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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira FUNDAM ENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAM PO 44 48 7 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-5422-0 9 7 8 8 5 3 8 7 5 4 2 2 0 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br © 2016 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ CP49f Pereira, Camila Casteliano Fundamentos da educação do campo / Camila Casteliano Pereira. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A, 2016. 178 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-387-5422-0 1. Ensino a distância - Brasil. I. Título. 16-29878 CDD: 371.350981 CDU: 37.018.43 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Apresentação Este guia de estudo apresenta uma discussão sobre os fundamentos da edu- cação do campo e seus determinantes estruturais e pedagógicos, além das rela- ções de trabalho neste contexto. A proposta é problematizar esta concepção de sociedade que vem se consolidando com base na luta e resistência de movimen- tos sociais do campo e de entidades que se vinculam a estes movimentos em contraponto à força do capitalismo que se insere no campo com agressividade. É com um olhar crítico que partilhamos desta disciplina com foco nos desa- fios postos na atual conjuntura, compreendendo as possibilidades para a efeti- vação da política pública da educação do campo. Assim, discutiremos concepções teóricas, algumas experiências, as relações de trabalho, a diversidade do campo, as contradições postas neste contexto, bem como a legislação, os direitos e desafios. As possibilidades discutidas nesta disciplina têm a intenção de realizar uma crítica à educação presente no campo, dar visibilidade às contradições estruturais e pedagógicas, e indicar princípios da educação do campo que se vinculem à pedagogia socialista e que visem à formação para a emancipação. Bons estudos! Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Camila Casteliano Pereira Mestranda em educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista em Alfabetização pela Faculdade Dom Bosco (2016). Graduada em Pedagogia pela UTP. É bolsista de mestrado da CAPES e integrante, desde 2012, do Núcleo de Pesquisa em Educação do Campo, Movimentos Sociais e Práticas Pedagógicas (NUPECAMP) da UTP. Tutora presencial do curso de Pedagogia. Sobre a autora Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Aula 1 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO 9 PARTE 1 | O INÍCIO DA LUTA POR UMA EDUCAÇÃO BÁSICA DO CAMPO 11 PARTE 2 | EDUCAÇÃO RURAL 18 PARTE 3 | EDUCAÇÃO DO CAMPO 26 Aula 2 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR 35 PARTE 1 | EDUCAÇÃO DO CAMPO: O PROTAGONISMO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES 37 PARTE 2 | O MOVIMENTO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 47 PARTE 3 | A ESCOLA E A EDUCAÇÃO DO CAMPO 53 Aula 3 APROXIMAÇÕES SOBRE OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO CAMPO 65 PARTE 1 | ESCRAVISMO (PRODUÇÃO DE CANA, CAFÉ, ERVA-MATE E GADO) 67 PARTE 2 | SÉCULO XIX: IMIGRAÇÃO EUROPEIA 71 PARTE 3 | O CAMPESINATO NO BRASIL DE HOJE 75 Aula 4 DILEMAS E PERSPECTIVAS NO CAMPO COM A MODERNIZAÇÃO 81 PARTE 1 | AGROECOLOGIA COMO MATRIZ INTEGRADORA: UM NOVO PARADIGMA 83 PARTE 2 | CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA, O CAMPO COMO LUGAR DE ATRASO, URBANIZAÇÃO DESENFREADA 89 PARTE 3 | MONOCULTIVOS (ALIMENTOS E COMODITIES) 95 Sumário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Aula 5 RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO 99 PARTE 1 | O CAMPESINATO E SUA DIVERSIDADE 101 PARTE 2 | OS SUJEITOS DO CAMPO – POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS 106 PARTE 3 | RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO HOJE 110 Aula 6 SISTEMAS DE PRODUÇÃO E AGRICULTURA FAMILIAR 117 PARTE 1 | O AGRONEGÓCIO 119 PARTE 2 | A AGRICULTURA FAMILIAR 125 PARTE 3 | A AGRICULTURA AGROECOLÓGICA 128 Aula 7 POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 131 PARTE 1 | POLÍTICAS EDUCACIONAIS NEOLIBERAIS E EDUCAÇÃO DO CAMPO 133 PARTE 2 | POLÍTICAS DE ACESSO À TERRA E AO TERRITÓRIO 139 PARTE 3 | POLÍTICAS DE FOMENTO AO PEQUENO AGRICULTOR 148 Aula 8 PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO (PNE) 155 PARTE 1 | POLÍTICA EDUCACIONAL E EDUCAÇÃO DO CAMPO – ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E SUPERIOR 157 PARTE 2 | A ESCOLA LOCALIZADA NO CAMPO 169 PARTE 3 | DESAFIOS E METAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 173 Sumário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Conhecer e contextualizar a educação do campo. Objetivos: REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Aula 1 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 11 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 O INÍCIO DA LUTA POR UMA EDUCAÇÃO BÁSICA DO CAMPO A luta por uma Educação Básica do campo surge no bojo dos en- frentamentos protagonizados pelos movimentos sociais do campo, em especial do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Este coletivo interroga a desigual distribuição da terra e a ausência de di- reitos para os camponeses, dentre eles a educação. Esta educação sempre esteve exposta ao abandono, com marcas de atraso, desvalo- rização do magistério, desconhecimento da especificidade da cultura, dos saberes, e da identidade dos camponeses. Assim, num primeiro momento, para compreender o sentido dessa luta, far-se-á uma breve discussão sobre a disputa dos movimentos sociais do campo por uma educação básica, bem como a trajetória histórica que configurou a concepção de sociedade dos trabalhadores do campo. As pautas de denúncias dos trabalhadores em relação à educa- ção no contexto rural referem-se a diversas fragilidades, tais como: práticas pedagógicas descontextualizadas, formação inadequada de professores, excessivo fechamento e nucleação de escolas, materiais didáticos e currículos que valorizam conteúdos urbanos, infraestrutura das escolas e das estradas intensamente precárias, entre outras con- dições de negação de direitos. Assim, as indagações tornam evidente a realidade dos sujeitos do campo, que sempre foram invisíveis no projeto de desenvolvimento do país. Um primeiro apontamento para essa fragilidade no contexto das escolas localizadas no campo refere-se à educação “voltada” ao tra- balhador camponês. A educação é “voltada” quando há a ideia de que Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOSDA EDUCAÇÃO DO CAMPO 12 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 alguém, de fora do contexto, materializa determinada realidade e constrói uma proposta de educação de sociedade “para” aquele cole- tivo. Não é possível construir metas e desafios “para” alguém. Sempre haverá algo importante que ficará esquecido ou até mesmo desco- nhecido se for feito além de quem está no movimento dessa ação. Nesse sentido, a proposta torna-se distanciada da prática social do camponês. Levando em consideração os pressupostos apontados anterior- mente, na educação rural firmou-se um modelo de educação “para” as escolas rurais, adaptado da escola urbana que é considerada desen- volvida e valorizada em relação ao campo. O resultado dessa relação orientou o demérito dos valores presentes no campo e a posição de inferioridade quando comparado ao ambiente urbano. Além disso, a cultura camponesa foi/é associada a preconceitos e estereótipos, um exemplo expressivo é a organização de festas juninas que, para o camponês, representa a comemoração da colheita, mas que, em geral, são reproduzidas como se o camponês fosse atrasado e fizesse o “uso de roupa rasgada e remendada, dentes estragados, ma- quiagem exagerada etc” (PARANÁ, 2006, p. 38). Esse exemplo anuncia, no âmbito cultural, de que forma o camponês é representado, tendo em vista que essa festa é realizada em diversas instituições sociais, tais como: família, igreja, escola etc. Num sentido contrário ao que foi colocado anteriormente, em que o campo tem sua realidade ocultada, o coletivo de trabalhado- res do campo se organiza para reconhecer e fortalecer o seu projeto social. Munarim (2008) destaca que a década de 90 é marcada pelo momento histórico que ele apresenta como “movimento de Educação do Campo”, que surgiu para fortalecer a valorização do campo e da Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 13 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 educação. Esse movimento surgiu como manifestação dos próprios camponeses que se colocaram como protagonistas da construção de uma nova sociedade, que tenha o direito de viver “no” e “do” campo. Neste sentido, Munarim explica: “no campo”, porque o povo tem direito de ser educado preferentemente onde vive, isto é, sem ter de subme- ter-se forçosamente a longos e cansativos transportes para as escolas situadas em realidades, mormente, ur- banas; “do” campo, porque o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua parti- cipação, vinculada a sua cultura e as suas necessidades humanas e sociais (MUNARIM, et al, 2010, p. 12). Em julho de 1997, ocorreu o 1.º encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (ENERA). Esse encontro reuniu cole- tivos da sociedade civil organizada representada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pelo Fundo das Nações Unidas para a Ciência e Cultura (Unesco) e pelo Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Esse encontro teve por objetivo conceber a educação como prioridade enraizada com a reforma agrária. No ano seguinte, em 1998, foi realizada a I Conferência Nacional “Por Uma Educação Básica do Campo”, realizada em Goiânia (GO). Essa conferência reuniu coletivos do MST, CNBB, Unicef, Unesco e a UnB (Universidade de Brasília). Nessa conferência, os compromissos e desafios empreendidos no campo se mostraram possíveis com a cons- trução de outro projeto de sociedade para o Brasil e de um novo plano de desenvolvimento para o campo, tendo na educação a base para toda e qualquer transformação social. Essa conferência foi importante Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 14 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 também, porque o coletivo reunido definiu a concepção de educação que compreende a valorização econômica, cultural, política e social dos povos do campo intitulada: “educação do campo”. Além disso, essa conferência provocou a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, homologada em 2002 pelo Parecer CNE/CEB n.º 36/2001 e Resolução CNE/CEB 1/2002, do Conselho Nacional de Educação. Em 2004, foi realizada a II Conferência Nacional por uma Educação do Campo, em Luziânia (GO), cujos participantes foram: CNBB, MST, Unicef, Unesco, UnB, CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) UNEFAB (União Nacional das Famílias Agrícolas do Brasil) UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), MAB (Movimento dos Atingidos Por Barragens), MMC (Movimento das Mulheres Camponesas). Essa conferência resultou em estratégias para fortalecer o reconhecimento da educação do campo na agenda públi- ca, seja no âmbito da Educação Básica como do Ensino Superior. Foram realizados diversos encontros e discussões locais e regio- nais, dos coletivos da educação do campo, diversas problematizações aconteceram e estão acontecendo. Esse foi o início da luta por uma Educação Básica do Campo tendo os movimentos sociais, em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, como protagonistas desse processo. Todas as reivindicações são oriundas de direitos nega- dos. A organização desses coletivos intenciona estratégias de mudan- ças e de um novo projeto de desenvolvimento para o campo. A partir de indagações realizadas nesses encontros e conferências é que foram efetivadas as políticas públicas para a educação do campo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 15 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 Uma informação complementar é que em setembro de 2015 houve o II Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (II ENERA), realizado em Luziânia (GO). Esse encontro evidenciou os desafios contraditórios da atual conjuntura: o analfabetismo, o neoli- beralismo, o agronegócio, a privatização, mercantilização da educa- ção, o capitalismo, o fechamento de escolas e os preconceitos étnicos e raciais, glbtfóbicos e de gênero. Nesse contexto, os enfrentamentos dos educadores e educadoras da Reforma Agrária devem superar essas fragilidades permeadas no campo. A proposta que se coloca é a de construir a reforma agrária po- pular, tendo a agroecologia como matriz tecnológica, denunciando as irregularidades que permeiam o campo para garantir direitos sociais. O caminho principal é lutar pela universalização da educação pública, tornando-a acessível, também, aos trabalhadores e trabalhadoras do campo, desde a educação infantil até a universidade. Extra Para aprofundar o conhecimento sobre o início de uma luta por uma Educação Básica do Campo, recomendamos a leitura do artigo de Antônio Munarim “Movimento nacional de educação do campo: uma trajetória em construção”, escrito no ano de 2008. Esse artigo é importante, pois problematiza a história do movimento Nacional de Educação do Campo e aprofunda as reflexões que fizemos nessa parte. Esse artigo está disponível em: <http://31reuniao.anped.org.br/1tra- balho/GT03-4244--Int.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 16 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 Atividade Leia as duas estrofes da música “Educação do Campo”, de Gilvan dos Santos: Educação do Campo do povo agricultor precisa de uma enxada de um lápis e de um trator Precisaeducador pra trocar conhecimento O maior ensinamento é a vida e seu valor Dessa história nós somos os sujeitos Lutamos pela vida pelo que é de direito As nossas marcas se espalham pelo chão A nossa escola ela vem do coração As estrofes acima indicam uma problematização à educação do camponês. O que podemos entender com as estrofes, tendo como base a leitura do texto, no que tange o início da luta por uma educação básica do campo: a) A conquista de direitos, entre eles a escola do campo, é pos- sível com a organização dos sujeitos do campo. b) Não é necessário escola, pois o agricultor só precisa de enxa- da, semente e terra. c) Os camponeses lutam para sair do campo pois só há espaço de trabalho e de sobrevivência para o agronegócio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 17 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 1 Referências MUNARIM, Antônio et al (Org.). Educação do Campo: reflexões e perspectivas. Florianópolis: Insular, 2010. ______. Movimento nacional de educação do campo: Uma trajetória em construção, 2008. Disponível em: <www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/ GT03-4244--Int.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CEB Nº 2, de 28 de Abril de 2008. Publicado no Diário Oficial da União de 29 abr. 2008. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11841-rceb002- 08-pdf&category_slug=outubro-2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 27 out. 2015. ______. Parecer CNE/CEB 36/2001. Publicado no Diário Oficial da União de 13 mar. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=11989-pceb036-01-pdf&category_slug=novembro- 2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 27 out. 2015. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação do campo. Curitiba, 2006. Resolução da atividade A resposta é a letra “A”. Conforme se pode observar no desenvol- vimento do texto, a luta por uma educação básica do campo surge no bojo dos enfrentamentos protagonizado pelos movimentos sociais do campo, em especial do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Esses movimentos são organizados pelos sujeitos do campo que lutam para ter seus direitos efetivados. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 18 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 EDUCAÇÃO RURAL Nesta parte da aula faremos uma primeira aproximação no debate da Educação Rural no Brasil e, para compreender essa importante dis- cussão, parte-se de um recorte histórico do final do século XIX. Esse período refere-se à velha república (1889 a 1930), que mar- cou a estrutura agrária do Brasil pelo controle político das elites e que, segundo Souza, teve raízes na “concentração da terra, pelo tra- balho escravo, por uma política patrimonialista e pelo analfabetismo” (SOUZA, 2011, p. 14). Além disso, o final do século XIX foi cenário da vinda de “imigrantes de diversos países: Itália, Alemanha, Polônia, Espanha, entre tantos outros, cuja chegada gerou a necessidade de instituições escolares” (SOUZA, 2011, p. 15). O cenário do século XIX foi “marcado por intensas transformações econômicas, sociais, políticas e culturais” (MACHADO, 2012, p. 91). Segundo a autora, “neste contexto de transformações, os países do novo mundo, inseridos no processo de produção mundial, foram leva- dos a transformarem-se de forma a se adequarem às novas exigências do capitalismo” (MACHADO, 2012, p. 91). Esse movimento de transformações imprimia a necessidade do país se modernizar para acompanhar as mudanças na forma de traba- lho e assim mudar também a sociedade que integrava este contexto. Machado apresenta alguns exemplos dessas mudanças, tais como: o “fim da monarquia, a separação entre a igreja e o Estado, a adoção do casamento civil, a secularização dos cemitérios, a reforma eleitoral, o incentivo à imigração e a industrialização” (MACHADO, 2012, p. 91). No contexto dessas transformações entra a necessidade da oferta de escolas públicas para as classes populares. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 19 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 Vários debates ocorreram nesse período sobre a criação da es- cola para o povo, e vários projetos foram enviados para Câmara dos Deputados “com o objetivo de criar o ensino primário no Município da Corte e servir de exemplo às províncias que compunham o reino” (MACHADO, 2012, p. 92). A autora acrescenta ainda que “esta limi- tação das reformas ocorria em função do Ato Adicional de 1834, que [...] designou como responsabilidade do governo geral a manutenção da instrução primária e secundária apenas no Município da Corte e o ensino superior em todo o Império”. (Idem, Ibidem). Entre os projetos enviados à câmara, a autora destaca o decre- to de Leôncio Carvalho (1879) e os pareceres/projeto de Rui Barbosa (1882-1883) que “evidenciaram o quanto era urgente o investimento em educação por parte do governo brasileiro, apresentando de forma abrangente questões relativas ao ensino” (MACHADO, 2012, p. 92-93). Vários projetos foram apresentados, mas nenhum executado. A forma de apresentação de cada projeto seguiu rumos diferen- tes, o Decreto 7.247 de Leôncio Carvalho deveria ter sido implemen- tado sem a anuência do legislativo, entretanto não fora aprovado por conta de discussões no tocante orçamentário. Rui Barbosa apresentou pareceres tecendo análises cuidadosas ao decreto anteriormente men- cionado, com a intenção de substituí-lo. Ambos os projetos tinham como objetivo estruturar o ensino desde o jardim de infância até o ensino superior. A preocupação com a organização do ensino e a oferta às classes populares tinha objetivo de estender a alfabetização, tendo em vista a intenção do aumento do número de leitores, pois “preparar o homem para o sufrágio universal, através da escola, tomou forte to- nalidade, buscando garantir o desempenho de seus deveres de cidadão quando o voto fosse estendido a todo cidadão brasileiro” (MACHADO, 2012, p. 93). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 20 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 O país ficava sob o domínio das oligarquias paulistas e mineiras, que alternavam o controle do país por meio de um revezamento do poder, a chamada política do café com leite. Ramal explica que “este nome bastante emblemático representava a alternância do poder po- lítico no país, na sua maioria entre os fazendeiros produtores de vacas leiteiras e os grandes produtores de café do Brasil” (RAMAL, 2011, p. 2). Nesse contexto de revezamento de poder, firmava-se o corone- lismo no contexto rural, onde os grupos “ligados às oligarquias rurais tinham seus interesses hegemônicos favorecidos no sentido de cola- borar com os grandes proprietários de terra e o seu poder de mando” (RAMAL, 2011, p. 3). Segundo Ramal, essa [...] política adotada pelos grandes latifundiários e co- ronéis que sobrepunham o seu poder de mando diante de seus rivais e seus dependentes. Atitudes apoiadas pelos governos estaduais que garantiam o poder do co- ronel, cedendo-lhes o controle sobre vários cargos pú- blicos (RAMAL, 2011, p. 2). Num desequilíbrio hegemônico da elite, após 40 anos de reveza- mento de poder entre mineiros e paulistas, Getúlio Vargas chega ao poder com o governo provisório (1930-1934), cenário da promulgação da Constituição de 1934. Nagle (1997) afirma quea partir de 1915 é que iniciam discussões por um amplo desenvolvimento do sistema escolar e com essa ideia o estímulo para fazer “incorporar ao estado liberal uma orientação intervencionista” (NAGLE, 1997, p. 262). O autor ressalta que esse período é configurado como o momento do “entusiasmo pela educa- ção”, em que há um movimento envolvido pela energia tensionada no fim do império, tendo em vista a insatisfação com a República que Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 21 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 os republicanos acabavam de vislumbrar. Segundo Nagle, “trata-se de um movimento de “republicantização da República” pela difusão do processo educacional – movimento tipicamente estadual, de matriz nacionalista e que principalmente voltado para a escola primária, a escola popular” (NAGLE, 1997, p. 262). Criam-se ligas pelo nacionalismo que, segundo o autor, desenca- deiam-se com Octavio Bilac com a chamada “Liga da Defesa Nacional (1918)” (NAGLE, 1997, p. 262). Para o autor, a intenção é “clamar contra a gravidade da nossa situação moral” (NAGLE, 1997, p. 262). Para isso, é necessário que o serviço militar esteja preparado para o perigo externo e que haja instrução para que internamente firme-se o patriotismo. Outra expressão em forma de liga é a “liga nacio- nalista” (NAGLE, 1997, p. 262), que imprime persuadir orientações cívico-patrióticas. O autor aponta “a atuação do grupo agressivo que se formou em torno da revista Brazílea (1917), de onde surgirá a Propaganda Nativista (1919) e a Ação Social Nacionalista (1920), es- forçando-se para repensar o Brazil e repensar o Brazileiro” (NAGLE, 1997, p. 262). Importante fato a destacar é que havia muitas dis- cussões para romper com incorporação das experiências educacio- nais internacionais, o que estava associado a fragilidade da educação primária, tendo em vista diferentes cenários para um mesmo modo de aplicação. Assim, o autor aponta que “há uma preocupação cada vez maior com a promoção da Língua Pátria e com o avivamento e desmistificação da História e da Geografia do Brasil” (NAGLE, 1997, p. 262). Ainda se tratando das ligas pelo nacionalismo, o autor men- ciona a “Liga Nacionalista de São Paulo (1917)”, que “se propõe a combater a abstenção eleitoral bem como todas as fraudes que cor- rompem e viciam o exercício do voto” (NAGLE, 1997, p. 262-263). Além da luta contra o analfabetismo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 22 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 E nesse movimento de firmar o nacionalismo, a educação popular ganha força e visibilidade. Segundo o autor, “este é o caminho pelo qual se ingressa para o campo do entusiasmo pela educação” (NAGLE, 1997, p. 263). Além das ligas, surgiram obras que anunciavam a impor- tância da educação, e o pensamento transformador circundava o ce- nário nacional, o autor traz em síntese elementos de escritos de Mario Pinto Serva sobre a Educação Nacional para concluir que: [...] a ignorância reinante é a causa de todas as crises, a educação do povo é a base da organização social, portanto, o primeiro problema nacional; a difusão da instrução é a chave para a solução de todos os proble- mas sociais, econômicos, políticos e outros. (NAGLE, 1997, p. 263). Nagle (1997) explica que por meio das campanhas nacionalistas houve a preocupação com o acesso à educação pelas classes popula- res. A nacionalização, segundo Nagle, é “um fenômeno presente nas pregações nacionalistas desde 1915, com o chamamento contra a des- nacionalização da infância brasileira” (NAGLE, 1997, p. 272), e que esse acontecimento se vinculava nas discussões em caráter de confe- rências e nos currículos escolares. O sentimento patriótico adentrava os currículos escolares indi- cando a necessidade de se firmar essa ideologia nacionalista, den- tre outras, nas disciplinas de Português (proibindo outra língua), Geografia e a História do Brasil só poderiam ser ensinadas por brasi- leiros nativos. Um movimento expressivo é o Ruralismo Pedagógico que, segundo Souza (2011), “se caracteriza como um movimento de pensadores da Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 23 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 educação voltados a defender uma escola articulada à situação local e com o intuito de fixar o homem no campo” (2011, p. 16). Ramal explica que: No Brasil, o ruralismo pedagógico, através da educação tinha como intuito beneficiar a imensa maioria da po- pulação que vivia no campo e que em 1900 totalizava aproximadamente 90% de toda a população brasileira, que ainda sofria com os altos índices de analfabetismo (RAMAL, 2011, p. 7-8). Souza contribuiu muito para a compreensão dessa corrente, e es- creve que Ruralismo Pedagógico [...] é uma corrente de pensamento na esfera educa- cional que se dedica a pensar a educação do homem do campo, com a intenção de contribuir para sua fixação no campo e para superar o atraso do país, que, os edu- cadores entendiam à época, seria oriundo do analfabe- tismo e baixa escolaridade da população rural (SOUZA, 2011, p. 18). Segundo Souza (2011), a educação Rural como uma concepção de sociedade que idealiza a fixação do homem no campo, uma educação construída sem os sujeitos que fazem parte do processo, a utilização de materiais didáticos distantes do contexto vivido e uma adaptação deturpada da educação urbana negando a cultura camponesa. Nesse sentido, a educação rural tinha como determinante atender superficialmente uma demanda contra o analfabetismo, de impulsio- nar uma política de nacionalismo e de fixar o homem no campo ten- do em vista os processos migratórios para o contexto urbano, face a industrialização. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 24 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 Extra Recomendamos a leitura do artigo “O ruralismo pedagógico no Brasil: revisitando a história da educação rural”, de Camila Timpani Ramal. Disponível em: <www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/ jornada/jornada10/_files/e2qdukOb.pdf>. Acesso em: 27 out. 2015. Este artigo faz uma análise histórica do Ruralismo Pedagógico até os dias atuais, e é importante para aprofundar as reflexões realizadas nessa parte da aula. Atividade Tendo em vista a discussão realizada nessa parte, quais pressupos- tos sustentam a idealização da Educação Rural? Referências MACHADO; Maria Cristina. O Decreto de Leôncio de Carvalho e os pareceres de Rui Barbosa em Debate: A Criação da escola para o povo no Brasil no século XIX. In: DIAZ, H. (Org.) Formación de Élites y Educacion Superior en Iberoamerica (SS XVI). Salamanca Espanha: Ed. Hergar Ediciones Antena. 2012 p. 79-90. NAGLE, Jorge. Educação na Primeira República. In: FAUSTO, B. (DIR), PINHEIRO, P. S. et al. O Brasil Republicano (1889-1930). 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1997. p. 261-291. RAMAL, Camila Timpani. O Ruralismo Pedagógico no Brasil: revisitando a história da educação rural. Saviani, Demerval [et al.]. Jornada HISTEDBR, Campinas, v. 2, n. 2, jul. 2011. SOUZA, Maria Antônia. Licenciatura em Pedagogia: fundamentos teóricos metodológicos da educação do campo. Ponta Grossa: UEPG, 2011. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 25 REFLETINDOSOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 2 Resolução da atividade O aluno deverá evidenciar que a educação rural tinha como de- terminante atender superficialmente uma demanda contra o analfa- betismo, impulsionar uma política de nacionalismo e fixar o homem no campo tendo em vista os processos migratórios para o contexto urbano, visando a industrialização. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 26 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 EDUCAÇÃO DO CAMPO A concepção de educação bancária, termo definido por Paulo Freire (1987), trazido no livro Pedagogia do Oprimido, encontra-se presente em vários contextos educacionais, inclusive na educação ru- ral. É uma concepção de ensino concebida e sustentada pela classe dominante e pelos meios de produção capitalistas que, certamente, têm grandes interesses em uma sociedade cada vez menos politizada e, consequentemente, que exija menos os seus direitos, para tornar-se massa de manobra. Por discordar dessa forma de ensino “bancário” voltado aos povos do campo, é que a sociedade civil organizada se mobilizou para exigir a qualidade nas escolas rurais. Essa reivindicação tem cunho na luta dos movimentos sociais, resultando em projetos e políticas públicas que deram visibilidade para os povos do campo, tendo como pres- suposto o acesso a direitos que foram negados na história brasileira. Caldart explica que “a Educação do Campo talvez possa ser considera- da uma das realizações práticas da pedagogia do oprimido, à medida que afirma os pobres do campo como sujeitos legítimos de um projeto emancipatório e, por isso mesmo, educativo” (CALDART, 2004, p. 14). Como características da concepção de educação e de projeto so- cial do campo, trazemos os escritos de Souza: Dos Fundamentos 1. Vincula-se a uma concepção socio- cultural e problematizadora do mundo e da educação. Coloca em evidência a disputa entre dois projetos para o Brasil. O projeto dos povos do campo e o projeto do agronegócio em grande escala. 2. Tem o homem e a mu- lher como sujeitos da história e da escola. 3. Ideologia Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 27 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 da sustentabilidade socioambiental e da transformação do modo de produção capitalista. 4. Movimentos sociais indagam a realidade das escolas rurais. 5. Movimentos sociais indagam a gestão e o processo pedagógico. 6. Constituição de uma esfera pública (governos e socie- dade civil) para definição de políticas públicas de edu- cação do campo. 7. Articulada a um projeto de campo e um projeto de país. 8. Valorização do trabalho, cul- tura, educação e identidade. 9. Produção coletiva do conhecimento. 10. Preocupação com a formação huma- na. Educação do campo não se resume à educação es- colar. Da construção histórica: 1. Papel do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, 1980. 2. ENERA – Encontro Nacional de Educação na Reforma Agrária. 3. I Conferência Nacional: Por uma Educação Básica do Campo 4. PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária. 5. Movimento Nacional da Educação do Campo. 6. Práticas Educativas em parcerias: edu- cação básica, ensino médio, educação superior, pós- -graduação lato sensu e stricto sensu. 7. Licenciaturas em Educação do Campo. 8. Cursos de Agroecologia. 9. Produção de material bibliográfico. 10. Construção das diretrizes nacionais (2002). 11.Construção das dire- trizes complementares (2008) 12. Pacto da Educação do Campo (2010). 13. Nos estados: comitês, fóruns, diretrizes, resoluções, materiais didático pedagógi- cos. Políticas públicas: Centralidade na construção de uma esfera pública. Demandas vêm dos movimentos sociais. Direção da pauta é dos trabalhadores organi- zados. Práticas pedagógicas: 1. Planejamento: preo- cupação com a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico e do planejamento do ensino. 2. Formação Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 28 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 continuada de professores. 3. Conteúdos: livros didáti- cos, demais materiais presentes na escola. Ainda é um desafio, pois se busca um material didático-pedagógico que valorize o trabalho, a cultura, a identidade e a organização dos povos do campo 4. Relação professor- -aluno: pretende-se dialógica, mas há um longo cami- nho a ser percorrido, pois a formação dos professores ainda é bastante tradicional e com pouca atenção à realidade rural do país. 5. Avaliação: pretende-se diag- nóstica, crítica e autoavaliação. Criam se ciclos de for- mação. Busca-se a superação da seriação e da forma- ção disciplinar. 6. Busca-se a efetivação de concursos e superação da rotatividade de professores. (SOUZA, 2011, p. 90-92). A concepção de educação do campo é o resultado do trabalho co- letivo, dos movimentos sociais, é um projeto popular e revolucionário de sociedade. O empenho dos movimentos sociais e a pressão contra a hegemonia possibilitou conquistas importantes para a sua valoriza- ção, entretanto, esse projeto de educação e, consequentemente, de sociedade ainda carece da visibilidade para sua verdadeira efetivação. Para iniciar a discussão sobre as características da educação do campo é preciso entender que a cultura é um determinante pecu- liar desses povos, que se diferenciam enquanto suas relações sociais para sobrevivência do trabalhador no campo. Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo do Estado do Paraná (2006): O que caracteriza os povos do campo é o jeito pecu- liar de se relacionarem com a natureza, o trabalho na terra, organização das atividades produtivas, mediante mão de obra dos membros da família, cultura, e valores Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 29 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 que enfatizam as relações familiares e de vizinhança, que valorizam as festas comunitárias e de celebração da colheita e de vizinhança, o vínculo com uma rotina de trabalho que nem sempre segue o relógio mecânico. (PARANÁ, 2006, p. 24). Segundo as Diretrizes Curriculares para a Educação do Campo, as comunidades do campo podem se dividir em categorias organizadas por sua identidade enquanto vínculo do trabalho com a terra: [...] Posseiros, boias-frias, ribeirinhos, ilhéus, atingidos por barragens, assentados, acampados, arrendatários, pequenos proprietários ou colonos ou sitiantes, depen- dendo da região do Brasil em que estejam – caboclos dos faxinais, comunidades negras rurais, quilombolas e também, as etnias indígenas. (PARANÁ, 2006, p. 24-25). Conforme os escritos nas diretrizes curriculares da educação do campo, [...] a identidade política coletiva é gerada a partir da organização das categorias em movimentos sociais, a exemplo do MST, das etnias indígenas, dos quilombolas, dos atingidos por barragens e daqueles articulados ao sindicalismo rural combativo. (PARANÁ, 2006, p. 25). Trabalhar o conceito da Educação do Campo é considerar conhe- cimento e diversidade como possibilidade de politização, formação humana e principalmente de valorização e, ao mesmo tempo, de con- testação do lugar em que vivem como determinante para a superação das desigualdades. Com a formação voltada para a politização, o sujeito constrói possibilidades de se posicionar frente a condições concretas e exigir Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.brFUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 30 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 seus direitos. A Educação do Campo é entendida não apenas dentro da esfera escolar, mas a partir dela, no sentido que permite condições efetivas de transformar sua realidade. O ponto de partida para refletir sobre como a Educação do Campo se configura é compreender que essa concepção de educação cons- truída e exigida pelos trabalhadores foi conquistada por meio da luta dos coletivos do campo para questionar as desigualdades fortemente marcantes e ao mesmo tempo invisíveis. Nesse sentido, a educação se coloca como um direito e como possibilidade de transformações que foram (e continuam sendo) exigidas pelos próprios sujeitos. A Educação do Campo é o resultado de mobilização e contestação dos próprios trabalhadores do campo, um projeto de formação huma- na de visibilidade àqueles que vinham lutando, dentro do próprio es- paço de sobrevivência, por dignidade. Essa perspectiva de construção histórica pode e deve ser inclusa no currículo escolar do campo, pois apresenta o resultado das lutas contra hegemonias da sociedade civil organizada para efetivação do direito à educação de qualidade. A Educação do Campo é uma concepção de homem e sociedade incorporada a partir da organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ou seja, foi construída pelos próprios sujeitos do campo. Nessa perspectiva, Caldart escreve que: A Educação do Campo faz o diálogo com a teoria peda- gógica desde a realidade particular dos camponeses, mas preocupada com a educação do conjunto da po- pulação trabalhadora do campo e, mais amplamente, com a formação humana. E, sobretudo, trata de cons- truir uma educação do povo do campo e não apenas com ele, nem muito menos para ele. (CALDART, 2004, p. 12). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 31 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 Existem inúmeras desigualdades presentes no campo, há lutas de classes e também contradições visíveis e perceptíveis para aqueles que lá buscam a sobrevivência, conforme podemos observar nos escri- tos de Caldart: A Educação do Campo se constitui a partir de uma contradição que é a própria contradição de classe no campo: existe uma incompatibilidade de origem en- tre a agricultura capitalista e a Educação do Campo, exatamente porque a primeira sobrevive da exclusão e morte dos camponeses, que são os sujeitos principais da segunda. (CALDART, 2004, p. 13). Essas contradições precisam estar presentes nos encaminhamen- tos didáticos dos professores em confronto com os conteúdos. Os alu- nos percebem as desigualdades que vivem, mas não tem argumentos críticos para contestar tal realidade, pois essas precariedades podem parecer “normais”. Se há visibilidade na concepção de educação do campo, nega-se o assistencialismo ou a troca de favores, pois os povos do campo são sujeitos de direitos e o Estado tem o dever de garantir a efetivação destes com qualidade. Nesse sentido, a Educação do Campo contesta a realidade precária e não incorpora uma posição neutra frente às de- sigualdades. Não aceita adaptações, mas caracteriza sua identidade, pois tem condições para isto. Para compreender a realidade e organizar o trabalho a partir do lugar que vivem, a Educação do Campo defende que os professores se- jam moradores da própria comunidade escolar, pois vivenciam os mes- mos paradigmas que os alunos e podem configurar a escola num am- biente de discussões e organizações para transformar essa realidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 32 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 O professor é o mediador e efetiva a concepção de educação do cam- po, compreendendo os processos contraditórios substanciais da comu- nidade e tendo um papel fundamental como o protagonista da educa- ção. Não é nele que a concepção de educação do campo responsabiliza os resultados, mas é com ele que se organiza, para a transformação social. Para que a escola traduza a realidade vivida pelos alunos e a confronte com os conhecimentos historicamente produzidos é neces- sário que o professor compreenda essa realidade, na medida em que essa visibilidade se materialize na formação humana. O professor deve ter uma formação política e revolucionária, que acredite na concepção de educação do campo e que contribua para a libertação dos sujeitos oprimidos por meio da emancipação social. É ele quem organiza o planejamento, o currículo e a proposta curricular, e escolhe que sujeito quer formar. A Educação do Campo defende um trabalho pedagógico rico em discussões e que atenda a diversidade na qual está inserida e, prin- cipalmente, que inclua a própria comunidade escolar na construção desse trabalho. O planejamento coerente incorpora a valorização da cultura desses povos para que não se construa uma visão deturpada de que o campo é um lugar de atraso em comparação ao urbano. Enfim, o planejamento permite inquietações e deve responder as contradições capitalistas no sentido que dê conta principalmente de instigar os alu- nos a entender a articulação da teoria e da prática. Todas essas propostas defendidas pela concepção de uma edu- cação humanizadora, coerente com a efetivação da dignidade, que não atenda às demandas dos processos de produção capitalista, são pautados em uma gestão democrática que organize todos esses pro- cessos educativos numa perspectiva voltada ao trabalho coletivo, que Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 33 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 faça o chamamento da comunidade escolar, dos professores, alunos, pais, secretaria municipal e movimentos sociais. A escola aqui não é entendida como mais um espaço do campo, e sim como totalidade que interfere e transforma a realidade. A escola é o lugar de todos e, logo, direito de todos. Extra Para compreender alguns desafios da Educação do Campo, assista ao vídeo “Educação no campo é direito e não esmola - Oficina de au- diovisual do Biizu Assentamento Palmares II”. Este vídeo evidencia os caminhos percorridos por um aluno do Assentamento Palmares II para chegar à escola, e que é na escola que esse educando vê possibilidades de transformações sociais. Os desafios da Educação do Campo são inúmeros, porém o acesso e a permanência na escola se colocam como prioridade. O vídeo está disponível em: <www.youtube.com/watch?v=Y7-ksByde5w>. Acesso em: 27 out. 2015. Atividade Tomando como base os estudos realizados nessa parte e a citação de Caldart: [...] a Educação do Campo talvez possa ser considera- da uma das realizações práticas da pedagogia do opri- mido, à medida que afirma os pobres do campo como sujeitos legítimos de um projeto emancipatório e, por isso mesmo, educativo. (CALDART, 2004, p. 14). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 34 REFLETINDO SOBRE A LUTA DOS POVOS DO CAMPO Pa rt e 3 Escolha a alternativa correta: a) A concepção de educação do campo é o resultado do traba- lho coletivo, dos movimentos sociais, é um projeto popular e revolucionário de sociedade. b) O empenho dos movimentos sociais e a pressão contra hege- mônica não possibilitou conquistas para o campo brasileiro. c) A educação do campo é a mesma coisa que educação rural, pois ambas as concepções buscam a valorização do camponês. Referências CALDART, Roseli Salete. Elementos para construção de um projeto políticoe pedagógico da educação do campo. In: MOLINA, Mônica Castagna; JESUS, Sonia Meire Santos Azevedo de (Org.). Por uma educação do campo: contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Brasília, Articulação nacional por uma educação do campo, 2004. p. 10-31. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 32. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação do campo. Curitiba, 2006. SOUZA, Maria Antônia. Licenciatura em Pedagogia: fundamentos teóricos metodológicos da educação do campo. Ponta Grossa: UEPG 2011. Resolução da atividade A concepção de educação do campo é o resultado do trabalho co- letivo, dos movimentos sociais, é um projeto popular e revolucionário de sociedade. O empenho dos movimentos sociais e a pressão contra a hegemonia possibilitou conquistas importantes para a sua valoriza- ção, entretanto, esse projeto de educação e consequentemente de so- ciedade ainda carece da visibilidade para sua verdadeira efetivação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Compreender Educação do Campo com base na perspectiva dos movimentos sociais populares. Objetivo: CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Aula 2 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 37 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 EDUCAÇÃO DO CAMPO: O PROTAGONISMO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES A Educação do Campo traz no cerne da sua concepção o protago- nismo dos movimentos sociais ligados à luta pela terra. Seu princípio imprime o resultado da organização de coletivos, com pautas de en- frentamento, com estratégias para a superação de diversas fragilida- des, juntamente com a concepção de sociedade que representa os trabalhadores e trabalhadoras do campo. Assim sendo, tem-se a pre- tensão de apresentar os movimentos mais atuantes, sua organização, e as propostas em relação ao campo. Numa primeira aproximação, cabe retomar o germe da Educação do Campo, tendo em vista que esta [...] nasceu como mobilização/pressão de movimentos sociais por uma política educacional para comunidades camponesas, combinando as lutas dos sem-terra pela implantação de escolas públicas nas áreas de reforma agrária com as lutas de resistência de inúmeras orga- nizações e comunidades camponesas para não perder suas escolas, suas experiências de educação, suas co- munidades, seu território, sua identidade. (CALDART, 2008, p. 45-46). Hage anuncia que esses movimentos, representantes dos traba- lhadores e trabalhadoras do campo, são constituídos [...] por agricultores familiares, assentados, acampa- dos e trabalhadores assalariados rurais, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, povos da floresta, comunidades tradicionais e quilombolas —, nas últimas Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 38 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 décadas, têm participado ativamente das disputas re- lacionadas à conquista da terra, dos territórios pes- queiros e da floresta, ao fortalecimento da produção de base familiar e à garantia do direito à vida com dig- nidade; constituindo-se enquanto sujeitos coletivos de direito e de produção de novas referências de sociabi- lidade, em que se inclui o direito à educação. (HAGE, 2014, p. 134). Nessa dinâmica, surge a dimensão educativa do campo, com o protagonismo dos “movimentos sociais camponeses” que “vêm for- mulando a reflexão sobre uma ‘Pedagogia do Movimento’, afirmando a luta social e a organização coletiva (constituidoras do movimento social) como matrizes formadoras” (CALDART, 2009, p. 43). Arroyo ex- plica que “os movimentos sociais colocam a luta pela escola no campo dos direitos. Na fronteira de uma pluralidade de direitos: a saúde, a moradia, a terra, o teto, a segurança, a proteção da infância, a cida- de” (ARROYO, 2003, p. 30). Os movimentos sociais populares do campo, segundo Hage, “têm de- senvolvido muitas ações de denúncia e resistência, visando o enfrenta- mento ao avanço do capital financeiro no campo” (HAGE, 2014, p. 141). Sobre a luta pela terra, Souza aponta que é uma das disputas mais expressivas desde a colonização do Brasil e que “intensificaram-se no século XX, a partir das Ligas Camponesas, dos movimentos de boias-frias e da atuação do MST, fundado em 1984”. (SOUZA, 2004, p. 8). A atuação dos movimentos sociais ligados à luta pela terra, “rela- cionavam-se à abolição da escravidão e à conquista da independência política do país” (SOUZA, 2004, p. 8). Souza destaca nesse contexto os movimentos de Canudos, o movimento do contestado, o movimento Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 39 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 de boias-frias, e “outros movimentos envolvendo posseiros e grileiros, tais como o de Porecatu e a revolta dos posseiros no estado do Paraná” (SOUZA, 2004, p. 9). Como pode-se observar, os enfrentamentos permeados no campo referem-se à luta pela terra e pela garantia de direitos no campo, a educação torna-se, então, uma reivindicação determinante para o próprio reconhecimento desses direitos. Nesse sentido, Caldart expli- ca que “para cada movimento social em particular, não há justificativa para ocupar-se da educação, e da educação do conjunto dos traba- lhadores, se não for por objetivos relacionados a lutas mais amplas” (CALDART, 2009, p. 53). Entre os movimentos que se organizam na luta pela terra com os trabalhadores e trabalhadoras do campo, destacaremos os princípios básicos de quatro: 1. Movimento de Mulheres Camponesas (MMC); 2. Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); 3. Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); e 4. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Movimento de Mulheres Camponesas surge no contexto da dé- cada de 1980, momento histórico que representou o embrião dos mo- vimentos sociais do campo. Segundo o MMC, este movimento nasceu com a bandeira do [...] reconhecimento e valorização das trabalhadoras rurais, desencadeamos lutas como: a libertação da mu- lher, sindicalização, documentação, direitos previden- ciários (salário maternidade, aposentadoria), partici- pação política entre outras. (MMC, 2015). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 40 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 Para a constituição deste movimento houve a “contribuição da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do sindicalismo rural combativo e da Pastoral da Juventude” (PALUDO; DARON, 2012, p. 482). A mulher camponesa foi historicamente invisibilizada. Assim, no bojo da luta desse movimento, a mulher [...] é aquela que, de uma ou de outra maneira, pro- duz o alimento e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebra- deira de coco, as extrativistas, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, boias-frias, diaristas, parceiras, sem-terra, acampadas e assentadas, assalariadas rurais e indígenas. A soma e a unificação destas experiências camponesas e a participação política da mulher, legi- tima e confirma no Brasil, o nome de Movimento de Mulheres Camponesas. (MMC, 2015). A missão desse movimento “é a libertação das mulheres trabalha- doras de qualquer tipo de opressão e discriminação”(MMC, 2015). A principal luta “é contra o modelo neoliberal e machista e pela constru- ção do socialismo” (PALUDO; DARON, 2012, p. 482). O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é composto por populações tradicionais, “como ribeirinhos, pescadores, indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais, camponeses, proprietários de ter- ras ou não, e populações urbanas afetadas de alguma forma pela cons- trução de barragens” (ZEN; FERREIRA, 2015, p. 487). É um movimento que reivindica a desapropriação de trabalhadoras e trabalhadores do campo (muitas vezes sem a devida indenização) para a implantação de um novo modelo de energia ligada ao potencial hidrelétrico. Na página desse movimento é possível observar que: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 41 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 Ao mesmo tempo que havia um estudo sobre o poten- cial e como fazer o aproveitamento da energia, não havia uma proposta de indenização adequada das fa- mílias que viviam na beira dos rios. Consequência disso foi a expulsão de milhares de famílias de suas terras e casas, a maioria sem ter para onde ir. Muitas foram para as favelas das cidades, engrossaram as fileiras de sem-terras. (MAB, 2015). Neste sentido, o MAB faz seus enfrentamentos na busca por “di- reitos básicos que evoluiu para o questionamento ao sistema político e econômico como um todo, objetivando transformações profundas, capazes de garantir condições dignas de vida a seus integrantes” (ZEN; FERREIRA, 2012, p. 487). A educação neste movimento é vista como “um processo permanente, contínuo e sistemático capaz de propor- cionar aos povos atingidos o direito à informação, à aprendizagem, à cultura universal, à problematização da realidade e à organização”. (ZEN; FERREIRA, 2012, p. 491). Outro movimento expressivo é o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que surgiu, em 1996, “da pressão da base orga- nizada e da luta dos agricultores para resistir na roça; nasce também para lutar pela mudança da política agrícola, para construir um novo modelo para a agricultura brasileira”. (GÖRGEN, 2012, p. 493). Segundo Görgen, o MPA está organizado em 17 estados do Brasil, e vem se destacando pela construção do Plano Camponês. Este movimento [...] considera que o campesinato tem três missões fundamentais: produzir alimentos saudáveis e diver- sificados para atender às necessidades de sua família Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 42 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 e da comunidade; respeitar a natureza, preservando a biodiversidade e buscando o equilíbrio ambiental; e produzir alimentos para o povo trabalhador. (GÖRGEN, 2012, p. 492). No seio das lutas por reforma agrária está representado, de forma expressiva, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para compreender o papel do MST, fazemos uso dos escritos de Souza, que explica que este [...] constitui-se num coletivo que impulsiona a inser- ção de novos elementos na configuração da cultura po- lítica (organização dos trabalhadores, formação e ne- gociações políticas, estratégias massivas de atuação), suscitando questionamentos sobre as injustiças sociais na sociedade em geral, e especificamente no campo. (SOUZA, 2004, p. 9). Fernandes orienta que esse movimento é organizado por coletivos de [...] camponeses pobres — como parceiros, meeiros, posseiros, minifundiarios e trabalhadores assalariados chamados de sem-terra — e também diversos lutado- res sociais para desenvolver as lutas pela terra, pela Reforma Agrária e por mudanças na agricultura brasi- leira. (FERNANDES, 2012a, p. 496). Esse importante movimento social tem seu marco histórico em 1984, e está presente em 24 estados brasileiros, “no total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais” (MST, 2015). No contexto desse Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 43 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 movimento, pode-se apreender que, “se a terra representa a possi- bilidade de trabalhar, produzir e viver dignamente, a educação é o outro instrumento fundamental para a continuidade da luta” (MST, 2015). Nesse contexto em que estão evidenciados alguns movimentos so- ciais ligados ao campo, torna-se primordial anunciar a Via Campesina, que é uma “articulação mundial de camponeses” (FERNANDES, 2012b, p. 765). Essa organização reúne diferentes categorias de “pequenos e médios agricultores e trabalhadores agrícolas assalariados, indígenas e sem-terra, apresenta-se como um movimento internacional autô- nomo, pluralista, sem vinculação com partidos, Igrejas e governos” (FERNANDES, 2012b, p. 765). Sobre a estrutura organizativa da Via Campesina, destaca-se que “as comissões políticas atuam no desenvolvimento das linhas de atua- ção, elaborando documentos que reúnem as manifestações de mo- vimentos camponeses de diversas partes do planeta” (FERNANDES, 2012b, p. 766). Esta parte da aula apresentou, de modo breve, o protagonismo dos movimentos sociais populares e a sua relação com a educação do campo. Cada movimento social aqui anunciado organiza suas pautas em categorias especificas, mas que, de certo modo, articulam-se à um movimento único e mais amplo, ligado à luta pela terra. Conclui- -se que os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo só são reivindicados por meio da luta dos movimentos sociais e que estão em permanente enfrentamento para que a reforma agrária popular se materialize. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 44 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 Extra Para aprofundar a discussão sobre a Educação do Campo e o prota- gonismo dos movimentos sociais populares, assista ao vídeo: “Educação no Campo e Movimentos Sociais” que o professor Miguel Gonzalez Arroyo (importante teórico e militante da Educação do Campo) rea- lizou em 2012, e que contribuirá para a reflexão desta parte. Faça questionamentos a partir dessa problematização e busque, por meio dos referenciais, aproximar-se desta discussão para compreender o sentido dos movimentos sociais para a construção da concepção de educação do campo. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=8Yt-rAOobzw>. Acesso em: 3 nov. 2015. Bom estudo! Atividades Realize uma pesquisa em sites de movimentos sociais ligados ao campo (nacionais ou internacionais). Escolha um movimento social e organize um texto identificando quais são as principais reivindicações, os principais desafios desses movimentos e os principais organismos antagônicos ao movimento da Educação do Campo, de acordo com o movimento pesquisado. Seguem alguns endereços para consulta, mas podem ser pesquisa- dos outros movimentos sociais ligados ao campo: • <www.mabnacional.org.br/>; • <www.mmcbrasil.com.br/>; • <www.mst.org.br/>; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 45 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 • <http://viacampesina.org/en/>; • <www.mpabrasil.org.br/>. Acesso em: 3 nov. 2015. Referências ARROYO, Miguel Gonzalez. Pedagogias em movimento: o que temos a aprender dos Movimentos Sociais? Revista Currículo sem Fronteiras, v. 3, n.1, pp. 28-49, Jan/Jun 2003.CALDART, Roseli Salete. Sobre educação do campo. In: SANTOS, Clarice Aparecida dos (Org.). Educação do campo: campo — políticas públicas — educação. Brasília: INCRA; MDA, 2008. p. 44-55. (NEAD Especial: 10). ______. Educação do campo: notas para uma análise de percurso. Revista Trabalho Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1. 2009, p. 35-64. FERNADES, Bernardo Mançano. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). In: CALDART. Roseli Salete; et al, (Org.) Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012ª, p. 496-499. ______. Via Campesina. In: CALDART. Roseli Salete; et al, (Org.) Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012b, p. 765-767. GÖRGEN, Frei Sergio Antonio. Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). In: CALDART. Roseli Salete; et al, (Org.) Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 492-495. HAGE, Salomão Mufarrej. Movimentos sociais do campo e educação: referências para análise de políticas públicas de educação superior. Revista Eletrônica de Educação, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 133-150. MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens. Final da década de 70: os primeiros passos. Disponível em: <www.mabnacional.org.br/content/1-final-da-decada-70-os- primeiros-passos>. Acesso em: 1.º nov. 2015. MMC. Movimento de Mulheres Camponesas. História. Disponível em: <www. mmcbrasil.com.br/site>. Acesso em: 1.º nov. 2015. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 46 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 1 MST. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Quem somos. Disponível em: <www.mst.org.br> acesso em: 1.º nov. 2015. PALUDO, Conceição; DARON, Vanderleia Laodete Pulga. Movimento de Mulheres Camponesas (MMC BRASIL). In: CALDART. Roseli Salete; et al, (Org.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 481-486. SOUZA, Maria Antônia de. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: participação e possibilidades no contexto das práticas democráticas. In: VIII Congresso Luso- Afro-Brasileiro de Ciências Sociais: a questão social no novo milênio. Coimbra: CES, 2004. v. 1. p. 1-16. ZEN, Eduardo Luiz; FERREIRA, Ana Rita de Lima. Movimento dos Atingidos Por Barragens. In: CALDART. Roseli Salete; et al, (Org.) Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 487-491. Resolução da atividade Espera-se que o estudante tenha organizado as ideias em sintonia com o desenvolvimento do texto, apontando referências que apro- fundaram os estudos sobre as principais reivindicações, os principais desafios desses movimentos e os principais organismos contrários ao Movimento da Educação do Campo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 47 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 2 O MOVIMENTO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO O Movimento da Educação do Campo constitui-se num coletivo que se contrapõe à concepção de Educação Rural. Tendo esse pressuposto, apoiamos nossa discussão nos escritos de Munarim, que destaca que há “sinais de um movimento nascente, de conteúdo político e pedagógico, que vem sendo construído por determinados sujeitos coletivos ligados di- retamente às questões agrárias” (MUNARIM, 2008b, p. 58). A Educação do Campo é o resultado da luta de trabalhadores e trabalhadoras do campo, que ao reconhecerem seus direitos com- preendem a relevância de transcendê-la para além da luta pela terra, pois o conhecimento é a principal ferramenta de transformações es- truturais da sociedade. O Movimento da Educação do Campo surge na década de 1990, Munarim explica que “nesse contexto, o “I Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária” (I ENERA), realizado em julho de 1997, na Universidade de Brasília pode ser eleito como fato que melhor simboliza esse acontecimento histórico” (MUNARIM, 2008b, p. 59). O autor acrescenta que: Antes de tudo, é bom afirmar que a luta pela Reforma Agrária constitui a materialidade histórica maior de seu berço nascedouro, uma espécie de pano de fundo, de maternidade. A experiência acumulada pelo Movimento Sem Terra (MST) com as escolas de assentamentos e dos acampamentos, bem como a própria existência do MST como movimento pela terra e por direitos corre- latos, pode ser entendida como um processo histórico mais amplo de onde deriva o nascente Movimento de Educação do Campo. (MUNARIM, 2008b, p. 59). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 48 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 2 Nesse sentido, o MST acumula experiências em sua trajetória de enfrentamentos, que resultaram no que vem a ser chamado de Movimento da Educação do Campo. Esse movimento foi organizado por trabalhadores e trabalhadoras do campo que, ao se organizarem coletivamente para garantir sua existência, foram construindo expe- riências. Essas experiências são materializadas na pedagogia do movi- mento, que inspira e efetiva a concepção da educação do campo no sentido de orientar práticas que proponham novas formas organização, que considerem a especificidade do campo e dos seus sujeitos. Há uma nova forma de entender o campo, a educação, a terra e a escola. No conjunto desse movimento, há o protagonismo do MST, além da representação de movimentos em defesa da educação do campo, tais como: [...] o Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), sindi- catos de trabalhadores rurais e federações estaduais desses sindicados vinculados à Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG), o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – vinculado à CONTAG e que têm sustentado, p.e., a campanha chamada “Marcha das Margaridas” –, a Rede de Educação do Semi-Árido Brasileiro (RESAB) e, por fim, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), além de uma série de organiza- ções de âmbito local. (MUNARIM, 2008a, p. 5). Souza (2009) explica que, além desses movimentos sociais, pode- -se destacar a participação de universidades e de pesquisadores inte- ressados em apoiar o Movimento da Educação do Campo, colaborando Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 49 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 2 com a “execução de projetos e de parceiras, que geralmente são efe- tivadas entre os sujeitos organizados da sociedade civil, as instituições educacionais e os governos” (SOUZA, 2009, p. 42). Como resultados da organização do Movimento Nacional da Educação do Campo, podemos destacar os encontros nacionais que ob- jetivam a formação, a análise e a proposição de estratégias para uma mudança profícua no campo, tais como: I ENERA (1997), I Conferência Nacional por uma Educação do Campo (1998), II Conferência Nacional por uma Educação do Campo (2004), entre outros encontros e articu- lações organizados no âmbito local e regional, que muito têm contri- buído para o fortalecimento desse movimento. A primeira conquista dos movimentos sociais do campo foi o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), cria- do em 1998. Logo em seguida, em 2002, foi aprovada a primeira po- lítica pública da educação do campo:as Diretrizes Operacionais da Educação do Campo. Em 2004, foi “instituída no segundo ano do Governo Lula, na es- trutura do MEC, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade — SECAD para, entre outras atribuições, cuidar tam- bém da Educação do Campo” (MUNARIM, 2008a, p. 12). Nela havia uma coordenação específica para a Educação do Campo, intitulada Coordenação Geral da Educação do Campo. Em 2011, o SECAD pas- sa a ser SECADI — Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, acrescentando o eixo “inclusão” criada pelo Decreto Presidencial 7.480, de 16 de maio de 2011, e revogado pelo Decreto 7.690, de 2 de março de 2012, que dispõe da estrutura regi- mental do Ministério da Educação. Nessa secretaria, há uma diretoria Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 50 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 2 que trata da Educação do Campo, Educação Indígena e para as Relações Étnico-Raciais, e uma coordenação específica para a Educação do Campo, com a Coordenação Geral de Políticas de Educação do Campo. Em 2008 foram aprovadas as diretrizes complementares para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Já no ano de 2010, foi apro- vado o Decreto Presidencial 7.352, de 4 de novembro de 2010, que estabelece a política da Educação do Campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). No ano de 2012 foi lançado o Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO). Este programa tem como objetivo a oferta de apoio técnico e financeiro aos estados e municípios para implementar uma política nacional de educação do campo. Estas e muitas conquistas indicam que há um forte potencial nos enfrentamentos traçados pelo Movimento Nacional da Educação do Campo. Os resultados são positivos, pois orientam a conquista de uma política pública para os povos do campo e a visibilidade que esses su- jeitos estão promovendo frente às fragilidades com que conviveram historicamente. E ao mesmo tempo são contraditórios, pois o que se coloca em pauta é a necessidade da efetivação dessas políticas no âm- bito nacional, local e regional, tendo como princípio a materialidade da Educação do Campo. Extra Leia o texto “O movimento da Educação do Campo, as tensões na luta por um direito social e os sinais de construção de políticas Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 51 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 2 públicas”, escrito pela autora Maria Antônia de Souza. A autora provo- ca uma problematização sobre a Educação do Campo e discute sobre os principais sinais da construção de politicas públicas que vem sendo possibilitada pela participação efetiva dos trabalhadores do campo. Este texto complementa os estudos realizados nesta parte. O artigo está disponível no link: <www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/eccos/ eccos_v11n1/eccosv11n1_2b1532.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2015. Tenha uma excelente leitura, e que este texto suscite boas reflexões! Atividade Tendo como pressuposto o conteúdo dessa parte, faça um peque- no texto (10 a 15 linhas) que provoque uma problematização sobre o papel do conhecimento na trajetória do Movimento da Educação do Campo no Brasil. Referências MUNARIM, Antônio. Movimento Nacional de Educação do Campo: uma trajetória em construção. 2008a. Disponível em <http://31reuniao.anped.org.br/1trabalho/GT03- 4244--Int.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2015. ______. Trajetória do Movimento Nacional de Educação do Campo no Brasil Educação. Revista do Centro de Educação, v. 33, n. 1, 2008b, p. 57-72. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/revce/2008/01/a4.htm>. Acesso em: 3 nov. 2015. SOUZA, Maria Antônia de. O Movimento da Educação do campo, as tensões na luta por um direito social e os sinais de construção de políticas públicas. Rev. científica EcoS, São Paulo, v. 11, n. I, p. 39-56, jan/jun. 2009. Disponível em: <www.uninove. br/PDFs/Publicacoes/eccos/eccos_v11n1/eccosv11n1_2b1532.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2015. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 52 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 2 Resolução da atividade Espera-se que o estudante indique que o conhecimento é a princi- pal ferramenta para o reconhecimento dos direitos e de possibilidades de enfrentamentos. Além disso, o Movimento Nacional de Educação do Campo obteve conquistas por meio da apropriação do conhecimento, sendo assim, imprime a emancipação dos sujeitos do campo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 53 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 3 A ESCOLA E A EDUCAÇÃO DO CAMPO A escola é o principal espaço para a socialização do saber, as- sim, torna-se privilegiado e hegemônico. Caldart expressa que a escola sempre foi um espaço conservador, e “resistente à ideia de movimento e a um vínculo direto com as lutas sociais” (CALDART, 2003, p. 71). Essa instituição, de certo modo, sempre foi ocupada pela elite e sem- pre esteve à serviço dela, ficando omissa quando se trata da classe trabalhadora, principalmente do campo. Em resistência à omissão do acesso e permanência à escola públi- ca localizada no campo, é que os movimentos sociais do campo exigem a escola com infraestrutura de qualidade e garantia do acesso, além de uma concepção de mundo que esteja “em sintonia com os saberes, os valores, a cultura e a formação que acontecem fora da escola” (ARROYO, 2011, p. 78). O que se espera é “uma escola pública que dê visibilidade aos sujeitos que nela estão” (SOUZA, 2011, p. 28). A escola é mais um espaço que traduz a realidade e que é cons- truída pelos sujeitos, assim concorda-se com Souza, que escreveu: A escola do campo necessita vincular-se como outros espaços educativos, a fim de formar lutadores sociais, militantes de causas coletivas e cultivadores de utopias que enxerguem para além dos problemas individuais e saibam criar condições/possibilidades de mudanças. (SOUZA et al, 2008, p. 52). Nesse sentido, Souza orienta que “o que se busca é a transfor- mação da escola rural (voltada para os povos do campo) em escola do campo (pensada/organizada/vivida pelos próprios povos do campo)” Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 54 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM PROJETO POPULAR Pa rt e 3 (SOUZA, 2011, p. 28). Para a autora, o que ocorre é uma transforma- ção de concepção, e não apenas “uma transição da escola rural para a escola do campo” (SOUZA, 2011, p. 28). No resultado da Carta Compromisso, referente ao Encontro Estadual de Educação do Campo da Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, realizado em Candói (PR), em 2013, organizado pelos sujeitos do campo, pode-se observar o que imprime o papel da escola nas comunidades rurais. Destaca-se que se deve “colocar a es- cola do campo a serviço da transformação social, assumindo o desafio pedagógico de construção de propostas que incluam e promovam os saberes locais, a identidade, a memória, a história da comunidade” (CANDÓI, 2013). Além disso, as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, de 2002, em seu artigo 2.º, parágrafo único, ex- pressa que: A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros,
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