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Referência: Resumo SanarFlix/ATLS 10a edição • Traumatismo raquiomedular (TRM) é a lesão da medula espinhal que provoca alterações, temporárias ou permanentes, na função motora, sensibilidade ou função autonômica. É caracterizado por uma agressão, na maioria das vezes de força mecânica, que acarreta lesão anatômica ou funcional à coluna vertebral e/ou à medula espinhal ou raízes nervosas em qualquer dos seus segmentos. Todos os politraumatizados devem ser considerados portadores de lesão espinhal e, para isso, a imobilização adequada deve ser feita para todos. • Coluna vertebral: formada por 7 vértebras cervicais, 12 torácicas e 5 lombares, pelo sacro e pelo cóccix. As vértebras típicas possuem um corpo vertebral (anteriormente), principal componente da sustentação, que são separados entre si pelos discos intervertebrais e fixados pelos ligamentos. As facetas articulares, os ligamentos interespinhosos e os músculos paravertebrais contribuem para a estabilidade da coluna; ✓ A coluna cervical é a mais vulnerável ao trauma, devido à sua exposição e mobilidade. Cerca de 1/3 dos pacientes com trauma na parte superior da cervical morrem no local do trauma, pela apneia provocada pela perda de inervação dos nervos frênicos (lesão a nível de C1); ✓ A coluna torácica é mais restrita e a incidência de fraturas é menor; ✓ Uma lesão na medula cervical baixa ou torácica alta pode resultar em hipoventilação por paralisia dos músculos intercostais. • Medula espinhal: se inicia ao nível do forame magno e termina, no adulto, ao nível de L1, sendo continuada pela cauda equina. Somente 3 tratos dos existentes na medula espinhal podem ser avaliados clinicamente: corticoespinhais laterais, espinotalâmicos e os posteriores. Todos existem em pares, por isso podem sofrer lesões uni ou bilaterais. Quando não existe evidência de função motora ou sensorial abaixo de um determinado nível, define-se que há lesão completa da medula. Obs.: Nas primeiras semanas após o trauma, este diagnóstico não pode ser preciso, pois o paciente pode estar apresentando um choque medular. O choque neurogênico resulta da lesão das vias descendentes do sistema simpático da medula espinhal cervical ou torácica alta. Isso resulta em perda do tônus vasomotor e perda da inervação simpática do coração. A perda do tônus vasomotor causa vasodilatação nas vísceras e extremidades inferiores, com represamento de sangue e, por fim, hipotensão. O choque neurogênico é raro nas lesões medulares abaixo de T6; se houver choque nesses doentes, deve-se suspeitar de outra causa. Já o choque medular é a perda do tônus muscular e de reflexos, notada após lesão medular. Por isso, após o trauma, a medula pode parecer totalmente desprovida de função, mesmo que não tenha sido totalmente lesada. A duração dessa condição é variável. • Sistema sensorial: entende-se por dermátomo a área da pele inervada pelos neurônios sensitivos situados dentro de uma determinada raiz nervosa segmentar. ✓ C2 a C4: região acima dos músculos peitorais. ✓ C5: deltoide; ✓ C6: dedo polegar; ✓ C7: dedo médio; ✓ C8: dedo mínimo; ✓ T4: mamilo; ✓ T8: região xifoide; ✓ T10: umbigo; ✓ T12: sínfise púbica; ✓ L4: face medial da perna; ✓ L5: espaço entre primeiro e segundo pododáctilo; ✓ S1: borda lateral do pé; ✓ S3: tuberosidade isquiática; ✓ S4 e S5: região perianal. Uma lesão de medula cervical baixa ou torácica alta pode resultar em hipoventilação por paralisia dos músculos intercostais. Quando há lesões da medula cervical alta ou média, o diafragma também é paralisado devido ao comprometimento dos segmentos de C3 a C5, que inervam o diafragma através dos nervos frênicos. A incapacidade de perceber estímulos dolorosos pode mascarar lesões potencialmente graves em outras partes do corpo. É o caso dos sinais usuais de abdome agudo. • Deve-se testar a sensibilidade, correlacionando aos dermátomos; verificar a força muscular, nos membros (os dois lados), graduando de 0 (paralisia total) à 5 (normal). • As lesões podem ser classificadas em relação ao nível neurológico de lesão, definido pelo segmento mais inferior em que as funções motoras e sensoriais estão normais, bilateralmente; • Quanto à gravidade do défice neurológico, as lesões podem ser classificadas em paraplegia (abaixo de T1) ou quadriplegia (acima de T1), e completas ou incompletas. Se houver qualquer função motora ou sensorial abaixo do nível da lesão, constitui-se numa lesão incompleta (há alguma preservação ao longo dos tratos da medula). • Síndrome central da medula: desproporção de perda de força motora nas extremidades superiores (muito mais acentuada que a perda de força nas extremidades inferiores); geralmente decorre de lesões por hiperextensão em pacientes com estenose preexistente do canal medular. Pode ocorrer com ou sem fratura ou luxação da coluna cervical e a recuperação neurológica é ascendente; • Síndrome anterior da medula: paraplegia e dissociação da perda sensorial com a perda de sensibilidade à dor e à temperatura; a coluna posterior está preservada. Das lesões incompletas, é a de pior prognóstico; • Síndrome de Brown-Séquard: comprometimento motor ipsilateral (trato corticoespinhal) e perda da sensibilidade postural (coluna posterior), além da perda contralateral à sensibilidade térmica e à dor (trato espinotalâmico). Resulta da hemissecção da medula, geralmente por traumatismo penetrante, porém é comum ocorrer algum grau de recuperação. Obs.: Como a classificação das lesões em relação à morfologia (instável ou estável) é discordante, todos os pacientes vítimas de trauma devem ser considerados portadores de lesão instável. Diante disso, devem permanecer imobilizados, até serem avaliados por um especialista (neurocirurgião ou ortopedista). • Avaliação radiológica da coluna cervical deve ser feita com radiografia nas incidências lateral, anteroposterior (AP) e transoral. É indicada para todos os doentes traumatizados com: ✓ Dor na região cervical; ✓ Sensibilidade à palpação; ✓ Défices neurológicos relacionados à coluna cervical; ✓ Alteração do nível de consciência; ✓ Suspeita de intoxicação; ou ✓ Mecanismo de trauma importante. • Na incidência lateral, deve-se visualizar a base do crânio, as 7 vértebras cervicais e a primeira vértebra torácica. A incidência transoral deve incluir o processo odontoide por inteiro, além das articulações direita e esquerda de C1 e C2. A incidência AP permite visualizar luxações que não foram vistas na incidência lateral; • Caso existam áreas suspeitas, que não foram adequadamente visualizadas na radiografia simples, pode-se realizar uma TC com cortes finos e imagem axial. A realização de radiografias torácicas e lombares são as mesmas para as cervicais. • As lesões podem resultar de alguns mecanismos de trauma, como compressão axial, flexão, extensão, rotação, flexão lateral e tração. • Resultam de movimentos acentuados de flexão e tração. Ex: síndrome do bebê sacudido; • A maioria dos pacientes morre por destruição do tronco cerebral e apneia ou apresentam lesões neurológicas muito graves (dependência de ventilador mecânico e quadriplegia). • Cerca de 40% é acompanhada de fratura do áxis (C2); • A lesão mais comum é a por explosão da vértebra (fratura de Jefferson) resultante de sobrecarga axial (ex: objeto pesado caindo sobre a cabeça ou quedas). Há ruptura anterior e posterior do anel de C1, com deslocamento das massas laterais; • Incidência radiológica mais adequada para visualização: radiografia transoral ou tomografia axial. • Mais frequente em crianças; o paciente apresenta-se com a cabeça em rotação persistente (torcicolo). Na radiografia transoral, o processo odontoide não está equidistante dos processos laterais deC1. Não se deve forçar o retorno da cabeça à posição neutra. • É a maior vértebra cervical, por isso está mais sujeito a lesões. Duas delas merecem destaque: ✓ Fratura do Odontoide (60%), do tipo I (afetam a extremidade e são raras); tipo II (ocorrem na base); e tipo III (afetam a base e se prolongam para o corpo do axis); ✓ Fratura do enforcado: compromete elementos posteriores de C2 e resulta de uma lesão por extensão. • Em adultos, o local mais frequente de fraturas é C5 e de subluxações, C5 e C6. Os padrões que mais ocorrem são fratura dos corpos vertebrais, processos espinhosos e massas laterais, e subluxações dos processos articulares. Lesões neurológicas geralmente acompanham as luxações das facetas articulares (80% dos casos). • Lesões em cunha: resultante de sobrecarga axial associada à flexão; costuma ser uma lesão estável; • Lesões por explosão: causadas por compressão vertical axial; • Fraturas de Chance: fraturas transversas no corpo vertebral, causadas normalmente por flexão; podem estar associadas a lesões viscerais abdominais e retroperitoneais; • Fraturas-luxações: não pouco comuns, porém como o canal medular é mais estreito na porção torácica, essas lesões frequentemente resultam em défices neurológicos completos. • Na maioria das vezes resultam de hiperflexão e rotação agudas e frequentemente são instáveis. Lesões ao nível de L1 (final da medula espinhal) costumam causar disfunções da bexiga e do intestino, além de redução da sensibilidade e motricidade dos membros inferiores. • Por acometerem apenas a cauda equina, é pequena a probabilidade de um défice neurológico completo. • As mais comuns são por PAF ou arma branca. Analisar orifício de entrada e saída, radiografia e tomografia. Quando a lesão atravessa o canal medular, o défice costuma ser completo; porém, se um projétil passar próximo à medula, a transferência de energia também pode causar uma lesão completa. • O tratamento das lesões de coluna e medula espinhal inclui imobilização, infusão endovenosa de fluidos, medicações e transferência, se necessário. • O paciente trazido pelo serviço pré-hospitalar geralmente chega ao hospital já imobilizado e a imobilização deve ser mantida até que a presença de fratura tenha sido excluída. Para isso, manter o paciente em posição supina, sem rotação ou arqueamento da coluna. Se existirem deformidades evidentes, não se deve tentar corrigi-las. • A imobilização do pescoço com o colar cervical semirrígido não é suficiente para a estabilização completa; são necessários dispositivos de imobilização que limitem o movimento latero-lateral; • Pacientes que necessitem de intubação, esta deve ser realizada com o pescoço em posição neutra, ou seja, não realizar movimentos de flexão ou extensão da coluna; • O paciente deve ser retirado o mais rápido possível da prancha, para reduzir o risco de formação de lesão por pressão. A movimentação ou rolamento em bloco do paciente deve ser feita de forma cuidadosa, idealmente com 4 indivíduos para tentar manter o alinhamento neutro da coluna; • Pacientes com suspeita de lesão de coluna devem receber líquidos endovenosos da mesma forma que qualquer paciente traumatizado. Caso não haja hemorragia ativa e paciente apresentar hipotensão persistente após a reposição de 2.000mL de líquido, suspeitar de choque neurogênico; Obs.: Doentes com choque hipovolêmico costumam estar taquicárdicos, enquanto o choque neurogênico pode causar bradicardia. • Se a hipotensão persistir, pode-se utilizar vasopressores (hidrocloridrato de fenilefrina, dopamina ou noreprinefrina); Obs.: Lembrar que a administração excessiva de fluidos na tentativa de normalizar a pressão pode causar edema pulmonar; • Doentes com fraturas de coluna ou défices neurológicos devem ser transferidos para centros capazes de proporcionar um tratamento definitivo. Antes da transferência, o doente deve ser estabilizado e submetido à imobilização; • Fraturas cervicais altas (acima de C6) podem causar disfunções respiratórias; logo, se houver dúvida quanto à eficiência da ventilação, o paciente deve ser intubado antes da transferência.
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