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Clara | medicina | @medclaris • Dispepsia pode ser definida como um conjunto de sintomas localizados na porção superior do abdome secundários a diversas causas • Pode manifestar-se como sensação de distensão abdominal, saciedade precoce, plenitude pós-prandial, epigastralgia cm queimação, desconforto abdominal, eructação (arroto), náuseas e vômitos. Essas manifestações clínicas muitas vezes são referidas pelo paciente como má digestão • A dispepsia pode ser causada tanto por transtornos orgânicos como por alterações funcionais (dispepsia funcional) CAUSAS ORGÂNICAS: • Úlcera péptica, DRGE, neoplasias, doenças biliopancreáticas, intolerância alimentar, medicamentos e outros processos inflamatórios ou infecciosos do trato digestivo superior DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA: • A prevalência de úlcera péptica em pacientes com queixas dispépticas é de cerca de 10%. Os principais fatores de risco são: Infecção pelo Helicobacter pylori: estima-se que o H. pylori esteja associado a 90 a 95% das úlceras duodenais e a 60 a 80% das úlceras gástricas Uso de AINHs: existem alguns fatores que aumentam o risco de úlcera quando presentes: história prévia de úlcera, idade ˃ 75 anos, uso por tempo prolongado e associado à corticoterapia ou anticoagulantes orais, por exemplo DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA: • O diagnóstico diferencial entre dispepsia e DRGE é muito difícil, uma vez que os sintomas podem coexistir • Os sintomas clássicos de DRGE são regurgitação e pirose (queimação), e podem ocorrer sintomas atípicos como tosse crônica, otite e laringite de repetição INTOLERÂNCIA ALIMENTAR: • Alguns alimentos têm sido implicados como responsáveis por quadros dispépticos. Contudo, a ingestão de certos tipos de alimentos, como café, alimentos muito condimentados, frutas cítricas, álcool e alimentos ricos em gorduras não mostraram ser um fator causal bem estabelecido de dispepsia até o momento • A ingestão alimentar não relacionada a alimentos específicos pode desencadear sintomas dispépticos em decorrência de alguns mecanismos como: Esvaziamento gástrico acelerado ou retardado Distribuição intragástrica alterada do alimento em virtude da diminuição da acomodação gástrica proximal e aumento da capacidade de acomodação antral Hipersensibilidade gástrica e intestinal aos estímulos mecânicos e químicos dos alimentos Secreção aumentada de peptídeos gastrointestinais ou hipersensibilidade a estes NEOPLASIAS GÁSTRICAS E ESOFÁGICAS: • O risco de câncer gástrico ou esofágico em pacientes com queixas dispépticas é muito baixo e estimado em menos de 1% • A incidência de câncer esofágico é maior em homens, tabagistas e com história de etilismo significativa • Os sinais e sintomas de alarme que predizem um maior risco de neoplasia são: idade acima de 55 anos, vômitos frequentes, sangramentos gastrointestinais, anemia ferropriva, disfagia, emagrecimento não Clara | medicina | @medclaris explicável e massas abdominais palpáveis. Contudo, esses fatores não seriam bons preditores da presença de neoplasia e, infelizmente, 95% das neoplasias gástricas sintomáticas já se apresentam em estádios avançados DOENÇAS GASTROINTESTINAIS NÃO PÉPTICAS: • Sintomas dispépticos são frequentes em infecções do TGI (parasitas como Giardia lamblia e Strongyloides stercoralis, tuberculose e citomegalovírus), afecções inflamatórias (doença celíaca e doença de Crohn) e infiltrativas (síndrome de Ménétrier, sarcoidose, amiloidose, linfoma e gastroenterite eosinofílica), além de poderem estar presentes na síndrome do intestino irritável e isquemia mesentérica • Os sinais e sintomas da gastroparesia (idiopática, induzida por drogas, secundária a distúrbios metabólicos, doenças sistêmicas e neurológicas) são muito semelhantes à dispepsia DOENÇAS DO SISTEMA BILIOPANCREÁTICO: • A apresentação clínica da cólica biliar é facilmente distinguível da dispepsia e, por isso, não é recomendado investigar colelitíase em todos os pacientes com queixas dispépticas, assim como não há indicação para colecistectomia se houver apenas dispepsia sem sintomas típicos de cólica biliar • As afecções pancreáticas são menos prevalentes, mas a apresentação clínica das pancreatites e do câncer pancreático podem se confundir com a dispepsia, uma vez que em ambas as situações pode haver sensação de plenitude, dor epigástrica irradiada para dorso que piora com ingestão de alimentos, náuseas e vômitos. Contudo, as desordens pancreáticas geralmente cursam com dor mais intensa e são acompanhadas de anorexia, perda de peso rápida, icterícia e outros sintomas de insuficiência pancreática (esteatorreia e diabete melito) DOENÇAS SISTÊMICAS E MEDICAMENTOS: • Várias doenças sistémicas podem ocasionar sintomas dispépticos, sendo a insuficiência coronariana uma causa que tem a necessidade de ser descartada o mais precocemente possível pela gravidade e alta mortalidade nos casos em que o diagnóstico é retardado • Principalmente em pacientes idosos, diabéticos, do sexo feminino e portadores de insuficiência renal, a dor de origem cardíaca pode se manifestar de forma atípica com dor abdominal, distensão, plenitude, náuseas e vômitos, o que dificulta o diagnóstico diferencial com dispepsia • Diabetes melito, insuficiência renal, doenças da tireoide, adrenal e paratireoide também podem ocasionar queixas dispépticas • Outro aspecto de grande importância são as queixas dispépticas provocadas por medicamentos, como AINHS, ácido acetilsalicílico (AAS), corticosteroides, antibióticos (principalmente macrolídeos e metronidazol) entre outros. O uso crônico de AAS e outros AINES pode ocasionar sintomas dispépticos em até 20% dos pacientes. Portanto, deve-se sempre dar importância ao uso de medicamentos na história clínica de todo paciente com dispepsia DISPEPSIA FUNCIONAL: • Doença mais comum em mulheres, tabagistas, usuários de AAS e história prévia de gastroenterite aguda • Definida como a presença de plenitude pós-prandial e/ou sensação de saciedade precoce e/ou dor epigástrica e/ou queimação epigástrica nos últimos 3 meses, sendo que os sintomas têm de ter iniciado há no mínimo 6 meses e nenhuma causa orgânica, sistêmica ou metabólica possa justificá-los ALTERAÇÕES DA MOTILIDADE GASTROINTESTINAL: • O retardo no esvaziamento gástrico está presente em cerca de 20 a 50% dos pacientes com dispepsia funcional. Apesar de não haver uma correlação muito fidedigna com os sintomas, a plenitude pós-prandial, náuseas e vômitos são mais frequentes nos pacientes com o esvaziamento retardado do estômago. Contudo, ainda permanece controverso se esse retardo seria apenas um epifenômeno ou se realmente contribuiria para os sintomas Clara | medicina | @medclaris • A alteração na acomodação gástrica (a incapacidade de acomodar o alimento na parte proximal do estômago, fazendo com que ele atinja o antro mais rapidamente) está presente em até 40% dos pacientes com dispepsia funcional. A saciedade precoce e a perda de peso seriam queixas associadas a esse mecanismo fisiopatológico HIPERSENSIBILIDADE VISCERAL: • A hipersensibilidade à distensão gástrica está presente em cerca de 50% (variando de 34 a 66%) dos pacientes com dispepsia funcional e seria um dos principais mecanismos fisiopatológicos da doença. A causa dessa hipersensibilidade visceral é desconhecida, podendo ser uma redução do limiar de percepção de estímulos viscerais causada por sensibilização nos mecanorreceptores intragástricos por inflamação, lesão ou defeitos intrínsecos, maior recrutamento ou excitabilidade de neurônios do corno posterior por estímulos repetitivos e/ou disfunção das vias neuronais antinociceptivas • Outro dado importante é a presença de hipersensibilidade visceral para determinados alimentos: pacientes com dispepsia funcional apresentam hipersensibilidade à infusão de lipídeos no duodeno, gerando sensação de plenitude, náuseas e distensãoabdominal. Isso não é observado com a infusão de glicose FATORES GENÉTICOS • Estudos populacionais têm sugerido que fatores genéticos contribuem para a dispepsia funcional, uma vez que há maior risco de ocorrência da doença naqueles que possuem parentes de primeiro grau e história familiar positiva para má digestão INFECÇÃO, INFLAMAÇÃO E O PAPEL DO H. PYLORI: • Dispepsia funcional tem maior incidência em pacientes com história de gastroenterites infecciosas agudas. Há poucas evidências que demonstrem clara influência do H. pylori na fisiopatologia da dispepsia funcional. Alguns defendem que a inflamação causada pela bactéria poderia influenciar na atividade motora proximal do estômago e outros afirmam que o estímulo à secreção ácida é significativamente maior naqueles H. pylori positivos FATORES PSICOSSOCIAIS: • As comorbidades psiquiátricas mais comumente associadas às queixas dispépticas são transtornos de ansiedade (os mais comuns), depressivos e somatoformes. Aqueles com transtornos psiquiátricos apresentam sintomas dispépticos mais intensos do que as pessoas sem essas comorbidades • Estudos mostram que abusos físicos ou verbais, tanto em adultos como em crianças, estão associados à dispepsia. Traumas em idades mais precoces e estresse crônico na vida adulta podem causar alterações irreversíveis no sistema de resposta ao estresse, gerando disfunção no sistema nervoso autonômico (redução do tônus vagal e alteração na via aferente da dor), com consequências na percepção dos estímulos pelo SNC e na modulação dessas informações • Contudo, ainda há dúvidas se os distúrbios psicossociais e a dispepsia seriam apenas manifestações independentes ou se os transtornos psicossociais realmente teriam algum papel na fisiopatologia da dispepsia funcional • O diagnóstico de dispepsia funcional é de EXCLUSÃO, após a investigação de outras causas ANAMNESE E EXAME FÍSICO: • O diagnóstico de dispepsia funcional depende de dados obtidos na história clínica do paciente, que é caracterizado pelos critérios de Roma III como a presença de sintomas na região gastroduodenal na ausência de qualquer doença orgânica, sistêmica ou metabólica que explique o quadro • Deve ser pesquisado se o paciente utiliza medicamentos que possam causar sintomas dispépticos, caso encontrados, devem ser suspensos sempre que puder. Nos casos em que isso não for possível, deve ser instituída uma terapia antissecretora Clara | medicina | @medclaris • Na história clínica, é importante avaliar a presença ou não de sinais de alarme. A presença de tais sinais indica necessidade de investigação adicional • A dispepsia funcional é mais comum em pacientes com depressão, ansiedade e história de abuso, portanto indícios destes distúrbios também devem ser pesquisados na anamnese • O exame físico nos pacientes com dispepsia geralmente é normal. Algumas alterações encontradas como mucosas hipocoradas e massa abdominal, podem sugerir causas orgânicas para a dispepsia. O exame clínico pode ser terapêutico para pacientes com alterações funcionais, proporcionando a tranquilidade de que os sintomas estão sendo tratados seriamente • Perguntas sobre a história familiar e social do paciente podem dar pistas da causa da dispepsia. Esclarecer dúvidas e questionamentos do paciente contribui para o controle dos sintomas. Para sintomas de longa data, leves e intermitentes, a tranquilização do paciente e modificações dietéticas e no estilo de vida podem ser as únicas medidas necessárias EXAMES LABORATORIAIS: • Deverão ser solicitados para pacientes com alterações no exame físico sugestivas de causas orgânicas e com sinais de alarme. Os exames a serem solicitados variam de acordo com o quadro clínico • Hemograma completo, eletrólitos, avaliação hepática e estudos de função tireoidiana devem ser considerados; entretanto, a relação custo-eficácia de testes laboratoriais de rotina, especialmente em pacientes jovens, não foi testado • Nível de amilase, exame de fezes para ovos e parasitas e teste de gravidez são solicitados quando necessário ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA): • A EDA permite visualização direta de úlceras pépticas, esofagite e neoplasias com alta acurácia diagnóstica, sendo o exame mais comumente indicado. • A EDA está indicada para: Pacientes com suspeita de doenças orgânicas, pois algumas delas possuem gravidade e complicações significativas Pacientes com qualquer idade que apresentam sinais de alarme Pacientes com sintomas refratários à terapia empírica inicial • Para pacientes jovens, teste não invasivo para H. pylori ou tratamento empírico com antissecretores pode ser tentado • A investigação deve ser feita, na ausência de sinais de alarme, a partir dos 55 anos • O exame ajuda na diferenciação de pacientes com causas orgânicas e necessidade de seguimento mais rigoroso de pacientes com provável distúrbio funcional • Biópsias do estômago devem ser feitas para pesquisar H. pylori e, em caso de teste positivo, os pacientes devem receber tratamento para erradicação, além de terapia para outras patologias detectadas na EDA • Para decidir entre o tratamento empírico e a endoscopia precoce, o médico deve avaliar vários fatores, incluindo nível de ansiedade, idade, presença de sinais de alarme ou sinais que aumentem a probabilidade de doença orgânica séria, presença de sintomas de refluxo e infecção pelo H. pylori • Alguns pacientes ansiosos podem ser tranquilizados pela realização de endoscopia. Em contrapartida, a repetição do exame não é recomendada, pois uma vez que o diagnóstico de dispepsia funcional seja fechado, mantém-se estável ao longo dos anos, exceto se novos sintomas ou sinais de alarme ocorrerem PESQUISA DE H. PYLORI: • O H. pylori cria uma cascata de eventos levando a inflamação gástrica e ativação imune. Portanto, parece plausível que sua erradicação possa melhorar esses sintomas. Entretanto, esta não é uma ideia universalmente aceita e os benefícios da erradicação no tratamento da dispepsia são mais limitados do que na doença ulcerosa péptica • Pela AGA, a estratégia de pesquisar e tratar o paciente com menos de 55 anos e sem sinais de alarme, pode basear-se na prevalência da bactéria na população. Em populações com alta prevalência (> 10%), Clara | medicina | @medclaris como no Brasil, a pesquisa seria a conduta preferível. Em populações de baixa prevalência (< 5%), uma estratégia alternativa é prescrever primeiramente uma terapia antissecretora empiricamente por 4 a 8 semanas. Se o paciente não responder ou apresentar recorrência do quadro em terapia, a pesquisa deve ser realizada. Tanto a estratégia de testar e tratar H. pylori como tratamento empírico com inibidores de bomba de prótons (IBP) são aceitos em áreas onde a prevalência da bactéria é intermediária, de 5 a 10% • O teste respiratório com ureia marcada é universalmente considerado padrão-ouro para diagnóstico e controle de tratamento de H. pylori, com sensibilidade e especificidade maiores que 95%. Caso o teste respiratório não esteja disponível, o teste de antígeno fecal é o método não invasivo de escolha para diagnóstico e controle de tratamento • A pesquisa de H. pylori por EDA nos pacientes dispépticos é realizada quando o exame já seria indicado ao paciente ou na indisponibilidade dos testes não invasivos. Deve ser coletada, no mínimo, uma amostra de antro e uma amostra de corpo, que serão submetidas ao teste da urease ou exame histopatológico OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES: • Cintilografia gástrica e manometria gastroduodenal devem ser reservadas para uma minoria de pacientes com vômitos frequentes sugerindo alteração na motilidade gástrica • A pHmetria esofágica ambulatorial é útil no diagnóstico de refluxo gastroesofágico em pacientes com sintomas atípicos. Entretanto, é mais custo-efetivo tratar tais pacientes com IBP empiricamente, porque a melhora dos sintomasé altamente preditiva de doença do refluxo • Eletrogastrografia e estudos baritados são realizados em grandes centros e em centros de pesquisa • USG abdominal e TC não devem ser realizadas rotineiramente, mas são indicadas quando sintomas ou exames laboratoriais sugerem doença biliopancreática ÚLCERA PÉPTICA: • A condição mais importante a ser excluída é a úlcera péptica, porque, atualmente, existe tratamento definitivo. O tipo ou padrão dos sintomas pouco ajuda na diferenciação entre úlcera péptica e dispepsia funcional. • Na prática clínica, deve-se excluir úlcera péptica por endoscopia digestiva alta, antes que se possa diagnosticar com firmeza dispepsia funcional REFLUXO GASTROESOFÁGICO: • Deve-se suspeitar de refluxo gastroesofágico em pacientes com desconforto ou dor em queimação epigástrica ou retrosternal que se irradia superiormente na direção da garganta e é aliviada por antiácidos ou drogas antissecretoras, pelo menos temporariamente CÂNCER: • Na maioria dos países ocidentais, em pessoas com menos de 55 anos, o câncer é causa rara de dispepsia. Em geral, câncer de estômago é diagnosticado em apenas cerca de 1% dos pacientes com dispepsia recorrente. Não obstante, deve-se considerar a possibilidade de neoplasia como possível causa de dispepsia, porque um diagnóstico tardio pode afetar adversamente o prognóstico DOENÇA DO TRATO BILIAR: • Colelitíase causa uma dor biliar intensa e constante no epigástrio ou no quadrante superior direito, persistindo durante horas e de ocorrência episódica. Na ausência da dor biliar característica, não há evidência que cálculos biliares estejam ligados à dispepsia • Na USG, cálculos biliares podem ser encontrados em 1% a 3% dos pacientes com dispepsia crônica, mas comumente seu achado é casual. A prevalência de cálculos biliares descobertos casualmente aumenta com a idade e são três vezes mais prevalentes em mulheres • Discinesia biliar também causa dor do tipo biliar, devendo-se a um distúrbio da motilidade do esfíncter de Oddi. Comumente, esse problema é identificado depois de uma colecistectomia Clara | medicina | @medclaris DOENÇA PANCREÁTICA: • Pancreatite crônica ou carcinoma de pâncreas podem causar sintomas que podem ser confundidos com dispepsia funcional. Entretanto, esses pacientes tendem a sofrer dores intensas, persistentes e que irradiam até as costas. Os pacientes podem ter história de fatores de risco para pancreatite (excesso de uso de bebidas alcoólicas) DISPEPSIA INDUZIDA POR MEDICAMENTO: • Medicamentos que podem causar sintomas na região abdominal superior são AINHs, alendronato, orlistat, suplementos de ferro ou potássio, digital, teofilina e antibióticos orais (especialmente eritromicina e ampicilina). Comumente, o alívio da dispepsia ocorre depois da redução da dose ou descontinuação da farmacoterapia OUTROS MEDICAMENTOS: • Diabetes mellitus pode causar empanchamento (barriga cheia) pós-prandial, saciedade precoce, náusea e vômito na presença ou ausência de gastroparesia • Radiculopatia diabética das raízes dos nervos torácicos pode causar dor abdominal superior • Distúrbios metabólicos (p. ex., hipotireoidismo, hipercalcemia) podem causar desconforto gastrointestinal superior • Cardiopatia isquêmica apresenta-se como dor abdominal superior induzida por esforço • Deve-se considerar angina intestinal (isquemia mesentérica crônica) em pacientes mais idosos, sobretudo se tabagistas. Esse distúrbio apresenta-se como dor pós-prandial associada ao receio de comer e a uma perda de peso significativa • Câncer de cólon, linfoma ou sarcoma gástrico e câncer ampular raramente causam sofrimento abdominal superior que, no início, pode ser confundido com dispepsia funcional • Doenças infiltrativas do estômago (gastrite eosinofílica), doença de Crohn e sarcoidose (grupos de células inflamatórias em diferentes partes do corpo) também raramente podem causar dispepsia • Dor na parede abdominal pode ser confundida com dispepsia funcional AEROFAGIA: • O ar deglutido com a eructação é normal, ocorrendo 3 a 4 vezes por hora • Aerofagia caracteriza-se pela deglutição de ar excessiva e inconsciente, resultando em distensão abdominal ou timpanismo. Os pacientes comunicam melhora temporária dos sintomas depois de eructar (arrotar). O diagnóstico de aerofagia pode ser confirmado pela observação de deglutição excessiva de ar entre as refeições e por repetidas eructações. O gás em excesso produz alguma perturbação da motilidade do TGI superior • O tratamento da dispepsia permanece um desafio, com baixas taxas de remissão completa e persistente dos sintomas. A estratégia integrada é a terapia mais eficaz, incluindo dieta, mudanças comportamentais, intervenções psicológicas e drogas • O tratamento medicamentoso permanece como a principal abordagem da maioria dos gastroenterologistas. No entanto, os benéficos dos medicamentos permanecem modestos. Muitos pacientes não necessitam de medicação para a dispepsia depois de terem sido tranquilizados, por isso a importância do médico explicar a causa dos sintomas e sua natureza benigna DIETA: Clara | medicina | @medclaris • Pacientes com dispepsia modificam seus hábitos alimentares para evitar os sintomas. Os tratamentos atuais têm ignorado o papel potencial da dieta. Dada a heterogeneidade da natureza do distúrbio, o desafio da abordagem da dieta encontra-se na identificação de pacientes que estejam propensos a responder a esta terapia. • Como parte da avaliação clínica, um diário para avaliar a associação temporal dos sintomas com padrões alimentares pode ser útil: Refeições gordurosas devem ser evitadas O fracionamento da dieta com refeições mais frequentes e menores parece útil Alimentos específicos que desencadeiem os sintomas devem ser evitados Deve-se estar atento também a possíveis intolerância a leite e seus derivados em pacientes portadores de deficiência de lactase ou outros elementos da dieta, como frutose e xilose, que podem ser facilmente diagnosticados por testes respiratórios específicos para cada um desses elementos, desde que se esteja atento à possibilidade de ocorrência dessas síndromes ERRADICAÇÃO DO H. PYLORI: • Os benefícios da erradicação do H. pylori no tratamento da dispepsia funcional são mais limitados do que na doença ulcerosa péptica, com 60 a 80% dos pacientes permanecendo sintomáticos depois do tratamento • Apesar da baixa taxa de melhora dos sintomas com a erradicação do H. pylori e alguns efeitos adversos associados aos medicamentos da terapia de erradicação (náuseas, sensação de plenitude, perda de apetite, constipação intestinal e diarreia), no longo prazo, os benefícios de aliviar os sintomas parecem ser custo-efetivos. Essa abordagem é defendida em quase todos os consensos atualmente • O tratamento empírico não é recomendado por causa da baixa probabilidade de alcançar melhora sintomática, preocupação com aumento da resistência aos antibióticos e redução na prevalência do H. pylori em muitos países ocidentais • Como já dito, a AGA recomenda testar e tratar H. pylori como conduta inicial em pacientes com menos 55 anos, sem sinais de alarme e se a prevalência de infecção for maior do que 10%. No Brasil, adota-se o mesmo princípio, considerando, no entanto, uma idade mais precoce para a realização do exame endoscópico TERAPIA DE SUPRESSÃO ÁCIDA: • As formas de terapia de supressão ácida amplamente disponíveis são: Antiácidos: são comumente usados, mas existem poucas evidências confirmando sua eficácia Bloqueadores H2: estudo mostrou que os bloqueadores H2 levaram à melhora dos sintomas de 54% dos pacientes, em comparação com 40% para o placebo Inibidores da bomba de prótons (IBP): estudo mostrou melhora dos sintomas em 34% dos pacientes em uso de IBP em comparação com 25% com placebo. Em pacientes que respondem à terapia inicial, é recomendado queo tratamento seja interrompido após 4 a 8 semanas e, se houver recorrência dos sintomas, outro tratamento deve ser instituído. Os IBP devem ser considerados nos casos de: pacientes H. pylori negativo, pacientes com sintomas persistentes após erradicação e locais onde a prevalência da bactéria for baixa PROCINÉTICOS: • No Brasil, os agentes procinéticos, incluindo metodopramina, domperidona e bromoprida, são usados comumente na dispepsia funcional. O uso estaria indicado principalmente para os pacientes com dispepsia tipo desconforto pós-prandial • Embora tais drogas causem melhora do esvaziamento gástrico, muitos estudos não encontraram nenhuma relação entre o esvaziamento gástrico e a melhora dos sintomas • Embora os agentes procinéticos sejam amplamente utilizados, dado o seu potencial para melhorar o esvaziamento gástrico, os resultados em dispepsia estão abaixo do esperado Clara | medicina | @medclaris ANTIDEPRESSIVOS: • Alguns estudos mostraram benefício de doses baixas de antidepressivos tricíclicos (amitriptilina e imipramina) e inibidores de receptação da serotonina (fluoxetina). • Os mecanismos pelos quais os antidepressivos levam à melhora dos sintomas de dispepsia têm sido propostos, entre eles: Redução ou alívio de fatores psicológicos e mentais que podem induzir sintomas Redução ou coordenação da excitabilidade do córtex, diminuindo assim a interferência cortical sobre o sistema nervoso entérico e ajudando na recuperação da função gastrintestinal (incluindo a motilidade, a secreção e a sensação) Elevação do limiar de sensibilidade dolorosa visceral, o que leva a considerar uma possível ação analgésica sobre o tubo digestivo dos pacientes dispépticos • Se os sintomas não melhoram depois de 8 semanas de IBP, pode ser iniciado teste terapêutico com antidepressivos tricíclicos. Parte dos pacientes continuará a ter sintomas apesar dessa abordagem e outras terapias devem ser consideradas. Não há consenso sobre a duração do tratamento e estratégias de retirada, mas em caso de melhora dos sintomas, manter a droga por cerca de 6 meses e interromper AGENTES ANTINOCICEPTIVOS: • Os agentes antinociceptivos têm a capacidade de modificar o processamento central da dor, reduzindo a hipersensibilidade visceral. No entanto, faltam evidências dos benefícios desse grupo de drogas na dispepsia funcional. Alguns disponíveis são: carbamazepina, tramadol ou pregabalina. Tais medicações podem ser consideradas em pacientes que seguem refratários a agentes procinéticos ou nos intolerantes a agentes procinéticos INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS: • Estudos utilizando psicoterapia, psicodrama, terapia cognitiva, técnicas de relaxamento e hipnose relataram melhora dos sintomas em 12 semanas. Entretanto, em 1 ano, a melhora dos sintomas não foi estatisticamente significativa
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