os fosfolipídios plaquetários) resulta em polimerização da fibrina, “cimentação” das Rebeca Woset DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS plaquetas no tampão secundário definitivo. D, Mecanismos contrarregulatórios, tais como a liberação do ativador de plasminogênio tecidual (tPA) (fibrinolítico) e a trombomodulina (interferindo com a cascata da coagulação), limitam o processo hemostático ao local da lesão. HEMOSTASIA PRIMÁRIA Hemostasia primária inclui a resposta vascular e plaquetária inicial à lesão. Estímulos neurogênicos e mediadores liberados localmente pelo endotélio e plaquetas causam vasoconstrição imediatamente após o dano. A natureza e a efetividade da vasoconstrição são parcialmente determinadas pelo tamanho do vaso afetado, pela quantidade de músculo liso que ele contém e pela integridade endotelial. HEMOSTASIA SECUNDÁRIA Na maioria dos casos de dano vascular, a formação da fibrina é importante para a prevenção da perda de sangue. A fibrina é o produto final de uma série de reações enzimáticas envolvendo fatores da coagulação, cofatores não enzimáticos, cálcio e fosfolipídios de membrana derivados principalmente de plaquetas. DISSOLUÇÃO DO TROMBO A dissolução da fibrina (fibrinólise) é iniciada imediatamente após a lesão do vaso pela quebra da proteína plasmática plasminogênio em plasmina. O plasminogênio adsorve a fibrina dentro do trombo, de modo que após a ativação a plasmina é localizada no sítio do trombo. CHOQUE O choque (colapso cardiovascular) é uma dis- homeostasia circulatória associada à perda de volume sanguíneo circulante, redução no rendimento cardíaco e/ou resistência vascular periférica inapropriada. Embora as causas possam ser diversas (p. ex., hemorragia severa ou diarreia, queimaduras, trauma tecidual, endotoxemia), os eventos subjacentes do choque são similares. A hipotensão resulta em perfusão tecidual prejudicada, hipóxia celular e uma mudança para o metabolismo anaeróbico pelas células, degeneração e morte celular. Os efeitos da hipoperfusão são inicialmente reversíveis, mas a persistência do choque resulta em lesão celular e tecidual irreversível. O choque é rapidamente progressivo e ameaçador à vida quando respostas compensatórias são inadequadas. O choque pode ser classificado em três tipos diferentes, com base nos problemas subjacentes fundamentais: (1) cardiogênico, (2) hipovolêmico (3) má distribuição sanguínea. O choque atribuído à má distribuição pode ainda ser dividido em choque séptico, choque anafilático e choque neurogênico. CHOQUE CARDIOGÊNICO O choque cardiogênico resulta da falência do coração em bombear adequadamente o sangue. Em todos os casos ocorre um decréscimo na queda do volume e no rendimento cardíaco. Os principais mecanismos compensatórios (p. ex., estimulação simpática do coração) que aumentam a contratilidade cardíaca, o volume circulante, o rendimento cardíaco total e a taxa cardíaca têm sucesso variável, dependendo da natureza do dano cardíaco e da capacidade do coração danificado em responder. Uma compensação malsucedida leva à estagnação do sangue e à hipoperfusão tecidual progressiva. CHOQUE HIPOVOLÊMICO O choque hipovolêmico surge de uma redução no volume sanguíneo circulante como resultado da perda de sangue causada por hemorragia ou em consequência da perda de fluido secundária a vômito, diarreia ou queimadura. O volume sanguíneo circulante reduzido leva à redução na pressão vascular e à hipoperfusão tecidual. Rebeca Woset DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS Mecanismos compensatórios imediatos (p. ex., vasoconstrição periférica e movimento de fluido para o plasma) agem para aumentar a pressão vascular e manter o fluxo de sangue para tecidos críticos, tais como coração, cérebro e rins. A pressão aumentada fornece força adequada pela qual os mecanismos locais podem aumentar o fluxo sanguíneo com base em suas necessidades. Pode ocorrer uma perda de cerca de 10% de volume sanguíneo sem diminuição na pressão do sangue ou no rendimento cardíaco. MÁ DISTRIBUIÇÃO SANGUÍNEA A má distribuição sanguínea é caracterizada por resistência vascular periférica reduzida e acúmulo de sangue nos tecidos periféricos. Isso é causado por vasodilatação neural ou induzida por citocina, que pode resultar de situações como trauma, estresse emocional, hipersensibilidade sistêmica a alérgenos ou endotoxemia. A vasodilatação sistêmica resulta em aumento drástico na área microvascular e, embora o volume sanguíneo seja normal, o volume sanguíneo efetivo em circulação é diminuído. A não ser que mecanismos compensatórios possam sobrepujar o estímulo para a vasodilatação, há acúmulo e estagnação do sangue com subsequente hipoperfusão do tecido. O choque anafilático é uma hipersensibilidade do tipo I generalizada. As causas comuns incluem exposição a insetos ou alérgenos de plantas, fármacos ou vacinas. A interação de uma substância estimulante com a imunoglobulina E ligada aos mastócitos resulta em degranulação generalizada dos mastócitos e liberação de histamina e outros mediadores vasoativos. subsequentemente, ocorre vasodilatação sistêmica e aumento na permeabilidade vascular, causando hipotensão e hipoperfusão tecidual. O choque neurogênico pode ser induzido por trauma, particularmente trauma ao sistema nervoso, eletrocussão, como por um relâmpago, medo ou estresse emocional. Em contraste com o choque anafilático e endotóxico, a liberação de citocinas não é um fator principal na vasodilatação periférica inicial. Em vez disso, ocorre uma descarga autonômica que resulta em vasodilatação periférica, seguida por acúmulo de sangue venoso e hipoperfusão. O choque séptico é o tipo mais comum de choque associado à má distribuição de sangue. No choque séptico a vasodilatação periférica é causada por componentes de bactérias ou fungos que induzem a liberação de quantidade excessiva de mediadores vasculares e inflamatórios. A causa mais comum de choque séptico é a endotoxina, um complexo de lipopolissacarídeo (LPS) dentro da parede da célula de bactérias gram-negativas. Menos frequentemente, peptidoglicanos e ácidos lipoteicoicos de organismos gram-positivos iniciam o choque. A liberação de LPS das bactérias em degeneração é um potente estímulo para muitas das respostas do hospedeiro induzidas por agentes infecciosos. ESTÁGIOS E PROGRESSÃO DO CHOQUE
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