Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 TUTORIA PROLIFERAÇÃO – PROBLEMA 5 Metástase INVASÃO LOCAL Uma das diferenças de uma neoplasia benigna para maligna é que, nas neoplasias benignas, ela continua no seu sitio de origem, ela não tem capacidade de se infiltrar, invadir ou de fazer metástase para locais distantes, já as neoplasias malignas têm essas capacidades. Temos como exemplo os adenomas, eles têm uma expansão lenta, a maioria desses adenomas desenvolvem uma capsula fibrosa em volta, e é essa capsula que separa ele do tecido hospedeiro. Essa cápsula provavelmente é derivada do estroma do tecido hospedeiro, uma vez que as células parenquimatosas vão se atrofiar por causa da pressão do tumor que está se expandindo. O estroma do próprio tumor também pode contribuir para a cápsula. Porém, nem todas as neoplasias tem essa capsula fibrosa em volta dela. Por exemplo, o leiomioma do útero é nitidamente demarcado da musculatura lisa circundante por meio de uma zona de miométrio normal comprimido e atenuado, mas não há uma cápsula bem desenvolvida. Apesar disso, existe um plano de clivagem bem definido em torno dessas lesões. Alguns tumores benignos não são encapsulados nem nitidamente definidos; essa falta de demarcação é especialmente provável de se observar em algumas neoplasias vasculares benignas da derme. Essas exceções são ressaltadas apenas para enfatizar que, embora a encapsulação seja a regra nos tumores benignos, a falta de cápsula não significa que um tumor seja maligno. Os cânceres crescem por meio de infiltração, invasão, destruição e penetração do tecido circundante. Não desenvolvem cápsulas bem definidas. Porém, tem algumas situações ocasionais em que um tumor maligno que tem um crescimento lento parece ter em volta dele o estroma do tecido hospedeiro, portanto quando observamos microscopicamente, vemos que são pequenos pedículos cancerosos que penetram a margem e se infiltram as estruturas adjacentes. Caso for tentar fazer a excisão cirúrgica de um tumor maligno e por exemplo, se aconteceu a infiltração no tecido, é necessário remover toda a margem em volta do tecido normal. 2 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Patologistas cirúrgicos examinam cuidadosamente as margens dos tumores ressecados para assegurar que elas são desprovidas de células cancerosas (margens livres). Além do desenvolvimento de metástases, a invasividade local é a característica mais confiável que distingue os tumores malignos dos benignos. METÁSTASE As metástases são implantes secundários de um tumor, as quais são descontínuas com o tumor primário e localizadas em tecidos remotos. Mais do que qualquer outro atributo, a propriedade da metástase identifica uma neoplasia como maligna. Entretanto, nem todos os cânceres têm capacidade equivalente de se metastatizar. Em um extremo, estão os carcinomas de células basais da pele e a maioria dos tumores primários do sistema nervoso central, que têm alta invasividade local, mas raramente se metastatizam. No outro extremo estão os sarcomas osteogênicos (ósseos), que normalmente se metastatizam para os pulmões no momento da descoberta inicial. Em geral, quanto mais anaplásica e maior a neoplasia primária, mais provável será a disseminação metastática, porém, há exceções. Sabe-se que alguns cânceres extremamente pequenos metastatizam- se; por outro lado, algumas lesões de aparência ameaçadora podem não fazer isso. A disseminação prejudica muito e pode obstar a possibilidade de cura da doença; assim, obviamente, junto com a prevenção do câncer, nenhum progresso seria de maior benefício aos pacientes do que a prevenção das metástases. As neoplasias malignas disseminam-se por uma de três vias: (1) semeadura nas cavidades corporais; (2) disseminação linfática ou (3) disseminação hematogênica. A disseminação por semeadura (1) ocorre quando as neoplasias invadem uma cavidade corporal natural. Esse modo de disseminação é particularmente característico dos cânceres de ovário, que muitas vezes cobrem amplamente as superfícies peritoneais. Literalmente, os implantes podem comprometer todas as superfícies peritoneais e, ainda assim, não invadir os tecidos subjacentes. Há aqui uma situação em que a capacidade de se reimplantar em outra parte parece ser distinta da capacidade de invadir. As neoplasias do sistema nervoso central, como o meduloblastoma ou o ependimoma, podem penetrar nos ventrículos cerebrais e ser transportadas pelo líquido cefalorraquidiano para se reimplantar nas superfícies meníngeas, dentro do cérebro ou na medula espinhal. A disseminação linfática (2) é mais típica dos carcinomas, enquanto a disseminação hematogênica (3) é favorecida pelos sarcomas. 3 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Há numerosas interconexões, contudo, entre os sistemas linfático e vascular; assim, todas as formas de câncer podem se disseminar através de um ou ambos os sistemas. O padrão de envolvimento do linfonodo depende principalmente do local da neoplasia primária e das vias naturais de drenagem linfática local. Os carcinomas pulmonares que surgem nas passagens respiratórias metastatizam-se primeiro para os linfonodos bronquiais regionais e depois para os linfonodos traqueobronquiais e hilares. O carcinoma da mama surge normalmente no quadrante externo superior e dissemina-se primeiramente para os linfonodos axilares. Entretanto, as lesões mamárias mediais podem drenar através da parede torácica para os nodos ao longo da artéria mamária interna. Em seguida, em ambos os casos, os linfonodos supraclaviculares e infraclaviculares podem ser semeados. Em alguns casos, as células cancerosas parecem atravessar os canais linfáticos dentro dos linfonodos imediatamente próximos para serem capturadas em linfonodos subsequentes, produzindo as chamadas metástases saltadas. As células podem atravessar todos os linfonodos, alcançando finalmente o compartimento vascular por meio do ducto torácico. Um “linfonodo-sentinela” é o primeiro linfonodo regional que recebe o fluxo linfático de um tumor primário. Pode ser identificado por injeção de corantes azuis ou radiotraçadores próximos do tumor. A biópsia do linfonodo-sentinela permite a determinação da extensão da disseminação do tumor e pode ser usada para planejar o tratamento. Note-se que, embora o aumento de tamanho dos linfonodos próximos de uma neoplasia primária deva causar preocupações quanto à disseminação metastática, nem sempre implica envolvimento canceroso. Os produtos necróticos da neoplasia e os antígenos tumorais com frequência evocam respostas imunológicas nos linfonodos, como a hiperplasia dos folículos (linfadenite) e a proliferação de macrófagos nos seios subcapsulares (histiocitose sinusal). Assim, é necessária a verificação histopatológica do tumor dentro de um linfonodo aumentado de tamanho. A disseminação hematogênica é a via favorecida para os sarcomas, mas os carcinomas também a utilizam. Como seria de esperar, as artérias são penetradas menos prontamente que as veias. Com a invasão venosa, as células sanguíneas seguem o fluxo venoso drenando o local da neoplasia, com as células tumorais frequentemente parando no primeiro leito capilar que encontram. 4 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Como a drenagem de toda a área portal flui para o fígado e todos os fluxos sanguíneos cavais fluem para os pulmões, o fígado e os pulmões são os locais secundários envolvidos com mais frequência na disseminação hematogênica. Os cânceres que surgem próximos da coluna vertebral quase sempreembolizam-se através do plexo paravertebral; essa via provavelmente está envolvida nas frequentes metástases vertebrais dos carcinomas da tireoide e da próstata. Certos carcinomas têm propensão a crescer dentro das veias. O carcinoma de células renais muitas vezes invade a veia renal para crescer de maneira serpenteante até a veia cava inferior, alcançando algumas vezes o lado direito do coração. Os carcinomas hepatocelulares geralmente penetram radículas portais e hepáticas para crescer dentro delas nos principais canais venosos. Notavelmente, tal crescimento intravenoso pode não ser acompanhado por disseminação ampla, Muitas observações sugerem que a localização anatômica de uma neoplasia e sua drenagem venosa não pode explicar totalmente as distribuições sistêmicas das metástases. Por exemplo, os carcinomas broncogênicos tendem a envolver as suprarrenais e o cérebro, e os neuroblastomas disseminam-se para o fígado e para os ossos. Por outro lado, músculos esqueléticos, embora ricos em capilares, raramente são o local de depósitos secundários. A base molecular de tal residência tecido- específica das células tumorais é discutida posteriormente. RESUMINDO • Os tumores benignos e malignos podem ser distinguidos de outros com base no grau de diferenciação, taxa de crescimento, invasividade e disseminação distante. • Os tumores benignos assemelham-se ao tecido de origem e são bem diferenciados; os tumores malignos são mal ou completamente indiferenciados (anaplásicos). • Os tumores benignos são de crescimento lento, enquanto os tumores malignos geralmente crescem mais depressa. • Os tumores benignos são bem circunscritos e têm uma cápsula; os tumores malignos são mal circunscritos e invadem os tecidos normais circundantes. • Os tumores benignos permanecem localizados no sítio de origem, enquanto os tumores malignos são localmente invasivos e metastatizam-se para locais distantes. MECANISMO DE INVASÃO E METÁSTASE Hanahan e Weinberg subdividiram as capacidades adquiridas por uma célula cancerosa em seis classes de alterações que interferem na fisiologia normal de células e tecidos: • Auto-suficiência quanto a fatores de crescimento. 5 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 • Insensibilidade a fatores inibitórios de proliferação. • Evasão da apoptose ou morte celular programada. • Potencial replicativo infinito. • Angiogênese sustentada. • Invasão tecidual. • Metástase. A metástase é um processo complexo, constituído de várias etapas, o qual resulta das interações entre células tumorais e o microambiente tecidual onde essas células se encontram. Durante a disseminação de um tumor, as células tumorais se soltam do tumor primário (perda da interação célula- célula) e escapam do tecido de origem, em seguida invadem a matriz extracelular e migram ativamente pelo estroma intersticial, assim, induzem a formação de novos vasos sanguíneos e /ou linfáticos (angiogênese) que vão ser essenciais para a expansão da massa tumoral. Com isso, por estes mesmos vasos (sanguíneos e /ou linfáticos), as células tumorais podem alcançar a corrente sanguínea ou linfática, após atravessar a membrana basal e o endotélio dos vasos (intravasão), sobrevivem na circulação, interagem com o endotélio vascular, extravasam e, ainda, proliferam no parênquima do órgão alvo. Mais detalhadamente; A cascata metastática será dividida em duas fases: (1) invasão da matriz extracelular (MEC) (2) disseminação vascular, instalação das células tumorais e colonização. INVASÃO DA MATRIZ EXTRACELULAR A organização estrutural e função dos tecidos normais são, em grande parte, determinadas pela interação entre as células e a MEC. Como já falamos nos problemas anteriores, os tecidos são organizados em compartimentos separados um do outro por dois tipos de MEC: a membrana basal e o tecido conjuntivo intersticial. Apesar de organizados diferentemente, cada um desses componentes da MEC é composto por colágeno, glicoproteínas e proteoglicanos. Como mostrado na figura, as células tumorais devem interagir com a MEC em diversos estágios da cascata metastática. 6 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Um carcinoma deve primeiro romper a membrana basal subjacente (que vem de baixo), então atravessar o tecido conjuntivo intersticial e, em última instância, ter acesso à circulação através da penetração na membrana basal vascular. Chamamos de carcinoma o câncer que se origina de um tecido epitelial, ou seja, o tecido que recobre nossa pele e a maioria dos nossos órgãos. Esse processo é repetido ao contrário quando um êmbolo de células tumorais extravasa em um sítio distante. A invasão da MEC inicia a cascata metastática e é um processo ativo que pode ser separado em diversos passos: • “Relaxamento” das interações célula tumoral-célula tumoral. • Degradação da MEC. • Ligação a novos componentes da MEC. • Migração e invasão das células tumorais. A dissociação das células umas das outras são frequentemente o resultado das alterações nas moléculas de adesão intercelulares e é o primeiro passo no processo de invasão. As células epiteliais normais são fortemente grudadas entre si e à MEC através de diversas moléculas de adesão. As moléculas de adesão celular ou CAM's são moléculas que permitem a ligação entre as células ou entre células e a matriz extracelular. (EX: Caderinas; Selectinas; Imunoglobulinas e Integrinas.) As interações célula-célula são mediadas pela família de glicoproteínas transmembrana chamada de caderina. As E-caderinas fazem a mediação das adesões homotípicas das células epiteliais, servindo assim para manter as células epiteliais em união e para transmitir sinais entre as células. Em diversos tumores epiteliais, incluindo adenocarcinomas do cólon, estômago e de mama, a função da E-caderina é perdida. Presume-se que essa diminuição da regulação reduz a capacidade das células de se aderirem umas às outras e facilita seu desligamento do tumor primário e consequente avanço em direção aos tecidos circunjacentes (ao redor, em volta). A degradação da membrana basal e do tecido conjuntivo intersticial é o segundo passo da invasão. As células tumorais podem fazê-lo ao secretar enzimas proteolíticas, ou induzir https://pt.wikipedia.org/wiki/Mol%C3%A9culas https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lulas https://pt.wikipedia.org/wiki/Matriz_extracelular 7 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 as células estromáticas (p. ex., fibroblastos e células inflamatórias) a elaborar proteases. Muitas famílias de proteases diferentes, tais como as metaloproteinases (MMP), a catepsina D e o ativador de plasminogênio urocinase, foram relacionadas à invasão por células tumorais. As MMP regulam a invasão tumoral através da remodelação de componentes insolúveis da membrana basal e da matriz intersticial, mas também através da liberação de fatores de crescimento sequestrados na MEC. De fato, produtos de clivagem do colágeno e dos proteoglicanos também possuem efeitos quimiotáticos, angiogênicos e promotores do crescimento. Por exemplo, a MMP9 é uma gelatinase que cliva o colágeno tipo IV da membrana basal epitelial e vascular, sendo que, além disso, estimula a liberação de VEGF dos grupamentos sequestrados na MEC. Os tumores benignos da mama, cólon e estômago mostram pouca atividade da colagenase tipo IV, enquanto suas contrapartes malignas superexpressam essa enzima. Concomitantemente, as concentrações de inibidores de metaloproteinases estão reduzidas, de forma que o equilíbrio está inclinado grandemente em direção à degradaçãotecidual. De fato, a superexpressão de MMP e outras proteases foi relatada em muitos tumores. O terceiro passo na invasão envolve as alterações na ligação das células tumorais a proteínas da MEC. As células epiteliais normais possuem receptores, como as integrinas, para a laminina da membrana basal e para o colágeno que estão polarizados em sua superfície basal; esses receptores ajudam a manter as células em um estado quiescente, diferenciado. A perda de adesão nas células normais leva à indução da apoptose, enquanto que, não surpreendentemente, as células tumorais são resistentes a essa forma de morte celular. Além disso, a própria matriz se torna modificada de maneira a promover a invasão e a metástase. Por exemplo, a clivagem das proteínas de membrana basal, colágeno IV e laminina, pelas MMP2 e MMP9, gera novos sítios que se ligam a receptores nas células tumorais e estimulam a migração. A locomoção é a última etapa da invasão, impulsionando as células tumorais através da membrana basal degradada e das zonas de proteólise da matriz. A migração é um processo em múltiplas etapas, que envolve muitas famílias de receptores e proteínas de sinalização que afinal se encontram no citoesqueleto de actina. As células devem se ligar à matriz na extremidade de avanço, soltar-se da matriz na extremidade final e contrair o citoesqueleto de actina para seguir adiante. 8 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Tais movimentos parecem ser estimulados e direcionados por citocinas derivadas das células tumorais, tais como os fatores de mobilidade autócrinos. Além disso, os produtos de clivagem dos componentes da matriz (p. ex., colágeno, laminina) e alguns fatores de crescimento (p. ex., IGF I e II) possuem atividade quimiotática para as células tumorais. Não obstante, a clivagem proteolítica libera fatores de crescimento ligados a moléculas da matriz. As células do estroma também produzem efetores parácrinos de mobilidade celular, como o fator de crescimento de hepatócitos/fator de dispersão, que se liga à tirosina cinase receptora MET nas células tumorais. A concentração do fator de crescimento de hepatócitos/fator de dispersão é elevada na extremidade de avanço do tumor de cérebro altamente invasivo glioblastoma, apoiando a teoria de sua função na mobilidade. Nos últimos anos, ficou claro que as células da MEC e do estroma que cercam as células tumorais não são meramente uma barreira estática a ser atravessada pelas células tumorais, mas, pelo contrário, constituem um ambiente variado em que a sinalização recíproca entre as células tumorais e as células do estroma podem ou promover ou evitar a tumorigênese e/ou a progressão tumoral. As células estromáticas que interagem com os tumores incluem as células da resposta imune inata e adaptativa (ver adiante), assim como os fibroblastos. Uma variedade de estudos demonstrou que os fibroblastos associados ao tumor exibem expressão alterada de genes que codificam moléculas da MEC, proteases, inibidores de proteases e diversos fatores de crescimento. Portanto, as células tumorais vivem em um ambiente complexo e sempre em mudança, composto por MEC, fatores de crescimento, fibroblastos e células imunes, com conversa cruzada significativa entre todos os componentes. É fácil imaginar que tumores venham a ser dominados por subclones, os quais são mais bem-sucedidos em cooptar este ambiente para seus próprios propósitos malignos. DISSEMINAÇÃO VASCULAR E INSTALAÇÃO DAS CÉLULAS TUMORAIS Uma vez que atinjam a circulação, as células tumorais ficam vulneráveis à destruição por uma variedade de mecanismos, incluindo o estresse mecânico de cisalhamento, a apoptose estimulada pela perda de adesão (denominada anoikis) e a defesa imune inata e adaptativa. Os detalhes da imunidade tumoral serão considerados adiante. Dentro da circulação, as células tumorais tendem a agregar- se formando massas. As adesões homotípicas entre as células tumorais favorecem esse arranjo, assim como as adesões heterotípicas entre as células tumorais e as células do sangue, principalmente as plaquetas. 9 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Aformação de agregados plaqueta-tumor pode aumentar a sobrevida da célula tumoral e sua capacidade de se implantar. As células tumorais também podem se ligar e ativar os fatores de coagulação, resultando na formação de êmbolos. A interrupção e o extravasamento dos êmbolos tumorais em sítios distantes envolvem a adesão ao endotélio, seguida pelo egresso através da membrana basal. As moléculas de adesão (integrinas, receptores de laminina) e as enzimas proteolíticas, discutidas anteriormente, estão envolvidas nesses processos. A molécula da adesão CD44 apresenta interesse em particular, pois está expressa em linfócitos T normais, sendo usada por essas células para migrar através de locais selecionados nos tecidos linfoides. Tal migração é atingida pela ligação da CD44 ao hialuronato em vênulas endoteliais altas. Tumores sólidos também expressam a CD44 com frequência, o que aparenta favorecer sua disseminação nos linfonodos e outros locais metastáticos. O local em que as células tumorais circulantes deixam os capilares para formar depósitos secundários está relacionado à localização anatômica e à drenagem vascular do tumor primário, além do tropismo de certos tumores para tecidos específicos. A maioria das metástases ocorre no primeiro leito capilar disponível para o tumor. Muitas observações, contudo, sugerem que uma via natural de drenagem não explica totalmente a distribuição das metástases. Por exemplo, o carcinoma prostático se dissemina preferencialmente para o osso, os carcinomas broncogênicos tendem a envolver as suprarrenais e o cérebro, os neuroblastomas se disseminam para o fígado e para os ossos. Esse tropismo por um órgão específico pode estar relacionado aos seguintes mecanismos: • Células tumorais podem ter moléculas de adesão cujos ligantes são expressos preferencialmente nas células endoteliais do órgão-alvo. • As quimiocinas possuem um importante papel na determinação das metástases para os tecidos-alvo. Por exemplo, algumas células cancerígenas da mama expressam os receptores de quimiocina CXCR4 e CCR7. • Em alguns casos, o tecido-alvo pode ser um ambiente não permissivo – “solo infértil”, como se diz, para o crescimento de mudas tumorais. Por exemplo, apesar de serem bem vascularizados, o músculo esquelético e o baço raramente são locais onde há metástases. Infelizmente, tumores não leem textos sobre patologia, e ainda há muito a ser aprendido sobre os fatores que comandam sua disseminação. Apesar de sua “esperteza” em escapar de seu local de origem, as células tumorais circulantes são bastante ineficientes em colonizar órgãos distantes. 10 Louhainy Isabelle Rezende Miranda I Turma TXXIV I 2021.1 Dessa forma, mesmo quando as metástases estão estabelecidas, elas podem crescer apenas até tamanhos pequenos e clinicamente insignificantes. De fato, o conceito de dormência, referindo-se a sobrevivência prolongada de micrometástases sem sua progressão, é bem descrito no melanoma e nos cânceres de mama e de próstata. Apesar de os mecanismos moleculares de colonização estarem apenas começando a ser desvendados em modelos com camundongos, um padrão constante parece ser aquele no qual as células tumorais secretam citocinas, fatores de crescimento e moléculas da MEC que agem nas células estromáticas residentes, as quais, por sua vez, tornam o local metastático habitável para a célula cancerígena. Por exemplo, as metástases do câncer de mama para o osso sãoosteolíticas em razão da ativação dos osteoclastos no local metastático. As células do câncer de mama secretam a proteína relacionada ao hormônio da paratireoide (PTHRP), que estimula os osteoblastos a produzir o ligante da RANK (RANKL). O RANKL então ativa os osteoclastos, que degradam a matriz óssea e liberam fatores de crescimento embebidos nela, como o IGF e o TGF-β. Com uma compreensão molecular melhor dos mecanismos de metástase, nossa habilidade de torná-los alvos terapêuticos será grandemente aumentada.
Compartilhar