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SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 5 3. Fisiopatologia .............................................................. 7 4. Quadro Clínico ...........................................................21 5. Diagnóstico ................................................................24 6. Tratamento .................................................................25 Referências Bibliograficas .........................................29 3SÍNDROME CONSUMPTIVA 1. DEFINIÇÃO A síndrome consumptiva pode tam- bém ser encontrada como “Ema- grecimento Involuntário” em diver- sas literaturas. Ambos podem ser definidos como o estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia. Portanto, pense em uma balança na qual em um lado se encontra o gas- to de energia e do outro o consumo dessa energia. Caso a balança pese mais no gasto de energia, ocorre o emagrecimento. Consumo de energia Perda de energia Diminuição do aporte de energia E/OU Aumento do gasto energético E/OU Perda energética via urinária ou fecal Emagrecimento Involuntário Figura 1. Processo fisiopatológico básico da Síndrome Consuptiva Quando o emagrecimento ocorre de maneira involuntária geralmente está associado a alguma patologia, de- mandando avaliação e tratamento! Para abordar esse tema, devemos dominar alguns conceitos. A ca- quexia é a perda de peso associada à perda de massa muscular, poden- do haver ou não perda de gordura. É o estado mais grave do emagreci- mento. A desnutrição, por sua vez, é a deficiência de nutrientes es- pecíficos ou globais, associada ou não à perda de peso. A sarcopenia é usualmente uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempe- nho, gerando um déficit funcional no idoso. Por fim, a desnutrição energé- tico-proteica (DEP) ocorre por apor- te inadequado de energia associa- do ou não ao déficit de proteínas. 4SÍNDROME CONSUMPTIVA Para definição da síndrome consump- tiva, devemos ter em mente que tan- to o grau de emagrecimento, bem como o tempo em que ele ocorreu, devem ser avaliados sempre de acor- do com o seu peso basal anterior ao quadro de emagrecimento involun- tário! Considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de > 2% do peso basal em 1 semana, >5% em 1 mês, >7,5% em 3 meses, > 10% em 6 a 12 meses. Algumas situações devem ser avaliadas de forma espe- cíficas, como em idosos, nos quais considera-se síndrome consumptiva em perdas maiores que 5% em 6 a 12 meses e em pacientes portadores de anorexia nervosa, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas maiores que 15% em 6 meses. MAPA MENTAL: CONCEITOS IMPORTANTES SOBRE O EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO Fonte: Aula Sanarflix Caquexia Perda de peso associada à perda de massa muscular, havendo ou não perda de gordura Sarcopenia Desnutrição Desnutrição Energético-Protéica (DEP) Síndrome geriátrica. Perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando um déficit funcional Aporte inadequado de energia associado ou não ao déficit de proteínas Deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não à perda de peso 5SÍNDROME CONSUMPTIVA SE LIGA! Para não precisar gravar todos esses números, a definição mais utiliza- da de emagrecimento involuntário é a perda de >10% do peso basal em 6 a 12 meses! 2. EPIDEMIOLOGIA A síndrome consumptiva possui in- cidência semelhante entre homens e mulheres. Seus principais fatores de risco são o tabagismo, a idade avançada e um autorrelato de “mal estado de saúde”, ou seja, uma saú- de prejudicada basalmente. Esses fatores supracitados também são associados a um pior prognósti- co no emagrecimento, assim como o fator idade (pacientes idosos), defi- cientes físicos e pacientes com do- ença sistêmica crônica. DEFINIÇÃO DE SÍNDROME CONSUPTIVA Tempo Perda de peso (De acordo com o peso basal) 1 semana > 2% 1 mês > 5% 3 meses > 7,5% 6 a 12 meses* > 10%* Situações especiais: Idosos: Perdas > 5% em 6 a 12 meses Anorexia Nervosa: > 15% em 6 meses Tabela 1. Definição de Síndrome Consuptiva de acordo com o percentual da perda de peso (levando em considera- ção o peso basal) e o tempo em que ela ocorreu. (Fonte: Aula Sanarflix) MAPA MENTAL: FATORES PROGNÓSTICOS NEGATIVOS PARA O EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO Fatores Prognósticos Autorrelato de saúde precária Fonte: UptoDate, 2020 Doenças Sistêmicas Crônicas Idade Avançada Deficiências físicas Tabagismo 6SÍNDROME CONSUMPTIVA Se estima que 15 a 20% de todos adultos com mais de 65 anos te- rão emagrecimento involuntário se acompanhados e observados por um período de 5 a 10 anos. Existem diversas etiologias para a síndrome consumptiva, que serão discutidas abaixo. No tocante à epi- demiologia devemos nos atentar para as neoplasias malignas, a causa mais comum entre elas, ocorrendo em cerca de 15 a 37% dos pacientes com emagrecimento involuntário. Em seguida, existem as causas gastroin- testinais não malignas e as causas psiquiátricas, ambas representando cerca de 10 a 20% do total. Mais de 25% dos casos de emagrecimento involuntário não apresentam uma causa definida. 37% 20% 20% 23% Causas mais comuns de Emagrecimento Involuntário Câncer Doenças Gastrointestinais Psiquiátricas Outras Figura 2. Causas mais prevalentes de Emagrecimento Involuntário (Fonte: UptoDate, 2020. 7SÍNDROME CONSUMPTIVA 3. FISIOPATOLOGIA Para compreender o mecanismo fi- siopatológico da síndrome consump- tiva, devemos lembrar da balança que falamos ali em cima! A perda de peso só ocorrerá se hou- ver uma diminuição do aporte de energia e/ou um aumento do gasto energético e/ou a perda de energia por via urinária ou intestinal. Em cada patologia predisponente um desses componentes vai predominar, ou eles podem estar associados em uma mesma doença. Cada doença ou grupo de doenças associadas ao emagrecimento invo- luntário possui seu mecanismo fisio- patológico específico, que será expli- cado em seguida. Neoplasias As neoplasias culminam em ema- grecimento normalmente secundário a anormalidades metabólicas. De- vemos lembrar que o câncer é uma doença eminentemente inflamatória, portanto há uma grande produção e liberação de citocinas como a TNF alfa, IL-1, IL-6, as quais são anorexí- genas e geram saciedade precoce. Além disso, podem promover a perda de massa magra, através do estímulo aos processos de lipólise e proteóli- se. O sítio específico acometido pela neoplasia também pode gerar meca- nismos para o emagrecimento. Em exemplo, cânceres de cabeça e pes- coço podem gerar anosmia, ageusia, hiporexia, disfagia, bem como em neoplasias do Trato Gastrointestinal (TGI) pode ocorrer náuseas, vômitos, diarreia e má absorção intestinal. 8SÍNDROME CONSUMPTIVA MAPA MENTAL: MECANISMO FISIOPATOLÓGICO DO EMAGRECIMENTO NO CÂNCER Fonte: Aula Sanarflix Saciedade Precoce (estímulo anorexígeno) MECANISMO FISIOPATOLÓGICO DO EMAGRECIMENTO NO CÂNCER Lipólise e Proteólise Estímulo de hormônios catabólicos, como Adrenalina e Cortisol Exemplo: Câncer de laringe – Disfagia Perda substancial de peso Liberação de citocinas pró-inflamatórias (TNF-Alfa, IL-1, IL-6) Hipercatabolismo Mecanismos específicos do sítio de acometimento HORA DA REVISÃO! Vamos relembrar alguns importantes conceitos semiológicos? • Anosmia = Perda do olfato • Ageusia = Perda do paladar • Hiporexia = Redução parcial do apetite • Disfagia = Dificuldade para deglutir 9SÍNDROME CONSUMPTIVA O paciente portador de uma neopla- sia não consegue restabelecer o seu peso basal justamente pela conjuntu- ra anorexígena da doença, associada ao estado metabólico de gasto ener- gético acelerado (estímulos de prote- ólise, lipólise, entre outros) SE LIGA! Para revisarmos os concei- tos mais importantes sobre esse gru- pode patologias devemos lembrar que o câncer é um estado de alto consumo de energia, associado a um hipercata- bolismo (aumento dos hormônio cata- bólicos, como adrenalina e cortisol, e re- dução dos hormônios anabólicos, como a insulina) com depleção constante de nutrientes e consumo exacerbado de massa magra, que culmina em emagre- cimento involuntário. HORA DA REVISAO! Cabe aqui lem- brarmos os conceitos de anabolismo e catabolismo, ambos relacionados ao metabolismo. O anabolismo é o proces- so de construção das moléculas com- plexas, através das moléculas simples, havendo o consumo de energia. Por outro lado, o catabolismo são as rea- ções envolvidas na quebra ou degra- dação das moléculas complexas em moléculas simples, tendo como produto também a energia. Portanto, o anabo- lismo é um processo construtivo, en- quanto o catabolismo é um processo destrutivo. Doenças Gastrointestinais Nesse grupo de doenças, temos como exemplos a úlcera péptica, a doença celíaca e as doenças inflama- tórias intestinais. SE LIGA! Vamos relembrar um pouco sobre essas patologias gastrointestinais! A úlcera péptica é um defeito na muco- sa gástrica ou duodenal que se esten- de da camada muscular da mucosa até as camadas mais profundas da parede do TGI. O paciente pode se apresentar com sintomas desde dispepsia até o próprio emagrecimento involuntário. A doença celíaca, por sua vez, é uma doença do intestino delgado, carac- terizada por inflamação na mucosa, atrofia vilosa e hiperplasia de criptas intestinais, causada pela exposição e intolerância ao glúten. Com o passar do tempo, a inflamação e lesão intestinal gera uma importante má absorção e de- pleção de nutrientes para o organismo. Por fim, a doença inflamatória intes- tinal é composta por duas patologias que, apesar de distintas, se sobrepõem em algumas características, sendo elas a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn. A primeira afeta apenas o intes- tino grosso, enquanto que a doença de Crohn pode afetar qualquer segmento do TGI da boca até a região perianal. 10SÍNDROME CONSUMPTIVA Figura 3. A – Úlcera péptica visualizada endoscopicamente em parede anterior do bulbo duodenal. B – Biópsia intes- tinal demonstrando achatamento de vilosidades e hiperplasia de criptas. C- Visão endoscópica da retocolite ulcerativa (C1) e da Doença de Crohn (C2). Fonte: Medicina Interna de Cecil, 23ª Ed, 2011. Imagem: A – Úlcera péptica visualizada endoscopicamente em parede anterior do bulbo duodenal. B – Biópsia intestinal demonstrando achatamento de vilosidades e hiperplasia de criptas. C- Visão endoscópica da retocolite ulcerativa (C1) e da Doença de Crohn (C2). (Fonte: Medicina Interna de Cecil, 23ª Ed, 2011) A B C1 C2 Tais patologias podem gerar emagre- cimento por dor (durante a alimen- tação, inclusive), disfagia (principal- mente em doenças que acometem ao esôfago, como esofagite, acalásia), estado inflamatório sistêmico (se- melhante ao abordado no tópico das neoplasias) e perda de nutrientes nas fezes (síndromes disabsortivas). A clínica dos pacientes com doenças gastrointestinais pode ser caracteri- zada pela presença de anorexia, dor abdominal, disfagia, odinofagia, sa- ciedade precoce, diarreia, esteator- reia ou sangramento crônico do TGI. 11SÍNDROME CONSUMPTIVA HORA DA REVISÃO! Vamos relembrar alguns importantes conceitos semiológicos? • Anorexia = Conceito semiológico de ausência/abolição do apetite. Atentar para dife- renciação com a anorexia nervosa, uma patologia específica! • Odinofagia = Dor ao deglutir. • Esteatorreia = Fezes gordurosas e fétidas que geralmente flutuam Doenças Neurológicas As doenças neurológicas mais comu- mente associadas ao emagrecimento involuntário são o Acidente Vascular Cerebral (AVC), Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Demência e Doen- ça de Parkinson. SAIBA MAIS! Vamos relembrar um pouco sobre essas doenças neurológicas? O acidente vascular cerebral (AVC) é uma lesão cerebral aguda classificada em dois tipos: isquemia cerebral (devido principalmente a trombose, embolia ou hipoperfusão sistêmica) e hemorragia cerebral (devido a hemorragia intracerebral ou hemorragia subaracnóidea). A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é um distúrbio neurodegenerativo que causa fra- queza muscular e incapacidade, culminando em morte, com sobrevida média de três a cinco anos. Demência é um conjunto de distúrbios caracterizados por declínio na cognição envolvendo um ou mais domínios cognitivos como aprendizado e memória, linguagem, funções executi- vas, atenção, percepção perceptivo-motora e cognição social. A doença de Parkinson (DP) é uma síndrome manifestada por tremor no repouso, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. 12SÍNDROME CONSUMPTIVA O mecanismo gerador do emagreci- mento depende muito de cada pato- logia e em qual nível do sistema ner- voso ocorre o acometimento. Porém, de uma forma geral, as doenças neu- rológicas causam muitas sequelas ou déficits neurológicos permanentes, como alteração da cognição, disfun- ções motoras (tanto periférica como central, como alteração do aparelho muscular mastigatório) ou mais co- mumente a disfagia. B C D Figura 4. A – Tomografia computadorizada de crânio demonstrando acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) no hemisfério cerebral esquerdo. B – Ressonância magnética parassagital de um paciente com demência frontotemporal esquerda. C- Stephen Hawking, um dos físicos mais renomados da história que sofreu da Esclerose Lateral Amiotró- fica (ELA). D – Doença de Parkinson. Hipersinal simétrico em T2 na substância negra mesencefálica bilateralmente. Fonte: Adaptado de Medicina Interna de Cecil, 23ª Ed, 2011. 13SÍNDROME CONSUMPTIVA pois há um emagrecimento apesar do apetite preservado e muitas vezes exacerbado! Isso ocorre tan- to no Diabetes Mellitus quanto no hipertireoidismo. Há um processo de fome celular, es- timulando o paciente a se alimentar, que gera uma hiperglicemia associa- da, pois o paciente continua ingerindo os alimentos mas não há sensibilida- de à insulina ou insulina circulante para fazer o transporte da glicose para as células, permanecendo o pa- ciente nesse ciclo, o que justifica as perdas energéticas abundantes. HORA DA REVISÃO! A disfagia ocorre principalmente associada ao AVC de tronco encefálico, pois é nessa estrutura do sistema nervoso central (SNC) em que se encontra o centro da deglutição, na formação reticular bulbar. Os principais núcleos associados a deglutição são o nú- cleo do trato solitário e o núcleo ambíguo. Simplificando, ocorre uma perda de controle do tônus lingual, do reflexo de deglutição, ocorre um enfraqueci- mento generalizado da musculatura, gerando por fim a disfagia. SE LIGA! Deve-se ter em mente que o principal fator associado ao emagre- cimento nas doenças neurológicas é a disfagia! Diabetes Mellitus (DM) Nessa patologia o mecanismo fisio- patológico é um pouco mais peculiar, 14SÍNDROME CONSUMPTIVA O quadro clínico clássico, portan- to, é de polifagia, poliúria e polidp- sia. Há perda de glicose e nutrientes na urina (aumento da eliminação de urina), levando a uma perda de água (pelo componente osmolar). Essa perda justifica a polidipsia (ingestão de água aumentada) e a polifagia (in- gestão de alimentos aumentada). SE LIGA! Devemos sempre lembrar dos 3 P’s da DM: Poliuria, polidipsia e polifagia! Além do mecanismo fisiopatológico básico, os pacientes com DM podem vir a emagrecer por um evento se- cundário, como um AVC ou um Infar- to Agudo do Miocárdio (IAM). Hipertireoidismo De forma semelhante ao DM, ocor- re um estado de hipermetabolismo sistêmico pelo aumento do hormô- nio tireoidiano circulante. Portanto, também se apresenta com um ema- grecimento apesar do apetite preser- vado e/ou exacerbado. O quadro clínico que vai nos fazer pensar em hipertireoidismo em um paciente com síndrome consumptiva pode envolver sintomas como a hi- perfagia, palpitação, tremores dis- tais, sudorese quente,insônia, hi- perdefecação e presença de bócio. MAPA MENTAL: MECANISMO FISIOPATOLÓGICO DO EMAGRECIMENTO NA DIABETES MELLITUS (DM) Ingestão dos alimentos Resistência à insulina ou ausência de insulina circulante Não ocorre o transporte da glicose paras as células Fome celular Emagrecimento 15SÍNDROME CONSUMPTIVA SE LIGA! Em pacientes idosos com apatia e emagrecimento, devemos sempre lembrar do Hipertireoidismo apatético. Essa é uma forma atípica do hipertireoidismo, que acomete pessoas idosas e pode culminar em fibrilação atrial de forma aguda, portanto deve sempre ser lembrado como uma hipó- tese diagnóstica diante de um quadro clínico sugestivo! Transtornos Psiquiátricos Os transtornos psiquiátricos ocupam uma grande porcentagem das cau- sas de perda de peso não intencional, podendo corresponder a 10 a 23% dos casos. Os principais transtornos psiquiátricos associados à síndrome consumptiva são a depressão e os transtornos alimentares. A depressão possui um emagreci- mento multifatorial, onde há uma grande sobreposição de causas. Figura 5. Típica apresentação da Doença de Graves, exemplo de patologia que cursa com hipertireoidismo e sintomas clássicos do mesmo. Fonte: Endocrinologia Clínica, 6ª Ed, 2016. 16SÍNDROME CONSUMPTIVA Os transtornos alimentares, por sua vez, possuem como mecanismo fisio- patológico a obsessão pelo excesso de peso, gerando a diminuição da in- gestão alimentar de forma expressi- va, um aumento do nível de atividade física até ao excesso (vigorexia), pode gerar vômitos provocados pela culpa após cursar com uma compulsão ali- mentar (principalmente na bulimia) e utilização de medicamentos para es- timular a perda de peso. SAIBA MAIS! Os transtornos alimentares são síndromes psiquiátricas caracterizadas por comportamen- to alimentar anormal e atitudes ou crenças distorcidas sobre a alimentação, forma e peso corporal. O DSM-5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) inclui dois transtornos alimentares: a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. A anorexia nervosa é caracterizada por incapacidade ou falta de desejo de manter um peso corporal minimamente adequado, sendo definido como um peso inferior a 85% do esperado, associado ao medo de engordar. A bulimia nervosa, por sua vez, é definida como períodos recorrentes de compulsão ali- mentar (ingestão de quantidades excessivamente grandes de comidas, com uma perda de controle ao ato de comer) seguida por comportamentos compensatórios ( jejum prolonga- do, autoindução de vômitos, etc) na intenção de reverter os episódios compulsivos. 17SÍNDROME CONSUMPTIVA Uma dica semiológica é observar as mãos dos pacientes. Muitas vezes pacientes que induzem os vômitos possuem a ponta dos dedos e unhas desgastados pelo contato constante com o ácido clorídrico, sendo algo im- portante de se avaliar! SE LIGA! O Filme “O mínimo para viver” (Título Original: To the bone), 2017. Um filme da Netflix, que aborda de forma muito elucidativa como é o processo de lidar com a anorexia nervosa, além de como essa doença impacta em vários aspectos presentes e futuros da vida do paciente afetado. Vale a pena assistir! Doenças Infecciosas As doenças infecciosas crônicas le- vam ao emagrecimento pelo mesmo mecanismo de aumento do estado inflamatório geral já explicado aci- ma. As principais doenças infecciosas associadas ao emagrecimento invo- luntário são a Hepatite C, a Tuber- culose e o HIV, sendo o último uma causa oculta de emagrecimento mui- to comum! SE LIGA! O HIV, além de possui o es- tado inflamatório crônico supracitado, também leva à perda de peso através de emagrecimentos episódios pro- vocados por infecções secundárias, oportunistas, principalmente infecções do TGI. Drogas Drogas psicoativas ou não, como a cocaína, o álcool e o tabaco, agem al- terando o centro da saciedade, le- vando a um estado de anorexia du- rante o uso das substâncias. Pessoas adictas acabam por utilizar a subs- tância durante mais tempo, levando a uma diminuição da ingesta alimentar e emagrecimento expressivo. O paciente alcoolista crônico tro- ca a grande maioria das suas ca- lorias diárias apenas pelas calo- rias da bebida, gerando um grande TRANSTORNOS ALIMENTARES Anorexia Nervosa Bulimia Nervosa Incapacidade ou falta de desejo em manter o peso adequado Compulsão alimentar seguida de comportamentos compensatórios Peso inferior a 85% do esperado Autoindução de jejuns prolongados, vômitos Medo intenso de ganhar peso Tipo purgativo: Indução de vômitos ou uso de laxan- tes, diuréticos ou enemas Subtipos: Restritivo e Compulsivo/Purgativo Tipo não purgativo: Comportamentos inadequados, como prática exagerada de atividades físicas ou jejum prolongado. Tabela 2. Comparação entre as principais características dos transtornos alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa. Fonte: Medicina Interna de Cecil, 23ª Ed, 2011. 18SÍNDROME CONSUMPTIVA déficit nutricional com consequente emagrecimento. A maconha ou canabbis pode induzir o emagrecimento em seu processo de abstinência, quando o paciente pode cursar com uma síndrome composta por anorexia, emagrecimento, irritabili- dade e ocorrência de sonhos estranhos. Os opioides reduzem tanto o apeti- te, como a motilidade intestinal e a produção e liberação das secreções digestivas, promovendo a perda pon- deral em pacientes com abuso de uso dos opiáceos. A utilização das anfetaminas gera a liberação de catecolaminas a nível pré-sináptico, levando a um aumento expressivo do metabolismo basal do paciente. Porém, de forma diferente do que ocorre no hipertireoidismo, o ape- tite é perdido nesse mecanismo. A síndrome de abstinência das di- versas substâncias existentes podem gerar também um emagrecimento in- voluntário. O quadro clínico clássico da abstinência alcoólica, chamado de Delirium Tremens, é caracteriza- do pela presença de febre, tremores distais finos, alucinações e anorexia, sintomas com base adrenérgica. MECANISMOS DE EMAGRECIMENTO RELACIONADO AO USO DE SUBSTÂNCIAS Álcool Maioria das calorias consumidas provenientes do álcool, gerando deficiência nutricional Cannabis A abstinência dessa síndrome pode produzir uma síndrome caracterizada por ano- rexia, perda de peso, irritabilidade e sonhos estranhos Cocaína Alteração do centro de saciedade, com estado anorexígeno durante o uso Opioides Redução do apetite, motilidade intestinal e produção e liberação de secreções digestivas Anfetaminas Induz a liberação de catecolaminas nos terminais nervosos pré-sinápticos, gerando diminuição do apetite e aumento do metabolismo basal Tabela 3. Mecanismos de emagrecimento involuntário relacionados ao uso de substâncias. Fonte: UpToDate, 2020. Idoso Deve-se ter em mente que os ido- sos são uma população em espe- cial, cujas causas comuns de ema- grecimento podem ser lembradas de forma mais prática através dos “Dez D’s do Emagrecimento no Idoso”: Dentição (próteses mal adaptadas, dentes mal cuidados, dor ao mastigar, diminuição do paladar, lesões gengi- vais), Disgeusia (Perda do paladar associada a perda do olfato, anos- mia, com a idade), Disfagia, Diarreia, Doenças Crônicas, Depressão, De- mência (perda progressiva dos ins- tintos de fome e sede), Disfunção (perda de entes queridos, condições socioeconômicas precárias, depen- dência), Drogas, Don’t Know (Não sei – Uma boa parte dos pacientes idosos exibem emagrecimento sem uma causa conhecida). 19SÍNDROME CONSUMPTIVA MAPA MENTAL: 10 D’S DO EMAGRECIMENTO NO PACIENTE IDOSO Disgeusia 10 D’S DO EMAGRECIMENTO NO IDOSO Disfagia Diarreia Disfunção de órgãos Demência Don’t know (não sei) Dentição Drogas Doenças crônicas Depressão SE LIGA! Qual a causa mais comum de emagrecimento involuntário? Neoplasia Em um artigo realizado com 154 pacientes com perda de peso invo- luntária, observou-se a presença de mais de 1/3 dos pacientes (36,3%) portadores de câncer como a causa base do emagrecimento involun- tário,principalmente neoplasias do TGI. O restante dos pacientes pos- suía causas benignas gastrointesti- nais (26 pacientes, 16,9%) e causas psiquiátricas (16 pacientes, 10,4%). Apesar de intensas investigações, em 36 pacientes (23,3%) não se pôde encontrar uma causa específica. Cau- sas endócrinas, como DM e Hiperti- reoidismo foram raras nesse estudo, correspondendo a apenas 3,8% da amostra. 20SÍNDROME CONSUMPTIVA MAPA MENTAL – CAUSAS DE EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO Transtornos alimentares: Anorexia e Bulimia Nervosa HIV: Emagrecimento também por infecções oportunistas Dentição, Disgeusia, Disfagia, Diarreia, Doenças Crônicas, Depressão, Demência, Disfunção de órgãos, Drogas, Don’t know (Não sei) Estado Hipercatabólico Dor, disfagia, estado inflamatório sistêmico e disabsorção Sequelas ou déficits neurológicos permanentes Emagrecimento com preservação do apetite Emagrecimento multifatorial Hepatite C, Tuberculose e HIV Álcool: Troca das calorias diárias com déficit nutricional 10 D’s Do Emagrecimento Involuntário Anormalidades metabólicas: citocinas anorexígenas, proteólise, lipólise Úlcera péptica, doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais AVC, ELA, Demência e Doença de Parkinson DM e Hipertireoidismo Depressão e Transtornos Alimentares Aumento do estado inflamatório geral Alteração do centro da saciedade População especial com diversas etiologias de emagrecimento Neoplasias Doenças Gastrointestinais Doenças Neurológicas Endocrinopatias Transtornos Psiquiátricos Doenças Infecciosas Drogas Idosos Mecanismos específicos do sítio de acometimento Opiáceos: redução do apetite, motilidade intestinal e liberação de secreções digestivas O fator causal mais comum de síndrome consumptiva Anfetamina: liberação de catecolaminas e aumento do metabolismo basal Anorexia, dor abdominal, disfagia, odinofagia, saciedade precoce, diarreia, esteatorreia ou sangramento do TGI Alteração da cognição, disfunções motoras e disfagia (o principal) DM: Fome celular + Insensibilidade à Insulina Hipertireoidismo: Aumento do metabolismo basal 21SÍNDROME CONSUMPTIVA 4. QUADRO CLÍNICO Na anamnese do paciente com sín- drome consumptiva devemos focar em 3 vertentes, sendo elas: caracteri- zação da perda de peso, caracteriza- ção do apetite e a presença de sinto- mas associados. O peso é uma medida antropomé- trica fácil, simples de ser aplicada e barata, que pode auxiliar no processo de entendimento do emagrecimento. Existe sinais que demonstram ao mé- dico a perda de peso mesmo que de forma indireta, como o uso de rou- pas largas, fotos antigas ou relatos de familiares. Pacientes com peso estável que está em queda progres- siva possui um prognóstico pior que pacientes com peso em “flutuação”, quando há perda seguida de ganho ponderal intercalados. Deve-se avaliar o apetite do pacien- te de acordo com duas vertentes: se há uma diminuição do apetite e da ingesta alimentar associada ao emagrecimento ou se o apetite está preservado e até aumentado, apesar da perda ponderal. Deve-se questionar hábitos alimentares an- teriores e atuais, bem como a relação do paciente com a comida, se há ape- tite, se há compulsão alimentar, se há vômitos provocados após as alimen- tações, sua percepção da própria imagem corporal, entre outros fato- res que podem direcionar a investiga- ção da síndrome consumptiva. O ponto mais importante da anam- nese, entretanto, é a avaliação dos sintomas associados apresentados pelo paciente com emagrecimento involuntário! SE LIGA! Perdas ponderais associadas com malignidade usualmente se apre- sentam associadas a suores noturnos, febre e fadiga excessiva. Sintomas as- sociados a má absorção são a estea- torreia, perda muscular, diarreia e até hematomas, por perda da Vitamina K e consequente sangramentos espontâ- neos. Por fim, sintomas associados aos transtornos psiquiátricos podem ser os sintomas depressivos, avolia, perda do prazer nos hábitos diários, pensa- mentos e planejamentos suicidas, pre- sença de desgaste em unhas e ponta dos dedos (por vômitos forçados, como explicado anteriormente), entre outros. 22SÍNDROME CONSUMPTIVA A febre é um importante sintoma re- lacionado à perda ponderal, que pode estar presente em quadros inflama- tórios, como infecções, quadros ne- oplásicos, reumatológicos, de doen- ça inflamatória intestinal e de outras doenças sistêmicas, como Insuficiên- cia Cardíaca (IC), Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Insuficiên- cia renal (IR), dentre outras. Podem ter outras causas menos comuns não in- flamatórias, como causas mecânicas, psíquicas e por abuso de substâncias ou síndrome de abstinência. O exame físico do paciente pode de- monstrar diversos sinais de síndrome consumptiva, inclusive através da ob- servação. Imagine um paciente que entra em seu consultório com fácies emagrecida e utilizando de roupas lar- gas, isso já deve criar um alerta para investigação ponderal adequada em seu exame físico! Podemos observar a perda de mas- sa magra em conjunto com a atro- fia muscular nesses pacientes, bem como a presença de descamação cutânea, queilite (ressecamento, ra- chaduras e lesões avermelhadas em lábios) e unhas fracas e quebradiças. Com relação ao peso, deve-se obser- var a duração da perda de peso e a sua relação com o peso anterior (basal). De dados antropométricos, também é pertinente a aferição de altura e IMC, para que se possa ob- servar o grau de magreza. MAPA MENTAL – SINTOMAS ASSOCIADOS AO EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO Legenda: DII – Doença Inflamatória Intestinal Malignidades Má Absorção Transtornos Psiquiátricos Febre • Suores noturnos • Febre • Fadiga excessiva • Diarreia • Esteatorreia • Perda de massa magra • Hematomas (Deficiência de Vit. K) • Avolia • Perda de prazer nos hábitos diários • Pensamentos e planejamentos suicidas • Desgaste de unhas e ponta dos dedos • Percepção corporal distorcida • Sintoma que pode estar presente em quadros infecciosos, neoplásicos, reumatológicos, de DII, em quadros de doença sistêmica, entre outros. 23SÍNDROME CONSUMPTIVA Figura 6. Paciente com caquexia e intensa perda de massa magra corporal, com atrofia muscular generalizada. Fonte: https://bit.ly/3fVQv0S MAPA MENTAL – QUADRO CLÍNICO DA SÍNDROME CONSUPTIVA Anamnese: Perda de peso, apetite e sintomas associados Quadro Clínico da Síndrome Consumptiva Peso: medida fácil, simples, barata. Medidas indiretas do peso (roupas largas, fotos antigas) Investigar cronologia e padrão da perda de peso. Perda de peso progressiva: Pior prognóstico! Controle dos dados antropométricos Exame Físico: Atrofia muscular, descamação e queilite cutânea Apetite: diminuição ou abolição x preservação do apetite. Relação do paciente com a comida antes e após emagrecimento Sintomas associados! Descobrir a causa subjacente 24SÍNDROME CONSUMPTIVA 5. DIAGNÓSTICO Sabemos que a anamnese e o exame físico completos e detalhados levam a percepção da causa do emagreci- mento involuntário em até 90% dos casos. Feito uma hipótese de diag- nóstico etiológico, a pesquisa labo- ratorial deve ser direcionada para a causa específica. Se a sua anamnese e exame físico não foram elucidativas o suficiente para criar uma hipótese diagnóstica, a avaliação e pesquisa laboratorial pode ser elaborada em duas etapas. A primeira etapa é a investigação de inflamação, através de hemograma (leucograma), PCR, VHS. Se houver uma carga inflamatória elevada, au- menta-se a suspeição sobre neopla- sias e doenças sistêmicas crônicas. A segunda etapa é pautada pela pes- quisa etiológica específica, tentan- do criar um direcionamento de acordo com algum sintoma ou achado labo- ratorial da primeira etapa. A pesquisa de doenças sistêmicas é feita através de exames que, além avaliar o estado sistêmicoem geral do indivíduo, tam- bém vai observar se há um estado inflamatório. Deve-se solicitar VHS, bioquímica sérica, hemograma, en- zimas hepáticas, albumina, TSH, urina tipo I. Com relação à pesqui- sa de etiologias específicas, pode-se solicitar a pesquisa de sangue ocul- to nas fezes, mamografia, Papani- colau, PSA, Endoscopia digestiva Alta (EDA), colonoscopia, entre ou- tros exames que possam melhor dire- cionar para uma suspeita. FLUXOGRAMA – AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DO EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO Anamnese e Exame físico: Diagnóstico em até 90% dos casos 2ª Etapa: Avaliação de etiologias específicas – Perfil hepático, albumina, TSH, Urina Tipo I, sangue oculto em fezes, mamografia, Papanicolau, PSA, EDA, colonoscopia trocar trocarPesquisa laboratorial direcionada para a hipótese diagnóstica Presença de estado inflamatório: Suspeita de neoplasias e doenças sistêmicas crônicas trocar trocar Sem hipótese diagnóstica: Pesquisa laboratorial em duas etapas 1ª Etapa: Investigação de quadro inflamatório – VHS, PCR, Hemograma (leucograma) 25SÍNDROME CONSUMPTIVA 6. TRATAMENTO O tratamento da síndrome consump- tiva é sempre multidisciplinar! O primeiro passo é tratar a causa base, sendo a etapa mais importante do tratamento, porque é o que garan- te ao paciente o retorno do ganho de peso. NA PRÁTICA! Vamos pensar no tratamento direcionado para as principais causas bases? Caso 1: Senhor Fernando, 52 anos, homem, branco. Comparece ao ambulatório com queixa de má digestão e “dor na boca do estômago” há 8 meses. Relata que estava hígido até que passou a cursar com dispepsia e fazer uso de antiácidos. Há cerca de 5 meses passou também a apresentar sensação de plenitude gástrica e dor em epigástrio, sem irradiação, que progressivamente se tornou contínua porém suportável. Passou a apre- sentar anorexia, associada a perda de 10kg desde o início do quadro. IS: Refere constipação intestinal e fezes duras, anorexia intensa. Apresenta episódios de vômito quando força a alimentação. Nega hematêmese, melena e eructações. HF: Pai e tia paterna falecidos por câncer de estômago. Mãe viva e saudável. 8 filhos, saudáveis. HV: Tabagista 36 maços/ano (1 maço/dia há 36 anos). Exame Físico: Mal estado geral e nutricional, fácies emagrecida. Mucosas hipocoradas +++/IV. PA 90x60 mmHg, FC 100bpm, FR 22ipm, T 36°C, Peso 54kg, Altura 1,70, IMC = 18.68 kg/m². Cabeça e Pescoço: Prótese dentária mal adaptada, sem lesão gengival. Abdome: Plano, sem circulação colateral. Doloroso à palpação superficial e profunda do epigástrio, onde se palpa massa de consistência sólida, de limites imprecisos, aderido aos planos profundos, de cerca de 9 cm. Restante do exame físico sem alterações. Hipótese diagnóstica: paciente com queixas digestivas crônicas, perda de peso e massa epigástrica palpável tem como diagnóstico mais provável um tumor maligno de estômago. Tratamento: O paciente possui indicação de laparoscopia para estadiamento cirúr- gico do tumor e realização de gastrectomia total na dependência dos achados. Caso 2: Ana, 27 anos, mulher, negra. Comparece ao ambulatório com queixa de diarreia com consistência líquida há 2 meses, 6-8 evacuações/dia, com presença de sangue e muco. Refere tenesmo e dor abdominal em tipo cólica associada, difusa, sem irradiação. Refere perda de peso não quantificada, porém comparece à consulta com roupas bem largas para o seu corpo. Além disso, refere astenia, ressecamento e descamação da pele. IS: Nega febre ou outros sintomas. HV: Nega tabagismo ou alcoolismo. Refere alimentação saudável e realização de ativida- des físicas moderadas, 3x/semana, cerca de 30 minutos. ► 26SÍNDROME CONSUMPTIVA HF: Mãe hipertensa diabética. Exame Físico: Sem alterações. O exame de colonoscopia demonstrou as seguintes alterações: Figura 7. Foram encontrados exsudato fribinomucoide, erosões, ulcerações superficiais, padrão vascular anormal, perda de haustrações, mucosa atrófica e pseudopólipos.Biópsia realizada a partir da colonoscopia afastou tuber- culose intestinal, herpes, citomegalovírus e câncer. Presença de distorção em graus variáveis da arquitetura das criptas da mucosa, infiltrado neutrofílico e depleção de células caliciformes, juntamente às imagens macroscópicas do cólon. Fonte: https://www.sanarmed.com/caso-clinico-retocolite-ulcerativa-ligas Hipótese Diagnóstica: Paciente com quadro de diarreia crônica baixa, com perda de peso associada e colonoscopia altamente sugestiva de Retocolite Ulcerativa. Tratamento: Tratamento Ambulatorial com Sulfassalazina. Caso 3: Júlia, 13 anos, menina. Paciente estudante do ensino fundamental. Pais procura- ram ambulatório por preocupação com peso corporal da filha, além de presenciar episódios de vômitos induzidos após as refeições e recusa da jovem em se alimentar por se apre- sentar “acima do peso”, segundo a paciente. Os sintomas se intensificaram no último mês, quando fez um teste para seleção de atriz mirim de uma grande emissora nacional, sendo reprovada no mesmo. Durante a consulta, vestia roupas largas, calças e camisa cumprida. Pele seca, com perda de esmalte dentário evidente. IMC = 16,8km/m2. Hipótese diagnóstica: Paciente com percepção corporal alterada, episódios de vô- mito e recusa alimentar constantes. O quadro se configura como uma sobreposição entre a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. Tratamento: Tratamento multidisciplinar, com psiquiatria, terapia cognitivo-compor- tamental (TCC), nutricionista e médico clínico geral. 27SÍNDROME CONSUMPTIVA Entretanto, deve-se também realizar uma avaliação psicossocioeconô- mica, em busca de patologias psiqui- átrica e causas de cunho psicossociais para o emagrecimento, que possam ser trabalhadas pela Psicologia, bem como pela Assistência Social. O restante do tratamento envolve a avaliação bucal e da deglutição, que engloba tanto a Odontologia como a Fonoaudiologia e Fisioterapia. Uma avaliação física e nutricional elabo- rada é demandada, para que haja um apoio pelo Nutricionista no processo de reganho do peso. A intervenção medicamentosa, por fim, se faz ne- cessária em alguns casos. MAPA MENTAL – TRATAMENTO DO EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO Intervenção medicamentosa em alguns casos TRATAMENTO DO EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIOAvaliação física e nutricional: Nutricionista Tratamento da Causa base: Etapa mais importante! Avaliação psicossocioeconômica: Psicologia e Assistência Social Multidisciplinar Avaliação bucal e da deglutição: Odontologia, Fonoaudiologia e Fisioterapia 28SÍNDROME CONSUMPTIVA MAPA MENTAL GERAL: SÍNDROME CONSUPTIVA Anorexia nervosa: perda de > 15% do peso basal em 6 meses Exame Físico: Anormalidades metabólicas – estado inflamatório Causa mais comum de emagrecimento involuntário Úlcera péptica, doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais Dor, disfagia, estado inflamatório sistêmico e disabsorção Anamnese: Peso, apetite e sintomas associados Estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína ou energia Sintomas associados: Malignidade – suores noturnos, febre e fadiga. Má Absorção – diarreia, esteatorreia, perda muscular e hematomas. Transtornos Psiquiátricos – avolia, pensamentos e planejamentos suicidas, desgaste em unhas e dedos. Febre* Multidisciplinar Tratamento da causa base Avaliação psicossocioeconômica, bucal e da deglutição, física e nutricional Anamnese e Exame Físico (90%) Quadro Clínico Diagnóstico Conceitos Importantes Fatores de Risco Tratamento Etiologias O que é? Idosos: perda de >5% do peso basal em 6 a 12 meses Perda de > 10% do peso basal em 6 a 12 meses Caquexia: perda de peso associada a perda de massa muscular, havendo ou não perda de gordura Desnutrição: deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não a perda de peso Desnutrição energético-proteica (DEP): aporte inadequado de energia, associado ou não ao déficit proteico Sarcopenia: perda de massa,força e desempenho. Síndrome geriátrica Tabagismo Idade Avançada Autorrelato de saúde precária AVC, ELA, demências e Parkinson Disfagia DM e Hipertireoidismo Emagrecimento com apetite preservado Depressão e Transtornos Alimentares Anorexia e Bulimia Nervosa Hepatite C, Tuberculose e HIV Álcool. Tabaco, cocaína, maconha, opiáceos, anfetaminas e síndrome de abstinência 10 D’s: Dentição, Disgeusia, Disfagia, Diarreia, Doenças Crônicas, Depressão, Demência, Disfunção, Drogas, Don’t Know Neoplasias Doenças Neurológicas Transtornos Psiquiátricos Drogas Doenças Gastrointestinais Endocrinopatias Doenças Infecciosas Idosos Inspeção: Fácies emagrecida, roupas largas Atrofia muscular, descamação cutânea, queilite, unhas fracas e quebradiças Dados antropométricos Laboratorial em 2 etapas 1ª Etapa: Investigação de inflamação VHS, PCR, Leuco 2ª Etapa: Investigação etiológica direcionada Perfil hepático, albumina, TSH, urina tipo I, sangue oculto em fezes, mamografia, Papanicolau, PSA, EDA e Colonoscopia 29SÍNDROME CONSUMPTIVA REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Antonio Vaz De Macedo, Manoel Otavio da Costa Rocha. Avaliação e tratamento da perda de peso involuntária e significativa. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 115-123 Gupta, R; Evans, Arthur T. Approach to the patient with unintentional weight loss. Lee Goldman, Dennis Ausiello. Cecil Medicina. 23ª Ed., Rio de Janeiro, Elsevier, 2011. Lucio Vilar. Endocrinologia Clínica. 6ª Ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Maria do Desterro Leiros da Costa, Lílian Regina Gonçalves, Egberto Reis Barbosa, Luiz Alberto Bacheschi. Alterações de Neuroimagem no Parkinsonismo. Estudo de cinco casos. Arq Neuropsiquiatr 2003; 61(2-B); 381-386. Rabinovitz M, Pitlik SD, Leifer M, Garty M, Rosenfeld JB. Unintentional weight loss. A retros- pective analysis of 154 cases. Arch Intern Med. 1986;146(1):186. 30SÍNDROME CONSUMPTIVA
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