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Código Logístico
59174
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6582-0
9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 8 2 0
Este livro apresenta e problematiza alguns aspectos po-
líticos, econômicos, sociais e culturais do Brasil, desde o 
governo de Getúlio Vargas, iniciado em 1930, até o perío-
do contemporâneo. São analisados, do ponto de vista das 
temporalidades e das nomenclaturas históricas, os gover-
nos Provisório e Constitucional (1930-1937), o período do 
Estado Novo (1937-1945), a República Populista (1945-1964), 
a Ditadura Militar (1964-1985) e a Nova República (1985 aos 
dias atuais).
Levantando discussões historiográficas e dados atuais 
sobre a política e a sociedade brasileira, é proposto um 
exercício de reflexão crítica sobre esses últimos 90 anos de 
história do nosso país.
História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
DANIELA DOS SANTOS SOUZA | RAFAELA LUNARDI
História do Brasil 
contemporâneo: 
da Era Vargas aos 
dias atuais 
Daniela dos Santos Souza
Rafaela Lunardi
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: 061 Filmes/ WHASTENGGE/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S714h
Souza, Daniela dos Santos
História do Brasil contemporâneo : da Era Vargas aos dias atuais / 
Daniela dos Santos Souza, Rafaela Lunardi. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 
2020
140 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6582-0
1. Brasil - História - Séc. XX. I. Lunardi, Rafaela. II. Título
19-61860 CDD: 981.06
CDU: 94(81).08
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Daniela dos Santos 
Souza
Rafaela Lunardi
Mestra em Educação pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Pedagogia: Gestão 
e Docência pela Pontifícia Universidade Católica do 
Paraná (PUCPR). Graduada em História pela UFPR e 
em Letras pela PUCPR. Atuou como professora no 
ensino superior e no ensino básico. Tem experiência 
também como assessora pedagógica na área de 
ciências humanas e como gestora editorial de materiais 
didáticos. Atualmente, é autora e editora de material 
didático, físico e digital, para a educação básica e o 
ensino superior, nas áreas de linguagens e ciências 
humanas.
Doutora e mestra em História Social pela Universidade 
de São Paulo (USP). Bacharel e licenciada em História 
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atuou 
como docente no ensino superior, inclusive em cursos 
de educação a distância, e como professora no ensino 
básico. Tem experiência como assistente editorial e 
como autora de material didático, físico e digital, para 
educação básica, na área de História. É autora de 
artigos para revistas científicas e do livro Em busca do 
falso brilhante: performance e projeto autoral na trajetória 
de Elis Regina (Brasil, 1965-1976), cuja publicação foi 
resultado do Prêmio História Social (FFLCH-USP/Capes), 
em 2014.
SUMÁRIO
1 O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 9
1.1 Governo Provisório: organização política e crise do café 9
1.2 Governo Constitucional: leis trabalhistas, Código Eleitoral 
 e Constituição de 1934 16
1.3 Tensões políticas: ANL, Integralismo e PCB 21
2 A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 28
2.1 Nacionalismo e industrialização 28
2.2 Política cultural e censura 33
2.3 Brasil na Segunda Guerra Mundial 39
3 A República Populista (1945-1964) 44
3.1 Populismo, Governo Dutra e volta de Vargas 45
3.2 Governo JK: nacional-desenvolvimentismo, cultura e sociedade 56
3.3 Governos Jânio Quadros e João Goulart: tensões políticas e sociais 60
4 A Ditadura Militar: panorama dos três primeiros governos (1964-1973) 75
4.1 Início dos governos militares: Castello Branco e Costa e Silva 76
4.2 Crescimento econômico e repressão no governo Médici 84
4.3 Cultura e resistência 87
5 O processo de abertura política (1974-1985) 96
5.1 Processo de abertura política e reorganização das 
 oposições na sociedade brasileira 97
5.2 Lei da Anistia, pluripartidarismo e eleições de 1982 107
5.3 Luta pelas Diretas Já 111
6 Nova República 117
6.1 Governo Sarney 118
6.2 Governos Collor e Itamar 122
6.3 Privatizações e projetos sociais: governo FHC 125
6.4 Ampliação dos projetos sociais: governo Lula 129
6.5 Novos desafios para a democracia: governo Dilma 131
6.6 Governos Temer e Bolsonaro 136
Este livro apresenta e problematiza alguns aspectos políticos, econômicos, 
sociais e culturais do Brasil, desde o governo de Getúlio Vargas, iniciado 
em 1930, até o período contemporâneo. São analisados, do ponto de vista 
das temporalidades e das nomenclaturas históricas, os governos Provisório 
e Constitucional (1930-1937), o período do Estado Novo (1937-1945), a 
República Populista (1945-1964), a Ditadura Militar (1964-1985) e a Nova 
República (1985 aos dias atuais).
Levantando discussões historiográficas e dados atuais sobre a política 
e a sociedade brasileira, propomos um exercício de reflexão crítica sobre 
esses últimos 90 anos de história do nosso país. Para isso, com fins didáticos, 
dividimos este livro em seis capítulos.
No primeiro capítulo, analisamos o início da década de 1930 no Brasil, 
desde a Revolução de 30 até a instalação do Estado Novo, em 1937. Ao longo 
desse período, são apresentados o Governo Provisório e o Constitucional, com 
as ações políticas de Getúlio Vargas, a legislação elaborada, a participação das 
mulheres naquele contexto e o panorama político e econômico que levou à 
implantação do Estado Novo.
No segundo capítulo, fazemos uma reflexão acerca do Estado Novo, 
entre 1937 e 1945. Para tanto, são abordadas algumas medidas de Getúlio 
Vargas e as consequências políticas, econômicas e culturais que elas tiveram 
na sociedade brasileira, expondo os motivos que levaram esse período a ser 
considerado uma ditadura. Nesse momento, também propomos uma análise 
da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que 
contribuiu para o término desse período da história do nosso país. 
No terceiro capítulo, abordamos a República Populista, apresentando 
e discutindo o conceito de populismo, assim como alguns aspectos 
sociopolíticos dos governos de Eurico Gaspar Dutra e de Getúlio Vargas, já em 
seu segundo mandato. São apresentadas características gerais do governo 
de Juscelino Kubitschek e de sua política nacional-desenvolvimentista, assim 
como as tensões nos governos Jânio Quadros e João Goulart, que levaram ao 
Golpe Civil-Militar de 1964 e à volta de um regime autoritário no Brasil. 
APRESENTAÇÃO
No quarto capítulo analisamos o período da Ditadura Militar brasileira, 
conhecendo os elementos que caracterizam esse período como uma ditadura 
e algumas importantes medidas político-econômicas dos governos de Castello 
Branco, de Costa e Silva e de Médici. Em meio a esse contexto, refletimos 
sobre os impactos socioculturais dos governos dos militares, assim como as 
formas de resistência da sociedade civil, dando ênfase ao importante papel 
que desempenharam as artes, particularmente a Música Popular Brasileira 
(MPB), naquele momento.
No quinto capítulo continuamos as análises sobre a Ditadura Militar, agora 
destacando o período entre 1974 e 1985, marcado pelo processo de “abertura” 
política, durante os governos dos presidentes Ernesto Geisel e João Baptista 
Figueiredo. Nessa oportunidade, refletimos sobre os impasses ocorridos 
dentro das Forças Armadas e no seio da sociedade civil, compreendendo o 
papel de pressão política que o retorno das manifestações de rua exerceu 
sobre o regime, especialmente no ano de 1984, com a campanha pelas Diretas 
Já. A derrota das Diretas Já e a eleição indireta de Tancredo Neves também sãoaqui trabalhadas.
No sexto e último capítulo, tratamos da história da Nova República 
brasileira, abordando os governos de José Sarney, de Fernando Collor de 
Mello, de Itamar Franco, de Fernando Henrique Cardoso (FHC), de Luís Inácio 
Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Também são apresentadas algumas leituras 
recentes sobre os governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro. Nesse 
capítulo final são contemplados os impasses da redemocratização brasileira e 
os desafios que ainda enfrentamos na atualidade.
Desejamos uma ótima leitura!
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 9
O Brasil no início do governo 
Vargas (1930-1937)
Daniela dos Santos Souza
1
Neste capítulo, faremos reflexões sobre os primeiros anos 
da década de 1930 no Brasil, entre a chamada Revolução de 30 
e a instalação do Estado Novo, em 1937. Essas reflexões serão 
provocadas por perguntas elaboradas por meio de textos de 
historiadores e de personagens do período, bem como por 
imagens que apresentam diferentes pontos de vista sobre esse 
período da História do Brasil.
Na primeira seção, estudaremos o período do Governo 
Provisório: ações políticas, expectativas da população, apoios e 
descontentamentos, além dos desdobramentos da Crise de 1929.
Na segunda seção, conheceremos algumas leis do período, como 
o código eleitoral, as leis trabalhistas e a Constituição, com destaque 
para a história das mulheres em sua luta pelo direito ao voto.
Por fim, na terceira seção, examinaremos os fatos e o processo 
político responsáveis pela instalação do Estado Novo, em 1937.
Ao final do capítulo, teremos um panorama político, econômico 
e social dos primeiros anos do governo de Getúlio Vargas.
1.1 Governo Provisório: organização 
política e crise do café 
Videoaula Para iniciarmos essa seção, vamos ler as palavras abaixo, as quais fa-
zem parte do diário pessoal de Getúlio Vargas – candidato derrotado à 
presidência da República na época – escritas no dia 3 de outubro de 1930.
Se todas as pessoas anotassem diariamente num caderno seus 
juízos, pensamentos, motivos de ação e as principais ocorrências 
em que foram parte, muitos, a quem um destino singular impeliu, 
poderiam igualar as maravilhosas fantasias descritas nos livros 
10 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
de aventuras dos escritores de mais rica fantasia imaginativa.
[...] Lembrei-me disso hoje, dia da Revolução. Todas as providên-
cias tomadas, todas as ligações feitas. Deve ser para hoje, às 5 
horas da tarde. Que nos reservará o futuro incerto neste lance 
aventuroso? (VARGAS apud D’ARAUJO, 1997, p. 19)
A pergunta final revela o quanto a situação do momento era incerta: 
qual seria o resultado da ação desencadeada, nesse dia da Revolução, 
pela Aliança Liberal, formada por segmentos políticos importantes do 
Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, além dos integrantes do Par-
tido Democrático (PD) de São Paulo?
O resultado imediato foi a vitória desses revolucionários, que, no dia 
24 de outubro de 1930, depuseram Washington Luís e o levaram preso, 
deixando o governo nas mãos de uma junta militar. Poucos dias depois, 
Getúlio Vargas, um dos líderes do movimento, assumiu provisoriamen-
te a presidência do Brasil, instalada desde 1897 no Palácio do Catete, 
no Rio de Janeiro, até então capital da República.
Em 3 de novembro, ele voltava ao Palácio para a cerimônia de 
posse. A festa, muito concorrida, lotou os salões, que foram 
divididos entre os convidados da seguinte maneira: no Salão 
Pompeano, o Exército; no Salão Amarelo, a Marinha; no Salão 
Mourisco, a Polícia e o Corpo de Bombeiros; e no Salão Nobre, a 
junta governativa com seu Ministério e membros do seu gabinete. 
O povo que queria cumprimentar o presidente se comprimia no 
minúsculo Salão Silva Jardim. A cerimônia teve início às 16 horas, 
animada por uma banda de música que saudava no saguão a 
entrada e a saída das autoridades. (LUSTOSA, 2008, p. 173)
Nas palavras da historiadora Lustosa (2008), percebemos que hou-
ve aceitação do novo governo por vários setores da sociedade e, inclu-
sive, pelo povo. Mas, qual era a população do Brasil e da capital federal, 
o Rio de Janeiro, em 1930? Quais foram os primeiros atos de Getúlio 
Vargas e como a população reagiu?
Ao buscar informações sobre a população brasileira no site do IBGE, 
com base no censo demográfico de 1930, encontramos o seguinte:
O último Censo Decenal que não ocorreu: 1930
Dentro da periodicidade decenal dos censos brasileiros, prevista em 
lei, deveria realizar-se em 1930, por força do Decreto-lei nº 5.730, de 
15 de outubro de 1929, o V Recenseamento Geral da população. 
Não obstante essa previsão, motivos, principalmente de ordem po-
lítica, determinaram a sua não realização nesse ano. (IBGE, 2019)
A Fundação Getúlio 
Vargas microfilmou o 
Diário pessoal de Vargas e 
disponibilizou as imagens 
dos manuscritos de 
03/10/1930 a 27/09/1942 
em seu site, para uso de 
historiadores e demais 
pessoas interessadas 
em conhecer a história 
do período Vargas sob 
a ótica do próprio. Nele, 
estão registrados vários 
fatos estudados no capí-
tulo, possibilitando-nos 
conhecer como Vargas 
compreendia os fatos e 
construía suas narrativas 
sobre eles.
Disponível em: http://
www.fgv.br/cpdoc/acervo/
arquivo-pessoal/GV/textual/
diario-pessoal-de-getulio-vargas.
Acesso em: 06 jan. 2020. 
Leitura
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 11
Como vimos, o processo de Recenseamento Geral da população em 
1930, mesmo previsto em lei, foi afetado pelas mudanças políticas que 
ocorriam no Brasil. No mesmo site, constam dados referentes aos anos de 
1920 e 1940, indicando, na mesma ordem, uma população de 30.635.605 
e 41.165.289 de habitantes. Isso nos leva a supor que, provavelmente, em 
1930 a população totalizasse uma média entre esses dois números.
No Rio de Janeiro, como em todas as demais cidades brasileiras, 
também não houve o recenseamento em 1930. Porém, os dados do 
IBGE para a capital federal, em 1920 e 1940, indicavam uma população 
de 1.157.873 e 1.764.141, respectivamente.
A população brasileira do período tinha acesso a informações sobre o 
que estava acontecendo com o governo por meio de jornais impressos e 
dos programas de rádio, os quais começaram a surgir na década de 1920.
Em 1922, o Rio de Janeiro foi palco da primeira transmissão ra-
diofônica brasileira. A experiência pioneira aconteceu na come-
moração do centenário de nossa Independência, e o discurso do 
então presidente da República, Epitácio Pessoa, foi transmitido 
pelas ondas hertzianas (ondas magnéticas), alcançando os ouvin-
tes de Niterói, Petrópolis e São Paulo. [...]
Como primeiro veículo de comunicação de massa, o rádio tor-
nou-se parte do cotidiano de seus ouvintes, passeando do en-
tretenimento à divulgação de valores políticos e culturais (DINIZ, 
2003, p. 31).
Esse último aspecto foi o mais explorado por Getúlio Vargas e sua 
equipe: a divulgação de valores políticos e culturais. Eles perceberam 
que podiam usar esse veículo de comunicação de massa a seu favor, 
ainda que houvesse poucos aparelhos no país e que a qualidade da 
transmissão dos programas fosse bastante questionável. Em 1932, um 
decreto governamental criou o sistema de emissão radiofônica no Brasil. 
A partir de então, só poderia operar uma emissora quem possuísse uma 
concessão estatal. Com essa regra, o governo decidia a quem ceder a 
concessão e, assim, seus apoiadores passaram a ser privilegiados.
Desse modo, foi por meio desses veículos de comunicação, como 
os jornais impressos e o rádio, que a população brasileira soube das 
primeiras ações políticas e econômicas do governo de Getúlio Vargas. 
E quais foram elas?
Em relação às ações políticas, em 12 de novembro de 1930, foi pu-
blicado um decreto dissolvendo o Congresso Nacional, as Assembleias 
12 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
Estaduais e as Câmaras Municipais. O mesmo período marcou a cas-
sação da Constituição de 1891, a primeirada República, e a promessa 
de imediata convocação de uma Assembleia Constituinte. Além disso, 
o governo retirou os governantes eleitos dos estados, chamados de 
presidentes, e colocou em seu lugar os interventores, pessoas de con-
fiança de Getúlio Vargas.
Ao mesmo tempo em que Vargas suprimiu algumas instituições, 
criou outras, ainda em 1930, como o Ministério da Educação e Saúde 
Pública e o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Os dois 
ministérios exerciam funções controladoras sobre a sociedade, 
principalmente sobre as atividades ligadas aos professores e aos 
demais trabalhadores do meio urbano.
O conjunto de todas essas ações indicava que Vargas estava dispos-
to a governar de modo autoritário e centralizado. Autoritário porque 
passou a governar por decretos, já que não havia deputados para dis-
cutir e deliberar sobre suas intenções – isso sem contar que o gover-
no não mostrava intenção ou movimento para convocar a Assembleia 
Constituinte, que elaboraria a nova constituição. E centralizado porque 
retirou a autonomia política dos estados, cujos interventores passaram 
a governar de acordo com os interesses federais e não estaduais, como 
queriam as oligarquias locais.
Essas ações e interpretações, poucos dias após a posse do gover-
no revolucionário, geraram descontentamentos, principalmente em 
São Paulo, onde se localizava uma das oligarquias mais poderosas 
do período.
Desde os primeiros dias, o novo presidente enfrenta forte opo-
sição paulista, e as queixas são compartilhadas pelo tradicional 
PRP e pelo Partido Democrático (PD). Este último foi um elemen-
to ativo da Aliança Liberal. Segundo os democratas paulistas, a 
finalidade do governo provisório era garantir reformas políticas 
através da convocação de uma Assembleia Constituinte.
[...] Getúlio Vargas dá a entender que tal convocação abria cami-
nho para o retorno das oligarquias ao poder. Descontentando 
ainda mais o PD, Vargas escolhe um membro das fileiras tenen-
tistas como interventor de São Paulo (DEL PRIORE; VENANCIO, 
2010, p. 249).
Os paulistas, tanto aqueles que integravam o Partido Republicano 
Paulista (PRP) quanto os do Partido Democrático (PD), uniram-se a ou-
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 13
tros grupos descontentes, como alguns políticos do Rio Grande do Sul 
e de Minas Gerais, em oposição a Getúlio Vargas.
A pressão feita sobre o governo levou Getúlio a convocar uma As-
sembleia Constituinte, que deixava entrever, porém, um objetivo cen-
tralizador de sua parte. Os paulistas não aceitaram as intenções dessa 
convocação e começaram a organizar, em 1932, uma revolta contra o 
governo de Getúlio Vargas. Era a Revolução Constitucionalista.
a notícia de que Oswaldo Aranha, ministro da Fazenda e Finanças, 
chegaria a São Paulo para compor um novo secretariado foi a gota 
d’água para os insatisfeitos. Liderada por intelectuais e estudan-
tes, uma série de manifestações tomou as ruas da cidade, fazendo 
de alvo instituições favoráveis a Vargas. [...] na noite de 23 de maio, 
quatro estudantes – Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, 
Dráusio Marcondes e Antônio Américo de Camargo – foram mor-
tos pelos tiros de fuzis e granadas lançadas pelos defensores de 
Getúlio. A tragédia acabaria sendo considerada o marco inicial do 
Movimento Constitucionalista (CAMPOS JUNIOR, 2009, p. 64).
Tanto em São Paulo quanto nos demais lugares, havia grupos des-
contentes com o governo e outros que o apoiavam. A população estava 
dividida, como podemos ver nas fontes a seguir.
Figura 1
Comunicado em apoio a Vargas
Figura 2
Manifestação em apoio ao Movimento Constitucionalista 
Comunicado de solidariedade a Vargas, produzido por apoiadores mineiros em 
1932, informando a situação em diferentes estados do país.
Foto da manifestação na Praça da Sé, em São Paulo, em maio de 1932, em 
apoio ao Movimento Constitucionalista.
14 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
Em São Paulo, porém, houve ampla mobilização de diferentes seto-
res da sociedade em prol das ideias constitucionalistas. Foi organizada 
uma campanha chamada Ouro para o Bem de São Paulo, com a intenção 
de custear armamentos e mantimentos para as tropas paulistas. O mes-
mo ocorreu com os industriais, que passaram a produzir instrumentos 
bélicos para as tropas e enfrentar o exército do governo federal.
Apesar de toda a mobilização, o movimento foi derrotado; porém, 
atingiu boa parte dos seus objetivos, já que Getúlio Vargas convocou a 
Assembleia Constituinte e permitiu que os paulistas influenciassem a 
escolha de um novo interventor no Estado. Essa situação mostrava, ao 
mesmo tempo, a força política dos cafeicultores de São Paulo e o fato 
de que Vargas tinha fragilidades, já que, para se manter no poder, pre-
cisava fazer essas negociações com os poderosos descontentes, princi-
palmente com os representantes das oligarquias.
Atividade 1
Observe este cartaz. Ele foi feito para a divulgação dos ideais da Revolução Cons-
titucionalista de 1932. Escreva um parágrafo explicando como os revolucionários 
estão representados, como eles caracterizam o governo de Getúlio Vargas e qual 
é a mensagem do cartaz.
Em relação às ações econômicas, paralelamente às questões polí-
ticas, Getúlio Vargas precisou enfrentar as consequências da Crise de 
1929, ocorrida nos Estados Unidos e com repercussão mundial. Assim, 
ao assumir provisoriamente, Vargas tinha como uma de suas tarefas ad-
ministrar tal crise; por isso, uma de suas primeiras medidas foi centra-
lizar a compra e venda de moeda estrangeira no Banco do Brasil. Com 
isso, o governo conseguia controlar o câmbio, porém não agradava às 
oligarquias dos diferentes estados, acostumadas a fazer seus negócios 
no mercado internacional sem a interferência do governo federal.
O maior problema da economia do país se relacionava ao café, que 
representava 70% das exportações brasileiras. O Brasil tinha uma gran-
de produção cafeeira e abastecia cerca de 60% do mercado interna-
cional. Entretanto, com a crise, esse mercado deixou de comprar café, 
pois é um produto que não estava entre os de primeira necessidade, e, 
assim, seu preço começou a cair rapidamente, o que poderia levar os 
produtores brasileiros à falência. Assim, para tentar conter o problema, 
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 15
o governo decidiu comprar os estoques de café dos produtores e, sem 
encontrar outro destino para o produto, queimou boa parte dele.
A prática de queimar um produto excedente para manter o seu pre-
ço não era uma novidade no mercado internacional, nem o Brasil foi o 
primeiro a tomar essa medida. Países como Canadá, Austrália e Estados 
Unidos também queimaram seus excedentes de trigo, algodão e outros 
produtos agrícolas nesse período.
No Brasil,
De 1930 até 1944 foram queimados cerca de 78 milhões de sacas 
de café, uma quantidade suficiente, segundo alguns analistas, 
para abastecer o mercado mundial durante três anos. Mas por 
que comprar café para queimar? Comprando o produto, o go-
verno pagava ao produtor, impedindo assim sua falência. Evi-
tava também que grande quantidade do produto chegasse ao 
mercado internacional, o que depreciaria seu valor. Se os preços 
internacionais caíssem muito, fazendeiros, bancos e governo en-
trariam em bancarrota, pois todos dependiam dos impostos e 
dos lucros que o produto gerava. (D’ARAÚJO, 1997, p. 48)
Em 1933, o governo de Getúlio Vargas criou o Departamento Nacio-
nal do Café, tirando assim o controle da produção das mãos dos paulis-
tas e centralizando-o no governo federal. Além disso, fez empréstimos 
com juros mais atraentes para poder reorganizar o pagamento da dí-
vida externa, outro fator de pressão econômica. Também deu início a 
uma política protecionista, aumentando as taxas sobre os produtos im-
portados, e intervencionista, passando a tomar todas as decisões sobre 
o que e quando seria produzido no país.
Com essas ações e diante da reorganização da economia dos países 
europeus após aCrise de 1929, alguns investimentos voltaram a ser 
aplicados no Brasil. Tal situação possibilitou a recuperação do desen-
volvimento da indústria brasileira, que já havia vivido um primeiro bom 
momento na década de 1920 e sofrido um revés em 1929. A partir de 
então, o Brasil “[...] recuperou, já em 1933, o mesmo nível da produção 
industrial registrado em 1928, chegando em 1938 com produto indus-
trial 44% superior ao de 1928” (POCHMANN, 2016, p. 82).
No final da década de 1930, pela primeira vez em nossa história, o 
valor da produção agrícola foi superado pelo da industrial, a qual se 
tornou a mais importante fonte de receita do governo. A industrializa-
ção crescente imprimiu uma característica urbana ao país, levando, a 
 bancarrota: quebra, falência 
ou insolvência.
Glossário
16 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
cada década, mais pessoas a abandonarem o campo rumo às cidades. 
Para termos ideia dessa transformação, em 1920:
apenas dois em cada dez brasileiros residiam em cidades; vinte 
anos mais tarde essa mesma relação era de três para dez; na 
década de 1940, tal proporção tornara-se equilibrada: quatro em 
cada dez brasileiros moravam em áreas urbanas. A formação de 
novas cidades e o crescimento das já existentes estimulavam, 
por sua vez, a multiplicação de trabalhadores não vinculados às 
tradicionais atividades agrícolas e de industriais que não eram 
fazendeiros. (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 255)
Ainda que as mudanças tenham sido aceleradas, a população urba-
na veio a superar a rural apenas na década de 1970. Ao longo desse pe-
ríodo, porém, novas relações sociais marcaram a realidade brasileira, 
com os grupos urbanos, principalmente os de trabalhadores, ganhan-
do cada vez mais destaque na agenda governamental.
1.2 Governo Constitucional: leis trabalhistas, 
Código Eleitoral e Constituição de 1934 
Videoaula O início do governo Vargas foi marcado por mais uma preocupação: 
a existência de constantes conflitos entre trabalhadores e patrões. Isso 
porque, desde o final do século XIX, os trabalhadores urbanos, em es-
pecial os operários, organizavam protestos e greves exigindo melhores 
condições de trabalho, não aceitando as regras impostas por indus-
triais e empresários. Esses trabalhadores se inspiravam em ideias anar-
quistas e socialistas, vindas da Europa, e discutiam possíveis formas de 
colocá-las em prática no Brasil.
A intenção de Getúlio Vargas era encontrar meios de superar esses 
conflitos, controlando o movimento dos trabalhadores. Por isso, come-
çou a propor que o Estado atuasse como intermediário nas relações 
entre patrões e trabalhadores. Desse modo, a ideia era conquistar a 
paz social, além de harmonia e colaboração entre as partes. Essa con-
quista era importante para Vargas, que pretendia fortalecer sua posi-
ção no meio urbano, valorizando sua relação com operários, patrões 
e exército, com o intuito de combater com mais força as oligarquias, 
ligadas ao mundo rural.
Dessa forma, após a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e 
Comércio, o governo começou a regulamentar as profissões e a garan-
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 17
tir direitos para os trabalhadores que as exercessem. Também criou as 
Juntas de Conciliação e Julgamento, a fim de resolver os possíveis con-
flitos que surgissem. Pouco tempo depois, em 1932, foi apresentada à 
sociedade a carteira profissional, que se tornou um documento obriga-
tório para registrar os contratos de trabalho e os direitos assegurados 
pelo governo.
Aos trabalhadores, o até então presidente argumentava que toda 
essa ação havia sido realizada com a intenção de proteger seus direi-
tos, mas o real objetivo era “fazer com que empresários e trabalhado-
res encontrassem sempre uma solução conciliadora que impedisse o 
caminho das greves e dos movimentos operários” (D’ARAÚJO, 1997, p. 
21). Com a aceitação desse modelo por parte de patrões e trabalhado-
res, Vargas passou a impor uma série de leis, chamadas de trabalhistas, 
que ampliavam os direitos e garantias dos trabalhadores.
Ao regulamentar direitos, tais como as férias, o trabalho de mulhe-
res e crianças, a jornada de trabalho de 8 horas ou a previdência so-
cial, o governo tinha a intenção de garantir sua aplicação e, ao mesmo 
tempo, controlar o movimento dos trabalhadores, que foram trans-
formados em elementos de sustentação de seu governo, afastando a 
possibilidade de organização de sindicatos independentes. O controle 
sobre os sindicatos, aliás, era o ponto chave dessa legislação, como fi-
cou claro no decreto n. 19.770/1931, que regulamentava a sindicaliza-
ção de patrões e operários. A leitura dos artigos 5º e 6º, intercalados 
por um parágrafo único, evidencia o atrelamento dos sindicatos ao Mi-
nistério do Trabalho, Indústria e Comércio.
DECRETO Nº 19.770, DE 19 DE MARÇO DE 1931.
Regula a sindicalisação das classes patronaes e operarias e dá 
outras providências 
O Chefe do Governo Provisorio da Republica dos Estados Unidos 
do Brasil decreta:
Art. 5º Além do direito de fundar e administrar caixas benefi-
centes, agencias de collocação, cooperativas, serviços hospita-
lares, escolas e outras instituições de assistencia, os syndicatos 
que forem roconhecidos pelo Ministerio do Trabalho, Industria e 
Commercio serão considerados, pela collaboração dos seus re-
presentantes ou pelos representantes das suas federações e res-
pectiva Confederação, orgãos consultivos e technicos no estudo 
e solução, pelo Governo Federal, dos problemas que, economica 
e socialmente, se relacionarem com os seus interesses de classe.
Paragrapho unico. Quer na fundação e direcção das instituições 
Nas primeiras décadas do século 
XX, o trabalho infantil era uma 
realidade brasileira, apesar dos 
protestos de trabalhadores, 
médicos e educadores. “[...] 
em 1927, aparece o Código 
de Menores regulamentando 
o trabalho infantil até que, 
com a Constituição de 1934, 
determinou-se a proibição ao 
trabalho infantil dos menores de 
14 anos sem permissão judicial” 
(PASSETTI, 2010, p. 354).
Saiba mais+
18 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
a que se refere o presente artigo, quer em defesa daquellles inte-
resses perante o Governo, sempre por intermedio do Ministerio 
do Trabalho, Industria e Commercio, é vedada a interferencia, 
sob qualquer pretexto, de pessoas estranhas ás associações.
Art. 6º Ainda como orgãos de collaboração com o Poder Publico, 
deverão cooperar os syndicatos, as federações e confederações, 
por conselhos mixtos e permanentes de conciliação e de julga-
mento, na applicação das leis que regulam os meios de dirimir 
conflictos suscitados entre patrões, operarios ou empregados. 
(BRASIL, 1931)
Além de o decreto deixar claro que, para funcionar, o sindicato de-
veria ter a aprovação do Ministério do Trabalho, era previsto que fun-
cionários do governo participassem das assembleias e interferissem 
nas deliberações dos sindicalizados. Essa vinculação entre sindicatos e 
governo acentuou-se com a passagem do tempo e proibiu a existência 
de sindicatos livres.
Em paralelo ao movimento de urbanização ocorrido nos primeiros 
anos da década de 1930 e à organização das primeiras leis trabalhis-
tas, aconteceu a luta das mulheres pelo direito de votar e de serem 
votadas. Essa luta, aliás, já vinha sendo travada desde a Proclamação 
da República, quando mulheres passaram a participar das discussões 
sobre a Constituição de 1891 e fundaram, em 1910, o Partido Republi-
cano Feminino. Em 1917, ano da primeira greve de trabalhadores no 
Brasil, as mulheres também organizaram uma passeata e, depois disso, 
alguns políticos passaram a defender o sufrágio feminino, sem ainda 
conseguir aprová-lo.
As mulheres que lutavam por esses direitos enfrentavam severa 
oposição da sociedade como um todo. Ainda se considerava o lar como 
lugar adequado para a sua permanência, alegando que elas não te-
riam habilidades para ocupar espaços e cargos públicos. Em todo esse 
contexto,algumas mulheres se destacaram pela persistência com que 
defendiam seus direitos. Há, entre elas, a cientista Bertha Lutz, que, 
em 1918, junto a outras figuras femininas, passou a organizar associa-
ções e manifestações, convocando as mulheres a lutar por seus direi-
tos, como: o de votar, de estudar, de trabalhar, para as mulheres mais 
abastadas; e o da redução de carga horária e equivalência salarial, para 
as mulheres mais pobres.
Em 1922, Bertha Lutz aproximou a luta das brasileiras à das mulhe-
res que se organizavam em outros países, principalmente nos Estados 
sufrágio: o voto em uma 
eleição.
Glossário
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 19
Unidos. Assim, ela fundou a Federação Brasileira para o Progresso Femi-
nino (FBPF) e organizou, no mesmo ano, o primeiro congresso feminino, 
no Rio de Janeiro, com a participação de mulheres de vários estados; 
filiais da federação foram organizadas em diversos locais pelo Brasil.
Em 1931, as mulheres fizeram um novo congresso da FBPF e entre-
garam a Getúlio Vargas o resultado das suas discussões, defendendo 
o direito de votar e de serem votadas, entre outras questões. A luta de 
Bertha Lutz e das demais mulheres foi incansável, até que
Em 1932, o Brasil finalmente ganhou um novo Código Eleitoral. 
Com o decreto 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, estabeleceu-
-se no país o voto secreto e o voto feminino. Com isso, o Brasil 
tornou-se o segundo país da América Latina (depois do Equador) 
a estender às mulheres o direito de voto; nisso também foi pio-
neiro com relação a países da Europa tidos, em outros aspectos, 
como mais desenvolvidos, como França e Itália.
Faltava agora a incorporação desse princípio à Constituição que 
só seria votada em 1934. [...] Graças às pressões feministas, e co-
roando uma luta de décadas, o sufrágio feminino foi finalmente 
garantido, com a inclusão do artigo 108 na Constituição de 1934. 
(SOIHET, 2012, p. 226)
Figura 3
Posse de Bertha Lutz como Deputada na Câmara Federal
Foto de Bertha Lutz, ao centro, e amigos, em 1936, quando assumiu uma vaga na 
Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro.
20 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
As mulheres participaram ativamente das discussões para elabora-
ção da Constituição de 1934, defendendo seus direitos políticos e jurí-
dicos, com destaque para temas como educação e trabalho femininos. 
Suas sugestões foram reunidas em um documento chamado 13 Princí-
pios Básicos de Direito Constitucional.
Como, então, ocorreu o processo de elaboração da Constituição de 
1934? Com o fim da Revolução Constitucionalista e com a vitória do 
governo federal sobre os revoltosos de São Paulo, teve início a organi-
zação das eleições, em 1933, para escolha dos deputados que fariam 
parte da Assembleia Constituinte, responsável por escrever a nova 
Constituição. Nesse contexto, foi criada a Justiça Eleitoral, com o objeti-
vo de organizar e fiscalizar o processo eleitoral.
Pela primeira vez em nossa história, tivemos a eleição de uma mu-
lher. Carlota Pereira de Queiroz, eleita deputada federal, participou 
da Assembleia Nacional Constituinte e foi a responsável por levar as 
sugestões do documento 13 Princípios Básicos de Direito Constitucional 
para discussão, sendo muitas delas aprovadas.
Desse modo, a nova Constituição foi promulgada em 16 de julho de 
1934 e era bastante progressista, defendendo princípios democráticos, 
como podemos observar na figura a seguir.
Figura 4
Constituição de 1934
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 21
As ideias e os princípios progressistas e democráticos, expressos já 
no preâmbulo da Constituição, chocaram-se radicalmente com as ca-
racterísticas do governo de Vargas, que passou a criticá-la frequente-
mente. De qualquer forma, sua promulgação marcou o fim do Governo 
Provisório e o início do Governo Constitucional, que durou de 1934 a 
1937. Essa mudança ocorreu porque Getúlio Vargas foi eleito presiden-
te da República de modo indireto pelos deputados constituintes.
A nova constituição determinava que a primeira eleição direta após 
a Revolução de 1930 aconteceria no ano de 1938. Porém, essa eleição 
prevista não ocorreu, já que, em 1937, por meio de um golpe de Estado, 
Vargas implantou um governo autoritário que ficou conhecido como 
Estado Novo; nesse contexto, ele determinou, entre outras questões, a 
anulação da Constituição de 1934.
Releia o preâmbulo da 
Constituição de 1934 e explique 
por que esse texto indicava um 
choque radical com as caracte-
rísticas do governo de Vargas.
Atividade 2
1.3 Tensões políticas: ANL, Integralismo e PCB 
Ao longo do período com os trabalhos da Assembleia Constituinte, 
que resultaram na promulgação da Constituição de 1934, tensões 
políticas continuaram abalando o cenário brasileiro. Isso se devia, em 
parte, aos exemplos que vinham de fora: da Rússia comunista e da 
Alemanha e Itália fascistas.
Ao se tornar uma República Comunista, a Rússia começou a “expor-
tar” modelos de ação política e de projetos econômicos e sociais. A che-
gada desses modelos no Brasil foi alavancada pelos grupos socialistas 
e anarquistas, principalmente aqueles ligados aos trabalhadores, que 
passaram a aderir ao comunismo.
Essa situação, que vinha ocorrendo desde o início da década de 
1920, principalmente após a fundação do Partido Comunista Brasileiro 
(PCB) em 1922, ganhou mais força com a crise capitalista de 1929. Afi-
nal, na leitura dos trabalhadores, o capitalismo estava mostrando que 
não oferecia condições para que projetos de igualdade e de crescimen-
to econômico fossem mantidos para toda a sociedade. Ainda na visão 
daqueles trabalhadores, o lado comunista do mundo apresentava mo-
delos de sucesso econômico e social. As informações que chegavam 
a eles eram a divisão de terras entre todos que ocorria na Rússia, o 
fim da propriedade privada dos meios de produção e a participação 
intensa do estado na sociedade, cumprindo um papel harmonizador 
dos problemas sociais e econômicos.
Videoaula
22 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
A filiação de Luiz Carlos Prestes, o líder carismático da Coluna Prestes, 
ao PCB, em 1934, ampliou muito a adesão de trabalhadores e de milita-
res de baixa patente à causa comunista.
Em oposição ao comunismo, crescia o movimento nazifascista na 
Europa, principalmente na Itália e na Alemanha, defendendo que a saí-
da para a crise econômica e social estava na organização de um Estado 
controlador, com respeito à hierarquia e aos valores nacionais, deixan-
do a centralização do poder nas mãos de um líder forte, mítico. Nesses 
países, ganhavam força os discursos contra a esquerda, reunindo mul-
tidões que acreditavam e repetiam as ideias ouvidas.
Essas ideias chegavam ao Brasil, onde era possível encontrar admi-
radores e seguidores fiéis entre trabalhadores, empresários, industriais 
e políticos, inclusive Getúlio Vargas. Integrantes desses grupos, que de-
fendiam os ideais nazifascistas, fundaram, em 1932, a Ação Integralista 
Brasileira (AIB), um movimento político ultranacionalista, conservador 
e tradicionalista que apoiou Vargas em seus projetos centralizadores e 
autoritários.
Três anos depois, em março de 1935, repetiu-se no Brasil uma situa-
ção que era comum em outros países, com os grupos comunistas; isto 
é, a implementação de uma
política de frente popular, que, no Brasil, recebe a designação 
Aliança Nacional Libertadora (ANL). Trata-se não só de uma apro-
ximação com os grupos socialistas e nacionalistas e contrários ao 
nazifascismo, como também uma defesa das camadas populares 
diante da crise econômica de 1929. [...] Contudo, como em outras 
partes do mundo, a política frentista da ANL apresenta desde o 
início um forte desequilíbrio a favor dos comunistas. Assim, a 
ANL, embora também composta por forças políticas moderadas, 
tem como presidente de honra Luís Carlos Prestes. (DEL PRIORE; 
VENANCIO, 2010, p. 252)
A ANL reuniu muitos integrantes descontentes com os rumostoma-
dos pelo governo federal. Entre eles, os comunistas, de uma maneira 
mais enfática, começaram a fazer discursos que giravam em torno da 
possibilidade de tomada do poder, com duras críticas a Vargas. Esse foi 
o pretexto usado pelo presidente para fechar a ANL, em julho de 1935.
Então, o clima político passou a ficar cada vez mais tenso e o PCB 
começou a organizar um levante armado contra o governo. Em novem-
bro de 1935, em Natal, Recife e Rio de Janeiro, estourou uma revolta 
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 23
de dentro dos quartéis que ficou registrada na história com o nome de 
Intentona Comunista. Em poucos dias, as tropas federais controlaram 
esse movimento, ocorrendo mortes de oficiais e soldados.
A partir de então, os comunistas passaram a ser considerados ini-
migos do governo, sendo perseguidos. Muitos deles, além de outras 
pessoas que faziam oposição a Vargas, foram presos ou exilados, e 
parlamentares foram cassados. Foi o caso de Luís Carlos Prestes e sua 
mulher, a alemã Olga Benário Prestes, principais líderes do movimento 
comunista, que, desde a vitória do governo, viviam clandestinamente 
no Rio de Janeiro. Com isso, foram presos, em março de 1936, pelo 
chefe da polícia de Getúlio Vargas, Filinto Müller, e nunca mais se viram. 
Entre os presos também estava o escritor Graciliano Ramos, que, no 
livro Memórias do Cárcere, hoje considerado um clássico da literatura 
brasileira, descreveu o cotidiano da prisão naquele período.
Olga Benário Prestes era casada com Luís Carlos Prestes, e estava 
grávida dele; por isso, mesmo sendo alemã, a legislação da época asse-
gurava seu direito de permanecer no Brasil. Porém, ela foi extraditada 
para a Alemanha nazista, durante setembro de 1936, em plena Segun-
da Guerra, pois era procurada pelo governo de Hitler por ser comunista 
e ter participado de movimentos rebeldes em seu país natal. Essa reali-
dade, junto ao fato de ser judia, a condenava à morte antecipadamente.
Os protestos e campanhas feitos no Brasil para que a extradição 
fosse cancelada não tiveram efeito algum, e a decisão foi tomada com 
base na Lei de Segurança Nacional, aprovada meses antes. Essa lei pre-
via a expulsão de estrangeiros perigosos à ordem pública ou nocivos 
aos interesses do país, critérios atribuídos à esposa de Prestes pela po-
lícia brasileira.
Olga Benário Prestes foi assassinada com outras mulheres em um 
campo de concentração na Alemanha, em fevereiro de 1942, seis anos 
após o nascimento de sua filha, que tinha sido entregue à avó, mãe de 
Luís Carlos Prestes. Preso, ele soube por carta da gravidez e da extradi-
ção de sua esposa. Saiu da prisão apenas em 1945, quando foi anistiado 
por Getúlio Vargas.
A partir de 1936, tudo indicava que Vargas estava disposto a dar um 
golpe, anulando as eleições que estavam previstas, pela Constituição, 
para acontecer em 1938. Mas, para deflagrar o golpe, ele precisava de 
um motivo contundente.
O filme Olga apresenta a 
história de vida de Olga 
Benário Prestes, sua ju-
ventude como militante 
do partido comunista ale-
mão; sua passagem por 
Moscou, onde conheceu 
Prestes; a vinda para o 
Brasil; seu envolvimento 
com o PCB, a prisão, a 
gravidez; a deportação 
para a Alemanha nazista; 
e, por fim, a sua morte em 
um campo de concentra-
ção. Com uma narrativa 
que abrange o período 
entre o final da década 
de 1930 e início de 1940, 
o filme fornece um pano-
rama político e social do 
Brasil da época.
Direção: Jayme Monjardim. Brasil: 
Globo filmes, 2004. 
Filme
24 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
Se esse motivo não aparecia “espontaneamente”, ele podia ser cria-
do – atualmente, esse tipo de criação é chamado de fake news. E foi o 
que aconteceu em 1937, quando Getúlio Vargas divulgou, por meio da 
imprensa, a existência de um plano judaico-comunista, comprovada-
mente falso, contra o país: o plano Cohen. Esse plano foi arquitetado, 
como apontam vários historiadores, com a participação de grupos de 
extrema direita, integralistas e de intelectuais, em sua maioria antisse-
mitas, como Gustavo Barroso, os quais apresentavam “o judeu como 
um estranho à sociedade brasileira, incapaz de assimilar a cultura na-
cional” e sempre envolvido “com anarquia e movimentos revolucio-
nários com o objetivo de atender aos seus próprios interesses – em 
detrimento do bem-estar do povo que morre de fome e na miséria” 
(CARNEIRO, 2002, p. 275).
As provas da existência desse plano foram divulgadas pela impren-
sa e comprovavam a articulação entre judeus, maçons e comunistas, 
que faziam parte da extinta ANL, para a tomada do poder. Com a cria-
ção e divulgação do plano, Vargas tinha em mãos a justificativa para o 
golpe; assim, ele revogou a Constituição de 1934, cancelou as eleições 
previstas para 1938, que já tinha candidatos definidos em campanha, e, 
no dia 10 de novembro de 1937, ordenou que a polícia militar cercasse 
o Congresso Nacional. Estava instalado, então, o Estado Novo.
 Vamos refletir sobre outros aspectos da sociedade brasileira na primeira metade da década de 
1930, ligados à produção intelectual e artística.
Intelectuais e artistas desse período também tinham opiniões divergentes em relação ao gover-
no. Enquanto uns o apoiavam, outros se posicionavam de forma crítica a ele ou à própria história 
elitista do país. A recíproca também era verdadeira, isto é, artistas e intelectuais recebiam desse 
governo tratamento diferenciado, de acordo com seus posicionamentos. 
O historiador Nicolau Sevcenko (2000, p. 99) nos conta, por exemplo, que “o maior pintor paulis-
ta desse período, Cândido Portinari, teria sua carreira voltada para atividades ligadas ao governo 
federal” e, dessa forma, não teve seu trabalho censurado ou perseguido. Já outros artistas, críticos 
ao governo, viveram situações tensas, como a ocorrida com Flávio de Carvalho, que então “cria 
o Teatro da Experiência (1933), que é fechado pela polícia, e abre sua primeira exposição de 
pinturas (1934), que é invadida por tropas de polícia” (SEVCENKO, 2000, p. 100).
A postura crítica também é assumida, no mesmo período, por jovens intelectuais paulistas que 
buscavam uma nova explicação para o autoritarismo e a discriminação, tão presentes na socie-
dade brasileira, como
+ Ampliando seus conhecimentos
Como o comunismo na União 
Soviética, o fascismo na 
Itália e o nazismo na Alemanha 
influenciaram as organizações 
políticas no Brasil, na primeira 
metade da década de 1930?
Atividade 3
O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 25
Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. Sérgio Buarque publicaria seu Raízes do Brasil, em 
1936, buscando, nas origens ibéricas e nas características do processo de colonização, a explicação 
para os obstáculos à construção de uma sociedade e de instituições democráticas no Brasil. Caio 
Prado, com Evolução política do Brasil (1934) e Formação do Brasil Contemporâneo (1942), seria pio-
neiro na utilização de categorias marxistas para um análise crítica do sistema colonial, do escravis-
mo e das mazelas sociais decorrentes desses processos que marcaram a história do país. Outro foco 
de um pensamento crítico aplicado à perspectiva da transformação da sociedade brasileira surgiu 
com a criação da Universidade de São Paulo, em 1934. (SEVCENKO, 2000, p. 100, grifos do original) 
O pernambucano Gilberto Freyre, outro renomado intelectual, lançou, em 1933, uma obra que 
tinha a intenção de explicar a formação do Brasil: Casa Grande & Senzala. A historiadora Sílvia 
Silva (2002, p. 184) nos conta que “ao tomar conhecimento do paradigma freyriano em torno 
da miscigenação, tendo como produto a morenidade eugênica, a tradicional e conservadora 
sociedade pernambucana postou-se em guarda”. As ideias de Freyre, relativas à valorização do 
negro, passaram a ser perseguidas em todo o Brasil, ainda mais depois que ele organizou o 1º 
Congresso Afro-brasileiro, em Recife, no ano de 1934. Seus princípios e ações irritavam cada vez 
mais os setoresconservadores, que começaram a acusá-lo de se preocupar com coisas menores 
e vulgares, classificando-o como comunista.
Nesse mesmo período, o rádio estava cada vez mais popular, apesar de estar sob controle do 
governo que, em 1932, havia regulamentado o sistema de transmissões. A popularização do rá-
dio transformou-se em ferramenta fundamental para a divulgação da Música Popular Brasileira 
(MPB), especialmente de um tipo de samba conhecido como “Samba do Estácio”, que, de acordo 
com o historiador Marcos Napolitano (2005, p. 51), “passou, a partir dos anos 30, a ser conside-
rado o sinônimo de samba autêntico, de ‘raiz’”. Compositores como Ismael Silva, Bide, Armando 
Vieira Marçal, entre outros, eram sucesso no rádio com suas músicas gravadas por Francisco Alves 
e Mario Reis, cantores que conquistaram milhares de fãs. Esses compositores também “eram os 
responsáveis pela fundação das Escolas de Samba, entidades que passaram a ser o eixo sociocul-
tural, uma determinada leitura da tradição musical carioca” (NAPOLITANO, 2005, p. 51). 
Em breve, o Brasil viria a conviver com um período que ficou conhecido como a era de ouro do 
rádio.
Vale a pena realizar a leitura do artigo Anos de Incerteza (1930-1937) – Os Intelec-
tuais e o Estado, produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que nos pos-
sibilita conhecer o panorama intelectual e artístico dos períodos estudados, 
além de ampliar nossa percepção sobre as relações entre os atores sociais de 
modo a humanizar a história. Com base nessas reflexões, compreendemos 
que em cada período houve alguém que pensou sobre os acontecimentos 
e embasou teorias e explicações para os sucessos e fracassos, contribuindo 
para a construção do saber histórico. Nesse sentido, vale a pena realizar a 
leitura desse artigo.
Acesso em: 06 jan. 2020. 
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/IntelectuaisEstado
Artigo
26 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, a primeira parte da década de 1930 foi intensa para os 
brasileiros: revoluções, golpes e a industrialização provocaram transfor-
mações radicais em nossa história política, econômica e social. De 1930 
até 1937, o país teve um único presidente, Getúlio Vargas, que, com seu 
governo centralizador e autoritário, acabou por imprimir marcas na nos-
sa cultura e uma concepção de país, que podem ser identificadas até a 
atualidade.
O período, marcado, também, por movimentos de contestação à or-
dem estabelecida, pela produção de análises da sociedade brasileira e 
pela aceleração da comunicação e divulgação de fatos por meio da po-
pularização do rádio, colocou o Brasil, definitivamente, em contato e con-
fronto com os demais países.
A partir desse momento, o mundo mudou e praticamente todos os 
lugares passaram a estar interligados. Acontecimentos locais passaram a 
interferir em outros lugares, com consequências para todos; ideias e mo-
delos de sociedades surgiam em um país e se espalhavam rapidamente, 
reproduzindo-se e adaptando-se a diferentes culturas; meios de comuni-
cação, como o rádio, traziam o distante para perto, bem como levavam o 
que era próximo para longe.
Como bem sabemos atualmente, essas mudanças estavam apenas 
começando.
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CARNEIRO, M. L. T. O mito da conspiração judaica e as utopias de uma comunidade. In: 
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O Brasil no início do governo Vargas (1930-1937) 27
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PEDRO, J. M. (org.). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012.
GABARITO
1. Os revolucionários paulistas são representados por um bandeirante, mostrando a 
importância do estado para a formação histórica e econômica do Brasil. Também há a 
associação com as forças armadas, com um soldado carregando a bandeira do Estado 
de São Paulo. O bandeirante segura Getúlio Vargas em suas mãos, representando o 
poder de São Paulo sobre o governo federal. O texto do cartaz, “Abaixo a dictadura”, 
mostra que o governo Vargas é visto como autoritário e que, portanto, é contra isso 
que os paulistas devem se unir para lutar.
2. O preâmbulo da Constituição de 1934 afirma que ela foi elaborada para organizar 
um regime democrático, que assegurasse liberdade à Nação. Essa afirmação se torna 
incoerente quando comparada à realidade vivida no país, pois, desde a Revolução de 
1930, os brasileiros viviam sob um regime autoritário, marcado pelo fechamento do 
Congresso Nacional, das Assembleias Estaduais e das Câmaras Municipais, além da 
substituição dos presidentes de estados por interventores. Por isso, a Constituição 
recebeu tantas críticas de Getúlio Vargas, que a invalidou após três anos de sua 
promulgação.
3. Desde o sucesso dos bolcheviques na Revolução Russa de 1917, o modelo comunista 
se espalhou pelo mundo, principalmente entre trabalhadores e intelectuais, 
influenciando a abertura de partidos e de frentes amplas que reuniam simpatizantes 
da esquerda, com a intenção de tomarem o poder e instalarem um governo com 
bases semelhantes às da URSS. No Brasil, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi 
fundado em 1922, e a Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935. Além disso, um 
movimento revolucionário baseado nas ideias comunistas foi deflagrado no Brasil, em 
1935: a Intentona Comunista. Do outro lado do espectro político, tivemos a instalação 
de governos de extrema direita na Itália, conhecido como fascismo, e na Alemanha, 
o nazismo. Defendendo o respeito a uma hierarquia rígida e o controle do poder nas 
mãos de um líder forte, também tiveram seguidores no Brasil, que chegaram a fundar 
a Ação Integralista Brasileira (AIB). Os integralistas, junto aos intelectuais de direita 
em apoio a Vargas, elaboraram o plano Cohen, que seria um projeto de tomada de 
poder, criando a versão de que tinha sido feito pelos comunistas, o que, sabidamente, 
era uma farsa. De qualquer forma, a reação de Vargas a esse plano levou o país a um 
estado de exceção, com a instalação do Estado Novo.
28 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
A ditadura do Estado 
Novo (1937-1945)
Daniela dos Santos Souza
2
Neste capítulo, propomos reflexões sobreo governo de Getúlio 
Vargas ao longo da ditadura do Estado Novo, entre 1937 e 1945. 
Para tanto, são abordadas as ações internas e suas consequências 
para a sociedade brasileira, bem como as relações estabelecidas 
entre Vargas e os demais países com seus desdobramentos 
políticos, econômicos e culturais.
De início, na primeira seção, os estudos se voltam às questões 
econômicas ligadas ao caráter intervencionista e protecionista, que 
trouxe características do nacionalismo às ações governamentais.
Na segunda seção, abordamos as questões ligadas à produção 
cultural, que passou a ser gerida pelos órgãos públicos, exercendo 
rígido controle e censura sobre tudo e todos.
Por fim, na terceira seção, apresentamos os fatos e o processo 
político que levaram o Brasil a participar da Segunda Guerra 
Mundial e, consequentemente, ao fim do Estado Novo, em 1945.
2.1 Nacionalismo e industrialização 
Videoaula O Estado Novo se instalou no Brasil na mesma época em que emergiam 
regimes totalitários na Europa, defensores de ideias fascistas. Esse regime, 
entre 1937 e 1945, sob a tutela de Vargas, caracterizou-se por ações centra-
lizadoras, com o presidente governando por meio de decretos-lei e sendo 
apoiado em todo o país pelos interventores estaduais e pelo exército.
Esse período teve início com o fechamento dos partidos políticos, o 
cancelamento das eleições previstas para 1938, a dissolução do Con-
gresso Nacional e a anulação da Constituição de 1934, que, a bem da 
verdade, não havia sido colocada em prática até então.
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 29
Apesar dessas características autoritárias, a ditadura instalada por 
Vargas não era exatamente nazista ou fascista, visto que não se apoia-
va em um partido de massas, como no caso de Hitler e Mussolini. Os 
membros da Ação Integralista Brasileira (AIB) continuavam a oferecer 
seu apoio ao governo, mas não chegavam a representar, precisamente, 
um partido. Além disso, a ditadura também não era militar, apesar de 
haver a tutela das Forças Armadas, pois tanto Getúlio Vargas quanto 
os demais integrantes do poder, como ministros e interventores esta-
duais, eram civis.
Ainda em 1937, uma nova Constituição passou a vigorar no Brasil. 
Um dos seus objetivos naquele contexto era livrar a economia e a po-
lítica brasileiras das amarras liberais, presentes na Constituição ante-
rior. Apesar de apresentar características ditatoriais que justificavam as 
ações do governo, essa Constituição previa a possibilidade de o Estado 
Novo chegar ao fim, pois deixava claro que em 1943 deveria haver um 
plebiscito no qual o povo decidiria pela continuação, ou não, do regime.
Em relação à economia, podemos dizer que a Constituição de 1937 
permitiu a aceleração da “implantação no Brasil da sociedade industrial 
e de massa, possibilitando o avanço da indústria nacional pesada sem 
que fosse prejudicado o setor agroexportador tradicional” (LUSTOSA, 
2008, p. 182-183). Ao mesmo tempo, ela passou a exigir que houvesse 
a organização de sindicatos patronais. Dessa forma, a ligação entre os 
setores produtivos e governamentais foi ampliada, com o atendimento 
às necessidades dos industriais brasileiros pelo governo que, em troca, 
exigia apoio às suas ações.
Nesse contexto, os sindicatos de trabalhadores também passaram 
por mudanças decretadas por Vargas que,
em 1939, [...] determina a existência de um único sindicato por 
categoria profissional.
Tal mudança é acompanhada pela criação do imposto sindical, 
através do qual é descontado anualmente um dia de trabalho da 
folha de pagamento dos operários, encaminhado para financiar 
a estrutura sindical. O ditador generalizava, dessa forma, o mo-
delo corporativo para o conjunto das entidades representativas 
dos trabalhadores. De instrumentos de luta, os sindicatos dos 
anos 1940 passaram à condição de agentes promotores de har-
monia social e instituições prestadoras de serviços assistenciais. 
(DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 255-256)
30 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
No campo político, a nova Constituição permitia a Vargas que go-
vernasse por meio de decretos-lei, suspendendo as liberdades civis ou 
declarando estado de emergência no país.
Essas características políticas autoritárias se uniram ao ideal nacio-
nalista do Estado Novo, que se traduzia em ações do governo Vargas 
em todos os campos, como:
 • a nacionalização de empresas estrangeiras que já estavam há 
anos no Brasil;
 • a proibição de instalação de indústrias ou empresas estrangeiras 
que mostrassem interesse em se estabelecer no país;
 • o controle de toda a importação feita pelos empresários 
brasileiros;
 • a centralização, no Banco do Brasil, de empréstimos aos empre-
sários e industriais, que, assim, eram acompanhados de perto 
pelo governo.
Em 1938, Getúlio Vargas aprofundou ainda mais o caráter nacio-
nalista de seu governo, declarando exclusivamente nacionais todas as 
jazidas de petróleo em território brasileiro, além do processo de refina-
ção. Também ficou proibido aos estrangeiros explorarem as riquezas 
do subsolo brasileiro, bem como instalarem indústrias de transforma-
ção dessas riquezas.
Esse conjunto de medidas intervencionistas na economia levou os 
industriais e empresários a uma grande dependência do governo, que 
passou a escolher qual setor receberia mais ou menos investimentos. Os 
industriais, principalmente de São Paulo, não se opuseram a essas políti-
cas provavelmente porque “havia o medo em relação ao que se chamava 
na época de ameaça comunista, e também o reconhecimento dos suces-
sos econômicos alcançados” (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 257).
Para Vargas, não bastava que o Estado fosse intervencionista, ele 
deveria abrir os caminhos para a industrialização, com caráter prote-
cionista. Portanto, era necessário que a intervenção do Estado “fosse 
feita em nome do nacionalismo, ou seja, em nome da tese de que evi-
tar a concorrência do capital estrangeiro em setores de ponta para a 
industrialização era a melhor maneira de proteger os interesses indus-
triais e a soberania do país” (D’ARAÚJO, 1997, p. 62).
Atividade 1
Tanto no campo político quanto 
econômico, a Constituição de 
1937 permitiu ao governo 
Vargas agir de maneira centra-
lizadora e intervencionista. Na 
prática, quais ações do governo 
demonstraram essa atitude?
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 31
A política intervencionista se alongou para ou-
tros campos, como a educação, principalmente no 
período em que Gustavo Capanema foi ministro da 
Educação e da Saúde, entre 1934 e 1945. Cartazes e 
propagandas, como da Figura 1, mostravam Getúlio 
Vargas como o grande incentivador da educação 
brasileira.
Capanema reuniu em torno de si e de seu traba-
lho nomes importantes da intelectualidade brasilei-
ra, por exemplo, o do músico Heitor Villa-Lobos e do 
escritor Mário de Andrade. Entre os projetos desse 
ministério estavam
a ampliação de vagas e a unificação dos 
conteúdos das disciplinas no ensino se-
cundário e no universitário. Isso para não 
mencionar a criação do ensino profis-
sional, consubstanciado em instituições 
como Senai, Senac e Sesc (DEL PRIORE; 
VENANCIO, 2010, p. 258).
No período que antecedeu à Segunda Guerra 
Mundial, Vargas buscou manter boas relações co-
merciais com os governantes de todos os países. 
Assim, estabeleceu comércio com os países líderes 
dos dois blocos que iriam se enfrentar, os Estados 
Unidos da América (EUA) e a Alemanha, bem como 
ampliou as relações com os demais países da América do Sul, com a 
intenção de organizar as defesas contra possíveis agressões externas.
Com a aproximação da guerra, porém, tudo indicava que, comercial 
e ideologicamente, Vargas se aproximava do bloco liderado pela Ale-
manha, sem, contudo, romper relações com os EUA, que tinham inte-
resse no Brasil desde 1933, por ocasião da “política da boa vizinhança”. 
Nesse período, é possível observar o crescimento do comércio entre 
o Brasil e a Alemanha, quando “as importações alemãscresceram 5%, 
enquanto as norte-americanas subiam menos de 1%. Do ponto de vis-
ta das exportações brasileiras, a parcela dedicada aos Estados Unidos 
caiu em 5%, enquanto se verificava um incremento de 3% para o lado 
alemão” (D’ARAÚJO, 1997, p. 54).
Figura 1
Cartaz relativo à educação 
no Estado Novo
Propaganda do Estado Novo exibe Getúlio Vargas com 
crianças brasileiras, símbolos do futuro do país.
32 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
Essa postura de manter contato com ambas as partes do futuro 
conflito mundial fez com que Vargas conseguisse recursos dos EUA, 
mesmo que o comércio com a Alemanha estivesse em expansão. Foi 
com a ajuda estadunidense, em 1941, que se tornou possível a instala-
ção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de Volta Redonda, no Rio 
de Janeiro, levando o país a produzir aço para indústria e armamentos. 
A construção da CSN usou tecnologia de ponta e empregou centenas 
de trabalhadores brasileiros, como pode ser observado na Figura 2.
Figura 2
Construção da CSN, em 1941.
Trabalhadores brasileiros na construção da CSN, em 1941.
Em retribuição a esse investimento, o governo brasileiro cedeu aos 
EUA um território no Nordeste, em Natal, para a construção de uma 
base aérea.
A aproximação econômica com os norte-americanos gerou um dis-
tanciamento diplomático do Brasil em relação à Alemanha e aos de-
mais países do Eixo. Além disso, houve investimento em propaganda 
contra o nazismo no Brasil, financiada, muitas vezes, pelos EUA. Dessa 
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 33
forma, aos poucos passou a ficar claro o lado para o qual penderia o 
Brasil, caso entrasse no conflito.
As grandes potências que formavam os países do Eixo eram a Alemanha, a Itália e 
o Japão. Entre os principais Aliados estavam os Estados Unidos da América, a União 
Soviética, o Reino Unido (Grã-Bretanha) e a França. A China e o Brasil, por exemplo, 
lutaram com os Aliados.
Os resultados do processo de aproximação com os EUA, promovido 
por Vargas, mostraram um crescimento da produção industrial brasi-
leira, uma vez que, por volta de 1945, “pela primeira vez a produção 
fabril ultrapassa a agrícola como principal atividade da economia” (DEL 
PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 254).
Esse crescimento foi, também, impulsionado pelo Plano de Obras e 
Equipamentos, elaborado pelo governo Vargas e que entrou em vigor 
em 1944. Sua principal meta era a criação de obras de infraestrutura e 
de indústrias de base, dedicada à siderurgia, metalurgia, indústria quí-
mica, entre outras. Daí em diante, o perfil econômico do Brasil ganharia 
outras características.
2.2 Política cultural e censura 
Videoaula Paralelamente às ações intervencionistas e protecionistas, Getúlio 
Vargas investiu em propagandas políticas que apresentavam as realiza-
ções de seu governo e divulgavam sua própria imagem, vinculada a di-
ferentes atividades desenvolvidas na sociedade, como artes, esportes e 
educação. O objetivo era construir a imagem de Vargas como líder, um 
homem público identificado com os valores do povo brasileiro e dedi-
cado a melhorar a vida de todos, principalmente a dos trabalhadores e 
das classes menos favorecidas da sociedade brasileira.
Para atingir esse objetivo, os responsáveis pela propaganda política 
no governo de Getúlio Vargas passaram a utilizar em larga escala os 
meios de comunicação disponíveis na época, como os jornais, o rádio e 
o cinema. Essa era uma prática comum entre os governos autoritários 
daquele período. Desse modo, no Brasil
adotou-se uma política populista na qual o uso da propaganda 
de massa foi intenso. Nunca uma imagem pessoal fora tão vei-
culada quanto a de Getúlio. Ele era o “pai dos pobres”. Pintores 
34 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
o retratavam em meio às criancinhas, sua efígie estampava os 
cadernos escolares. Compositores faziam-lhe hinos aclamatórios 
que eram veiculados pelo rádio, já então em plena era do ouro. 
E, mesmo na propaganda de esportes, a sua figura – baixinha, 
gordinha, que ao natural dificilmente se prestaria ao papel – era 
exposta em fotos retocadas como a de um vigoroso jogador de 
golfe. (LUSTOSA, 2008, p. 183)
 Para garantir os resultados esperados com a divulgação das propa-
gandas políticas, Vargas criou, em 1939, o Departamento de Imprensa 
e Propaganda (DIP). Além de responsável pela propaganda política, o 
DIP manteve sob seu controle o rádio, o teatro, o cinema e a música 
nacional.
Esse departamento buscou popularizar a imagem de Vargas, orga-
nizando homenagens e cobrindo as comemorações que exaltavam o 
governo. Também passou a organizar as propagandas e os rituais de 
culto à sua personalidade, evitando que conteúdos contrários a ele ou 
críticas ao seu governo fossem difundidos.
Assim, o departamento exercia a censura sobre toda a produção da 
imprensa e dos artistas. Em relação à cultura popular, por exemplo o 
samba, que atingia a muitos brasileiros com a popularização do rádio, 
o DIP exigia que letras de músicas fossem alteradas quando fizessem 
alguma crítica ao governo, como ocorreu com o texto da música
Bonde de São Januário, composta em 1940 por Ataulfo Alves e 
Wilson Batista. Na letra original do samba, o refrão era “O Bonde 
de São Januário/ leva mais um otário/ que vai indo trabalhar”; 
após a interferência do DIP, o texto passou a ser “O Bonde de São 
Januário/ leva mais um operário/ sou eu que vou trabalhar”. (DEL 
PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 258, grifo do original)
Outro célebre artista perseguido pela censura do Estado Novo foi 
Monteiro Lobato. Publicista e autor de livros de diferentes temas, entre 
eles as histórias do Sítio do Picapau Amarelo, o escritor era também um 
severo crítico ao governo autoritário de Getúlio Vargas.
Monteiro Lobato insistia na divulgação de suas ideias sobre a nacio-
nalização das riquezas brasileiras, fazendo críticas à forma com que o 
Conselho Nacional do Petróleo conduzia a exploração dessa riqueza, 
que, segundo ele, favorecia os interesses internacionais, e não os bra-
sileiros. Além disso, Lobato criticava, de modo irônico, a simpatia que 
havia entre o governo de Vargas e os regimes nazifascistas europeus.
No livro Brasil Século XX: ao 
pé da letra da canção po-
pular é apresentado um 
panorama da música po-
pular brasileira no século 
XX, passando pelo perío-
do do Estado Novo. Nele, 
conhecemos intérpretes e 
compositores que, ao lon-
go da ditadura de Getúlio 
Vargas, tiveram suas mú-
sicas censuradas ou não 
(e os motivos de não te-
rem sofrido censura). 
WORMS, L. S.; COSTA, W. B. Curitiba: 
Positivo, 2005.
Livro
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 35
Para os censores do Estado Novo, essas críticas estavam expressas, 
também, nos livros de Monteiro Lobato para as crianças brasileiras. 
Um parecer de um procurador federal argumentava que
as obras infantis de Lobato atentavam contra a segurança nacio-
nal, na medida em que geravam um sentimento errôneo em re-
lação ao governo, [...] chocavam-se contra os projetos do Estado 
Novo, empenhado em formar uma juventude saudável e patrióti-
ca, unida em torno dos princípios da tradição cristã. (CAMARGOS; 
SACCHETTA, 2002, p. 229-231)
Por essas posturas, Lobato foi julgado, preso e teve alguns de seus 
livros infantis apreendidos. Como demonstra o ofício, de 28 de junho 
de 1941, “o presidente do Tribunal de Segurança Nacional ordena ao 
chefe de polícia de São Paulo providências objetivando mandar apreen-
der e destruir os exemplares de Peter Pan à venda no Estado (CAMAR-
GOS; SACCHETTA, 2002, p. 229, grifo do original).
Outra forma de direcionar o olhar da população para as ações do 
governo eram as festas cívicas, nas quais se valorizavam datas conside-
radas importantes para o país, como a da Proclamação da Independên-
cia e a da República ou o Dia do Trabalhador, como podemos observar 
na Figura 3. Elas eram usadas também para a divulgação da imagem de 
Vargas, que sempre era destacada em apresentações pessoais ou em 
cartazes e bandeirasproduzidos para tais eventos.
Figura 3
Vargas em comemoração da Semana da Pátria. 
Getúlio Vargas e crianças na Quinta da Boa Vista, em comemorações da Semana da Pátria, em 1943.
36 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
Outro objetivo dessas celebrações era fortalecer o nacionalismo en-
tre os brasileiros.
A construção da nacionalidade, em sua artificialidade, frequente-
mente recorre a elementos da tradição, em que o passado é miti-
ficado, criando heróis e momentos épicos que são apresentados 
como definitivos na formação do povo e da nação. [...] A identi-
dade cultural é apresentada como natural e harmônica, quando 
nem sempre os valores desse povo tiveram tal coesão ou harmo-
nia. No Brasil, por exemplo, obras de arte como os quadros de 
Pedro Américo e Victor Meirelles e símbolos nacionais como o 
Hino à Bandeira e o Hino Nacional foram elaborados para serem 
representativos de um passado mítico e glorioso que teria criado 
a chamada unidade nacional. O discurso que afirma a existên-
cia dessa unidade pretende defender a homogeneidade cultural, 
que seria a existência de um mesmo “caráter nacional” por todo 
o território brasileiro, escamoteando, assim, as diferenças regio-
nais. (SILVA; SILVA, 2013, p. 310)
Além da realização das festividades cívicas, diversos eventos de apelo 
popular foram usados pelo governo para valorizar a construção da iden-
tidade nacional, entre eles o futebol. A profissionalização dos clubes bra-
sileiros cresceu ao longo da década de 1930, e os jogadores, sua maioria 
proveniente de classes populares, começaram a ganhar destaque na 
mídia. O sucesso internacional do futebol brasileiro veio com o terceiro 
lugar na Copa do Mundo de 1938. Com esse evento, o futebol tornou-se 
um fenômeno popular nacional, e o Brasil, nas mãos dos comunicadores 
do Estado Novo, passou a ser conhecido como o “país do futebol”.
Os sucessos do futebol brasileiro pelo mundo e de 
Carmen Miranda, na Broadway e nos estúdios de Hollywood, 
eram catalisados para gerar a identidade do país da bola, do 
samba, da festa e das danças sensuais. A transformação do Rio 
de Janeiro num balneário internacional, servido por uma rede de 
grandes hotéis, espetáculos e cassinos, fundou o mito da “Cida-
de Maravilhosa”. Para crismar esse clima eufórico foi composto 
o hino que celebrava a nova identidade nacional, “Aquarela do 
Brasil”. (SEVCENKO, 2000, p. 63)
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 37
A canção Aquarela do Brasil, composição de Ary Barroso, lançada em 1939, foi incluída na animação Alô, amigos! 
de Walt Disney, em 1942, representando o Brasil em Hollywood ao lado de Carmen Miranda. Sobre essa música, o 
jornalista e produtor musical Nelson Motta escreveu:
Este clássico é também o principal exemplo de um subgênero, o do samba-exaltação, que celebrava 
as belezas do Brasil, suas fauna e flora, gente e geografia com linguagem ufanista e grandiloquente. 
Lançada em pleno Estado Novo, “Aquarela do Brasil” se encaixou como uma luva à política cultural 
nacionalista de Getúlio Vargas. Externamente, também ajudou a vender para o mundo o lado mais 
solar e alegre de um país atrasado e repleto de contradições e injustiças. (MOTTA, 2016, p. 30)
Esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Ô! Estas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ô! Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil!
Aquarela do Brasil 
(Ary Barroso, 1939)
Aquarela do Brasil é representativa de um projeto local e se inseriu em uma articulação internacional específica do 
período de 1930 a 1940. Disserte a respeito de que maneiras essa música veicula as concepções de brasilidade e 
como ela se encaixa nas relações internacionais da época.
Atividade 2
Porém, por trás das propagandas políticas, festas cívicas e even-
tos populares, o novo regime “impôs uma ordem policial, baseada na 
censura, na propaganda e na perseguição implacável aos adversários” 
(SEVCENKO, 2000, p. 63). Para muito além da ação do DIP, censurando 
as letras de sambas e controlando outras manifestações da cultura po-
pular, a ação repressora se abateu sobre membros da imprensa e todos 
que se posicionassem de modo contrário às ideias de Getúlio Vargas.
As ações repressivas eram comandadas pelo capitão do exército 
Filinto Müller, que foi chefe de polícia do governo Vargas entre 1933 e 
1942. Houve casos de prisões, torturas e assassinatos relatados após o 
fim do Estado Novo, porém nunca investigados. Nos relatos, é possível 
identificar o uso de requintados instrumentos de tortura contra opo-
sitores políticos, como maçaricos, estiletes de madeira, alicates, más-
caras de couro para sufocamento, além do uso de cigarros e charutos 
para queimar as pessoas que eram presas no prédio da Polícia Espe-
cial, no Rio de Janeiro, sem passar por um julgamento justo.
O livro 101 canções que to-
caram o Brasil apresenta 
informações e curiosida-
des sobre 101 músicas 
brasileiras que, do ponto 
de vista de Nelson Motta, 
marcaram a história da 
música em nosso país.
MOTTA, N. Rio de Janeiro: Estação 
Brasil, 2016.
Livro
38 História do Brasil contemporâneo: da Era Vargas aos dias atuais
A Polícia Especial era a tropa de elite da Chefia de Polícia do Distrito Federal. Ela fazia 
parte da Delegacia Especial de Segurança Política e Social (DESPS), criada para coibir 
comportamentos que, do ponto de vista do governo, atentassem contra a ordem e a 
segurança pública. Entre as atribuições da Polícia Especial estavam observar as pu-
blicações nacionais e estrangeiras e produzir relatórios sobre organizações políticas 
ou pessoas consideradas suspeitas. 
Do lado de fora da Polícia Especial, poucas pessoas sabiam o que 
acontecia no interior do prédio. Isso porque,
Para que os gritos dos torturados não fossem ouvidos fora do 
prédio da Polícia Especial, um rádio era ligado a todo o volume. 
Poucos torturados resistiam. Houve quem se suicidasse pulando 
do terceiro andar da sede da Polícia Central; outros enlouque-
ciam, como foi o caso de Harry Berger, membro do Partido Co-
munista Alemão, torturado durante anos juntamente com sua 
mulher, Sabo. Quase todos guardavam sequelas para o resto da 
vida no corpo e na mente. (CARVALHO, 2013, p. 193)
Com o fim do Estado Novo, duas comissões foram instaladas para 
investigar os crimes cometidos pela polícia política do regime de Getúlio 
Vargas, mas ambas ficaram inconclusas, sem a produção de um relató-
rio final. De qualquer forma, principalmente após 1940, a insatisfação 
com o governo autoritário de Vargas crescia, não apenas entre mem-
bros da imprensa e do meio artístico, mas também entre industriais e 
empresários que queriam maior autonomia nos seus negócios.
A parte da elite que estava descontente reuniu-se para fundar um 
partido político, a União Democrática Nacional (UDN), em 1945. No 
mesmo ano, Getúlio Vargas reuniu os interventores e demais apoiado-
res de seu governo em outra agremiação, o Partido Social Democrático 
(PSD), dando seu apoio também à criação de uma legenda de base tra-
balhista, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
O descontentamento das elites, a reação da classe artística e da im-
prensa aos atos autoritários e a criação dos partidos políticos, mesmo 
sob a tutela de Getúlio Vargas, são indicativos de que o Estado Novo 
chegava ao fim. A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial 
confirmou essa nova realidade.
A ditadura do Estado Novo (1937-1945) 39
2.3 Brasil na Segunda Guerra Mundial 
Em 1941, os EUA declararam guerra ao Eixo, após o ataque japo-
nês a Pearl Harbor. No ano seguinte, o governo de Getúlio Vargas, já 
bastante envolvido pelo comércio e pela influência norte-americana, 
rompeu relações com os países do Eixo e, como consequência, houve 
um ataque alemão a navios mercantes brasileiros.
Essa tomada de posição por parte do governo brasileiro causou 
certa surpresa no cenário internacional, visto que Vargas

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