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o lado sombrio dos grandes psicoterapeutas (timothy thomason) (1)

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COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
O Lado Sombrio dos 
Grandes Psicoterapeutas 1
Timothy C. Thomason 2
Northern Arizona University 
Resumo 
Os grandes psicoterapeutas nos fornecem modelos de como praticar nosso trabalho como 
conselheiros e psicólogos, mas é importante não pensar neles como guias infalíveis. Ao aprender algo 
sobre as peculiaridades e falhas pessoais de alguns dos maiores psicoterapeutas da história, podemos 
desenvolver uma compreensão mais sofisticada de suas vidas e trabalhos. Este artigo descreve alguns 
fatos menos conhecidos sobre a vida de Carl Rogers, Fritz Perls, Albert Ellis e Milton Erickson. Os 
desafios éticos e os transtornos mentais experimentados pelos grandes psicoterapeutas ilustram a 
necessidade de todos os conselheiros e psicoterapeutas procurarem ajuda quando necessário. 
Palavras-chave: grandes psicoterapeutas; biografia; história. 
Introdução 
O grande psiquiatra suíço C. G. Jung chamou de “a sombra” o lado negro da personalidade 
humana; ele usou a palavra como uma metáfora para emoções e impulsos primitivos, 
negativos ou socialmente desvalorizados, como a raiva, o egoísmo, a luxúria e a ânsia de 
poder. O que quer que consideremos mal ou inaceitável em nós mesmos é reprimido e se 
torna parte de nossa sombra (Jung, 1973). Para se tornar um ser humano saudável e completo, 
é necessário aceitar o lado sombrio de si mesmo. Reconhecer e aceitar nossos impulsos 
negativos nos dá a capacidade de fazer escolhas conscientes sobre como nos comportaremos 
no futuro. 
É tentador para os conselheiros e psicólogos idolatrarem as grandes personalidades que 
criaram as principais abordagens da psicoterapia. Freud, Jung, Rogers, Ellis e outros teóricos 
foram pensadores verdadeiramente notáveis e inovadores e merecem nossa admiração e 
respeito por suas valiosas contribuições. Ao mesmo tempo, faríamos um desserviço se 
pensássemos neles como deuses ou gurus, e não como seres humanos falíveis. Os grandes 
psicólogos eram mortais, não mitos e, como todos nós, cada um deles tinha uma sombra. Um 
entendimento verdadeiro dos grandes psicoterapeutas inclui saber algo sobre suas vidas 
 Timothy C. Thomason, "The shadow side of the great psychotherapists”, Conseling and Wellness Journal, 1
vol(5), 2016. Tradução de Sylvio Allan Rocha Moreira. Texto não publicado. Inserções no texto e eventuais 
erros são de inteira responsabilidade do tradutor.
 Professor do Departamento de Psicologia Educacional, Northern Arizona University, Flagstaff, Arizona.2
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pessoais, suas peculiaridades de personalidade e suas limitações e fracassos. Isso ajuda a 
transformá-los em seres humanos inteiros, em vez de simplesmente figuras históricas nos 
livros didáticos. 
Muitas pessoas alertaram sobre o investimento excessivo em celebridades que, afinal de 
contas, são apenas seres humanos. Na Bíblia hebraica, Daniel (2: 31-43) advertiu que até 
mesmo pessoas proeminentes têm defeitos, que ele chamou de “pés de barro” (até mesmo 
uma estátua que parece forte cairá se tiver pés feitos de barro). O professor budista Linji 
aconselhou: “Se você encontrar o Buda na estrada, mate-o!” (Kopp, 1982, p. 188), 
significando que pensar no Buda como uma divindade é uma ilusão que deve ser destruída 
para se tornar iluminado. Da mesma forma, pode-se dizer “Se você encontrar o guru da 
psicoterapia na estrada, mate-o”. Isto é, aprenda o que é valioso, mas não o trate como uma 
divindade ou santo. 
O campo da psicoterapia tem sido suscetível à tentação de deificar nossos fundadores. 
Quando os grandes psicoterapeutas estavam desenvolvendo suas teorias, havia pouca 
pesquisa empírica para guiar seu trabalho. Freud, Jung, Adler e os outros pioneiros basearam 
suas teorias principalmente em suas próprias experiências pessoais, limitadas a um pequeno 
número de clientes. Pouca pesquisa sobre como as pessoas mudam estava disponível para os 
psicoterapeutas que vieram depois dos pensadores psicodinâmicos. Os teóricos que se 
tornaram influentes eram frequentemente aqueles que tinham grande carisma pessoal e 
trabalhavam muito para popularizar seu trabalho. 
Em relação à história da psicoterapia, segundo Cummings e O'Donohue (2008): 
“Como a profissão de psicologia não tinha base científica, não tínhamos mais 
nada com o qual pudéssemos provar ao mundo que nosso trabalho era 
psicoterapeuticamente crível e digno de respeito, a não ser citar os Grandes, 
seja Sigmund Freud, Carl Jung, Karen Horney, B.F. Skinner, Carl Rogers ou 
Albert Ellis. Funcionou, e o público nos seguiu em adoração nos santuários 
daqueles que havíamos elevado à santidade.” (p. 39) 
Lilienfeld disse: “O que me preocupa é o modismo, a conversa sobre mudar o mundo, esse 
fascínio do guru que o campo da psicoterapia tem uma tendência a cultivar” (citado em 
Carey, 2008, p. 7). O papel apropriado do professor é facilitar o crescimento do aprendiz, e 
não, ser objeto de adoração. À medida que a psicoterapia baseada em evidências se tornar 
mais popular, menos importância será colocada nas características pessoais de terapeutas 
individuais (Messer & Gurman, 2011). Os terapeutas de hoje precisam saber quais técnicas 
tendem a funcionar para a maioria dos pacientes com distúrbios específicos (como a terapia 
de exposição para ataques de pânico), ao invés de, como os grandes terapeutas do passado, 
usar seu próprio carisma pessoal como alavanca para ajudar seus clientes a mudar. 
Deve-se notar que pode não ser útil julgar os grandes psicoterapeutas pelos padrões atuais de 
correção social e política. Eles viviam em sociedades que eram bastante diferentes de hoje, e 
suas idéias e atitudes refletem o pensamento de seus tempos. Por exemplo, na época de 
alguns dos grandes psicoterapeutas não haviam organizações profissionais nacionais nem 
padrões éticos geralmente aceitos para psicoterapeutas. Isso não justifica seus lapsos éticos, 
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mas ajuda a colocar seus comportamentos em perspectiva. Da mesma forma, quando alguns 
terapeutas estavam desenvolvendo suas teorias, a misoginia e várias formas explícitas de 
discriminação contra as mulheres eram comuns, de modo que seu tratamento de mulheres 
como objetos sexuais provavelmente não teria sido visto como incomum na época. Um dos 
benefícios de estudar as vidas dos grandes psicoterapeutas é que isso ajuda a entender como 
alguns aspectos da prática da psicoterapia mudaram (e melhoraram) ao longo das décadas. 
Este artigo descreve certos aspectos pouco conhecidos da vida de Carl Rogers, Fritz Perls, 
Albert Ellis e Milton H. Erickson. Existem, é claro, muitos outros grandes psicoterapeutas 
que não estão incluídos nesta revisão, e um estudo de suas vidas também seria esclarecedor. 
Em particular, há muitos livros que examinam as vidas de Sigmund Freud e Carl Jung (por 
exemplo, Bair, 2003; Ferris, 1997; Gay, 1988; Jung, 1973). Neste artigo, o termo 
"psicoterapeutas" é usado como um termo abrangente para os grandes teóricos e inovadores 
da psicoterapia, que eram membros de várias profissões. 
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Carl Rogers 
Carl Rogers teve um profundo impacto no campo da psicoterapia. Uma pesquisa com mais de 
2 mil psicoterapeutas revelou que ele foi classificado como o mais influente de todos os 
psicoterapeutas, mais ainda do que Freud (Cook, Biyanova, & Coyne, 2009). As ideias de 
Rogers sobre a importância da empatia e as condições centrais para um relacionamento 
terapêutico permeiam os campos do aconselhamento e da psicoterapia, a ponto de serem 
muitas vezes tomados como certos. Rogers tinha algumas idéias simples que ele passou sua 
vida disseminando: ouvir o cliente, ser respeitoso e sem julgamento, ser empático e ajudar os 
clientes a encontrar suas próprias soluções (Cohen, 1997). Devido à grande estatura de Roger 
na história do aconselhamento e da psicoterapia, pode ser surpreendente descobrir alguns 
detalhes pouco conhecidos sobre ele.No final de sua vida, Rogers escreveu que “as pessoas 
pensam que eu sou um guru, quase um deus. . . . Eu sou muito humano, tenho muitas falhas 
”(Cohen, 1997, p. 218). 
 Carl Rogers cresceu na região rural do meio-oeste dos Estados Unidos da América, 
em um lar com fortes laços familiares e uma atmosfera religiosa muito rígida (Rogers, 1961). 
Ele era uma criança doente, tímida e, muitas vezes, alvo de piadas e provocações. Ele 
aprendeu a ler aos quatro anos e se tornou um leitor voraz. A família mudou-se de Oak Park, 
Illinois, para uma fazenda, quando Rogers estava no ensino médio. Ele era tímido e sensível, 
mas trabalhou duro e se deu bem na escola. Ele só teve uma namorada no ensino médio e não 
teve contato íntimo com as mulheres até os vinte e poucos anos (Mindess, 1988). Rogers 
entrou na universidade aos 17 anos e se formou em agricultura científica. Em relação à sua 
vida interior durante sua adolescência, Rogers escreveu: “Minhas fantasias durante esse 
período foram definitivamente bizarras, e provavelmente seriam classificadas como 
esquizóides por um diagnosticador, mas felizmente nunca entrei em contato com um 
psicólogo” (Rogers, 1980, p. 30). 
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 Na faculdade, Rogers tornou-se ativo no movimento da juventude cristã e, aos 19 
anos, passou seis meses na China como delegado da World Student Christian Federation 
Conference. A experiência abriu sua mente para a diversidade cultural e liberalizou suas 
visões religiosas. Ele decidiu que Cristo não era uma divindade, mas um homem (Mindess, 
1988). Rogers reteve os valores morais de seus pais, mas rejeitou sua perspectiva de 
repressão e julgamento. Quando ele voltou da China, Rogers casou-se com Helen Elliot e eles 
se mudaram para Nova York, onde Carl estudou no Union Theological Seminary e, mais 
tarde, no Columbia Teachers College. Em 1928, mudaram-se para Rochester e Rogers 
começou sua carreira como psicólogo (Mindess, 1988). 
 A biografia de Kirschenbaum (2007) sobre Rogers revelou muitos aspectos da vida 
deste que não eram bem conhecidos anteriormente. Por exemplo, na década de 1950, Rogers 
trabalhou para a Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos em vários 
projetos secretos. Ele recebeu informações sobre o Premier soviético Nikita Krushchev e 
pediu para analisar sua personalidade e fez recomendações de como lidar com este. Ele 
também realizou pesquisas sobre métodos psicológicos para influenciar o comportamento 
humano. Como um patriota americano, Rogers não via motivo para não ajudar a CIA, e o 
psiquiatra Martin Orne e o psicólogo B. F. Skinner também trabalharam para a CIA. Um dos 
projetos da CIA sob a alçada de Rogers, o MKULTRA, estudou o modo como as pessoas 
podem ser influenciadas e controladas, para que os soldados pudessem ser treinados para 
resistir à lavagem cerebral. Incluía estudos de desertores comunistas, o uso de prostitutas para 
chantagear informantes e o uso de LSD e outras drogas que alteram a mente como técnicas de 
interrogatório, persuasão e controle da mente. Alguns dos participantes da pesquisa não 
sabiam que estavam sendo experimentados e não deram consentimento informado. Não está 
claro o quanto Rogers sabia sobre os aspectos mais duvidosos do MKULTRA. Anos depois, 
Rogers disse que acreditava que a CIA estava fazendo pesquisas legítimas na época, mas que 
ele olhou para isso de maneira diferente depois (Kirschenbaum, 2007). Considerando os 
padrões da época, o envolvimento de Rogers com a CIA poderia ser visto como honroso, 
mas, em retrospectiva, Rogers deveria ter-se recusado a participar de quaisquer práticas de 
pesquisa antiéticas. 
 Revelações sobre a vida sexual de Carl Rogers surpreenderam algumas pessoas, 
talvez devido ao contraste com sua imagem paternal no filme “Gloria”, que é mostrado 
rotineiramente nos cursos de treinamento de conselheiros (Shostrum, 1965). Se Rogers foi 
aparentemente fiel à sua esposa Helen durante a maior parte de sua vida, quando ele ficou 
mais velho, experimentou um despertar sexual. Aos 75 anos, Rogers escreveu que seu 
interesse sexual era equivalente à quando ele tinha 35 anos, ainda que seu desempenho sexual 
tivesse diminuído. Em seu diário, ele escreveu “Começo a pensar que tenho apenas mais 
alguns orgasmos em minha vida” (Kirschenbaum, 2007, p. 459). Por volta dessa época, ele 
começou a ter casos extraconjugais. Rogers escreveu em seu diário em 1979 (aos 77 anos) 
que ele e sua esposa não tinham tido relações sexuais em quase dez anos. Ele ainda sentia 
interesse sexual significativo (embora sofresse de disfunção erétil) e se envolveu em relações 
sexuais íntimas com várias mulheres (Kirschenbaum, 2007). 
 Cohen (1997) baseou grande parte de sua biografia de Rogers em notas, cartas e 
ensaios inéditos que Rogers doou à Biblioteca do Congresso. Esses documentos forneceram 
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uma riqueza de informações sobre os relacionamentos íntimos de Rogers (e, é claro, Rogers 
sabia que esses materiais acabariam se tornando públicos). Em algum nível, Rogers deve ter 
desejado que seu legado incluísse uma imagem completa de sua vida pessoal. 
 Rogers escreveu sobre seu despertar romântico e sexual em seu diário. Aos 70 anos, 
ele se apaixonou profundamente por uma mulher casada de 30 anos, chamada Bernice, que 
participou de um de seus grupos de terapia. Eles se abraçaram logo após a reunião e se 
conheceram mais tarde no quarto de hotel de Rogers, onde ele tentou seduzi-la: "Eu disse a 
ela que gostaria de compartilhar minhas fantasias malucas sobre ela e fiz" (Cohen, 1997, p. 
210). Eles se abraçaram e beijaram, mas Bernice recusou o sexo. Alguns dias depois, durante 
uma sessão de grupo de terapia, Rogers sentiu-se deprimido e chorou, e Bernice sentou-se ao 
lado dele e segurou seu braço enquanto ele segurava sua perna nua. Rogers experimentou 
altos e baixos emocionais nessa relação, e percebeu que precisava de aconselhamento, mas 
adiou a busca de ajuda. Finalmente ele tomou um Valium e uma bebida de vodka e foi 
procurar um conselheiro. Ele escreveu: “Sinto-me privado de todas as relações sexuais que 
poderia ter tido fora do casamento” (Cohen, 1997, p. 214). Rogers se encontrou com Bernice 
muitas vezes e eles estavam emocionalmente próximos, mas ela nunca concordou em ter um 
relacionamento sexual com ele. Durante os quatro anos desse relacionamento, Rogers deu à 
Berenice $5.500 em cheques como presentes (Cohen, 1997). 
 Rogers conversou com sua esposa Helen sobre sua atração por outras mulheres e 
também falou em seus grupos de oficinas sobre o dilema de ter casos. Eventualmente, sua 
esposa disse que ela permitiria que ele tivesse seus casos sexuais, e Rogers se sentiu menos 
culpado. Depois da morte de Helen, Rogers desenvolveu relacionamentos amorosos e sexuais 
com três mulheres e manteve os três relacionamentos simultaneamente pelos próximos anos, 
além de outros poucos contatos apaixonados (Kirschenbaum, 2007). Rogers escreveu em suas 
anotações que, embora não estivesse interessado em se casar novamente, ele queria um 
relacionamento sexual amoroso com uma mulher mais jovem (Cohen, 1997). 
 Talvez o envolvimento de Rogers em tais relacionamentos não seja tão surpreendente, 
considerando seu interesse em alternativas ao casamento, que ele explorou em seu livro 
Becoming Partners (1972). Neste livro, Rogers argumentou que deveríamos ter a liberdade 
de experimentar relações, incluindo, engajar-se “em práticas que as leis federais, estaduais ou 
locais classificariam como ilegais” (p. 213). Ele escreveu que devemos eximir tipos 
alternativos de relações sexuais da “reprovação moral e ação criminal” (p. 214). Ele disse que 
os nomes antiquados para essas práticas (incluindo, adultério, fornicação, conduta obscena e 
lasciva, homossexualismo e prostituição) "são, francamente, ridículos" (p. 214) 
 Este livro de Rogers também é notável porque nele Rogers violou a privacidade de 
sua filhaNatalie e seu marido Larry. Ele escreveu sobre o casamento deles no livro e incluiu 
detalhes confidenciais sem a permissão deles. No livro, Rogers os chamou de Jennifer e Jay, 
mas eles e seus amigos os reconheceram facilmente na descrição detalhada de Rogers, e 
ficaram chocados e furiosos; Rogers aparentemente nunca respondeu ao pedido do casal de 
uma explicação pela quebra de confidencialidade (Cohen, 1997). 
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 A pesquisa biográfica de Kirschenbaum (2007) revelou que Rogers tinha um grave 
problema de uso de álcool. Ele usava álcool para ajudá-lo a relaxar em ambientes sociais, 
geralmente bebia em privado, e o público não sabia do problema, embora seu filho mais tarde 
tenha dito que Rogers tinha muitos dos sinais clássicos de dependência do álcool. Rogers 
admitiu que costumava tomar de oito a dez drinques por dia e, por fim, bebia cerca de uma 
garrafa de vodca por dia. Em meados dos anos 1970, Rogers era dependente do álcool. A 
filha de Rogers, Natalie, frequentemente o aconselhou a controlar sua bebida ou a se internar 
em uma clínica de abuso de substâncias (Cohen, 1997). Rogers reconheceu que tinha um 
problema e se esforçou para reduzir seu vício, mas sua dificuldade com o álcool durou pelo 
resto de sua vida (Kirschenbaum, 2007). 
 Embora fosse ateu, Rogers tinha algum interesse no paranormal. Em 1977, viajou ao 
Brasil para realizar oficinas e lá visitou vários espiritualistas, videntes e clarividentes 
brasileiros. Ele estava interessado nessas experiências, embora ele não sentiu que realmente 
provou algo sobre o paranormal. Em seu livro de 1980, A Way of Being, Rogers escreveu 
sobre seu interesse em fenômenos psíquicos, como precognição, clarividência, auras humanas 
e experiências fora do corpo. Ele ficou impressionado com relatos de reencarnação e vida 
após a morte. Nos meses que antecederam a morte de sua esposa, em 1979, “ela e eu 
visitamos um médium completamente honesto. Lá, Helen experimentou, e eu observei, um 
‘contato’ com sua falecida irmã, revelando fatos que ela não poderia ter conhecido. As 
mensagens . . . vieram por meio da inclinação de uma mesa resistente, batendo cartas. . . . Eu 
só poderia estar aberto a uma experiência incrível e certamente não fraudulenta” (Rogers, 
1980, p. 90). 
 Além de suas sessões com médiuns em sua casa, Rogers e sua esposa também tiveram 
sessões de tabuleiro Ouija com um psíquico. Em uma sessão, o médium apareceu para 
canalizar Carl Jung, que disse à Rogers que este se preocupava muito com Helen e depois que 
ela morresse, ele estaria livre para terminar sua missão pela humanidade (Kirschenbaum, 
2007). Depois que Helen morreu, em 1979, suas amigas tiveram uma sessão com a mesma 
médium, e supostamente contataram Helen na vida após a morte, que respondeu a muitas 
perguntas e relatou que sua morte tinha sido pacífica e sem dor (Rogers, 1980, p. 91). Essas 
experiências deixaram Rogers interessado nos fenômenos paranormais e na crença de que os 
humanos podem ter uma essência espiritual que sobrevive à morte e às vezes encarna em um 
corpo humano. 
 O interesse de Rogers pelo paranormal e seu envolvimento com videntes e médiuns 
desapontaram alguns de seus associados. De acordo com Kirschenbaum (2007), Richard 
Farson achava que Rogers era ingênuo e dava crédito demais aos gurus da Nova Era, mas a 
filha de Rogers, Natalie, o descreveu como cético, mas interessado e aberto a novas 
experiências. Embora no final de sua vida Rogers se sentisse mais aberto em relação ao idéia 
de que as pessoas podem ter uma essência espiritual, ele nunca teve uma experiência religiosa 
clássica, ele nunca disse que acreditava em um Deus, e ele disse que as religiões eram mais 
divisivas do que úteis (Kirschenbaum, 2007). 
 Rogers escreveu sobre seu fracasso no tratamento de uma jovem cliente em Chicago, 
que ele descreveu como psicótica limítrofe, à beira da esquizofrenia (Rogers & Russell, 
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2002). Rogers disse que ela o pressionou e ele se convenceu de que ela estava deixando-o 
psicótico. Ela achava que duas ou três sessões de terapia por semana não eram suficientes, e 
ela começou a ir à casa dele todas as manhãs para se sentar à sua porta. Ela exigia afeto e 
aceitação e tornava-se hostil quando Rogers parecia menos acolhedor. Rogers escreveu "Eu 
lidei com ela mal" e sua intensa hostilidade "perfurou completamente minhas defesas. . . . Eu 
reconheci que muitas de suas ideias eram mais sólidas do que as minhas. . . . Aos poucos, 
percebi que estava à beira de um colapso total. . . . Eu tive que escapar” (Rogers, 1967, p. 
367). Ele pediu a um colega que assumisse a cliente. “Ela, em instantes, explodiu em uma 
psicose completa, com muitos delírios e alucinações. . . . Fui para casa e disse à Helen que 
precisava ir-me embora imediatamente. Nós pegamos a estrada imediatamente e ficamos 
longe por dois ou três meses ... em nossa ‘viagem desenfreada’” (Rogers, 1967, p. 367). 
Rogers e sua esposa escaparam para uma cabana a uma hora da cidade, onde permaneceram 
em semi-isolamento. Ele pretendia procurar imediatamente a terapia, mas se sentia melhor 
quando estava fora da cidade. Quando retornou à Chicago, Rogers entrou em psicoterapia 
com Nathaniel Raskin (Milton, 2002). A família de Rogers considerou este episódio um sério 
colapso nervoso (Cohen, 1997). 
 Rogers descreveu outro incidente com uma cliente que os psicoterapeutas 
contemporâneos provavelmente considerariam incomum. Em uma sessão muito angustiante, 
Rogers perguntou se ela gostaria de segurar as mãos dele. “Ela disse sim. E então, quando ela 
começou a soluçar e a tremer, pareceu-me que ela estava agindo como uma criança; então eu 
perguntei: ‘Você gostaria de sentar no meu colo?’ E ela disse: ‘Não, eu não quero.’” (Rogers 
& Russell, 2002, p. 282). É difícil imaginar um psicoterapeuta fazendo isso hoje, mas 
aparentemente isso não pareceu impróprio para Rogers na época. 
 Carl Rogers acreditava que, para se tornar auto-atualizado, é preciso despir-se das 
falsas máscaras usadas para se apresentar ao mundo, e se tornar um “eu” verdadeiro. A 
máscara da persona deve ser descartada em busca da verdade. “Nem a Bíblia nem os profetas 
- nem Freud nem a pesquisa - nem as revelações de Deus nem o homem - podem ter 
precedência sobre minha própria experiência direta” (Rogers, 1961, p. 24). Em seus escritos 
publicados e não publicados, Rogers revelou-se a si mesmo, suas faltas e tudo. Sua 
determinação em desenvolver sua própria filosofia de vida e fazer a diferença, ajudando a 
moldar o campo da psicoterapia, é admirável. Suas contribuições positivas não são 
diminuídas por suas falhas. 
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Fritz Perls 
Fritz Perls, um dos fundadores da Gestalt Therapy, teve uma das mais vivazes personalidades 
de todos os grandes psicoterapeutas. Além de sua sabedoria teórica, habilidades terapêuticas 
dramáticas e carisma pessoal, ele era conhecido por um comportamento pessoal, às vezes, 
ultrajante. A teoria de Perls sobre como fazer psicoterapia era uma conseqüência direta de sua 
própria personalidade; por exemplo, ele aproveitou as reações que teve quando era 
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socialmente inadequado e usou a honestidade radical como uma técnica terapêutica para 
despertar as pessoas para o que estavam fazendo (Gaines, 1979). 
Perls se considerava aberto, honesto e direto, tanto em sua vida pessoal quanto em sua 
abordagem à psicoterapia. Ele admitiu que era frequentemente confrontador e até 
desagradável em suas interações sociais. Por exemplo, ele disse a uma mulher que participou 
de uma de suas oficinas: “Com a maioria das pessoas durante longas oficinas, gosto cada vez 
mais delas. De você, gosto cada vez menos” (Gaines, 1979, p. 306). Ele podia ser brutal, mas 
via sua franqueza como parte essencial de seu estilo pessoal e profissional. 
Seria fácil acusar Perls de ter atitudes misóginas. Emsua autobiografia (Perls, 1969), 
ele descreveu muitos exemplos de como ele reagia espontaneamente a clientes em terapia, 
dependendo do que ele achava que eles precisavam. Por exemplo, havia uma mulher em um 
grupo de terapia que estava sendo fisicamente agressiva. Ela atacou Perls e quase o derrubou. 
Ele escreveu "Então eu bati nela até derrubá-la no chão" e disse a ela "Eu bati em mais de 
uma cadela na minha vida" (Perls, 1969, p. 94). Perls escreveu: “E existem milhares de 
mulheres como ela nos Estados Unidos. Provocar e atormentar, reclamar, irritar os maridos e 
nunca levar palmadas” (Perls, 1969, p. 94). Com outra cliente, ele sentiu que ela estava 
sofrendo uma agressão contra si mesma, então ele disse a ela para sufocá-lo. Ela “levou à 
sério” e o sufocou tanto que ele quase perdeu a consciência, antes que pudesse se libertar 
(Perls, 1969, p. 95). 
Perls foi muito aberto sobre o uso frequente de drogas psicoativas, como o LSD; após 
sua primeira viagem de LSD, ele disse: "Eu sou certamente muito mais louco do que 
imaginava" (como citado em Shepard, 1975, p. 89). Em 1959, antes da ascensão do 
movimento psicodélico, Perls usava o Sandoz LSD semanalmente (Shepard, 1975, p. 89). 
Deve-se notar que o LSD não se tornou uma substância legalmente controlada até 1966 
(Padwa & Cunningham, 2010). 
Perls tinha uma forte opinião sobre seu próprio significado como teórico e 
psicoterapeuta. Ele se comparou a Freud e afirmou que a Gestalt Therapy salvaria a 
humanidade. Sua autobiografia (1969) afirma: "O louco Fritz Perls está se tornando um dos 
heróis da história da ciência" (n.p.) e "Acredito que sou o melhor terapeuta dos Estados 
Unidos, talvez do mundo, para qualquer tipo de neurose" (n.p.). Perls assumiu a 
personalidade de um guru; ele tinha uma longa barba e cabelos brancos e usava miçangas, 
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sandálias e mantos esvoaçantes quando morou no Esalen Institute em Big Sur na década de 
1960. Ele conduziu vários grupos de terapia e oficinas de treinamento. Algumas pessoas de 
Hollywood, como Jennifer Jones, foram atraídas pelo novo movimento do potencial humano 
e subiram a costa até Esalen para experimentar grupos de encontro e terapia da gestalt. Jones 
realizou uma festa em sua casa em Hollywood em 1966, na qual participaram Rock Hudson, 
Glenn Ford, James Coburn, Shirley MacLaine, Natalie Wood e Dennis Hopper, entre muitos 
outros (Kripal, 2007). Carl Rogers e Fritz Perls também compareceram à festa, e Rogers 
mostrou um filme sobre grupos de encontros e se ofereceu para liderar um grupo ali. Ao 
mesmo tempo, Fritz Perls estava do lado de fora à beira da piscina, realizando uma sessão de 
gestalt com a atriz Natalie Wood. A certa altura, Perls disse a ela: "Você não passa de uma 
criança mimada" e ele a inclinou sobre o joelho e a espancou. Ela escapou do seu alcance e 
saiu da festa. A atriz Tuesday Weld sentou no assento quente ao lado, mas também ficou 
ofendida e saiu (Kripal, 2007). 
Perls era conhecido por sua falta de inibições sexuais. A biografia escrita por Shepard 
(1975) forneceu vários exemplos. Certa vez, ao compartilhar suas dúvidas sobre sua 
masculinidade com seu supervisor de terapia, o supervisor finalmente disse: “Bem, tire seu 
pênis. Vamos dar uma olhada na coisa” (p. 38). Perls o fez, e conversaram sobre o tamanho 
de seu pênis e decidiram que era adequado, deixando a preocupação de Perls em repouso. 
Mais tarde em sua carreira, Perls desafiou as expectativas convencionais sobre limites 
terapêuticos, incluindo o tabu sobre a intimidade sexual com os clientes. Ele escreveu que, 
quando consolava uma cliente em perigo, às vezes acariciava seus quadris e seios (Perls, 
1969). Ele se descreveu como um pervertido polimorfo; ele gostava de seduzir mulheres, 
mas, muitas vezes, as mulheres o seduziam. No final dos anos 1960, ele escreveu: “Gosto da 
minha reputação de ser um velho sujo e um guru. Infelizmente, o primeiro está em declínio e 
o segundo em ascensão (Perls, 1969, n.p.). 
Quando Perls tinha 65 anos, ele se apaixonou por uma de suas clientes casadas, Marty 
Fromm. Ele geralmente dava um beijo amigável no final de cada sessão, mas uma vez o beijo 
ficou erótico. Ela ficou com raiva e disse a ele: “Eu preciso de um terapeuta, não de um 
amante, e saiu da sala (Shepard, 1975, p. 82). No entanto, algumas sessões depois, eles se 
tornaram amantes. Suas sessões de terapia continuaram (pagas pelo marido) e ela até 
começou a cozinhar para Perls e a lavar a roupa dele (Shepard, 1975). Os comportamentos de 
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Perls, tanto em sua vida pessoal quanto em sua terapia, desafiam as expectativas 
convencionais sobre o comportamento apropriado. No entanto, ele é geralmente considerado 
um dos patriarcas da psicoterapia (Corsini & Wedding, 2008). 
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Albert Ellis 
Albert Ellis foi um dos mais famosos e provocadores dentre todos os psicoterapeutas. 
Seu modelo (Terapia Comportamental Racional Emotiva) foi desenvolvido 
independentemente do modelo de Terapia Cognitiva de Aaron Beck (Ellis, 2010). Esses e 
outros modelos, conhecidos hoje geralmente como terapia cognitivo-comportamental, são as 
formas mais amplamente praticadas de psicoterapia (Messer & Gurman, 2011). Ellis afirmou 
ter visto mais clientes do que quase qualquer outro terapeuta no mundo (Ellis, 2010). 
Norcross (2010) descreveu Ellis como um dos psicoterapeutas mais influentes e polêmicos da 
história e afirmou que as inovações de Ellis sobreviverão por séculos. 
Dobkin (2005) observou que, embora Ellis fosse um gigante indiscutível da 
psicologia do século XX, ele poderia "também parecer o tipo de psiquiatra que confirma as 
piores suspeitas dos não-crentes sobre terapia:" "Espere um minuto, esse cara é mais louco do 
que eu" (parágrafo 6). Ellis morreu em 2007, aos 93 anos, mas sua autobiografia foi 
publicada em 2010 (Ellis, 2010). Norcross (2010) descreveu a autobiografia de Ellis como 
uma brincadeira provocativa, sem censura e com classificação R, repleta de palavrões, 
revelações chocantes e verdades desagradáveis, e observou que algumas das histórias do livro 
podem chocar alguns leitores. 
Ellis era muito franco quanto ao seu forte desejo sexual, e ele não tinha interesse em 
monogamia; ele escreveu livros com os títulos The Case for Promiscuity [O caso da 
promiscuidade], Sex Without Guilt [Sexo sem culpa], Nymphomania [Ninfomania] e Women: 
How to Handle Them [Mulheres: como lidar com elas] (Ellis, 2010). Ellis escreveu que ele 
era viciado em froterismo desde os 15 anos de idade; ele “procurou trens lotados, sala de 3
espera na parte de trás de cinemas, elevadores lotados e outros lugares onde eu poderia 
esfregar minha barriga nas costas e quadris das mulheres e logo obter deliciosos 
orgasmos. . . . Ao longo dos anos, até ter relações sexuais "regulares" com parceiras que 
 O frotteurismo é o interesse parafílico em esfregar, geralmente a área pélvica ou o pênis ereto, contra uma 3
pessoa que não consente por prazer sexual.
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 COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
consentiram, tive centenas de aventuras sexuais incitadas por frotismo" (Ellis, 2004, p. 
126-7). Ellis se considerava um dos frotistas mais ativos da cidade de Nova York (Ellis, 
2010). "Eu cometi algum ato sexual 'realmente' imoral? Para ser honesto, eu certamente fiz. 
Um pouco? Não, muito. De fato, centenas de vezes” (Ellis, 2010, p. 302). 
Para seu crédito, Ellis sentiu alguma vergonha de sua atividade sexual ilícita. No final 
de sua vida, ele escreveu: “Agora, quando penso nisso, sou culpado por meus atos. Eu tenho 
remorso pelo que fiz. . . . Deploro o pecado e aceito o pecador ”(Ellis, 2010, p. 303). "Eu 
sabia que o froterismo estava errado - que às vezes é incoerente”, mas “O sexo no metrô foi o 
sexo mais fácil e barato que eu já tive, e continuei por vinte anos. . . . Mas, de certaforma, foi 
ótimo: sem problemas, sem obrigações, sem perda de tempo, sem ter que aturar a conversa 
insana da maioria das mulheres, sem gravidez, sem doenças, sem tédio” (Ellis, 2004, p. 127). 
Ellis confessou que, muitas vezes, gostava de fantasia sexual e breves encontros mais do que 
relacionamentos maduros com mulheres; ele lamentou que, depois de uma noite de descanso, 
uma mulher pudesse se tornar um problema, "especialmente se ela fosse estúpida, bêbada ou 
chata" (Ellis, 2010, p. 298). Ele elogiou sua última esposa, Debbie Joffee, por sua beleza e 
sensualidade, acrescentando "E ela não precisa conversar por horas depois de fazer 
amor!" (Ellis, 2010, p. 301). 
Sobre seu intenso interesse por sexo, Ellis disse a um entrevistador: "Eu francamente 
reconheço que sou um 'pervertido' heterossexual. . . . Tecnicamente, você poderia dizer que 
sou apegado ou atraído fetichisticamente por mulheres mais jovens” (Krassner, 1999, p. 33). 
Às vezes, Ellis pode ser visto como fornecendo informações demais, mas seu 
compartilhamento excessivo fazia parte de sua personalidade. Em sua autobiografia, Ellis 
descreveu os detalhes de sua vida sexual com dezenas de mulheres. Pode ser difícil para o 
leitor não se encolher ao ler suas descrições gráficas (não particularmente bem escritas) e 
explícitas de, por exemplo, fazer sexo com três mulheres em um único dia. Além disso, é 
questionável se os leitores precisam saber que ele chamou seu pênis de “Oscar”. Ellis (2010) 
descreveu oito métodos diferentes que ele usou para prolongar a relação sexual e retardar a 
ejaculação, incluindo o uso de duas profiláticas para amortecer as sensações e ter 
pensamentos desagradáveis sobre política ou psicoterapia. 
Ellis gostava de discutir o que ele considerava idéias irracionais sobre sexo. Por 
exemplo, ele disse: “Em termos de ser um tabu, o incesto é tão absurdo quanto qualquer outro 
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 COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
tabu” (Krassner, 1999, p. 31). Quando perguntado por um entrevistador se ele faria sexo com 
sua própria irmã, se eles fossem abandonados em uma ilha deserta, Ellis disse: “Eu quase 
certamente copularia com minha irmã . . . sob as condições hipotéticas que você dá, por que 
não?” (Krassner, 1999, p. 33). Ele acrescentou que não aconselharia ninguém a cometer 
incesto por causa das desvantagens práticas, e disse que seu comportamento no cenário das 
ilhas desertas seria diferente se houvesse outras fêmeas disponíveis ou se houvesse risco de 
consequências legais. 
Ellis deliberadamente teve três filhos com sua ex-esposa, Karyl, enquanto ela era 
casada com outro homem, que nunca soube que ele não era o pai dos filhos; Ellis confessou 
que ele ignorou e negligenciou as crianças por muitos anos (Ellis, 2010). Ellis também 
admitiu ter feito sexo com algumas de suas pacientes, embora apenas após o término do 
tratamento (Dobkin, 2005). 
O perigo da abertura de Ellis sobre sua vida pessoal é que, como Norcross (2010, n.p.) 
escreveu na autobiografia de Ellis, “os clientes de psicoterapia e o público provavelmente 
podem ter uma percepção reforçada dos psicólogos como loucos obsessivos por sexo. Seria 
fácil condenar Ellis por seus maus comportamentos, ou descrevê-lo como narcísico ou 
misógino, mas talvez ele devesse ser admirado por ser mais honesto e franco em relação a 
seus pontos fracos do que a maioria das pessoas. Como sua autobiografia deixa claro, Ellis 
era, ao mesmo tempo, um ser humano falível e um pioneiro criativo de novas e eficazes 
técnicas de psicoterapia. É notável que o homem que teve problemas pessoais tão óbvios 
também tenha sido um dos maiores inovadores da história da psicoterapia. 
*** 
Milton H. Erickson 
Milton Erickson ficou conhecido por ser um mestre da hipnoterapia e pai das 
abordagens da psicoterapia breve (Masson, 1988). Embora os métodos terapêuticos de 
Erickson não tenham sido estudados em contextos de pesquisa, muitos de seus estudos de 
caso foram coletados e descritos em livros (Haley, 1986; Rosen, 1982) e têm sido muito 
influentes. Hoje, a Fundação Milton H. Erickson publica seus livros, patrocina oficinas de 
treinamento e a Conferência Evolução da Psicoterapia, e transformou a casa de Erickson em 
um museu. O processo de transformar Erickson em um ícone da psicoterapia foi realizado. 
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 COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
Várias críticas foram levantadas sobre a maneira de Erickson fazer psicoterapia e suas 
atitudes em relação às mulheres. Ele costumava usar seu carisma e suas imensas habilidades 
para influenciar os clientes para direcioná-los à mudança. Ele foi o primeiro terapeuta 
importante a propor que a responsabilidade pela mudança terapêutica recai sobre o terapeuta, 
e não sobre o cliente (Haley, 1985a). Ele acreditava que o papel do terapeuta é usar sugestões 
e instruções diretas e indiretas para influenciar o cliente a mudar. 
Em um caso descrito por Haley (1986), Erickson viu uma jovem pudica que estava 
angustiada por se considerar gorda e pouco atraente. Ele disse que a considerava 
extremamente atraente sexualmente, e que ela seria ainda mais se perdesse algum peso. Após 
essa intervenção, a mulher perdeu peso e se apaixonou por um homem mais velho. Outra 
cliente reclama que nunca teve um encontro. Erickson achou que ela era atraente, mas mal 
vestida e arrumada, então ele disse que poderia ajudá-la, mas ela teria que prometer fazer o 
que ele lhe pedisse. Depois que ela concordou, ele criticou detalhadamente seu peso e 
aparência e ordenou que ela se limpasse, usasse maquiagem, fizesse aulas de dança e 
procurasse uma consultora de beleza. Ele disse a ela: “você tem um belo pedaço de pêlo entre 
as pernas. Agora vá para casa, tire a roupa, fique nua, fique na frente de um espelho e verá os 
três belos emblemas da feminilidade. . . você não pode esquecê-los novamente” (Haley, 1986, 
p. 93). Segundo o relato de caso, a mulher melhorou sua aparência e em um ano se casou. 
Haley 1985b; 1986) descreveu um caso semelhante. Uma das clientes de Erickson era 
uma garota tímida que tinha muitos medos e inibições. Ela conhecia um garoto com quem 
queria se casar, mas tinha medo de viajar para visitá-lo. Uma das intervenções de Erickson 
foi pedir a ela que trouxesse o menor par de shorts curtos possível para sua próxima sessão de 
terapia. Ele disse a ela que ela poderia usá-los para a sessão ou ela poderia se despir e colocá-
los em sua presença. Ela os usava no escritório. Em seguida, ele disse a ela que iria discutir 
sexo com ela, e se ela não escutasse, teria que tirar o short e colocá-lo de volta na presença 
dele. Em uma sessão subsequente, ele a instruiu a confrontar seus medos sexuais, despindo-se 
diante dele: “Eu a mandei me mostrar seu peito direito, seu peito esquerdo, seu mamilo 
direito, seu mamilo esquerdo. O umbigo dela. A área genital dela.... Eu a fiz virar lentamente. 
Ela se vestiu. Eu encerrei a sessão (Haley, 1985b, p. 128). Isso foi feito para deixá-la mais 
confortável com seu corpo e com a ideia de sexo. Depois que ela conseguiu viajar, vestir 
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 COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
shorts, se despir na frente dele e falar sobre sexo, ele ordenou que ela se casasse nas próximas 
duas semanas. Como sempre, a história teve um final feliz. 
Em outro caso (Haley, 1986), uma cliente do sexo feminino foi ver Erickson porque ela 
coçou os seios e o estômago até sangrarem sem motivo aparente. Erickson disse a ela que ele 
poderia curá-la em menos de trinta segundos. Ele disse a ela que, na próxima vez que ela 
quisesse coçar os mamilos, ela deveria ir ao consultório, expor os seios e arranhá-los na 
frente dele. Segundo Erickson, a mulher disse que jamais faria isto novamente e foi curada 
instantaneamente (Haley, 1986). O'Hanlon (1999) observou que Erickson costumava dizer às 
clientes do sexo feminino para expor seus corpos a ele como parte do tratamento,mas ele 
nunca relatou se seus clientes do sexo masculino fizeram o mesmo. 
Muitas das histórias de Erickson sobre seus casos parecem contos de fadas, nas quais 
um patinho feio é transformado em uma linda princesa em uma única entrevista (Masson, 
1988). Uma objeção às histórias é que elas não podem ser documentadas ou verificadas. Os 
leitores são justificadamente céticos em relação aos relatos anedóticos de curas rápidas de 
transtornos mentais, especialmente, quando não há menção de follow-up. Por exemplo, 
Erickson relatou um caso em que ele curou uma mulher inibida de fobia social, 
simplesmente, dizendo a ela uma vez: "Saia da panela, ou vá à merda" (Zeig, 1985, p. 141). 
Em outro caso, ele viu um casal que brigava todos os dias durante a vida conjugal. De acordo 
com Erickson, depois que ele disse a eles: "Vocês já não brigaram o suficiente? Por que não 
começam a aproveitar a vida?" Eles "tiveram uma vida muito agradável" (Rosen, 1982, p. 
55). 
As críticas comuns à abordagem de Erickson são que ela é difícil de aprender, não há 
guias de tratamento claros, há pouca pesquisa para apoiá-la, as técnicas são superficiais e a 
abordagem é muito autoritária e diretiva (Lankton, 1990). Os clientes geralmente não são 
devidamente informados sobre o processo de terapia e não conseguem dar consentimento 
informado à terapia (Eisner, 2000). Até os apoiadores de Erickson admitem as potenciais 
preocupações éticas sobre o grau em que a abordagem é manipuladora, mas eles respondem 
que todos os terapeutas são manipuladores até certo ponto e que os clientes que buscam a 
terapia desejam ser manipulados para mudar seu comportamento problemático (Zeig & 
Munion, 1999). 
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 COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
Embora a abordagem psicoterapêutica de Erickson seja intrigante e tenha sido muito 
influente, é bem possível que os sucessos que ele teve com os clientes se devam ao seu estilo 
interpessoal, a sua personalidade e ao seu relacionamento e carisma, e não devido a suas 
técnicas e intervenções terapêuticas. Assim como com alguns outros grandes psicoterapeutas, 
pode ser que ele tenha sido a única pessoa que conseguiu ter sucesso usando seus métodos. 
Além disso, preocupações éticas sobre a natureza manipuladora de sua abordagem e suas 
impropriedades com clientes do sexo feminino sugerem que algumas de suas técnicas 
terapêuticas devem ser evitadas. 
*** 
Conclusões 
Dadas as restrições de espaço de um artigo, só é possível descrever alguns aspectos da 
vida de alguns dos grandes psicoterapeutas. Felizmente, existem boas biografias de todos os 
grandes psicoterapeutas, e alguns deles também escreveram suas autobiografias. A leitura 
desses livros pode colocar “carne e sangue” nos “ossos secos” da teoria. 
Alguns dos grandes psicoterapeutas preferiram não falar muito sobre suas vidas 
pessoais, mas outros eram muito abertos quanto a seus traços e falhas pouco louváveis. Os 
psicoterapeutas descritos neste artigo valorizaram muito a honestidade e a transparência na 
comunicação e, às vezes, revelaram coisas que podem colocá-los sob um prisma ruim. Por 
exemplo, Carl Rogers deixou 140 caixas de seus documentos para a Biblioteca do Congresso, 
sabendo que os biógrafos os leriam e escreveriam sobre suas falhas e conflitos (Cohen, 
1997). Talvez os psicoterapeutas contemporâneos devam admirar os grandes psicoterapeutas 
por sua franqueza, em vez de condená-los por suas falhas totalmente humanas. 
Segundo Mindess (1988), colocar toda a nossa fé na orientação dos grandes 
psicoterapeutas é perseguir uma miragem. É claro que podemos aprender com eles, mas no 
final, precisamos encontrar nossas próprias soluções. Uma atitude de ceticismo respeitoso 
permitir-nos-á considerar suas sugestões enquanto perceberemos que suas verdades podem 
funcionar para eles, mas não necessariamente para nós. Os grandes teóricos nos desafiam a 
criar nossas próprias identidades e nossas próprias abordagens à psicoterapia. Quando 
perguntaram a Carl Rogers sobre seus muitos seguidores que se autodenominam 
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 COUNSELING & WELLNESS JOURNAL (2016) TIMOTHY C. THOMASON
"rogerianos", ele disse: "Eu realmente sinto muito por eles. . . Procuro não formar discípulos, 
mas não posso controlá-los” (Mindess, 1988, p. 129). 
A percepção de Jung de que é necessário integrar o lado sombrio de si mesmo à 
consciência é relevante para o estudo da vida dos grandes psicólogos. O ego e a sombra vêm 
da mesma fonte e se equilibram; “Fazer luz é fazer sombra; um não pode existir sem o outro” 
(Johnson, 1991, p. 17). Esse paradoxo está incorporado ao título deste artigo: esses 
psicoterapeutas eram ótimos e cada um deles também tinha uma sombra. Não poderia ser de 
outra forma, uma vez que todos os humanos têm uma sombra. O fato de não serem perfeitos 
não deve diminuir o significado de suas contribuições para a psicoterapia. Em vez disso, 
nossa apreciação por esses homens e suas idéias é aprofundada quando entendemos que eles 
não eram divindades, mas seres humanos. 
No longo período da história, esses terapeutas serão lembrados por suas contribuições, e 
não por suas peculiaridades pessoais ou crenças estranhas. Mesmo assim, um estudo dos 
lados sombrios dos grandes psicoterapeutas nos dá uma compreensão mais abrangente de 
suas personalidades, vidas e trabalhos. Uma compreensão dos desafios pessoais que eles 
enfrentaram também ilustra a necessidade de todos os conselheiros e psicoterapeutas 
experimentarem sua própria psicoterapia. Essa é a melhor maneira de aprender a reconhecer e 
lidar com o lado sombrio de alguém, em vez de reprimi-lo. A psicoterapia deve fazer parte do 
plano de bem-estar pessoal de todo conselheiro e terapeuta. 
*** 
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