Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Carolina Tatsch ANTIMICROBIANOS FARMACOLOGIA VETERINÁRIA APLICADA Farmacologia B Relembrando a farmacocinética e a farmacodinâmica: → Ao administrar um fármaco via oral ele pode ter efeito sistêmico ou localizado, ex: antiparasitário por via oral irá agir localmente. → Após ser absorvido o fármaco cai na circulação porta (vai para o fígado) e pode sofrer efeito de primeira passagem, ou seja, ocorre perda da capacidade farmacológica pois ao passar pela primeira vez pelo fígado o fármaco é biotransformado e forma metabólitos inativos (perde um pouco do fármaco), indo uma quantidade menor deste para a circulação sistêmica. Após o efeito de primeira passagem a biodisponibilidade do fármaco é alterada. → Outro fator que altera a biodisponibilidade (utilizado para fármacos administrados por via oral) se ele não for absorvido totalmente, como por exemplo beber leite junto a administração de tetraciclina - o fármaco quela com o cálcio do leite (ou com qualquer outro alimento rico em Ca, P e Fe). → Se o fármaco não sofrer efeito de primeira passagem ele irá ser absorvido, circulação porta e daí se dirige para a circulação sistêmica, de forma livre ou ligado às proteínas plasmáticas (albumina), a parte farmacologicamente ativa, que consegue chegar em seu local de ação é a forma livre (sai dos vasos e chega nos tecidos). → A capacidade do fármaco em transpor membranas está relacionado a absorção - para o fármaco transpor as membranas do organismo ele precisa ser lipossolúvel, quanto mais lipossolúvel, mais fácil ele irá transpor as membranas. Fármacos ionizados têm carga, baixa solubilidade e visto isso demoram mais para serem absorvidos. Fármacos não ionizados = sem carga, alta solubilidade, atravessam as membranas. Os fármacos podem atravessar as membranas por difusão passiva, difusão facilitada ou por transporte ativo. Ao chegar o sangue o fármaco poderá estar na forma livre ou ligada, a medida que o fármaco vai para os tecidos exercer sua função, mais moléculas deles se desligam das proteínas, ficando em sua forma livre para exercer efeito, até que todo o fármaco esteja na forma livre, chegando aos tecidos onde irá atuar. → Porque é importante manter uma concentração do fármaco no sangue a nível das janelas Farmacologia B terapêuticas? se o fármaco subir além da janela terapêutica o animal pode ser intoxicado, porém, se o fármaco ficar abaixo da janela terapêutica ele pode não exercer o efeito desejado. O intervalo entre as doses é o que mantém o fármaco dentro de sua janela terapêutica, a dose correta (permite chegar até o nível correto da janela terapêutica) a frequência das administrações ( 8-8hrs, por exemplo), se isso não é respeitado a concentração do fármaco se mantém dentro da janela terapêutica. → Para o fármaco sair do organismo ele precisa estar na forma menos ionizada, apolar. O fármaco pode já ter estas características ou ele as adquire após ser biotransformado no fígado, sangue, rins, pulmões, placenta e cérebro. O fígado é o principal local de biotransformação, através das reações de fase I (oxidação, redução e hidrólise) - vira um metabólito que está preparado para sofrer as reações de fase II (conjugação) de outros grupamentos químicos, formando moléculas maiores, pesadas e inativas. Estas moléculas após serem conjugadas estão prontas para serem eliminadas, são polares, com baixa solubilidade. Este fármaco pode ser eliminado através da bile - intestino - fezes. Porém, pode ocorrer o ciclo entero-hepático, com reabsorção. No intestino existem enzimas glucuronidases, que muda o conjugado, desfaz, logo, o metabólito volta a ter características ativas (lipossolúveis), logo ele é reabsorvido para o sangue, voltando a circular, então o fármaco fica mais tempo no organismo. Nos caninos isso ocorre com frequência. → Indução e inibição enzimática: aumento e diminuição das enzimas microssomais hepáticas do citocromo P450. Drogas, fármacos, alimentos podem aumentar o número e a atividade das enzimas - fenobarbital, álcool em uso crônico. Inibidores enzimáticos fazem com que diminua os metabólitos e o fármaco pode ficar acima da janela terapêutica. → Os fármacos são eliminados através da urina, respiração, suor, leite. Logo, uma vaca com mastite, sendo tratada com antibióticos não pode ter seu leite consumido, deve ser respeitado o período de carência. → Nos rins os fármacos são filtrados e excretados, porém, se ao passarem pelo túbulo estes estiverem com características lipossolúveis podem ser reabsorvidos. Com alteração do pH da urina pode eliminar mais rápido ou mais devagar o fármaco. Ex: cão intoxicado com estricnina básica, para acelerar a eliminação deve acidificar a urina, droga básica em meio ácido é acidificada, diminui a solubilidade e ela é eliminada. Cão intoxicado com aspirina, alcaliniza a urina e esta é excretada. → Os fármacos atuam através de enzimas e proteínas transportadoras, canais iônicos, reações químicas. A maioria dos fármacos age através de transportadores e receptores: ligados Farmacologia B à proteína G, canais iônicos, proteínas quinase, nucleares. Os corticóides são AIE, os AINES (antiinflamatórios não esteroidais) agem em enzimas, inibindo a formação de prostaglandinas. os corticóides têm ação mais ampla pois atuam em receptores nucleares, se relacionando a síntese de várias proteínas. Fármacos que atuam em receptores podem ser agonistas e antagonistas. O agonista consegue se ligar ao receptor pois ele tem afinidade e consegue provocar uma resposta devido a atividade intrínseca. Ele possui eficácia. O antagonista se liga ao receptor mas não o ativa. A adrenalina é um neurotransmissor mas é um fármaco agonista de receptores alfa e beta. A atropina é um fármaco antagonista. Antimicrobianos: São substâncias químicas produzidas por microrganismos (bactérias, fungos, actinomicetos) que têm a capacidade de, em pequenas doses, inibir o crescimento ou destruir microrganismos causadores de doenças. Ex: penicilina foi descoberta por acaso por Alexandre Fleming, a partir do fungo penicillium. Antibiótico: são substâncias químicas produzidas por microrganismos que têm capacidade de inibir o crescimento ou destruir microrganismos causadores de doenças (bactérias ou fungos). Antibióticos biossintéticos: obtidos a partir da cultura de microrganismos, a qual acrescentam- se substâncias capazes de alterar a estrutura molecular do antibiótico que está sendo produzido. Ex: penicilina. Antibióticos semissintéticos: acrescenta-se radicais químicos ao núcleo ativo de um antibiótico isolado. Ex: penicilina semissintética oxacilina, ampicilina, amoxicilina. Sintobióticos: antimicrobianos obtidos exclusivamente por síntese laboratorial. Ex: cloranfenicol. Os antimicrobianos são utilizados para: Terapêutica: em tratamentos de infecções bacterianas. Profilaxia: utilizar antibiótico antes de fazer algum procedimento dentário, para reduzir a carga microbiana, ou como nos tratamentos de vaca seca. Metafilaxia: tratamento de um grupo novo antes de inserir estes animais ao rebanho. Promotor de crescimento: administrado na água ou na ração, para promover o crescimento. É um grande causador de resistência bacteriana. Atividade bacteriostática: Quando o antimicrobiano inibe a multiplicação da bactéria, mas não a destrói → bacteriostático. A destruição das bactérias é feita exclusivamente pelo sistema imune do animal. Com a suspensão da exposição ao antimicrobiano a bactéria volta a Farmacologia B crescer. Estes antibióticos são utilizados apenas em animais saudáveis. Deve ser respeitada a frequência de administração! Ex: tetraciclinase macrolídeos. Atividade bactericida: Exerce efeito letal sobre a bactéria, sendo esse efeito irreversível. Ex: penicilinas, aminoglicosídeos, fluoroquinolonas. Bacteriostático x Bactericida: Este fato depende da concentração do fármaco no local. CIM: concentração inibitória mínima; CBM: concentração bactericida mínima; Alguns antibióticos em doses altas são bactericidas, porém, causam muitos efeitos colaterais ao hospedeiro, então opta-se por utilizar uma dose mais baixa, que terá ação bacteriostática, visando diminuir a incidência de efeitos adversos. Os antibióticos podem ser classificados de acordo com: → Estrutura química: beta-lactâmicos, macrolídeos, sulfas, etc. → Ação biológica: bactericida ou bacteriostático. → Espectro de ação: largo espectro (positivas e negativas), curto espectro (apenas em Gram- positivas ou em gram-negativas). Mecanismos de ação: → Inibição da síntese da parede celular: o antibiótico precisa atingir bactérias que estão formando a sua parede celular. Ao romper a parede celular leva a morte bacteriana, pois ocorre:. → Danos na função da membrana celular; → Inibição da síntese ou função de ácidos nucleicos - interfere na multiplicação bacteriana. → Inibição da síntese de proteínas, o que interfere na multiplicação das bactérias. Ex: tetraciclinas, cloranfenicol. → inibição da síntese de ácido fólico - sulfas fazem isso, impedem a formação das bases púricas e pirimídicas - código genético. Fatores determinantes para a prescrição de um antimicrobiano: Agente etiológico: é necessário conhecer a bactéria que está causando a infecção. Antimicrobiano: curto ou amplo espectro? Organismo animal: o animal está saudável? posso utilizar um antibiótico bacteriostático ou devo utilizar um bactericida? Antimicrobiano ideal: → É de amplo espectro; → Possui ação bactericida; Farmacologia B → tem atividade antibacteriana na presença de líquidos e exsudatos não sendo destruído por enzimas presentes no tecido; → Não afeta as defesas do organismo nem os leucócitos ou tecidos do hospedeiro quando usado na concentração adequada; → tem um índice terapêutico eficiente; → não produz ou induz reações alérgicas (muitas pessoas tem alergia a penicilina, cefalosporinas, sulfas e beta-lactâmicos, etc); → não provoca o desenvolvimento de resistência (essa característica é impossível). → tem uma farmacocinética eficaz atingindo uma CIM ou uma CBM rapidamente em todo o organismo e mantida pelo tempo necessário (tem rápida ação nas bactérias). → ser igualmente eficaz por via oral ou parenteral (aminoglicosídeos são só injetáveis). → ser fabricado em grandes quantidades e a custo razoável. Causas de insucesso na terapia antimicrobiana: → Às vezes está tratando uma infecção não sensível, como por exemplo as viroses (causadas por vírus) sendo tratadas com antibióticos, obviamente a terapia não irá funcionar. → Tratamento de febres de origem desconhecida em que o agente causal pode não ser infeccioso. → Erro na escolha do antibiótico e/ou na sua posologia, tratamentos iniciados com atraso. → Focos infecciosos encistados, pus, tecido necrótico, corpos estranhos, sequestros ósseos. processos infecciosos em tecidos não atingidos por antibióticos; → resistência bacteriana (natural ou adquirida). Resistência bacteriana adquirida: Pode ocorrer através de: → Mutação (ocorre por acaso); → Transferência de genes de resistência: → Transformação: a bactéria incorpora gene de resistência presente no meio. → Transdução: o gene de resistência é transferido de uma bactéria para outra. → Conjugação: transferência do gene é feito através de uma ponte citoplasmática entre duas bactérias. → Transposição: por meio de transposons, que são segmentos de DNA que podem transferir-se de uma molécula de DNA para outra. *O plasmídeo é uma característica de resistência que guarda o DNA bacteriano, podendo ter várias cópias do plasmídeo e estes podem ser transferidos para outra bactéria. Ex: uma bactéria produtora de beta-lactamases e por isso é Farmacologia B resistente aos beta-lactâmicos, guarda seu gene de resistência no plasmídeo, e através da conjugação ela pode passar essa característica a outras bactérias de forma a tornar toda a colônia resistente ao fármaco. Mecanismos de resistência adquirida: → Redução da permeabilidade da célula bacteriana ao antimicrobiano; → Bomba de efluxo que lança o antimicrobiano para fora da célula bacteriana; → Inativação de antimicrobiano antes ou até após sua penetração no microrganismo; → Modificação do alvo no qual age o antimicrobiano ou aquisição de uma via alternativa. Associação de antimicrobianos: Ao associar dois antimicrobianos deve-se respeitar a posologia como se cada um deles fosse usado isoladamente. Critérios para associação: - Bactericida + bactericida = efeito sinérgico ou aditivo; - Bacteriostático + bacteriostático = efeito aditivo; - Bactericida + bacteriostático = efeito de antagonismo se o microrganismo é altamente sensível a apenas um; sinergismo se o microrganismo é sensível aos dois antibióticos. Na maioria das vezes é desvantajoso associar bactericida com bacteriostático. Deve-se levar em conta o mecanismo de ação dos antibióticos: - Parede celular + parede celular = sinergismo; - Parede celular + membrana citoplasmática = sinergismo; - Parede celular + formação de proteínas defeituosas = sinergismo; - Parede celular + perturbação da tradução da informação genética = antagonismo. Período de carência: Período de carência, de retirada, de depleção ou de depuração é o tempo necessário para que o resíduo de preocupação toxicológica atinja concentrações seguras. É o intervalo de tempo entre a suspensão da medicação do animal até o momento permitido para o abate, coleta de ovos,mel ou leite. Fatores que contribuem para determinação do período de carência: - Constituintes da fórmula farmacêutica; - Dose administrada; - Via de administração; - Espécie animal. Classificação de antibióticos específicos e seus mecanismos de ação: → Beta-lactâmicos: inibem a síntese de muco peptídeos que formam a parede celular ou ativam enzimas que as destruam: penicilinas e cefalosporinas. → Aminoglicosídeos: atuam sobre o ribossomo na sua fração 30s, alterando irreversivelmente a síntese proteica bacteriana; → Tetraciclinas: atuam sobre o ribossomo produzindo inibição reversível da síntese protéica; Farmacologia B → Cloranfenicol: atua sobre o ribossomo produzindo inibição reversível da síntese proteica, bloqueando a incorporação de aminoácidos nas cadeias peptídicas das proteínas em formação. → Macrolídeos: atuam sobre o ribossoma, produzindo inibição reversível da síntese protéica. → Polipeptídeos: afetam a permeabilidade da membrana celular, efetuando filtração de compostos intracelulares. → Rifamicinas: atuam sobre o RNA bacteriano, inibindo a RNA polimerase. → Sulfonamidas: atuam inibindo a PABA por competição dentro da bactéria. O PABA é indispensável na síntese de ácido fólico que é fundamental para completar o ciclo vital e reprodutivo das bactérias. → Nitrofuranos: inibição reversível das enzimas de desaminação do piruvato. → Trimetropim: inibe a diidrofolato redutase com a produção de ácido tetraidrofólico nas células bacterianas; → Fluoroquinolonas e quinolonas: interferem na síntese de DNA inibindo as enzimas DNA-girases (responsáveis pelo superenovelamento do DNA bacteriano). Propriedades físico-químicas dos antimicrobianos e efeitos sobre a distribuição tecidual: São fármacos polares de baixa solubilidade, predominando a forma ionizada, por isso tem dificuldade em dispor barreiras (sendo auxiliados por transporteativo ou difusão facilitada). Estes podem ser de caráter ácido (inibidores da B- lactamases, cefalosporinas, penicilinas - também pertencem ao grupo dos beta-lactâmicos, inibem as enzimas responsáveis por promover a resistência nas bactérias) ou de caráter básico (aminoglicosídeos - amicacina e gentamicina, neomicina, estreptomicina, tobramicina -, polimixinas e espectinomicina). Estes fármacos não penetram facilmente as barreiras e as suas concentrações eficazes NÃO são alcançadas no líquido encéfalo- raquidiano, leite e em outros fluídos transcelulares (não ultrapassam as barreiras mais difíceis. Não chegar no leite é bom, sinal de que não são eliminados por esta via). Porém, em concentrações adequadas eles podem ser encontrados nas articulações, fluido pleural e peritoneal. As cefalosporinas e as penicilinas podem se difundir na próstata em baixas concentrações (não suficientes para tratarem infecções) e saem muito rápido do tecido. Mas existem também os fármacos de moderada a alta lipossolubilidade, de caráter ácido (sulfonamidas), básicos (lincosamidas - clindamicina, lincomicina-, macrolídeos- azitromicina, claritromicina, eritromicina, esiramicina, tilosina -, trimetoprim), e os fármacos anfotéricos - antibióticos que dependendo da situação são básicos ou ácidos, ficam trocando, (tetraciclinas exceto doxaciclina, minociclina - são as mais modernas, mais lipossolúveis). Estes fármacos penetram mais facilmente as barreiras e entram nos fluidos transcelulares. As bases fracas são sequestradas (ficam mais tempo em fluídos mais ácidos como o fluído prostático, leite, fluido intracelular - fármacos básicos em fluidos ácidos ficam ionizados, com baixa lipossolubilidade, eles Farmacologia B ficam presos nesses líquidos, saindo por meio destes como resíduos - leite. As sulfas e o trimetoprim conseguem penetrar facilmente o LCR e fluidos oculares, sendo muito utilizados. A azitromicina e a claritromicina têm meias-vidas longas devido à extensa reabsorção e lenta liberação dos tecidos (sulfa + trimetoprim são utilizados geralmente em associações). Existem também fármacos com alta lipossolubilidade: cloranfenicol, fluoroquinolonas (ciprofloxacina, enrofloxacina, marbofloxacina, norfloxacina, orfloxacina), tetraciclinas lipofílicas (doxiciclina, minociclina), metronidazol e rifampicina. Estes fármacos penetram muito facilmente as barreiras, eles entram nos fluidos transcelulares e secreções brônquicas. Cloranfenicol (proibido em animais de produção, apenas em pets, devido ao risco aos humanos) e tetraciclinas não alcançam altas concentrações na próstata. Todos penetram líquido encéfalo-raquidiano, exceto a tetraciclina e rifampicina. Todos penetram fluidos intracelulares - células do hospedeiro, (fluoroquinolonas são muito utilizadas para o tratamento de infecções urinárias e pulmonares - conseguem atuar nos brônquios). Influência da alimentação na farmacocinética dos antimicrobianos: → Melhor com jejum (nenhum alimento por 1-2h antes e 1 - 2 h depois), pois os alimentos atrapalham na absorção de: azitromicina, cefradina, eritromicina, maioria das fluoroquinolonas, lincomicina, rifampicina, maioria das penicilinas (amoxicilina é moderado), maioria das sulfonamidas e a maioria das tetraciclinas (quela com leite e não é absorvido). → Existem aqueles que são melhor absorvidos com alimento: cefadroxil, cloranfenicol palmitato (gatos), doxiciclina, ibafloxacina, metronidazol, nitrofurantoína. → Nenhuma restrição: cefalexina, cloranfenicol em cápsulas e comprimidos, cloranfenicol palmitato (cães), claritromiciina, hetacilina, espiramicina. Às vezes o alimento auxilia pelos antibióticos serem agressivos para o epitélio intestinal, associar com alimento reduz a irritabilidade. Porém, existem situações em que o alimento atrapalha a absorção, e com isso pode não ocorrer a morte dos microrganismos, o fármaco pode não ser absorvido até atingir seus níveis na janela terapêutica. A maioria dos antibióticos são administrados por via oral, e é nisso que focamos ao falar da absorção junto dos alimentos. PENICILINAS: São bactericidas e atuam inibindo a formação da parede celular das bactérias, o que leva a morte. A parede celular das bactérias é formada por uma camada externa de peptideoglicanos, e a parede celular está associada à membrana citoplasmática. As proteínas PLP (proteína ligadora de penicilina) são transpeptidases ou carboxipeptidases, que se se ligam a peptídeos do peptideoglicano, formando a parede celular bacteriana. Nas gram- positivas a parede é muito espessa (20 camadas de peptideoglicano), enquanto as gram-negativas possuem uma fina camada de peptideoglicano + uma camada maior de lipopolissacarídeos e Farmacologia B lipoproteínas, estas camadas formam a parede celular. Nas Gram-negativas existem também porinas, que permite a passagem de substâncias e antibióticos até a membrana citoplasmática. As penicilinas conseguem atravessar a camada de peptideoglicano, bloqueando o PLP, com a inibição da PLP ela não consegue ligar o peptídeo ao peptideoglicano, rompendo as paredes celulares, não ocorre a última etapa da formação da parede celular. Isso lesa a parede, rompendo e levando a morte bacteriana. Na gram-negativa, as penicilinas adentram através das porinas e chegam até o PLP. As enzimas beta-lactamases são produzidas pelas bactérias que destroem o anel beta-lactâmico das penicilinas o que faz com que a penicilina perda a sua efetividade. A principal forma das bactérias ficarem resistentes à penicilina e as cefalosporinas é através da produção de beta-lactamases. As PLP podem atuar como beta-lactamases, e inativam as penicilinas e as cefalosporinas. As bactérias têm de 3-6 PLP’s. Diferentes PLP’s possuem diferentes afinidades por diferentes fármacos (cada PLP pode se ligar a um fármaco diferente e destruí-lo). A camada externa das gram-negativas impede/dificulta a passagem de alguns fármacos através da parede celular, as penicilinas-G atuam somente sobre Gram-positivas, pois tem dificuldades em acessar as PLP’s que estão na membrana plasmática das Gram-negativas. Todas as penicilinas são ácidas e tendem a ser ionizadas em pH fisiológico, assim elas não irão conseguir atravessar as membranas, inclusive a bicamada lipoprotéica das gram- negativas. Por isso foram feitas substituições em alguns grupos químicos da penicilina G, ampliando o espectro = ampicilina e amoxicilina além de atuar em gram-positivas podem atuar em gram-negativas, pois conseguem penetrar a barreira, ampliando o espectro de ação. As gram-positivas têm camada externa fina permitindo a passagem fácil dos beta- lactâmicos. As penicilinas são BACTERICIDAS, mas só vão agir em bactérias que estão se formando, fazendo a sua parede celular, aquelas bactérias dormentes (completamente formadas) não são sensíveis as penicilinas. Não é indicado utilizá-la junto com um fármaco bacteriostático. A ação antibacteriana das penicilinas é maior durante os períodos de rápida multiplicação bacteriana. As penicilinas são tempo- dependentes: o tempo que a bactéria fica em contato com o antibiótico é mais importante que a concentração, se ela está interferindo nas bactérias que estão se multiplicando, quanto mais tempo de contato, melhor. Mecanismo de resistência: As bactérias produzem beta-lactamases que são responsáveis pela hidrólise do anel B-lactâmico das penicilinas, tornando-as inativas. As B- lactamases são secretadas extracelularmente em grandes quantidades pelas bactérias gram- positivas e em pequenas quantidades pelas gram-negativas. Podem ter bactérias diferentes que produzem diferentes B-lactamases. A B- lactamase estafilocócica é dita penicilinase Farmacologia B (quebrasomente o anel B-lactâmico das penicilinas, mas não das cefalosporinas, apenas estas são utilizadas em Staphylococcos), existem antibióticos específicos para Staphylococcus produtores de penicilinase. A resistência também pode ocorrer pela produção de uma membrana externa impermeável causada por mutação na estrutura da porina. Ex: Pseudomonas aeruginosa. Farmacocinética: As penicilinas são capazes de alcançar concentrações adequadas para destruir ou inibir bactérias na maioria dos fluidos. São necessárias altas doses para ter concentrações adequadas nas articulações, na cavidade pleural e peritoneal, mas ela nunca conseguirá chegar ao SNC, próstata e olhos. São ionizadas em pH fisiológico e insolúveis em lipídios, não são capazes de entrar em células vivas. A biotransformação hepática é mínima (exceto ampicilina), pois elas são eliminadas de 60-100% através da urina, inalterados. Elas atravessam lentamente a placenta, podendo ter contato com o feto. Nem todas as penicilinas são estáveis em pH gástrico e os alimentos podem retardar a absorção (ampicilina e cloxacilina). Efeitos adversos: De uma forma geral os antibióticos são muito seguros, porém, em alguns casos podem ocorrer reações alérgicas e até mesmo choques anafiláticos. As penicilinas são uma das classes de antibióticos mais relatados como causadoras de reações de hipersensibilidade, sendo menos comum após a administração oral. Se o animal é alérgico a uma forma de penicilina ele irá reagir a outras formas. No entanto, a administração oral pode causar superinfecções gastrointestinais em espécies onde a fermentação no ceco é importante para o processo digestivo → nunca usar em cobaias, furões, coelhos e hamsters. A penicilina G potássica deve ser usada lentamente (geralmente é utilizada subcutânea e intramuscular). A penicilina procaína IM pode causar ataxia, excitabilidade e convulsões, especialmente em equinos. PENICILINAS DE BAIXO ESPECTRO DE AÇÃO: São as penicilinas mais antigas, que surgiram logo após a descoberta de Flemming. Formas da penicilina G: Todas possuem o mesmo mecanismo de ação, atuam basicamente sobre gram-positivas. O que muda é a farmacocinética. Cristalina: quando administrada por via SC e IM apresenta latência de 30 min para atender os níveis terapêuticos, e estes se mantêm por 4-6h. Logo a medicação deve ser administrada a cada 6hrs. Procaína: latência de 1 a 3h (tempo que demora para atingir os níveis terapêuticos) e estes são mantidos por cerca de 12-24h. Em algumas formulações estas podem estar em conjunto. Benzatina = benzetacil: ela possui latência de 8h, com níveis séricos podendo perdurar por 3 a 30 dias. É administrada SC e IM profunda. *todas as penicilinas citadas até então não podem ser administradas via oral, pois não são absorvidas, devido isto, a indústria criou outra penicilina: Penicilina V (fenoximetil-penicilina): possui espectro de ação semelhante ao da penicilina G. É resistente ao pH do estômago e por isso pode ser administrada por via oral. A eliminação é quase completa após 6h de sua administração. Farmacologia B *Apenas a penicilina G cristalina pode ser administrada por via IV. Penicilinas G procaína e benzatina só devem ser usadas SC ou IM. As penicilinas possuem curto espectro de ação, atuando principalmente sobre gram- positivas: Streptococcus, Staphylococcus não produtoras de penicilinases, Actinomyces sp, Listeria monocytogenes e Clostridium. Elas não atuam sobre Pseudomonas, enterobacteriaceae e Staphylococcus produtora de penicilinase → gram-negativas e a staphylococcus resistente. Espectro antibacteriano: Excelente atividade: aeróbios gram-positivos e anaeróbios obrigatórios. NÃO POSSUEM NENHUMA atividade: em aeróbios gram-negativos e Staphylococcus produtores de penicilinases (resistentes). Principais agentes causadores de infecções anaeróbias em cães e gatos: Actinomyces spp, Bacterioides spp, Clostridium, Eubacterium, Fusobacterium, Peptostreptococcus, Prophyromonas. Estas bactérias fazem parte da microbiota normal nas áreas com baixa tensão de oxigênio, as infecções podem ser exacerbadas por baixo suprimento sanguíneo, necrose tecidual, infecção prévia e imunossupressão. Geralmente as infecções causadas por bactérias anaeróbias ocorrem na: orofaringe, SNC, espaço subcutâneo, sistema músculo- esquelético, trato GI, fígado, trato genital feminino, animais com pneumonia aspirativa e com os lobos pulmonares consolidados. Deve-se suspeitar de microrganismos anaeróbios em animais com: gengivite, estomatite, rinite, abscessos retrofaríngeos, pneumonia por aspiração, piotórax, otite média ou interna, infecção SNC, feridas por mordeduras e feridas abertas, fraturas expostas, osteomielite, peritonite e hepatite bacteriana. PENICILINAS antiestafilocócicas - penicilinas resistentes às b-lactamases: cloxacilina, dicloxacilina, oxacilina, flucoxacilina, meticilina, nafcilina. Como as penicilinas G tinham estreito espectro de ação desenvolveram-se penicilinas que atuam sobre os Staphylococcus que produzem - lactamases. São utilizadas por via oral, com espectro antibacteriano similar às penicilinas G, exceto que são resistentes as B-lactamases estafilocócicas. Elas não atuam sobre gram- negativas e sua atividade em anaeróbios é variável. Logo, devem ser utilizadas em infecções em que se sabe que há a presença de Staphylococcus, como em infecções de pele em cães, na profilaxia cirúrgica-ortopedica, no tratamento de osteomielite e discoenpodilite. AMINOPENICILINAS: Amoxicilina, ampicilina e Hetacilina. Estas conseguem atuar em gram-negativas e em gram-positivas (um pouco menos ativas em anaeróbias que a penicilina G), ou seja, tem amplo espectro de ação. São sensíveis à Microrganismos Gram-positivos: - Staphylococcus; - Streptococcus; - Enterococcus; - Pneumococcus; - Corynebacterium; - Clostridium; - Listeria. Microrganismos Gram- negativos: - E. coli; - Enterobacter; - Klebsiella; - Shigella; - Salmonella; - Haemophillus; - Bordetella; - Vibrio; - Legionella; - Helicobacter; - Pseudomonas; - Brucella; - Campylobacter; - Treponema; Farmacologia B hidrólise às B-lactamases gram-positivas ou gram-negativas quanto às penicilinas G, mas não tem capacidade de atuar sobre Staphylococcus produtores de penicilinases ou gram-negativas que produzem B-lactamases. São administradas VO, SC, IM e IV, no entanto, sua absorção pode ser afetada pelo alimento. Usos clínicos: infecções de tecidos moles em cães e gatos, tratamento de abscessos em gatos, infecções não complicadas no trato urinário (geralmente são causadas por gram-negativas, e este fármaco não atua em todas as G-). Também pode ser utilizada em infecções entéricas. → associação de amoxicilina, metronidazol (anaeróbios) e omeprazol (anti-ácido) para tratamento de gastrite por Helicobacter. Não devem ser usados em profilaxia cirúrgica, uma vez que Staphylococcus são os patógenos comuns e geralmente são produtores de b- lactamases. PENICILINAS antipseudomonas: Carbenicilina, ticarciclina, azlocilina, piperacilina. Seu espectro de ação é para gram-negativas, seletivo para Pseudomonas aeruginosa. É importante lembrar que as Pseudomonas são bastante resistentes e costumam causar infecções sérias. Carbelicilina: possui atividade contra Pseudomonas aeruginosa e Proteus, porém o uso é parenteral. Ticarcilina: ela é 2x mais ativa contra Pseudomonas, e é usada exclusivamente por vias parenterais, porém, pode ser utilizada dissolvida na orelha para tratamento de otite externa. Também é utilizada no tratamento de infecções graves causadas por gram-negativos. Penicilinas que são pró-drogas: precisamsofrer biotransformação para serem ativadas. inibidores de b-lactamases: Ácido clavulônico/clavulanato. Geralmente é utilizado em associações como: → amoxicilina + clavulanato: VO, IM, SC; (muito utilizado). → Ticarcilina + clavulanato: IV; → Ampicilina + sulbactam: IM, SC. É um fármaco B-lactâmico que tem pouca atividade antimicrobiana, mas se liga irreversivelmente e inativa muitas B- lactamases diferentes (inibe a enzima que irá destruir os antibióticos). Ela penetra facilmente em bactérias G + e G-. O clavulanato amplia o espectro de ação das penicilinas como a amoxicilina e ticarcilina. Amoxicilina + clavulanato atua sobre Staphylococcus produtores de penicilinases e tem maior atividade contra G- (atua em algumas, não em todas). A maioria dos anaeróbios é suscetível. Aplicações clínicas: → Amoxicilina + clavulanato é a primeira escolha no tratamento de infecções de pele, tecidos moles, trato urinário, profilaxia cirúrgica. → Ticarcilina + clavulanato é usada no tratamento sistêmico de infecções por Pseudomonas aeruginosa, resistentes a outros antibacterianos. → Sulbactam e tazobactam: apresentam características semelhantes ao ácido clavulônico. O sulbactam + ampicilina formou um produto de boa absorção oral. → O tazobactam é associado Farmacologia B com piperacilina, ampliando o espectro de ação antipseudomonas. CEFALOSPORINAS: Mecanismo de ação: Também pertencem ao grupo dos B-lactâmicos. São estruturalmente relacionados à benzilpenicilina e tem um anel B- lactâmico. Elas inibem a síntese da parede celular das bactérias, bem como as penicilinas. São resistentes à B-lactamase produzida por Staphylococcus spp, as Staphylococcus produtoras de penicilinase destroem o anel B- lactâmico da penicilina, mas não das cefalosporinas. Mecanismo de resistência das bactérias às cefalosporinas: as bactérias se tornam resistentes às cefalosporinas através da produção de b-lactamases/cefalosporinases. Elas ficam resistentes devido à inativação enzimática, por menor permeabilidade. A bactéria pode não ter a PLP específica em que a cefalosporina iria se ligar para destruir a parede, sem a proteína não ocorre a destruição. Classificação: as cefalosporinas são um grupo muito importante dos antibióticos, utilizados de maneira desordenada. As cefalosporinas de 1ª geração foram às primeiras desenvolvidas, logo em seguida foram desenvolvidas as de 2ª geração (de uso parenteral), as de terceira geração, as antipseudomonas de terceira geração (todas parenterais) e as de quarta geração (todas parenterais). Farmacocinética: A farmacocinética é similar a das penicilinas, exceto que as cefalosporinas cruzam a placenta. As cefalosporinas podem ser utilizadas em pacientes hipersensíveis às penicilinas, embora 5% dos pacientes humanos demonstram reação cruzada entre cefalosporinas e penicilinas. Elas são eliminadas principalmente pela urina. As cefalosporinas de uso parenteral podem penetrar no LCR. Cefalosporinas orais: rapidamente absorvidas por VO em cães e gatos e são fracamente absorvidas em cavalos e ruminantes. São amplamente confinadas em fluidos extracelulares e passam fracamente as membranas biológicas, embora a inflamação possa mudar isso. Cefalosporinas parenterais: são rapidamente e bem absorvidas após injeção IM ou SC. Efeitos adversos: são incomuns. → Em monogástricos podem ocorrer vômitos e diarreia. → Seu uso concomitante com aminoglicosídeos ou anfotericina B podem causar nefrotoxicidade (efeito aditivo). → Algumas cefalosporinas parenterais (ceftazidima) podem causar dor quando usadas IM ou SC. Cefalosporinas de 1ª geração: Parenterais: cefacetrila, cefalotina, cefapirina, cefazolina, cefradrina. Oral: cefadroxil, cefalexina, cefaloglicina, cefradrina. Oftálmico: cefalônio. Espectro de ação: Excelente atividade: aeróbios gram-positivos e Staphylococcus produtores de penicilinase. Atividade moderada: gram-negativos e anaeróbios. Aplicações clínicas: infecções de pele causadas por Staphylococcus, infecções de Farmacologia B tecidos moles, infecções do trato urinário (mas não da próstata, não passa por não ser lipossolúvel), osteomielite, discoespondilite e conjuntivite bacteriana. Cefalosporinas de 2ª geração: → Cefaclor, cefoxitina, cefuroxima, cefamandol. Todas são de USO PARENTERAL. Espectro de ação: possuem boa atividade contra gram-positivas, gram-negativas, anaeróbios, e excelente atividade contra Staphylococcus produtores de penicilinase. São de amplo espectro, muito utilizadas! A aplicação clínica é similar às de primeira geração. Cefalosporinas de 3ª geração: → De uso parenteral: cefmenoxima, cefotaxima, ceftiofur, ceftizoxima, cevovecina. → De uso oral: cefetamet, cefxima, cefpodoxima. Espectro de ação: Excelente atividade: aeróbios gram-negativos. Boa atividade: anaeróbios e Staphylococcus produtores de penicilinases. Moderada atividade: Aeróbios gram-positivos. As cefalosporinas de terceira geração devem ser usadas/reservadas para tratar infecções severas causadas por bactérias gram-negativas e anaeróbias facultativas (Enterobactericeae). Podem ser utilizadas em infecções de trato urinário, no tratamento da doença de Lyme (ceftriaxona). O ceftiofur é utilizado em grandes animais para tratar pneumonia aguda bovina, septicemia neonatal em bezerros, infecções respiratórias e sistêmicas em suínos e para controle de Escherichia em aves domésticas. Bactérias suscetíveis: E. coli, Klebsiella, Proteus, Pasteurella, Haemopphilus, Actinobacillus e Salmonella. Cefalosporinas antipseudomonas de 3ª geração: → Cefoperazona, cefsulodina e ceftazidima, são exclusivas de uso parenteral! São utilizadas em humanos para tratamento de septicemia causada por Pseudomonas. Em medicina veterinária pode ser usado para tratamento de infecções severas causadas por P. aeruginosa. Cefalosporinas de 4ª geração: → Cefepima, cefpiroma. Utilizadas apenas em humanos para tratamento de infecções graves do trato respiratório inferior, meningite bacteriana e infecções do trato urinário. Possuem atividade aumentada em Gram + e Gram -, com atividade moderada contra P. aeruginosa. Somente de uso parenteral. oUTROS BETALACTÂMICOS CARBAPENÊMICOS: → Imipenem, Meropenem e Ertapenem. São antibacterianos B-lactâmicos que têm atividade mais ampla de TODOS os ANTIBACTERIANOS individuais. São ativos contra quase todos os cocos e bastonetes aeróbios e anaeróbios Gram + e Gram -. Usados em medicina humana para tratar infecções hospitalares causadas por Gram + multirresistentes. O uso veterinário é raro. Uso é IV. Antimicrobianos quinolonas: Mecanismo de ação: as quinolonas são bactericidas, elas matam as bactérias, porém, elas são concentração-dependente, quanto maior a concentração do fármaco maior será o efeito Farmacologia B bactericida sobre os microrganismos. As quinolonas atravessam a parede celular das bactérias e atuam inibindo as topoisomerases bacterianas do tipo II/IV (enzimas também conhecidas como DNA girases). Estas enzimas controlam o superenovelamento do DNA bacteriano, ao serem inibidas ocorre quebra na fita de DNA, impedindo a multiplicação das bactérias e a morte destas. Mecanismos de resistência: as bactérias fazem três coisas para se tornarem resistentes às quinolonas: → Reduzem a permeabilidade da parede celular bacteriana, impedindo que o antibiótico chegue às enzimas. → Criam uma bomba de efluxo que joga o antibiótico para fora. → Podem mutar a topoisomerase II e IV, alterando os locais de ligação do fármaco, e com isso as quinolonas não se ligam pois existe outra topoisomerase que não é reconhecida por elas. → Pode ocorrer resistência cruzada entre as fluoroquinolonas (de 1ª, 2ª e 3ªgeração). Também pode acontecer resistência cruzada entre as cefalosporinas e tetraciclinas, pois as bactérias conseguem criar uma bomba de efluxo ou outros mecanismos para se tornarem resistentes. Quinolonas de 1ª geração: → Ácido nalidíxico, flumequina e ácido oxonólico. Possuem grande eficiência contra a maioria das Enterobacteriaceae. São escolhas no combate às infecções urinárias, mas não apresentam atividade contra Pseudomonas aeruginosa, anaeróbios e gram-positivas. É um grupo restrito, por isso não é muito utilizado na rotina veterinária. Quinolonas de 2ª geração - fluoroquinolonas: → Enrofloxacino, orbifloxacino, difloxacino, marbofloxacino, norfloxacino, ciprofloxacino, ofloxacino, lomefloxacino e pefloxacino. Farmacocinética: Em monogástricos São administradas por via oral e tem boa absorção. O alimento pode retardar o pico de concentração plasmática, mas não altera a concentração. Elas possuem AMPLO VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO, uma característica muito importante, têm alta lipossolubilidade, vão para todos os tecidos: LCR, secreções brônquicas, osso, cartilagem e próstata. Elas são eficazes para tratar infecções em locais de difícil acesso que outros antibióticos não conseguem chegar (ou chegam com mais dificuldade - como as penicilinas). Elas têm baixa ligação com as proteínas plasmáticas. A biotransformação é variável de acordo com o fármaco, mas sua excreção é renal e fecal. Espectro de ação: elas são muito ativas contra aeróbios Gram-negativos, o foco de ação de todas as fluoroquinolonas são as gram-negativas! Logo, são ativas contra todos os bacilos aeróbios entéricos gram-negativos e todos os patógenos aeróbios bacterianos do intestino. Ela possui excelente atividade contra Pseudomonas, e possui uma baixa atividade em gram-positivos. Muito utilizada em infecções do trato gastrointestinal e genitourinário. → São ativas contra 90-100% das bactérias da urina, incluindo MRSA ( Staphylococcus aureus resistente a meticilina). → Possuem atividade contra Brucella, Chlamydophila e Mycobacterium (são capazes de Farmacologia B penetrar intracelularmente - devido a sua alta lipossolubilidade). As fluoroquinolonas de uso veterinário não tem uma boa ação sobre os anaeróbios. Raramente são sinérgicas ou antagônicas com outros antibacterianos, não é comum associá-las a outros medicamentos, mas em alguns casos pode ocorrer associação de fluoroquinolonas com o metronidazol (ele possui atividade contra os anaeróbios, são específicos para eles). Aplicações clínicas das fluoroquinolonas: São muito utilizadas para o tratamento de infecções severas por gram-negativos, infecções do trato urinário causadas por Pseudomonas, prostatite bacteriana em cães, osteomielite por aeróbios gram-negativos e infecções por Mycobacterium em gatos, em pioderma granulomatoso profundo, infecções bacterianas severas do trato respiratório (chega nas secreções brônquicas), otite externa por gram- negativos. Elas são administradas na frequência de 1x ao dia. Efeitos adversos: De uma forma geral eles não têm muitos efeitos adversos em humanos, porém, na medicina veterinária isso se altera um pouco. → vômitos, náusea, inapetência e diarreia - são efeitos comuns a qualquer antibiótico, eles são muito irritantes para o trato gastrointestinal. → em animais jovens ela pode causar danos articulares em cães jovens (evitar o uso até 18 meses de idade em cães de grande porte, até os 12 meses de idade em cães de médio porte e até os 9 meses de idade e cães de pequeno porte) e potros. → Possuem efeitos teratogênicos - atravessam a placenta e chegam até o feto. → Causa convulsões em altas doses (especialmente se associar com AINES); → em felinos a enrofloxacina pode levar a degeneração da retina em felinos - não exceder 5mg/kg. → Pode levar a alteração da espermatogênese e atrofia testicular - fluoroquinolonas atravessam a barreira hemato-testicular. Interações medicamentosas: podem acontecer com qualquer fármaco, mas existem alguns grupos que são mais específicos. As quinolonas são inibidoras das CIP do citocromo P-450. O citocromo está relacionado à metabolização de muitos fármacos, sem a metabolização estes fármacos podem acabar acumulando no organismo, podendo causar toxicidade grave quando associado a alguns fármacos. As quinolonas inibem a CIP, e o medicamento que deveria ser metabolizado pode acumular, causando alguns efeitos adversos: → Metilxantinas: são fármacos utilizados para o tratamento de bronquite, asma, pois fazem a broncodilatação. Se o animal necessitar utilizar quinolona, que leva a inibição da CIP e acúmulo das metilxantinas no organismo, este acúmulo pode levar a toxicidade no SNC, com convulsões. → AINEs: podem sofrer interferência na sua metabolização, causando excitação do SNC. → Varfarina: quando acumulada pode ocorrer aumento do tempo de sangramento e aparecimento de sangramentos. → Antiácidos contendo Mg (hidróxido de magnésio, hidróxido de alumínio) ou contendo zinco, sucralfato, ferro e multivitamínicos contendo zinco acabam retardando/diminuindo a biodisponibilidade da quinolona - reduz a absorção do fármaco. Farmacologia B Quinolonas de 3ª geração: → Levofloxacino e Esparfloxacino. São cardiotóxicas e fototóxicas e por isso não são mais utilizados. → Moxifloxacino: é utilizado no tratamento de Streptococcus pneumoniae. Quinolonas de 4ª geração: → Trovofloxacino. Ele fica guardado para utilização em situações especiais, ele funciona muito bem contra os anaeróbios, e seu uso é restrito para hospitais. O principal efeito colateral é que ele causa necrose hepática. derivados nitrofurânicos: Seu uso é bem limitado, com apenas três representantes. São muito antigos, e apesar disto não se conhece realmente qual é seu mecanismo de ação. Apresentam amplo espectro de ação contra gram-negativas, gram-positivas, alguns protozoários e fungos. Dependendo da concentração utilizada ele pode ser bactericida ou bacteriostático (ao aumentar a concentração ele se torna bactericida, no entanto, se aumentar muito a concentração podem aumentar os efeitos adversos, mas isso é difícil). Raramente ocorrem casos de resistência bacteriana. *A atividade antimicrobiana é bastante reduzida na presença de pus, sangue e leite. Efeitos tóxicos (em doses muito elevadas): diáteses hemorrágicas com trombocitopenia, anemia, aumento do tempo de sangramento, efeito em nível de SNC, anorexia e vômito. Mecanismo de ação: acredita-se que os derivados nitrofurânicos atravessam a parede celular da bactéria e são metabolizados. Existem flavoproteínas bacterianas que metabolizam os derivados nitrofurânicos, formando intermediários altamente reativos que causam danos ao DNA bacteriano, impedindo a replicação das bactérias. → Nitrofurantoína, Furazolidona e Nitrofurazona. → Nitrofurantoína: é muito utilizada no tratamento de infecções do sistema urinário em cães. Atua em várias gram-negativas e em algumas gram-positivas. Possui atividade moderada contra anaeróbios. É administrada por via oral, sendo rapidamente e completamente absorvida. A meia-vida plasmática é pequena, pois é rapidamente excretada pelos rins. Em humanos seu uso é muito comum, principalmente em infecções urinárias de idosos, podendo ser utilizada por meses, permite o uso crônico, o que não é muito usual com outros tipos de antibióticos.Ele é capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica e placentária. → Seu uso é contraindicado em animais com nefropatias, diabete, anemia e fêmeas prenhes. Efeitos adversos: vômito, hipersensibilidade, hepatopatia, polimiosite. → Furazolidona: é utilizado no tratamento de infecções no sistema digestório, principalmente causadopor: Salmonella, Shigella, Vibrium, Staphylococcus, Streptococcus e E.coli. Ele também é utilizado no tratamento de infecções por Giardia, Trichomonas e coccídios. Efeitos adversos: vômito, diarreia e anorexia. Farmacologia B → Nitrofurazona: é de uso tópico, principalmente em casos de queimaduras e enxertos. São raros os efeitos adversos, sendo relatadas apenas dermatites alérgicas de contato. Podem ser utilizadas em cirurgias ortopédicas (curativos com metais), em curativos e ferimentos. metronidazol: É um bactericida concentração-dependente (quanto maior a concentração do fármaco, melhor sua ação). Mecanismo de ação: ele entra nas bactérias e no interior destas forma compostos intermediários que causam a quebra das fitas do DNA e inibem a enzima de reparo do DNA, a DNAase-1, impedindo a multiplicação bacteriana. Esta reação só ocorre em condições anaeróbias, por isso o metronidazol é ativo somente contra bactérias anaeróbias - por isso é utilizado em associações com outros antibióticos que não atuam sobre anaeróbias. O efeito sobre protozoários é desconhecido. Pode ser administrado por via oral ou intravenosa. Ele é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e placentária. Sendo biotransformado no fígado por oxidação e conjugação, entretanto uma grande parte é excretada na urina, na sua forma ativa. Efeitos adversos: náusea, vômitos, inapetência, ataxia e convulsões (metronidazol intravenoso de forma rápida, a injeção tem que ser bem lenta). → neuropatia periférica; Neutropenia e hematúria, gatos salivam profusamente após uso do metronidazol, efeito carcinogênico e controverso visto em estudos de laboratório. → Teratogênico - não usar em fêmeas prenhes (primeiros trimestres de gestação). Usos clínicos: → Infecções GI causadas por Trichomonas, Giardia, Entamoeba hystolytica ou bactérias anaeróbicas; → Infecções da boca, doença periodontal, gengivite ulcerativa; → Supercrescimento bacteriano no intestino delgado e diarreia responsiva a antibiótico; → Infecções anaeróbicas de tecidos moles; → Em associação com fluoroquinolona para sepse severa. É importante lembrar que para escolha do melhor tratamento para seu paciente deve-se fazer a coleta e análise do material, com cultura microbiana e realização do teste de sensibilidade aos antimicrobianos. A partir disso é possível dar um diagnóstico confiável e prescrever o fármaco mais adequado para a situação do paciente! Farmacologia B
Compartilhar