Prévia do material em texto
Atenção Primária à Saúde .. ABORDAGEM DA SÍNDROME DISPÉPTICA NA APS Dispepsia → É um sintoma, uma vez que é subjetiva, sendo descrita como um incômodo na região epigástrica, principalmente em pontadas ou queimação .→ Presença recorrente ou persistente de dor ou desconforto epigástrico acompanhado ou não de sensação de saciedade precoce, náuseas, vômitos, pirose, regurgitação e excessiva eructação. ↪ Dispepsia = “má digestão”, “queimação” ↪ 44% da população adulta ↪ Demanda muito frequente na APS ↪ 60% dos casos - dispepsia funcional ↪ é recorrente e intermitente ↪ Erradicação da H. pylori - ↑ eficácia do tratamento ↪ 50% pacientes - recidiva em 1 ano ↪ Alta prevalência - 80% da população → Não há evidências de que solicitar exames complementares na abordagem inicial reduza a morbidade ou a mortalidade Motivos que levam o paciente a procurar ajuda médica por dispepsia: - Desejo de descartar doenças graves - História familiar de câncer gástrico - Evento estressor ou risco de vida recente - Encorajamento por familiares - Persistência ou recorrência dos sintomas - Ansiedade Dor epigástrica e demais sintomas dispépticos estão comumente associados a disfunção no esôfago, estômago e duodeno. Entretanto, também podem ser originados pelo acometimento de outros órgãos. Custo socioeconômico dos sintomas dispépticos: - Absenteísmo - Uso de fármacos - Utilização frequente dos serviços de saúde - Ausência ao trabalho Exame físico: detecta poucos achados, é importante para exclusão de organomegalias ou massas tumorais no abdômen. É comum a defesa à palpação dolorosa do epigástrio. APS: em maioria, dispepsia não investigada, tendo a causa desconhecida. Diagnóstico etiológicos possíveis: - Dispepsia funcional: 60% dos casos - Doença do refluxo gastroesofágico - Úlcera péptica: principalmente por H. pylori. - A presença do HP na população em geral é de 88%, mas menos da metade desenvolve uma patologia. - Câncer - mais raro - Gastrite LEMBRETE: Gastrite e dispepsia são diferentes, sendo a gastrite uma doença caracterizada pela inflamação da parede estomacal visível na EDA. A dispepsia é um sintoma e a gastrite uma doença. A gastrite pode ter como sintoma a dispepsia. Pode-se dividir, didaticamente, a dispepsia em: A. Dispepsia não investigada B. Dispepsia funcional: não tem uma causa patológica bem definida C. Dispepsia ulcerosa DISPEPSIA NÃO INVESTIGADA: . x Pacientes podem se beneficiar de medidas gerais e/ou supressão ácida apenas x Pacientes com sinais de alerta: - Exames complementares: exames bioquímicos, endoscopia digestiva alta ou radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno se a endoscopia for indisponível. - Encaminhando-os para especialista: gastroenterologista e cirurgião geral. Com a maior brevidade possível!! x Devemos conhecer os recursos de saúde disponíveis na localidade e as características da região. x Devemos racionalizar a abordagem diagnóstica - SUS: apenas endoscopia. x H. pylori: quando não é possível realizar a endoscopia, inicia-se direto a antibioticoterapia mesmo sem testagem, devido a alta prevalência da bactéria. Para evitar resistência antibiótica, sempre tentamos tratamento com IBP e se sem efeito em 1 mês, iniciamos a antibioticoterapia. x Manejo: tratamento não farmacológico e/ou tratamento farmacológico. x Tratamento farmacológico na APS: omeprazol 20mg em jejum por 1 mês. Avaliar uso de 40mg. - Se não funcionar ou recidiva: claritromicina + amoxicilina + iBP por 7 a 14 dias. - O uso de antiácidos sob demanda pode ser suficiente para muitos pacientes. Devemos orientá-los sobre. x Tratamento não farmacológico: alimentação saudável, controle de peso, cessação do tabagismo, evitar desencadeantes, evitar comer muito, evitar AINEs, fazer psicoterapia. DISPEPSIA FUNCIONAL: . x Também chamada de Síndrome pseudo ulcerosa, dispepsia não ulcerosa e dispepsia nervosa. x CRITÉRIOS DE ROMA III: Presença de sintomas presumidamente originados na região gastroduodenal, na ausência de qualquer doença orgânica, sistêmica, ou metabólica identificável, cujos critérios clínicos compreendam: 1. Um ou mais sintomas presentes pelos últimos três meses com início de sintoma pelo menos seis meses antes do diagnóstico: ○Estufamentos pós-prandial desconfortável ○ Saciedade precoce ○Dor epigástrica ○Queimação epigástrica 2. Nenhuma evidência de doença estrutural (após EDA) que possivelmente explique os sintomas. x Manejo: Tratamento psicológico + tratamento farmacológico + tratamentos e/ou terapias alternativas - Tratamento psicológico: psicoterapia, hipnose, TCC. - Tratamento farmacológico: IBPs, bloqueadores H2, pró-cinéticos e antiácidos. x Mecanismos fisiológicos atribuídos a DF: distúrbios na acomodação gástrica ou relaxamento receptivo, hipersensibilidade à distensão gástrica, sensibilidade duodenal alterada a lipídios e ácidos.. ➔ Apesar de controverso, alguns autores tem recomendado prescrever medicamentos para erradicação do H. pylori em pacientes com dispepsia mesmo na ausência de sintomas de alarme. x É uma doença crônica e recorrente. x APS: em casos refratários, devemos considerar a avaliação do gastroenterologista e psiquiatra, em alguns casos. Atenção!! O tratamento pode ser frustrante para médicos e pacientes porque poucas opções terapêuticas demonstraram efetividade. Lembrete: pacientes com câncer de esôfago ou estômago raramente apresentam apenas sintomas dispépticos. Em geral, esses pacientes tem sinais de alarme que identificam eles como pacientes de risco aumentado de causas estruturais para seus sintomas, incluindo câncer e úlceras. DISPEPSIA ULCEROSA: . x Teve enorme impacto na morbidade e mortalidade até as últimas décadas do século XX. x Marcos históricos à queda das taxas: desenvolvimento dos IBPS e tratamento da HP. x Doença derivada da acidez -> Causa infecciosa x Sintoma dominante: dor epigástrica acompanhada ou não de outros sintomas. x São crônicas e podem ser assintomáticas. x Causas: - AINES - H.pylori - Tabagismo x Complicações: - Perfuração: menos frequente - Sangramento: mais severa - Obstrução x Diagnóstico pela EDA! - A biópsia da mucosa é essencial. - É necessário suspender alguns medicamentos antes da EDA, pois podem alterar a biópsia. Principalmente antibióticos que devem ter sido interrompidos 4 semanas antes para não reduzir a sensibilidade da pesquisa da Hp, exceto quando feita para confirmar erradicação - É recomendável repetir a EDA para confirmar a cura da úlcera péptica e descartar neoplasia ÚLCERA ≥ 5mm EROSÃO < 5mm x Tratamento: - H. pylori: clavulanato + amoxicilina + IBP ↪ A duração do tratamento é variável. - Demais causas: melhora de hábitos + supressão da causa + IBPs e outros tratamentos farmacológicos Abordagem na APS . x Anamnese: - Detectar sinais de alerta - Pensar se há a possibilidade de diagnósticos diferenciais - Definir a frequência dos sintomas e correlacionar a hábitos. - Identificar o uso de medicamentos que contribuam para os sintomas x SEMPRE ter uma abordagem centrada na pessoa e compreender além dos sintomas, tentar entender os medos, expectativas e correlações que ela estabelece acerca do que sente. Isso facilita a corresponsabilização e aumenta a taxa de sucesso do tratamento e das mudanças de hábito. x Paciente com histórico de úlcera péptica → associar iBP quando for prescrever AINE. x Exames solicitados: - EDA: padrão ouro para o diagnóstico de lesões estruturais e causas da dispepsia. ↪ Deve ser feita a biopsia do tecido gastrico. ↪ Indicações na APS: - Apenas para pacientes com sinais de alerta para exclusão de doença orgânica grave. - Pacientes>55 anos quando os sintomas persistem, independente de tratamento adequado inicial, pois o risco de câncer gástrico é aumentado. x Tratamento para: - Dispepsia não investigada: inicialmente IBPs, se houver falha terapêutica iniciar antibioticoterapia. - Dispepsia funcional:psicoterapia, iBPs, pró-cinéticos, antiacidos e terapias alternativas (controverso, mas comum de encotrarmos na APS) - Dispepsia ulcerosa: amoxicilina + claritromicina + iBP + mudança de hábitos. Considerar suspensão de AAS. x Referenciar quando achados na EDA suspeitos de malignidade e se a EDA não estiver disponível na APS DISPEPSIA ↓ Sim ← Sinais de alerta? → Não ↓ ↓ Endoscopia Dispepsia Não Investigada ↓ Revisar medicamentos utilizados ↓ Melhora dos sintomas?← iBP 4 a 6 semanas ↓ ↓ Sim Não ↓ ↓ Autocuidado Tratar Hp ↓ Amox + Claritromicina + iBP → Melhora dos sintomas? ↓ ↓ Sim Não ↓ ↓ Autocuidado EDA