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TCC POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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1 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES: 
Uma breve análise do ABC Paulista 
 
Neide dos Santos Brentegani
1
 
Beatriz Aparecida Tangerino
2
 
 
 
Resumo 
 
Este artigo tem por objetivo discutir sobre políticas educacionais realizadas na Região 
do ABC, sobretudo as políticas voltadas para a infância e para adolescência. Trata-se de 
um estudo de metodologia de revisão bibliográfica, centrado em debater sobre questões 
que envolvem as intervenções públicas que possuem em seu objetivo central auxiliar a 
criança e o jovem, os seus direitos e participação social como atores sociais na esfera 
pública. Embora o sistema de ações públicas direcionadas de forma específica ao 
público adolescente e jovem esteja ainda em ascensão, este estudo tem como tema as 
concepções e a forma de construção da esfera das ações públicas para crianças e jovens, 
principalmente das classes mais populares, na região do ABC Paulista. 
 
Palavras-chave: Políticas Públicas, ABC, Criança e Adolescente. 
 
 
PUBLIC POLICIES FOR CHILDREN AND 
ADOLESCENTS: 
A brief analysis of Abc Paulista 
 
Abstract 
 
The purpose of this article is discussing educational policies carried out in the ABC 
Region, especially policies aimed at children and adolescents. It is a methodology study 
of bibliographic review, focused on discussing issues, involving public interventions 
that have in their central objective to help children, young people and their rights and 
social participation as social actors in the public sphere. Although the system of public 
actions directed specifically to the adolescent and young public are still on the rise, this 
study has as its theme the conceptions and the form of the sphere construction of public 
actions for children and young people, mainly the most popular classes, in the region of 
ABC Paulista. 
 
Keywords: Public Policies, ABC, Child and Adolescent. 
 
 
1
 Assistente Social pela Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul, especialista em 
Políticas Públicas e Gestão de Projetos Sociais, E-mail: neide.brentegani@yahoo.com.br 
2
 Mestre em Educação, Especialista em Direito Educacional, coordenador pedagógico PMSP, E-mail: 
beatriztangerino@hotmail.com 
2 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 Meu interesse em investigar as políticas públicas para crianças e adolescentes 
surge a partir de minha carreira como Assistente Social, atuando em programas de 
serviço de convivência e fortalecimento de vínculo familiar para crianças, adolescentes 
e suas famílias. A vivência com famílias em situação de vulnerabilidade mostra a 
fragilidade destas políticas, que atendem de maneira precária as reais necessidades e 
demandas do referido público. 
 Inicio com um breve histórico e, em seguida, avanço para o contexto político do 
ABC Paulista e as políticas educacionais desta região. 
 Para tanto, foi realizado um estudo de metodologia qualitativa por meio de uma 
abordagem de revisão bibliográfica. Como referencial teórico, colaboraram, 
principalmente, os estudos de José de Souza Martins (1992), Sergio Luiz de Cerqueira 
Silva (1994) e Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins (1994) – autores que se 
debruçaram sobre a história do desenvolvimento da Região do ABC Paulista. 
 
2 BREVE HISTÓRICO 
 São Bernardo do Campo integra, juntamente com mais seis cidades (Diadema, 
Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André e São Caetano do Sul) o ABC 
Paulista, fazendo parte da Região Metropolitana da Grande São Paulo. 
 Com o passar dos anos, o ABC tornou-se conhecido por ser uma grande região 
em decorrência, principalmente, de dois elementos que caracterizam sua organização 
urbana: um parque industrial e um movimento operário e sindical de forte presença. 
 No contexto político histórico do ABC, pode ser observada, desde os anos 
oitenta, a iniciativa de administradores locais e o apoio de partidos pautados pelo 
progressismo de caráter democrático, os quais tiveram uma atuação enfática nas cidades 
de Diadema, Santo André, Mauá, e Ribeirão Pires. No caso de São Bernardo do Campo, 
os partidos têm um histórico de alternância. Apenas São Caetano do Sul pode ser 
observado no sentido contrário, por ser administrado por gestões mais conservadoras. 
 Esta conjuntura histórica regional, permitiu que a maioria dos governos das 
administrações municipais do ABC instituíssem novos padrões de interações entre o 
Estado – na sua dimensão local – e a sociedade, assim como implementassem como a 
aliança feita entre as administração locais do, ABC e Governo Estadual e São Paulo 
afim de cobrir o direito de acesso de crianças e adolescentes a escolarização, no final da 
3 
 
década de 70 e a fundação do fundo de políticas municipais de educação de jovens e 
adultos, a ampliação do atendimento de educação infantil e a implementação de creches 
publicas, nos anos 80(Villar e Villar et al, 2004). 
 Neste contexto, pode ser verificado o surgimento nesta região, desde os anos 80, 
investimentos da área pública realizados por executivos municipais nos campos da 
educação básica - Educação infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio - e do Ensino 
Superior, como observado no quadro 1 abaixo, o índice de alfabetização no ABC se 
aproxima de 1, situação considerada boa por Ancassuerd (2001, p62) 
 
QUADRO 1 
Municípios de ABC – 
2000 
Índice de escolaridade Índice de alfabetização 
Diadema 0, 600 0,886 
Mauá 0, 603 0,886 
Ribeirão Pires 0,689 0,909 
Rio Grande da Serra 0, 569 0,866 
Santo André 0,754 0, 921 
São Bernardo 0,769 0,912 
São Caetano 0,878 0,942 
Fonte: Atlas da Exclusão Social no Brasil. POCHMANN et al. (2003) apud Ancassuerd, 2001. 
 
 Exemplos são os Programa de Pós-Urbanização, criado em 1995, abrangendo 
moradores de núcleos habitacionais urbanizados, oferecendo serviços básicos de saúde, 
educação e lazer, o MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos) de 
Diadema, fornecendo formação de monitores para alfabetização. Esses monitores se 
tratavam de moradores da região, que ministravam suas aulas em igrejas, centros 
comunitários ou mesmo nas residências das pessoas (Prefeitura Municipal de Diadema, 
1996). Dentre esses projetos, pode-se mencionar um esforço maior para a alfabetização 
de jovens e adultos e ao atendimento do primeiro e segundo segmentos do Ensino 
Fundamental. Os programas relacionados ao ensino médio possuem menor 
investimento, já que este segmento é de responsabilidade do Estado. 
 Embora o sistema de ações públicas direcionadas de forma específica ao público 
adolescente e jovem esteja ainda em ascensão, este estudo tem como tema as 
concepções e a forma de construção da esfera das ações públicas para crianças e jovens, 
4 
 
principalmente das classes mais populares, na região do ABC Paulista. As ações se 
caracterizam por estarem centradas em projetos e atividades educacionais as quais não 
ficam reduzidas à inserção regular nas escolas, podendo se expandir para as áreas de 
trabalho, lazer, cultura, esportes e outras formas que visem reduzir a violência e 
estimular a ação dessas crianças e jovens, abraçando e unindo esses setores. 
 
3 CONTEXTO POLÍTICO DO ABC 
 
 Para analisar o panorama da Região ABC, torna-se necessário observar os 
aspectos que circundam a realidade social mais ampla, pois não é possível avaliar suas 
políticas de forma isolada, desconsiderando influências estruturais de ordem política e 
econômica que perpassam por todo contexto social. Ainda assim, pode-se debruçar 
sobre atividades específicas desenvolvidas pela região mencionada, as quais a 
caracterizam como uma região de plena atuação social e a insere num contexto político 
atuante dentro da sociedade brasileira. 
 Originalmente, a região suburbana exibia um ar bucólico responsável por atrair 
os indivíduos que buscavam afastamento da dinâmica de São Paulo (MARTINS, 1992). 
Entretanto,devido a decisões externas ao local, a região seria propícia para abrigar o 
parque industrial de maior expressão do Mercosul e do Brasil. No final do século 
dezenove, muitas indústrias começaram a surgir, dando à região um aspecto já 
industrial. Isso se deu por conta da implementação da ferrovia São Paulo Railway, que 
interligava Jundiaí a Porto de Santos para atividades ligadas a produção da lavoura de 
café do oeste paulista. Esses traços foram se reforçando com o surgimento da Via 
Anchieta, nos anos 40, e, posteriormente, com a instalação das grandes montadoras na 
região, as quais marcaram de vez a região como tipicamente industrial (SILVA, 1994). 
 Embora as decisões políticas tomadas fora da região tenham sido muito 
importantes para a construção dos princípios industriais no ABC, os elementos próprios 
daquele espaço também foram decisivos para que esse panorama fosse possível. 
Posteriormente, o que marcou a região e sua força perante todo o Brasil foi a ação de 
atores sociais advindos deste local que fincaram neste solo a bandeira da luta operária. 
 O movimento operário surgiu neste contexto industrial, demonstrando seus 
protestos acerca das condições indignas de trabalho que assolavam os trabalhadores de 
acordo com marcante influência anarco-sindical defendendo o caso dos trabalhadores da 
5 
 
região e combatendo a nível nacional as ideias capitalistas responsáveis por causar 
tantos danos à sociedade. 
 A partir dos anos 70 e no decorrer dos 80, o sindicalismo ganhou novos 
contornos na região, sendo considerado sinônimo de luta, também em contexto nacional 
e internacional, por conta da autonomia advinda dos trabalhadores e da politização 
sobre questões referentes ao trabalho (MÉDICI, PINHEIRO, 1990). 
 Sendo assim, o ABC ganhou projeção nacional por conta das propriedades 
benéficas do seu parque industrial e por representar lutas pelos direitos dos 
trabalhadores de modo autônomo. As conquistas do ABC no tocante aos direitos 
operários mediante ao campo trabalhista desde o seu surgimento propiciou inúmeras 
outras conquistas sociais nos campos religioso, estudantil, culturais, étnicos etc, 
trazendo para a região um aspecto de interação e respeito aos direitos humanos 
(MARTINS, 1994). 
 Todos esses movimentos e seus respectivos apoiadores e componentes dão vida 
ao espaço regional que hoje intera a comunidade da Região do ABC, ainda que alguns 
problemas possam se sobressair nesse contexto histórico de lutas e ações sociais, 
demonstrando que o complexo não é característico apenas de unidade. O avanço das 
políticas de mercado e o produto de tais políticas muitas vezes desiguais também 
perpassam pela região. Nesse panorama, São Caetano do Sul consiste na cidade 
pertencente ao 1º. lugar no ranking de exclusão social do Brasil, possuindo os melhores 
indicadores de qualidade de vida, enquanto Rio Grande da Serra pertence à 2.096ª, 
posição do ranking de exclusão (POCHMANN, AMORIM, 2003). 
 
Não distinguiríamos entre unidade e diversidade, se não soubéssemos que a 
unidade é o próprio do planeta e da história e a diversidade é o próprio dos 
lugares. Os eventos operam essa ligação entre os lugares e uma história em 
movimento. A região e o lugar, aliás, definem-se como funcionalização do 
mundo e é por eles que o mundo é percebido empiricamente. A região e o 
lugar não têm existência própria. Nada mais são que uma abstração, se os 
considerarmos à parte da totalidade. Os recursos totais do mundo ou de um 
país quer seja o capital, a população, a força de trabalho, o excedente etc., 
dividem-se pelo movimento da totalidade, através da divisão do trabalho e na 
forma de eventos. 
A cada momento histórico, tais recursos são distribuídos de diferentes 
maneiras e localmente combinados, o que acarreta uma diferenciação no 
interior do espaço total e confere a cada região ou lugar sua especificidade e 
definição particular. Sua significação é dada pela totalidade de recursos e 
muda conforme o movimento histórico (Santos, 2002: 165). 
 
 
 
6 
 
 Sendo assim, as políticas voltadas para a infância e para a adolescência e 
juventude no âmbito da educação podem ser compreendidas, neste cenário, como 
resultado dos investimentos provenientes de recursos capitalistas, os quais são 
investidos em prol de determinados retornos e dos próprios moradores que participaram 
do movimento político defendendo seus interesses, inclusive em oposição, muitas vezes, 
às práticas pouco humanas do capital financeiro. 
 
3.1 Políticas educacionais do ABC 
 
 A partir dos anos 70, houve um esforço dos gestores do ABC na busca por 
parcerias com o governo estadual de São Paulo para instituir o direito ao acesso à 
educação por crianças e adolescentes\ jovens. Dessa forma, haveria uma divisão de 
acompanhamento, na qual os municípios ficariam encarregados de fornecer a educação 
infantil, começando pelo pré-escolar, e o ensino superior por meio de Fundações; a 
esfera estadual ficaria responsável pelo acesso ao ensino fundamental e ensino médio e 
pelo ensino técnico\profissional. 
 No decorrer dos anos 80, as cidades de Diadema, São Bernardo do Campo e 
Santo André deram início ao ciclo de políticas municipais de educação de jovens e 
adultos, nos anos iniciais do ensino fundamental, e aprimoraram os serviços ofertados à 
educação infantil após a inauguração de escolas e creches. Ao mesmo tempo, os órgãos 
locais de Diadema e São Caetano passaram a ofertar serviços mais importantes para o 
público infantil, investindo em materiais e ferramentas escolares próprias para crianças 
com necessidades especiais. 
 A partir dos anos 90, São Caetano, Diadema e Santo André ampliaram suas 
ferramentas e equipamentos escolares, tornando-os mais diversos e instituindo a 
modalidade de suplência profissionalizante no ensino fundamental. 
 Todas essas práticas implementadas de acordo com medidas políticas locais 
voltadas para a educação culminou no surgimento de uma importante rede de unidades 
públicas de educação com finalidade de fornecer e acompanhar o acesso à escola pelas 
crianças, adolescentes e jovens do ABC. 
 Com esse serviço, todas as administrações locais do ABC desenvolveram 
trabalhos fundamentais como programas na área cultural, implementando bibliotecas, 
espaços de leitura, fundações voltadas para lazer e cultura etc. Investiram, ainda, em 
7 
 
trabalhos voltados para os esportes e para o lazer. Esse movimento deu frutos muito 
positivos para a socialização dos jovens e crianças da região. 
 Ademais, no final dos anos 90, surgiu o Movimento de Alfabetização de 
Jovens e Adultos (MOVA) nos vários municípios da Região, produto de uma política de 
colaboração entre as administrações dos municípios e os setores progressistas da 
sociedade civil organizada. O MOVA possui em sua essência forte influência do 
pensador Paulo Freire acerca dos direitos das crianças e adolescentes ao possuírem 
acesso à escolarização de qualidade e com dignidade. 
 
Assegurar a todos os jovens e adultos não escolarizados de Diadema o direito 
à alfabetização. Integrar e engajar diferentes setores da Sociedade Civil num 
amplo movimento de alfabetização e Educação. Criar o Fórum Municipal de 
Alfabetização com a participação dos diferentes segmentos representativos da 
sociedade.(Objetivos do MOVA – Diadema). 
 
Quadro 3: Projetos e programas e suas distribuições 
Município Programa/ 
Projeto/ 
Ação 
Nível de atendimento 
Alfabetização Ens. 
Fundamental 
1º segmento 
Ens. 
Fundamental 
2º segmento 
Ensino 
Médio 
R. G da Serra MOVA 
S. Caetano do 
Sul 
PROALFA 
Ribeirão Pires MOVA 
Santo André MOVA 
 SEJA 
Diadema MOVA 
EJA 
São Bernardo MOVA 
PROMAC 
Telecurso 
Mauá MOVA 
EJA 
Data-base:2003 
 
Outra importante iniciativa foi em 1995, a criação do Telecurso em São 
Bernardo do Campo, o qual ofertava em nível municipal o EnsinoFundamental e o 
Ensino Médio para jovens e adultos impedidos de frequentar a escola na idade 
considerada correta. 
 A partir dos anos 90, essas ações educacionais oferecidas pelos serviços públicos 
do estado de São Paulo e pelos gestores locais das cidades que compõem o ABC 
passaram a sofrer mudanças, tanto por motivação da política de descentralização e 
8 
 
desconcentração de responsabilidade político-administrativa praticada pelo governo 
paulista, como pela regulamentação e implementação do Fundo de Valorização do 
Magistério – FUNDEF (Lei Federal 9424/96). 
É por motivação do FUNDEF, de certa forma, que novos projetos e programas 
ou mesmo a renovação e aprimoramento desses projetos já existentes deixaram de ser 
realizados. Assim, isso influenciou as ações anteriormente vistas, efetuadas com a 
primeira onda de políticas públicas educacionais em Diadema, Santo André, São 
Bernardo e Mauá no fim dos anos 80 e início dos 90: 
 
A reforma educacional iniciada em 1995 veio sendo implementada sob o 
imperativo de restrição do gasto público, de modo a cooperar com o modelo 
de ajuste estrutural e a política de estabilização econômica adotados pelo 
governo federal. [...] Essas diretrizes de reforma educacional implicaram que 
o MEC mantivesse a educação básica de jovens e adultos na posição 
marginal que ela já ocupava nas políticas públicas de âmbito nacional...”. 
(HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 122). 
 
Entretanto, mesmo com as determinações do FUNDEF no sentido de não 
contemplar o desenvolvimento das políticas de educação de jovens e adultos, os 
próprios moradores e administradores locais podem atuar na própria região, ainda que 
isso vá ao encontro com as políticas de nível nacional. O fato de a região do ABC 
possuir acesso a recursos dos orçamentos municipais é um fator de grande importância 
nesse caso. 
 Dessa forma, no final dos anos 90, as cidades de Santo André, São Bernardo do 
Campo São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Diadema reformularam o serviço prestado, 
contrataram mais profissionais para a equipe de educação, trabalharam na adaptação das 
ferramentas e recursos escolares para que fosse possível oferecer atendimento ao ensino 
fundamental regular e supletivo. Embora seja necessário realizar uma averiguação mais 
profunda sobre os efeitos de tais ações para a população da Região, pode-se observar 
que os frutos foram muito positivos, principalmente por conta do atendimento prestado 
à infância com as creches e o pré-escolar, a educação especial e o atendimento voltado 
para a educação de jovens e adultos. Neste último caso, os próprios morados dos 
municípios conseguido atuar o sentido de organização na luta contra a erradicação do 
analfabetismo, mesmo com as limitações empreendidas pelo FUNDEF. Dessa forma, 
eles evidenciam capacidade de produção de novas políticas de educação para este 
segmento específico da população, como poderá ser visto com mais profundidade a 
seguir. 
9 
 
 
4. Políticas educacionais para jovens e adultos no ABC 
 
 A partir da década de 60, as práticas educacionais direcionadas a jovens e 
adultos da região do ABC passaram a receber apoio do Centro Popular de Cultura – 
CPC, do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, da Ação Popular – AP, de 
iniciativas da POLOP (Política Operária) e de outros movimentos políticos de esquerda 
atuantes na esfera popular. 
 Essas práticas de cunho cultural faziam referência aos princípios ideológicos e 
pedagógicos de Paulo Freire, que atuou pela luta contra o analfabetismo a partir de suas 
reflexões teóricas voltadas para a aceitação e valorização dos saberes do educando e de 
seu grupo de interação. Somado a isso, uma pedagogia contemplando o diálogo entre 
educando e educador como o centro da metodologia, negando e criticando ativamente a 
“educação bancária”, que consistia na visão do docente como detentor pleno do saber e 
do aluno como o ser passivo que deveria receber esse saber (MARTINS, 1994; 
ANCASSUERD, 2001). 
 Essas idéias percorreram e ganharam força em todos os debates pedagógicos 
brasileiros, não sendo diferente no ABC, que deu continuidade ao pensamento através 
de ações, mesmo com a implementação do Movimento Brasileiro de Alfabetização – 
MOBRAL, pela Ditadura Militar. Direcionado pelo governo do executivo federal, o 
Mobral consistia em sua essência em uma ação pública estatal com a finalidade de 
combater o analfabetismo, estando atrelado à necessidade da qualificação da mão de 
obra, sobretudo a industrial. Por isso, não consistia somente em uma política 
preocupada com o direito à educação, mas de preparar essa população de acordo com as 
necessidades funcionais da indústria que o Estado buscava superar. 
 Entretanto, a pedagogia de Paulo Freire manteve-se viva e atuante no ABC, 
principalmente com a ajuda da Igreja Católica, que dispôs de suas paróquias existentes 
nas cidades da região e das sociedades amigos de bairro. Esta corrente irá refletir na 
administração municipal de Diadema, de viés progressista, no início da década de 80, 
quando surgiu, como parte de uma política pública setorial, o primeiro serviço de 
educação de jovens e adultos no ABC. Como anteriormente mencionado, no decorrer 
dos anos 90, esta ação de política local, variando de algum modo, foi seguida pelos 
demais governos dos executivos municipais do ABC, dando fim, de uma vez por todas 
na região, aos resíduos provenientes do MOBRAL. A filosofia freiriana aplicou-se 
10 
 
também na EJA de São Bernardo do Campo a partir de 2009, quando a deliberação 
CMED 2/2009 estabelece as diretrizes para os cursos de Educação de Jovens e Adultos 
em nível Fundamental, implantados e mantidos pelo Poder Público no sistema 
municipal de ensino. 
Pode-se observar que desde muitos anos há ações específicas voltadas para 
fomentar e aprimorar as políticas educacionais de jovens e adultos, como projetos 
encabeçados por diversos movimentos coletivos, ação de populares ou setores da 
sociedade civil organizada e ações efetivadas pelo Estado mediante as esferas federal e 
local. 
 Nas cidades da região, a educação de jovens e adultos foi sendo aperfeiçoada e 
alterada de acordo com a ação de gestores e administradores locais, os quais agiram em 
prol de uma política mais acolhedora para esse público, mesmo que diante de alguns 
conflitos, dificuldades ou contradições na implementação de algum projeto ou 
programa. Desde o início até a atualidade, a educação para jovens e adultos, em toda a 
Região, passou a integrar o cotidiano desses jovens, demonstrando seu desenvolvimento 
e aperfeiçoamento diante dos problemas enfrentados. 
 Há indicadores positivos no tocante ao analfabetismo à ampliação do período de 
escolaridade de jovens e adolescentes ainda hoje, podendo ser observados na população 
com quinze anos ou mais, no ABC, como apontam instituições como Fundação Seade 
(Sistema Estadual de Análise de Dados), INEP (Instituto Nacional de Estudos e 
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística). Isso se deve em grande parte também aos avanços identificados nos 
Serviços e Programas de EJA dos municípios da região. Pode-se considerar uma 
grande vitória social, fruto do trabalho da força e união de cidadãos moradores do ABC. 
Entretanto, por mais que essa conquista seja significante para os direitos dos jovens e 
adultos, há, ainda hoje, muitos desafios políticos e pedagógicos advindos do mesmo 
processo de conquista e ampliação deste direito e que tornam singular esse campo de 
atuação dos administradores locais da Região. 
Muitas dificuldades que marcavam a educação de jovens e adultos podiam ser 
identificadas, principalmente em relação à estrutura ou investimentos em uma 
pedagogia mais preparada para amparar tais alunos: ausência de ambientes próprios 
para as aulas, dificuldades para obter modelos pedagógicos apropriados, inexistência de 
um currículode acordo com as demanda e necessidades específicas de jovens e adultos, 
ausência de certificados de conclusão do processo de formação, entre outras. Tais 
11 
 
problemas foram se desenvolvendo, alguns resolvidos, outros ainda pertinentes – 
inclusive na educação brasileira de forma geral. 
 Deste modo, no combate a desafios apresentados diante da questão política 
educadores de mais qualidade ou mais preparados para atuar com jovens e adultos não 
alfabetizados ou com baixa escolaridade, por exemplo, optou-se por profissionalizar os 
educadores com a efetivação de concursos públicos – direcionados para os que possuem 
a certificação do curso de licenciatura plena em Pedagogia, para que o selecionado 
concursado seja incorporado na equipe docente da escola. Neste panorama, a escola 
passa a ser única e não oferece apenas serviços para o segmento infantil. 
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A análise dos estudos selecionados acerca das principais políticas públicas 
educacionais do ABC voltadas para a infância e a juventude possibilita observar que os 
atores sociais da região possuem, desde o início das políticas observadas, protagonismo 
no tratamento das questões estudantis, mobilizando a luta e atuando junto com 
administradores locais. Dessa forma, ambos agem de forma a organizar recursos 
financeiros e físicos para projetar atividades cuja finalidade consiste em contribuir para 
a efetivação dos direitos à educação. 
Dessa forma, é possível observar a existência algumas gerações de políticas, 
como a geração que deu início às práticas e ações voltadas para a infância e para a 
adolescência\juventude de acordo com a administração local, e uma geração e as 
marcada fortemente pela participação da sociedade civil, com os moradores da região 
atuando de forma independente e ativa. 
As primeiras políticas observadas, neste sentido, foram consolidadas e são 
marcadas pela inserção da estrutura administrativa das prefeituras locais, possibilitando 
maiores condições para a sua permanência e desenvolvimento, fato que ocorreu com 
menor expressão na geração seguinte. 
 Cabe observar que muitas dessas políticas educacionais se valeram das 
postulações pedagógicas de Paulo Freire, as quais prezam pelo conhecimento de forma 
a manter a criança, o jovem e o adulto livres e conhecedores plenos em sua leitura de 
mundo. 
 Embora tenha sido possível observar, através dessa breve análise das políticas 
públicas implementadas pela Região do ABC, que muitas conquistas foram possíveis 
12 
 
graças à atuação política de moradores e de administradores, deve-se salientar que ainda 
há muitos desafios a serem enfrentados, tanto pela esfera da educação infantil quanto 
pela esfera da educação para jovens e adultos. É necessário que haja um diálogo entre a 
sociedade civil e as administrações para que as políticas sejam continuadas e 
aperfeiçoadas, principalmente no panorama de diversidade em que nos encontramos 
atualmente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANCASSUERD, Marli Pinto. Curso de formação de professores, aluno 
trabalhadores e projeto institucional: o caso do Departamento de Educação da 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santo André (1966-1990). São Paulo: 
PUC/SP (dissertação de mestrado), 2001. 
 
HADDAD, Sérgio& DI PIERRO, Maria Clara. Escolarização de jovens e adultos. 
Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, no. 14, p. 108-130, 2000. 
 
MARTINS, Heloísa Helena Teixeira de Souza. Igreja e Movimento Operário no 
ABC. São Paulo: Editora Hucitec; São Caetano do Sul: Prefeitura Municipal de São 
Caetano do Sul, 1994. 
 
MARTINS, José de Souza. Subúrbio. Vida cotidiana e história no subúrbio da 
cidade de São Paulo: São Caetano, do fim do Império da República Velha. São 
Paulo: HUCITEC; São Caetano do Sul: Prefeitura de São Caetano do Sul, 1992. 
 
MÉDICI, Ademir; PINHEIRO, Suely. 1o. de Maio e os principais momentos da luta 
sindical em São Bernardo: 1902-1990. São Bernardo do Campo: Secretaria de 
Educação, Cultura e Esportes, 1990. 
 
POCHMANN, Marcio e AMORIM, Ricardo (Org,). 2003. Atlas da Exclusão social no 
Brasil. São Paulo: Cortez, 2003. 
 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São 
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. 
 
SILVA, Sergio Luiz de Cerqueira. Crise e ajuste da indústria da Grande são 
Paulo – 1980/1993: um estudo do caso da Região do ABC. (dissertação de mestrado). 
Campinas, SP, 1994.

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