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Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre ESOFAGITES, ACALÁSIA E DRGE (doença do refluxo gastroesofágico) → TGI (trato gastrointestinal): • O trato GI é o único que ABRIGA um sistema nervoso intrínseco composto de plexos mioentérico e submucoso. • O sistema nervoso entérico (SNE) é capaz de funcionar de forma independente, usando sinais de mecanorreceptores, quimiorreceptores e osmorreceptores localizados no epitélio da luz do trato. • O SNE recebe sinais do sistema nervoso central e autônomo (SNC e SNA) e hormônios, que ajudam no ajuste fino e regulam o SNE. → Histologia esofágica: • 4 camadas: 1. Mucosa: epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado, que se apoia em lâmina própria formada por tecido conjuntivo frouxo. - Muscular da mucosa (delicada faixa de tecido muscular liso entremeado por fibras elásticas localizado na base da mucosa). 2. Submucosa: tecido conjuntivo rico em fibras (colágenas e elásticas) e vasos (plexo venoso submucoso) e também plexo nervoso submucoso (de Meissner). 3. Muscular: responsável pela função motora; dividida em duas camadas de feixes musculares, camada muscular interna (circular) e camada muscular externa (longitudinal); plexo nervoso mioentérico (de Auerbach). 4. Adventícia: tecido conjuntivo rico em nervos e vasos sanguíneos (artérias e plexo venoso adventicial). # Plexo submucoso (de Meissner): localizado entre a musculatura circular e a submucosa. Função é de regular as secreções locais. # Plexo mioentérico (de Auerbach): função de contração e o relaxamento da musculatura. Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre → 3 estágios da deglutição: 1. Oral ❖ Voluntário. ❖ Região laríngea estimulam receptores de toque que iniciam deglutição. 2. Faríngeo ❖ Bolo alimentar movido - traseira laringe. ❖ Laringe move para epiglote. ❖ Esfíncter esofágico relaxa. ❖ Músculos laríngeos contraem - impulsionando o bolo alimentar. 3. Esofágico ❖ Onda peristáltica primária → centro de deglutição na medula → nervos vagais ativam plexo mioentérico → onda lentas de polarização. ❖ Alternância de contração e relaxamento. ❖ Onda secundária ativada → se bolo alimentar for seco ou não ele se move rapidamente → ação mecanorreceptores. ❖ Bolo alimentar próximo esfíncter fibras vagais atuam relaxando o esfíncter. → Quadro clínico: - Pirose = queimação - Odinofagia = dor ao deglutir - Disfagia = dificuldade em deglutir - Hemorragia = escoamento de sangue fora dos sangues sanguíneos - Halitose - Salivação - Dor retroesternal, epigástrica - Eructações - Indigestão - Náuseas - Hematêmese = vômito com sangue Caso 1 Mulher 40 anos natural de Virgem da Lapa-MG, há dois anos iniciou quadro de dor torácica, tosse, dificuldade de eructar, disfagia inicialmente após ingestão de alimentos sólidos e nos últimos meses também de líquidos. Relata moderada perda de peso (4 kg) desde o início dos sintomas e dois episódios de pneumonia no último ano. Foi diagnosticada recentemente de Doença de Chagas. Foi realizado raio x. a) Descreva qual a etiologia. - Trypanosoma cruzi. b) Descreva o mecanismo fisiopatológico. - O agente etiológico tem tropismo pelo plexo mioentérico do esôfago levando a destruição dos mesmos levando falha no peristaltismo e dilatação esofágica - acalásia secundária. ACALÁSIA • Epidemiologia: 20 à 40 anos de idade – 1 a 2 em 200.000. • Definição: é um distúrbio de motilidade onde temos o tônus aumentado do esfíncter esofágico inferior (EEI) - dificuldade de passagem do bolo alimentar, fica muito estreito. Pode ser primário ou secundário. • Sintomas: Disfagia, dificuldade em eructar, dor torácica. • Tríade de sintomas: - Relaxamento incompleto do EEI. - Aperistalse: não ocorre o peristaltismo. - Tônus aumentado. • Porque aumenta o tônus? - Porque tem a destruição da inervação, fica mais contraído, perde a capacidade, ficando cada vez mais com o tônus aumentado. → Acalásia PRIMÁRIA ❖ Origem idiopática. ❖ Degeneração neuronal do plexo mioentérico (células ganglionares). OBS: idiopática - que ocorre de modo espontâneo, naturalmente ou sem razão aparente; que não se forma a partir de outra doença. → Acalásia SECUNDÁRIA ❖ DOENÇA CHAGAS – Trypanosoma cruzi. ❖ Destruição da inervação do plexo mioentérico. ❖ Falha no peristaltismo. ❖ Dilatação esofágica. ❖ Outras: neuropatia diabética, tumores, poliomielite, síndrome de Down por exemplo. → Consequência da acalasia: megaesôfago ❖Megaesôfago: dilatação esofágica decorrente da acalásia. ❖ O alimento se acumula ao longo do trato, pois a passagem fica estreita e de difícil passagem do bolo alimentar. Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre → Tentativas de correção da acalásia: - Aplicação de Botox. - Dilatação com o balão pneumático (para que aumente a passagem, e o bolo alimentar consiga passar com mais facilidade) - o balão entra, faz uma dilatação e tiram o balão novamente. - Miotomia (corte na musculatura). Caso 2 Mulher 50 anos portadora do vírus HIV foi atendida no ambulatório do posto de saúde relatando odinofagia, disfagia há uma semana. Realizou endoscopia digestiva alta sendo observado como segue na figura abaixo. a) Qual a suspeita clínica? - Esofagite por Cândida albicans. b) Qual a etiopatologia? - Etiologia: Candida albicans - Imunossupressão - crescimento do agente etiológico presente na microbiota. ESOFAGITES • Esofagite: processo lesivo/inflamatório ao epitélio esofágico. • Quadro clínico: odinofagia, estenose (diminuição da luz), hemorragia, perfuração, vômitos, náuseas. • Etiologias: (causas) - Química: álcool, ácidos, fluidos quentes, fumo excessivo - crianças (produto de limpeza) e adultos (tentativa de suicídio). - Medicamentos: pílulas medicinais se alojam no esôfago (esofagite induzida por pílula). • Origem: infecciosa ou resultar da extensão de doenças sistêmicas. → ESOFAGITES AGUDAS: ❖ Bactérias (estafilococos, estreptococos e salmonelas). ❖ Vírus (influenza, herpes, citomegalovírus). ❖ Fungos (Candida, Aspergilus). ❖ Alimentos quentes ou irritantes ❖ Substâncias cáusticas ❖ Traumatismos (sondas, espinhas de peixe, etc.) 1. Esofagite Fúngica: - Causada pelo fungo Candida sp ou Candida albicans ou monilíase. - Fatores predisponentes: AIDS, diabetes mellitus, leucemias e linfomas, uso de antibioticoterapia de amplo espectro, terapêutica antineoplásica, corticoterapia (incluindo os corticoides inalatórios na asma ou na DPOC) e transplante de medula óssea ou de órgãos sólidos. - Fatores locais também podem contribuir, tais como esclerose sistêmica, obstrução do esôfago por tumor, acalásia, e a DRGE. - Morfologia: mucosa elevada, nodulosa, com placas ou pseudomembranas branco-acinzentadas. - Microscopia: hifas fúngicas densamente entrelaçadas, células inflamatórias, material necrótico e restos epiteliais. Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre - Hifas: são os filamentos de células que formam o micélio (parte vegetativa) dos fungos. 2. Esofagite Herpética: - Causada pelo vírus herpes-vírus simples (HSV) e transmitida por contato direto. # HV1 - transmissão salivar. # HV2 - contato sexual. - Fatores predisponentes: indivíduos com neoplasias malignas (linfomas e leucemias), doenças crônicas ou receptores de transplante de órgãos - imunodeprimidos. - Morfologia: úlceras em saca-bocados, células com inclusões virais nucleares dentro de um halo de células epiteliais em degeneração com borda em úlcera. - Microscopia: muitos leucócitos presentes, nas setas - células epiteliais descamativas (restos celulares). No círculo - são células gigantes sinciciais. - 80% dos pacientes são assintomáticos. 3. Esofagite por Citomegalovírus: - Causada pelo citomegalovírus (CMV), que pertence a família do herpesvírus. - Infecção geralmente é assintomática , vírus latente - reativado pela deficiência imunológica. - Fatores predisponentes: HIV, pacientes em quimioterapia, pacientes transplantados - 2 a 6 meses depois → indivíduos imunossuprimidos. - CMV é mais comum que HSV. - Transmissão: # Por viarespiratória: tosse, espirro, fala, saliva, secreção brônquica e da faringe servem de veículo para a transmissão do vírus; # Por transfusão de sangue # Por transmissão vertical da mulher grávida para o feto ou durante o parto; # Por via sexual: nesse caso, ele é considerado causador de infecção sexualmente transmissível; Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre - Quadro clínico: odinofagia intensa, mal-estar, discreta febre, disfagia, emagrecimento. # Nos imunodeprimidos: úlceras dolorosas, faringe, estômago, esôfago, intestino. # Recém - nascidos: aborto, anemia, hemorragia, danos ao cérebro e fígado, leva a morte. - Morfologia: úlcera única ou múltiplas, profundas, ovaladas que podem se estender-se à cavidade oral; acomete mais o terço médio e distal do esôfago. - Microscopia: células volumosas com inclusões nucleares características (“olho de coruja”). Setas: células com inclusões virais. - Vírus infecta células endoteliais da base das úlceras (biópsias devem ser do fundo das úlceras). → Esofagites infecciosas → endoscopia: Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre 4. Esofagite Corrosiva (esofagite química): - Substâncias corrosivas: álcalis fortes ou detergentes usados para limpeza; Crianças abaixo de cinco anos, por ingestão acidental, ou em adultos, com propósito suicida. - Os agentes corrosivos mais comuns são: soda cáustica, fenol, lisol, cresol, permanganato de potássio e ácidos sulfúrico, clorídrico, acético ou nítrico. - A mucosa esofágica é menos resistente às substâncias alcalinas do que aos ácidos. Às bases provocam necrose por liquefação (coagulação), produzindo lesões mais extensas e profundas por serem mais viscosos e caminharem mais lentamente pelo esôfago. - Tanto ácidos como bases, dependendo da sua natureza, da quantidade, da concentração e do tempo de exposição, podem produzir lesões graves, às vezes mortais. - Lesões provocadas pela soda cáustica → esofagite cáustica → a sequela mais grave é a estenose (estreitamento anormal de um vaso sanguíneo, outro órgão ou estrutura tubular do corpo) esofágica. - Esofagoscopia inicial. (A) O esôfago médio mostra uma descoloração esbranquiçada. (B) O esôfago distal mostra exsudatos com sangramento de toque fácil. - Microscopia: A esofagite aguda é manifestada aqui por neutrófilos aumentados na submucosa, bem como neutrófilos infiltrando-se na mucosa escamosa à direita. A inflamação aguda pode ser causada por infecções, ingestão de produtos químicos irritantes, drogas como AINEs, quimioterapia e radiação. 5. Esofagite Eosinofílica: - É caracterizada por infiltração de eosinófilos na mucosa do esôfago. - Maioria dos indivíduos são atópicos - tem rinite alérgica, asma, dermatite atópica. OBS: atopia é um termo médico para predisposição a reações de hipersensibilidade tipo 1 (respostas alérgicas). - Às lesões podem comprometer o terço distal ou a porção proximal do órgão. - Sintomas: impactação de alimentos, disfagia em adultos e intolerância à alimentação. - Diagnóstico diferencial com DRGE. - Morfologia: encontram-se anéis circulares, placas brancacentas e fenda lineares na mucosa ou estreitamento da luz. - Critérios principais: ● Edema de mucosa. ● Sulcos longitudinais. ● Anéis esofágicos circulares (pseudo traqueia). ● Estenose esofágica . - Critérios causais: ● Alergias alimentares. ● DRGE leva ao aumento da permeabilidade da mucosa aos alérgenos. ● Uso de inibidor de bombas de prótons (PPI). ● Genética/familiar. Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre - Microscopia: critério principal → > 15 eosinófilos por campo de alta potência (ampliação de 40x) presentes na mucosa escamosa. Eosinófilos intraepiteliais dispersos, leve expansão da membrana basal e maturação da camada escamosa visível. - Tratamento: restrição na dieta, corticosteróides tópicos e/ou sistêmicos. → ESOFAGITES CRÔNICAS: ❖ Além das causas já comentadas anteriormente, às esofagites crônicas podem ser provocadas por estase alimentar (estenose ou compressão extrínseca, megaesôfago, etc.). ❖ Principais alterações: infiltrado inflamatório de mononucleares, hiperplasia do epitélio e graus variados de fibrose na parede. ❖ Esofagites crônicas específicas (tuberculose, sífilis) são raras. ❖ Doença de Crohn: semelhante ao acometimento intestinal; pode levar a fístulas ou estenose. DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) • DRGE: caracteriza-se por refluxo anormal do conteúdo gástrico para o interior do esôfago. • A DRGE é muito frequente. • Grande incidência em indivíduos acima 40 anos, porém acomete indivíduos de todos os gêneros e idades. • Sinais: azia, disfagia, pirose, regurgitação do conteúdo ácido do estômago, raramente dor torácica. • Complicações: ulcerações, hematêmese, melena (fezes pretas com ou sem sangue visível), estenose e esôfago de Barrett. • Etiopatogenia da DRGE: a patogênese do refluxo está ligada a alteração nas barreiras anatômicas e funcionais na junção esofagogástrica, cujos responsáveis principais são o esfíncter esofágico inferior (EEI) e a musculatura estriada da crura diafragmática. O EEI é a principal barreira contra o refluxo gastroesofágico. • Principais causas: a) Relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior : distensão gástrica por alimentos, aumento repentino da pressão na tosse, esforço, movimento de curvar-se → Sem causa definida. b) Ruptura anatômica da junção gastroesofágica → Hérnia de hiato: o EEI fica deslocado da sua posição normal intra-abdominal para o interior do tórax, não podendo ser protegido pela crura diafragmática. c) Hipotonia do EEI: Diminuição do tônus do esfíncter: alcoolismo, tabagismo, obesidade, gravidez. Bruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre • Consequências do refluxo gastroesofágico: - Erosões - Úlceras - Estenose - Esofagite de refluxo - Esôfago de Barrett • Diagnóstico da DRGE: - RX contrastado do esôfago → disfagia para fazer o diagnóstico diferencial com outras causas e pode mostrar a existência e a localização de estreitamentos e de hérnias de hiato. - A cintilografia esofágica mostra através da ingestão de um radiofármaco o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago assim como o esvaziamento. - PHmetria esofágica de 24 horas. É um exame que registra a ocorrência do refluxo durante os períodos do dia e pode avaliar sua correlação com os sintomas do paciente. É o melhor exame para se definir a DRGE, mas existe a inconveniência de deixar uma sonda nasal. - Manometria esofágica é um exame que mede a pressão em vários pontos do esôfago. Assim, se define a função e contratilidade do EEI e do corpo esofágico. É importante no diagnóstico diferencial com outras patologias do esôfago. - A impedância intraluminal esofágica é um método diagnóstico que registra o fluxo retrógrado de conteúdo gástrico, independentemente de seu pH. Quando combinado com pHmetria (ImpedanciopHmetria), permite detectar o refluxo gastroesofágico ácido e não-ácido. • Tratamento e Diagnóstico: - O tratamento clínico da DRGE é baseado na mudança do estilo e hábitos de vida. - Os medicamentos → inibidores de bomba protônica (omeprazol, lansoprazol, rabeprazol, esomeprazol), que diminuem muito a secreção de ácido pelo estômago e os pró-cinéticos (bromoprida, domperidona), que promovem o esvaziamento gástrico mais rápido. - O tratamento cirúrgico → pacientes que não apresentam melhora com o tratamento clínico e medicamentoso, ou então com esofagite severa associado a hérnias hiatais volumosas. - Videolaparoscopia → consiste na correção da hérnia hiatal através da aproximação dos músculos do pilar diafragmático direito, com posicionamento do esôfago no abdômen e a confecção de uma válvula com a utilização do fundo gástrico. → Hérnia de Hiato: - Condição que leva à protrusão do estômago para o mediastino. - Deslizamento do estômago acima do diafragma. - Pode contribuir para DRGE. - Corrigido cirurgicamente. A: Normal B: Hérnia paraesofágica (por rolamento) C: Hérnia por deslizamentoBruna Embacher Sanz ❥ Processos Fisiopatológicos II - 4° Semestre → Esofagite de Refluxo - É uma das principais consequências da DRGE. - O refluxo de conteúdos gástricos no esôfago inferior é a causa mais frequente de esofagite. - O epitélio pavimentoso estratificado do esôfago é resistente à abrasão de alimentos, mas é sensível ao ácido - O refluxo ácido para o esôfago pode corroer a camada mucosa. - Macroscopia: Esôfago inferior. A visão endoscópica (A) mostra evidências de doença do refluxo gastroesofágico. - Microscopia: A. Eosinófilos intra epiteliais, células pavimentosas inchadas e espaços intercelulares aumentados. B. Infiltração de linfócitos na lâmina própria. Bruna Embacher Sanz ❥
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