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Nome da Disciplina Aula 10: Neorruralismo – o novo estilo dos velhos tempos? Apresentação Nos dias atuais, é evidente que transformações sociais ocorrem de uma forma muito mais rápida que até pouco tempo atrás. A tecnologia e a globalização fazem com que tudo seja urgente e intenso. Pessoas trabalham cada vez mais, numa necessidade de superar limites e de obter destaque na vida pessoal e pro�ssional, como um requisito de sobrevivência na atual dinâmica social imposta pelos grandes centros urbanos. Na realidade, muitas pessoas já não se sentem mais atraídas por esta dinâmica, o que faz com que a tranquilidade do campo seja uma forma de se distanciar do excesso de trabalho e de correria que se vive nas cidades. O que antes era a corrida em prol de se viver no urbano, hoje, se volta para a paz e calmaria de viver isolado no meio rural, com um contato mais próximo ao natural e longe de grandes aglomerados de pessoas e de tudo o mais que isso possa ocasionar, como trânsito, demora no atendimento de serviços básicos etc. Nesta nossa última aula, estudaremos sobre o estilo de vida do campo que muitos almejam na cidade. Objetivos Explicar o que é neorruralismo; Discutir porque o neorruralismo faz parte de um processo ligado diretamente aos ciclos econômicos de certos produtos. Neorruralismo: um conceito atual? Vimos ao longo das aulas que o agrário é muito mais que somente uma questão de local e de espaço. Vimos que, em termos gerais, este tipo de território foi cada vez mais sendo esvaziado pela migração de pessoas rumo às cidades e aos grandes centros urbanos. A migração do campo para a cidade, que ocorre há muitas décadas no Brasil, gerou muitos problemas no campo e nas cidades, provocando desequilíbrios signi�cativos para todos. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online (Fonte: travelwild / Shutterstock). No caso, para alguns citadinos, o excesso de trânsito, a falta de qualidade na assistência à saúde, segurança e educação, intensi�cados de forma acentuada com a migração desordenada dos campesinos provocou uma mudança de pensamento e uma nova forma de olhar o campo. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Esta situação, que representa todo um conjunto de valores e ideias relacionado ao modo de vida, tem sido pensada de forma exaustiva por muitos, que acabam optando em migrar da cidade para o campo em busca de uma qualidade de vida melhor do que aquela que a cidade permite no momento. É justamente esse deslocamento, da cidade para o campo, que damos o nome de neorruralismo (ou também de novos rurais). Para além da migração cidade-campo, uma pesquisa feita pelo Instituto Souza Cruz demonstra que, mesmo para aqueles que estão no campo, já é possível vislumbrar oportunidades que antes eram somente percebidas nos centros urbanos, como é o caso do trabalho de gestão, que agora é autônomo e feito também pelo pequeno agricultor. Até pouco tempo atrás, esta função estava concentrada nas mãos dos grandes fazendeiros, como já vimos em algumas discussões de aulas anteriores. O neorruralismo, embora seja mais evidente nos últimos anos, não é uma situação nova. Na França, já se discutia o termo antes da década de 1970 (Giuliani, 2019). Para compreendermos melhor a situação histórica como um todo, voltemos ao século XVIII. Segundo Mattoso (2015), quando falamos em neorruralismo, retornamos a um movimento literário europeu do século XVIII, chamado Arcadismo, que valorizava muito a vida no campo e a própria natureza, que foi contrário ao movimento da burguesia e do Antigo Regime. javascript:void(0); Saiba mais No Arcadismo, a valorização da vida no campo era chamada de bucolismo, assim como a crítica à vida nos centros urbanos era feita através da expressão fugere urbem. Apesar destas duas formas de expressar partes da discussão do que era o movimento, temos, hoje, de forma frequentemente usada, a expressão carpe diem, que também é da mesma época e diz respeito à fugacidade da vida. Apesar da grande discussão do Arcadismo nos séculos XVIII e XIX na Europa, somente em meados do século XIX podemos pensar em uma inicial re�exão sobre a situação. Mas por quê? Bem, você recorda que dissemos anteriormente que foi nos anos 1950 que o velho mundo rural sofreu a chamada modernização da agricultura? Lembra também que o campo, naquele tempo, estava sofrendo pressão para ser um anexo do modelo industrial e urbano, que rapidamente transformava a agricultura em mais um ramo industrial? Pensando com calma, além destes dois itens, você também pode re�etir que, neste mesmo sentido, os agricultores também estavam se transformando em produtores suburbanos, uma vez que se pensava, naquela época, que a cidade tinha tudo para oferecer ao campo e este nada tinha de interessante para a cidade. Perceba que este era o pensamento dos próprios agricultores, tanto que começaram a valorizar acentuadamente os centros urbanos migrando para ele. O campo foi esvaziado (êxodo rural) nas décadas de 1960 e 1970, deixando alguns locais totalmente desertos. (Fonte: MisterStock / Shutterstock). Com o passar do tempo, já na década de 1970, após alguns anos de tentativas em vão para adquirir boa qualidade de vida nas cidades, as pessoas começavam a pensar em voltar para o campo. Embora as luzes das cidades tenham seus atrativos (e.g. rápido e fácil acesso a produtos e serviços), o real contato com a natureza, tempo de trabalho menos rígido (embora, por muitas vezes, mais longo), ar mais puro, mais silêncio e tranquilidade, maior liberdade, menos violência e, principalmente, relações sociais mais estáveis e con�áveis, começam a atrair muitas pessoas ao campo. (Fonte: Monkey Business Images / Shutterstock). Atenção Note que usamos a expressão voltar ao campo, o que ocorre devido a uma questão muito simples: os neorrurais, em sua grande maioria, possuem, além da a�nidade, sua origem no campo (nem que for numa relação de parentesco de até segundo grau), o que automaticamente nos remete ao pensamento de uma tendência natural à mudança. Apesar desse movimento não ser tão substancial como o ocorrido em direção oposta (êxodo rural), dá origem a signi�cativas mudanças, como, por exemplo, levar consigo produtos e serviços tipicamente urbanos, podendo in�uenciar a maneira de viver dos campesinos de forma acentuada. Com isto, mudam toda uma dinâmica socioeconômica no campo e contribuem para uma percepção cada vez menor dos limites entre o campo e a cidade (diluição de fronteiras entre os territórios e os estilos de vida). Relação do neorrural com a economia No tópico anterior, comentamos que há toda uma mudança socioeconômica no campo quando chegaram os novos rurais. Vamos entender como isso ocorre. Se �zermos um resgate na história do Brasil, veremos que o país passou por vários processos muito signi�cativos de deslocamento populacional e, principalmente, muitas delas, foram em direção ao campo e não à cidade. Os ciclos que comentaremos serão aqueles relacionados à prática agrícola e não de mineração. São práticas que coexistem, mas “a indústria mineira encerra motivações di�cilmente harmonizáveis com o mundo rural e agrícola, ritmado por interesses por vezes diametralmente opostos” (Vitorino, 2000, p. 256). Os deslocamentos em direção ao campo, muitas vezes, estiveram relacionados aos ciclos econômicos de vários produtos, em geral de exportação. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Veremos alguns dos principais produtos a seguir: Principais produtos Clique no botão acima. Principais produtos A produção de cana-de-açúcar estava concentrada em alguns dos atuais estados do Nordeste (antigas capitanias), como Pernambuco e Bahia, mas também era presente no Sudeste, principalmente em São Paulo. O sistema agrícola utilizado era o plantation, com mão de obra indígena e escrava. No entanto, uma grande quantidade de portugueses veio para o Brasil nesta época para ocupar as terras e evitar que outros países colonizassem o Brasil.Cana-de-açúcar Esta matéria-prima representou a primeira riqueza econômica do Brasil colonial em um período que �cou conhecido como o ciclo da cana-de-açúcar, do século XVI até meados do século XVIII, quando foi parcialmente substituída pela cultura do café. Atenção: Não confunda a prática agrícola com mineração: a cultura da cana-de-açúcar foi parcialmente substituída pela prática agrícola do café, porém o ciclo econômico subsequente ao do ciclo da cana-de-açúcar é o ciclo econômico do ouro. (Fonte: Ekkaratk / Shutterstock). Café Embora o ciclo do café tenha sido um dos mais duradouros da economia do Brasil, esta matéria-prima não é um produto nacional. Há divergência em datas relacionadas ao início do ciclo do café, porém há concordância sobre quando esta planta começou a ser cultivada em território nacional, contrabandeada da Guiana Francesa, no início do século XVIII, por volta dos anos de 1729, no Pará. Saiba mais: O café é uma planta nativa da Etiópia. (Fonte: SOMMAI / Shutterstock). Borracha Este produto teve um importante papel na economia brasileira em dois momentos. O primeiro, entre 1879 e 1912, conhecido como o primeiro ciclo da borracha. O segundo período, entre 1942 e 1945, no contexto da Segunda Guerra Mundial é conhecido como o segundo ciclo da borracha. A extração do látex da seringueira e a comercialização da borracha se tornaram, naquelas épocas, a base da economia brasileira – de todo nosso país -, mesmo esta atividade tenha sede e produção na região Amazônica. (Fonte: Sompraaong0042 / Shutterstock). A atividade foi tão importante que proporcionou expansão da colonização, impulsionou de forma agressiva o crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém e, além disso, possibilitou a compra” do que hoje é o estado do Acre (que antes era da Bolívia), em 1903. Para que tudo o que foi dito acima fosse possível, o número de pessoas envolvidas foi grande. Desta forma, a região recebeu muitas pessoas atraídas pela concentração da riqueza e oportunidades de trabalho. Foi um dos períodos mais signi�cativos de deslocamento de pessoas para o campo. Comentário: Leia um texto sobre o ciclo da borracha. Saiba mais: Foram os franceses os primeiros a fabricar produtos de borracha (como suspensórios, bolas, ligas) e iniciaram a atividade, em 1803, com a primeira fábrica de produtos da borracha em Paris. Isto foi devido a uma viagem de observação e exploração da cultura indígena brasileira feita pelo naturalista francês Charles Marie de La Condamine (Von Hagen, 1945). Embora possamos apontar outros ciclos, como o do pau-brasil e do algodão, eles não tiveram o mesmo impacto na economia do país e, principalmente, em termos de migração para o campo quanto os casos comentados anteriormente. Veja que, em geral, todos eles foram quesito de atração de pessoas ao campo de uma forma muito signi�cativa. Porém, em termos de economia e quantidade de pessoas deslocadas, os ciclos da cana-de-açúcar, do café e da borracha foram destaque. Assim, ao pensarmos em neorrurais, podemos dizer que não são tão novos assim e que isto também é uma questão de possibilidades e economia. Para concluir a disciplina, pense que a geogra�a agrária é uma área que nos possibilita compreender os fatores que levaram à atual e importante distribuição e consolidação agrária no país e tudo o que a envolve. Atividade 1. Explique o que é o neorruralismo. 2. Assinale a alternativa que não diz respeito aos problemas gerados pela migração desordenada das pessoas do campo para os centros urbanos: a) Trânsito b) Má qualidade do sistema educativo c) Falta de assistência hospitalar d) Violência e) Ecorregiões javascript:void(0); 3. Assinale a alternativa que não corresponde a um ciclo econômico gerado por um produto no Brasil: a) Pau-brasil b) Borracha c) Cana-de-açúcar d) Mel e) Café Referências Andrade, J.P.M. O desenvolvimento da atividade cafeeira no Vale do Paraíba Fluminense de 1850 a 1888. Monogra�a (Bacharelado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https ://pantheon .ufrj .br /bitstream /11422 /2387 /1 / JPMAndrade .pdf. Acesso em: 2 jul. 2019. -Giuliani, G.M. (2019). Neo-ruralismo: o novo estilo dos velhos modelos. Disponível em: http ://www .anpocs .org .br /portal /publicacoes /rbcs_00_14 /rbcs14_05 .htm. Acesso em: 30 jun. 2019. MATTOSO, G. O que é Neo-Ruralismo? Disponível em: https ://caipirismo .com .br /2015 /03 /09 /o -que -e -neo -ruralismo/. Acesso em: 30 jun. 2019. -Von Hagen, V. W. (1945). South America called them; explorations of the great naturalists: La Condamine, Humboldt, Darwin, Spruce. New York: Knopf, 1945. Explore mais Assista aos vídeos: Programa novos rurais: atitude que transforma Transformações no mundo rural brasileiro Leia o texto: Mundo rural na sociedade brasileira: territórios, atores e projetos javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);